Fundo documental e espólio de Afonso Lopes Vieira da Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira

June 5, 2017 | Autor: Micael Sousa | Categoria: Patrimonio Cultural, Biblioteca, Património Cultural Imaterial, Afonso Lopes Vieira
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FUNDO DOCUMENTAL E ESPÓLIO DE AFONSO LOPES VIEIRA DA BIBLIOTECA MUNICIPAL AFONSO LOPES VIEIRA

Mestrado em Estudos do Património Unidade curricular: Lugares de Memória: Arquivos e Bibliotecas Professora Doutora Ana Paula Ribeiro Ferreira Menino Avelar Autor: Micael Sousa Aluno nº: 1100043

Índice 1. 2. 3. 4. 4.1.

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................1 METODOLOGIA....................................................................................................................................1 NOTA BIOGRÁFICA DE AFONSO LOPES VIEIRA ..................................................................................1 ESPÓLIO E FUNDO HISTÓRICO DE AFONSO LOPES VIEIRA ................................................................5 A ORIGEM E CRESCIMENTO DO ESPÓLIO DE ALV .................................................................................. 5

4.2.

IMPORTÂNCIA DE ALV E SEU ESPÓLIO E FUNDO HISTÓRICO ................................................................. 6

5. 6. 6.1.

SALVAGUARDA E ACONDICIONAMENTO PATRIMÓNIO MATERIAL E IMATERIAL DE ALV ..............8 MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA ........................................................................................................11 O FUNDO E ESPÓLIO DE ALV EXISTENTE E EXPOSTO NA BMAVL ...................................................... 11

6.3.

EXPOSIÇÃO, MARKETING E COMUNICAÇÃO .......................................................................................... 17

7. 8. 8.1.

CONCLUSÃO ......................................................................................................................................19 BIBLIOGRAFIA GERAL ......................................................................................................................20 FONTES PRIMÁRIAS ................................................................................................................................ 20

8.2.

FONTES SECUNDÁRIAS ........................................................................................................................... 20

1. INTRODUÇÃO

Com o presente trabalho pretende-se aferir qual o estado e tratamento dado ao acervo e património do espólio e fundo documental de Afonso Lopes Vieira (ALV) existente na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira (BMALV). Mais que o registo exaustivo do tipo de património existente, focou-se especial atenção no modo como o património em causa estava a ser acondicionado e exposto, se estaria em risco a sua salvaguarda e quais as possibilidades de o valorizar e dinamizar. Não era objectivo inventariar o espólio existente, mas perceber se o mesmo era passível de um projecto de musealização. Uma vez que parte significativa do património em causa seria de origem documental, tentou-se estabelecer uma relação com a vertente do património cultural imaterial, sem, no entanto, ignorar o espólio material.

2. METODOLOGIA

Para construção da bibliografia de suporte e acesso à informação definiu-se uma metodologia assente em duas componentes principais: consulta direta do espólio e arquivo de Afonso Lopes Vieira (ALV) existente na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira (BMALV), com o devido acompanhamento dos quadros técnicos municipais da especialidade; e, consulta de bibliografia e fontes primárias e secundárias sobre a obra e figura do poeta Afonso Lopes Vieira. Foi de extrema importância o acompanhamento e descrição da Dr.ª Ângela Pereira sobre o acervo em depósito e exposto na livraria reconstituída de ALV patente na BMALV. A bibliografia indirecta é composta maioritariamente por investigações da Doutora Cristina Nobre, que tem dedicado grande parte do seu trabalho académico a ALV. Em muitos casos não foi possível cruzar essas fontes com o desejável contraditório, por ausência de estudos fundamentados de outros autores.

3. NOTA BIOGRÁFICA DE AFONSO LOPES VIEIRA

Importa começar por elaborar uma pequena nota biográfica de Afonso Lopes Vieira, de modo a facilitar o enquadramento do seu espólio e fundo documental. Primeiro, algumas pequenas

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notas sobre a vida ALV, seguidas depois de uma referência1 transcrita sobre a sua obra literária e lugar na história da literatura portuguesa. ALV nasceu em Leiria, em 26 de janeiro de 1878. Haveria de passar a sua infância, de filho único de uma família pequeno-burguesa, entre a casa das Cortes2 e a casa de seus pais em S. Pedro de Moel (Nobre, 2007). Aos seis anos mudou-se com a família para Lisboa, tornandose aos11 anos discípulo do professor Leite de Vasconcelos (Ibidem, idem). Em 1900 graduou-se com o bacharelato em direito, pela Universidade de Coimbra, onde foi um estudante sem brilho, tendo obtido apenas a nota de 10 valores (Ibidem, idem). Em Coimbra, apesar do apagado percurso académico, conheceu importantes personalidades da literatura, cultura e elite portuguesa. Foi nesse ambiente que criou a imagem de poeta da saudade (Ibidem, idem), identidade que assumiu até ao fim dos seus dias. Após ter casado, em 1902, viajou pela europa, tendo voltado empenhado em “reaportuguesar Portugal, tornandoo europeu” (Oliveira, 2008). Começou por se dedicar à advocacia, trabalhando com o seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira. Depois exerceu o cargo de redactor da câmara dos deputados até 1916, ofício que abandonou por desinteresse e desmotivação profissional. No final desse ano passou a dedicar-se exclusivamente às atividades culturais, especialmente à literatura, dado que dispunha de uma situação financeira confortável. No entanto, o seu interesse pelas letras nasceu cedo, em 1893 publicou o poema Adoração no jornal O Distrito de Leiria (Nobre, 2007). Em 1897 publicou o livro de poesia intitulado de “Para quê?”. Depois seguiram-se inúmeras obras de poesia, entre outras, numa produção contínua até 1940, ficando por terminar a sua última obra Onde a terra se acaba e o mar começa. Em simultâneo colaborou com várias revistas, publicações, conferências, colóquios e iniciativas culturais. AFV era conhecido e reconhecido pelas elites culturais da época. Viajou bastante, tanto por Portugal como pelo estrangeiro. Apesar disso sempre se identificou, criando uma relação forte, com a sua terra natal. Bebeu forte inspiração da envolvente de S. Pedro de Moel, na sua Casa-Nau, onde passava os verões e realizava tertúlias e atividades culturais regularmente. Nesse local, situado entre o mar e o pinhal, AFL sentia-se perto das suas paisagens bucólicas e ambientes característicos de uma região que assumiu como sua, por origem mas também por identificação literária na sua obra paisagística e saudosista. Salienta-se um símbolo nessa casa, a bandeira com a cruz de cristo. ALV assumia-a como uma cruzada pela nacionalidade, hasteando-a na sua casa e fazendo-a representar nos azulejos (Nobre, 2007).

