Gêneros textuais no livro didático
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Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau
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Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau
Livro produzido pelo projeto Para ler o digital: reconfiguração do livro na cibercultura - PIBIC/ UFPB Departamento de Mídias Digitais - DEMID / Núcleo de Artes Midiáticas - NAMID Grupo de Pesquisa em Processos e Linguagens Midiáticas - Gmid/ PPGC/UFPB
ROSEANE NICOLAU Gêneros Textuais no Livro Didático de Língua Portuguesa
Coordenador do Projeto: Marcos Nicolau Editoração Digital : Danielle Abreu Capa: Rennam Virginio
N639g
Integrantes do Projeto: Danielle Abreu Ewerton Neves Filipe Almeida Luan Matias Marriett Albuquerque Rennam Virginio
Nicolau, Roseane Gêneros textuais no livro didático de língua portuguesa./Roseane Batista Feitosa Nicolau. - Edição digital - João Pessoa: Editora Ideia, 2012. 202p. ISBN: 978-85-7539-701-5 1. Prática de Ensino. 2. Criatividade 371.315(043)
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João Pessoa - 2012
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Av. Nossa Senhora de Fátima, 1357, Bairro Torre Cep.58.040-380 - João Pessoa, PB www.ideiaeditora.com.br
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A minha mãe (in memoriam), que sempre fez de tudo para eu estudar, indo aos portões dos colégios de madrugada garantir a minha vaga na escola pública; aos meus filhos, Vítor e Lucas, minha riqueza; e, ao meu marido, Marcos, meu companheiro e cúmplice.
“ ... mas quem nos dirá se o caminho seguido não tem mais interesse do que o ponto de chegada?” (Todorov)
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3 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, GÊNEROS TEXTUAIS E LIVRO DIDÁTICO ........................81
SUMÁRIO
Apresentação.......................................................10 1 GÊNEROS: DA REALIDADE HISTÓRICA À REALIDADE DISCURSIVA...............................................22
1.1 Os gêneros na Poética: visão clássica e moderna..........................................................24 1.2 Os gêneros na Retórica: ênfase à natureza verbal do enunciado e a seus princípios constitutivos..........................................38 1.3 Os gêneros na Linguística: estudo dos discursos cotidianos...........................................41 2 DESDOBRAMENTO DA CONCEPÇÃO DE GÊNERO: CLASSIFICAÇÃO E ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS .......................................50
2.1 Adam: sequências textuais ..............................................51 2.2.Bronckart: a Linguística e seus aspectos sócio-interacionais .................................................54 2.3 François: gêneros, condições sociais e marcas linguísticas .................................................................58 2.4 Marcuschi: gênero no contexto linguístico................61 2.5 Schneuwly e Dolz: gêneros como instrumento de ensino e progressão didática....................................................................68
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3.1. Parâmetros Curriculares Nacionais: diretrizes para o ensino de língua materna......................81 3.2. Livro Didático: fazer discursivo e ideológico...........92 3.3. Novas concepções de texto e gênero e reformulação do livro didático............................................102 4 ANÁLISE DA COLEÇÃO DIDÁTICA SELECIONADA....... 108
4.1 Organização da coleção didática e apresentação da teoria dos gêneros................................ .108 4.2 Seleção e agrupamento dos Gêneros........................120 4.3 Características e diferenças dos gêneros abordados..........................................................140 4.4 A poesia no agrupamento dos gêneros...................142 4.5 O Gênero como pretexto para o estudo gramatical......................................................143 4.6 A produção oral e escrita e a variante empregada.................................................................146 4.7 A contextualização............................................................154 4.8 A temática presente, a produção e o estudo textual.....................................................................158 CONCLUSÃO.....................................................................177 REFERÊNCIA.....................................................................188 ANEXOS............................................................................196
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Schneuwly, Dolz, Pasquier - vêm adotando a noção de gênero como um instrumento com o qual é possível ampliar a competência textual e discursiva dos alunos. APRESENTAÇÃO
No
nosso
país,
chama-nos
a
atenção,
particularmente, os grupos de pesquisadores liderados por Rojo (1998), Brandão (2000), Marcuschi
Nas décadas de oitenta e noventa do século XX, o
(2000), Meurer (2000) que se voltam para o estudo
processo de ensino e aprendizagem da língua começa
dos gêneros na língua, indicando-os como forma de
a tomar um novo rumo no nosso país, centrando-
melhorar a qualidade do nosso ensino.
se numa visão sócio-interacionista da linguagem,
Vistos dessa maneira, os gêneros permitem
surgiram novos paradigmas. Entre esses paradigmas, o
uma maior abertura e aceitação, na sala de aula, de
de gênero vem sendo apontado como um caminho para
textos que circulam socialmente, além de ser um
a melhoria do ensino de língua, precisamente porque
estímulo ao estudo da língua a partir das muitas
a sua prática pode auxiliar os alunos a perceberem
formas de manifestações orais e escritas.
quem são e onde se encontram no contexto social,
Assim, a competência textual e discursiva do
e mais, como os textos funcionam e como revelam a
aluno é ampliada. Esse passa a compreender, de
cultura atual. Também pode ajudar na compreensão
forma crescente, as práticas discursivas e as relações
de culturas de outras épocas, permitindo que os
sociais associadas ao uso dos diversos gêneros.
alunos sejam capazes de compreender o mundo. E
Familiarizando-se e adquirindo o domínio da
isso é mais que aprender a ler e escrever. Como
participantes
desse
diversidade textual, o aluno participa do exercício
processo,
de uma cidadania consciente.
pesquisadores ligados à Universidade de Genebra Capa
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Essas competências - textual e discursiva eLivre
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podem ser adquiridas no contexto escolar através
fenômeno empiricamente realizado nos discursos
de um trabalho sistemático proporcionado pelo
cotidianos” (2000, p.10).
professor e por material de apoio como o Livro
Os métodos e técnicas que permitem interpretar
Didático (LD) que, nas nossas escolas, tornou-
e compreender um determinado texto não podem
se peça fundamental, chegando a reger todo o
ser simplesmente transportados para outros, pois
conteúdo que será visto pelo aluno. O Livro Didático
cada gênero requer uma abordagem específica. No
auxilia o professor na passagem da transmissão
entanto, ainda hoje, livros didáticos e professores
da forma de língua oral a língua escrita, tendo os
desinformados submetem todos os textos a um
gêneros, de acordo com Dolz e Schneuwly (1996),
único tratamento.
como organizadores do planejamento curricular.
Para que se operem novas transformações na
O conteúdo dos Livros Didáticos que contempla
relação ensino e aprendizagem, faz-se necessário,
o estudo dos gêneros passa a ser a porta para
cada vez mais, um redimensionamento na forma de
outros textos como: programas televisivos, filmes,
trabalhar os gêneros na escola. Hoje, tendo como
músicas, bate-papo, pesquisas; pois o que interessa
base recentes estudos da Linguística Aplicada,
é atribuir significado a partir de um momento e de
vemos que é esse trabalho deve estar centrado na
um contexto, bem como, dar sentido ao estudo e à
caracterização dos diferentes gêneros textuais em
aprendizagem.
seu aspecto formal e discursivo.
O problema, conforme Marcuschi, não é mais a
Brandão (op. cit) afirma que é preciso
ausência da diversidade textual nos Livros Didáticos
redimensionar a forma de se trabalhar a linguagem
ou na sala de aula, e sim, a maneira como está sendo
e o texto, alcançando-se nesse, a sua dimensão
desenvolvido o trabalho com essa diversidade,
discursiva,
que não deve perder de vista a “concepção sócio-
interacionista de linguagem. Nas próprias palavras
interativa da língua” e a noção de texto “enquanto
dessa pesquisadora:
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proposta
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na
concepção
sócio-
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textuais quantas situações sociais, ou seja, que é
Uma abordagem que privilegie a interação não pode estudar o texto de forma indiferenciada, em que, qualquer que seja o texto, vale o mesmo modo de aproximação. Uma abordagem que privilegie a interação deve reconhecer tipos diferentes de textos, com diferentes formas de textualização, visando a diferentes situações de interlocução. (BRANDÃO, 2000, p. 17-18).
praticamente impossível uma classificação de todos os gêneros existentes. Mesmo assim, é conveniente uma classificação que possa organizar o texto no espaço escolar para um melhor estudo e observação dos princípios gerais e específicos estruturadores dos textos. Essa
Por isso, se faz necessário o estudo e o
classificação, na prática do ensino brasileiro, é dada
reconhecimento dos vários gêneros que circulam
pelos PCN (1998).
socialmente e de todas as relações existentes
Foi para analisar de que forma essas propostas
e possíveis no processo discursivo presentes
estão
nesses gêneros, que são, no momento, questão
encaminhadas
por
estudiosos
presente estudo, dividindo-o em quatro partes
ensino.
distintas.
Dolz e Schneuwly (op. cit.), a partir da noção
A primeira parte nos permite conhecer as
de gêneros do discurso bakhtiniana, agrupam
origens e o desenvolvimento da noção e da
os gêneros textuais em cinco ordens: do narrar,
classificação dos gêneros da era clássica ao século
do relatar, do descrever, do argumentar e do
XX, nos estudos literários, retóricos e linguísticos até
prescrever; facilitando, assim, a classificação e a
as concepções de Bakhtin. Nesta parte percebemos
operacionalização didática dos gêneros discursivos
que houve uma mudança de foco: os gêneros eram,
na elaboração de programas, projetos e currículos
praticamente, classificados e estudados no contexto
voltados para o ensino e aprendizagem, embora os
literário e, agora, passaram a ser estudados no
autores estejam cientes de que há tantos gêneros
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sendo
francofônicos e brasileiros que desenvolvemos o
fundamental nos estudos de língua aplicada ao
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âmbito da língua. eLivre
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A parte seguinte contempla os desdobramentos
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estudos da equipe de Genebra (Dolz, Schneuwly,
e usos do termo gênero nos estudos linguísticos,
entre outros).
a partir de Bakhtin até as considerações recentes
A análise verte-se sobre conteúdo, tanto
sobre gêneros como instrumentos de ensino e
teórico quanto prático, exposto na coleção didática,
aprendizagem, apresentadas pela equipe de Genebra.
confrontando-o com as recentes discussões sobre
Nesse contexto percebemos que os gêneros tomam
os gêneros textuais, sem perder de vista o padrão
uma importância linguística e passam a serem vistos
de qualidade a ser atingido pelo LD, uma vez que,
como uma ferramenta no ensino e aprendizagem
esse material é, em algumas localidades do nosso
da língua.
país, a única fonte de consulta e estudo disponível
Na terceira parte encontra-se uma breve
para os alunos e professores.
explanação do encaminhamento dado à teoria
O enfoque central na abordagem da coleção
dos gêneros no ensino e aprendizagem de língua,
didática é o tratamento, a aplicação e a progressão
proposto nas diretrizes dos PCN como um meio de
dos gêneros textuais, bem como, as características
organizar, dinamizar e resgatar as diversas formas de
enunciativas, visando à ampliação da competência
dizer que circulam socialmente. E, ainda nessa parte,
textual-discursiva do aluno. Proposta presente na
destacamos o papel do Livro Didático, o seu fazer
concepção de gênero como instrumento de ensino
discursivo e ideológico, a sua função de divulgação
e aprendizagem, que comunga, primeiramente,
e aplicação de teorias linguísticas; e ainda, como
com a concepção de gênero do discurso de Bakhtin
suporte para o estudo de gêneros variados.
e, depois, com teóricos que desenvolveram a teoria
A quarta e última parte contempla a análise
bakhtiniana no estudo da língua.
de uma coleção didática que aplica a teoria dos
A fim de obter uma visão sistemática e
gêneros nos moldes propostos pelos PCN ao estudo
circunstanciada, passaremos a analisar a posição
da língua e tem como suporte teórico declarado os
da coleção quanto à teoria de base apresentada
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no Manual do Professor e aplicada no Manual
2. A coleção didática desperta o aluno para a
do Aluno, sua organização e progressão, como
riqueza que envolve o uso efetivo da língua e dos
objeto didatizante. Sempre que necessário, serão
gêneros como um patrimônio do qual eles não
transcritas passagens dos manuais com o objetivo de
podem abrir mão?
contextualizar as questões levantadas e observações
3. O fazer discursivo presente na coleção didática
teóricas pertinentes e oportunas.
em análise facilita e contribui para aprendizagem dos
Antes, o estudo dos textos era voltado para
gêneros textuais e sua utilização fora do contexto
uma classificação tipológica. Agora, com o estudo
escolar?
dos gêneros, gerou-se uma mudança de paradigma
4. São abordadas estruturais que caracterizam
que exige uma perspectiva de trabalho voltada
os gêneros apresentados, bem como, seu aspecto
para o uso da língua como atividade cognitiva e
sócio-histórico-cultural?
interativa, uma vez que, quando se fala ou se escreve
5. Esses manuais contribuem para que o aluno
potencializa-se determinadas estruturas de acordo
se torne um produtor de sentido e não apenas uma
com sua intencionalidade, bem como, aspectos
analista de textos?
sociais e históricos. Visualizando esse contexto,
O corpus desta análise constitui-se de quatro
elaboramos algumas questões pontuais que vão
manuais didáticos da coleção Todos os textos: uma
reger nossa pesquisa:
proposta de produção textual a partir de gêneros e
o
1. A coleção didática em análise propõe
projetos (1998), de William Roberto Cereja e Thereza
aprendizado
Cochar Magalhães, publicado pela Editora Atual.
da
linguagem
visando
ao
desenvolvimento da competência discursiva do
A coleção em análise corresponde a um total de
aluno por meio do uso de um número crescente de
517 páginas impressas, incluindo Sumário, Manual
gêneros textuais em favor de uma formação crítica
do Professor e Bibliografia. Esse tipo de coleção
e consciente?
geralmente é adotado por professores que ensinam
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redação e que têm, como meta principal, trabalhar a
equipe de Genebra no que tange a teoria dos gêneros,
leitura e a produção textual.
faz um uso predominantemente formal desses.
O critério de seleção desse corpus deve-se
A partir do LD em análise constata-se que ainda
à presença e à aplicação da teoria dos gêneros,
não há um estudo dos gêneros em sua completude,
que, como já foi dito, vem sendo desenvolvida
uma vez que não se consideraram valores, crenças e
por uma equipe de Genebra e que já se encontra
projetos políticos na construção do significado do texto.
incorporada nos PCN. Essa teoria, apresentada na
Em suma, ainda não se contempla a dimensão
segunda parte dessa pesquisa, tem como proposta
textual-discursiva presente nos múltiplos gêneros
o ensino centrado no uso interativo da língua, uma
existentes hoje, o que seria primordial no ensino,
vez que, os indivíduos quando se comunicam não
para ao desenvolvimento de uma consciência crítica
trocam orações, palavras; mas enunciados que se
que demonstra que a linguagem reflete e refrata as
constituem de recursos formais da língua (gramática
relações sociais.
e léxico) bem como de recursos extralinguísticos (contexto, situação de produção etc).
Com o
estudo dos gêneros textuais, flagra-se a essência dos enunciados, suas inúmeras formas de dizer, a interação e a posição dos interlocutores enquanto cidadãos do mundo. A conclusão dos nossos estudos aponta para o fato de que a teoria dos gêneros começa a penetrar na sala de aula por meio dos Livros Didáticos de forma incipiente. O Livro Didático analisado, mesmo adotando as propostas dos PCN e seguindo as orientações da Capa
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enunciação, é que se começa a pensar nos gêneros fora dos limites da literatura e do enquadramento da Poética: lírico, épico e dramático, e da Retórica Antiga. 1 GÊNEROS: DA REALIDADE HISTÓRICA À
Esta ênfase dada aos gêneros, na atualidade, por
REALIDADE DISCURSIVA
parte da linguística, tem grande importância para os estudos da área, devido à diversidade de textos que circulam no meio social, sobretudo, em tempos atuais
A noção de gênero, tradicionalmente abordado
em que passamos a ver que a linguagem é adquirida
pela teoria literária e pela retórica, hoje, ressurge
através dos gêneros e que o conhecimento desses
sob diferentes óticas em diversas tendências dos
é indispensável para a interpretação e produção de
estudos linguísticos.
textos, contribuindo para a formação de cidadãos
Nesta parte, veremos as mais significativas noções
críticos e participativos.
e classificações dos gêneros desde os antigos - que
Acerca dos estudos dos gêneros na era clássica
nos legaram um expressivo patrimônio cultural – até os
e nas eras subsequentes, convém, observar o
dias de hoje, no contexto do ensino e aprendizagem;
histórico fornecido por teóricos como Wellek e
e, ao mesmo tempo, conheceremos a evolução dessas
Warren (1957), Silva (1973), Todorov (1986), Reboul
noções e classificações por meio dos estudos literários
(1998), Perelmen (1996), bem como, a visão da era
até o advento da Linguística, da Teoria da Enunciação
saussuriana e pós-saussuriana (Brandão, 2000).
e da Teoria dos Gêneros do discurso. Os gêneros foram uma preocupação primeira da Poética e da Retórica. Recentemente, quando a Linguística volta-se para o estudo do texto e da Capa
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1.1 Os gêneros na Poética: visão clássica e moderna
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Esta tripartição platônica foi a primeira referência teórica de classificação dos gêneros que se tem
A teoria dos gêneros, de Platão a Hegel, foi
conhecimento; porém, esta divisão, dada por Platão,
tomada como objeto primordial da Literatura que,
vai ser abolida no seu livro X da República que, de
segundo Bakhtin (2000, p. 280), tratou de estudar e
acordo com Silva (1973, p. 204) ao procurar “captar
classificar o assunto pelo “ângulo artístico-literário
a universalidade e a unicidade da arte, despreza
(...) e não enquanto tipos particulares de enunciados
a arte como poikilia, isto é como multiplicidade e
que se diferenciam dos outros tipos de enunciados,
diversidade”. Na sequência, surge a obra A Poética, de
com os quais têm em comum a natureza verbal (linguística)”.
Aristóteles, que se constitui, “na primeira reflexão
No livro III da República, Platão apresenta
profunda acerca da existência e da caracterização
três grandes divisões da arte poética: o lírico, o
dos gêneros” (Silva, op. cit. p. 204).
épico e o dramático. Na poesia lírica, encontramos
Aristóteles, leitor da obra de Platão, considera
a própria persona do poeta, na revelação e no
dois gêneros: o narrativo (épico) que, na sua
aprofundamento do seu próprio eu, na imposição
concepção, se dá quando o narrador narra em seu
do ritmo, da tonalidade das dimensões desse eu.
próprio nome ou assumindo personalidades; e o
Na poesia épica (ou no romance) o poeta faz as
dramático que ocorre quando os atores representam
suas personagens objetivarem, em discurso direto,
diretamente ação com personagens vivas e atuantes.
coisas e acontecimentos; e, no drama, o poeta
Essa divisão fundamenta-se em elementos relativos
desaparece por trás do elenco de personagens. O
ao conteúdo estabelecido, e, também, em elementos
drama, desde o tempo dos gregos, é considerado
relativos à forma, distinguindo o processo narrativo
uma arte literária mista, por implicar, também, um
usado no poema épico, e o processo dramático
espetáculo.
usado na tragédia. Resumidamente, a divisão dos
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gêneros na visão aristotélica seria fundamentada na
por isso, considerada um “gênero maior”; a comédia
forma, conteúdo e atitudes do poeta. É interessante
apresenta em geral personagens e problemas da
observar que Aristóteles não estudou o gênero lírico
burguesia, sendo, portanto, um “gênero menor”.
de forma ordenada, mas em partes perdidas da sua
Seguindo esses preceitos elaborados por
obra, como assevera Silva (op.cit.).
Aristóteles e por Horácio formulou-se a regra
Horácio, antes da era cristã, reforça os
da unidade de tom, que vem separar ainda mais
preceitos aristotélicos, na sua Epistula ad Pisones,
os gêneros que passam a ser concebidos como:
concebendo os gêneros literários, com sua tradição
“uma espécie de essência eterna, fixa e imutável,
formal, caracterizados por uma “unidade de tom”,
governada por regras específicas e igualmente
mediante um conteúdo específico. Todavia, nesta
imutáveis” (Silva, op.cit. p. 208).
mesma obra, Horácio defende a existência de um
A regra da unidade de tom começa a ser
terceiro gênero: o lírico, presente em obras como
minada pelo aparecimento de novos gêneros, que
as Odes, do próprio Horácio, o Cancioneiro, de
negam os modelos e regras consideradas absolutas.
