Futurismo, Dadaísmo e Modernismo como influência do movimento punk

June 30, 2017 | Autor: D. Santoro Junior | Categoria: Cultural Studies, Visual Culture, Graphic Design, Futurism, Modernism, Dadaism, Movimento Punk, Dadaism, Movimento Punk
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Futurismo, Dadaísmo e Modernismo como influência do movimento punk1 David Santoro Junior2 Universidade Municipal de São Caetano do Sul Resumo O dadaísmo influenciou ideologicamente o movimento e o design gráfico punk, as semelhanças são perceptíveis na diagramação e na apropriação de imagens de ícones da sociedade para compor suas mensagens contestadoras. O dadaísmo recriou a arte e propôs uma nova visão para a estética artística e também para divulgação de seus trabalhos, o punk apresentou novas possibilidades na produção do design gráfico, quebrou o paradigma que estabelecia um padrão estético de boa forma para o setor e utilizou os fanzines, pósteres e capas de discos para divulgar sua mensagem. Palavras -chave Dadaísmo, modernismo, futurismo, design gráfico, movimento punk, contra-cultura. Introdução Este artigo possui o objetivo de identificar as influências ideológicas e visuais do dadaísmo no design gráfico punk, e como estes movimentos apropriaram-se de imagens para aplicá-las em um novo contexto e assim produzir mensagens criticas sobre a sociedade e seus ideais políticos. Esta pesquisa aponta as origens do futurismo, dadaísmo e do modernismo brasileiro, quais foram os meios utilizados para divulgação deste novo ponto de vista cultural e quais são as semelhanças com o movimento punk na produção e divulgação de mensagens. A memória e momento histórico do futurismo e

                                                                                                                        1   Trabalho   apresentado   no   GT   6,   Simpósio   Internacional   Comunicação   e   Cultura:   Aproximações   com   Memória  e  História  Oral,  realizado  na  Universidade  Municipal  de  São  Caetano  do  Sul,  São  Caetano  do  Sul  –  São   Paulo,  de  27  a  30  de  abril  de  2015.     2

Mestrando em comunicação no Programa de Pós Graduação da universidade Municipal de São Caetano do sul. Área de concentração: Comunicação e Inovação. Linha de pesquisa: Linguagens na Comunicação: mídias e inovação. Orientador: Professora Doutora Regina Rossetti.

 

do movimento punk foram contextualizados para explicar como os fatores externos influenciaram as suas manifestações artísticas e como estas expressões registram a memória de um grupo que não aceitava o comportamento social imposto pela sociedade. Também é constatado o fato de como uma cultura periférica, como o punk, desenvolve-se ao ponto de influenciar a cultura dominante. Futurismo, Dadaísmo e Modernismo como influência do movimento punk Oficialmente o movimento punk começou em meados dos anos 70, e o álbum dos Sex Pistols Never Mind the Bollocks. Here the Sex Pistols, lançado em 1977 foi o marco desta cultura, porém se analisarmos melhor, podemos encontrar semelhanças do punk com outros movimentos artísticos do início do século XX. O Futurismo surgiu em 1909, quando o artista Filipo Marinetti publicou no Jornal Francês Le Figaro, o manifesto futurista, que rejeitava o moralismo e propunha uma nova beleza baseada na velocidade e violência. A diferença entre arte e design é abandonada e a propaganda foi adotada como veículo para exposição das novas ideias, devido a sua objetividade. Influenciados por filósofos como Hegel, este movimento artístico, era extremista em relação aos valores e os costumes da época, a ideia de destruir museus para apagar o passado e construir o novo era defendida, a violência ficava por conta do ponto de vista que justificava as guerras como uma higienização da sociedade e evolução dos valores sociais. A revista Berliense Der Dada definiu o dadaísmo como um seguro contra incêndio, uma arte e não ser nada e ser tudo, as respostas contraditórias apresentavam a sua principal característica, no qual tudo poderia ser arte, era uma questão de formatação do significado desejado. O movimento não era uma manifestação artística, literária, filosófica ou política, era tudo e contra tudo, era a anti-arte, um movimento que destruía os conceitos estabelecidos e buscava uma nova razão para representar os sentimentos humanos. ELGER (2011). A cidade de Zurique na Suíça tornou-se um refugio para artistas europeus após a 1º Guerra Mundial, o ponto de encontro era o café Cabaret Voltaire um ambiente acolhedor aos exilados. Estes artistas questionaram a arte antes da guerra, e nasceu um conceito que destruía o sistema de códigos e reconstruiu a arte com novas técnicas.