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Transcrição de fonte estatal do sítio da internet da Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) 2 “Casa de seu tio-avô, o advogado António Xavier Rodrigues, deputado e por duas vezes administrador do concelho de Leiria” (Nobre, 2007).

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Em Lisboa residiu, entre 1927 e 1942, no Palácio do Largo da Rosa, anterior propriedade dos marqueses de Castelo Melhor, local onde conservava a sua livraria. No entanto, submeteu-se a um auto-exilo entre 1932 e 1935 em S. Pedro de Moel e nas Cortes, sem voltar a Lisboa como era hábito. Esta opção tê-lo-á aproximado de novo de Leiria. Cristina Nobre (2007) considera que este afastamento pode ter estado relacionado com o desgaste público de ALV e com a oposição ao regime salazarista e a parte considerável da elite cultural portuguesa da época. Consta que terá sido detido na prisão em 1936, devido a um episódio relacionado com Henrique Paiva Couceiro (Nobre, 2007). Em 1938 foi presidente da assembleia geral da Casa do Distrito de Leiria, cargo que deteria até à sua morte. ALV envolveu-se ativamente na Exposição Distrital de Leiria de 1940. Leiria foi um dos distritos que decidiu, sem subsídios do Estado, organizar a sua própria exposição, num claro aviso de descontentamento face à política centralizadora salazarista (Nobre, 2003). Em 1943 realizou-se o primeiro Congresso das Atividades do Distrito de Leiria, que terá dado origem à publicação de um livro de atas em 1944 que atestam o envolvimento de ALV. Nas suas duas intervenções terá defendido a diferenciação cultural do distrito de Leiria, recorrendo à figura de Rodrigues Lobo (Nobre, 2003). Em 1946, aos 68 anos, ALV morreu na casa do Largo da Rosa.

De seguida, para enquadramento da obra literária de ALV, transcreve-se uma citação integral da biografia literária disponibilizada no sítio da internet da Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) sobre Afonso Lopes Vieira:

Em 1916 passa a dedicar-se exclusivamente à literatura, empenhando-se num admirável esforço de divulgação e valorização de obras e escritores clássicos portugueses, aqueles que, de acordo com o seu nacionalismo esclarecido, melhor traduzem o espírito e a sensibilidade lusitanos. Não foi por certo alheio a este voluntário apostolado cultural o facto de Afonso Lopes Vieira ter pertencido a uma geração de homens animados por ideais renascentistas, homens para quem literatura e Pátria eram realidades co-naturais, a uma cabendo uma missão orientadora e sendo a outra uma entidade fundamentalmente espiritual e linguística. Afonso Lopes Vieira contribuiu profundamente para o refortalecimento do nosso património literário e cultural ao promover o gosto pelo teatro vicentino, adaptando algumas peças (Monólogo do Vaqueiro, Auto da Barca do Inferno) e proferindo diversas conferências (A Campanha Vicentina. Conferências & Outros Escritos, 1914), ao restituir à língua portuguesa duas obras que corriam em versão castelhana, o Amadis de Gaula (O Romance de Amadis, 1922) e a Diana de Montemor (A Diana de Jorge de Montemor em Português, 1924), ao interessar-se por uma edição nacional d' Os Lusíadas, com a reprodução do texto da edição princeps de 1572, e por uma edição crítica da Lírica, ao escrever livros de comovida singeleza para crianças e adultos, ilustrados e

