Futebol e Religião: Uma análise comparativa

June 3, 2017 | Autor: K. Almeida Silva ... | Categoria: Qualitative methodology, Sociologia, Religião, Esportes, Futebol
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Klarissa Almeida Silva

FUTEBOL E RELIGIÃO UMA ANÁLISE COMPARATIVA

Monografia como pré-requisito de conclusão do curso de graduação em Ciências Sociais – 2º sem./2003 Orientador: Prof. Alexandre Cardoso

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/UFMG Fevereiro de 2004

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Fonte: www.portinari.org.br. PORTINARI, Cândido. Futebol. Pintura Óleo/Tela, 97 x 130 cm. Rio de Janeiro, RJ. 1935.

“Meu coração não joga nem conhece as artes de jogar. Bate distante da bola nos estádios, que alucinam o torcedor, escravo do seu clube. Vive comigo, e em mim, os meus cuidados. Hoje, porém, acordo, e eis que me estranho: que de meu coração? Está no México, voou certeiro sem me consultar, instalou-se, discreto, num cantinho qualquer, entre bandeiras tremulantes, microfones, charangas, ovações, e de repente, sem que eu mesmo saiba como ficou assim, ele se exalta e vira coração de torcedor, torce, retorce e se destorce todo, grita: Brasil com fúria e com amor.”

(Carlos Drummond de Andrade)

“O futebol é um reino da liberdade humana exercida ao ar livre.” (Gramsci)

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Sumário

1. 1.1 1.2 1.3

Treinamento – Introdução Justificativa Objetivo Metodologia

04 04 05 05

2. 2.1 2.2 2.3 2.4

Concentração - Breve História do Futebol: de suas origens até os dias atuais Mas, afinal, quem é o pai do futebol? As Regras do Jogo O futebol no Brasil e no Mundo O futebol nos dias atuais

06 06 07 14 20

3. 3.1 3.2 3.3

Aquecimento – Marco Teórico Johan Huizinga e o Homo Ludens Émile Durkheim e os Pontos Elementares da Religião Roberto DaMatta e os Rituais Brasileiros

23 23 26 34

4. Primeiro Tempo – Observações Empíricas 4.1 A Condensação do Triangulo Ritual Brasileiro 4.2 Características Elementares da Religião Presentes no Futebol

38 39 42

5. Segundo Tempo – A Entrevista

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6. Comemoração – Conclusão

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7. Referências Bibliográficas

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8. Anexo

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1 – Treinamento Introdução 1.1 – Justificativa Jogo e religião constituem, no âmbito das Ciências Sociais, esferas culturalmente caracterizadoras das sociedades em geral. No entanto, a Sociologia e a Antropologia demandam forte atenção sobre a segunda, enquanto a primeira encontra-se muitas vezes ofuscada pela importância dada àquela, o que pode ser comprovado pelo escasso número de estudos feitos na área da Sociologia do Esporte e do Lazer. Quanto ao desinteresse aparente desses dois ramos científicos pelo estudo do jogo em si, Norbert Elias (1992) e Johan Huizinga (1980), ao realizarem teorias sobre tal temática, deixam claras suas posições de insatisfação com essa característica do meio acadêmico. Em seus livros, solicitam que os sociólogos futuros tenham a iniciativa de desbravarem este caminho obscuro, repleto de obstáculos e surpresas, a fim de se comprovar a importância do fator lúdico para o processo de civilização das sociedades. Em contrapartida, Émile Durkheim (1996), ao estudar o elementar da religião, lança o desafio de tentar-se descobrir o lugar por ela ocupado nas sociedades modernas, uma vez que o caráter religioso encontrava-se mais nítido nas sociedades primitivas e mais camuflados naquelas. O estudo ora apresentado busca atender às solicitações de tais autores por meio de uma intersecção entre o jogo – mais precisamente o jogo de futebol – e a religião, sendo esse o seu principal caráter inovador e contribuinte à Sociologia.

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1.2 – Objetivo

Esta incipiente pesquisa possui como objetivo primordial apontar possíveis pontos convergentes e divergentes entre aspectos lúdicos e religiosos do futebol, intrínsecos às sociedades em geral e à brasileira em particular.

1.3 – Metodologia Este estudo concretizou-se após as seguintes etapas de trabalho: 1)

Levantamento e leitura de fontes bibliográficas a respeito da

chegada do jogo de futebol ao Brasil e sua conseqüente institucionalização como principal esporte do país. Recorrência a fontes históricas como registros datados de primeiros jogos e primeiras fundações de associações esportivas/futebolísticas. Neste momento, buscaram-se informações lingüísticas a respeito do termo de designação para tal esporte. 2)

Levantamento e leitura de fontes bibliográficas acerca de

abordagens sociológicas e/ou antropológicas sobre jogo, religião e festa. Como essas três modalidades de envolvimento social poderiam complementar-se. 3)

Observação do comportamento dos brasileiros quando inseridos

num clima de alta coesão social, como são as multidões que assistem aos jogos de futebol dentro de estádios. 4)

Realização de uma entrevista em profundidade a um filiado à

torcida organizada do Clube Atlético Mineiro, a Galoucura.

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2 - Concentração Breve História do Futebol: de suas origens até os dias atuais

A história do futebol, por si só, dá margens à escrita de um livro único. Este capítulo possui a intenção de informar o leitor sobre a criação de tal jogo e sua transformação em esporte moderno, bem como sua instalação no Brasil e conseqüente popularização.

2.1 – Mas, afinal, quem é o pai do futebol? Muitos países requisitam para si a paternidade do futebol. Entre eles estão a China, o Japão, a Grécia, o México, a França, a Itália e a Inglaterra principalmente. De acordo com estudos sobre sua criação, o futebol é oriundo da China. Consta que, por volta do ano 3000 a. C., os soldados do imperador chinês Huang-ti possuíam o estranho hábito de chutar as cabeças de seus inimigos derrotados, que deveriam passar por entre duas estacas fixadas no chão. Mais tarde, por volta de 2197 a. C., Yang-tsé cria o jogo tsu-chu (tsu = lançar com o pé + chu = bola recheada, feita de couro). Esse jogo chega ao Japão onde recebe o nome de kemari (ke = chutar + mari = bola de fibras de bambu), jogado pela nobreza de tal país. Ainda hoje, o kemari é praticado no Japão. Em 850 a. C., na Grécia Antiga, tem-se a prática do chamado epyskiros, jogo praticado com uma bola feita de bexiga de boi, recheada com ar e areia, que deveria ser chutada em direção a duas estacas presas em lados opostos do campo de jogo pelos nove praticantes de cada time em um campo retangular. Entre 900 e 200 a. C., os maias praticam um jogo de bola com os pés e as mãos, onde o atirador-mestre da equipe perdedora deveria ser sacrificado. Em 200 a. C., tem-se a prática do harpastum na Roma Antiga. Aqui, a bola

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era feita de bexiga de boi, coberta por uma capa de couro e era praticado pelos soldados romanos como exercício físico. Entre 58 e 51 a. C., chega à França – na época denominada Gália – o jogo denominado soule. Por volta de 1529, chega à Itália o calcio, nome pelo qual até hoje é conhecido o futebol nesse país. O calcio consistia na formação de duas equipes, cada qual com 27 jogadores. A equipe vencedora seria aquela que conseguisse chutar a bola para além dos portões da cidade de Florença. Essa forma de jogo possuía tempo indeterminado. Na Inglaterra, em 1175, registra-se a prática de um jogo em que os habitantes de várias cidades iam às ruas no intuito de chutar uma bola para além das fronteiras da localidade. A bola simbolizava a cabeça de um oficial dinamarquês e o jogo, a comemoração da vitória inglesa frente aos invasores de outrora. Em 1710, as escolas britânicas passam a adotar o futebol como atividade física, agora já com suas regras modificadas, bastante diferente do que se praticava séculos atrás. Em 1857, na Inglaterra, é fundado o mais antigo clube de futebol do mundo, o Sheffield FC.

2.2 – As Regras do Jogo De acordo com Elias (1992), o modo de jogar futebol, na Idade Média, estava intrinsecamente atrelado aos modos e costumes de cada sociedade, sendo as regras registradas oralmente. A organização do jogo era muito menos rígida que nos dias de hoje e, conseqüentemente, a espontaneidade emocional do confronto, muito mais nítida. O que determinava a maneira de jogar eram as tradições locais, impondo um certo ar de amizade a todos os jogos. Característica principal dos jogos esportivos é a tensão controlada entre, no mínimo, dois grupos. Assim, tem-se o equilíbrio entre rigidez e elasticidade das regras; e entre tensão e cooperação em diversos níveis ao

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mesmo tempo. Melhor dizendo, as equipes de jogo são antagônicas e interdependentes, sendo que o processo de jogo depende dessa tensão criada entre as equipes, que se mantêm em constante equilíbrio. No caso do futebol moderno, especificamente, cada jogador possui uma posição dentro de campo – embora nem sempre tenha sido assim – com determinada função a cumprir. Entretanto, ele é livre para percorrer toda a dimensão do gramado. Atualmente, até o goleiro pode marcar gol, ou seja, pode sair de sua posição (a mais fixa dentre todas) e dirigir-se ao gol oposto. O limite entre essas características do esporte moderno pode ser visto também quando das modificações dos esquemas táticos. Assim, a primeira delas, ainda no século XIX, era a 1-10 (1 goleiro e 10 atacantes). Mais tarde, surgiu a 1-1-8 (1 zagueiro, 1 meio-de-campo e 8 atacantes). A terceira “evolução” tática compreendia o esquema 2-2-6 (2 zagueiros, 2 médios e 6 atacantes). Em seguida, surgiu o “sistema clássico” 2-3-5 (2 zagueiros, 3 médios e 5 atacantes). Em 1925, o conhecido WM (3 zagueiros, 4 médios e 3 atacantes). Nos anos 50, o 4-2-4; em 1960, o 4-3-3; em 1980, o 4-4-2 e; nos anos 90, o 3-5-2. Nota-se, claramente, a crescente preocupação com a defesa do time e armação de jogadas para os poucos atacantes concluírem o gol. O registro escrito das regras e suas modificações são conseqüências da tentativa de tornar o jogo mais dinâmico e mais competitivo, portanto, torná-lo um esporte moderno. Exemplo clássico refere-se às mudanças relativas à “Regra do Impedimento”, propiciadoras, dentre outras, do atual dinamismo e conseqüente equilíbrio dos jogos de futebol. Sobre a dinâmica dos jogos esportivos, Cardoso (s/d) expõe o “processo de adaptação das regras, pelo qual se traduzem as alternativas e os limites das relações sociais, tomadas como jogos”. (CARDOSO, s/d: 10). O que se busca numa situação de jogo não é outra coisa senão o desafio aos jogadores/

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espectadores, atrelado à igualdade de chances entre os adversários, implicando características tais como limitações físicas e psicológicas, controles e auto-controles dos jogadores. É dessa forma que se dá a passagem do nível de jogo ao nível de esporte competitivo moderno. Tecidas tais considerações pode-se, agora, empreender uma cronologia das regras do futebol e suas especificações.