Petrarca as quais apresentam as reflexões do poeta.
Identificamos isso no Barroco que, além de conceber
A Epístola de Horácio assume uma posição de
o gênero como uma entidade histórica, passível de
destaque na evolução da concepção e classificação
evolução, admite a criação de novos gêneros, bem
de gênero, influenciando, assim, a Poética e a
como sua heterogeneidade.
Retórica dos séculos XVI, XVII e XVIII. Vemos que,
Inicia-se uma época de debate entre antigos
apesar do acréscimo do lírico na classificação dos
e modernos, isto, sobretudo, no século XVI e XVII,
gêneros, não se deixou de se seguir os preceitos
ao se reconhecer uma evolução nos costumes, nas
da concepção clássica de que um gênero se difere
crenças, na organização social. As lições dos clássicos
do outro pela forma, conteúdo e pela hierarquia. A
não representam, para os modernos, preceitos
epopéia seria a expressão eloquente do heroísmo e é,
válidos atemporalmente.
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No século XVIII, há um retorno muito forte ao
Inúmeros autores se ocuparam desta matéria,
ideal clássico através das correntes neoclássicas e
sem que, contudo, o problema da classificação dos
árcades, porém o relativismo dos valores estéticos
gêneros fosse resolvido:
aparecia nas obras que despontavam, ou seja, as
Hegel
(apud
Silva,
op.cit.)
reestrutura
a
obras deste século já não possuíam o estatuto de
tripartição platônica: lírica, épica e dramática, através
realizações supremas dos gêneros clássicos.
da relação dialética entre sujeito-objeto: a lírica seria o gênero subjetivo; a épica, o gênero objetivo; e a
Ainda no século XVIII, surge um movimento germânico conhecido como Sturm und Drang que,
dramática, o subjetivo- objetivo.
ditado pela ânsia de liberdade, rebela-se totalmente
Na França, Boileau, segundo Silva ( op.cit),
contra a teoria clássica dos gêneros e das suas regras.
apresenta a seguinte tipologia: a pastoral, a elegia,
Este
movimento
pré-romântico
prega
a
a ode, o epigrama, a sátira, a tragédia, a comédia e
individualidade e a autonomia de cada obra
a épica, porém sem definir a base dessa tipologia,
literária, e considera descabida a partição dentro
apresenta um sistema de gêneros definitivamente
de uma atividade criadora única, condenando,
estabelecido. Lessing, por sua vez, opondo-se a
assim, a existência dos gêneros. Tal atitude não foi
Boileau, (TODOROV, op.cit. p. 36-37), afirma que
aceita de todo pelos românticos, que reconheciam
o sistema dos gêneros é aberto, não pré-existe
a multiplicidade e diversidade dos gêneros, mesmo
necessariamente à obra e que um gênero pode
afirmando o caráter absoluto da arte.
surgir ao mesmo tempo em que uma obra.
Ainda conforme Silva (op. cit.), foram
Para Victor Hugo (Silva, op.cit.), os gêneros estão
estabelecidas novas teorias dos gêneros a partir
associados a estágios por que passa a humanidade:
dos românticos que não se fundamentavam mais
o lírico é a infância, o épico é a fase viril e da luta,
unicamente em elementos externos e formalistas,
o dramático corporifica os tempos modernos,
mas, sim, em elementos intrínsecos e filosóficos.
pintando o homem nas grandezas e nas misérias
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da sua humanidade. No drama está a tragédia, a
exemplo nos é dado ainda por Peixoto (1932), que ao
comédia, a ode, a epopéia, havendo uma mistura
fazer um breve passeio na classificação dos gêneros
de gêneros, onde residem a verdade e a beleza, ou
ao longo do tempo, frisou que Os Sertões, de
seja, Victor Hugo descarta a pureza dos gêneros.
Euclides da Cunha não tem classificação precisa na
A mistura de gêneros se revela no teatro e em
Retórica tampouco na Poética. Todavia, atualmente,
outras formas literárias, dificultando ainda mais a
vemos esta obra receber a classificação de livro-
classificação das obras por gênero. Um exemplo
reportagem no contexto jornalístico 1.
apresentado por Silva (op.cit. p. 215) que ilustra essa
Wellek e Warren (op.cit. p. 296-7), ao confrontar
dificuldade é o de Alexandre Herculano que, ciente
a teoria dos gêneros na era clássica e na era
da heterogeneidade dos gêneros, escreve em nota
moderna, nos dizem que há diferenças distintivas,
final de sua obra Eurico, o presbítero : “Sou eu o
nessas teorias, que devem ser observadas.
primeiro que não sei classificar este livro”. Outro
A teoria clássica é normativa e prescritiva embora as suas ‘regras’ não contenham o ridículo autoritarismo que tantas vezes lhe é atribuído. A teoria clássica acredita não só que cada gênero difere dos outros quanto à natureza e ao prestígio, mas também, que os gêneros devem ser mantidos separados, que não deve ser permitida a sua miscigenação É esta a famosa doutrina da ‘pureza dos gêneros’, do ‘genre tranché’”.
exemplo, mais recente, dessa dificuldade de se classificar uma obra por gênero é mencionado em Proença (1955), quando Mário de Andrade classifica Macunaíma, primeiramente, como “história”, e, depois, a chama de “rapsódia”, por apresentar, como as rapsódias musicais, uma variedade de
Já a teoria moderna dos gêneros, cujos
motivos populares. Mas, alguns anos depois, essa
primeiros passos foram dados pelos românticos,
obra concorre como “romance” em um concurso
“é claramente descritiva. Não limita o número
literário. O que não foi contestado pelo autor da
das espécies possíveis e não prescreve regras aos
obra, uma vez que, um romance, no sentido antigo, é visto como vida e façanhas de um herói. Um outro Capa
Sumário
1 Ver a obra: Páginas Ampliadas, de Edvaldo Pereira Lima, 1993.
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Referências
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Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau
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autores. Admite que as espécies tradicionais possam
teoria de Brunetière, dependeriam da aproximação
‘misturar-se’ e produzir uma espécie nova (como a
ou do afastamento da obra relativa à essência de
tragicomédia)”.
um gênero e como dependente do lugar ocupado
Poderíamos dizer, então, que os sinais de
pela obra na evolução do mesmo gênero.
modernidade residiam no fato de não se obedecer à
A teoria de Brunetière foi contestada, por sua
separação dos gêneros proposta pelos clássicos. Não
vez, por Croce (1997) que concebe a arte como
há, por parte dos modernos, uma preocupação em
resultado de um conhecimento intuitivo, oposto
distinguir os gêneros, há sim um interesse centrado
ao conhecimento lógico, denominada de “forma
no caráter único de cada gênero, de cada obra.
auroral do conhecimento”. Para Croce, a obra poética
Desta forma, segue a polêmica em torno dos
seria una e indivisível, porque cada expressão é uma
gêneros, despertando a curiosidade de estudiosos
expressão única. Croce não concebe os gêneros
como Brunetière, segundo Silva (op.cit.), crítico e
como entidades existentes e normativas e vê a
professor, que no final do século XIX, influenciado
teoria dos gêneros como uma busca para saber,
pela doutrina clássica e seduzido pela teoria
apenas, se a obra está composta segundo as leis
evolucionista de Darwin, concebe os gêneros como
do poema épico, ou da tragédia, esquecendo-se de
entidades existentes: que nasce, desenvolve-se,
procurar saber se ela (a obra) é expressiva caso seja
envelhece e morre ou se transforma. Para ilustrar,
o que ela exprime. Por outro lado, este autor admite
citamos o exemplo citado por Silva (op.cit. p. 216)
o estudo dos gêneros como instrumento útil para a
da Tragédia francesa que surgiu com o dramaturgo
história literária, cultural e social. Na visão de Croce,
Jodelle, alcança a maturidade com Corneille, entra
a doutrina clássica dos gêneros substitui a conceito
em declínio com Voltaire e desaparece antes do
de beleza, critério legítimo da valoração estética,
nascimento de Victor Hugo.
pelo conceito de subordinação e de obediência a
O valor e a importância da obra, segundo a Capa
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este ou aquele gênero. Isso, conforme Silva (op.cit.), eLivre
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não glorifica Croce que impõem uma doutrina não
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Staiger, citado por Silva (op. cit. p.223), mostra
menos radical.
um caminho seguro no estudo dos gêneros ao
Kayser (1968), por sua vez, considera o gênero
condenar uma poética “apriorística e anti-histórica”
como entidade normativa e como critério de valor,
e frisa a necessidade de a Poética se apoiar na
afirmando que o conteúdo, as ideias e o estético de
história, na tradição formal concreta. Ele retoma
uma obra somente poderão ser compreendidos a
a tradicional tripartição de Platão - lírico, épico e
partir da noção de gênero. Para esse autor, o gênero
drama -, reformulando-a e substituindo estas formas
representa uma entidade fechada e abstrata, dentro
substantivas, por conceitos estilísticos de: lírico,
da qual se estabelecem subespécies arbitrárias;
épico, e dramático. Tais termos, até hoje, fazem parte
não reconhece a legitimidade de uma obra que
da ciência literária e representam as possibilidades
não respeite as normas fixadas. Essa visão também
fundamentais da existência humana: existe uma lírica,
é por demais radical, segundo Silva, porque nega
uma épica e uma dramática que se caracterizam
qualquer possibilidade de fundamentar o gênero
respectivamente pela recordação, observação e
literário na realidade da própria obra.
expectativa. Essas características conexionam-se
Para Silva (op.cit. p.222), “cada gênero representa
com a tridimensionalidade do termo existencial: a
um domínio particular da experiência humana”. A
recordação implica o passado, a observação trata do
tragédia e a comédia ocupam-se de elementos e
presente, a expectativa profetiza o futuro.
problemas muito diversos da existência humana.
Lukács (apud Silva, op.cit.) interessa-se pela
Há em cada gênero, uma técnica e uma estilística
problemática dos gêneros e, inspirado na estética
própria, intimamente, conjugadas com a visão
hegeliana, estabelece distinções entre vários gêneros,
própria do mundo, sem que com isso os gêneros
sobretudo, entre o romance e o drama. Para esse crítico,
devam passar a ser compreendidos como entidades
a distinção entre os gêneros deve corresponder a visões
fechadas e incomunicáveis entre si.
diferentes da realidade, o que implica necessariamente
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na diversidade de conteúdo e de forma, bem como de
que lhe são mais próximos do que qualquer outro
fatores de ordem histórico-social.
tipo de discurso literário e exemplifica comparando
Assegura Silva (op.cit), que a realidade concreta
certa poesia lírica à prece. Por fim, esse crítico
da literatura comprova que em nenhuma obra
sugere que seja feita uma Tipologia dos discursos
podem confluir diversos gêneros. O que se verifica é a
e não mais entre textos literários (e não-literários)
predominância de um deles. Os elementos genéricos
separadamente, e propõe, ainda, que a poética ceda
que fundamentam o gênero tanto pertencem ao
o seu lugar para a teoria do Discurso e para a análise
domínio da forma interna - visão específica do
de seus gêneros, pois:
mundo, tom, finalidade etc, - como ao domínio da
... a experiência literária não é senão a parte visível de um iceberg verbal: por baixo encontra-se o domínio subliminar das reações retóricas que a publicidade, os preconceitos sociais e a conversa cotidiana suscitam, essas reações permanecem inacessíveis à literatura enquanto tal, mesmo que esta seja do nível mais popular como no cinema, na televisão ou nas histórias em quadrinhos (op. cit. p. 23).
forma externa - caracteres estruturais estilísticos. As ideias de Silva comungam com a visão de Wellek e Warren (op.cit, p. 293) que concebem o gênero “como um agrupamento de obras literárias, teoricamente baseada tanto na forma exterior (metro e estrutura específicos) como também na forma interior (atitude, tom, finalidade – mais
Isso nos leva a crer que há, como pudemos
grosseiramente, sujeito e público)”.
observar acima, diversas formas de se caracterizar
Todorov (1986), por sua vez, propõe uma
os gêneros, diversas abordagens a respeito desse
moderna Poética, partindo de um conceito de
tema, pontos que convergem e pontos que
gênero literário mais voltado para obras, épocas e
divergem, o que torna inviável uma visão unívoca
práticas sociais. Contesta a existência de um discurso
sobre os gêneros nos estudos feitos até então na
literário homogêneo quando diz que o discurso
Literatura.
qualificado de literário tem parentes não-literários Capa
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1.2 Os gêneros na Retórica: ênfase à natureza verbal
cidadãos, preocupa-se apenas com o que é belo ou
do enunciado e a seus princípios constitutivos
feio, e ocorre em lugares, normalmente, públicos para espectadores públicos.
Aristóteles em sua obra A Retórica e teóricos
Contrariamente
aos
debates
políticos
e
dos gêneros de diversas épocas que se inspiraram
judiciários, verdadeiros combates em que se procura
nessa obra reconhecem três tipos de gêneros,
adesão de um auditório, o gênero epidíctico - que
definidos pelos ouvintes, pelas finalidades e
tem como um dos fundadores, Górgias, conhecido
pelas circunstâncias em que são pronunciados:
por sua eloquência - era, na Grécia, uma atração
deliberativo, judiciário e epidíctico. Por que
nas festas em que se reuniam os habitantes de uma
essa tricotomia? Aristóteles responde, na sua
cidade ou de várias cidades-estados.
própria obra, que essa tricotomia se dá devido à
Segundo Perelmen (1996, p. 54), o gênero
existência de três espécies de auditório e é a partir
epidíctico parece pertencer mais à literatura do
da necessidade de adaptar-se a esses auditórios
que a argumentação. Reboul (1998), por sua vez,
que os gêneros são especificados, pois não nos
nos diz que esse gênero lembra mais uma prática
dirigimos da mesma forma a pessoas diferentes,
pedagógica ou religiosa por apresentar um cunho
sobretudo, após analisarmos os papéis que elas
mais de ensinamento, orientação, tal qual ocorre
representam.
nas pregações religiosas.
No gênero deliberativo, o orador se propõe
É interessante observar que as relações e
a atingir o auditório, no caso a assembléia,
delimitações entre os gêneros da Retórica e da
aconselhando o útil, o melhor; no judiciário, o
Poética jamais ficaram claras. A Retórica apresenta
orador acusa ou se defende pleiteando o justo e
limitações desde a sua origem e é conhecida como
tem como auditório o tribunal; e, no epidíctico, trata
uma teoria de produção e não de interpretação,
do elogio ou da repreensão, versa sobre os atos dos
sendo mais normativa que descritiva.
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Bahktin (2000, p. 280), ao confrontar os gêneros
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essas pesquisas estiveram sempre divorciadas das
literários com os retóricos, diz que estes dão mais
situações de comunicação verbal.
atenção “à natureza verbal do enunciado e a seus precipícios constitutivos”, como: a relação com
1.3 Os gêneros na Linguística: estudo
o ouvinte, a influência deste sobre o enunciado,
dos discursos cotidianos
a conclusão verbal do enunciado. Porém, “a especificidade dos gêneros retóricos ( jurídicos,
De acordo com Bahktin (2000, p. 281), o
político) encobrem a natureza do enunciado”.
estudo dos gêneros na Linguística se fez a partir
No período latino, segundo Reboul (1998), os
de Saussure e seus seguidores conduziram a
gêneros retóricos se instalaram como disciplinas
definição correta da natureza linguística do
e tiveram como grandes representantes Cícero
enunciado por se limitarem a pôr em evidência a
e Quintiliano cujas obras constituem admiráveis
especificidade dos discursos cotidianos. A teoria
tratados de retórica baseados em suas práticas.
de Saussure privilegia o caráter formal e estrutural
Quintiliano, retomando as ideias de Cícero sobre o
da linguagem, embora reconheça a importância de
campo do ensino retórico, define a retórica como “a
considerações de natureza etimológica, histórica
arte de bem falar”. Porém o “bem” não tem sentido
e política da língua.
só estético, mas também moral.
O estruturalismo aproxima-se da Retórica no
Hoje, longe dos limites dos três gêneros retóricos
que se refere ao seu esforço de analisar e classificar
dos antigos, reconhecemos diversas formas modernas
as formas de fala e tentar tornar inteligível o mundo
de retóricas, tal qual a propaganda e a publicidade.
da linguagem.
Como percebemos, as diversas formas de
Para os estruturalistas, conforme Kuentz (apud
enunciações poéticas e retóricas foram objetos
Brandão, 2000), os gêneros são estruturas abstratas
de estudos e pesquisas durante séculos, mas
(modelos) suscetíveis de investimentos concretos
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que resultam em uma obra - realização de uma
literárias, correlacionando a lírica à primeira pessoa
estrutura abstrata. O objetivo dos estruturalistas
do singular do tempo presente; a épica, a terceira
é buscar modelos classificatórios abstratos com
pessoa do tempo passado; além das particularidades
efeitos normativos, não dando, assim, lugar ao
dos gêneros literários como a função poética que
heterogêneo, contextual e histórico.
predomina nesses tipos de gêneros em relação às
Os formalistas russos mostram-se conscientes
outras funções. Segundo Rastier (1989), o processo
das dificuldades de se impor uma classificação
de comunicação apresentado por esse linguista
lógica e firme dos gêneros e, ao mesmo tempo,
não inclui as condições sociais que determinam a
mostram-se atentos à variação dos textos, às
situação de comunicação, sendo, portanto, algo
oposições tipológicas enraizadas historicamente,
que deva ser considerado.
ao propor “... uma abordagem descritiva no estudo
Se classificarmos os textos exclusivamente em
dos gêneros e substituir a classificação lógica por
razão da função da linguagem que predomina em
uma classificação pragmática e utilitária levando
cada um deles, corremos o risco de não distinguirmos
unicamente em conta a distribuição do material nos
nem caracterizarmos devidamente a variedade de
quadros definidos” conforme declara Tomachevski,
textos informativos, literários, apelativos, expressivos
1965 (apud Brandão, op. cit, p. 21).
e argumentativos que circulam na sociedade, uma
O formalista Jakobson (1999) ultrapassa a análise
vez que os textos se configuram em diferentes formas
linguística fixada nas características estruturais ao
para manifestar as mesmas funções da linguagem e
privilegiar os aspectos funcionais de linguagem
os mesmos temas. Não se pode determinar a função
relacionando-os aos fatores constitutivos de todo
da linguagem em um texto sem o conhecimento
processo de comunicação. Esse linguista preocupa-
do tipo de discurso nele presente, e das práticas
se, também, em mostrar a correspondência entre a
sociais da qual ele resultou, isto é, não se concebe
estrutura gramatical fixa da linguagem e as espécies
os gêneros sem seu aspecto social.
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A noção de gênero para Aristóteles e seus
caracterizam por seu conteúdo temático, estilo e
sucessores aplicava-se apenas aos textos de valor
unidades composicionais – dimensões que refletem
social ou literário reconhecido. No decorrer do
a esfera social em que são produzidos e modificados.
século XX, essa noção começou a ser aplicada
Os gêneros do discurso apresentam uma
ao conjunto das produções verbais organizadas,
variedade infinita que vai sendo modificada
escritas ou orais, sobretudo a partir das obras de
e ampliada à medida que a própria esfera se
Bakhtin. Desta forma, qualquer texto observável
desenvolve e fica mais complexa.
pertence a um determinado gênero.
Diante da preocupação e dificuldade dos
Em suas obras, Marxismo e filosofia da
estudiosos da Literatura e da Linguística em
linguagem (1999) e Estética da criação verbal
classificar os gêneros, Bakhtin (2000 p. 281) nos
(2000),
da
diz que: “Não há razão para minimizar a extrema
linguagem de base marxista quando, ao se opor às
heterogeneidade dos gêneros do discurso e a
duas orientações do pensamento vigentes na época,
consequente dificuldade quando se trata de definir
o subjetivismo idealista e o objetivismo abstrato,
o caráter genérico do enunciado”.
