Gênero e votação do impeachment

June 4, 2017 | Autor: Gisele Toassa | Categoria: Filosofía Política, Ciencia Politica, Psicologia Política
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NESSE CONGRESSO, É ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO CUSPIR (e outras observações, porque estou farta de muita coisa)

Profa. Dra. Gisele Toassa
Psicologia, UFG
Segunda, 18/04/2016

1) Imagino que a maioria de vocês deve ter visto isso aí (https://www.youtube.com/watch?v=JWy...)... Bolsonaro, na fala mais repulsiva que algum parlamentar jamais deve ter feito na história desse país, dedicou seu voto ao coronel Ulstra, um dos piores torturadores da ditadura e "o terror de Dilma Rousseff" (Bolsonaro é tão estúpido que nem acertou o nome do responsável por torturá-la. Mas a verdade não é mesmo especialidade de Bolsonaro).
Depois, xingou Wyllys em termos homofóbicos. Wyllys fez o que todo brasileiro que se preza faria: cuspiu na direção desse fascista.
Mas, abaixo, você vê um sujeito estúpido que deve pertencer à, digamos, comunidade UFG defender que Wyllys é fascista porque cuspiu no Bolsonaro. Ou seja, nosso membro da comunidade UFG é um completo idiota que padece de conhecimentos elementares de ciência política (na medida em que a característica fundamental do fascismo é o elogio da força, da violência, do ódio, da descrença na política como campo da divergência e o elogio da massificação autoritária - nesses critérios, sem dúvida, é o Bolsonaro o fascista da cena), e, não obstante, adora fazer de conta que os entende.
Um idiota clássico de Facebook, onde não se paga nada para dar opinião sobre tudo e onde a ênfase emocional encobre o vazio de ideias e a má-fé das intenções. O barato é a agressão pela agressão. E atitudes assim são de militantes da agressão, nada mais;
2) Tanto a cena de Wyllys quando o comentário do nosso idiota colega de comunidade me parecem emblemáticos do novo momento político que se abre. O fascismo não está apenas na vida cotidiana, está plenamente instalado nesse Congresso Nacional absolutamente desqualificado, incompetente, ignorante, conservador, demagogo, corrupto; onde os deputados não representam nada além de suas famílias e de uma entidade igualmente corrupta e autoritária que eles chamam de deus (entendam, não é um deus de amor e solidariedade que eu eventualmente, mesmo sendo ateia, poderia respeitar).
Contra essa força política sinistra, não cabe contemporizar: a história prova que a única alternativa é o enfrentamento. Antes que os Bolsonaros da vida criem campos de concentração para petistas (o que quer que eles queiram dizer com esse termo), homossexuais e outros sujeitos que eles desejem esmagar, para o pleno exercício de seu esporte favorito: dominar, oprimir e torturar, como Ulstra. Alegria triste de gente pervertida na inteligência e no coração.
3) A expressão desse fascismo à brasileira não é a busca por um eventual III Reich. Creio que seja algo mais latino, italiano mesmo. É a busca por deus e a família. Mas deus e a família não são a esfera pública, não são o político. Aí é que está parte do nosso drama. Esse Congresso não é composto por políticos. Em um certo sentido, a nossa população, despolitizada, massacrada pela mídia (abandonada ao seu próprio julgamento; sem a formação política adequada) está devidamente representada nesse indivíduos incapazes de enxergar além de seus umbigos, e que se comportam na Câmara Federal como se estivessem em uma Câmara de Vereadores. Uma completa desconstrução da política como exercício da representação
4) E enfim, o ponto principal onde eu queria chegar, e talvez o mais difícil de administrar no dia-a-dia: a projeção maciça dos afetos próprios ao fascismo nas suas vítimas (sim, aqui me renderei à psicanálise). Um tipo de mentira deslavada, tão evidente que se estampa no rosto dos que a defendem na forma de cinismo. É a expressão que eu vi com mais frequência nessa votação de hoje.
Esse comentário do idiota da UFG e o vídeo atribuem a agressão a Wyllys. Pobre Bolsonaro! É ele a vítima! Deve até recorrer ao Conselho de Ética! Vamos expulsar o Wyllys por quebra de decoro!
É esse artifício retórico da inversão que vemos, diuturnamente, na imprensa golpista. O PT é ladrão. O PT negocia cargos. O PT ameaça agressões. Hipergeneralização: uma outra característica do modo-de-pensar fascista.
Inverta o sentido das frases e você encontrará os piores ladrões e agressores, aqueles que escondem seu ataque como se fosse defesa. Projetando o ódio nos seus alvos, sentem-se livres para revidar sobre seu bode expiatório, sem a culpa que poderia contra-arrestar o seu ódio.
E, mesmo com a queda de Dilma, ele vai continuar vivo - agora, aposto eu, na retomada da caça furiosa a Lula.
Nesse tipo de atitude, às vezes, é absolutamente necessário cuspir. Seria quebra de decoro contra aqueles que foram torturados e mortos pela ditadura não o fazer.
5) Um alerta para meus camaradas de esquerda que estão se regozijando pela queda do 'prostituído' PT (sem deixar, creio eu, de reconhecer suas falhas). Não há nenhum outro partido para substituí-lo, por hora. Fora o antigo Partidão (nos velhos tempos, repito), o PT foi o único partido de massas da nossa esquerda. Repito, o único partido. O resto, até agora, é grupelho acadêmico contra grupelho acadêmico, e não partido de esquerda eleitoralmente viável. O resultado desse vazio de representação é o show de horrores que vimos hoje. E ele está só começando, então, vamos nos organizar para construir uma nova utopia.


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