A partir do final do século XIX, as regras do futebol - agora além de um jogo, um esporte da modernidade - modificam-se rapidamente. Assim... 1865 - uma fita passa a unir as duas estacas que demarcavam o gol; 1868 - surge a figura do árbitro, que permanecia fora do campo de jogo; 1871 - as regras mencionam os goleiros; 1872 - surge o cornner ou escanteio, como é chamado no Brasil; 1878 - adota-se um travessão de madeira unindo os dois postes no lugar da fita anterior; 1881 - é criado o pênalti, batido em qualquer ponto a uma distância de 11 metros do gol; surgem as redes do gol e os ajudantes dos árbitros – os bandeirinhas; 1896 - os tamanhos do campo e da bola são definidos; 1901 - as áreas passam a ser delimitadas; 1912 - o goleiro fica proibido de pegar a bola com as mãos fora de sua área; 1913 - é definida a distância de 10 jardas para os adversários se posicionarem em cobrança de falta;

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1924 - os gols feitos diretamente das cobranças de escanteio passam a valer (chamado de gol olímpico, por ter sido o Uruguai, campeão mundial em 1930 e bicampeão olímpico, em 1924 e 1928, a marcar um gol desse tipo); 1965 - é permitida a substituição de jogadores machucados; 1968 - passa a ser permitida a realização de duas substituições por cada equipe; 1970 - usa-se pela primeira vez o cartão amarelo para advertência e o vermelho para expulsão; 1992 - o goleiro fica proibido de pegar a bola com as mãos quando esta for recuada por um companheiro de equipe; 1993 - é delimitada uma área técnica onde a comissão pode permanecer durante o tempo de jogo; 1994 - tornam-se possíveis três substituições por equipe, sendo uma a do goleiro; a vitória passa a valer 3 pontos e não 2; 1996 - a terceira substituição não precisa ser necessariamente a do goleiro; 1997 - o goleiro passa a ter 6 segundos para repor a bola em jogo.

Todas essas importantes modificações das regras promoveram o maior dinamismo do jogo futebol como o esporte mais popular da modernidade. Tais mudanças de caráter normativo acabaram por exigir a criação de uma associação mundial responsável por regulamentá-las, padronizando-as em todos os países onde o esporte fosse praticado. Assim, em 1904, o futebol passa a apresentar um formato organizacional representado pela imagem da FIFA (Federátion Internacionale de Football Association), que conta hoje com 203 países filiados, cinco a mais que a ONU

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(Organização das Nações Unidas). A FIFA possui o importante papel de não somente formular as regras, mas de organizar os campeonatos mundiais – as chamadas “Copas do Mundo” – e todos os demais campeonatos inter ou intracontinentais. O órgão da FIFA responsável pelo estabelecimento das regras denomina-se International Board, o Conselho Internacional de Arbitragens, cabendo somente a ele alterar as normas do jogo. Nota-se, a partir do surgimento dessa instituição, o início dos processos weberianos de racionalização, institucionalização e, conseqüentemente, de dominação legal-racional nitidamente intrínsecos ao futebol esporte. Atualmente, o futebol é jogado sob 17 leis gerais. Regra 1 – O campo de jogo: deve ser retangular, com medidas de comprimento e largura entre 120 x 90 metros (máximas) e 90 x 45 metros (mínimas). Além disso, ela normatiza as marcações do campo de jogo, a área de meta ou grande área - como é conhecida no Brasil -, a área penal ou pequena área, as bandeiras de canto, a área de canto, as metas ou traves do gol, e a segurança das mesmas que devem ser bem fixas em campo. Regra 2 – A Bola: deve possuir circunferência entre 68,5 a 69,5 centímetros, pesar entre 420 e 445 gramas e possuir pressão igual a 0,8 barômteros. Inicialmente eram feitas de bexiga de boi internamente e couro curtido por fora. Como não havia válvula de enchimento, possuía uma costura na parte externa que, não raro, machucava os jogadores. Esta foi usada até o início do século XX, quando passou a ter bico de enchimento interno. A partir do final dos anos 60, a bola oficial das Copas do Mundo é fabricada pela Adidas.

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Regra 3 – Número de Jogadores: são onze jogadores para cada uma das duas equipes competidoras, não podendo a partida ser iniciada se uma das equipes possuir menos de sete jogadores. Pode haver até três substituições em cada equipe, sendo que o jogador substituído não pode retornar a campo. Regra 4 – Equipamento dos Jogadores: exige apenas que o jogador entre em campo vestindo camisa, calção e meias. Os goleiros devem usar cores diferentes das dos jogadores de sua equipe. Os números na parte de trás da camisa passaram a ser adotados em 1939, sendo utilizados, no Brasil, somente em 1948 no Campeonato Paulista. Regra 5 – Árbitro: toda a autoridade do jogo pertence a ele, que é um elemento neutro em campo como as traves e as bandeirinhas do escanteio, podendo, inclusive, “marcar” gols se nele a bola bater antes de passar as traves. Seu papel é fazer com que as regras do jogo sejam cumpridas, mantendo a ordem da partida. Regra 6 – Árbitros Assistentes (Bandeirinhas): os fiscais de linha têm a função de dar assistência ao árbitro. São dois e posicionam-se em lados opostos do campo, cabendo a eles indicar se a bola ultrapassou os limites do campo, à qual equipe pertence a cobrança do lateral, marcação do impedimento de um jogador, dentre outras. Regra 7 – Duração da Partida: a partida de futebol tem duração de dois tempos de 45 minutos cada um, com um intervalo de 15 minutos entre ambos. Cabe ao árbitro acrescentar mais alguns minutos em cada tempo, se assim julgar necessário. Regra 8 – Início e Reinício da Partida: deve-se usar uma moeda para o cara-ou-coroa, cabendo ao vencedor escolher o campo no qual sua equipe deseja jogar o primeiro tempo da partida. Após o apito do árbitro, um jogador deve rolar a bola para

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frente, ou seja, para o campo adversário. Todos os demais jogadores devem permanecer em suas posições de origem até soar o apito exceto o que der o “pontapé inicial”. Regra 9 – Bola em Jogo ou Fora de Jogo: refere-se às condições em que a bola se encontra dentro ou fora de campo. Fora de campo – quando ultrapassa, em sua totalidade, as linhas de marcação – está fora de jogo. Dentro de campo, bola em jogo. Regra 10 – Gol Marcado: superar o adversário em número de gols é o objetivo do jogo. A equipe que atinge tal feito é declarada vencedora da partida. Um gol é válido quando a bola ultrapassa a linha que demarca a distância entre as duas traves e o travessão que as une. Regra 11 – Impedimento: essa é, certamente, a regra mais polêmica e mais modificada do futebol – quatro vezes (1907, 1912, 1925 e 1990). Polêmica, pois tem que ser marcada no exato momento em que ocorre a infração, ou seja, em frações de segundos. Nem sempre o bandeirinha ou o árbitro conseguem definir a posição dos jogadores. Modificada, pois ela é a responsável pelo maior dinamismo em uma partida, permitindo que um número maior de jogadores suba ao ataque sem que a defesa fique desprotegida. Um jogador estará impedido quando se encontrar mais próximo da linha de meta contrária que a bola e o penúltimo adversário. Ao contrário, não estará impedido quando estiver na metade de campo ocupada pela sua equipe; encontrar-se na mesma linha que o penúltimo adversário e; estiver na mesma linha que os dois últimos adversários. Regra 12 – Faltas e Conduta Antiesportiva: a conduta antiesportiva de um jogador em campo pode ser punida pelo árbitro, na intenção de não prejudicar a equipe adversária, de quatro formas, a saber: (1) tiro livre direto; (2) tiro penal; (3) tiro livre indireto e; (4) sanções disciplinares.

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Regra 13 – Os Tiros Livres: os tiros livres ou faltas, como são conhecidos popularmente, podem ser diretos ou indiretos. No primeiro caso, o jogador pode chutar diretamente ao gol. No segundo, são necessários dois toques de jogadores diferentes. Todos os demais jogadores devem-se posicionar a uma distância de 9,15m da bola, exceto os cobradores da falta. Regra 14 – Pênalti: oficializado em 2 de junho de 1891, o tiro penal será marcado contra a equipe que cometer uma das dez infrações que acarretam cobrança de um tiro, dentro da área de gol, ou grande área. A bola será posicionada na marca penal, que fica a 12 jardas do gol. Todos os jogadores, exceto o cobrador e o goleiro, deverão permanecer fora da grande área até que o árbitro autorize a cobrança. Regra 15 – Arremesso Lateral: cobrança feita com as mãos, no intuito de recolocar a bola em jogo, após sua saída pelas linhas laterais do campo. Regra 16 – Tiro de Meta: cobrança feita pelo goleiro que, com os pés, deverá recolocar a bola em jogo, após a saída da mesma pela linha de fundo depois de ter sido tocada por um jogador que esteja atacando. Regra 17 – Tiro de Canto (Escanteio): cobrança surgida em 1872 no intuito de recolocar a bola em jogo após o último toque ter sido de um jogador da equipe defensora, pela linha de fundo. A bola deve ser posicionada no semicírculo que une as linhas laterais com as linhas de fundo e o cobrador deve recoloca-la com os pés, realizando um passe para um de seus companheiros.

2.3 – O Futebol no Brasil e no Mundo O fato de os ingleses reivindicarem para si a paternidade do futebol pode ser melhor compreendido quando do reconhecimento de que muitos esportes praticados

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atualmente pelas sociedades modernas tiveram sua origem na Inglaterra. A expansão dos mesmos aos demais países do mundo é datada da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX. De todos os esportes britânicos, o mais aceito pelas demais sociedades modernas foi o futebol, tornando-se um dos esportes mais populares do mundo, senão o mais popular. (ELIAS, 1992) O jogo de futebol possui várias modalidades, como o ruggby britânico, o futebol de salão ou futsal, o futebol de areia – ambos inventados no Brasil –, o futebol society ou futebol rápido como a FIFA o denomina, o futebol americano e o football association, sua forma mais popular. O termo de designação varia de acordo com as línguas dos povos onde é praticado. Assim, na Alemanha se fala fussball; na Espanha, fútbol; na Holanda voetbal; nos Estados Unidos, soccer; na Grécia, podospheriki; na Hungria, labdarugok; na Itália, cálcio e; no Japão, kyokway. Em Portugal, como no Brasil, o termo inglês football (foot = pé + ball = bola) sofreu apenas uma simples adaptação para o que chamamos de futebol, causando, entretanto, uma polêmica de cunho lingüístico entre os escritores Lima Barreto e Coelho Neto. Enquanto o primeiro dizia ser o futebol uma coisa inglesa e que havia chegado ao Brasil por meio de arrogantes, o segundo possuía uma visão olímpica do esporte em questão. Nessa época, o futebol representava, segundo Lima Barreto, a concretização do imperialismo britânico, que precisava ser combatido. Em conseqüência desse ideal, não só Lima Barreto, que considerava o esporte como “o ópio do povo”, mas também jornais cariocas e paulistas, buscaram termos em português, no intuito de abrasileirar o esporte. Desta forma surgiram termos como “bolapé” e “ludopédio”. Entretanto, é fato notório que nenhum desses termos foi aceito pela sociedade brasileira.

