Garopaba do Sul: Processo de formação do sítio por meio de análise de vestígios faunísticos

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CAMPUS DE LARANJEIRAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA SENSORIAL

Garopaba do Sul: Processo de formação do sítio por meio de análise de vestígios faunísticos Autora: Mariana D. Della Justina | [email protected] Orientadora: Dra. Daniela M. Klökler | [email protected] O sítio arqueológico Garopaba do Sul, localizado no município de Jaguaruna, no litoral sul de Santa Catarina (Figura 1), chama atenção por suas grandes dimensões ainda nos dias de hoje, destacando-se na paisagem litorânea em meio às dunas. Com datações que passam dos 4 mil anos e muito afetado pela indústria de cal, acredita-se que no passado esse sambaqui chegou a ter mais de 60 metros de altura (DeBlasis et al, 2007). Neste trabalho, com foco zooarqueológico, as análises quantitativas e qualitativas de amostras de dois perfis coletadas em 1999 sugerem diferenças nos padrões construtivos em Garopaba do Sul.

Figura 1: Localização do Garopaba do Sul em Jaguaruna e Santa Catarina

Metodologias Treze amostras de sedimento de volume padrão de 1,5 litros foram selecionadas para análise faunística, sendo 10 pertencentes ao perfil 1, o mais antigo, e 3 ao perfil 2, mais recente localizado no topo do sítio. As atividades incluíram: pesagem, lavagem, peneiragem, triagem, quantificações por Número de Espécimes Identificados (NISP) e Número Mínimo de Indivíduos (NMI), e conversão de peso em carne comestível (Figuti, 1993) (Figura 2).

Figura 2: Lavagem e peneiragem em 4mm e 2mm. Foto: Marcus V. S. de Mattos

Resultados Ao todo, foram registrados 15 táxons de invertebrados nos dois perfis, 10 bivalves e cinco gastrópodes, além de uma conta feita em concha em P1C6. As espécies são regulares na região lagunar do Litoral Sul e costumam habitar bancos naturais de moluscos e costões. A Anomalocardia brasiliana é a espécie com maior representatividade no Garopaba do Sul. Apenas em P2C2 o molusco perde a predominância. Comparando os dois perfis, percebemos a diminuição de táxons (Figura 3). No perfil 2, o número de espécies coletadas cai pela metade.

Em relação aos vertebrados, grande parte dos fragmentos correspondiam a peixes comuns na região, totalizando seis espécies de peixes ósseos. Também foram encontradas vértebras de peixe cartilaginoso e um fragmento craniano de roedor não identificados. A baixa incidência de ossos de mamíferos terrestres se explica pelo fato de que são poucos os vestígios faunísticos que pudessem configurar territorialidade para além do sistema da paleolaguna de Santa Marta (KLOKLER, 2001, 2008, 2012; FERRAZ, 2010). A respeito dos materiais comestíveis (Tabela 1), há um crescimento da importância dos peixes para a subsistência dos construtores do Garopaba do Sul. Enquanto que no perfil mais antigo a porcentagem de carne de vertebrados era de 30,13%, no perfil 2, esse valor sobe para 75,77%. As porcentagens de material comestível do sítio contribuem para vermos uma mudança de padrões construtivos entre os dois perfis analisados, com mudanças de espécies coletadas e aumento na quantidade de vestígios ósseos. Tabela 1. Peso em gramas e porcentagem aproximada de material comestível Amostragem Perfil 1 Perfil 2 Componente peso % peso % Berbigão 846,13 65,48% 254,85 22,27% Ostra 33,77 2,61% 22,52 1,97% Marisco 22,89 1,77% 0,0068 0,00% Ossos 389,4 30,13% 867,2 75,77%