Bakhtin
desenvolve
uma
filosofia
expõe a existência do caráter sócio-histórico da linguagem,
considerando
o
enunciado
Diante essa situação, Bakhtin propõe o
como
estudo e a compreensão dos gêneros mediante a
produto de uma interação verbal.
definição destes e sua classificação em “primários”
Para Bakhtin (1999), qualquer enunciado está
e “secundários”.
ligado a uma situação material concreta, bem como a
Os gêneros secundários, segundo Bakhtin,
uma esfera mais ampla que constitui o conjunto das
resultam de uma comunicação cultural mais
condições de vida de uma comunidade linguística.
complexa, geralmente escrita, e mais evoluída,
Cada esfera elabora “tipos relativamente estáveis
composta da absorção e transmutação dos gêneros
de enunciados”, isto é, gêneros do discurso, que se
primários que, por sua vez, apresentam uma relação
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imediata com as situações nas quais são produzidas.
enunciados (que incluem as obras literárias), estão repletos de palavras dos outros, caracterizadas, em graus variáveis pela alteridade ou pela assimilação, caracterizadas, também em graus variáveis, por um emprego consciente e decalcado”. (2000, p. 313314).
A análise e distinção desses gêneros para Bakhtin são de grande importância para o estudo linguístico de forma geral, por favorecer a compreensão da natureza do enunciado. Nas suas próprias palavras:
O estudo dos gêneros sob a ótica do discurso já havia sido enunciado por Bakhtin/Volochínov
Ignorar a natureza do enunciado e as particularidades de gênero que assinalam a variedade do discurso em qualquer área do estudo linguístico leva ao formalismo e à abstração, desvirtua a historicidade do estudo, enfraquece o vínculo existente entre a língua e a vida. A língua penetra na vida através dos enunciados concretos que a realizam, e é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua. (idem, 2000, p. 282).
(1999, p. 124) mesmo antes de ser estabelecido na obra Estética da criação verbal (2000), quando esse teórico indicou uma ordem metodológica para o estudo da “língua viva”, que se dá em situações históricas: 1)
Além do aspecto sócio-histórico do gênero,
em que se realizam.
na interação verbal:
2)
As
formas
das
distintas
enunciações, dos atos de fala isolados, das
... a experiência verbal individual do homem toma forma e evolui sob o efeito da interação contínua e permanente com os enunciados individuais do outro. É uma experiência que se pode, em certa medida, definir como um processo de assimilação, mas ou menos criativo, das palavras do outro (e não das palavras da língua). Nosso fala, isto é, nossos
Sumário
As formas e tipos de interação
verbal em ligação com as condições concretas
Bakhtin enfatiza o aspecto dialógico da linguagem
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categorias de atos de fala na vida e na criação ideológica que se prestam a uma determinação pela interação verbal. 3)
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A partir daí, o exame das formas
Referências
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da língua na sua interpretação linguística
resultam, portanto, do uso comunicativo: quando os
habitual.
indivíduos se comunicam, trocam palavras, orações, traçam enunciados, produto de uma enunciação que
Para Furlanetto (1998), no item 1, Bakhtin faz
se constitui com recursos formais da língua (gramática
referência direta aos gêneros como: “formas e tipos
e léxico), e também com recursos extralinguísticos:
de interação verbal” sempre relacionando-os com
as formas de língua e os tipos de enunciados até as
as condições concretas de sua realização verbal e
formas gramaticais (sintaxe). Os gêneros nos fazem
social, o que seria em Bakhtin (2000): “as esferas de
ver a própria essência do enunciado, o “quer-dizer”,
atividades humanas”. Cada esfera elabora seus tipos
o “intuito discursivo”, determinando os limites dos
e formas de enunciados, os gêneros. No item 2, é feita
enunciados, nas trocas de falantes e que, por sua
referência às unidades que classificam os gêneros em
vez, determina, também, a escolha dos gêneros que,
primários e secundários: “categorias de atos de fala na
por serem criados com propósitos comunicativos
vida e na criação ideológica”. E, no terceiro e último
específicos, podem ser agrupados e estudados.
item, é feita a sugestão de se trabalhar, após os itens
Assim, esse autor sugere que se faça o estudo
anteriores, as formas de língua na sua interpretação
da linguagem pelas manifestações materiais nas
linguística habitual, isto é, estrutural.
comunidades por meio dos gêneros. Esses estudos
A teoria dos gêneros, elaborada por Bakhtin
começaram a se concretizar. É o que veremos na
(2000), sugere como ponto de partida o estudo da
parte que segue.
natureza do enunciado nas esferas de comunicação em situações concretas de produção, pois não se pode falar em gêneros, na concepção bahktiniana sem pensar na esfera de atividades em que eles se constituem e atuam. Os gêneros, para Bakhtin, Capa
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alguns desses pesquisadores citados que, como já foi dito, apresentam, como embasamento teórico, a teoria dos gêneros de Bakhtin. É bom não perder de vista, como nos alerta Marcuschi (2000, p.23), que a intenção 2 DESDOBRAMENTO DA CONCEPÇÃO DE
maior de Bakhtin é “balisar uma concepção de gênero
GÊNERO: CLASSIFICAÇÃO E ASPECTOS SÓCIO-
no contexto de uma visão de discurso voltada para
HISTÓRICOS
atividades enunciativas em processos interativos”. Pensando no texto em sua função enunciativa e nos gêneros como ferramenta de ensino
Os desdobramentos teóricos das proposições
aprendizagem,
pesquisadores
franceses
e
bakhtinianas de interacionismo da linguagem e seus
genebrinos mencionados debruçaram-se sobre a
aspectos sócio-históricos, bem como, a concepção
teoria de Bakhtin e classificaram os textos de acordo
de gêneros de discurso encontram, na atualidade,
com suas características sócio-interativas. Alguns
considerável expressão nos estudos desenvolvidos por
chegam a abandonar a noção tradicional de tipo de
franceses e genebrinos, sobretudo, nos trabalhos de
texto em favor da de gêneros.
Adam (1992), Bronckart (1999), François (1998) Dolz e Schneuwly (1996) e aqui no Brasil, nos trabalhos de
2.1 Adam: sequências textuais
Rojo (1998) Brandão (2000), Meurer (2000) e Carneiro (1997), Marcuschi (2000) e Bezerra (2000), muitos
Adam
(1992),
ao
estudar
a
natureza
desses, voltados para a perspectiva educacional,
composicional heterogênea da linguagem, volta-
gerando novas abordagens no estudo dos textos.
se para as reflexões de Bakhtin (2000), quando este
Neste sentido apontaremos algumas linhas
estende os limites da competência linguísticos dos
teóricas de investigação linguística devolvidas por
sujeitos para além da palavra, da frase, em direção
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aos gêneros - denominados de “sintaxe das grandes
dialogal; podendo, ainda, combina-se, um único
massas verbais”. Os gêneros correspondem a todo o
texto, duas ou mais sequências prototípicas.
fazer discursivo para os quais somos, desde a mais
Esse trabalho de Adam é importante em termos
tenra infância, sensíveis e que, sem sua existência,
didáticos por sugerir uma nova tipologia, roubando
seria impossível a troca verbal.
a cena da tipologia tradicional (narração, descrição e
Sobre essa hipótese bakhtiniana, Adam (op.
dissertação) que se encontra obsoleta e não atende
cit.) desenvolve sua teoria de que as formas mais
mais às condições de estudo de textos da nossa época.
elaboradas e complexas de enunciados (gêneros
Vale salientar, porém, que essa tipologia de Adam
secundários) se fundam sobre um certo número de
(op.cit. p. 06) não leva em conta certos aspectos da
formas elementares (formas prototípicas), Porém,
caracterização como inserção social e histórica, pois
Adam não desenvolve sua teoria em direção ao
essa tem como objetivo teorizar de forma unificada a
campo sócio - linguístico dos gêneros do discurso,
heterogeneidade composicional dos discursos.
e sim em direção “ao mais estritamente linguístico
Após apresentar a teoria de Adam e sua
da textualidade” (Brandão, op.cit. p. 28), refletindo
classificação textual, Brandão (op.cit. p.39) propõe
sobre certas categorias que estão na base de
que o professor atrele essa classificação ao conceito
qualquer composição textual. Desta forma, esse
de gênero bakhtiniano, para “apreender na forma
linguista monta uma tipologia de base, estruturas
de textualização dos gêneros, a sua materialidade
sequenciais prototípicas do texto. Para isso, opera
linguística”, o que caracteriza
com uma definição de texto como objeto composto
diferentes gêneros textuais aos quais os alunos
de sequências.
são expostos no seu cotidiano. Já Bezerra (2000 e
e identifica os
Em sua teoria, Adam propõe a existência de
2001) elege a tipologia de Adam juntamente como
cinco tipos básicos de sequências prototípicas:
o conceito de gênero de Bakhtin para desenvolver
narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e
análises nos livros didáticos.
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2. 2 Bronckart: a Linguística e seus aspectos sócio-
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55
Nesse seu trabalho, Bronckart se propõe, ainda,
interacionais
a abordar as condições de produção dos textos, a problemática da sua classificação e as opções
Bronckart (1999), ao ver a linguagem tanto nos
em que baseia seu funcionamento, analisando a
seus aspectos sociais como interacionais, defende
arquitetura interna dos textos sem perder de vista as
uma versão mais específica do sócio-interacionismo,
suas condições externas de produção. E preconiza,
denominado de interacionismo sócio-discursivo.
também, uma tipologia resultante da análise das
Essa versão apresenta como base teórica, a obra
capacidades e heterogeneidades fundamentais das
de Vygotsky e de Bakhtin. Esse casamento de
manifestações da linguagem.
teorias se deu, sobretudo, porque Vygotsky atribui
Para desenvolver a sua teoria, Bronckart
à linguagem, uma ação, uma atividade social,
reelabora vários conceitos: sob o ponto de vista
porém, considera, apenas, a palavra, como unidade
de que textos são formas de realização empíricas
verbal, não identifica as unidades verbais maiores,
diversas. Como entidade geral, “a noção de texto
os gêneros do discurso, que Bakhtin, por sua vez,
pode ser aplicada a toda e qualquer produção de
visualiza e descreve em sua obra. Essas unidades
linguagem situada, oral ou escrita”.(op.cit. p. 71), não
verbais maiores correspondem, mais claramente,
importando o tamanho do texto, porém considera
às atividades, propriamente ditas, de linguagem
os mecanismos de textualização e enunciativos
e ações verbais como atividades sociais, produtos
destinados a conferir a coerência interna.
da interação social (do uso). Convém lembrar que
Por serem produtos de atividade humana, os textos
são dessas unidades maiores que se constroem
“estão articulados às necessidades, aos interesses e às
os mundos representados, definidos no contexto
condições de funcionamento das formações no seio
das atividades humanas que estão em constante
das quais são produzidos” (Idem, 72).
transformação. Capa
Para Bronckart, o uso verbal é o produto de Sumário
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interações linguajares. As intenções se concretizam funcionamento de cada tipo de discurso que se realiza a articulação sutil entre parâmetros da comunicação
Bronckart aponta ainda, como outra dificuldade
e parâmetros da referencialização, dotando cada
de classificação dos gêneros, o caráter histórico
unidade linguística de sua significação.
(e adaptativo) das produções textuais: os gêneros
Diante de diversidade de tipos de textos,
desaparecem e reaparecem sob formas diferentes
surge o conceito de gêneros, ou melhor, gêneros
ou surgem novos gêneros, em suma, os gêneros
de texto, em vez de gêneros do discurso, uma vez
estão em “constante movimento”.
que todo texto se inscreve em um conjunto de
O critério que poderia ser mais objetivo na
textos ou gêneros de textos. Devido à sua relação
classificação dos gêneros, para esse pesquisador,
com as atividades humanas, os gêneros textuais são
seria o das “unidades” e das “regras linguísticas
múltiplos e infinitos, gerando diversas classificações,
específicas” que mobilizam os gêneros. Porém
muitas vezes divergentes e parciais.
a aplicação desse critério é comprometida por
A problemática de classificação dos gêneros
um texto pertencente a um mesmo gênero ser
dá-se devido à diversidade de critérios utilizados na
composto por vários segmentos distintos, que por
classificação. Eis alguns enumerados por Bronckart:
sua vez podem ser identificados e estudados com base nas unidades e regras linguísticas.
critérios referentes ao tipo de atividade humana implicada (gêneros literários, científicos, jornalísticos, etc); critérios centrados no efeito comunicativo visado (gêneros épicos, poéticos, líricos, miméticos, etc.); critérios referentes ao tamanho e/ou à natureza do suporte utilizado (romance, novela, artigo de jornal, reportagem, etc.); critérios referentes ao
Sumário
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conteúdo temático abordado (ficção científica, romance policial, receita de cozinha, etc) (idem, p. 73).
em discurso de diversos tipos. É no quadro do
Capa
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Concluímos, portanto, que, para Bronckart, um gênero não pode ser definido apenas por critérios linguísticos, no entanto, esses critérios podem definir os segmentos que compõem um gênero
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e favorece o agrupamento desses. Os segmentos
suas condições de enunciação e por suas condições
que entram na composição de um gênero foram
históricas de aparição. Para François, a noção de
chamados, por Bronckart (idem, p.77), de tipos
gênero é a que mais caracteriza a linguagem e
de discurso porque os gêneros resultam de uma
permite um número aberto de formas de significar.
forma discursiva que apresenta regularidade de
Podemos distinguir, segundo ele, os gêneros
estruturas linguísticas pertencentes ao domínio
por suas condições de enunciação-recepção,
dos tipos. Se, por outro lado, a produção de um
pelo corpus definido formalmente e por suas
texto delimita-se em modelos sociais dos gêneros
modalidades de releitura. Para clarear sua visão,
e dos tipos, ela também se alicerça em decisões
esse pesquisador nos dá, como exemplo, a Bíblia,
relativas que conferem ao texto um estilo próprio,
que apresenta o mesmo corpus formal, porém o
resultando na variação de textos (textos empíricos).
texto não é o mesmo, devido às diversas leituras
Isto, resumidamente, seria uma unidade concreta
feitas em várias épocas.
pertencente a um gênero composta por vários tipos
Há, ainda, segundo François, sistemas de
de discurso e marcadas por decisões do produtor
definição de gêneros, produzidos a partir de certas
em situação de comunicação.
condições sociais, precisas, mais ou menos, pelas marcas linguísticas da formação global do texto
2.3 François: gêneros, condições sociais e marcas
como, por exemplo, a tricotomia: épico, lírico e
linguísticas
dramático. Ao abordar a classificação dos gêneros
François (1999) comunga com outros linguistas
elaborada por vários linguistas, François nos diz que
e teóricos da literatura quando diz que a noção de
essas pecam por duas razões: primeiro, por suporem
gêneros não é clara nem desprovida de polêmica.
que a classificação é o máximo da elucidação e;
Os gêneros, para esse linguista, se definem por
segundo, por pensarem que classificam os gêneros.
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Porém a grande questão das classificações, levantada
ideológicos, fragmentos de discursos que compõem
por François (op.cit. p.108), refere-se às lacunas que
a ideologia do cotidiano.
nelas existem: 2.4 Marcuschi: os gêneros no contexto linguístico
Um texto, classificado em um gênero não se reduz ao que é dito nessa classificação. No interior de cada gênero, pode-se sempre encontrar aspectos da narração, da argumentação, do questionamento... que não facilitam, certamente, a arrumação em classes.
Marcuschi, em suas pesquisas, evidencia a presença marcante da questão dos gêneros textuais nas obras linguísticas nos últimos tempos, sobretudo, relacionada com o ensino de línguas (Schneuwly,
François afirma, também, que uma classificação
Bronckart), uma vez que “o ensino baseado nos
dos gêneros não pode se fundar sobre um só critério.
gêneros promete um aprendizado mais consistente
Fixar os gêneros não deve ser visto como um fim
e adequado” (2000, p. 2).
em si mesmo, mas como colocar em evidência suas
Ao abordar o estudo dos gêneros no contexto
realizações e/ou sua recepções; isto implica levar
linguístico, Marcuschi cita Swales, quando este
em conta o outro, o interlocutor, suas leituras e as
afirma que o termo gênero refere-se a uma categoria
diferentes maneiras que um texto pode agir sobre
distintiva de discursos de qualquer tipo seja falado
ele e que o faz agir.
seja escrito, com ou sem aspirações literárias.
Ao referir-se a teoria dos gêneros em Bakhtin,
A noção de gênero na Linguística, para
precisamente na oposição entre gêneros primários
Marcuschi, é controversa e polêmica, uma vez que
e secundários, François mostra que os gêneros
muitos linguistas não apresentam uma definição
secundários só têm sentido no circuito social que
precisa desse termo nem de termos com o qual ele
os constituem, nas relações da vida cotidiana
se assemelha, como tipo e formas de composição.
dos enunciados religiosos, científicos, políticos, Capa
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Preocupado como a imprecisão do termo eLivre
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gênero e com suas diversas classificações, Marcuschi
as querelas teóricas entre texto e discurso”, sugere
propõe fazer uma revisão das posições mais
gêneros comunicativos, ao considerar os aspectos
proveitosas sobre o tema, bem como, uma nova
sócio-comunicativos.
proposta de tratamento desse. Distinguindo
‘classificação’
Uma outra proposição relevante em Marcuschi de
‘tipologia’,
(idem. p.10) é a classificação conjunta e contínua da
Marcuschi afirma que as tentativas de classificação
produção textual na fala e na escrita, estabelecida, no
conduzem a uma diversidade de tipologia e que a
entanto, a partir da observação de alguns aspectos
única distinção que se evidencia claramente é entre
teóricos e de critérios adequados. O básico seria
a teoria de tipos textuais, consensual entre vários
não perder de vista a “concepção sócio-interativa
linguistas, chegam de 5 a 10 tipos, quase sempre
da língua” e a noção de texto “enquanto fenômeno
de caráter formal e abstrato; e, a investigação dos
empiricamente realizado nos discursos cotidianos”.
gêneros textuais que são agrupamentos por critérios
Quanto à diferença entre tipos textuais e gêneros
os mais diversos, que, ao mesmo tempo em que
textuais, Marcuschi (idem, p. 12-3) diz que os gêneros
classifica os textos, os constituem.
textuais “são fenômenos bastante heterogêneos”;
Com relação à noção de gêneros textuais e
enquanto os tipos textuais “são construtos definidos
gêneros discursivos, Marcuschi (idem, p.7) estabelece
homogeneamente”, porém realizados em eventos
sua visão a respeito de cada um deles: gênero
heterogêneos e abrigados pelos gêneros. Como
textual, aspectos constitutivos de natureza empírica,
exemplo, cita o ‘telefonema’ que, apesar de ser um
seja intrínseco ou extrínseco e gênero discursivo,
evento linguístico claro e definido “sob o ponto
algo realizado na situação discursiva - porém ambas
de vista textual não é homogêneo”, ao envolver
as expressões se equivalem. Esse linguista admite
argumentações, narrações, descrições. Além disso,
preferir a noção de gêneros textuais por questão
Marcuschi, nos diz que a noção de telefonema
de “simetria terminológica”. E, ainda, para “eliminar
enquanto gênero, atualmente, não é mais tão
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clara assim; há muitos tipos de telefonemas, como:
Marcuschi apresenta, também, em seus escritos,
telefonema fonado, uma mensagem que uma pessoa
propostas de tipologia textual de vários linguistas
envia à outra através de um terceiro; o recado
sem pretensão exaustiva e ciente de que algumas
gravado, memorizado pela secretária eletrônica e
tipologias atuais foram excluídas.
outros tipos mais modernos de telefonemas que se
As tipologias apresentadas foram divididas em:
servem do computador e do celular.
as que os autores voltam-se quase que somente
Por meio das observações de Marcuschi (idem,
para textos escritos; para os que analisam os gêneros
p.15), que se baseia em Bakhtin, percebemos que
textuais; e, por último, os que contemplam a escrita
os gêneros são eventos sócio-historicamente
e a oralidade.
variáveis e que não podemos elaborar uma lista
Ao analisar a concepção de gêneros em Bahktin,
fixa desses eventos sem critérios pré-estabelecidos
Marcuschi diz que o linguista russo não se preocupa
e sem “uma matriz operacionalmente útil para
em classificar ou em estabelecer uma tipologia, mas
algum tipo de objetivo”. Cabe à Linguística dar
sim, em “visualizar uma concepção de gênero no
conta de todos esses eventos sócio-históricos:
contexto discursivo, nas atividades enunciativas em
sejam escritos, sejam orais.
processo”.