 

A ideologia era a arte como expressão, romper com a história e valores estabelecidos, a ordem e a perfeição foram substituídos pela imperfeição e o caos. A novidade foi difundida com a revista Dada, e com ela as ideias tornaram-se conhecidas em Nova Iorque, Berlim e Paris, a linguagem poética do dadaísmo anula os significados e enfatiza a sonoridade, a ideia é que as palavras simulassem um grito de revolta. ELGER (2011). Mario de Andrade escreveu o poema “Ode ao burguês” no qual ele alertava que para lê-lo, era preciso sabe urrar. ALAMBERT (1994), O movimento punk possui semelhanças conceituais com o futurismo, dadaísmo e o modernismo, que são: o rompimento com os valores do passado para criação do novo e a adoção do caos e o imperfeito como linguagem. O punk contrariou todas as formas de manifestações artísticas nos anos 70 e propôs uma nova linguagem, o modernismo brasileiro rompeu com os valores tradicionais para implantar novos, nos cenários artístico, político e social, segundo Alambert, o movimento representou o início de uma nova convicção com a sociedade industrial que contrastava e emergia no final da fase agrária. Os intelectuais e artistas dos anos 20 tentaram eliminar definitivamente da cultura brasileira qualquer vestígio da influência lusitana e colonizadora que porventura houvesse escapado à escola romântica do século XIX, que se havia proposto criar conscientemente uma literatura eminentemente nacional. (Alambert. 1994. P.8)

A Europa estava no período entre-guerras e atravessava uma grave crise econômica, social e moral, os liberais sentiam-se derrotados devido a revolução Russa e das barbáries da 1º Guerra Mundial, era um momento de reflexão e questionamentos sobre os valores nacionalistas, políticos, culturais e artísticos. A esquerda manteve-se com seus ideais sociais que procuravam favorecer a maioria, os liberais de centro encaminharam para o fascismo, que combatia o imperialismo imposto pelos países vencedores (EUA, França, Inglaterra e Itália), aos países pobres. Em 1912, Oswald de Andrade, jovem intelectual representante da burguesia agrária paulista, volta da Europa influenciado pelo futurismo italiano que objetivava uma nova arte e uma sociedade tecnológica. O desejo de colocar o Brasil em posição de destaque influenciava a cultura de uma sociedade independente economicamente, que

 

remodelou e deu personalidade à arte nacional, que chocava a cultura tradicional a divulgação desta ideias foram por meio de revistas como: O Pirralho. Diferentemente das cidades brasileiras, São Paulo possuía paradoxos, a cidade era hospitaleira com os imigrantes italianos e sírios, discriminava os caboclos, mulatos e ex-escravos, e assim, ignorava a sua tradição. Haviam os elementos patriarcais e conservadores de origem agrária, com participação ativa nas decisões da cidade, a intelectualidade se opunha a tradição, representava os interesses industriais e copiava os padrões culturais franceses e ingleses. Contrapondo a euforia burguesa, a classe operária influenciada pelo anarquismo, organizavam greves pelo estado, no período de 1915 a 1929 houveram 107 paralisações. Intelectuais paulistas dividiram-se em dois grupos, os de esquerda, e os de direita e nacionalistas alinhados com o fascismo europeu, a divisão refletiu sobre os novos caminhos políticos para a sociedade brasileira, o resultado foi um paradigma que foi referência para as manifestações culturais e políticas para o Brasil. ALAMBERT (1994). Influência do Dadaísmo no design gráfico punk A criação dadaísta partia da destruição para a construção do novo, a linguagem refletia as incertezas que precediam um grande conflito mundial, o resultado era uma linguagem anarquista e caótica, sua expressividade representava uma alternativa aos padrões estabelecidos pela poesia, artes-visuais e política. O conceito das belas artes foi desprezado, os princípios de simetria, harmonia foram ignorados e o primor técnico foi substituído pela apropriações de imagens, títulos e textos recortados de revistas e jornais, que através da colagem eram combinados com imagens para a criação de um novo significado. A tridimensionalidade característica da arte concreta, era abstrata, elementos industrializados diversos eram combinados e compunham um significado artístico, Marcel Duchamp defendia o princípio pronto para a arte, que significava que qualquer objeto poderia ser transformado em arte com uma apresentação adequada. ELGER (2010). A arte dadaísta possui pontos em comum com a produzida pelos punks, como o rompimento com a cultura estabelecida, os dadaísta ergueram-se contra todos os padrões estéticos da arte no início do século XX e sugeriram a caótica anti-arte. Exceto