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musicados por artistas como Raul Lino e Tomás Borba (Animais Nossos Amigos, 1911; Bartolomeu Marinheiro, 1912; Poesias sobre as Cenas Infantis de Schumann, 1915). Nomes como os de Francisco Rodrigues Lobo e João de Deus suscitam-lhe igual atenção, tendo seleccionado, anotado e prefaciado parte das suas obras (Poesias de Francisco Rodrigues Lobo, 1940; Corte na Aldeia de Francisco Rodrigues Lobo, 1946; O Livro de Amor de João de Deus, 1921). Mas a importância de Afonso Lopes Vieira na história da nossa literatura não se resume a esta actividade intensa de investigador, divulgador e animador cultural. Também foi poeta e prosador. Como poeta colaborou com outros neo-românticos na 1ª. série da revista A Águia (1911). Teixeira de Pascoaes dá como exemplo da «nova poesia portuguesa» um livro seu, Canções do Vento e do Sol, publicado em 1911. Mas já antes, em 1905, ele provara uma inclinação, aliás muito em voga neste período, pela literatura de tradição sebastianista, com a escolha de O Encoberto para título de um poema (um ano antes Sampaio Bruno publicara um livro com o mesmo título e em 1902 tinha vindo postumamente a público o poema sebastianista O Desejado, incluído no livro Despedidas de António Nobre). O sebastianismo viria a tornar-se um dado essencial para a vivêncla do grupo da Renascença Portuguesa como a de outros saudosistas, a poesia de Afonso Lopes Vieira é evocativa (de pessoas, lugares, tradições e lendas), especialmente voltada para a exploração de temas nacionais e para a glosa de formas e ritmos tradicionais, de origem culta e popular. Acusa, no entanto, uma invulgar consciência estética, pouco comum na poesia que então se praticava, patente desde logo no apuro da forma e do estilo e no modo como o poeta explora a possibilidade de encontro da sua voz com a de outros poetas nacionais (as de Bernardim e Camões, por exemplo). Como prosador, os títulos das suas obras são por si esclarecedores do interesse que sempre demonstrou pelos assuntos nacionais: tratamento de temas da tradição histórica e literária (Inês de Castro na Poesia e na Lenda, 1913; A Paixão de Pedro o Cru, 1940; problemática em torno da nossa arte (A Poesia nos Painéis de S. Vicente, 1914; O Canto Coral e o Orfeão de Condeixa, 1916); indagação do nosso ser e espiritualidade (Em Demanda do Graal, 1922; Nova Demanda do Graal, 1942). O nacionalismo tradicionalista de Afonso Lopes Vieira não se reconhece no Integralismo Lusitano da Nação Portuguesa, a cujo órgão o seu nome anda ligado por nele ter desempenhado breves funções directivas, mas tão-pouco se impõe como um nacionalismo conservador junto do Grupo da Biblioteca Nacional, ao qual o escritor pertence, com Jaime Cortesão, António Sérgio, Aquilino Ribeiro e Raul Proença. O seu nacionalismo assentava na ideia do «reaportuguesar Portugal, tornando-o europeu», para o que contribuiu, quer como cidadão esclarecido (opôs-se ao regime de ditadura saído do golpe militar de 1926), quer como erudito inspirado (criou, traduziu, adaptou, proferiu conferências, participou em campanhas de civismo estético), quer ainda como homem viajado (visitou a Espanha, França, Bélgica, Itália, Norte de África, Angola, Brasil) que soube criar uma atmosfera de sadio cosmopolitismo no pequeno círculo intelectual da sua casa de São Pedro de Moel.

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O anterior excerto revela a importância literária e cívica de ALV, pelo que a cidade de Leiria, onde está parte significativa do seu espólio, tudo terá a ganhar com a sua valorização e divulgação. Por outro lado, ALV assume, para além da dimensão nacional, um importante papel cultural no distrito de Leiria. Por si só, essa invocação tem utilidade para Leiria, sua região e distrito, que sempre aspirou a reforçar a sua posição política dominante sobre o distrito (Sousa, 2015). A invocação de ALV poderá ser um elemento importante para a afirmação identitária, cultural e política de Leiria (Magalhães, 2009).

4. ESPÓLIO E FUNDO HISTÓRICO DE AFONSO LOPES VIEIRA

4.1. A ORIGEM E CRESCIMENTO DO ESPÓLIO DE ALV

A decisão de doar a sua livraria à cidade de Leiria teria sido tomada por ALV em fevereiro de 1944 (Nobre, 2001a). De salientar que essa sua livraria incluía os livros da também importante biblioteca de Rodrigues Cordeiro, seu tio-avô. A doação ocorreu em 25 de janeiro de 1946, mas só em 30 de Abril 1955 se concretizou, por dificuldades em encontrar sala que permitisse acondicionar o mobiliário, estantes, e volumes na sua disposição original (Nobre, 2001a). Essa livraria situava-se, originalmente, na casa do Largo da Rosa (Nobre, 2007). Em 1955 foram instalados os 8.000 volumes da biblioteca pessoal de ALV no edifício dos Paços do Concelho de Leiria, à qual o município adicionou mais 4.000 outros registos (2001a). Estas diligências terão sido reforçadas pela intervenção de Américo Cortez Pinto, consciente da importância da reconstituição do ambiente histórico envolvente do escritor leiriense (Nobre, 2003). Posteriormente, em 1997, a biblioteca/livraria transitou para o novo edifício, situado no Largo Cândido dos Reis. O espólio literário avulso do autor é muito considerável. A título de exemplo, Cristina Nobre (2001a) seleccionou um conjunto documental de centenas de textos epistolográficos datados entre 1911 e 1933. Estes são apenas alguns manuscritos dactilografados, entre muitos outros, existentes no fundo Afonso Lopes Vieira, depositado na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, situada actualmente no centro histórico de Leiria. Desse imenso espólio constam também objectos do poeta, quase todos inventariados, ainda que faltem catalogar muitos3 (Nobre, 2001b). 3

Segundo informações de Ângela Pereira e cruzamento com listas disponíveis na BMALV.

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O espólio foi sendo enriquecido com aquisições e doações posteriores.