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Grande parte dos documentos que tratam da origem do esporte, no país, faz referência à figura de Charles Miller, um jovem brasileiro filho de imigrantes escoceses que estudava na Inglaterra, onde o football era praticado com bastante freqüência. Atribuem a ele a paternidade do futebol no país, já que em 1894, retornando ao Brasil, o jovem trouxe em sua bagagem artigos diferentes como duas bolas de couro e um livro de regras do Association Football. Como jogava no time de seu colégio inglês – o Banister Court School – chegando a jogar pela seleção do condado de Hampshire, na posição de atacante, o jovem estava demasiado familiar ao esporte e suas regras. Chegando a seu país de origem, Miller, como todo jovem da elite inglesa paulistana, freqüentava bastante o São Paulo Athletic Club (SPAC), onde o esporte mais praticado era o cricket. Como era amante do jogo de bola ao ar livre, responsabilizou-se por implantar a prática do futebol no clube e ensiná-la aos demais sócios de sua idade. Foi assim que o futebol nasceu para a elite brasileira, tornando-se competitivo e conquistando cada vez mais adeptos, principalmente entre os funcionários do alto escalão de empresas inglesas implantadas no Brasil. Importante ressaltar a imigração européia não pertencente à elite burguesa, ou seja, composta por trabalhadores industriais, agricultores e empregados domésticos como governantas, mordomos e choferes. Esses também passaram a jogar futebol, como será exposto mais à frente. Entretanto, de acordo com Santos Neto (2002), o futebol já era praticado no Brasil desde a época da proclamação da República, quando foi introduzido nos colégios, depois de uma medida de Rui Barbosa. Em 1882, Rui Barbosa, então deputado pelo Partido Liberal, apresentou na Câmara do Império, um parecer sobre a Reforma do Ensino Brasileiro, posto a

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necessidade de pensar alguma medida para erguer um sólido sistema educacional no país. No capítulo referente ao ensino da Educação Física, Rui Barbosa defendeu a implementação de práticas de esportes ao ar livre, como jogos e a chamada ginástica alemã. No intuito de atender às prerrogativas do ilustre e respeitado deputado imperial, os melhores colégios brasileiros enviaram à Europa vários representantes para que trouxessem alguma novidade para tais instituições de ensino. Foi assim que o football se tornou uma opção para os brasileiros. Um dos primeiros colégios a adotarem o esporte em seu currículo foi o Colégio São Luís de Itu, comandado por padres jesuítas. Inicialmente jogava-se algo parecido como o squash, ou seja, alguns meninos e um padre chutavam a bola em direção à parede e outro a rebatia na mesma direção. Esse tipo de prática era chamado de “bate-bolão”. Em seguida, os padres introduziram marcas em duas paredes opostas, dividiram os meninos em dois grupos opostos e explicaram que o objetivo, agora, era chutar a bola na parede oposta à do time do qual fazia parte. Mesmo sem regras, começava, neste momento, a prática do futebol no Brasil desprovida, no entanto, do objetivo da competitividade. O que se enfatizava era justamente o caráter lúdico caracterizador de toda e qualquer prática desportiva. Ou seja, o espírito de brincadeira e de prazer pura e simplesmente. A chegada de Charles Miller, empreendedor do caráter diretivo do jogo, tornou o futebol um esporte, strictu sensu, pois assumiu um caráter altamente competitivo, dotado de regras a serem cumpridas pelos praticantes durante o tempo definido, de caráter espetacular e empresarial. É neste momento que a elite paulistana volta suas atenções para a novidade desportiva, não somente a praticando, mas também assistindo aos jogos de futebol.

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Em torno de 1900, São Paulo já contava com cerca de 50.000 operários trabalhadores italianos, alemães e portugueses - que foram atraídos pelas abundantes oportunidades de trabalho após a abolição da escravatura. Eles formaram os chamados “times populares”. Tais times jogavam nas margens de rios como o Tamanduateí e Tietê, em São Paulo. A disseminação da prática do esporte pelo povo causou uma reação da elite paulistana, exigindo dos governantes a separação entre o futebol de elite e o futebol do povo. Foi assim que, em 1905, com a separação de elite e o popular, os times da elite criaram seus próprios campos, e o futebol popular tornou-se conhecido por “varzeano”. Surgia o início de uma discriminação social em relação aos componentes dos times pequenos. A imprensa esforçava-se por separar o grande futebol e o pequeno futebol, não reconhecendo sequer a importância do segundo. A questão social, no Brasil, era vista sempre como “caso de polícia”, e o futebol dos operários, ambulantes e desocupados, como manifestação esportiva indesejável, sem valor e digna de ser reprimida pelas autoridades públicas. A elite, preocupada com a popularização do futebol – preocupação esta inclusive e maior de Charles Miller – funda, em São Paulo, no ano de 1901, a primeira liga de futebol do país, a Liga Paulista de Futebol e, no Rio de Janeiro, a Liga Metropolitana de Foot Ball, em 1905. A partir de então, há vários jogos entre as seleções das duas ligas. Em 1912, entretanto, a Liga Paulista de Futebol viu-se obrigada a aceitar a filiação do Ipiranga Futebol Clube, um time de várzea. Em reação a esse fato, o time de Charles Miller, o São Paulo Athletic Club, deixou a liga, pois seus componentes acreditavam que o futebol já não era mais praticado por distintos cavalheiros.

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O futebol inglês, até o final do século XIX, era jogado pelo chamado “jogo de dribles”, que consistia na ação de chutar a bola para frente e correr atrás dela. Assim também se jogava no Brasil. No entanto, os escoceses, no último quarto do mesmo século, mudaram tal dinâmica e instituíram o chamado “jogo de passes”, que se baseava na ação dos jogadores em tocar a bola um para o outro. Desta forma, os esquemas táticos tornaram-se mais definidos. Com o lançamento do livro do jornalista Mário Cardim, Guia de Foot Ball, em 1904, os jogadores brasileiros tiveram a noção não somente das regras melhor explicadas, como também começaram a misturar o “jogo de dribles” com o “jogo de passes”. O mesmo Mário Cardim, em 30 de agosto de 1915, fundou a Federação Brasileira de Futebol, que mais tarde se transformaria na Confederação Brasileira de Desportos, em dezembro de 1916. A primeira seleção brasileira foi formada por jogadores dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Esse time foi disputar a Copa Roca na Argentina, vindo a conquistá-la, principalmente pelas características do atacante Friedenreich1, que perdeu dois dentes e teve ferimentos no joelho esquerdo, chegando bastante ensangüentado no final do jogo. O estilo brasileiro de jogar futebol foi classificado pela imprensa argentina como “algo curioso, sendo às vezes parecido com o futebol uruguaio, mas essencialmente diferente pois sinalizava para o encontro das duas mais técnicas escolas de futebol no mundo” (SANTOS NETO, 2002:100), o que era inédito até então. A disseminação do futebol, no Brasil, ocorreu rapidamente. Além do introdutor Charles Miller, em São Paulo no ano de 1894, têm-se outros nomes 1

Esse atacante é considerado pelo Guiness Book of Records como o maior artilheiro de todos os tempos, contabilizando 1.329 gols, contra os 1.282 gols de Pelé. Entretanto, o livro possui o cuidado de informar que os gols de Friedenrich não são comprovados. Segundo Alexandre da Costa, jornalista responsável pelo livro biográfico do atacante brasileiro, quando se fala em média de gols, o jogador das décadas de 10, 20 e 30, supera o Rei Pelé ( 0,99 e 0,93 gols por jogo, respectivamente).

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responsáveis pela difusão do esporte no imenso território nacional. Em 1897, Oscar Cox apresentou o futebol ao Rio de Janeiro. Em 1900, no Rio Grande do Sul, Johannes Minerman e Richard Woelckers fundam o Sport Club Rio Grande, que se tornaria o mais antigo time de futebol em atividade do país até os dias atuais (Anexo, FIG.1). José Ferreira Filho seria o responsável na Bahia, em 1901. Guilherme da Aquino Fonseca, em Pernambuco no ano de 1903. Em 1904, Vitor Serpa leva o futebol até Minas Gerais. Charles Wright, em 1908, no Paraná. Até o ano de 1917, finalmente, o futebol já se fazia presente em todo o país.

2.4 – O Futebol nos Dias Atuais Em pouco mais de um século de história, no Brasil, fatores sociais, ambientais, econômicos, dentre outros consolidaram o futebol nesse país, arraigando-se às práticas sociais e organizando-se. Clima e relevo adequados à sua prática, além da simplicidade inerente – uma bola, uma trave de cada lado do campo, vestimentas e regras simples – justificam a disseminação desse esporte no Brasil. Além disso, por que não dizer, a semelhança com o samba – posto ser jogado com os pés e incentivar os dribles ao adversário, criando algo semelhante à dança, ou seja, a movimentação empreendida no próprio jogo – pode corroborar o lado sócio-cultural de sua prática. Dessa forma, o esporte ganhou força, notoriedade, respeito e veneração por parte da população brasileira. É, com efeito, o esporte mais praticado e popular do país. Hoje, há um grande número de campeonatos sendo disputados ao longo do período de um ano. São três campeonatos nacionais: (1) Campeonato Brasileiro - uma extensão da Taça Brasil, iniciada em 1959 -; (2) Copa do Brasil, realizada desde 1989 e; (3) Copa dos Campeões, criada em 2000. Cinco campeonatos inter-regionais como o (1)

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Torneio Rio-São Paulo, (2) Copa Sul-Minas, (3) Campeonato do Nordeste, (4) Copa Centro-Oeste e (5) Copa Norte, campeonatos estaduais presentes em todos os 27 estados da República Federativa do Brasil, além de ligas municipais, estudantis e redes de futebol amador. O futebol como é praticado na modernidade supera, não raramente, a esfera do esporte, transformando-se, em uma grande indústria, com empresários investindo no novo mercado futebolístico. De acordo com os registros da FIFA, dos 629.256 clubes de futebol existentes no mundo, 12.890 estão no Brasil. Curiosamente, o país com maior número de clubes registrados são os Estados Unidos, com 221.000. Segundo a Confederação Brasileira de Futebol – CBF – dos US$ 250 bilhões anuais movimentados pelo futebol mundial, o Brasil contribui com US$ 32 bilhões. Anualmente são fabricadas, no país, 3,3 milhões de chuteiras para futebol de campo; seis milhões de bolas de couro; 32 milhões de camisetas, sem contar as destinadas aos jogadores profissionais. A Rede Globo realizou um acordo entre os clubes brasileiros no valor de US$ 100 milhões para transmitir os jogos do Campeonato Brasileiro em 2004. R$ 6 milhões é o valor pago pela LG, empresa sul-coreana de componentes eletrônicos, ao São Paulo para ter sua marca estampada na camisa do time. (UNZELTE, 2002) Geralmente, os clubes brasileiros possuem um órgão diretivo cujo presidente é eleito, de quatro em quatro anos, pelos sócios e pelos demais membros da administração. Os chamados “cartolas” são dotados de autoridade legitimada pelos componentes do clube – jogadores, comissão técnica, demais membros e torcedores – possuindo o papel de não somente representar o clube, mas de defendê-lo perante a sociedade. Muitas vezes, entretanto, essa função é corrompida pela aquisição demasiada

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de poder e legitimidade político-administrativa. Mas... não debatamos detalhadamente este tópico. Essa discussão, por si só, empreende um outro desafio teórico. O novo caráter do futebol pode ser percebido pela atenção dispensada por parte de alguns órgãos de pesquisa de opinião pública quando da realização de estudos quantitativos com a população, como é o caso do IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública Estatística – no Brasil. Atualmente, o IBOPE realiza pesquisas junto a torcedores das principais capitais brasileiras a fim de medir a opinião da população a respeito desse esporte no país. Em 1998, 53% dos brasileiros acompanhavam jogos e noticiários de futebol, sendo que o interesse pelo esporte decrescia com o aumento da faixa etária. Assim, 62% das pessoas entre 16 e 24 anos de idade se informavam mais sobre o assunto, contra 52% de desinteresse entre as pessoas acima de 50 anos. De acordo com a escolaridade, 66% das pessoas com curso universitário acompanhavam as notícias sobre o esporte, contra 44% dos que estudaram até o primeiro grau. Em 2001, 47,1% das mulheres brasileiras disseram que gostavam de futebol, enquanto 81,2% dos homens responderam o mesmo. De acordo com a renda, nota-se que em todas as classes econômicas – A, B, C, D, E – há um índice de aceitação que varia entre 59,9% (classe DE) a 65,8% (classe B). Segundo a faixa etária, percebe-se novamente que quanto mais jovem, maior é o interesse pelo esporte. Entre 10 e 15 anos 73,4% gostam de futebol. Esse índice decresce consideravelmente até a faixa etária acima de 50 anos, 57,7%. Os resultados mais interessantes encontram-se na pesquisa realizada em 2003, quando se vê que 21% dos brasileiros não são torcedores de nenhum time de futebol (Anexo, GRAF. 1). Esse percentual aumenta entre os mineiros – 35% (Anexo, GRAF. 2).

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3 – Aquecimento Marco Teórico

Neste terceiro capítulo serão expostas as teorias sobre (1) jogo e aspectos lúdicos intrínsecos ao ser humano, defendidas por Johan Huizinga; (2) religião, desenvolvidas por Émile Durkheim e; (3) aspectos ritualísticos da sociedade brasileira expostas por Roberto DaMatta.