Comparando sempre tipos e gêneros, esse
Marcuschi vê os gêneros em Bahktin como
linguista, cita a distinção de Isenberg, entre tipos
resultado de “um uso comunicativo da língua na sua
textuais que são definidos com critérios internos e
realização dialógica” (idem, p.26). A importância
rigorosos, e gêneros textuais, fundados em critérios
do estudo dos gêneros estaria em flagrar “a
externos numerosos. E para distingui-los mais ainda,
própria essência do enunciado... como unidade
diz que “todos os tipos de textos são realizados
de diálogo”. Porém, “os gêneros não são só forma
em um ou outro gênero, mas que os gêneros não
enunciativa expressiva, e sim, um meio de construir
realizam tipos” (idem, p. 22).
o próprio interlocutor” (idem). As particularidades
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constitutivas resultantes das diversas formas típicas
Marcuschi, também, mostra-se preocupado
de dirigir-se a alguém e as diversas concepções
com a falta de consenso terminológico (tipos de
típicas, destinatários determinam a diversidade
texto, tipo de discursos, gêneros textuais, gêneros
dos gêneros do discurso na visão de Bakhtin
do discurso, classes de texto etc.) e com a falta de
apresentada por Marcuschi.
definições precisas para os termos empregados.
Na sua investigação no que tange aos gêneros
Como proposta para uma possível classificação, esse
textuais, Marcuschi ocupa-se da descrição de
autor propõe que se estabeleçam alguns critérios
rotinas comunicativas em situações sociais (como
como, por exemplo, de natureza linguística: traços
Swales, Bronckart, François). Não há o intuito de
linguísticos, funcionais (objetivos do texto, intenções
se estabelecer uma classificação propriamente
pretendidas etc.) e contextuais (produtores e suas
dita, todavia pode-se chegar a isto, segundo esse
relações, situação de produção, etc.); e, com bases
pesquisador, mediante a construção de matriz de
nestes critérios, sugere que se forme uma matriz de
traços que distribui os eventos analisados.
traços que determinem critérios de agrupamento de
A respeito dessa visão de Marcuschi, podemos
diversas formas dentro de um contínuo mais amplo
dizer que os gêneros constituem-se em um
e em várias ordens tipológicas que se encadeariam
fenômeno heterogêneo e isso é que impede de
no contínuo da produção textual 2.
se estabelecer uma tipologia coerente e unitária.
Esse linguista propõe, também, um novo termo:
Todavia, há gêneros bem-definidos, como a carta
“gêneros comunicativos”, em substituição a “gêneros
do leitor, editorial de jornal, receita de bolo, diário,
textuais”. E justifica, afirmando que os “Textos
bula de remédio, diário que preenchem, até mesmo,
são artefatos ou fenômenos que exorbitam suas
certas condições formais e não apenas sócio-
estruturas e só têm efeito se se situarem em algum
comunicativas, resultando em classificações de
2 Conforme o quadro, presente no trabalho intitulado Gêneros textuais: o que são e como se classificam? p.103.
gêneros por critérios múltiplos. Capa
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contexto comunicativo” (idem, p.64). A partir desta
no sentido vygotskiano do termo e tenta “retirar
justificativa, Marcuschi sugere essa nova expressão,
algumas lições desta concepção para pensar a
considerando-a mais adequada para o estudo dos
ontogênese da linguagem, na qual a dimensão leitura
gêneros no universo linguístico.
/escrita desempenha um papel central”. Porém essa dimensão linguística não foi abordada diretamente
2.5 Schneuwly e Dolz: gêneros como instrumento
por Vygotsky, mas sim, por Bakhtin. Desta forma,
de ensino e progressão didática
reinterpretando Bakhtin na sua distinção de gêneros primários e secundários, Schneuwly diz que os
Schneuwly e Dolz (1996), pesquisadores ligados
gêneros primários instrumentalizam a criação de
à Universidade de Genebra, vem trabalhado a noção
outros gêneros, tornam-se instrumentos de ação,
de Gênero do Discurso bahktiniana, voltada para o
que se complexificam, criando construções novas,
ensino e aprendizagem na produção escrita escolar
mais complexas, os gêneros secundários.
nos países francofônicos. O método desse trabalho
Em síntese, os gêneros secundários apóiam-se
consiste na adoção de procedimentos de leitura,
nos primários em sua elaboração, transformando-os
escrita e reflexões metalinguísticas, em que as
profundamente (Bahktin, 2000 e Schneuwly, 1996).
condições de interlocução são consideradas como
Os gêneros secundários, na visão de Schneuwly,
determinantes para o estudo da língua, colocando,
se definem pelos modos diversificados de referência
assim, os alunos “em situação de produção de
a um contexto, linguisticamente, criado; pelos
linguagem”, que vão além dos procedimentos usuais
modos de desdobramento; por sua gestão eficaz.
em que a língua apresenta-se em uma concepção
Há uma profunda continuidade, conforme nos disse
abstrata, como objeto de estudo em si mesma.
Marcuschi (op. cit.) e, ao mesmo tempo, uma ruptura
Schneuwly (1994) compreende os gêneros,
na passagem de um gênero primário para um
primeiramente, como um instrumento psicológico
secundário. Como esclarece Schneuwly (1994, p. 13):
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resultaria, segundo Schneuwly, em dois efeitos diferentes de aprendizagem: um seria a ampliação da capacidade linguístico-discursiva individual do usuário e, o outro, a ampliação do conhecimento a respeito do
Schneuwly propõe repensar a relação entre tipos
objeto sobre o qual o instrumento é utilizado.
e gêneros, mostrando a utilidade destas noções que
Para ilustrar, o pesquisador genebrino diz
colocam em discussão alguns dos problemas difíceis
que ao usarmos um machado, aprendemos não
de aquisição dos discursos subentendida no contexto
apenas como utilizá-lo cada vez melhor e com
escolar, na produção oral e escrita dos alunos.
intimidade, mas também passamos a conhecer
A pesquisa desse psicólogo e linguista
mais sobre a dureza da madeira. A apropriação dos
centra-se, sobretudo, no desenvolvimento da considerado
o
gêneros como “um processo de instrumentalização,
desenvolvimento
provoca novos conhecimentos e saberes, abre novas
infantil sobre o prisma dos gêneros, no contexto
possibilidades de ações, que sustenta e orienta estas
escolar, acentuadamente entre 9 – 10 anos. Mas, o
ações” (SCHNEUWLY, 1994, p. 3). Desta forma,
desenvolvimento da linguagem se constitui em um
essa apropriação dos gêneros não só amplia a
longo processo de reestruturação do sistema de
competência linguística e discursiva dos alunos,
produção de linguagem durante toda a escolaridade.
mas também, favorece-lhes, no que diz respeito a
Em suas pesquisas, Schneuwly propõe que
sua participação social, como cidadão.
compreendamos o gênero como um instrumento
Os gêneros textuais dos quais fazemos uso,
com o qual é possível exercer uma ação linguística
através de ações linguísticas cotidianas, nos foram
sobre a realidade, por definir o que é dizível, por ser
transmitidos sócio-historicamente. A escolha de
“um plano comunicacional”. Capa
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O uso dos gêneros como um instrumento
... a introdução do novo sistema, a aparição dos gêneros na criança, não é o ponto de chegada, mas o ponto de partida de um longo processo de reestruturação que, a seu fim, produzirá uma revolução nas operações de linguagem.
linguagem,
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um gênero se faz em função da definição dos eLivre
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parâmetros de situação que guiam as ações. É
os outros tipos de texto que circulam socialmente.
possível a transformação dos gêneros existentes
O importante nesta classificação, que será mostrada
em outros gêneros, ou mesmo a criação de outros
adiante, é permitir o estudo dos gêneros de forma
gêneros, conforme novas necessidades de interação
organizada e progressiva, contribuindo, como diz
verbal (Schneuwly, Bronckart, François, Marcuschi).
Rojo (1998), para apropriação por parte dos alunos das formas de dizer que circulam socialmente.
Assim, as ações linguísticas são orientadas por um conjunto de fatores que atuam no contexto
Aqui, no Brasil, vêm sendo desenvolvidos
situacional, como: quem são o locutor e o interlocutor?
projetos (Rojo, 1998; Brandão, 2000) que impulsionam
Qual é o objetivo do texto? Que gênero deve ser
e divulgam a adoção desta nova noção de gênero
utilizado para o êxito da comunicação? É preciso ter
para o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa
o conhecimento, seu controle, condições necessárias
- que já se encontra incorporada nos PCN, com o
para o estabelecimento da ação discursiva.
intuito de discutir e elaborar uma metodologia, um
Aprofundando-nos um pouco mais na pesquisa
programa e uma progressão do ensino de língua
do grupo de Genebra, vemos que estes visualizaram
baseada na perspectiva enunciativa dos Gêneros
os gêneros como um mega-instrumento, com uma
do Discurso e da aplicação dos gêneros como um
configuração estabilizada de vários sub-sistemas
mega-instrumento de ensino e aprendizagem.
semióticos linguísticos e paralinguísticos e, assim,
Com isso, serão prioridade no ensino de Língua
propusera o agrupamento dos gêneros, tendo como
Portuguesa, práticas de linguagem e situações de
base as finalidades sociais legadas ao ensino, bem
comunicação em toda sua complexidade, pois
como, respondendo às necessidades de linguagem
trabalhar o plano do conteúdo, compartilhar
em expressão escrita e oral no domínio da
algumas regras gramaticais comuns não vêm
comunicação. Pois não existe um tipo de texto que
garantindo
possibilite o ensino da leitura e da escrita de todos
produção textual por parte dos nossos alunos.
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eficientemente
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a
compreensão
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Para tanto, uma nova ordem está sendo gerada:
embora com graus diferentes de complexidade, foi
a ordem do Gênero do Discurso que, dentro de
permitido o agrupamento de gêneros.
uma Teoria da Enunciação, impulsionará o ensino-
Eis a classificação da equipe de Genebra:
aprendizagem de língua. O
agrupamento
dos
gêneros
Domínios sociais de comunicação
textuais,
desenvolvido pela equipe de Genebra, resulta de
ASPECTOS TIPOLÓGICOS Capacidades de Linguagem Dominantes
uma análise detalhada e consistente acerca dos gêneros textuais, em si, e de suas propriedades linguístico-discursivas,
bem
como,
de
Cultura literária ficcional
suas
NARRAR
aplicações educacionais e suas transposições didáticas. Trabalhando com os gêneros como
Mimesis da ação através da criação da intriga no domínio do verossímil
organizadores de progressões curriculares, Dolz & Schneuwly (apud Rojo, s.d. p. 3), apontam dois problemas que as aplicações educacionais devem levar em conta: a)
a enorme multiplicidade e variedade
Fábula Lenda Narrativa de aventura Narrativa de ficção científica Narrativa de enigma
Esquete ou história engraçada Crônica literária
escritos; e
Biografia romanceada Romance
a diferença de complexidade de um
Romance histórico
gênero a outro e as transversalidades, em nível
Novela fantástica
de semelhanças, que caracterizam certos gêneros
Conto Paródia
de um mesmo domínio social de comunicação.
Adivinha Piada
Partindo das semelhanças em situação de produção, Capa
Conto maravilhoso Conto de fadas
Narrativa mítica
de gêneros primários e secundários, orais e b)
EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS
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Referências
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Discussão de problemas sociais controversos Documentação e memorização das ações humanas
RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo
Relatos de experiência vivida Relatos de viagem
ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição
Diário íntimo Diário de viagem Testemunho Autobiografia ... Notícia Reportagem Crônica mundana Crítica esportiva ...
Transmissão e construção de saberes
Relatório
EXPOR
Relato histórico
Apresentação textual de diferentes formas dos saberes
Ensaio ou perfil biográfico Biografia Relatório científico Relato de experiências científicas Relatório de pesquisa
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Textos de opinião Diálogo argumentativo Carta de leitor Carta de reclamação Carta de reclamação Carta de solicitação Deliberação informal Debate regrado Editorial Discurso de defesa (direito) Requerimento Ensaio Resenhas críticas Artigo assinado ... Texto expositivo Conferencia Verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Texto explicativo Tomada de notas Resumo de notas Resumo de textos expositivos e explicativos Resenhas ...
Referências
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Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau Regulação de ações
DESCRIÇÕES DE AÇÕES Regulação mútua de comportamentos por meio da orientação (normativa prescritiva ou descritiva) para a ação
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b) Agrupamento da ordem do narrar: ligado
Instruções de uso Instruções de montagem Receita culinária Receita médica Bula de remédio Regulamento Regras de jogo Consignas diversas Textos prescritivos e normativos legais ...
ao domínio social da cultura literária ficcional, caracterizado pela mimesis da ação através da criação da intriga, domínio do verossímil. São os contos de fadas, as fábulas, lendas, ficção científica, romances etc. c) Agrupamento da ordem do argumentar: voltado à discussão dos problemas sociais, exige a sustentação, refutação e negociação de tomadas de
Ainda sujeito a modificações e sugestões, o
posição. São os diálogos argumentativos, as cartas
grupo sugeriu cinco agrupamentos, definidos pelo
de reclamação, editorial, ensaios argumentativos etc.
seu domínio social de comunicação, privilegiando determinados aspectos composicionais e temáticos
d) Agrupamento da ordem do expor: voltado
(aspectos tipológicos), como exigiria do enunciador
à transmissão e à construção de saberes, exige
certa capacidade de linguagem dominante (Rojo,
a apresentação textual de diferentes formas dos
1998). São eles:
saberes. São os textos expositivos, conferências, seminários, resenhas, artigos etc.
a) Agrupamento da ordem do relatar: voltado à documentação e memorização, exige uma
e) Agrupamento da ordem do descrever ações
representação pelo discurso de experiências vividas
(segundo Rojo seria do instruir e prescrever): voltado
situadas no tempo. São os diários íntimos, diários
às instruções e prescrições. São bulas, instruções de
de bordo, relatos de experiências vividas, biografias,
uso, instruções de montagem, receitas, regras de
crônicas etc.
jogo, regulamentos etc.
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Na opinião da equipe de Genebra, precisamente de Pasquier & Dolz (1996), todos os agrupamentos devem ser trabalhados em cada uma das séries escolares, variando apenas o grau de profundidade, num processo de ensino-aprendizagem “em espiral”, que consiste
3 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS,
basicamente na retomada, no aprofundamento e na
GÊNEROS TEXTUAIS E LIVRO DIDÁTICO
ampliação de cada gênero de acordo com a série e com o grau de maturidade do aluno.
3.1 Parâmetros Curriculares Nacionais: diretrizes
Visto estes pressupostos teóricos, o nosso
para o ensino de língua materna
próximo passo será observar a incorporação de algumas dessas novas perspectivas do estudo de
Os
PCNs,
documentos
publicados
pelo
língua nos PCN, bem como a participação do Livro
Ministério da Educação e Desporto em 1998, funda-
Didático no processo de ensino e aprendizagem.
se em concepções teóricas relativamente recentes e inovadoras, e representa, segundo Rojo (2000), um avanço nas políticas educacionais brasileiras ao indicar diretrizes curriculares para o Ensino Fundamental de modo a assegurar uma formação básica e não, como era de praxe, apresentar grades de objetivos e conteúdos curriculares pré-fixados. Nos PCN de Língua Portuguesa o avanço se deu na proposta de uma metodologia de enfoque enunciativo-discursivo em que as formas linguísticas não são mais trabalhadas em si mesmas, mas como
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pertencendo a um sistema sensível ao contexto
Portuguesa propõem a utilização dos gêneros
que se constrói historicamente na interação verbal.
como unidade básica organizadora do currículo
Nesse enfoque:
de Língua Portuguesa, na esfera de circulação escolar respaldado na teoria de Bakhtin/Volochínov
Interagir pela linguagem significa realizar uma atividade discursiva: dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico e em determinada circunstância de interlocução... (PCN, p. 20-21).
(1929/1999) e de Bakhtin (1953/2000), que não é mencionada de forma direta, segundo Rojo (2000), mas é claramente percebida pelas marcas linguísticodiscursivas.
Houve,
desta
forma,
uma
mudança
Os
de
de todos os gêneros é tarefa impossível. Desta forma
do homem em interação que, quando realizada, se
os PCN sugerem que alguns gêneros e textos sejam
manifesta linguisticamente por meio de textos.
priorizados pela escola:
O texto, como resultado de uma “atividade discursiva” está em contínua relação como outros
Os textos a serem selecionados são aqueles que, por sua característica e uso, podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada”. (Idem, p. 24).
textos (verbais e não verbais) e se organiza em função de suas intenções comunicativas dentro de um determinado gênero, “tipos relativamente estáveis de enunciados” historicamente determinado. concepções
de
língua, de texto, e de gênero, os PCN de Língua Capa
Sumário
e
dada uma situação de produção; por isso, o estudo
viva”, vista enquanto discurso, decorrente das ações
novas
riqueza
outros gêneros; e, ainda se permitirem permear
sistema abstrato, para uma concepção de “língua
dessas
uma
heterogeneidade, por serem esses permeados por
expressão do pensamento, ou mesmo como um
partir
apresentam
variedade infinita sendo também imensa a sua
concepção de língua que antes era vista como
A
gêneros
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Referências
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As diretrizes para a organização dos conteúdos
corresponde a restrições de conteúdo e forma
da Língua Portuguesa nos PCN se encontram
decorrentes da escolha dos gêneros e suportes;
distribuídas por dois eixos de práticas de linguagem:
e d) as implicações do contexto de produção de
“as práticas de uso da linguagem e as práticas de
significação que corresponde às representações
reflexão sobre a língua e a linguagem”, conforme o
dos interlocutores, a articulação entre texto e
diagrama seguinte:
contexto no processo de compreensão e as relações intertextuais. Nas práticas de leitura/escuta de textos e de produção de textos orais e escritos, o texto é visto, pelos PCN, como “unidade de ensino e os gêneros textuais como objetos de ensino”, pelo fato de os gêneros permitirem incluir aspectos de ordem
(Fonte: SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
da enunciação e do discurso, envolvendo todo o
ciclos: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF,1998, p. 35)
complexo processo de produção e compreensão de textos. Conforme Barbosa (2000, p.152):
Os conteúdos para as práticas do USO da linguagem conforme Rojo (2000) são enunciativos e
A noção de gênero permite incorporar “elementos da ordem do social e do histórico” (que aparecem na própria definição da noção); permite considerar a situação de produção de um dado discurso (quem fala, para quem, lugares sociais dos interlocutores, posicionamentos ideológicos, em que situação, em que momento histórico, em que veículo, com que objetivo, finalidade ou intenção, em que registro, etc.); abrange o “conteúdo temático” – o que pode ser dizível em um dado gênero, a
envolvem aspectos que caracterizam o processo de interlocução como: a) historicidade da linguagem e da língua; b)constituição do contexto de produção dos enunciados em leitura/escuta e produção de textos orais e escritos; c) as implicações do contexto de produção na organização dos discursos que Capa
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públicas considerados fundamentais para a efetiva
“construção composicional” – sua forma de dizer, sua organização que não é inventada a cada vez que nos comunicamos, mas que está disponível em circulação social – e seu “estilo verbal” – seleção de recursos disponibilizados pela língua, orientada pela posição enunciativa do produtor do texto.
participação na sociedade:
Já os conteúdos para as práticas do eixo da REFLEXÂO sobre a língua e a linguagem que corresponde à elaboração de ferramentas para a análise da linguagem em situações de interlocução, abrangem aspectos ligados à variação linguística; modalidades, variedades, registros; à organização estrutural dos enunciados; aos processos de construção da significação; ao léxico e a redes semânticas e aos modos de organização dos discursos em diversas situações de interação. Ambas as práticas têm como objetivo favorecer a competência discursiva do sujeito envolvido no processo de ensino e aprendizagem. Os PCN (1998, p. 53) trazem quadros nos quais são apresentados os gêneros que foram agrupados em função da presença desses no circuito de
(Fonte: SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998, p.54)
comunicação, principalmente aqueles das instâncias
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Nas estratégias de práticas de análise linguística destacou-se o reconhecimento dos diferentes gêneros, quanto ao conteúdo temático, construção composicional e ao estilo através do estudo do universo discursivo no qual o gênero textual ou o texto se insere considerando as intenções do enunciador, os interlocutores, os procedimentos narrativos, descritivos, expositivos, argumentativos, e conversacionais bem como a intertextualidade e as marcas linguísticas (Idem, p.59-60). Na perspectiva de um estudo tendo os gêneros como objetos de ensino em relação com os aspectos discursivos e linguísticos nas práticas de recepção e produção de linguagem, devem ser
(Fonte: SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
planejadas, segundo os PCN, situações didáticas de
ciclos: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF,1998, p. 57)
aprendizagem que visam aos objetivos de ensino, bem como, deve existir uma preocupação com a
Desta forma, em função de sua circulação
elaboração de materiais didáticos que viabilizem a
social, os gêneros foram agrupados em: literários,
implantação dos currículos resultados das diretrizes
de imprensa, publicitários e de divulgação científica.
propostas que sugerem a adoção de Organizações
Não descartam, porém, a possibilidade de que, em
Didáticas Especiais: projetos e módulos didáticos.
função de um projeto escolar ou da necessidade dos
O projeto visa a “um produto final em função
alunos, outras divisões sejam sugeridas e aplicadas.