4.2. IMPORTÂNCIA DE ALV E SEU ESPÓLIO E FUNDO HISTÓRICO

Cristina Nobre tem dedicado grande parte da sua carreira ao estudo da figura de Afonso Lopes Vieira. Através desse trabalho tem lutado pelo reconhecimento do autor leiriense, identificando a importância do seu trabalho, tanto localmente como a nível nacional. É a própria investigadora a referir que apenas o estudo da correspondência de ALV seria suficiente para estabelecer e reproduzir as mentalidades cultas entre finais do século XIX e inícios do século XX (Nobre, 2001a). De notar que nos volumes mandados realizar pelo próprio ALV podemos encontrar correspondência com algumas das figuras da elite cultural mais sonantes do seu tempo4. ALV era visto como “paladino de uma atitude humana equiparada aos valores morais e estéticos” (Nobre, 2005). ALV terá investido deliberadamente na sua imagem física e intelectual, de modo a ser descrito e reconhecido como defensor das tradições culturais portuguesas (Nobre, 2005), carregado de saudosismo e melancolia (Nobre, 2003)5. Este 4

Bulhão Pato, Teófilo Braga, Guerra Junqueiro, Joaquim de Araújo, Xavier da Cunha, Henrique Lopes de Mendonça, Conde de Monsaraz, Alberto Osório de Castro, Manuel da Silva Gaio, Alberto de Oliveira, Trindade Coelho, Eugénio de Castro, Júlio Brandão, Júlio Dantas, António Correia d'Oliveira, D. Tomás de Noronha, Carlos de Mesquita, Augusto Gil, Teixeira de Pascoaes, Fausto Guedes Teixeira, Humberto de Bettencourt, Vicente Arnoso, Lourenço Casal Ribeiro, Raúl Proença, Marques da Cruz, Augusto Casimiro, Mário Beirão, João de Lebre e Lima, Augusto de Santa Rita, entre outros menos sonantes, perdidos na distância secular que se encarrega de seleccionar as memórias da vida. Carolina Michaelis de Vasconcelos, Antero de Figueiredo, Conde Sabugosa, Carlos Malheiro Dias, Aquilino Ribeiro, Manuel Teixeira Gomes, António Sérgio, João de Deus Ramos, Ana de Castro Osório, Fernanda de Castro, Agostinho de Campos, Sampaio Bruno, Aarão de Lacerda, Augusto de Castro, Alfredo Guimarães, Alberto Pimentel, João Ameal, Luciano Pereira da Silva, Mendes dos Remédios, Manuel Laranjeira, António Sardinha, Pequito Rebelo, Hipólito Raposo, Luiz de Almeida Braga, Manuel Múrias, João de Castro, Veiga Simões, Vianna da Motta, Ruy Coelho, José de Figueiredo, Reinaldo dos Santos, Jaime Cortesão, Vitorino Nemésio, Nuno de Montemor, Marques Braga, Joaquim de Carvalho, Ricardo Jorge, Jaime Magalhães Lima, Martinho Nobre de Mello, José Maria Rodrigues, Raúl Lino, Ernesto Korrodi, Leitão Barros, António Lopes Ribeiro, Acácio de Paiva, Amélia Rey Colaço, Matilde Bensaúde, António Ferro, Augusto Casimiro, Henrique de Paiva Couceiro, Hernâni Cidade, Afrânio Peixoto, Jaime Martins Barata, José Pereira Dias, Mário de Albuquerque, Moraes Sarmento, Rebelo Gonçalves, Providência e Costa, juntamente com ilustres estangeiros amantes da cultura portuguesa como Menendez Pidal, Aubrey Bell Philéas Lebesgue, Marcel Bataillon, ao lado de tantos, tantos outros.” (Nobre, 2001) 5 Exemplo da poesia de ALV com o seu toque lírico de melancolia e referência à região, neste caso à catedral verde, ao Pinhal de Leiria: Flores do Verde Pinho Oh meu jardim de saudades, verde catedral marinha, e cuja reza caminha pelas reboantes naves… Ai flores do verde pinho,

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tradicionalismo fez dele um ativo nacionalista literário e linguístico que, apesar de lhe dar reconhecimento entre os seus pares, isolou-o e afastou-o das correntes modernistas que vigoravam na época.

O espólio de ALV tem ainda mais importância pela dificuldade em encontrar publicações das suas obras. Apesar da sua potencial aceitação pública, os materiais não têm sido editados (Nobre, 2005). A sua obra é muito abrangente, “mais de uma vintena de títulos de poesia, uma dúzia de livros de prosa (narrativa e ensaios), uma dezena de traduções, adaptações e restituições de obras inaugurais para a infância, muitos dispersos, publicados ininterruptamente” (Nobre, 2003). Nessas criações diversas, que extravasam a literatura, encontram várias fotografias do autor com registos etnográficos, patrimoniais e paisagísticos da região (Nobre, 2007). Através da “Casa do Distrito de Leiria”, organizou e participou em conferências e palestras. Uma dessas intervenções foi identificada por Cristina Nobre como “Glórias de Leiria” (Nobre, 2003). Este seria um dos documentos depositados na caixa de charão vermelha6 (ver figura 14), entre muitos outros nunca publicados.