 

Janie Reid e Winston Smith, que planejaram a linguagem visual dos Sex Pistols e Dead Kennedys, o design gráfico punk foi desenvolvido por artistas como Arturo Vega, que criou o logotipo dos Ramones, e como a maioria não tinha conhecimento artístico, era diletante, e com base no princípio faça você mesmo construíram uma linguagem de comunicação visual, escrita e musical. O conhecimento sobre as artes é um ponto que distingue os movimentos punks e dadaísta, mas a iniciativa de criar novos meios para exporem suas ideias é comum entre os gêneros, os dadaístas criavam suas revistas e os punks seus fanzines, porque os meios tradicionais não abriam espaço para estas culturas, outros pontos em comum são as apropriações, agressividade e as provocações. Entre os dadaístas destaco os trabalhos de Hans Arp, Raoul Hausmann, John Heartfield e Marcel Duchamp, cujas obras resumem a essência do estilo e também evidenciam a influência no design gráfico punk. Hans Arp atuava na literatura e artes visuais, ele refugiou-se na Suíça devido a guerra, em 1916 apresentou o seu trabalho chamado de Relevo Dada, realizado com formas orgânicas que simbolizavam a natureza, a combinação harmônica das formas e contra formas significam que os elementos naturais relacionam-se pacificamente, ao contrário dos homens que provocam batalhas desumanas devido aos diferentes pontos de vista. Em Colagem Disposta Segundo as Leis do Acaso, é perceptível a ordem e a coerência no posicionamento dos elementos dispostos de uma forma supostamente aleatória, há muita semelhança nesta obra com a contra capa do álbum Never Mind the Bollocks. Here’s the Sex Pistols desenvolvida por Janie Reid. ELGER (2010).

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HARP, Hans. Retângulos Dispostos Segundo as Leis do Acaso, 1916/17 REID.Jamie. Never Mind The Bollocks. Here’s the Sex Pistols, 1977.