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do qual todos trabalham e que terá necessariamente eLivre
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destinação, divulgação e circulação internamente
se das características discursivas e linguísticas,
na escola ou fora dela” (Idem, p. 87); ou seja,
dos gêneros estudados” (Idem, p. 88). Criam-se
uma circulação efetiva em revistas, jornais, livros,
condições pedagógicas próprias para a elaboração
panfletos – na escrita, e debates, peças, palestras
de atividades que enfatizam determinados gêneros e
seminários - na oralidade.
suas características, articuladas com as necessidades
Como destaca Rojo (2000), a partir dos próprios
dos alunos e das condições de ensino-aprendizagem.
PCN, há uma série de vantagens na organização
É importante frisar que o planejamento dos módulos
didática por projeto como: disponibilidade do tempo
e a organização de sequências didáticas parte do
de forma flexível, compromisso e engajamento dos
diagnóstico das capacidades iniciais dos alunos.
alunos com atividade e com a própria aprendizagem,
Em resumo e para finalizar, os aspectos aqui
inter-relação entre as práticas de uso da linguagem e
tratados dos PCN propõem a criação de condições
de reflexão sobre ela de forma contextualizada, além
para que o aluno, por meio de atividades de ensino e
do caráter interdisciplinar resultado da interseção
aprendizagem planejadas sob um movimento contínuo
com conteúdos e domínios diversos. Esse tipo de
de uso-reflexão-uso e uma concepção enunciativa-
modalidade didática cria condições favoráveis à
discursiva, alcance uma competência discursiva sob
interação verbal pela modalidade escrita e oral da
um repertório de gêneros que circulam socialmente
linguagem, não as descaracterizando enquanto
e que isso favoreça o “exercício efetivo da cidadania”
objeto de interação social.
e “participação plena no mundo letrado” (PCN, 1998).
O outro tratamento didático sugerido pelos
As atividades de uso-reflexão-uso da língua
PCN de Língua Portuguesa, módulos didáticos,
e a entrada no repertório dos textos que circulam
corresponde a “sequências de atividades, exercícios,
socialmente podem se dar por meio do livro didático
organizados de maneira gradual para permitir que
que se constitui atualmente no material de apoio
os alunos possam, progressivamente, apropriar-
mais utilizado em sala de aula.
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3. 2 Livro didático: fazer discursivo e ideológico
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inclusive,
compreender
sua
linguagem,
93 seu
funcionamento, e seus efeitos de sentido em sala de Estudos feitos no Brasil, como os de Coracini
aula; mas, ainda são poucos, diante da importância
(1999), Souza (1999), Marcuschi (2001), Soares
desses na educação do nosso país.
(2001) mostram que a análise do Livro Didático
O mercado editorial busca atrair os professores
(LD) se faz necessária, já que estes constituem, em
com o novo e assim novas teorias de ensino e
muitas escolas do nosso país, uma peça importante
aprendizagem são preconizadas nesses livros de
no ensino, o único material escrito que dá acesso ao
consumo nas escolas. Coracini (1999), com relação
conhecimento de mundo e linguístico por parte dos
ao novo no livro didático, parafraseando Foucault,
alunos e dos professores que nele buscam tanto
afirma que “o novo não está no que é dito, mas no
legitimação como apoio para as suas aulas.
acontecimento do seu retorno”. Ou seja, antigas
Segundo Coracini (op. cit. p.34) “ é voz corrente
teorias, com estudos recentes, encontram novos
e antiga que o LD constitui o centro do processo de
rumos, novas vozes. Um bom exemplo ocorre com
ensino- aprendizagem em todos os graus de ensino,
os Gêneros do Discurso de Bakhtin, estudados e
com ênfase no ensino fundamental e médio”.
agrupados pela equipe de Genebra (1994) em função
Complementando com Souza (1999, p. 27): “O
do ensino e aprendizagem de língua e indicados
caráter de autoridade do livro didático encontra
pelos PCNs (1998), a serviço do aparelho ideológico
sua legitimidade na crença de que ele é depositário
escolar que, por sua vez, começa a ser legitimado
de um saber a ser decifrado, pois se supõe que o
pelo LD (CEREJA,1998).
LD contenha uma verdade sacramentada a ser
É interessante observar, como frisou Freitag
transmitida e compartilhada”. Sabemos
trabalhos
mundo, há pesquisa e crítica institucionalizada
relacionados à análise dos LD, que vêm procurando,
sobre o LD, o que resulta em uma melhor qualidade
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que
há
(1997, p. 23-4), que, enquanto nos países do primeiro inúmeros
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desse tipo de livro nestes países, no Brasil, durante
do ensino do português na década de setenta, que
muito tempo, a pesquisa nos livros didáticos e sua
se deu devido à democratização do ensino. Essa
crítica limitaram-se a estudos nos cursos de pós-
democratização é entendida no sentido restrito de
graduação, sem merecer a atenção dos que vinham
ampliação do número de escolas e de vagas. Esse
fazendo a política educacional, porém algumas
fator trouxe alterações nas condições de trabalho do
mudanças já são visíveis.
professor que, assoberbado, dispõe de pouco tempo
Segundo Freitag (1997, p. 79) uma das melhores
para preparar suas aulas, exercícios, para definir sua
definições apresentadas para o livro didático foi
metodologia de ensino. Desta forma, houve uma
dada por Fleury ao afirmar ser o livro didático “uma
transferência dessas tarefas para o livro didático.
sugestão e não uma receita”. Ao dizer isso, essa
Ou seja, fatores socioeconômicos e políticos não
pesquisadora, nos leva a pensar na situação do
proporcionaram as condições necessárias para que o
professor do nosso país que, sem incentivo e apoio,
professor, como no início do século quando os livros
fica limitado ao livro didático enquanto receita,
traziam apenas os textos, definisse sua metodologia
desprezando o seu potencial criador e inovador.
de trabalho, exercendo plenamente sua profissão.
Soares (2001), ao analisar os Livros didáticos
A democratização do ensino e o povoamento das
de Português (LD de P) com o intuito de identificar
escolas são as justificativas para as transformações
as concepções do professor como leitor nos livros
ocorridas nos manuais de ensino de língua, segundo
didáticos, diz que esses manuais didáticos só
alguns autores, como Ferreira (1971 apud Soares,
passaram a se apresentar por série a partir dos anos
2001, p.70-73), um dos primeiros autores a fornecer
sessenta, houve nessa época também a diminuição
respostas dos exercícios propostos ao professor.
dos textos que chegavam a ocupar dez páginas
Ainda, segundo Soares, os LD de P, após a
dos livros. Além dessas e outras transformações
década de sessenta, começaram a trazer estudos
ocorridas no LD de P, Soares destaca: a didatização
dirigidos de textos e exercícios, os quais os alunos
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por si só completam, resolvem, cabendo ao professor
do nosso país, se dá à parte de critérios heterogêneos
auxiliá-los, quando necessário. E para esse auxilio, o
e exteriores como o aspecto gráfico, a editora e o
professor conta ainda com as respostas no Manual
representante das editoras, pelo Guia do Livro didático,
do professor que além das respostas dos exercícios,
elaborado pela Secretaria de Ensino Fundamental do
oferece um roteiro para as aulas. Desta forma o LD
Ministério da Educação (MEC) ou, ainda, outra indicação
vai assumindo autonomia e independência, cabendo
como a de um amigo. Infelizmente, os professores não
ao professor a subordinação ao conteúdo, método
saem preparados das Universidades para escolher seu
e respostas propostas nesse livro; considerado por
material de apoio, seu “companheiro de trabalho”: o
muitos, um mal necessário.
livro didático. E, há outro despreparo ainda mais visível:
Fleury (apud Freitag, 1997, p. 79) além de definir
o professor absorve o conteúdo dos livros e o repassa
o LD, indicam as suas principais funções, que seriam:
para o aluno de forma acrítica, por ser, para estes, o
a) a de padronizar e delimitar a matéria; b) apresentar
LD, como já foi dito, a última palavra sobre o assunto,
métodos e processos julgados pelos autores como
uma “verdade sacramentada”, o que em muitos casos
eficientes para melhorar os resultados do ensino; e
não o é, haja vista muitos LD apresentarem erros
c) colocar ao alcance de todos, especialmente dos
conceituais, ideias distorcidas e desatualizadas.3 O
alunos, textos verbais e não-verbais de difícil acesso.
LD deve propiciar ao leitor-aluno o contato com o
Acrescentaríamos, não como função, mas
universo textual através de uma linguagem simples e
como elemento básico na elaboração de um LD, um
que atenda à comunidade escolar. Com uma prática
respaldo num saber teórico-científico que garantisse
heterogênea, na medida em que incorpora no seu
eficientemente a prática didática dos professores e
discurso tanto elementos provenientes daquele
a compreensão e produção textual por parte dos
que lhe serve como fonte: a teoria gramatical e/ou
nossos alunos.
3 Ver, exemplos na revista Nova escola ano XVI, n.140, pp.14-20
A escolha de LD, quando é feita pelo professor Capa
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linguística; quanto daquele que será objeto de análise:
O texto do LD constitui-se a partir da interseção
textos veiculados socialmente - crônicas, notícias,
de dois textos: o científico, resultado das pesquisas
poemas, propagandas, bulas. É, portanto, no limiar
sobre a língua e seu ensino (gramaticais, teorias
entre uma e outra prática discursiva, que se constitui o
linguísticas etc) e do texto que circula por todos
LD. E é no contato com o exterior discursivo do LD, que
os meios sociais ( jornais, revista, livros, cinema,
passamos a compreendê-lo.
teatro, TV etc). Assim, o LD, enquanto uma prática
Os autores que atuam desde a escolha dos temas
heterogênea, incorpora em seu discurso, tanto os
a serem abordados no manual, até a interpretação e
recursos linguísticos daqueles que lhe servem de fonte
análise, buscam a construção e a legitimação de um
– discurso social, também heterogêneo –, quanto
saber postulado pelo LD próprio de uma ideologia
daquele que pretende atingir – discurso científico,
social, com bases em diretrizes formuladas pelo
pedagógico e didático. Existem, portanto, dois níveis
MEC, como as Leis de diretrizes e Bases da Educação
de linguagem expressos: um caracterizado pela
e os Parâmetros Curriculares Nacionais.
objetividade, própria das práticas científicas de um
Chamar a atenção do leitor-aluno, despertando-
modo geral, já que se volta para teorias linguísticas
lhe o interesse e fazendo com que se sinta envolvido
ou para a gramática, e outra, cuja linguagem tende,
pelo assunto em estudo e pelo enfoque a este
em certa medida, para o registro mais coloquial,
dispensado, requer do discurso didático algo mais
demonstrando, até, uma certa subjetividade, o que
que o simples emprego da função referencial da
facilita o acesso do aluno ao texto.
linguagem. Os recursos utilizados nos LD são cada vez
Desta
forma,
o
discurso
científico,
mais diversificados e expressivos: Esses abusam, muitas
compartilhado apenas por aqueles que se voltam
vezes, de cores, imagens e temas apelativos. Desta
para a prática científica, volta-se também para
forma, esquecendo de incorporar conhecimentos
o aluno, sendo o LD, portanto, o veículo que vai
teóricos como afirma Marcuschi (2001b),
permitir que o aluno possa adentrar no universo
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da teoria linguística. É comum nos livros didáticos,
recursos, aqueles que considera mais adequado
o termo técnico ser explicado ou reestruturado
ao conhecimento linguístico de seu público-alvo
permitindo a compreensão do aluno. 4 Neste sentido
distribuído por séries escolares.
os autores dos livros didáticos incorporam ao
Ao escrever para um público juvenil, o autor-
discurso elementos linguísticos e extralinguísticos
editor, portanto, deve formular o seu discurso a partir
referentes à própria linguagem e leitura do aluno,
de elementos condizentes com o que julga ser mais
objetivando assim, a aproximação entre o aluno
apropriado a este, levando em conta fatores como
e o texto didático. É através de um registro mais
idade, grau de escolaridade, e mais especificadamente
coloquial e mais familiar ao universo do aluno,
por região geográfica e, até mesmo, pela faixa
que se percebe o caráter metalinguístico do LD. A
econômica. Percebemos, portanto que, a forma de
explicação, exemplificação, comparação, seleção
transmissão de um conteúdo inclui definitivamente
vocabular e recursos visuais tornam-se elementos
a organização dos níveis linguísticos como um todo,
didatizantes empregados pelos autores no ato de
considerando-se desde o lexical, passando pelo
compor o seu LD, com o intuito de aproximar o
morfológico, sintático, semântico até o textual.
aluno -leitor e facilitar, em certos pontos, o trabalho
Com a finalidade de atingir um público
do professor.
alvo, no caso o aluno, são selecionados recursos
O autor-editor elabora seu discurso tendo
linguísticos, que tornam essas atividades um fazer
como base o contexto discursivo e o interlocutor a
discursivo e não apenas a junção de dois saberes:
quem este se dirige. É da imagem que faz de seu
o científico e o social.
interlocutor que esse utiliza os recursos estéticos
Lajolo, em reportagem à revista Nova escola
disponíveis na língua, selecionando, dentre estes
(Prado, 2001) que apresenta como capa a questão do Livro Didático, nos diz que é preciso criar uma
4 É o que veremos na análise da coleção didática selecionada na Parte 4 desta dissertação.
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cultura de avaliação permanente do LD por parte eLivre
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do professor. O professor deve ver se a abordagem
do contexto escolar, por serem os parâmetros
do LD é negociável com a sua.
recentes. A preferência, quando se vai referir ou
O LD deve ser visto como um meio, nunca
classificar textos era, até então, pelo termo “tipo”,
como um fim, pois o professor que transforma
“forma” e se resume à narração, à descrição e à
esse suporte, esse apoio em fim perde a essência
dissertação (às vezes, à argumentação). Esses
do seu fazer, abandona a seu papel de sujeito na
termos referem-se a aspectos mais externos
sala de aula, escora-se no fazer impresso do LD.
da composição de um texto, enquanto gêneros
Essa prática existe e foi verificada e descrita em
são “exemplares empíricos” de textos como
uma pesquisa feita por Theodoro da Silva nos anos
diálogos, telefonema, bilhete, cartas, panfletos,
90 e publicada no livro A Produção da Leitura na
contos, romances, poemas, relatórios, ensaios
escola – pesquisas e propostas.
etc., constituem-se em “formas textuais realizadas efetivamente” (Marcuschi, 1997, 2000).
3.3 Novas concepções de texto e gênero e
Os PCN consideram o texto como unidade de
reformulação do livro didático
ensino e suas várias formas, os gêneros, no seu sentido empírico, descartando, portanto, outros
Em busca de uma melhor compreensão
tipos e formas de composição tão comuns nos
e classificação da natureza dos textos que
LD.
compõem o universo sócio-cultural do nosso
Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam. Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura”. (PCN de LP p. 21)
país, os PCN lançam a noção de gêneros como objeto
de
ensino-aprendizagem.
A
palavra
gênero, devido à força histórica, remete-nos de imediato à literatura (gêneros literários). A nova noção de gênero bakhtiniano ainda não faz parte Capa
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esferas sociais de comunicação. A partir dessa Ao referir-se ao trabalho com os gêneros, os PCN
visão é possível organizar o estudo dos gêneros
apresentam uma distribuição por ciclos e em forma de
nos livros didáticos. Sabendo, de antemão que
espiral, sugerida por Pasquier (1996) no seu Decálogo
é difícil o estudo dos gêneros, pois estudá-los
para ensinar a escrever. Apresentam, também, alguns
implica, em suma, considerar a intenção entre
gêneros como referenciais nas práticas de escuta de
interlocutores e a enunciação. Daí a utilização de
textos orais e de leitura de textos escritos e produção
“tipos” nos LD de P. Muitas vezes, ao utilizar os
de textos orais e escritos. (PCN p. 54-57). Quadro
dois termos sem estabelecer uma diferença clara,
presente no início dessa parte.
o livro didático dificulta ainda mais assimilação do
Bezerra (1999) pondera que os PCN deveriam
conceito de gênero no que ele implica. Muitas vezes
precisar melhor o conceito de gênero para se
o que importa saber é a diferença entre narração,
visualizar melhor a sua dimensão, o que contribuiria
descrição, e dissertação. Hoje já sabemos que tal
para um melhor tratamento do texto nos moldes
conhecimento não favorece a uma compreensão
propostos por esse documento.
do texto e/ou produção de boas redações.
As propostas dos PCN começam a colocadas
Kleiman
(1999),
ao
analisar
uma
aula
nos LD; entre elas: o texto como unidade de
centrada no livro didático e outra centrada no
ensino, seleção de textos que circulam no meio
professor, mostra as vantagens da segunda aula,
social e os gêneros como objeto de ensino. Porém,
colocando-a como mais interativa, com resultados
trabalhar com o conceito de gêneros implica
positivos. Mas, será necessário abolir o LD para
voltar-se para o discurso, ou seja, para todas as
termos uma maior interação na sala de aula? E,
formas de enunciado que resultam de uma fusão
consequentemente, um melhor desempenho? Não
entre conteúdo temático, estilo e construção
usando o LD resolveríamos o problema do ensino
composicional que sofre variações conforme as
no nosso país?
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Há
professores
que
se
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demonstram
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olhar dos autores dos livros didáticos e professores
independentes dos LD, formam o seu próprio
para teorias como a da Enunciação, a dos Gêneros.
material ao extrair textos de revistas, livros, jornais.
Essa prática já foi iniciada nos livros didáticos. É
Porém pelas observações feitas por Coracini
o que veremos na próxima parte.
(1999) há pouca inovação na forma de proceder. Por exemplo, nas perguntas feitas nas provas vemos que o livro didático está internalizado no professor. Nos livros didáticos o controle da forma de produção escrita vem sendo o destaque. O que importa é escrever conforme as regras gramaticais, usar adequadamente os articuladores textuais, narrar, descrever, dissertar, pois é isso que será cobrado nos concursos e vestibulares. No entanto, sabemos que não será cobrado apenas isso do aluno durante a sua existência enquanto leitor e produtor de textos. O que foi esquecido ou desprezado na prática de leitura e na prática de produção textual, como: posicionamento, argumentos, isto é, o desempenho discursivo será, certamente, cobrado pela sociedade. O que pode vir a contribuir nesta formação discursiva é o estudo de novas teorias, voltando o Capa
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estratégia de ensino e aprendizagem. A apresentação da estrutura da coleção se desdobra em Unidades organizadas por núcleos temáticos, o que já era comum em coleções didáticas de 4 ANÁLISE DA COLEÇÃO DIDÁTICA
Língua Portuguesa. A unidade contém: uma Abertura,
SELECIONADA
três Capítulos de desenvolvimentos de conteúdo e um capítulo final denominado de Intervalo.
Nesta parte, faremos a análise de textos
Cada momento visa a um objetivo: o de Abertura,
representativos dos gêneros textuais voltados para o
como os autores dizem, tem a finalidade de “aquecer e
estudo da língua portuguesa em conformidade com
estimular” para o trabalho com os capítulos e funciona,
a Teoria dos Gêneros, em uma coleção didática, bem
também, como “elemento organizador de unidade” e
como, suas características, progressão e exercícios a
do tema que será abordado
eles relacionados.
p.4-5).