Por outro lado, a herança de ALV tem grande importância local por ter sido um contribuidor ativo para a defesa da identidade e património local, de Leiria e região mais ampla onde se inseria, a antiga província da estremadura. (Magalhães, 2009). ALV Assumiu um

dizei que novas sabedes da minha alma, cujas sedes a perderam no caminho? Revejo-te e venho exangue, acolhe-me com piedade, longo jardim da saudade que me puseste no sangue. Ai flores do verde ramo, dizei que novas sabedes da minha alma, cujas sedes a alongaram do que eu amo? -A tua alma em mim existe e anda no aroma das flores, que te falam dos amores de tudo o que é lindo e triste. A tua alma, com carinho, eu guardo-a e deito-a a cantar das flores do verde pinho àquelas ondas do mar. 6

Caixa patente na sala da livraria de Afonso Lopes Vieira no edifício da Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira. Ver figura 14.

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regionalismo de identidade diferenciadora, no entanto sem qualquer intenção independentista. Via na estremadura uma identidade própria mas que contribuía para a nacionalidade portuguesa (Ibidem, Idem). ALV chamava-lhe a “piquena pátria dentro da Pátria Grande” (Nobre, 2003). Essa herança de ALV pode ser uma mais-valia para que a cidade de Leiria, possa solidificar a sua identidade, que é condição necessária para assumir um papel de liderança política regional, algo que foi assumido, intermitentemente, pelo poder político local ao longo do século XX e XXI (Sousa, 2015).

ALV contribuiu para o n.º 1 do Guia de Portugal, tendo realizado vários artigos sobre o distrito de Leiria. Nesses relatos deu enfoque e realce aos traços característicos locais culturais, o património edificado e material, mas principalmente ao paisagismo e riqueza natural da região (Nobre, 2013). Tal abordagem paisagística, na opinião de Cristina Nobre (2003), faz de ALV um visionário na defesa dos valores ambientais e ecologistas da região. A posição de ALV a favor da importância de Leiria e da estremadura tornou-o um opositor e contestatário da reforma administrativa do Estado Novo de 1936, que dividiu o distrito em duas províncias: Beira Litoral e Estremadura (Nobre, 2013). ALV deslocou-se, organizou e incentivou eventos culturais por todo o distrito (Nobre, 2003). ALV cantou as serras, o Pinhal de Leiria e o Mar. Relembra mitos e lendas, histórias e personagens arquétipos da região7. Vestiu roupas típicas da região, tal como se comprova nas fotografias do seu espólio e nos seus objetos pessoais, caso da camisa de xadrez colorido da Nazaré (ver figura 13), entre outros (Nobre, 2007). A sua contribuição para a Exposição Distrital de Leiria de 1940 e o Congresso das Atividades do Distrito de Leiria de 1943 demonstram o seu envolvimento local pela defesa do distrito e região que, na sequência da oposição à divisão do distrito pela administração central, lhe terão valido a antipatia do regime salazarista, consideração que, aliás, deveria ser mútua.

5. SALVAGUARDA E ACONDICIONAMENTO PATRIMÓNIO MATERIAL E IMATERIAL DE ALV

As obras mais valiosas do espólio de ALV estarão expostas e depositadas no edifício da BMALV, mais concretamente, na recriação da livraria/biblioteca original da casa do largo da Rosa em Lisboa, intitulada de “Sala Museu Afonso Lopes Vieira” (CML, 2016).

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Caso do Pastor Peregrino, materializado em estátua no Jardim Luís de Camões em Leiria.

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A sala está acessível mediante visita acompanhada pelos técnicos da biblioteca municipal. Nota-se a existência de equipamentos de controlo do meio ambiente interior e iluminação indirecta, no entanto, fica por aferir se essas condições higrotérmicas estão garantidas por essas existência e disposições. O restante acervo encontra-se no depósito da biblioteca municipal. Existem oito estantes com livros pertencentes à livraria do autor (ver figura 1) e um armário metálico (ver figura 2) onde se guardam objectos, manuscritos originais do autor, fotografias, postais e outros. De salientar o fato de baptismo de ALV. Os documentos encontram-se acondicionados em economato comum de escritório (ver figuras 2, 3 e 4). A escassez de meios tem condicionado o estudo, salvaguarda e valorização deste espólio, tendo sido feito o acondicionamento e salvaguarda possível com os meios existentes. Os meios de arrumação não estão isentos de ácidos nem são imunes de substâncias que possam danificar o espólio. No entanto, os materiais, especialmente o acervo documental, apresentamse em bom estado de conservação sem que se tenha registado degradação considerável dos mesmos desde a sua transferência para este espaço. Destaca-se o fato de baptizado de ALV a necessitar de um trabalho de restauro e preservação, sendo uma peça de especial interesse museográfico (ver figura 5). Também têm potencial museológico os vários objectos e peças utilizadas por ALV nas encadernações e identificação das suas publicações. Estes objectos atestam a preocupação estética material que ALV colocava no seu trabalho, publicações e propriedade (ver figura 6). O controlo de pragas e infestantes é prescrito para biblioteca, o que traz vantagens ao nível da optimização e gestão de recursos. Os meios de segurança e emergência são os previstos para edifícios públicos e bibliotecas. Tudo indica que falte identificar e catalogar partes do espólio existente. Mais estudos e trabalhos nesta matéria serão necessários para aferir o real estado e caracterização do acervo. Alguns dos documentos estão furados e atados por guias de algodão. Segundo Cristina Nobre (2001a) tudo indica que a maior parte dos documentos manuscritos e postais estavam agrupados, principalmente por fios de seda. Alguns dos maços de folhas ainda conservam essas características.