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Raoul Hausmann mudou-se para Berlin ainda jovem e influenciado pelo pai iniciou seus estudos na pintura e interessou-se pelo Expressionismo e Futurismo, antes da Primeira Guerra Mundial escrevia críticas de arte na Revista Der Stum, em Zurique com Hans Arp, Richard Huelsembeck e Tristam Tzara tornou-se figura importante do dadaísmo pela sua contribuição com o desenvolvimento da fotomontagem caracterizada pelo estilo alemão, que diferenciava-se do cubista devido a inserção de textos na composição. Sua arte representou os sentimentos humanos no período da Revolução Industrial, momento de mudanças tecnológicas, políticas e filosóficas que alteraram as relações humanas porque o homem acreditava que o seu desenvolvimento dependia do conhecimento cientifico que possibilitaria a criação de equipamentos que facilitariam a produção de bens diversos. Sua obra realizada com a fotomontagem combinava elementos orgânicos, mecânicos e tecnológicos, como pistões, fitas métricas e mapas, a proposta era que o mundo deveria ser pacifico, mecânico e racional. ELGER (2010). Marcel Duchamp é um importante artista moderno pelo desenvolvimento do conceito: Ready Made, suas obras Roda de Bicicleta e Chafariz foram apresentadas em uma exposição de arte em Nova Iorque, e foram rejeitadas, o fato confirmou o caráter rompedor do mito do artista criador e gênio e das expectativas do público em relação a arte. As influências do seu trabalho no movimento punk podem ser associadas com a utilização de correntes e cadeados, como colares que foram utilizados pelos punks e pela recriação da Monalisa com interferências feitas sobre um cartão postal ilustrado com a obra de Leonardo Da Vinci. Os exemplos que comprovam a sua influência na arte moderna, são a inclusão do Power Mac G4 Cube, produzido pela Apple Computers, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, e pelo trabalho de artistas ingleses como: Gavin Turk, que desenvolveu esculturas em cera em poses clássicas de Elviz Presley, Che Guevara e Sid Vicious, o que difere seu trabalho dos tradicionais bonecos de cera, é a apresentação, cada peça é apresentada em uma galeria de arte em uma caixa de vidro com etiqueta e data. SABIN (2002).

 

Principais características do design gráfico punk No design gráfico os meios utilizados para expressão eram as capas dos discos, as camisetas e os fanzines que cobriam o movimento, influenciado pelo Dadaísmo, o improviso imperava, ao invés de fotos bem tiradas, usavam fotocópias de baixa qualidade, as tipologias eram manuais ou montadas com recortes de revistas, no qual não havia o respeito a família tipológica ou ao corpo de letra, o resultado chocava com a agressividade e energia. Repentinamente tudo é punk ou à la punk. Nas escolas de arte os estudantes punks estão criando um novo visual nas artes gráficas. Um visual rude e malcriado, uma espécies de retomada do Dadá(Dadaísmo, corrente de vanguarda europeia de cerca de 20 anos, um movimento anarquista, a anti-arte para acabar com a arte); ou, recapitulando um dos manifestos futuristas de cerca de 1910: “ Rebele-se contra a tirania da palavra harmonia e bom gosto”. Punk. (Bivar. 2001. 5ºedição. P.50.)

Segundo Hollis (2010), a simetria habitual, empregada nos textos dividiu a atenção com uma inovadora diagramação, na qual, o texto não era apenas para ser lido, a sua disposição reforçava o sentido da mensagem. Rompeu-se o paradigma de que cada página deveria contar uma história, e duas passaram a ser interpretadas como um espaço único. O poeta italiano Fillipo Tommaso Marinetti publicou o livro Zang Tumb Tumb, em 1914, que foi chamado por ele de “Parole in Libertà”, esta obra era uma pintura verbal para celebrar a batalha de Tripoli. Através do uso de fontes em tamanhos diferentes o som das palavras foram representados. Seu trabalho contrariava a sintaxe, que ordena as palavras e as frases em um discurso, para que houvesse coerência, ele dispunha os substantivos de forma aleatória, assim, o significado variava de acordo com a visão de quem apreciasse seu trabalho, para ele as letras que compunham uma palavra não eram apenas signos alfabéticos, pesos e tamanhos, o posicionamento diferente da sentença em um espaço sobressaia o significado. O momento de tensão em que o Dadaísmo surgiu é um contexto semelhante ao final dos anos 70, época em que o movimento punk emergiu para os grandes centros e deixou de ser uma cultura periférica, a incerteza e insegurança, é refletida tanto nos trabalhos gráficos dos dadaístas, como no design gráfico punk, ambos optaram pela