3.1 – Johan Huizinga e o Homo Ludens Johan Huizinga (1980) defende a idéia de que o homem pode ser caracterizado por três maneiras distintas e complementares, de acordo com as principais atividades empreendidas por ele. Assim, o homem pode ser classificado como Homo sapiens, Homo faber e Homo ludens. Além das capacidades de pensar, raciocinar e fabricar objetos facilitadores de sua vida, o homem possui uma terceira característica natural comum aos animais, que é o jogo. Para o autor, o jogo pode ser considerado como toda e qualquer atividade humana, sendo que a civilização surge e se desenvolve através dele. O jogo, segundo Huizinga (1980), ultrapassa os limites das atividades física e biológica para chegar à margem de seu caráter significante, transcendendo as necessidades imediatas da vida, conferindo sentido à ação humana. A essência e característica principal do jogo residem na intensidade que ele apresenta juntamente com a capacidade de excitar e fascinar tanto aos espectadores quanto aos próprios jogadores. Há, no jogo, elementos como a tensão, a alegria e o divertimento, responsáveis pela descarga de energia do ser humano, de distensão do esforço e de

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preparação para as exigências da vida. O jogo possui, portanto, a categoria de totalidade, cumprindo uma função social. A maior contribuição de Huizinga (1980) a esse trabalho é sua consideração de que o jogo, não sendo material, ultrapassa os limites da realidade física. É nesse ponto que devemos nos concentrar a partir de agora. O autor enfatiza a necessidade de compreender o jogo como fator cultural da vida. Para tanto, torna-se necessário considerá-lo em sua significação primária, ou seja, no âmbito da imaginação social, responsável pela criação típica-ideal da sociedade perfeita. Desse modo, descobrir e compreender o valor e o significado dessa imaginação torna-se demasiado relevante para a análise da civilização moderna. É nesse ponto que o autor realiza a ligação entre os elementos mito, culto, jogo e religião. Ele explica que o mito “é também uma transformação ou uma imaginação do mundo exterior, implicando um processo mais elaborado e complexo do que ocorre no caso das palavras isoladas”. (HUIZINGA, 1980:07). Assim, através da observação do fenômeno culto, pode-se verificar que as sociedades primitivas celebram seus ritos sagrados, sacrifícios, consagrações e mistérios, no intuito de assegurarem a tranqüilidade do mundo, dentro de um espírito de puro jogo. O culto representa a forma mais sagrada de seriedade, sendo este o ponto em que ele e o jogo mais se aproximam, pois tanto há jogos de risos e de brincadeiras como há jogos de extrema seriedade como o xadrez e o futebol.

“É no mito e no culto que têm origem as grandes forças instintivas da vida civilizada: o direito e a ordem, o comércio e o lucro, a indústria e a arte, a poesia, a sabedoria e a ciência. Todas elas têm suas raízes no solo primevo do jogo.” (HUIZINGA, 1980:07).

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O jogo pressupõe liberdade e evasão da vida real, tornando-se obrigatório somente quando constitui uma função cultural reconhecida, tal como ocorre no culto e no ritual. Uma consideração importante feita pelo autor é que o jogo humano pertence sempre ao domínio do ritual e do culto, ao domínio do sagrado, portanto. Sua qualidade sagrada contribui para a prosperidade social. Ainda sobre o jogo, ele aponta que:

“A limitação no espaço é ainda mais flagrante do que a limitação no tempo, sendo que todo jogo se processa e existe no interior de um campo previamente delimitado. Assim como não há diferença formal entre jogo e culto, do mesmo modo o lugar sagrado não pode ser distinguido do terreno do jogo. A arena, a mesa de jogo, o círculo mágico e outros exemplos que ele nos fornece, têm todos a forma e a função de terrenos de jogo, ou seja, lugares proibidos, isolados, fechados, sagrados, em cujo interior se respeitam determinadas regras”. (HUIZINGA, 1980:13)

O jogo cria a ordem, tornando-se a própria ordem. Introduz, na confusão do mundo, uma perfeição temporária e limitada. O jogo, por esse motivo, fascina e cativa, contagiando os espectadores com seu ritmo e alegria. As regras do jogo tornam-se inabaláveis posto que se houver sua quebra há também a quebra do jogo e, conseqüentemente, a quebra da magia, do feitiço, fato que implica o retorno à vida real. Cumprindo-se as regras do jogo, descumprem-se as regras da vida cotidiana, as leis e seus costumes. Tal característica pode ser vista tanto no mundo infantil quanto nos grandes jogos rituais primitivos. Huizinga (1980) cita o exemplo da “mascarada”, um costume marcante, onde se atinge o máximo da natureza “extra-ordinária” do jogo. O indivíduo mascarado

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desempenha um papel como se fosse outra pessoa, transformando-se em outra pessoa. O ritual produz um efeito que, mais do que figurativamente mostrado, é realmente produzido na ação. A função do rito não é simplesmente imitativa, já que leva a uma verdadeira participação do indivíduo no próprio ato sagrado. Considerando relações entre festa e jogo há, entre essas duas esferas, as mais estreitas relações, pois ambas implicam uma eliminação da vida quotidiana, predominado a alegria. Ambas são limitadas no tempo e no espaço permitindo uma combinação de regras estreitas com a mais autêntica liberdade. A festa e o jogo, portanto, possuem em comum suas características principais, sendo a dança o principal exemplo. Os efeitos causados pelo jogo permanecem em cada participante do evento mesmo após o seu final. Tanto a festa, o jogo e o culto acontecem limitados no tempo e no espaço. As regras neles presentes intensificam a criação de símbolos no imaginário social, sob os quais muitos indivíduos passam a reger suas vidas. Tais características comuns pressupõem a fugacidade da vida cotidiana e real. Esses são os principais aspectos que os unem, fato que sustenta o presente trabalho.

3.2 – Émile Durkheim e os pontos elementares da religião A proposta de Durkheim (1996), ao estudar o sistema religioso das sociedades simples da Austrália, é compreender a natureza permanente e essencial da religião no convívio coletivo dos homens. Segundo ele, a religião é eminentemente social e existe porque traduz necessidades e aspectos da vida coletiva, presentes também na base de todos os demais sistemas de crenças e cultos, cabendo à ciência descobrir quais aspectos são esses e como ocorre tal tradução.

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O totem, além de símbolo representativo do sagrado, assume também uma ligação com o clã que o definiu e adotou, não obstante o seu processo se verifique de maneira arbitrária, sob um apelo às aparências sensíveis, formais ou do próprio condicionamento do grupo. Nesse sentido, o deus do clã, o princípio totêmico, é o próprio clã, porém representado pelas aparências sensíveis próprias do animal ou vegetal que serve de símbolo real ao emblema sagrado. O sagrado e a vida social são tomados ambos como um produto superior ao indivíduo - embora seja presenciado e praticado por ele para si mesmo - e dos quais acredita depender para existir. A força social, cotejada com a idéia de sagrado, exige dos indivíduos contribuições além do que fora colocado inicialmente por eles. Isso porque a sociedade é investida de autoridade moral, carregada de energia psíquica que, por representação e menos por inibição, inspira respeito e comoção. O homem, além de contribuir com a formação social – sendo, portanto, provocador da idéia de sagrado como uma força moral presente na vida em sociedade – também acolhe o sagrado como instituição social. Embora as suas objeções recaiam individualmente sob as sensações de consciências dispersas, é a comunhão dos indivíduos que sustenta o signo social que, por somar forças, é aceito por todos. A força de uma opinião, assim, produto de uma coletividade, tem sua autoridade preservada por uma força moral ou ideal que imprime no sujeito, coletivo ou individual, uma tendência a rechaçar essa contradição. É assim que, ao classificar a realidade, o homem - ciente da atuação de uma força transcendente, mas sem reconhecer sua origem social - concebe um deus, não obstante o próprio indivíduo se mostre como fomento para a representação do divino. Durkheim (1996) ressalta que, embora a sociedade atue no indivíduo por meio de forças externas, ela não pode existir senão nas consciências individuais e por meio delas, de

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modo que a força coletiva também não é inteiramente exterior ao indivíduo, mas o move de dentro. “Torna-se, parte integrante de nosso ser e, por isso mesmo, eleva-o e o faz crescer” (DURKHEIM, 1996:214). Nos momentos de comoção coletiva, essa ação reconfortante e vivificadora da sociedade se manifesta nas consciências individuais, elevando os membros de um grupo reunido acima de si mesmos, tornando-os capazes de atos inimagináveis em situações ordinárias da vida cotidiana. A comunhão do grupo permite “revigorar sentimentos que, entregues a si próprios, se estiolariam (sic), [bastando] reaproximar e pôr em contato mais íntimo e mais ativo aqueles que os experimentaram” (DURKHEIM, 1996:215). É notório que, além dos estados passageiros de reconforto e vivificação pelos quais passa um grupo ou sociedade, há períodos históricos em que a comoção do grupo ativa e incentiva as interações sociais, numa efervescência geral que se manifesta na superatividade de forças criativas ou revolucionárias. Essas forças coletivas produzem um estímulo geral às forças individuais, numa operação de auto-afirmação do eu. Todavia, ao mesmo tempo em que o indivíduo se afirma como um eu com autoridade, a sociedade o tolhe com uma representação de autoridade maior, nutrindo-o com o que o mesmo lhe oferece excessivamente: comoção. A exaltação coletiva e os sentimentos que movem o indivíduo nessas ocasiões são de tal maneira intensos que provocam atos violentos, “de heroísmo sobre-humano ou de barbárie sanguinária” (DURKHEIM, 1996:216), como aqueles que tomaram lugar na Revolução Francesa. Segundo Durkheim (1996), esses processos mentais são os mesmos que fundam a religião, o que explicaria a representação religiosa dessas forças feitas em muitas ocasiões. Entretanto, a vida social por si só - mesmo nos períodos históricos mais tranqüilos ou nos momentos corriqueiros da vida cotidiana - transmite alguma

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energia ao indivíduo, através da carga de simpatia, estima e afeição que é compartilhada pelos membros de uma mesma sociedade. Desse modo, ter-se-á mais confiança, coragem e ousadia na ação, produzindo-se “uma sustentação perpétua de nosso ser moral”. (DURKHEIM, 1996:217). Nas palavras do autor:

“Uma vez reunidos os indivíduos, sua aproximação libera uma espécie de eletricidade que os transporta rapidamente a um grau extraordinário de exaltação. Cada sentimento expresso vem repercutir, sem resistência, em todas essas consciências largamente abertas às expressões exteriores: cada uma dela ecoa as outras e reciprocamente. O impulso inicial vai assim se amplificando à medida que repercute, como uma avalanche aumenta à medida que avança.”(DURKHEIM, 1996:222)

Os atos produzidos no estado de efervescência são, portanto, expedientes da con-fusão efêmera das condições ordinárias – a festa (assim como o culto e o jogo) é extra-ordinária, extra-temporal e extra-lógica – ausentando-se ou colocando-se acima da moral comum. O indivíduo, arrebatado e dominado por essa espécie de poder exterior, não mais se reconhece, sente-se transfigurado, metamorfoseado. Tal sentimento é figurado pelo uso de máscaras. Desse modo, a eficácia da experiência coletiva faz sobressair a sensação do sagrado, confirmando, no homem, o sentimento da existência dos dois mundos e da dupla natureza do qual ele participa. Da mesma forma, o totem é a bandeira do clã, servindo para organizar, nas consciências, a idéia dessa realidade complexa. Pode-se assim compreender o motivo pelo qual sua imagem é reproduzida em diversos objetos de uso cotidiano e até no corpo dos membros de um grupo: ela remete aos sentimentos excepcionais experimentados na