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Figura 1 – Estantes da livraria

Figura 2 – Armário do espólio de ALV

Figura 3 – Caixas de acondicionamento do espólio

Figura 4 – Envelopes com manuscritos de ALV

Figura 5 – Fato de baptizado de ALV

Figura 6 – Peças de encadernações de ALV

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6. MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA

6.1. O FUNDO E ESPÓLIO DE ALV EXISTENTE E EXPOSTO NA BMAVL

O arquivo e espólio de ALV não tem um claro tratamento museográfico. A sua livraria está instalada no edifício da Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, numa tentativa de reconstruir a sua livraria/biblioteca original da Casa da Rosa em Lisboa. A livraria encontrase instalada numa sala preparada para o efeito, sendo acessível sempre que solicitada para visitas externas. Apesar de se apresentar a sala como “Museu” não existe tratamento e projecto museográfico efectivo desta sala. Existe uma vitrina com objectos de ALV, mobiliário, molduras, pinturas e diversos objectos dispostos na sala, mas sem a devida identificação que possa facilitar uma experiência de museu. Abrem-se assim possibilidades de tratar o rico espólio existente num projecto museológico e museográfico próprio e adaptado à natureza do espólio. Em conversa com a Ângela Pereira identificaram-se, patentes na livraria recriada de ALV, vários objectos que merecem destaque, entre eles: a mesa quadrada que ALV utilizava como secretária, provavelmente uma mesa do século XVIII, com traços que a tornam rara no país (ver figuras 15 e 16); caixa redonda de madeira de charão vermelha, provavelmente um tronco escavado de uma espécie exótica, onde ALV guardava manuscritos soltos (ver figura 14); Tabuinha que ALV utilizava para escrever na sua poltrona (ver figura 18); tela de ALV pintada por Sousa Lopes (ver figura 7); fotografias, retratos, candeeiros (ver figura 8), outras mesas e algum mobiliário que o município terá mandado fabricar para conter o inventário realizado em 1955, aquando da instalação da biblioteca (ver figura 12). Na vitrina estão expostos mais objectos pessoais. Apesar da não legendagem dos mesmos, através dos estudos de Cristina Nobre (2007), podem identificar-se a camisa de xadrez, cachimbo, lápis de cor, instrumento de abrir correspondência na forma de espada, entre outros objectos pessoais de ALV (ver figura 13). Dos livros da livraria, Ângela Pereira, destacou Apotegmas de Erasmo de Roterdão, datado de 1548, com capa de pergaminho, sendo uma das primeiras obras impressas na europa.

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Figura 7 – Panorâmica Oeste da livraria Afonso Lopes Vieira

Figura 8 - Panorâmica Este da livraria Afonso Lopes Vieira

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Figura 9 – Panorâmica Norte da livraria

Figura 10 – Panorâmica Sul da livraria

Figura 11 – Vitrina com objectos de ALV

Figura 12 – Móvel do inventário da livraria de 1955

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Figura 13 – Interior da vitrina dos objectos de ALV

Figura 14 – Caixa vermelha de charão

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Figura 15 – Mesa de trabalho de ALV

Figura 16 – Mesa de trabalho de ALV

Figura 17 – Livros e fotografia da livraria original

Figura 18 – Tabuinha de escrita de ALV

6.2. MUSEALIZAR O FUNDO E ESPÓLIO DE ALV

Tendo em conta o património identificado, existe claro potencial de implementar um projecto de musealização, ainda que de pequena escala, dependendo do tipo de enquadramento a implementar. Identificou-se património material e imaterial que poderia ser valorizado através de tratamento museográfico. No entanto, antes de avançar com as possibilidades em causa, importa referir quais as funções, objectivos e potencialidades dos projectos museográficos e dos museus no geral. Os museus “[…] devem ter políticas de gestão, aquisição, inventário, catalogação, armazenamento e manutenção, manuseamento, transporte e exposição do acervo (ICOM, 2004). Devem também, cada vez mais, ter preocupações lúdicas e de lazer (Desvallées & Mairesse, 2010). Assim, os museus justificam-se pelos seus objectos, mas detê-los não garante, por si só, um museu ou sequer exposição de sucesso. Um museu e suas exposições devem conseguir contextualizar o seu espólio, de modo a despertar curiosidade e garantir experiências

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agradáveis aos visitantes (Herrenann, 2004), mas sempre evidenciando as características, valor, raridade e autenticidade (Rocha-Trindade, 2008). Hoje em dia os museus viram-se cada vez mais para os visitantes, criando exposições temporárias, visitas guiadas, recorrem às novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) (Muchacho, 2004), apostam na oferta de produtos culturais e de design, recorrendo ao marketing cultural. Os museus democratizaram-se (Mendes, 2013). Tentam agora reinventarse e extravasar as suas próprias paredes, sendo essa uma das prerrogativas da “Nova Museologia”, dos ecomuseus, nascida a partir da década de 1980 (Poulot, 2009). O caso do marketing aplicado aos museus é de extrema importância, uma vez que poderá ser um meio de concretizar a missão dos espaços musealizados, tal como de garantir a sua sustentabilidade financeira (Mork, 2004). Se os museus dão cada vez mais enfoque aos visitantes, do ponto de vista do marketing, também os consideram como consumidores (Hooper-Greenhill, 1992). As questões turísticas são cada vez mais relevantes. Os museus devem preocupar-se em fidelizar públicos, recorrendo a exposições temporárias e a atividades culturais várias (Semedo & Ferreira, 2011), mas devem também trabalhar de perto com o sector do turismo cultural, numa perspetiva mais empresarial (Queirós, 2010). Voltando ao caso das NTIC, a sua utilização é especialmente relevante para os casos de património