 

instabilidade ao invés do equilíbrio, e pela assimetria ao invés da simetria. O equilíbrio é um meio utilizado pelos designers, no qual a composição possui um centro de estabilidade com pesos iguais, a instabilidade é a ausência do equilíbrio que reproduz visualmente a inquietude e a provocação. O equilibro assimétrico é obtido com a variação de elementos que se compensam, e não necessariamente possuem pesos iguais, além dos dadaístas e designers punks, o equilíbrio assimétrico também pode ser percebido na obra de Kandinsky. Dondis (2000). Para Hollis (2010), Marinetti juntou-se ao escritor Giovanni Papini e o pintor Ardengo Soffici, que publicavam a revista Lacerba em Florença desde 1913, a revista era de vanguarda radical e atingia o publico operário. Os experimentos tipográficos da publicação incentivou o surgimento de revistas e folhetos com palavras libertadas, algumas publicações eram de apoio a vanguarda e outras não, este duelo ficou conhecido com uma batalha, no qual os valores e ideais eram expostos nestes meios, os barulhos mais altos eram da Zang Tub Tumb, em que as páginas possuíam textos em posições inusitadas, com ângulos oblíquos, que rompiam com a estética simétrica. Os construtivistas rejeitavam a ideia de que uma obra de arte fosse única, porque esta era uma visão burguesa que defendia a áurea da obra, esta posição convergia com os futuristas, que acolheram a publicidade como uma manifestação da vida moderna, nela eles expressavam sua proposta visual à um publico que não frequentava os museus, o que tornava a arte acessível às outras classes, além de difundir as ideias para um grande público. As inovações no design gráfico são consequência do trabalho dos dadaísta, que se opunham ao contexto político, ao militarismo e até mesmo a arte, o descaso pela tradição impulsionou o uso de palavras e imagens, que eram combinadas com montagens e misturas de tipos de letras variados. MEGGS (2013). Para Hollis (2010), a objetividade alemã é representada pela Escola de Arte Bauhaus, o trabalho de designers como Weimar e Max Burchartz, deram continuidade as ideias dadaístas e estabeleceram parâmetros para a elaboração de peças publicitárias, como a análise do emissor e receptor, o papel da propaganda e como ela deveria ser objetiva e envolver o leitor, além dos pontos de leitura de uma composição, para dirigir a leitura, estes conceitos sobreviveram a Segunda Guerra Mundial e retornaram nos anos 60 como o estilo Suíço. A fotografia era utilizada como um complemento da

 

mensagem que seria transmitida na publicidade, a criação era textual e visual, ambos elementos, complementavam-se e traduziam o significado desejado. Como não havia o profissional de fotografia, especializado em fotos publicitárias, eram os próprios designers quem produziam as imagens. O papel da fotografia não era somente complementar a linguagem textual, alguns profissionais manipulavam imagens, criavam fusões que potencializavam o significado da mensagem desejada, John Heartfield, produzia colagens e fusões irônicas, seu trabalho mais conhecido, é um pôster para o partido comunista, nas eleições, o número do partido era o cinco, ele criou um pôster, no qual várias mãos abertas reforçavam a mensagem de que para mandar o inimigo para o olho da rua, era preciso votar na cédula cinco do partido.

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O partido nazista chegou ao poder em 1933, a escola Bauhaus foi fechada, a represália, provavelmente foi por causa da oposição ao partido que a vanguarda representava e a linguagem desenvolvida pelos modernistas foi incorporada ao regime nazista. Com o exilio, os designers alemães propagaram suas técnicas pela Europa e Estados Unidos, na Itália, Schawinsky contribuiu para a criação da profissão de designer, antes de deixar o país por causa do fascismo, nos Estados Unidos, Lucian Bernhard, abriu um escritório de design, seu trabalho teve conflitos com a percepção americana, na qual, uma ideia não poderia ser somente visual, e o sentido da mensagem deveria ser mais explicito. Nos Estados Unidos haviam as agências de publicidade, nas quais, o design já era uma ferramenta de marketing, a vanguarda alemã influenciou o trabalho de todas estas empresas, que se baseavam nos conhecimentos normativos e de construção de mensagem de comunicação para emprega-los na propaganda.                                                                                                                         5