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ocasião do encontro, conserva-os e renova-os. Por suscitar a todo tempo essas emoções e por ser comum a todos, o totem passa a ser elemento permanente da vida social. Assim sendo, as forças religiosas apresentam uma ambigüidade: apesar de sua autoridade ser influência moral da sociedade sobre seus membros, elas residem também no universo material, pois passam a ser concebidas sob formas materiais, como é o caso do totem. Não obstante essas duas esferas que recebem o totem serem de natureza bastante distinta, elas impregnam-se uma da outra, tornado difícil a separação entre uma e outra no objeto do sagrado. O que é sagrado, portanto objeto de culto, é menos o animal ou vegetal totêmico (símbolo) do que as sensações que se cristalizam no totem, fazendo-o cumprir um papel de convocação das propriedades sensitivas e sagradas de um povo. Para tanto, procura-se algo à imagem do povo, comum a sua existência, atribuindo a esse totem toda a sua representação de teia social. É sagrado porque é próprio daquela sociedade, assim como é superior ao indivíduo, não obstante encontrado nele e idealizado nele, porém sustentado por forças morais coletivas. Estender-se-á que o pensamento social seleciona e supervisiona coisas que escapam do estado de matéria para arriscar-se no campo ideal, atuando como força mental que regula, por representações físicas, a vida social, reproduzindo-a num emblema totêmico. Este se tornará objeto de culto pelas sensações que ele provoca e por sua confirmação coletiva, identificando-o e reconhecendo nele uma idéia de sagrado, notadamente transfigurada. Portanto, é condição para se entender a religião – por extensão, a vida coletiva - como causa de uma efervescência geral, o estado imanente de sua representação divina na própria confirmação social dos indivíduos. Assim sendo, para Durkheim (1996), o simples fato das práticas religiosas terem a função aparente de aproximar o fiel do seu deus faz com que elas ao mesmo

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tempo aproximem o indivíduo da sociedade da qual é membro. A intensidade alcançada pela vida religiosa implica, para ele, uma exaltação psíquica que beira o delírio, entendido aqui como o “estado no qual o espírito acrescenta aos dados imediatos uma intuição sensível e projeta seus sentimentos e impressões nas coisas” (DURKHEIM, 1996:236), não sendo, portanto, produção de fantasias imaginárias, mas a expressão de algo que é real no espírito humano. Desse modo, toda representação coletiva pode ser considerada, de certo modo, delirante. A força religiosa é nada mais do que o sentimento inspirado pela coletividade, mas projetado fora das consciências que o experimentam e objetivado sob a forma de um objeto que se torna sagrado. Para ele, a força religiosa é a força coletiva e atua como uma força moral. Esta se apresenta aos espíritos sob a forma do totem. Ao mesmo tempo em que é exterior aos indivíduos, a força coletiva só se realiza neles e através deles, sendo, portanto, transcendente e imanente. Sua atuação se dá nos momentos de agrupamento, quando eleva e alimenta os espíritos individuais e recria os laços sociais. Assim, os momentos de reunião são indispensáveis à própria continuidade da vida social. Outra idéia importante desenvolvida por Durkheim (1996) é a de que a vida social passa alternadamente por duas fases diferentes: uma caracterizada pela dispersão e outra pela concentração do grupo. Na fase de dispersão a vida é “uniforme, desinteressante e opaca”, mas quando a população se concentra, “tudo muda”. O simples fato da aproximação em si produz uma espécie de “eletricidade”, transportando os indivíduos a um grau máximo de exaltação, porque esses se sentem fora da rotina opaca à qual estão submetidos quando se trata da vida ordinária. A idéia de “eletricidade” remete à idéia de contágio, tornando presente uma energia de sentimentos coletivos. Daí a constatação de que muito mais que um objeto analítico, etapas e dimensão de um ritual, a festa – e o

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jogo – é um fenômeno, um mecanismo presente na vida social, uma categoria para que sejam pensadas formas de associação. Dessa forma, ao analisar o totemismo australiano como a religião mais primitiva que se tem conhecimento, Durkheim (1996) afirma ser mais fácil perceber a distinção entre os períodos de efervescência coletiva, na esfera do sagrado, em relação ao que caracteriza o profano, pela simplicidade da sociedade. Em todo o ritual é a intensidade da vivência que determina a festa e não o seu tempo de duração. Assim, pode-se considerar a violência e a transgressão como partes constitutivas da festa, ressaltando que, nesse sentido, a violência deve ser tratada como ato de paixões exaltadas, violentas porque descontroladas. Por outro lado, os gestos tendem por si mesmos a ritmarem-se, a regularizarem-se. Durkheim (1996) afirma que o próprio exercício de produção de um sentimento coletivo leva ao estabelecimento de uma forma, o que não leva por outro lado à perda da violência natural. Cada padrão vale para o momento no qual a festa se insere e cada momento é único. O símbolo/signo é a transfiguração de um sentimento coletivo. O emblema ajuda a potencializar o sentido da festa, assim como outros elementos técnicos o fazem. A idéia de delírio e a sua dimensão são constitutivas do estado de efervescência, uma vez que não há representação coletiva que não seja delirante de certa forma, segundo Durkheim, conforme já referido. Os momentos de efervescência são vistos como revolucionários, criativos e festivos. O sagrado é uma característica atribuída à coisa, podendo, dessa forma, qualquer objeto se tornar um emblema, desde que seja compartilhado pela coletividade. O elemento mais importante da festa é a comunhão. O emblema é comum, mas não tem necessariamente o mesmo significado estrito para todos.

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Toda festa é uma consagração dada a alguém ou alguma coisa. Nesse sentido, caracterizá-la como sagrada não significa dizer que ela é necessariamente religiosa no sentido institucional. No sentido durkheimiano o carnaval é uma festa sagrada. O culto positivo é propositivo porque regra e organiza as práticas rituais, estabelecendo a noção de causalidade. “O culto positivo tende naturalmente a tomar formas periódicas: é um de seus traços distintivos. (...) O que constitui essencialmente o culto é o ciclo das festas que retornam regularmente em épocas determinadas. Temos condições agora de compreender de onde vem essa tendência à periodicidade: o ritmo que a vida religiosa obedece apenas exprime o ritmo da vida social e dele resulta. A sociedade não pode reavivar o sentimento que tem de si mesma a menos que se reúna. Mas ela é incapaz de manter perpetuamente seus encontros. As exigências da vida não lhe permitem permanecer indefinidamente em estado de congregação; portanto, ela se dispersa para se reunir de novo, quando, mais uma vez, sentir necessidade. (...) Por isso, as festas, durante muito tempo, foram sazonais. (...) Esse ritmo, aliás, é, suscetível de variar de forma, segundo as sociedades. Onde o período de dispersão é longo e a dispersão extrema, o período de congregação é, por sua vez, muito prolongado. Produzem-se então, verdadeiros abusos de vida coletiva e religiosa. Festas sucedem-se a festas durante semanas ou meses, e a vida ritual atinge às vezes uma espécie de frenesi. (...) Quanto mais as sociedades se desenvolvem, menos parecem se contentar com intervalos muito longos.” (DURKHEIM, 1996: 377-378)

A idéia de causalidade implica uma relação entre causa e efeito, que corresponde a momentos distintos de uma mesma força em movimento. Mais do que

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um hábito mental, a causalidade é “uma norma exterior e superior ao curso de nossas representações, que ela domina e regula imperativamente”. (DURKHEIM, 1996:399). Nos ritos miméticos, a sociedade, movida pela noção de causalidade, busca intervir no curso da natureza de acordo com suas necessidades, e o princípio do “semelhante produz o semelhante” torna a imitação obrigatória, bem como a repetição regular do rito. Assim sendo, o rito mimético não reflete uma confusão mental dos nativos, pelo contrário, baseia-se num preceito lógico. A religião, para Durkheim (1996), apresenta a capacidade de ordenação da sociedade. No momento do culto, a organização presente na função desempenhada por cada indivíduo representa a ordem ideal da sociedade, momento no qual cada pessoa reconhece o seu papel social e sua conseqüente importância para a coesão social. A teoria de Durkheim (1996), por caracterizar os aspectos elementares da religião presentes não apenas no totemismo australiano, mas também nas sociedades modernas, por abstração teórica, permite-nos tomá-la como principal base teórica deste estudo comparativo entre religião e futebol.

3.3 – Roberto DaMatta e os rituais brasileiros Roberto DaMatta (1991 e 1981), em seus livros Carnavais, Malandros e Heróis e O que faz o brasil, Brasil?, tece considerações de suma importância para este trabalho, a partir do momento em que, no primeiro, compara os ‘carnavais’, as ‘paradas’ e as ‘procissões’, aumentando as considerações de Gilberto Freyre (1968) acerca de ‘casa’ e ‘rua’, ou seja, das esferas ‘pública’ e ‘privada’ e, no segundo, quando fala em ‘ritos de ordem’ e ‘ritos de desordem’.

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Segundo esse autor, o Carnaval, as Paradas Militares do Dia da Independência e as Procissões, principalmente as da Semana Santa, são três formas de ritualizar o mundo brasileiro. Esses três rituais nacionais “obrigam” que toda a sociedade os vejam e os sintam, principalmente quando da condição de eles implicarem feriados nacionais, mudando toda a rotina da população brasileira. Constituem manifestações que podem ser consideradas ritos enquanto produtoras da mudança da rotina da sociedade. Para ele, o Carnaval, o Dia da Pátria e a Semana Santa formam o “triângulo ritual brasileiro”. Mais tarde o leitor verá que a idéia de “triângulo ritual brasileiro” pode-se condensar na esfera única do futebol que se apresenta no Brasil. Falando sobre rito, o autor infere que:

“os ritos não parecem ser momentos substantivamente diferentes daqueles do mundo quotidiano, mas combinações desses momentos. O clima do ritual é dado não por meio de transformações essenciais do mundo e das relações sociais, mas por meio de manipulações dos elementos e relações desse mundo.” (DAMATTA, 1981:65)

Ao analisar o Carnaval não somente como um rito de desordem, mas principalmente como um ritual de inversão, ele faz um contraponto expandindo a idéia de casa e rua em Gilberto Freyre (1968). Assim é que o Carnaval, como toda festa popular, representa uma força de evasão da vida real e o ato de mascarar-se torna possível uma “mudança” de classe social, de profissão e, até, de sexo. O espaço modifica-se durante os quatro dias de festa. As pessoas saem de suas casas e vão às ruas para “brincar o carnaval”. Saem, muitas vezes sem destino certo e, onde geralmente há trânsito, correria, caos e tempo escasso, ou seja, o centro da cidade, tem-se, por quatro

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dias, folia, brincadeira e sobra de tempo. O cansaço de se andar de ônibus para ir ao trabalho é substituído pelas brincadeiras corriqueiras que se fazem durante o trajeto casa-rua no período do Carnaval. As pessoas não têm pressa de chegar ao centro da cidade para brincar e, muitas vezes, famílias inteiras fazem piqueniques em meio ao asfalto, próximo aos carros. Os foliões se mascaram, fantasiam-se neste período de “loucura total”, onde o patrão se torna empregado e o empregado se torna patrão, onde homem se torna mulher e a mulher direita se torna prostituta. Tudo, claro, de brincadeira. Depois da quarta-feira de cinzas, tudo volta ao normal, sob a regência sagrada da Quaresma, quando todos devem oferecer uma forma de sacrifício durante quarenta dias. É o período que antecede a Semana Santa e ele deve ser marcado pelo respeito e pela devoção ao Cristianismo. Passados esses quarenta dias, chega a Semana Santa, período em que se comemora a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo, ou mais simplesmente, a passagem do Filho de Deus pelo mundo. Segue-se um período de sete dias, marcado por intensas procissões. As pessoas preparam suas casas com panos brancos nas janelas para ver a passagem dos santos e as que seguem as procissões andam quilômetros em fila indiana, na maioria das vezes, sendo que o santo padroeiro é carregado na frente sobre ombros de alguns homens. Geralmente, acendem-se velas e os fiéis seguem cantando músicas religiosas. Esse período constitui um tempo em que toda a rotina social brasileira é alterada, sendo feriado prolongado. No Domingo de Páscoa, último dia de Semana Santa, que marca a comemoração da ressurreição de Jesus Cristo, há novamente uma festa, mas, desta vez, mais contida. As procissões se repetem, no Brasil, durante todo o ano e, geralmente, toda a cidade possui um santo padroeiro. No dia do santo, há novamente um feriado e várias

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missas e procissões em homenagem a ele. Esse segundo vértice do Triângulo Ritual Brasileiro é o único, portanto, que se repete durante todo o ano, possuindo seu ápice no período da Semana Santa. A Parada Militar do 7 de Setembro, Dia da Independência, é o único momento em que o povo fica literalmente parado, assistindo ao desfile das Forças Armadas do país. É um momento em que se louva o Brasil, através da exposição dos símbolos que expressam a segurança nacional, como a bandeira e os símbolos das Forças Armadas e onde se ouve o hino nacional mais freqüentemente. Essa data também constitui feriado nacional, mudando, por mais uma vez, a rotina do país. Comparando essas três manifestações culturais do povo brasileiro, pode-se ver claramente que tanto nas procissões quanto na Parada Militar é exigido do indivíduo um grande respeito por tudo àquilo que se passa a sua frente. Mas, enquanto seu corpo está ali, seu espírito pode estar em outro lugar, diferentemente do que se passa no período carnavalesco. Com as palavras do autor:

“Assim, eu posso estar ajoelhado em uma igreja, mas ter meu espírito muito longe dali, o que no caso de um ritual orgiástico é impossível, dada a solicitação em que o corpo e o espírito estão implicados. De fato,(...) num baile de carnaval não posso deixar de me envolver. A festa carnavalesca requer tudo de mim: meu corpo e minha alma, minha vontade e minha energia.”(DAMATTA, 1991:84)

A condensação do Triângulo Ritual Brasileiro na esfera do Futebol será feita no próximo capítulo.