cultural

imaterial,

pois

possibilita

abordagens

holísticas

patrimoniais

enriquecedoras (Carvalho, 2011). No caso do espólio de ALV, o uso das NTIC poderia servir para garantir uma nova interactividade, salvaguardar digitalmente o espólio, tal como ajudar na inventariação e catalogação, através de procedimentos testados em outros arquivos históricos (Barros, 2007). Do um ponto de vista das infraestruturas devem ser consideradas as questões relacionadas com a disposição dos espaços, os circuitos, tal como o controlo e gestão ambiental. Os museus, dependendo do tipo de acervo, têm requisitos de temperatura, qualidade do ar, humidade relativa, proteção aos raios ultra violeta, controlo de parasitas, segurança contra roubos, acidentes, vandalismo e incêndios (Casanovas, 2008). Todas estas exigências geram custos consideráveis, pelo que se tenta optar por medidas passivas mais sustentáveis e económicas (Ribeiro, 2010).

Na obra Fotobiografia de Afonso Lopes Vieira 1878-1946 de Cristina Nobre (2007) são identificados os vários objectos pertencentes a ALV e hoje constando na biblioteca Municipal. Este poderá ser um valioso estudo e registo do espólio, essencial para um tratamento museográfico do acervo exposto.

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6.3. EXPOSIÇÃO, MARKETING E COMUNICAÇÃO

Apesar de todas as restrições orçamentais e financeiras que os serviços públicos atravessam, no caso do arquivo e espólio de ALV estamos perante, segundo uma análise inspirada nos tipos de valorização que o património pode ter8 (Ballart & Tresserras, 2005), património material e imaterial com valor simbólico, identitário para a região e de algum potencial económico. Notou-se que não existe na livraria de ALV tratamento museográfico, pelo que seria importante identificar, legendar e disponibilizar informação sobre o acervo exposto. A exposição, actualmente, só pode ser realizada e o espólio apreciado mediante visita guiada com os técnicos da biblioteca municipal. O marketing cultural e o direccionamento da comunicação será essencial para o sucesso de um eventual projecto museológico mais aprofundado. A comunicação tem de chegar aos leirienses, pois, apesar da importância dos visitantes externos, um museu de âmbito local só se poderá manter se os residentes o assumirem como seu, como parte do seu património e identidade (Magalhães, 2012), sendo um potencial espelho da comunidade, tal como refere George Henri Rivière (1989). Como em muitos outros arquivos históricos (Barros, 2007), o espólio documental de ALV tem esse potencial de reforço identitário local e até nacional, dada a abrangência e importância literária do autor (Nobre, 2001). A manutenção da livraria no edifício da biblioteca apresenta vantagens e desvantagens. É positivo situar-se num edifício que dispõe de cafetaria e oferece serviços e atividades culturais e lúdicas variadas. Igualmente positiva é a localização do próprio edifício na malha urbana, no Largo Cândido dos Reis, espaço de riqueza patrimonial arquitectónica com interesse para o turismo e outras atividades relacionadas com as indústrias criativas, podendo ser um elemento importante no incentivo dessas dinâmicas. No entanto, seria necessário mais espaço para dar escala ao património existente, pois essa valorização deveria passar pela aposta em mais salas onde se pudessem utilizar as NTIC, em todo o seu potencial para a valorização e divulgação do património cultural imaterial em causa (Carvalho, 2011). Assim a obra de ALV poderia ser divulgada, reconstituindo-se virtualmente, ou graficamente através de suportes físicos, as paisagens e figuras bucólicas criadas pelo poeta leiriense. Seria um modo de aceder à sua diversificada produção literária, 8

Valor de uso, formal e simbólico-significativo.

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fotografias e partituras, através de diversas ferramentas audiovisuais. O recurso às NTIC poderia ainda ter um impacto mais profundo nos jovens e crianças, tais são as suas apetências e disponibilidade para este tipo de soluções mais tecnológicas, umbilicalmente relacionadas com esta nossa sociedade da comunicação em rede (Castells, 2002) e de um pós-modernismo9 que assume contornos de um individualismo que se mobiliza quando se desperta livremente o interesse para os assuntos em causa (Lipovetsky, 2010). A deslocação deste espólio para outro museu poderia criar as condições para uma visita turística cultural mais direcionada e de maior abrangência, criando mais possibilidade de destaque para o acervo, tal como aproveitar recursos museológicos existentes noutras instalações. Apesar disso, a fragmentação museológica poderá ser uma vantagem. Se todos os espaços musealizados e a musealizar no centro da cidade forem inseridos numa rede e percurso em que o próprio centro histórico seja a envolvente, composto por várias paragens de interesse, criam-se as condições para um projecto museológico de escala considerável, partindo de alguns pressuposto dos ecomuseus e da Nova Museologia. Assim, o eventual “Museu” ou “Memorial” dedicado a ALV poderia ter o seu devido espaço, contribuindo para um conjunto museológico de interesse educacional, académico, mas, principalmente, do turismo cultural e seus impactos económicos no desenvolvimento local. De notar que existe já um espaço museológico dedicado a ALV em S. Pedro de Moel (Nobre, 2013) com o qual seria ideal estabelecer parcerias e um projecto museológico conjunto, quiçá assente nos princípios da “Nova Museologia”, extravasando as paredes dos edifícios e ligado ao território, à região com percursos paisagísticos e viagens daquilo que ALV descrevia. Um dos serviços importantes que um tratamento museológico poderia permitir seria implementar uma loja com produtos de design10 e vendas de obras originais de ALV, isto porque existem poucas publicações das suas obras disponíveis no mercado (Nobre, 2005). Esta preocupação com a sustentabilidade financeira de um eventual projecto desta natureza, incluindo cobrança de entradas para visitantes, poderá tornar viável a musealização do espólio e livraria de ALV.