4.1
5
(Manual do Professor,
Nos Capítulos de desenvolvimento de conteúdo,
Organização da coleção e apresentação da
denominado de Gêneros em foco, são apresentados
teoria dos gêneros
os gêneros que serão trabalhados: bilhete, carta, diário, poema, notícia, entrevista, anedota, crônica,
Na coleção didática Todos os textos: uma
conto, roteiro de vídeo etc.
proposta de produção textual a partir de gêneros
Nesses
e projetos, os autores mostram-se receptivos ao que
capítulos,
Gêneros
em
foco,
sugerem os teóricos da linguagem - Dolz e Schneuwly
percebemos uma mudança com relação a outros
(1996), Rojo (1998), Marcuschi (2000), entre outros -,
5 No Manual do Professor são sugeridas opções didáticas de como
no que diz respeito ao estudo dos gêneros textuais
trabalhar a Abertura como: Leitura das imagens, jogral com os poemas, assistir aos vídeos indicados etc., e as outras partes.
como instrumento de mediação de toda e qualquer Capa
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LD, no que diz respeito à seleção dos textos e
de outros gêneros: peças, júris simulados, produções
sua diversidade. Sua classificação está condizente
de revistas, jornais falados ou escritos, murais,
com a teoria apresentada no manual, que se
pesquisas, mostras e exposições (Exemplos Anexo 3 e
baseia no agrupamento dos gêneros textuais (ou
4), a partir nos temas tratados, porém voltados para
discursivos) em cinco partes: do narrar, do relatar,
os textos extra-coleção, para atividades de pesquisas
do argumentar, do expor e do descrever ações,
e produções individuais ou coletivas dos alunos
proposto pela equipe de Genebra e já apresentada
o que seriam “práticas de linguagem e situações
nessa pesquisa.
de comunicação em toda sua complexidade”
O critério de classificação dos textos para o
(Schneuwly e Dolz, 1996). Promove-se, segundo os
estudo seria o de dar condições para que o aluno
autores da coleção, neste momento, uma revisão e
utilize os gêneros textuais que fazem parte do
aprofundamento dos conteúdos e a verificação da
domínio sócio-cultural em favor de sua cidadania
aprendizagem dos gêneros e de outros aspectos
plena. É essa, a questão primordial desta pesquisa.
linguísticos envolvidos.
O Intervalo, última parte de cada unidade da
Essa proposta está presente nos PCN quando
coleção, apresenta como objetivo, segundo os
esses sugerem que se trabalhe os conteúdos por
autores (Manual do Professor, p. 5), “quebrar” a
sequências didáticas e projetos, definidos em função
sequência do próprio livro, propiciando uma vivência
da capacidade e das experiências necessárias ao aluno,
do conteúdo de forma mais prazerosa, como
como também, que apresente relação com o subjetivo
também, contribuindo para o desenvolvimento de
da aprendizagem e o contato com o mundo exterior.
outras formas de expressão oral e escrita do aluno,
O desenvolvimento linguístico, na idade escolar,
por meio de projetos.
se torna possível graças, sobretudo, ao ensino e
Observamos que no Intervalo os gêneros
a aprendizagem por meio da interação, em que o
trabalhados voltam-se, sobretudo, para a realização
sujeito está implicado numa situação que visa a um
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Referências
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efeito, às construções sociais. Dessa relação com
são elaborados: jornais falados ou escritos, murais,
o meio, o aluno passa a apresentar um domínio
exposições, livros, revistas 6. As práticas do capítulo Intervalo necessitam de
linguístico-discursivo mais amplo capacitando-o a interagir com o mundo em que vive.
um esforço maior do professor que, muitas vezes,
Dolz (1994) considera que o desenvolvimento
não está preparado para tal intento, além disso, ele
da autonomia do aluno é consequência, sobretudo,
precisará de um apoio da escola; por isso, muitas
da mestria (domínio) da linguagem em situações
vezes, essas práticas ficam apenas no papel.
de comunicação ocorridas na interação, em trocas
Na seção dos Capítulos de desenvolvimento
verbais, em atividades de construção conjuntas e
de conteúdos, encontramos exercícios gramaticais:
naturais por meio dos gêneros.
Para escrever com adequação; Para escrever com
A coleção didática propõe a produção de
expressividade: Para escrever com coesão e coerência.
textos orais ou escritos em condições reais de
Nesses exercícios são trabalhadas teorias linguísticas
interação verbal na seção Intervalo, envolvendo
que vêm contribuindo para o conhecimento das
consequentemente, o conhecimento de várias
propriedades do texto como as noções de coesão
disciplinas: história, geografia, ciências, música etc.
e a coerência.
Para Schneuwly (1994; 1996), essas práticas externas,
No Manual do professor, que se encontra
com as quais os alunos devem se confrontar ao longo
anexado no final do LD em análise, é feita uma breve
de sua escolaridade, favorecem o aprendizado da
apreciação da noção de gênero na era clássica,
expressão oral e escrita.
passando pelos trabalhos de Bakhtin até a proposta
Tais práticas, por meio de projetos e sequências
da equipe de Genebra: Dolz, Schneuwly e outros;
didáticas, devolvem-se em um período mais extenso
que, como já foi dito, adotando as perspectivas
que aulas semanais, e devem ser compartilhadas
6 Ver no anexo 3 e 4, nos capítulos da seção Intervalo.
por toda a comunidade escolar. Como resultados, Capa
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enunciativas de Bahktin articula-as com os construtos
a sua explicação ou, ainda, numa segunda hipótese,
psicológicos de Vygotsky. Essa equipe direciona a
por acharem os autores-editores que os professores,
teoria dos gêneros para o ensino, como instrumento
devido à sua precária formação, não saberiam tirar
facilitador do processo de ensino aprendizagem
proveito das observações teóricas. Percebemos que,
com o qual é possível exercer uma ação linguística
até bem pouco tempo, não havia uma preocupação
sobre a realidade (Dolz e Schneuwly, 1996).
por parte de uma grande quantidade de autores-
Assim, podemos ver a base teórica sobre a qual foi
editores, em se promover o conhecimento do professor,
formulada a coleção que é a teoria dos gêneros textuais
capacitando-o para um maior domínio da teoria e do
como ferramenta (Schneuwly e Dolz, op.cit.), a serviço
conteúdo do livro, o que, como vamos observar, não
da construção do sujeito e da cidadania, proposta que
ocorre na coleção em análise. Já no próprio título da coleção: Todos os textos:
também se faz presente nos PCN: como um objeto
uma proposta de produção textual a partir de
(PCN, 1998b), para o ensino e aprendizagem. A exposição da teoria adotada em coleções
gêneros e projetos, os autores-editores mostram
didáticas de língua portuguesa não é uma constante.
a base teórica da coleção e delimitam a aplicação
Marcuschi (2001) ao analisar 60 coleções didáticas,
dessa teoria à produção textual e a projetos. E, na
observou que é comum a ausência de indicações
Bibliografia, são apontados livros que formularam a
teóricas, sendo exceção, nas coleções analisadas
teoria dos gêneros no estudo da língua.
por esse pesquisador, a coleção de Soares (1982) e
Portanto, há uma preocupação em deixar claro
de Cócco & Hailer (1994), denominada de ALP.
o pressuposto teórico do qual os autores-editores se
As possíveis causas dessa ausência em tantas
serviram para a elaboração de sua coleção didática.
coleções, segundo Marcuschi, é a impressão de que o
Resta saber como se deu a transposição didática
ensino de língua portuguesa se dá na suposição de que
dessa teoria nessa coleção.
a teoria subjacente é tão óbvia que se torna descabida Capa
Sumário
A Teoria dos Gêneros é apresentada, também, eLivre
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Referências
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para o aluno em vários momentos da coleção como
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confiabilidade e veracidade a teoria defendida.
no manual da 5a série quando é dada a noção de
Desta forma, observamos que a teoria presente
gêneros textuais:
na coleção se revela não só no Manual do Professor, mas também no texto voltado para o aluno. Isso mostra que seus autores são conhecedores e estudiosos de teorias linguísticas modernas e que procuram encaminhar essas teorias para o LD, tornando-as acessíveis ao professor e ao aluno. Pensamos ser essa coleção um exercício de prática da Teoria dos gêneros que ganha espaço, agora no material didático, além de considerar o professor um estudioso, um pesquisador, ao expor a teoria adotada pela coleção. Podemos encontrar ainda no Manual do Professor, presente nessa coleção, orientações e sugestões para
E assim, nessa passagem, de forma direta é
o trabalho em sala de aula, como: plano de curso e
apresentado o conceito de gêneros textuais ao aluno,
estratégias de ensino, o que vem se tomando comum
ao mesmo tempo em que é introduzida a ideia de
nos recentes manuais voltados para o professor 7, que
que o ato de escrever é algo simples do cotidiano de
não encontra mais tempo para planejar suas aulas,
cada um.
ficando essa tarefa para o livro didático. Assim, de acordo com Dallan (Prado, 2001,
O texto do LD, neste momento, incorpora o próprio discurso dos autores-pesquisadores, que assume a
7 Essas sugestões didáticas e metodológicas, como já foi mencionado na Parte 3 deste estudo, se deu devido à democratização do ensino no nosso país e ao povoamento das escolas.
teoria com sua própria voz, atribuindo um caráter de Capa
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Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau
p.20), consultora pedagógica da Fundação para o
material de apoio, ou ainda, devido à realidade
Desenvolvimento da Educação de São Paulo, em
existente na escola que não dá condições ao
entrevista: o manual dirigido ao professor deve rever
professor exercer com dignidade sua profissão.
os pontos da matéria que o professor pode dominar,
Neste sentido, o manual dirigido ao professor
para o seu melhor desempenho. Segundo o Guia
poderia
ser
uma
ferramenta
de
formação
do Livro didático esse manual deve corresponder às
pedagógica, porém, muitas vezes, é negligenciado
necessidades reais do professor, capacitando-o para
pelos autores-editores de LD que não mencionam
usar, devidamente, o livro e o instruindo acerca do
a base teórica nem indicam fontes adicionais de
conteúdo que está sendo ensinado. Nunca, como
pesquisa, ficando, apenas, no planejamento básico
única fonte de conhecimento.
de conteúdos presentes no livro 8.
Outro propósito do Manual do Professor é
Referindo-se ainda ao Manual do Professor,
indicar novas fontes como: livros, revistas, filmes etc.,
do livro didático em análise, precisamente nas
com os quais cada unidade ou atividade poderia
Sugestões de estratégias para os capítulos, é feita
ser enriquecida, gerando atividades para além das
uma indicação louvável ao professor. Sugere-
que estão nos livros do aluno. Assim, o LD passa a
se a esse que peça para os seus alunos trazerem
considerar o professor e o aluno como estudiosos e
de casa: cartões, convites, cartas, bilhetes antes
pesquisadores da sua língua e cultura.
de iniciar o estudo desses gêneros (manual da 5a
Com essas e outras indicações, o Manual do
série); e em outros manuais, pede-se: livros, diários,
Professor assume um papel importante, auxiliando o
telegramas,
professor que, no nosso país, apresenta, em muitas
notícias reportagens, cartas de leitores etc.
localidades, dificuldades no emprego do material
em
quadrinho,
8 Para um maior aprofundamento nesta questão, sugerimos a leitura da matéria sobre o assunto na revista: Nova Escola, ano XVI, n.140, pp.14-20.
o prepara para devidamente para selecionar seu Sumário
histórias
Esse procedimento, se acatado pelo professor,
didático, devido a uma formação precária, que não
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poemas,
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motiva e introduz o aluno na diversidade textual e no
Tais como: a) corresponder às finalidades sociais
estudo dos gêneros, aproximando-o da realidade, do
legadas ao ensino, respondendo às necessidades
uso efetivo de um gênero, bem como contribuindo
de linguagem em expressão oral e escrita no amplo
para elaboração desses gêneros em estudo a partir
domínio da comunicação, b) retomar certas distinções
das suas características estáveis (estrutura e estilo).
tipológicas presentes em currículos e manuais de
Assim, forma-se a consciência da existência
ensino; c) serem relativamente homogêneos quanto
desses gêneros, cuja escolha pode se dar por
às capacidades de linguagem dominante, implicadas
vários critérios, uma vez que há uma quantidade de
no domínio dos gêneros agrupados.
gêneros variados para definir as diferentes maneiras
Esses linguistas salientam que a originalidade
de se elaborar e construir discursos.
das ideias apresentadas não reside nos agrupamentos
Desta forma, o livro abre um leque de opções
propostos, que são semelhantes a muitos outros como
de leituras e atividades gerenciadas por meio
o de Vigner (1979)9 e, sim, na tentativa de se trabalhar
do conhecimento dos gêneros que circulam
em nível de gêneros, definindo as capacidades de
socialmente, e que, por sua vez, favorece o contato
linguagem globais em relação às tipologias. Os Gêneros abordados na coleção em análise tiveram como critério de classificação para a realização de agrupamentos os domínios sociais
dos alunos com a realidade da qual ele faz parte. 4. 2 Seleção e agrupamento dos gêneros
9 Vigner, no seu livro Lire: du texte au sens, 1979 p. 82 e 83, apresenta uma lista de textos que um indivíduo pode na sua experiência de leitura encontrar e, em seguida, para assegurar uma formação em leitura desses textos agrupa-os em textos do domínio narrativo (reportagem, romance, lembranças, entrevistas...), do domínio descritivo (trechos de romances, de lembranças...), do domínio expressivo (poesias, romances, peças de teatro, ...), do domínio lógico-argumentativo (comunicações cientificas, cursos, editorial, correspondência comercial) , do domínio prescritivo (aviso, classificados, circulares, notas de serviço,...).Essa classificação, para Vigner, asseguraria a boa formação do leitor, e assemelha-se a proposta por Schneuwly e Dolz.
O agrupamento dos gêneros, com o intuito de viabilizar a transposição e a progressão didática na coleção em análise foi retirado da proposta apresentada por Schneuwly e Dolz (1996, pp.1114) que parte de determinados critérios de seleção. Capa
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de comunicação,10 uma vez que os gêneros que
elementos que compõem o gênero histórias em
pertencem a uma mesma esfera de comunicação
quadrinhos, com balões, gestos, indicadores de
apresentam semelhanças em situação de produção
movimentos, onomatopéias, formatos, linguagens
e compartilham aspectos composicionais e até
verbal e não-verbal, elementos que compõem a
temáticos, mas com diferentes graus de complexidade.
narrativa, legenda.
A coleção didática em análise trabalha sobre
Vejamos a história em quadrinhos de Laerte:
esses domínios, organizando-os por séries de ensino e apresentando-as, resumidamente, na coleção, da seguinte forma: a) Agrupados na ordem do narrar: os gêneros que fazem parte do domínio do narrar estão presentes em toda a coleção didática, da 5a à 8ª série. Nesse agrupamento é possível estudar textos que fazem parte da cultura de uma época ou de um país como os apresentados na unidade 2 e 3 do manual da 5ª série, cujos títulos, respectivamente, são: Histórias... Histórias: palavras e imagem e Histórias de hoje e de sempre, entre elas: contos maravilhosos, fantásticos ou atuais; lendas, fábulas, bem como, textos que apresentam sincretismos entre verbal e não verbal como histórias em quadrinhos. Há, na coleção uma proposta de se estudar os ������������������������������������������� Domínios apresentados na Parte 2, p.43-6.
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Tudo isso fornece meios para que o aluno
superficial, não há nenhuma pergunta sobre as
consiga conhecer, formalmente, esse gênero. Mas,
relações humanas, tema da história em quadrinho
esse gênero não é só forma, deveria haver também
em questão, tampouco acerca do sentido que
uma preocupação em se trabalhar as ideias, os
resulta do sincretismo do verbal com o não verbal.
aspectos discursivos que permeiam os quadrinhos
Apesar da mudança de paradigma em direção
ou qualquer outro gênero.
ao estudo dos gêneros, as questões formuladas para
O LD precisa ter essa preocupação, formulando
as narrativas não mudaram, permanecem as mesmas
questões que ultrapassem os aspectos estruturais
no livro didático em análise. Fala-se de personagens,
ou mesmo visíveis e previsíveis dos gêneros, que
tempo-espaço, mas esquece-se de tratar de
alcancem a intencionalidade do autor, indagando:
questões como: relações sociais, que emanam dos
qual a ação que se pretende realizar nessa interação
textos e que contribuem para a formação do aluno.
comunicativa? Qual o efeito de sentido que se pretende
Poderíamos fazer as seguintes perguntas: Por que
estabelecer entre o locutor e o interlocutor? Depois,
os garotos negam que estão namorando? O que
buscar os recursos utilizados na ação linguística,
é o namoro? Podemos afirmar, a partir da leitura
desde as palavras, os elementos conectores, o tipo
dos quadrinhos, que as pessoas com a convivência,
de texto até a seleção das informações. Por sua vez,
chegam a se gostar? Isso já aconteceu com você?
para a compreensão do texto, deve-se perguntar:
O estudo dos gêneros do narrar continua
como o texto foi constituído? Quais os recursos
em outras séries, de maneira mais aprofundada,
linguísticos utilizados? Quais os sentidos que as
formalmente, quando são estudados os elementos
instruções presentes no texto permitem levantar?
que compõem esses gêneros: como o foco narrativo
Se observarmos as questões propostas para a
(manual da 6a), os tipos de discurso: direto e indireto;
história de Laerte, logo após os quadrinhos, veremos
o enredo, o tempo e o espaço (manual da 8a). Essa
que essas questões estão ainda no nível de leitura
prática alinha-se com a sugestão de Pasquier e
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Dolz (1996) que, em seu Decálogo para ensinar
o Relato Pessoal (um episódio importante vivido pelo
a escrever, nos prescreve o estudo dos gêneros
narrador) e o Texto Opinativo. Esse último gênero
narrar, expor, argumentar etc, em todas as séries de
pode também ser enquadrado no gênero expor, que
ensino de maneira gradual e em forma de espiral.
veremos no 4.2.2.3. Os dois primeiros (autobiografia e
Desta maneira, a ordem do narrar aparece em
relato pessoal) assemelham-se aos gêneros do narrar
todos os manuais. Todavia, não podemos esquecer
por apresentarem personagens, tempo e espaço
que, em cada gênero, há propriedades linguístico-
como as narrativas e usarem a técnica da descrição.
discursivas diferentes que devem ser levadas em conta
Porém, o que caracteriza o relato é o fato de o
no estudo do texto, o que significaria ultrapassar seu
protagonista ser o narrador e os verbos e pronomes
aspecto formal e alcançar o nível discursivo de cada
são empregados quase sempre na 1ª pessoa. Tal
gênero em que reside um fazer social.
como podemos constatar no texto do relato pessoal,
b) Agrupados na ordem do relatar: na ordem
sem título, da professora T. Magalhães (anexo 1).
do relatar estão os textos que surgem da lembrança
Alguns textos podem fazer parte de dois
e da recordação de alguém, que pode vir do próprio
agrupamentos. Isso se dá porque não há ainda um
aluno. A ordem do relatar está presente na unidade
estudo que os diferenciem realmente, o que seria
4 da 5a série: Quem sou eu, através dos gêneros:
estabelecer critérios de classificação discursiva,
autobiografia e relato pessoal (5a série), o diário (6a
referentes à situação, às normas e aos tipos de ações
série), a crônica (7ª série) e, indiretamente em outros
realizadas por meio do gênero e aos objetivos e às
textos, como por exemplo, no texto introspectivo O
intenções sócio – culturais daqueles que se comunicam.
primeiro beijo, de Clarice Lispector (8ª série), porém
Visualizando melhor o impasse na classificação
sem referências a essa ordem.
dos
textos
nos
agrupamentos
determinados,
A unidade 4 da 5ª série é toda dedicada à ordem do
apresentamos como exemplo o texto Minhas Férias,
relatar. São apresentados os gêneros Autobiografia,
do manual da 6ª série, p. 4-5 (anexo 2) que é um relato:
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redação escolar e, está sendo estudado como narrativa
não causar dúvidas ou incompreensão, sobretudo,
pessoal. Ou seja, não foi estabelecido, na coleção, a
na sua utilização, levando o aluno a ser um produtor
fronteira entre os gêneros do narrar e do relatar.
dos gêneros trabalhados e não apenas um analista
Isto se dá uma vez que os gêneros misturam-se e se
e classificador desses gêneros.
permutam como afirmaram Bakhtin (2000), François
c) Agrupados na ordem do expor: na ordem do
(2000) e outros. Essa mistura ocorre, sobretudo, com os
expor estão os textos que transmitem e constroem
gêneros secundários, que são resultados de situações
saberes como os textos: Científico, Notícia, Resenha,
mais complexas de enunciação. É o que impede, muitas
Entrevista (6a série), Sinopse de livros e filmes, presentes
vezes, que seja feito um enquadramento de um texto
na abertura das unidades, entre outros. Esses textos
em um único gênero.
enquadram-se na classificação tradicional de textos
Os gêneros da ordem do relatar são estudados
dissertativos e são apresentados, na coleção, ainda
principalmente nas primeiras séries da coleção, ou
na sua visão convencional e estrutural rígida como
seja, 5ª e 6ª série. Na 8ª essa ordem não é abordada
contendo: introdução, desenvolvimento e conclusão.
diretamente. E, na 7ª série, é estudada a Crônica
Percebemos, também, que há uma ênfase no estudo
pessoal e vista em conjunto com outros tipos de
da estrutura textual, bem como ao escrever bem
crônicas como: Crônica-narrativa que se aproxima
(manual da 8ª série, capítulo 2, p.110-115). Essa última
do Conto, a Crônica-comentário que expõe um fato
preocupação (escrever bem) foi destacada na coleção
e o comenta. As diversas classificações da crônica
somente nesse momento, isso nos leva a crer, que essa
exemplificam a dificuldade de se estudar os gêneros
preocupação só deve existir a partir da série em foco.
de forma agrupada. Porém não devemos desprezar
No estudo dos textos da ordem do expor (nas
esse agrupamento, uma vez que esse facilita o estudo
páginas 110 –113) observamos, também, que as
dos gêneros de forma progressiva no ensino, mas
perguntas relativas ao texto são referentes à tese -
devemos trabalhar com esses gêneros de forma a
ideia principal do texto - e as partes que constituem
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o texto dissertativo: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão, isto é, a razão da existência do texto é marcada em função das partes que o compõem não se aborda o fazer discursivo que antecede o aspecto formal do texto. Há, também, os próprios textos didáticos produzidos pelos autores-editores do LD que são expositivos e explicativos e visam, sobretudo, levar o aluno a obter um conhecimento sobre um determinado
Há, no entanto, outras formas de se chegar
gênero ou mesmo confrontar tipos textuais como a
a essas definições e distinções. Uma delas seria
dissertação e a argumentação, o que sem dúvida, ajuda
sugerir ao aluno que pesquisassem: o que é uma
na fixação das estruturas particulares dos gêneros
notícia?, suas características, sua finalidade, onde
enquadrados na ordem do expor e do argumentar.
essa se faz presente, antes de estudar o que foi dado ou pesquisado pelos autores do LD. Ou, ainda, no confronto entre a argumentação e a dissertação, pesquisar textos que ilustrem as diferenças e semelhanças entre essas ações textuais. c) Agrupados na ordem do argumentar: o texto argumentativo expressa uma opinião, um ponto de vista com razões, argumentos. Entre os gêneros textuais dessa ordem destacados nos manuais em análise estão as Cartas dos leitores: por meio dessa correspondência, os leitores de revistas e jornais
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dão suas opiniões a respeito de assuntos por eles
elementos como a contra-argumentação, chegando-
destacados (manuais da 5a e 6a séries). Porém, a noção
se até a simulação de um júri (manual de 8ª série,
de argumentação só será dada no manual da 6ª série.
p.98-99 da seção Intervalo: anexo 3).