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4 - Primeiro Tempo Observações Empíricas

“Soa o apito do árbitro! Pontapé inicial! Rola a bola no gramado!!!” O trabalho de campo consistiu na observação empírica sobre o comportamento social dos torcedores dentro de estádios de futebol brasileiros, assistindo aos jogos de seus times preferidos, além do olhar atento – mesmo que à distância – sobre os torcedores de outras nações quando da realização das Copas do Mundo de 1994, 1998 e 2002. Além disso, foram coletadas fotos da chegada da Seleção Brasileira pentacampeã na Copa de 2002, realizada na Coréia e no Japão, a fim de comprovar – através de imagens – o que se pretende analisar. No Brasil, há milhares de times e clubes de futebol registrados ou não – como já foi dito neste estudo – agregando cerca de 133 milhões de torcedores (79% da população, segundo pesquisa do IBOPE de 2003) (Anexo, GRAF. 1), cifra que caracteriza uma das maiores torcidas do mundo. De acordo com estudos feitos por Luiz Henrique de Toledo (1996 e 2000) sobre torcidas organizadas no Brasil, o futebol ganhou as arquibancadas após o surgimento do que se conhece como “estilo brasileiro de jogar futebol”. Tal estilo é oriundo do descumprimento de algumas regras do esporte, principalmente a regra nº 12, que se refere às faltas e ao comportamento antiesportivo. Enquanto as seleções européias apostavam no jogo de trancos e esbarrões, os jogadores brasileiros – ainda influenciados pelo futebol amador – faziam uso mais experimental do corpo, para se livrarem do adversário; uma forma mais técnica de manejar a bola em detrimento do choque ou do contato direto com o adversário. Somam-se a esse fato, a heterogeneidade étnica dos jogadores que vinham das camadas populares onde a capoeira e o samba se

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faziam presentes, além das adaptações táticas do time brasileiro, como a criação da “diagonal brasileira”, adotada na Copa de 1950 e o 4-2-4 apresentado pelo Brasil na Copa de 1958, na Suécia, quando se sagrou campeão pela primeira vez. Nascia, no Brasil, um ethos esportivo onde o jogador, esquivando-se do adversário, imprimia contornos de uma esquiva social e simbólica coletiva e de classe. Após a segunda conquista mundial, em 1962, o futebol brasileiro já adquirira respaldo internacional e nacional. As formas originais de jogar estimulariam formas igualmente originais de torcer, caracterizadas por uma forte cobrança pelo êxito do time, o que está diretamente ligado à competência dos jogadores, da comissão técnica e da diretoria do clube. Os torcedores brasileiros atribuíam significados próprios ao andamento do jogo, independente do que os manuais informavam com uma linguagem tecnicista e pouco acessível às camadas populares. Assim, é que, em 1969, surge a primeira torcida organizada do país, a Gaviões da Fiel, do Sport Clube Corinthians, de São Paulo. Sob a luz das teorias estudadas e, analisando esses aspectos simbólicos atribuídos pelo torcedor ao time de futebol e à seleção do país, é que se busca comparar as esferas culturais religião e futebol.

4.1 – A Condensação do Triângulo Ritual Brasileiro A Copa do Mundo de Futebol, nos dias atuais, dura exatamente um mês, sendo realizada de quatro em quatro anos. Para chegar à final, uma seleção tem que passar por seis jogos, cada um durando noventa minutos, podendo ser dotado de uma prorrogação de meia hora e, ainda de cobrança de pênaltis. É um período do ano em que a população dos países altera consideravelmente seus hábitos, criando-se, no caso do Brasil, um clima de feriado nacional nos dias de jogos da seleção brasileira. As escolas

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cancelam as aulas, os operários assistem aos jogos na própria indústria, o comércio trabalha com aparelhos de televisão ligados e a população dirige-se aos bares para assistir aos jogos e tomar cerveja – hábito bastante característico de feriado nacional e final de semana. Tais manifestações populares tornam-se nítidas a partir da Copa do Mundo de 1970, quando o Brasil foi Tri-campeão, caracterizando uma mudança no ato de torcer. Portanto, o estudo trata de fenômenos sociológicos demasiado recentes. No Brasil, é um período onde as casas são enfeitadas com bandeiras e as ruas são pintadas de verde e amarelo com bandeirolas amarradas às casas nas cores da bandeira nacional. O hino nacional é cantado com euforia e orgulho por toda a população, e a bandeira é transportada com familiaridade respeitosa e orgulho. É, antes de tudo, um momento de comemoração da soberania nacional e de união de todos os seus habitantes. No Brasil, tal fato assemelha-se às características de uma Parada Nacional, o primeiro vértice do Triângulo Ritual Brasileiro de DaMatta. (Anexo, FIG. 2) Os brasileiros – assim como muitos outros povos – saem de suas casas, independente do horário em que os jogos são realizados, dirigindo-se à rua, fantasiados com as cores do país. A população pinta o rosto de verde e amarelo, mascarando-se, e veste a camisa da Seleção. Nesse período, assim como durante o Carnaval – segundo vértice do Triângulo Ritual Brasileiro - as pessoas se fantasiam e se cumprimentam, mesmo sem se conhecerem e a classe social não possui tanta importância como durante os demais dias do ano. Na conquista de uma Copa do Mundo, os indivíduos vestem-se com as cores do país em reconhecimento pela conquista do título, fantasiando-se. Há, em certa medida, uma mistura de pobres e ricos, mas não há uma transformação como no Carnaval. (Anexo, FIG. 3)

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Em jogos vitoriosos, é comum que os motoristas saiam com os carros em fila indiana pelo centro das cidades, buzinando, na realização das chamadas carreatas. Quando da conquista de uma Copa do Mundo pela seleção nacional, o aspecto de procissão torna-se bastante evidenciado, pois os jogadores desfilam em carro aberto pelas principais ruas das principais cidades do país com a taça sendo carregada em destaque. A população concentra-se nas calçadas por onde os campeões passarão. Não raro, após a passagem do carro, muitos indivíduos começam a correr atrás do mesmo no claro sentido de acompanhar e seguir o objeto cultuado – a taça e os “heróis do título”, como muitas vezes são considerados. No Brasil, esse fenômeno lembra, em grande escala, as procissões sagradas que ocorrem principalmente durante a Semana Santa – o terceiro vértice do Triângulo Ritual Brasileiro, de Roberto DaMatta. (Anexo, FIG. 4) É neste momento que ocorre a união das três modalidades ritualísticas brasileiras: (1) o Carnaval, quando as pessoas se fantasiam e comemoram a vitória misturando-se entre si; (2) as procissões da Semana Santa, quando as pessoas seguem os símbolos da conquista e quando os próprios jogadores realizam a volta olímpica no estádio segurando, em lugar de destaque, a taça almejada e conquistada. Em ambos momentos, cria-se uma veneração em torno de determinados símbolos. Assim, no dia do santo padroeiro, sua imagem é cultuada pelos fiéis presentes em uma procissão e por aqueles que ficam nas sacadas observando simplesmente sua passagem. Da mesma forma, ao término do jogo da conquista de um título, a taça de campeão é contemplada e adorada por todos os torcedores e jogadores do time campeão em torno do campo de futebol. Em ambas, é notória a exaltação dos fiéis e dos torcedores aflorando seus sentimentos mais reprimidos e; (3) as Paradas Militares, quando as pessoas estendem a bandeira, cantam o hino e mostram-se orgulhosas de seu país.

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Todos esses três episódios do habitus brasileiro constituem feriados nacionais. Um fato importante a ser observado é que o Presidente da República geralmente declara ponto facultativo para funcionários públicos, quando não feriado nacional, para que todos possam ir prestigiar os heróis da conquista do título mundial. O Triângulo Ritual Brasileiro, de Roberto DaMatta (1991), portanto, condensa-se na representação do futebol, esfera englobadora dos três vértices da figura geométrica. Desta maneira, o futebol pode ser considerado como o maior ritual da sociedade brasileira. Isso nos permite conjecturar que o futebol apresenta aspectos elementares da religião. Esquematicamente: Parada de 7 de Setembro

Carnaval

Semana Santa

FUTEBOL

Características Elementares da Religião

4.2 – Características elementares da religião presentes no futebol Segundo Durkheim (1996), as religiões primitivas – o totemismo australiano mais precisamente – são estranhas a toda idéia de divindade. Ou seja, não é necessário associar um deus a uma religião. É possível, portanto, haver religiões sem deuses. A forma como o brasileiro torce pelo seu time preferido e pela seleção brasileira principalmente - mais conhecida como Seleção Canarinho, por ser o uniforme constituído por camisas amarelas, números verdes, calções azuis e meias brancas - leva-

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nos a acreditar que há, nesse esporte, características religiosas, principalmente quando das formas de manifestação dos torcedores inseridos em um clima de alta coesão social como são os estádios de futebol. Muitos dos estádios esportivos, principalmente os maiores e mais conhecidos, apresentam forma circular ou elíptica. (Anexo, FIG. 5) Isso demonstra que os campos de futebol, as quadras de vôlei, basquete, tênis e os ginásios onde se realizam competições de natação, ginástica olímpica, lutas em geral, tênis de mesa dentre outros esportes, localizam-se no centro desse espaço e inferior às arquibancadas, espaço reservado ao público, espectadores do espetáculo. Os estádios são construções que lembram bastante as arenas, locais onde, na Antigüidade, realizavam-se vários tipos de manifestações culturais. Na Grécia aconteciam os teatros, os dramas e as comédias, além dos jogos esportivos como as lutas. Na Espanha, aconteciam as touradas e, na Roma Antiga, aconteciam os duelos de gladiadores. Nas sociedades modernas, as arenas passaram a abrigar os jogos esportivos. As arenas chamam a atenção pelo fato de a platéia se localizar acima de quem executa o espetáculo, o que demanda uma certa superioridade do público sobre o privado, aqui representado pelos atores da peça – peça aqui entendida como jogo, como luta ou como teatro simplesmente. O que há em comum entre todos os tipos de arenas acima descritas - e é este fato que denota maior importância para o estudo – é o comportamento de quem assiste ao espetáculo. Nos casos apresentados, nota-se, claramente, a forte coesão entre os indivíduos que ali estão mesmo considerando que, no futebol e nos demais jogos esportivos, os espectadores encontram-se divididos, enquanto formam uma massa compacta nas touradas e nos teatros. Cria-se uma união de pensamentos em torno