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Definido como era da globalização, transnacionalidade, capitalismo acelerado, comunicação instantânea e mutação dos valores culturais e identitários tradicionais (Giddens, 2000). 10 De notar que o público-alvo deste tipo de produtos dá preferência à qualidade e fidedignidade, mais que ao preço e massificação da oferta disponibilizada (Mork, 2004)

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7. CONCLUSÃO

O espólio e arquivo histórico associado ao fundo de ALV, inserido na BMALV, tem valor patrimonial evidente, podendo ser valorizado se sobre ele se intervir conscientemente e numa perspetiva museológica moderna. Esse património tem evidente utilidade simbólica para Leiria, no reforço da sua identidade, mas também do ponto de vista da economia cultural e turística. No entanto, para isso, será necessário fazer investimento num projecto museológico e museográfico, atendendo às especificidades desse património material e imaterial, com forte componente audiovisual e interativa. Para isso será incontornável optar pela musealização fortemente apoiada pelas NTIC, cumprindo as várias funções que um museu deve assegurar, mas também garantindo a sua sustentabilidade financeira através da oferta de produtos e serviços de qualidade, inseridos numa lógica local de investimento nas indústrias criativas e turismo cultural, sempre sem esquecer a vertente de educação e formação cultural que esses meios proporcionam aos residentes, pois os museus só sobrevivem localmente se as comunidades se identificarem e os assumirem como seus, como parte do seu património material e imaterial tangível.

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8. BIBLIOGRAFIA GERAL

8.1. FONTES PRIMÁRIAS

Entrevista presencial e visita guiada com Dr.ª Ângela Pereira, técnica superior da Biblioteca Afonso Lopes Vieira, do Município de Leiria. Espólio literário Afonso Lopes Vieira, listagem de Outros materiais, disponível na Biblioteca Afonso Lopes Vieira do Município de Leiria. Espólio literário Afonso Lopes Vieira, listagem de Fotografias, disponível na Biblioteca Afonso Lopes Vieira do Município de Leiria. Espólio literário Afonso Lopes Vieira, listagem de correspondência, disponível na Biblioteca Afonso Lopes Vieira do Município de Leiria. Espólio literário Afonso Lopes Vieira, listagem de publicações periódicas, disponível na Biblioteca Afonso Lopes Vieira do Município de Leiria. Espólio literário Afonso Lopes Vieira, listagem de objetos, disponível na Biblioteca Afonso Lopes Vieira do Município de Leiria. Espólio literário Afonso Lopes Vieira, listagem de música (partituras), disponível na Biblioteca Afonso Lopes Vieira do Município de Leiria. Fundo documental de Afonso Lopes vieira, disponível na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira do Município de Leiria.

8.2. FONTES SECUNDÁRIAS

BALLART, Josep; TRESSERRAS, Jordi. Gestión del Patrimonio Cultural. Barcelona: Ariel Património, 2005. BARROS, Fátima. Arquivos históricos nos dias de hoje: aliciantes, desafios, múltiplos papei”. Actas do Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas. Funchal: Arquivo Regional da Madeira, 2007.

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CARVALHO, Ana. Os museus e o património cultural imaterial. Estratégias para o desenvolvimento de boas práticas. Lisboa, Edições Colibri, CIDEHUS - Universidade de Évora, 2011. CASANOVAS, Luís Efrem Elias, Conservação e condições ambiente. In ROCHATRINDADE, Maria Beatriz (Coord.) Iniciação à Museologia. 4.ª edição. Lisboa: Universidade Aberta, 2008. CASTELLS, M. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Sociedade em Rede. Volume I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002. CML. Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira [Em Linha]. Sitio da Câmara Municipal de Leiria. [consult. 3 de jan. 2016]. Disponível na internet em: http://www.cm-leiria.pt/pages/738 DESVALLÉES, André & MAIRESSE, François (dir.). Conceitos-chave de museologia. São Paulo: ICOM/ Armand Colin, 2010. DGLAB., Afonso Lopes Vieira [Em linha]. In Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas - DGLAB, Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994.

[Consult.

7-12-2015].

Disponível

na

Internet

em:

http://www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?AutorId=9 176 GIDDENS, Anthony. Viver numa sociedade pós-industrial. In Beck, U.; Giddens, A., Lash, S. (ed.). Modernização Reflexiva. Oeiras: Celta Editora, 2000. HOOPER-GREENHILL, Eilean. Museums and the shaping of Knowledge. London/New York: Routledge, 1992. ICOM. Como Gerir um Museu: Manual Prático. Paris, Maison de L’UNESCO, 2004. LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. Lisboa: Edições 70, 2010. MAGALHÃES, Fernando Paulo Oliveira. Territórios, patrimónios, regionalização: discursos sobre Leiria. Lisboa: ISCTE, 2009. Tese de doutoramento. MAGALHÃES, Fernando. À procura de um lugar na Europa: o património nos discursos sobre Leiria e suas regiões. Leiria: IPL, 2012. MENDES, J. Amado Mendes. Estudos do património. Museus e Educação. 2.ª edição. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.

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