Além do material faunístico, também foram encontrados fragmentos rochosos e carvões no Garopaba do Sul, sobretudo na porção de 2 milímetros. Conclusões Os homens e mulheres pré-históricos que construíram o Garopaba do Sul viviam do que o ambiente da paleolaguna oferecia (KLOKLER, 2001). Assim como apontaram Figuti e Klokler (1996) sobre o sambaqui Espinheiros II, também no Garopaba do Sul vê-se uma diferença nos padrões de construção do sítio. Enquanto que no perfil 1 a coleta de Anomalocardia brasiliana é predominante, podendo ser resultante de processo de formação de base do sítio, no perfil 2 a pesca se torna mais representativa. Como indica Nishida (2007), em P2 os vestígios demonstram processo acumulativo e a coleta de berbigão deixa de ser a atividade principal. Há também alternância de materiais preferenciais de um perfil para o outro, o que reforça o caráter cultural da escolha de espécies (KLOKLER, 2001, 2008; FIGUTI, 2008). Conchas, ossos e otólitos maiores: os vestígios do perfil 2 do Garopaba do Sul dão indicativos de que o momento em que os sambaquieiros construíam essa porção do sítio era rico. As datações correspondentes ao período (aproximadamente 2.800 BP, segundo Gaspar e colegas, 2002), estão em um contexto de Nível Médio Marinho (NMM) estável (KNEIP, 2004), dentro do período de maior densidade demográfica e expectativa de alta produtividade marisqueira e pesqueira da paleolaguna (DEBLASIS et al, 2007). Referências bibliográficas DEBLASIS, Paulo; KNEIP, Andreas; SCHEELYBERT, Rita; GIANNINI, Paulo; GASPAR, MaDu. Sambaquis e Paisagem: dinâmica natural e arqueologia regional no litoral sul do Brasil. In Arqueología Suramericana/Arqueologia Sul-Americana, 3(1), 2961, 2007. FERRAZ, Tânia F. Estudo comparativo dos sambaquis Caipora, Lageado e Jaboticabeira I: interpretações acerca da mudança de material construtivo ao longo do tempo; Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo; São Paulo, 2010. FIGUTI, Levy. O homem pré-histórico, o molusco e o sambaqui: considerações sobre a subsistência dos povos sambaquianos. In Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 3: 67-80. São Paulo: 1993. FIGUTI, L. A recipe for a sambaqui: considerations on brazilian shell mound composition and building. In: Andrzej Antczak; Roberto Cipriani. (Org.). Early Human Impact on Megamollusks. 1 ed. Oxford: BARS Archaeopress, 2008, p. 67–80. FIGUTI, Levy; KLOKLER, Daniela. Resultados preliminares dos vestígios zooarqueológicos do sambaqui Espinheiros II (Joinville, SC). In Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 6: 169187. São Paulo:1996. FORNARI, Milene. Evolução sedimentar holocênica da retrobarreira na região Jaguaruna-Laguna, Santa Catarina, Brasil.2010. Tese (Doutorado em Geotectônica) – Instituto de Geociências, USP, São Paulo, 2010. GASPAR, MaDu; FISH, Paul; SHEEL-YBERT, Rita; FIGUTI, Levy; KLOKLER, Daniela; KNEIP, Andreas; RIBEIRO, Liliane B.; FARIAS, Deisi; AFONSO, Marisa C.; KARL, Ricky J.; EGGERS, Sabine; FISH, Suzanne K.; DEBLASIS,Paulo. Padrão de assentamento e formação de sambaquis: arqueologia e preservação em Santa Catarina. In Revista de Arqueologia do IPHAN 1:57-62, 2002. KLOKLER, Daniela. Construindo ou deixando um sambaqui? Análise de sedimentos de um sambaqui do litoral meridional brasileiro - processos formativos, região de Laguna, SC. Dissertação de Mestrado. MAE-USP. São Paulo: 2001. KLOKLER, Daniela. Food for body and soul: mortuary ritual in shell mounds (Laguna – Brazil). PhD Thesis, Department of Anthropology, University of Arizona. Tucson: 2008. KLOKLER, Daniela. Consumo ritual, consumo no ritual: Festins funerários e sambaquis. In Revista Habitus, v. 10, n. 1, p.83-104, jul.-dez.2012. KNEIP, Andreas. O Povo da Lagoa: uso do SIG para modelamento e simulação na área arqueológica do Camacho. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2004.

Figura 3: Comparação entre os principais vestígios faunísticos das camadas de P1 e P2

Apoio financeiro ao PIBIC/UFS:

VILLAGRAN, Ximena S. Micromorfologia de Sítios Concheiros da América do Sul:Arqueoestratigrafia e Processos de Formação de Sambaquis (Santa Catarina, Brasil e Concheiros (Terra do Fogo, Argentina) Tese de Doutorado, Museu de Arqueologia e Etnografia, Universidade de São Paulo. São Paulo: 2012. VILLAGRAN, Ximena S. A redefinition of waste: Deconstructing shell and fish mound formation among coastal groups of Southern Brazil. In Journal of Antropological Archaeology. Elsevier Inc., 2014.

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