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daquilo que é mostrado e executado. Aplausos nos teatros, gritos de “olé” nas touradas, gritos de “gol” no jogo de futebol e verdadeiros urros nas lutas, podem evidenciar tal semelhança. Inclusive, no futebol o grito de “olé” também é bastante comum e acontece quando os jogadores executam dribles sobre os jogadores adversários, o que causa verdadeiro êxtase nos torcedores. Esses espetáculos acontecem dentro de um período de tempo previamente estipulado, sendo que a platéia se manifesta durante boa parte do mesmo. Os templos religiosos tradicionais destacam-se, ao contrário, por uma disposição diferente das “arenas-estádios” das modernas civilizações. Neles, os sacerdotes geralmente assumem uma postura superior ao público, situando-se em verdadeiros altares juntamente com as entidades que estão sendo, naquele momento, cultuadas. Há um tempo definido, que é usado quase que exclusivamente pelos executores do evento. O que chama a atenção, quando se observa o comportamento dos fiéis e dos torcedores, é a mesma conformidade de pensamentos durante o período de tempo em que ocorrem as respectivas atividades religiosas e lúdicas. Não se pode deixar de ressaltar, entretanto, que o tempo sagrado é místico, possuindo característica motivacional, tornando-se simbólico, enquanto o tempo do jogo é uma convenção simples de regras, possuindo, ao contrário, característica imotivada. Tanto o estádio esportivo – portanto, o estádio de futebol – quanto os templos religiosos constituem um reduto que acolhe as aflições dos indivíduos que a eles freqüentam. Tanto no estádio quanto nos templos religiosos, é reservado para os torcedores/fiéis um local que lhes propicia uma visão ampla e geral do objeto a ser cultuado. Tanto um como o outro, criam uma atmosfera em torno da qual surge uma sensação de fugacidade da vida real.

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O aspecto organizacional das torcidas e dos atores do espetáculo pode ser considerado semelhante à mesma organização presente nos cultos religiosos – estes vistos segundo a ótica de Durkheim (1996) e Huizinga (1980). O torcedor, bem como os jogadores, a comissão técnica do time, o árbitro, os gandulas e os bandeirinhas - ou seja, todos aquele que fazem o espetáculo - possuem consciência de seus respectivos papéis no que tange às horas precedentes ao jogo e ao momento em que decorre a partida. Assim, não é permitida a entrada em campo de jogo enquanto ele acontece. Quando há uma invasão de campo, o jogo deve ser interrompido pelo árbitro, sendo o invasor punido, posto que tal atitude constitui crime de acordo com os preceitos de jogo. A punição, de acordo com Durkheim (1968), existe na sociedade não para o criminoso, mas para manter a ordem e a coesão entre os indivíduos da sociedade que assistem à punição. Ela é um elemento reforçador da coesão social. Não somente no período da Copa do Mundo, mas durante campeonatos nacionais, como o Campeonato Brasileiro de Futebol, pode-se notar o que Durkheim (1996) chama de ritos miméticos. (Anexo, FIG. 6) Principalmente dentro de estádios, o que se vê são coreografias feitas pelos indivíduos que têm como objetivo principal a igualdade de movimentos rítmicos cujo intuito é cativar e incentivar os jogadores, além de inibir e provocar a torcida adversária. Os hinos – que podem ser de incentivo, de protesto, de intimidação e de auto-afirmação, segundo Toledo (1996) – cantados com palmas batidas e as mãos erguidas para o alto também representam a mimese presente em rituais religiosos. A ola – somente possível com a participação de todos aqueles que estão no estádio, pois consiste em um movimento circular de “senta-levanta” – pode ser um bom exemplo de mimese dentro dos estádios de futebol.

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No Brasil, geralmente, os times são conhecidos e reconhecidos por símbolos, que expressam força, virilidade ou resposta a alguma provocação da torcida adversária. Todos, porém, compreendem símbolos do mundo imaginário, algo inventado que representa superioridade em relação aos demais clubes. Na maioria das vezes, tais símbolos são animais. Assim, o Flamengo é conhecido como “Urubu da Gávea” e o Vasco como “Bacalhau”. O Atlético Mineiro como “Galo”, o Cruzeiro como “Raposa” e o América como “Coelho”. O Corinthians é conhecido como “Gavião”, o Palmeiras como “Porco” e o Santos, como “Peixe”. (Anexo, FIG. 7) Esses são só alguns exemplos. Esse tipo de simbologia utilizada pelos clubes e reconhecida pelos torcedores como forma de identificação social remetem à idéia de totem, desenvolvida por Durkheim (1996) quando analisa o totemismo australiano, inclusive pelo fato de tais símbolos tornarem-se, muitas vezes, artigos de decoração nas casas dos torcedores, souvenir ou, até mesmo, tatuagens nos corpos de seus torcedores. A camisa do clube ou a camisa da torcida representam uma verdadeira identidade para o torcedor, não raro sendo chamada de “segunda pele”. Durkheim (1996) também fala do estado de efervescência em que um indivíduo se encontra quando inserido em uma multidão, o que acontece tanto durante um culto religioso quanto durante um jogo esportivo. Através do que ele chama de estados de dispersão e de concentração, estando o primeiro representando o indivíduo sozinho na sociedade, ou seja, inserido em seu cotidiano, e o segundo representando o indivíduo inserido em uma concentração de pessoas, remete-nos à idéia de que a festa pode ser tanto sagrada como profana e, assim como o carnaval pode ser considerado uma festa, o futebol também o poderia, já que possui os mesmos aspectos, inclusive o de alta excitação e paixão, que são fatores originários das brigas e confusões.

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Huizinga (1980), seguindo a lógica deste estudo, caracteriza a festa e o jogo como possuidores de uma qualidade extra-ordinária, tal como Durkheim (1996) também os classifica. Neste aspecto, então, pode-se dizer que o futebol, antes de ser um jogo, é também uma grande festa, no sentido de apresentar a característica de fugir da realidade cotidiana na qual o indivíduo encontra-se inserido. Tanto o futebol quanto a religião não teriam sentido sem a participação dos torcedores e dos fiéis respectivamente. Ambos representam a base de ambas instituições culturais. O jogo e o culto podem ser considerados manifestações empíricas do esporte e da religião, respectivamente, canalizando os diversos pensamentos e os sentimentos acerca deles. Ambos são, como já foi dito acima, delimitados por um espaço e por um tempo definidos. Ambos têm o objetivo de agregar e buscar cada vez mais adeptos. Tanto o juiz como o sacerdote são responsáveis pela manutenção da ordem dentro do tempo em que o evento acontece, ou seja, cabe a eles fazer cumprir as regras inerentes às manifestações respectivas. Há, entretanto, uma relevante diferença entre os comportamentos dos fiéis e dos torcedores. Enquanto o fiel respeita e reverencia o sacerdote acatando suas ordens e enaltecendo seus atributos, o torcedor concentra sua ira e sua cólera no juiz responsabilizando-o, muitas vezes, pela possível derrota de seu time. Os hinos futebolísticos e os cânticos religiosos são manifestações cujo propósito é homenagear e venerar o clube e o totem cultuado, respectivamente. Ambos compreendem a vazão das emoções sentidas pelos que os cantam. O principal momento de um ritual é aquele em que o fiel se aproxima do objeto cultuado, sentindo-se mais forte, seguro e mais crente em sua fé. O principal momento de um jogo de futebol é o gol. Em ambos, portanto, pode-se observar,

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nitidamente, a total integração dos espectadores e uma pseudo-materialização da sociedade ideal. Nesse momento, todos os torcedores do time que fez o gol estão num estado de êxtase profundo, compartilhando das mesmas emoções, assim como os religiosos. O gol, no futebol, representa a distinção entre o nível individual e o nível coletivo, posto ser considerado como um dos objetivos dos jogadores e da equipe como um todo. O jogador em si é motivado a buscar o gol, pois sabe que, se o fizer, receberá reconhecimento tanto por parte de sua equipe quanto por parte dos torcedores e, hoje em dia, por parte da imprensa e da indústria esportiva do futebol. Os demais jogadores buscam, ao mesmo tempo, contribuir para a marcação do gol, possibilitando a vitória de sua equipe, passando a ser valorizados junto com ela. O gol representa o estado pleno de prazer no jogo de futebol. Nesse sentido, ele cumpre o fim primeiro do esporte, que é o prazer. A fugacidade da vida real presente tanto no espectador de um jogo, esportivo ou não, quanto no fiel, é alimentada pelo equilíbrio de tensão controlada entre, no mínimo, duas forças dicotômicas: o bem e o mal, o sagrado e o profano, o certo e o errado na religião e; o fraco e o forte, o perdedor e o ganhador, o antigo e o novo, o melhor e o pior, o rival e o não-rival, no esporte como um todo e no futebol de forma mais evidente. Um jogo de futebol, especificamente, dá-se entre a rigidez e a elasticidade das atitudes dos jogadores em campo. Um jogador possui uma posição fixa – centro-avante, zagueiro, meio-de-campo, lateral e goleiro. Entretanto, se todos ficarem fixos em suas posições não há jogo. Nesse sentido, é necessário que o jogador seja livre para criar jogadas novas e bonitas e, ao mesmo tempo, preso na função específica que possui. Para controlar esse equilíbrio – entre tensão e elasticidade - surgiram as regras, através das quais se tem o controle entre a tensão e a cooperação entre as equipes e entre

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os jogadores de uma mesma equipe. Quando um desses elementos falta ao jogo, este se mostra cansativo e entediante, geralmente terminando empatado e/ou sem gols – no caso do futebol. Como ficou provado, após a comparação feita nessa seção, há muitas características religiosas presentes no futebol e também em muitos esportes da modernidade, principalmente, as mais elementares e gerais mostradas por Durkheim (1996). E termina o primeiro tempo!!!

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5 - Segundo Tempo A Entrevista

Recomeça a Partida!!! Realizou-se somente uma entrevista em profundidade com um membro associado à torcida organizada do Clube Atlético Mineiro, a Galoucura. Segue a transcrição da entrevista em si, com algumas interpretações, que se encontram em grifo.