HEARTFIELD, John. Esboço para shows: Fritz Thyssen brinca com o boneco de Adolf Hitler, 1933. HEARTFIELD, John. O significado da saudação de Hitler, 1932. 7 HEARTFIELD, John. A Manteiga acabou, 1935. 8 HEARTFIELD, John. Poster para o Partido Comunista 6

 

O Punk no contexto do Design Gráfico Para Hollis (2010), o Design gráfico refletiu o descontentamento do movimento punk, a falta de perspectiva de emprego para os jovens designers, os levou a afrontar a sua profissão com produções toscas e agressivas que destruíam o conceito estético dos anos setenta que estava influenciado por composições tecnológicas e complexas. Nos Estados Unidos o design gráfico punk era desenvolvido pela intuição de artistas amadores que desenvolveram trabalhos marcantes como o logotipo dos Ramones, criado por Arturo Vega, que junto com a marca dos Rolling Stones, criada com base nos lábios de Mick Jagger, é o símbolo mais icônico do rock, Vega era um emigrante mexicano que morava próximo ao clube CBGB, e ganhava a vida como letrista em um mercado, ele tornou-se amigo dos integrantes e passou a trabalhar com a montagem dos equipamentos de som e com a iluminação das apresentações da banda. Para ganhar um dinheiro extra com os Ramones, ele criou camisetas ilustradas com a águia americana que eram vendidas nas apresentações da banda.TRUE (2013).

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Para ele os Ramones refletiam o espirito e o caráter americano, eram jovens e tinham uma agressividade inocente, que o fez lembrar quando visitou Washinton e ficou impressionado com a atmosfera da Casa Branca, tal associação o levou a adaptar a águia oficial para a marca da banda com algumas alterações, o ramo de oliveira foi substituído por uma macieira, porque os Ramones eram americanos como uma torta de maçã, as setas foram mantidas acima da cabeça da águia para representar a agressividade e a defesa da banda caso eles fossem criticados, o taco de beisebol é uma homenagem a                                                                                                                         Selo official dos Estados Unidos da América. Disponível em: https://www.facebook.com/pages/ConsuladoAmericano/321344224631120?rf=284120214970099. Acesso em 6/02/2015 10 VEGA, Arturo. Logotipo dos Ramones. 1975. Disponível em: http://ramones.com/ Acesso em 6/02/2015 9

 

Johnny que era fã do esporte e a flamula com a inscrição original: De Muitos, o único, recebeu a frase: Hey, Ho, Lets Go, que era o grito de guerra da banda. O logotipo criado por Arturo Vega, possui símbolos que representam a filosofia punk, como a subversão, por ousar utilizar uma marca oficial, apropriação, por usar a águia e dar à ela um novo significado, a violência e agressividade são representadas pelas flechas e o taco de beisebol, o faça você mesmo, é o fato de Arturo não ser um artista formado e mesmo assim desenvolver seu trabalho com talento e intuição. TRUE (2013). Em 1977, o editor da revista Vogue, Terry Jones, publicou o livro: “Um livro Punk diferente”, que reunia efeitos experimentais como a utilização de imagens de jornais, reaproveitamento de textos impressos, fotos ampliadas, imagens distorcidas com o efeito de movimento do papel nas copiadoras e fotos instantâneas sem a calibração das cores e interferência nas fotografias com canetas ou estilete, a inovação do estilo foi transformar as limitações da tecnológicas e dos originais manipulados na composição, em algo positivo, o que seria um defeito ou inapropriado tornou-se linguagem. Rapidamente o estilo agressivo e cru do design punk, foi adotado por editores de revistas de comportamento jovem, como a Face, do editor de arte Neville Brody, adequou a nova linguagem, esta apropriação consistia em desenvolver o estilo visual punk com suas variações de fontes e imagens com ruídos, através de recursos digitais, ou com a habilidades dos diretores de arte da equipe, ou seja, as interferências não eram naturais como no design punk, eram criadas especificamente para as matérias e para o projeto gráfico da revista. Hollis (2010). Representantes da segunda onda do punk, os Dead Kennedys estabeleceram-se em São Francisco, o nome da banda é uma forma de simbolizar o fim do sonho americano com o assassinato de Robert Kennedy, que completava 10 anos em 1978, quando a banda iniciou seus trabalhos. A história do grupo é marcada pelo seu ativismo político e cultural, além de serem reconhecidos pelo pioneirismo ao explorar meios alternativos e independentes

para

promoção.