Nas séries seguintes (7ª e 8ª) é dada uma atenção
d) Agrupado na ordem do descrever ações (ou
maior os gêneros da ordem do argumentar como uma
instruir e prescrever, segundo Rojo, 1998): há textos
extensão dos gêneros expositivos. Realmente, quando
que dão instruções, regulam comportamentos, como:
expomos nossos pensamentos devemos argumentar,
Bulas, Receitas, Regras de jogos manuais (manual da
fazendo, assim, valer a nossa opinião. Este é um dos
7a série, p. 69 a 79), Declaração dos direitos humanos
exercícios propostos na abordagem dos gêneros desse
(7a série, p. 126 - 129). E, outros textos que, por suas
agrupamento na coleção em análise.
características, se enquadram nesse agrupamento;
O estudo da argumentação está relacionado,
são instrutores de tarefas, conforme a seção Agora
diretamente, a temas polêmicos como cidadania
é sua vez e as sugestões, por exemplo: Criação de
(7ª série) e o poder da televisão, a reencarnação,
revista de história em quadrinhos (5ª série, p. 61);
etc (8ª série). Isso mostra que a argumentação está
Como montar uma revista em grupo (6a série, pp. 24
mais presente em texto que suscitam polêmicas e
- 25) e Como montar um livro de crônicas:
divergência de opinião. Isso exige do aluno um grau maior de conhecimento de mundo e maturidade. Há, também, entre os gêneros do argumentar, os orais, como o Debate que promove a discussão de variados pontos de vista (7a série). E outros, escritos, como Carta aberta, de solicitação e de reclamação (7a série) em que se expõem argumentos, para defender um direito. Ou ainda, o estudo desses gêneros destacando-se Capa
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O estudo dos gêneros da ordem do instruir e prescrever ações realiza-se praticamente na 7ª série, ou seja, não foi dada a importância merecida a essa ordem em outras séries na coleção em foco. A presença desses gêneros da ordem do instruir no manual da 7ª série (p.69) é essencial, uma vez que, há muitos textos instrucionais circulando no mundo atual. A leitura compreensiva desses textos é útil e necessária para que se possa proceder corretamente ao se tomar um remédio, montar um computador etc. Seu estudo, na coleção, realizase através da observação da estrutura formal e da linguagem empregada. Na bula abaixo, por exemplo, estuda-se sua composição textual dividida em informações ao pacientes, precauções, reações adversas e psicologia, os destaques presentes que devem chamar a atenção do leitor e a linguagem empregada que deve ser concisa e objetiva, mesmo com termos específicos.
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Como vemos, a proposta presente nos manuais é nova no que diz respeito à classificação textual, ou seja, ela não se restringe à tipologia tricotômica: narração, descrição e dissertação, comumente trabalhada nos manuais didáticos. Esta nova classificação e organização de estudo de textos visam a ampliar o conhecimento e facilitar o domínio dos textos que circulam socialmente. Porém, não podemos dizer que esses tipos textuais
Essa visão apresentada acima é interessante
tradicionais foram abandonados. Ao contrário,
por nos fazer ver que, a descrição colabora para a
essa tipologia está presente nos diversos gêneros
construção de um gênero agrupado em qualquer
textuais e, por isso, seu estudo deve permanece,
ordem, não mostrando a diferença existente entre
sendo que, nos livros em análise, a ênfase é dada
os gêneros. Portanto, o seu estudo não seria o
aos gêneros, mas, ainda, numa perspectiva formal
estudo de um gênero, nem mesmo como fator de
e não discursiva.
agrupamento desses, mas de estruturas que podem
Há, na coleção em foco, uma nova visão para
se repetir em determinados gêneros com mais
a descrição que é tratada como um “recurso”, uma
frequência do que em outros, como, por exemplo,
“técnica” empregada em narrativas como Fábulas,
nos textos da ordem do narrar e do prescrever.
Lendas, História em quadrinhos de forma diversa e
Internalizar os gêneros textuais é saber
até em Classificados (manual da 5a série, p. 36 -39).
se comunicar em diversas situações: narrando,
Observemos a descrição na narrativa, ilustrando
relatando, expondo, argumentando e descrevendo ações. Mesmo mostrando ciência disto, não há,
o que foi dito acima.
ainda, na coleção didática em questão, uma análise Capa
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das situações comunicativas, das práticas sociais
ensino e aprendizagem. Essa descaracterização é,
em que se desenvolve um determinado gênero,
muitas vezes, necessária, mas tanto o LD como os
que concretizam situações. Também não ocorre
professores devem tentar recuperar o contexto e as
uma identificação dos elementos relevantes que
condições de produção que resultaram no gênero.
determinam o fazer discursivo, que nos faça perceber
Por exemplo, os gêneros presentes em um jornal
como eles interagem e suas condições de uso,
devem ser estudados visualizando essa fonte. Se
desenvolvendo o conhecimento necessário para a
assim não fizerem, esses continuarão a realizar o
posterior produção desses mesmos gêneros - o que
que já era feito antes com a tipologia em que se
seria muito mais do que a comunicação verbal no
estudava o texto em função de uma identificação
sentido imanente.
da narração, da descrição e da dissertação. Os
Cabe ao LD mostrar em que contexto um
gêneros também devem ser trabalhados em função
gênero é mais apropriado que outro e quais as
da necessidade de comunicação. Isso ainda não
potencialidades de cada um. O conhecimento da
está sendo praticado pelo LD em foco quando,
situação de comunicação é o ponto de partida para
por exemplo, o livro sugere que seja feita uma
identificação de um gênero.
carta de solicitação, apenas para checar se o aluno
As práticas didáticas de uso-refexão-uso
sabe elaborar esse gênero. Em reais condições de
propostas pelos PCN por meio dos gêneros podem
produção, o texto ganha autenticidade, para isso,
possibilitar a autotomia e desempenho do aluno, o
devem-se criar condições reais de comunicação
que só é possível com a reeleboração contínua de
para o exercício com os gêneros como, por
práticas didáticas de gêneros textuais cada vez mais
exemplo, incentivar os alunos a fazerem cartas para
complexas.
autoridades expressando sua opinião.
Os gêneros no LD, devido à sua didatização,
Vemos que o estudo dos gêneros realizado na
descaracterizam-se por passarem a ser objeto de
coleção em análise não atende às necessidades reais
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de comunicação do aluno. Isso porque a escola vive
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Como podemos ver nessas passagens:
em função de um futuro que desconhecemos, para o qual o aluno deve ser preparado. A análise e a prática de comunicação de forma contextualizada proporcionam ao aluno um maior engajamento no universo textual existente; e isso lhe permitirá produzir, com desempenho, cartas para revistas, reivindicações para prefeitos etc. O ideal seria sempre perguntar: quais gêneros, por exemplo, podem ser estudados para que alguém possa mostrar suas ideias a outro que está perto ou longe? O que os alunos já sabem sobre esses gêneros? Como tornar essas práticas de leitura e escrita mais fundamentais para o cotidiano do aluno? Porém, não há uma preocupação em se 4.3 Características e diferenças dos gêneros
estabelecer diferenças entre os gêneros, tendo como
abordados
estudo, o seu momento de produção, o que determina a sua escolha, a intencionalidade que o gerou, pois,
Cada gênero abordado no LD em estudo apresenta
como sabemos, os gêneros nascem da necessidade de
características formais próprias que são fornecidas,
comunicação, de formas de dizer que se cristalizam.
grosso modo, com o objetivo de que os alunos se
Em alguns momentos do LD em questão,
apropriem dessas características e, assim, diferenciem
devido à grande variedade existente no próprio
os gêneros e os utilizem com desempenho.
gênero, é feita uma classificação, um detalhamento
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maior acerca desses gêneros, como, por exemplo:
poesia da tradição oral, jograis e declamações. Em
a Crônica que, pela diversidade de tipos e forma,
nenhum momento, são colocadas as características da
recebe uma classificação e um estudo a partir dessa
poesia como um gênero que possa ser enquadrado
classificação em vários capítulos (manual 7a série,
numa ordem. Podemos encontrar textos poéticos
p. 41: É possível classificar uma crônica, capítulo 1
em qualquer agrupamento: do narrar, do relatar, do
e capítulos 2 e 3: A crônica de humor e A crônica
expor, do prescrever e do argumentar. É indispensável
argumentativa, pp. 48-52 e 55-59 respectivamente).
para o estudo da poesia, visualizar as intenções que
4. 4
são perpassadas justamente pelo narrar, relatar, expor,
A poesia no agrupamento dos gêneros
prescrever e argumentar. Louvamos aqui o não esquecimento dessa
Dolz e Schneuwly (1996) não enquadram a
forma literário no LD, uma vez que, como nos
poesia em nenhum dos agrupamentos, sugere,
diz Alves (1995 p.13): a poesia é o gênero menos
apenas, o seu estudo à parte. E para esse estudo
privilegiado no fazer pedagógico da sala de aula.
indicam certos estudos e autores 11. A coleção em foco apresenta um estudo exaustivo
4.5
sobre a poesia no manual da 6ª série, na unidade 2 em
gramatical
que são feitas considerações sobre as propriedades do poema: a sonoridade e o ritmo; sobre a intertextualidade
Nos
e a paródia na poesia; e o poema-imagem. Na seção
de
desenvolvimentos
de
com adequação, com expressividade, com coerência
oral e escrita de poemas elaborados pelos alunos, de
e coesão etc, o texto, ainda, é visto como pretexto para o estudo da gramática, cujo valor não é negado
11 Os autores que tratam de forma interessante a poesia, segundo Dolz e Schneuwly são Jolibert, Sraiki e Herbeaux, 1992.
Sumário
Capítulos
conteúdos, precisamente, nas seções: Para escrever
Intervalo, dessa mesma unidade, é sugerida a exposição
Capa
O gênero: como pretexto para o estudo
nesse trabalho, mas que deveria ficar subordinado eLivre
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Referências
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144
ao uso eficaz e efetivo dos discursos.
145
Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau
A questão proposta não alcança a realidade
Um exemplo da ocorrência do uso do texto
discursiva ocorrida no seio social por ser trabalhada
meramente gramatical é a Tira de Quino (6a série,
apenas
p.90) que foi utilizada na coleção para demonstrar a
desassociado do contexto.
no
seu
aspecto
formal,
gramatical,
utilização dos pronomes demonstrativos. Se olharmos
Sabemos que o texto de Quino é ideológico,
com mais atenção para o contexto (não trabalhado
mostra um posicionamento do idealizador do texto
nas questões que se dirigem a esse texto), veremos
que se “veste” de meninas para expor suas ideias.
que há uma leitura da situação do país, no caso a
Portanto perde-se uma boa oportunidade para se
Argentina, que está “cercada por ladrões” (sentido
estudar esse texto focalizando o seu contexto, sua
possível), ou seja, candidatos à presidência. Essa
historicidade e a utilização desse gênero para tal
leitura permitiria ao aluno a percepção de que essas
intento. Esse tipo de estudo não permite ao aluno
marcas linguísticas, no caso o uso do demonstrativo,
a percepção de que esses aspectos extralinguísticos
são importantes para a eficiência da construção do
são importantes para a eficácia da construção do
gênero que revela uma posição discursiva.
gênero que reveste uma posição discursiva. Nos manuais dos LD voltados para o professor, é comum uma descrição pormenorizada dos conteúdos gramaticais que devem ser vistos. No entanto, as atividades de expressão oral e escrita são sugeridas de forma superficial, como se produzir textos fosse um saber que a escola deve, apenas, encorajar, pois, nessa concepção, o ato de produzir textos nasce e se desenvolve de maneira espontânea em qualquer um, sem que seja necessário ensiná-la sistematicamente.
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4.6 A produção escrita e oral e a variante empregada
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147
gêneros e seu estudo numa progressão curricular, há exigências de valores pedagógicos:
Já no Manual do Professor da coleção em análise,
. O aluno deve produzir textos para um público
são propostas práticas para o aprimoramento da
determinado, e usar de sua criatividade e clareza
escrita por meio da reflexão sobre o texto do próprio
para tornar o texto atraente.
aluno. Isso seria ensinar, sistematicamente, a produzir
. A leitura e a pesquisa surgem como pré-
textos coesos e coerentes. Porém, é preciso que os
requisitos básicos para a elaboração de textos reais
autores dessa coleção definam parâmetros mais claros
e autênticos. Se a atividade for a elaboração de
no Manual do aluno, para intervir adequadamente na
um jornal, por exemplo, deve-se antes conhecer as
produção em sala de aula, proporcionando assim, um
partes que compõem esse meio de comunicação,
melhor aproveitamento. Devem elaborar, inclusive,
sua linguagem etc.
atividades de escrita e de fala em situações variadas
. A interdisciplinaridade e a interação de
e complexas que favoreçam, nos alunos, um maior
conteúdos de disciplinas deve ocorrer.
domínio dos gêneros e das situações de comunicação
. O trabalho deve ser feito, também, em equipe,
que lhes correspondem.
o que favorece a interação entre alunos e também
Nesse Manual do Professor, são sugeridos procedimentos desenvolvimento
didáticos da
que
competência,
visam
entre alunos e professores.
ao
. Determinadas práticas de sala de aula passam
sobretudo,
a fazer sentido, como a reescritura de textos, uma
escrita do aluno, como: Espaço de criação, que
vez que os textos serão publicados.
consiste em um espaço de leitura e de produção
A aprendizagem por meio de projetos, tendo
de textos; Projetos, que consistem em criar situações
como ponto de partida o estudo dos gêneros, é
reais de comunicação, de interação.Para essa
mais dinâmica e interessante, além de conduzir o
prática, baseando-se em leituras feitas sobre os Capa
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149
aluno a uma visão intensa de todo uma formação
aula, de se trabalhar também com textos orais. Esses
de conhecimento. O LD pode gerar um ensino
textos orais trabalhados na coleção compõem um
sistemático de aprender a escrever, por meio de
continuum, segundo Marcuschi (2001), extremamente
um trabalho progressivo e adaptado ao ritmo de
heterogêneo de ações verbais que, também, se
aprendizagem do aluno. Esse trabalho sistemático,
enquadra em gêneros, porém intermediários, por
no entanto, só poderá alcançar o êxito desejado,
serem advindos de textos escritos. Por exemplo,
se o professor conhecer a teoria trabalhada e agir
quando, em sala de aula, simula-se um telejornal,
como mediador dessa teoria, descobrindo formas
o texto (dos apresentadores, dos repórteres etc) já
de implementa-la, tendo o LD como um apoio para
foram previamente organizados por escrito.Apesar
a realização dessa prática.
da presença desses gêneros orais, não há, na coleção,
Ainda não é dado o devido tratamento
um estudo profícuo sobre os gêneros orais no qual
à oralidade nessa coleção didática. A atenção
possa ser vista toda a sua complexidade.
desses livros é voltada quase totalmente para
O tratamento dispensado à linguagem depende
a escrita. Algo comum nos LD em geral, é o que
essencialmente do faixa etária à qual o livro se dirige.
argumenta Marcuschi (2001, p.24-32) que, a partir
A inserção de elementos atrativos, um léxico mais
dessa preocupação, elabora sugestões para um
próximo ao cotidiano do leitor-aluno, a utilização de
trabalho com a língua falada em sala de aula e
frases de efeito: “Agora é sua vez”, “Fique plugado!”,
uma classificação conjunta e contínua da produção
“Fique ligado! Pesquise!”, “Fique ligado! Escreva!” são
textual na fala e na escrita.
algumas das estratégias linguísticas que, emergindo
A presença mais acentuada na coleção em
com maior ou menor frequência e intensidade, e
análise de gêneros orais se dá no manual da 8ª série
de acordo com a série, têm por finalidade prender
com: Debate, Júri simulado e Jornal falado que se
a atenção do aluno, trazendo-o para o interior do
concretizam através da necessidade, em sala de
texto em questão.
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Chamar a atenção do leitor-aluno, despertando-
também, do contexto discursivo em que este se inscreve,
lhe o interesse e fazendo com que se sinta envolvido
da seleção de um gênero textual e, essencialmente, da
pelo assunto apresentado e pelo enfoque dispensado,
faixa etária a qual este se dirige. A partir da imagem
requer do discurso didático algo mais que o simples
que faz do aluno e dos valores sociais aos quais estão
emprego da função referencial da linguagem.
associados, os editores-autores selecionam os temas,
Assim sendo, os gêneros expressivos e apelativos:
aspectos linguísticos e recursos que consideram mais
conversação, textos em quadrinhos, diálogos curtos,
relevantes para o aluno.
frases de efeito; recursos visuais, como a foto de
As estratégias discursivas da ordem do expor, como:
um telegrama (6a série), e outros diversos tipos de
explicação, exemplificação, comparação, metáfora,
gêneros textuais e não textuais desempenham papel
nomeação, seleção vocabular e recursos visuais, são
fundamental na composição linguística e discursiva
elementos didatizantes empregados pelo editores-
do LD, além de instruir, prescrever e expor, ou
autores no ato de compor o seu LD, com o intuito de
seja, retomar, indicar e transcrever conhecimentos
aproximar o alunos-leitores do discurso do LD.
acumulados pela humanidade.