Este torcedor atleticano era um negro, de estatura mediana, franzino, no auge de uns 25 anos de idade e trajava calça do Atlético, camisa de goleiro do Atlético e tênis preto. O torcedor usa vestimentas específicas ao jogo; fato que é percebido também quando de um culto religioso. Nas religiões primitivas, os indivíduos se pintam e se vestem de acordo com o totem, segundo Durkheim. Segundo ele, todos os jogos do “Galo” – nome pelo qual o Clube Atlético Mineiro é mais conhecido em Minas Gerais – a que ele ia (e eram quase todos), ele usava aquelas roupas. A simbologia utilizada para se remeter ao time é a imagem de um animal que expressa coragem e virilidade como o galo de rinha. Segundo ele, elas traziam sorte para o time e ele sempre vencia. Além disso, a camisa, por ser alaranjada, chamava mais a atenção da imprensa que sempre cobria os jogos e, desta forma, sua filhinha de dois anos poderia identificá-lo rapidamente no meio da multidão da Galoucura, principal torcida do Atlético. Ele esperava que, com isto, ela se orgulhasse dele e dissesse: “Olha, aquele é o meu pai!” Ele me disse também que, depois do nascimento de sua filha, ele havia diminuído a freqüência com que ia aos jogos do “Galo”, afinal “sempre rolava (sic) umas briguinhas, né?” e ele tinha que se preocupar com uma outra pessoa na vida dele. Bem, falou-me

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ainda que os verdadeiros atleticanos se filiam à Galoucura e que esta torcida era a mais bonita e mais fiel de Minas. Segundo ele, “atleticano é bicho sem vergonha na cara; o time perde de goleada e, no dia seguinte, se tiver um jogo, a torcida vai em peso pro estádio. Cruzeirense, não. É tudo boiola!” O torcedor se identifica com a negação da identidade do outro: ele é atleticano porque não é cruzeirense, nem gostaria de sê-lo. A rivalidade entre os dois times, e o conseqüente desprezo pelo adversário, remete-nos à idéia de diferença e rivalidade entre clãs que são, muitas vezes, definidos, nas religiões primitivas, de acordo com o totem cultuado. Esse descontraído e feliz informante contou-me como eram os preparativos de uma torcida no dia em que havia um grande jogo. Os integrantes, somente os melhores e mais fiéis, iam antes ao estádio para levar as bandeiras, para colocar as faixas, e para levar os instrumentos musicais como bumbo e tarol. Dentro desses tambores, eles colocavam os fogos de artifício, que são estritamente proibidos, para que, no momento da entrada do time em campo, a torcida pudesse demonstrar todo seu apoio e amor aos jogadores. Nas palavras dele, “em troca deste incentivo, nós esperamos, no mínimo, uma boa apresentação, um bom jogo”. A preparação do ritual, a expectativa e a ansiedade do torcedor mostram-se presentes. O uso de tambores e de músicas no incentivo ao time pode ser comparado ao uso de tambores e músicas quando de um ritual religioso. O acreditar no time, incentivando-o sempre para que, com isso, ele sagre-se vencedor remete-nos à idéia clara de fé e de troca intermitente na relação entre fiel e objeto cultuado. O atleticano me disse que não tinha nada melhor no mundo que uma vitória do seu time depois de um jogo sofrido com o maior rival. Para ele, “uma das melhores coisas da vida é ir no (sic.) Mineirão, só pra ver a torcida, sentir o chão tremer e esquecer de tudo o que tem lá fora, no mundo de verdade. Quando eu tô no meio da Galoucura eu esqueço do meu

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patrão, da falta de dinheiro e de tudo que tem de ruim no mundo. Só consigo pensar no time e na minha família me vendo pela TV.” Essa fala prova que há, no futebol, a fugacidade da vida real, onde o indivíduo se vê inserido num mundo ideal, de prazer e ordem, que não existe em seu cotidiano. Logo em seguida, ele deu uma olhada para o lado e falou que o que estragava um dia feliz era ter que entrar numa briga para defender o Atlético, mas que ele entrava sempre. E me mostrou o dente incisivo direito quebrado por um cruzeirense, afirmando que poderia morrer pelo Atlético, mas que não levava desaforo para casa. O forte elemento de coesão social entre o grupo e de fortalecimento da fugacidade do cotidiano leva e justifica o ato violento muitas vezes presente tanto entre rivais de jogo quanto entre indivíduos pertencentes a totens diferentes. A afirmação de que há um forte pertencimento àquele totem ou àquele time se faz presente nesse momento. Ao perguntar sobre as músicas que a torcida do Atlético cantava durante os jogos, ele cantou alguns trechos de várias jingles atleticanos e me falou que não havia nada mais emocionante do que ouvir o Mineirão inteiro cantar o hino do Galo, principalmente se os torcedores batiam palmas para cima, num movimento ritmado. Falou-me que a coisa mais linda do mundo e que o deixava arrepiado só de falar – e mostrou-me o braço arrepiado – era ver o Mineirão todo virar uma “onda humana” quando fazia uma ola. “A ola é a única coisa que cruzeirense sabe fazer direito. Também pudera, foi a gente que ensinou!”. A mimese pode ser percebida neste ponto, assim como os ritos miméticos de que fala Durkheim. A comparação, aqui, torna-se explicitamente concreta. Disse-me, ainda, que graças ao Galo ele havia conhecido quase o Brasil inteiro, pois acompanhava o time aonde o time ia, mas que atualmente, não estava viajando tanto. Falou-me de sua profissão – trocador de ônibus – e que o patrão dele sempre o liberava nos dias de jogo do Galo, pois sabia que se não o

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liberasse, ele poderia “morrer de paixão”.

Quando me preparava para encerrar a

entrevista, ele me falou, sem que eu nada tivesse perguntado, as seguintes palavras: “Um dia, quando eu era mais novo, minha mãe me xingou porque eu estava deixando de ir à missa com ela para ir ver o Galo jogar. Xingou, xingou até. Disse que isso era coisa de vagabundo e tudo o mais. Que era para eu cuidar da minha vida e coisa e tal. Aí eu respondi para ela que a minha igreja tinha se tornado o Mineirão e que sentia Deus bem de perto quando via o Galo jogar. Desde esse dia ela parou de me encher o saco. O mais engraçado é que os meninos da minha época que iam à missa comigo, são hoje os mais vagabundo (sic.) do bairro e eu sou um dos poucos que trabalham. Eu sou assim por causa do Galo.” A repressão familiar quanto ao fato de ele não reconhecer o catolicismo como religião e o fato de ele afirmar ser o Galo sua religião e o estádio, sua igreja – seu templo – surpreendeu-me bastante e fez com que eu acreditasse ainda mais na veracidade da comparação entre religião e futebol. Quando encerrei a entrevista, ele me perguntou para qual time eu torcia e, depois de ele ter-me fornecido informações demasiadamente preciosas, não vi motivos para não lhe dizer que eu era vascaína. Começou a me contar tudo o que havia acontecido em muitos jogos entre Atlético e Vasco, não só em campo, mas também nas arquibancadas tanto de São Januário quanto do Mineirão. Ao despedirmo-nos, ele fez a observação de que esses dois times eram os melhores do país, pois contavam com duas das melhores torcidas do mundo. Fui para casa feliz! Ele havia respondido a muitas indagações de minha parte!

Através dessa entrevista observei que o motivo de sua ida ao estádio de futebol era torcer pelo time e ver a torcida. Isso me levou a pensar que dentro de um estádio há, realmente, um mesmo pensamento e uma mesma motivação. Percebi

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também que não simplesmente o jogo em si, mas o espetáculo como um todo, produziam nele um certo sentimento de fugacidade da vida real e do cotidiano. Reconheço que ela não tenha sido suficiente para uma comprovação empírica do fato, mas sei que ela atendeu aos meus objetivos exploratórios quando do empreendimento de uma possível abstração teórica a respeito do tema a que me propus pesquisar. Final de Jogo!!!

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6 – Comemoração

Conclusão

O caráter lúdico intrínseco ao homem imprime-o a criar brincadeiras e jogos dotados de regras. Essa característica faz com que ele busque associar-se a outros indivíduos na forma de competições esportivas, que possuem caráter festivo e de ordenação social. Desta forma, surgiu o futebol que, como vimos ao longo deste trabalho, passou por várias transformações desde sua criação, na Antiguidade, até os dias atuais. Entretanto, conservou a essência festiva, de coesão e ordenação sociais. O futebol, observado sob o ângulo do jogar e do torcer, engloba os três maiores rituais brasileiros – o Dia da Pátria, o Carnaval e a Semana Santa. Ao condensa-los, torna-se o grande ritual presente na sociedade brasileira, mobilizando-a, alterando sua ordem natural e causando maior coesão social entre seus indivíduos. Pensando o futebol não somente como o esporte mais popular do Brasil e do Mundo, mas principalmente como esse grande ritual, infere-se que ele é dotado das características elementares da religião, de acordo com o que foi exposto neste trabalho. Isso permite inferir, portanto, que a religião, na modernidade brasileira, encontra-se presente no esporte futebol.

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7 - Referências Bibliográficas 1.CARDOSO, Alexandre A. O Clube de Xadrez de Belo Horizonte: Ensaios de Compreensão Sociológica. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, 1987. (Dissertação, Mestrado em Ciência Política) 2. _________. O Ping-Tênis: Cotidiano e Estruturas. (Mimeogr.) 3. DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis... Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. 4. _________. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1991.

5. DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 6. _________. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968. 7. ELIAS, Norbert, DUNNING, Eric. Deporte y Ocio en el Proceso de la Civilizacion. Madrid: Fondo de Cultura Económica, 1992. 8. FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos.. Vol.1, capítulo 2 – “O Engenho e a Praça; a casa e a rua”. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1968. 9. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1980.

10. SANTOS NETO, José Moraes dos. Visão de Jogo: Primórdios do Futebol no Brasil. São Paulo: Cosac e Naif, 2002. 11. SANTOS, Joel Rufino dos. História Política do Futebol Brasileiro. Brasília: Ed. Brasiliense, 1981.

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12. TOLEDO, Luiz Henrique de. Torcidas Organizadas de Futebol. Campinas: Autores Associados – ANPOCS, 1996. 13. _________. No País do Futebol. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. (Descobrindo o Brasil). 14. UNZELTE, Celso. O Livro de Ouro do Futebol. São Paulo: Ediouro, 2003.

Vídeos 15. ISTOÉ BRASIL. Coleção História das Copas. São Paulo: Ed. Abril, 1998. Sites 16. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL – CBF. www.cbf.gov.br 17. FOLHA DE SÃO PAULO. www.folhaonline.com.br 18. INSTITUTO BRASILEIRO DE PESQUISA DE OPINIÃO ESTATÍSTICA – IBOPE. www.ibope.com.br 18. BRASIL. Ministério dos Esportes. www.esporte.gov.br 19. PORTINARI, Cândido. www.portinari.org.br 20. REVISTA PLACAR. www.placar.com.br 21. REVISTA TRIP. www.trip.com.br 22. UNIVERSO ON LINE/ ESPORTE. www.uol.com.br/esporte

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8 – Anexo Figura 1 – Sport Club Rio Grande, time de futebol mais antigo em atividade do Brasil

Fonte: www.trip.com.br

Figura 2 – Torcedores à espera da Seleção Brasileira Pentacampeã, em Brasília.

Fonte: www.folhaonline.com.br, Edição Especial. Agosto 2002.

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Figura 3 – Torcedores comemorando vitória da Seleção Brasileira durante a Copa de 2002, realizada no Japão e Coréia.

Fonte: www.folhaonline.com.br, Edição Especial. Agosto 2002.

Figura 4 – Jogadores realizando a Volta Olímpica, após a conquista do Pentacampeonato de futebol (à esquerda) e Chegada da Seleção Brasileira em Brasília, após a mesma conquista (à direita).

Fonte: www.folhaonline.com.br, Edição Especial. Agosto 2002

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Figura 5 – Estádio Maracanã na cidade do Rio de Janeiro, Brasil – o maior estádio de futebol do Mundo

Fonte: www.esporte.gov.br (Ministério dos Esportes do Governo do Brasil)

Figura 6 – Torcida do Cruzeiro, de Minas Gerais, erguendo estrelas que simbolizavam o primeiro título de Campeonato Brasileiro do Clube – um exemplo típico de ritos miméticos, nos estádios de futebol.

Fonte: www.uol.com.br/esporte. Dezembro de 2003.

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Figura 7 – Símbolos de Alguns Clubes de Futebol do Brasil

Figura 7.1 – Símbolo do Flamengo

Figura 7.2 – Símbolo do Santos

Figura 7.3 – Símbolo do Atlético Mineiro

Figura 7.4 – Símbolo do Cruzeiro

Figura 7.5 – Símbolo do Vitória

Figura 7.6 – Símbolo do Palmeiras

Fonte: www.placar.com.br

62

Gráfico 1 – Distribuição Percentual dos Torcedores Brasileiros de Futebol, segundo Times Preferidos em 2003

Corinthians 14%

outros 25%

Flamengo 13%

Não sabe/não opinou 0%

Não torce 21%

Atlético-MG Cruzeiro 3% 4%

Vasco 5%

São Paulo 8% Palmeiras 7%

Fonte: IBOPE/ 2003

Gráfico 2 – Distribuição Percentual dos Torcedores Mineiros de Futebol, segundo Times Preferidos em 2003

Não sabe/não opinou 1% Não torce 35%

Outros 22% Fonte: IBOPE/2003

Cruzeiro 26%

America 0%

Atlético 16%

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