Eles

tiveram

poucas

execuções

em

rádio,

mantiveram-se a margem da indústria fonográfica e somente produziram com gravadoras independentes. O sarcasmo político foi apresentado no single de estreia: California Über Alles de 1979, que comparava a política do Governador da California, Jerry Brown, com as práticas fascistas, a comunicação visual foi desenvolvida por

 

Janie Reid, utilizou as frases: A Música te mantém sob controle e Nunca confie em um hippie, para ressaltar a visão de Biafra em relação aos hippies que haviam trocado o idealismo por ganância. Ogg (2014).

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Winston Smith estudou arte clássica na Itália, chegou a São Francisco e começou a trabalhar como roadie, deparou-se com a cena punk local que unia música, cinema, fotografia, moda e artes visuais, seus primeiros trabalhos foram folhetos de shows que parodiavam apresentações com atrações principais, com outras criadas por ele, sua fonte de referências eram revistas, folhetos, jornais e revistas, sua predileção era por imagens que representavam o sonho americano da década de 50, que contextualizados em suas criações sarcásticas, e assumiam um novo significado. Ogg (2014).

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O trabalho de Smith é caracterizado pela sofisticação, astucia, pelo olhar afiado para o equilíbrio de suas montagens, ele utilizava o design gráfico para convencer e persuadir. Além das capas polêmicas como a do álbum: Bedtime For Democracy, de 1986, que trazia um crucifixo tridimensional composto com notas de dólar, seu trabalho mais reconhecido é o logotipo dos Dead Kennedys, uma marca simples, objetiva e direta que reúne as letras D e K em uma única forma, com as cores preto e vermelho. Estas cores foram utilizadas pelos dadaístas, o preto significava o poder do capitalismo, e o vermelho representava a força dos trabalhadores. Hollis (2010).                                                                                                                         11

SMITH, Winston. Rock Agaisnt Reagan, 1983. Disponível em: http://www.songkick.com/festivals/80966-rock-againstreagan/id/5182531-rock-against-reagan-1983. Acesso em 6/02/2015 12 SMITH, Winston. Coletânea, Let Them eat Jellybeans, Alternative Tentacles, 1981. Disponível em: http://www.lastfm.com.br/music/Various+Artists/Let+Them+Eat+Jellybeans. Acesso em 6/02/2015 13 SMITH, Winston. Dead Kennedys, Never Been On MTV, 1996. Disponível em: http://recordcollectorsoftheworldunite.com/artists/deadkennedys/deadkennedysbootleg.html. Acesso em 6/02/2015 14 VEGA, Arturo. Rocket To Russia, 1977. 15 SMITH. Winston, Logotipo Dead Kennedys.

 

É possível fazer um paralelo entre o trabalho de Winston Smith e Jamie Reid, tanto pela importância para a criação de um sistema visual que identifica o punk, como pelo reconhecimento, devido a influência que os trabalhos destes artistas tiveram para outros designers e por pontos em comum, Jamie Reid utilizou a imagem oficial da Rainha Elizabeth, para compor os matérias de divulgação para o compacto Anachy in the UK dos Sex Pistols, já Winston Smith, transformou o presidente Ronald Reagan no garoto propaganda da banda, com imagens oficiais do presidente ele criou diversas mensagens irônicas sobre a política americana.

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Conclusão A influência do dadaísmo no movimento punk é visível e dispensa explicações tamanha a semelhança entre as linguagens gráficas. O dadaísmo foi composto por jovens intelectuais, poetas e artistas que não concordavam com os conflitos políticos que resultaram na 1º Guerra Mundial, a sua manifestação artística representa o desespero e o caos de um momento da história humana, em que o homem deixou de se importar com a humanidade e o ambiente, para concentrar-se nas possibilidades de desenvolvimento que as novas tecnologias proporcionariam. O dadaístas foram ridicularizados pela sociedade que não compreendia as suas explanações como arte, eles foram também perseguidos politicamente devido as duras criticas que faziam sobre os governos autoritários e nacionalistas que comandavam os                                                                                                                         16

Programa das Celebrações do Jubileu de Prata da Rainha Elizabeth. Disponível em:

http://www.shurdington.org/jubilee.htm. Acesso em 6/02/2015

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REID, Jamie. GSTQ - SWASTIKA EYES, 1977.

 

países europeus. Décadas depois, o espirito renasceu com o punk, que utilizou a linguagem gráfica, as colagens e as fotomontagens para criticar a sociedade. Os conflitos que levaram a Europa para a 1º Guerra Mundial, motivaram a criação artística dos futuristas. A incerteza em relação ao futuro devido a uma crise econômica e o desemprego, motivou jovens operários a mostrarem para a sociedade o seu desapontamento. Culturalmente, o movimento punk desconstruiu a música, e propôs a simplicidade para substituir o virtuosismo. No design gráfico, o desequilíbrio e a espontaneidade se opuseram ao equilíbrio simétrico e apuro técnico utilizado na produção. O alemão Helmut Herzfeld, adotou o nome artístico de John Heartfield, para mostrar o seu descontentamento com a política nacionalista que dominava a Alemanha, sua obra foi composta por imagens oficiais de Hitler, que manipuladas resultaram em uma dura critica ao nazismo, no movimento punk, Jamie Reid e Winston Smith, utilizaram fotos oficiais da Rainha Elizabeth e do presidente Ronald Reagan para compor mensagens criticas aos governos ingleses e americanos para as bandas Sex Pistols e Dead Kennedys. O design gráfico punk, representa a cultura periférica que incentivava a livre expressão e igualdade, suas obras não ficaram reconhecidas como arte, como é o caso dos dadaístas, porque as mensagens do movimento foram desenvolvidas por profissionais e diletantes, o que a torna mais próxima da cultura popular. A obra dos dadaístas ficaram para a história como a memória e cultura de um grupo que não compartilhava com o pensamento comum do início do século XX, no qual a tecnologia sobressaia sobre o ambiente e o homem, e ao discurso nacionalista que gerou grandes conflitos para a humanidade. Os trabalhos dos designers punks, registram a memoria de um grupo que vivia a margem da sociedade porque pensava diferente e não concordava com os valores sociais e políticos dos anos 80.          

        BIBLIOGRAFIA    

ALAMBERT, Francisco. História em aberto. A semana de 22. A Aventura modernista no Brasil.São Paulo: Scipione, 1994. BIVAR, Antonio. O que é punk? São Paulo: Brasiliense, 2001. DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2000. HOLLIS, Richard. História Concisa do Design.São Paulo: Martins Fontes, 2010. MEEGS, Philips B. História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac, 2013. OGG, Alex. Dead Kennedys: Fresh fruit for rotting vegetables (Os primeiros anos).São Bernado do Campo: Edições Ideal, 2014. SABIN, Roger. Punk Rock: so What? The Cultural Legacy of Punk. Londres: Routledge – Taylos e Francis Group, 2002. PART I. Shock waves and ripple effects. Too low to be low: Art pop and the Sex Pistols. ROBERT GARNETT. Disponível em: http://documenta_pdf.jmir.dyndns.org/R.Sabin_PunkRock_2002.pdf Acesso em: 25/03/20014 TRUE, Everett, Hey Ho Let’s Go, A História dos Ramones. São Paulo: Madras, 2013. PRYSTHON, Ângela. Estudos Culturais: Uma (in) disciplina. Revista Comunicação e Espaço Público, Ano VI, nº 1 e 2. Brasília: UNB, 2004. pp 134-141. Disponível em: http://www.fac.unb.br/site/images/stories/Posgraduacao/Revista/Edicoes/2003_revista.p df

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