Desta forma, o modo como o autor elabora seu
Assim sendo, o texto do LD estaria localizado
discurso didático, condizente e coerente com o que
num continuum entre a tradição escrita e a oral,
julga mais apropriado ao público-alvo, forma o todo
o registro formal e o informal, a objetividade e a
discursivo presente no livro didático.
subjetividade, o verbal e o não-verbal, que se
O LD em análise, enquanto produto a ser
imbricam de maneira complexa, numa tessitura
comercialmente veiculado, assume um formato
intercalada de estruturas, aparentemente simples
atraente. Isto não pode ser desconsiderado, pois,
por meio da seleção e aplicação dos gêneros textuais.
muitas vezes, o LD é o único livro que a criança tem
Portanto, o fazer discursivo, elaborado pelos
em casa. Para tanto, os autores do LD utilizam-se
editores-autores da coleção didática, depende,
de recursos linguísticos e gêneros diversificados
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Referências
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153
(metalinguagem, narratividade, títulos sugestivos,
ozônio, por exemplo; e da exemplificação13, recursos
resumos) e extralinguísticos (recursos visuais – fotos,
com o propósito de tornar mais compreensível a Teoria
desenhos, tabelas, gráficos, esquemas) capazes de
dos Gêneros, no caso, o gênero textual em estudo14.
despertar o interesse do leitor-aluno e favorecer o
Isso ocorre também no decorrer do LD em análise
estudo não só dos gêneros textuais, mas suscitar ao
nos capítulos Gêneros em foco, em que a definição e a
estudo dos gêneros não-textuais.
caracterização de cada gênero são feitas. Por exemplo:
Algumas páginas da coleção em análise
a definição do Bilhete como um gênero textual muito
assemelham-se, no aspecto gráfico, a revistas
simple que possui um vocativo; o assunto, em poucas
(sobretudo nas páginas de abertura das unidades e
palavras; e a assinatura (manual da 5ª série, p.7).
na seção Intervalo). Vemos isto como algo positivo,
E, além da estrutura e características do Gênero
uma vez que o jovem, embalado pelas tendências
em foco, um modelo, como o do convite que segue:
modernas, prefere ler mais revistas a livros, ver mais imagens que textos. Na medida em que o discurso do LD se dirige ao público leigo no assunto que vai ser tratado, a didatização se apresenta como uma de suas características essenciais. O LD tende a trabalhar a linguagem de forma acessível, tornando compreensível à terminologia própria do jargão científico. Para tanto,
13
faz uso de recursos metalinguísticos (ou parafrásicos) como da definição
12
14 Ver mais detalhes sobre esses elementos didatizantes no artigo de Ana Paula Leibruder: O discurso de divulgação científica. In: BRANDÃO, Helena Nagamine. (2000) Gêneros do discurso na escola. V.5. São Paulo: Cortez, p.241-6.
utilizada para a explicação de
termos científicos pouco conhecidos: camada de 12
Ver o convite na página que segue.
Rever a definição de gênero textual na página 78.
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É, portanto, a partir desses recursos didatizantes
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155
tanto na forma como no conteúdo refletem e
no LD que é concretizada a explicação do gênero
refratam a realidade social vivida ou percebida”.
textual em foco, como também, é feita a aproximação
Caso não seja possível expor o contexto sócio-
do leitor-aluno à temática abordada. Através deste
histórico de todos os gêneros e de sua formação
mecanismo linguístico, a voz do editor-autor é
textual, uma vez que, como disse Bronckart (1999),
substituída pela voz dos objetos e ideias tratadas
eles estão em “constante movimento”, desaparecem
pelo texto, as quais passam a falar por si só.
e reaparecem sob formas diversas, devemos buscar alguns dados históricos e sociais a fim de
4. 7 A contextualização
contextualizar o gênero na análise, facilitando a sua compreensão e produção, uma vez que essa é a
Apesar de apresentar os gêneros e destacar
função primeira do estudo dos gêneros na língua.
suas características gerais, o LD, em questão, não
No LD em questão há ensaio de contextualização
incorpora seus elementos de ordem social e histórica
em exercícios de produção textual, o que pode
- o que, segundo Bakhtin, faz parte da própria noção
facilitar a apropriação do gênero trabalhado nesse
de gênero -, bem como, o processo de interação
exercício. Conforme o que segue:
de produção: quem fala, para quem fala, os lugares
“Antes de recriar um diálogo, escrever um parágrafo contando como as personagens se encontram, em que lugares estão, etc.” (Manual de 5ª série, p.50).
sociais desses interlocutores, seus posicionamentos ideológicos, o canal utilizado, seus objetivos e sua intencionalidade, o que caracteriza o enfoque sóciohistórico bakhtiniano de gênero. Não podemos
Há, no entanto, momentos de estudo de textos
estudar um gênero isolado de seu contexto sócio-
em que não é identificada a situação intertextual,
histórico-cultural de circulação. Segundo Barbosa
para que se possa situar melhor o enunciado:
(2000, p.149-74), parafraseando Bakhtin “os gêneros Capa
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157
(lugar mencionado no texto) que parece ser um lugar fictício. Constatamos, portanto, que, no LD em análise, há textos selecionados para um estudo meramente tipológico sem uma preocupação em estabelecer a sua função ou suas relações discursivas. O estudo dos gêneros, no contexto linguístico, sua recepção e assimilação, resultam da expansão dos
procedimentos
básicos
aprendidos
nas
séries anteriores e, também, da exploração da funcionalidade dos elementos constitutivos dos gêneros estudados e sua relação com seu contexto de criação. Isso deve ser considerado por qualquer LD que adote a Teoria dos Gêneros. O problema, como já foi dito em um outro Nos quesitos elencados para o texto acima,
momento, não é mais a ausência da diversidade
há apenas uma preocupação: estabelecer os
textual no LD, mas como está sendo desenvolvido o
elementos internos que compõem a narrativa: fatos,
trabalho com essa diversidade, sua progressão e, se
personagens, tempo e espaço, a relação de causa
esse trabalho pode gerar efeitos positivos tais como:
e efeito. Elementos que dizem respeito a aspectos
levar o aluno a uma reflexão crítica sobre o texto
tipológicos próprios da narrativa.
e a uma explanação ou construção de um sentido.
As indicações citadas entre parênteses sobre
E não, apenas, verificar a presença e características
o extrato não são suficientes para situarmos o
de um gênero, seu aspecto formal, com práticas
texto num determinado gênero, tampouco “Clichy”
de reconhecimento e identificação. Isto é o que
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constatamos na maioria das questões elaboradas
é a das diferenças físicas entre meninos e meninas:
para o estudo dos textos no LD em análise.
Diferentes mas iguais ( p.54-5). Por meio dessa
Se o estudo do texto leva em consideração
temática é estabelecida a diferença entre o texto
as marcas linguísticas, o locutor e o receptor, os
metalinguístico (um verbete), literário (uma história)
conhecimentos desses e o momento de interação, o
e científico (um artigo) todos tratando da diferença
estudo dos gêneros ganha uma maior dinamicidade
entre meninos e meninas.
o que é próprio da linguagem.
As temáticas no LD em foco são selecionadas e organizadas visualizando a formação do indivíduo,
4.8 A temática presente, a produção e o estudo
portanto, é comum falar sobre: a poluição (5ª série,
textual
p.24-7), A violência (6ª série, p.93-6), Adolescência (7ª série, Unidade 2, p.36-61) Ser jovem (8ª série,
Se levarmos em consideração o processo
unidade 1, p.2-35) sobre a cidadania (7ª série,
linguístico-discursivo de elaboração de um gênero,
unidade 4, p.98-129), a questão do consumo (7ª
veremos que há variedades de abordagem de um
série, unidade 3, p.62-97), Valores sociais (8ª série,
mesmo tema por meio dos gêneros. Podemos
unidade 2, p.36-65), A televisão (8ª série, unidade
vivenciar um tema por meio de um romance, de uma
3, p.66- 99), exclusão social, conflitos de gerações,
peça, de um filme, de uma história em quadrinhos,
globalização, entre outros temas.
o necessário é saber se servir dos gêneros para tal
Isto é, há uma constância de temas sociais
intento. Um enunciado, um texto, um determinado
ou do interesse da faixa etária dos alunos a quem
gênero estarão sempre atrelados a um tema e é em
se destina a coleção, além de envolver contextos
função de um tema determinado em cada unidade
culturais e sociais diversificados por meio de variados
do LD que se trabalha os gêneros.
gêneros, o que favorece a interdisciplinaridade. Como exemplo, o texto A camada de ozônio e uma
Na unidade 3 da 6ª série a temática abordada Capa
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161
imagem do buraco na camada de ozônio visto por
discursivas, propiciam um engajamento do aluno ao
satélite (na seção Agora é a sua vez, p.59, 6a série)
tema proposto, e consequentemente, a formação de
que podem ser trabalhados conjuntamente com o
um ponto de vista por parte desses, contribuindo
professor de ciências. Os PCN (1998, p.31-2) sugerem
também para sua formação discursiva.
esses trabalhos e enfatizam a responsabilidade de
Quando se trata da produção textual, o caráter
todas as disciplinas em ensinar por meio de textos
inovador e motivador da abordagem dos temas e da
presentes no convívio social do aluno.
explanação dos gêneros não se manifestam com a
O trabalho com a temática é progressivo. Há
mesma intensidade. A grande maioria das atividades
temas que são retomados nas séries seguintes,
de redação no LD em questão tende a apresentar
por meio de outros gêneros. Como por exemplo:
condições de produção artificiais, dirigidas ao
a temática da adolescência nos gêneros Conto e
professor ou a exposição em murais, ou seja, ainda
Crônica, agrupados na ordem do narrar: O primeiro
não são planejadas ações alternativas nos capítulos
beijo, de Clarice Lispector (7ª série) e na série seguinte
para a socialização efetiva dos textos redigidos
(8ª) A Morcega, de Walcyr Carrasco.
pelos alunos fora do contexto escolar. Apenas, na
Os
textos
selecionados
são
de
seção Intervalo, há propostas de criação textual em
autores
representativos da literatura nacional e internacional,
condições mais espontâneas (anexo 3 e 4).
como, Lígia Fagundes Telles, Luis Fernando Veríssimo,
Os alunos devem ser motivados, quando
Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Mário
exercitarem a redação, a visualizarem uma situação
Quintana, Esopo, os irmãos Grimm, Edgar Allan
real de produção ou até a produzirem em função de
Poe, Mordillo, Quino, e periódicos de circulação
uma situação real. Como exemplo: redigir Cartas para
nacional, como, Folha de São Paulo, Veja, Pais &
revistas reais, em circulação, expressando suas opiniões
Teens, Atrevida, Superinteressante. Esses textos,
sobre as matérias, reivindicar seus direitos através de
por serem exercícios constantes de diversidades
carta de solicitação, de reclamação a representantes
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do povo: vereadores, deputados, senadores.
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uma forma própria que se pode aprender a usar na
No uso da produção oral, a coleção em análise
escrita e na oralidade. Como destaca Meurer (2000),
restringe-se a situações na sala de aula ou na
a cultura de um país é visualizada pelos gêneros
escolar, sendo mais um instrumento da disciplina na
textuais produzidos pelo seu povo, sendo, portanto,
checagem da leitura dos temas e aspectos linguísticos
no momento, questão fundamental nos estudos de
abordados do que objeto de estudo a ser sistemática
língua, no que diz respeito a todas as suas etapas:
e explicitamente abordado para o exercício pleno no
compreensão, interpretação e produção textual.
meio social em situações significativas.
O estudo dos textos no LD de Português,
Os textos que circulam socialmente, conforme
segundo a teoria dos gêneros, não pode ser mais
Carneiro (1997), cumprem um papel “modalizador”,
visto como pretexto para tratar de questões morais
isto é, funcionam como modelo, a partir dos
ou meramente gramaticais. Este deve ser visto,
quais os alunos vão se familiarizando com as
antes de tudo, como um aparato que contribui para
características discursivas dos diferentes gêneros;
a formação de leitores capazes de reconhecer as
porém a prática desses gêneros deve ser o máximo
sutilezas, as particularidades, os sentidos que dele
possível significativa. Para tanto, é necessário um
podem ser tirados, como também a extensão e a
estudo sistemático: conhecimentos prévios sobre o
profundidade das construções nele presente.
assunto e sobre o gênero e, em seguida, práticas
Os textos da coleção em análise, em geral, não
que ultrapassem o contexto escolar.
foram escritos pelos editores-autores do manual, e
Quando são contadas histórias para crianças que
sim, por outros autores que os redigiram como um
ainda não sabem ler e escrever, convencionalmente,
objetivo, uma intencionalidade, uma funcionalidade.
ensina-se a elas como são organizados, na escrita,
No livro didático, esses textos foram selecionados
os gêneros.
para um estudo de compreensão, de assimilação de
Todo texto pertence a determinado gênero, com Capa
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um gênero, um estudo linguístico. Tal fato gera uma eLivre
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Referências
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confusão quando se agrupam determinados textos,
e construção de instrumentos para que o aluno
uma vez que, deve-se preservar a intenção do autor,
amplie a sua competência linguístico–discursiva.
causa maior da existência do texto.
A finalidade do texto no livro didático não é a
Bezerra (2000, p.40) demonstra o tratamento
mesma do autor do texto. O LD de Português em análise
que vem sendo dado ao texto no LD de Português e
mesmo com boas propostas de trabalho com o texto,
expõe que não há uma preocupação em se estabelecer
ainda vê este como um meio de trabalhar a língua e
diferenças tipológicas claras. Como por exemplo,
seus aspectos. Porém, não podemos perder de vista a
a Carta pessoal e comercial que são estudadas
intencionalidade do texto, seu contexto sócio-histórico.
estruturalmente, no entanto, não há nenhuma alusão
A seleção dos textos para o livro didático em
a sua tipologia, quanto a ser narrativa, descritiva; e, a
análise foi feita em função da temática, dos gêneros
carta de opinião, ser de caráter argumentativo. Ou,
selecionados, em função da teoria dos gêneros voltada
ainda, que a Fábula, Lenda, Conto não são formas
para o ensino; mas também, em função de abordagem
variadas da narrativa, levando o aluno a pensar que há
de determinadas teorias linguísticas para um estudo
quatros variedades de textos: Fábula, Lenda, Conto e
meramente gramatical. Cada texto selecionado da
narrativa. No LD em análise observamos que há essa
seção Gêneros em foco prima por um objetivo próprio
preocupação ao trazer uma classificação determinada
que seria o estudo de textos existentes na diversidade
por meio de traços tipológicos constituída pelo
linguística, dentro de uma temática e enquadrado
agrupamento dos gêneros da equipe de Genebra.
dentro da proposta teoria de base.
Porém, há momentos em que não se distingue,
O
claramente, tipos de gêneros.
livro
didático
mostrou-se
preocupado
em trazer uma grande quantidade de textos,
A leitura de textos escritos, entre outras práticas,
menos gramática formalmente trabalhada e mais
deve ser vista como uma atividade discursiva que
discurso
gera, por meio da análise e da reflexão, a expansão
explorando a diversidade de gêneros existente. Há
Capa
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pessoal
Autor
(entrevistas
e
depoimentos)
Referências
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Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau
167
essa preocupação na coleção em análise quando
títulos foram retirados do manual da 6a série). Ou,
observamos a presença de depoimentos jovens
ainda, a partir de aspectos tipológicos e estruturais
e adultos (6a séries, p.95 e 8a série, p.34,68 e 77);
sobre os quais foram agrupados, conforme já foram
debates (7a série, p.107: princípios básicos para a
agrupados por Dolz e Schneuwly (1996), em forma
realização de um bom debate) e projetos com júri
de narrar, relatar, argumentar, expor e descrever
simulado (8a série, p.98 e 99); entrevistas (6a série,
ações como: O texto narrativo e o ponto de vista, O
p.82 e 83). O que não seria ainda o ideal, uma vez
texto científico; O texto argumentativo (manual de
que esse estudo e prática restringem-se quase
6a série), que se estende às outras séries de forma
totalmente, no LD em análise, ao contexto escolar.
mais específica e aprofundada. O texto narrativo: tipos de discurso e A crônica argumentativa, A carta
Se levarmos em consideração o processo um
argumentativa de solicitação e de Reclamação
agrupamento, veremos que há uma variedade de
(manual de 7a série) e A narrativa: o enredo (I e II), A
marcas, que devem ser reconhecidas, o que facilita
narrativa: o tempo e o espaço e O texto argumentativo:
a caracterização dos gêneros e sua assimilação. Há
razões e conclusão; o texto argumentativo: o senso
estudos referentes dos gêneros em que é considerado
comum e o texto argumentativo: a informatividade
o seu processo discursivo
(manual da 8a série).
linguístico-discursivo
de
elaboração
15
de
e que favorecem a
assimilação de outros traços na caracterização dos
Nas questões elaboradas para o estudo de
gêneros por esse viés.
textos, observamos que há uma mistura do conceito
A cada unidade-capítulo do LD em análise é dado
de gênero com o de tipo de texto. Como na pergunta
um título que se enquadra com os gêneros textuais
dirigida a dois textos de Luis Fernando Veríssimo
que serão abordados. Por exemplo: O telegrama, O
Minhas Férias, do livro O nariz e outras crônicas e Lar
diário, O poema, A notícia, A reportagem (todos esses
desfeito, da Comédias da vida privada 16. No estudo
15
Ver estudos de Brandão, 2000 e Meurer, 2000. Capa
Sumário
16 Ver esses textos, na íntegra, nos anexos 2 e 5.
eLivre
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Referências
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Gêneros textuais - Roseane Batista Feitosa Nicolau
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do primeiro texto, Minhas férias (anexo 2) que se
textos como sendo narrativos, eles se concretizam
encontra no manual da 6a série, precisamente na
em formas diferentes – gêneros – que possuem
questão 2, encontramos o seguinte enunciado:
diferenças específicas.
“O texto recebe o título de ‘Minhas férias’. Pela
No segundo texto, O lar desfeito, (anexo 5),
história que narra, ele se assemelha a um tipo de
temos:
texto feito na escola, solicitado pelos professores. a) “Esse texto conta uma história.
Que tipo de texto é esse?”.
A que gênero ele pertence?” (manual da 7a série. P.6)
Ora, a resposta esperada e cabível seria: uma redação escolar, porém se pensarmos no conceito de
A resposta poderia ser uma ‘crônica narrativa’
tipo; a resposta seria: ‘uma narrativa das férias’. Enquanto
que tem por eixo uma história, em que se narra uma
na de gênero textual seria: uma redação escolar.
situação vivida por uma família.
Aprofundando um pouco mais, se pensarmos na intenção do autor do texto, na necessidade que
A crônica, conforme está dito na coleção na p.
gerou esse texto, poderíamos classificá-lo como
41 na 7ª série, foi um gênero que nasceu no jornal e
uma crônica em forma de redação escolar, uma vez
se caracteriza por apresentar os fatos do cotidiano
que os gêneros se permeiam e se permutam. Essa
de forma artística e pessoal. Um outro indício que nos leva a classificar Lar
é a dinâmica dos gêneros que imitam a própria
desfeito com uma crônica é o próprio título do livro:
dinâmica da língua, como disse Bakhtin (2000). Essa narrativa em estudo se organiza de forma
Comédias da vida privada, de onde foi coletado o
diferente da fábula, do conto, isto é, cada gênero
texto. No entanto, a resposta esperada - e que consta
possui diferenças entre si. Como nos diz Barbosa
no livro do professor - é: “Ao gênero narrativo”. O
& Santos (s/d,) não podemos ensinar narrativa em
conceito de gênero textual trabalhado no manual
geral, porque, embora possamos classificar vários
de 5a série - já exposto por nós - não condiz como
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o de tipologia textual, que seria como o gênero se
por exemplo, trabalhados na 5a série são o bilhete,
manifesta - narração, descrição e dissertação. Fica,
cartão, postal, carta pessoal; na série seguinte,
portanto, um impasse: O que vem a ser gênero na
outras correspondências que apresentam num grau
coleção? Desta forma, percebemos que o conceito
maior de dificuldade: o telegrama, a carta do leitor E,
de gênero não está bem definido na prática. É
assim, sucessivamente, na 7a série: a carta aberta, de
necessário, portanto, um aprofundamento para
solicitação e de reclamação e na 8a série: o editorial,
resultar numa melhor compreensão e assimilação
que seria uma carta do editor de uma revista ou
por parte dos leitores – professores e alunos - do
qualquer outro periódico.
material didático.
Poderia fazer parte desta lista ainda as
Sabemos que o gênero é o resultado de uma
apresentações de livros, feitas, às vezes, pelo
situação social representada por uma organização
próprio autor do livro para que se conheça a sua
típica e textual e com funções próprias e, que há,
abordagem. Mas, como o livro não se propõe a um
ainda, uma infinidade de gêneros que precisam ser
estudo exaustivo de um determinado tipo de gênero
reconhecidos para serem trabalhados, sobretudo os
textual, é compreensível esta ausência.
gêneros orais.
Apesar da evolução, no que diz respeito à
O estudo de cada gênero textual, na coleção em
variação dos gêneros, ainda persiste a ideia de que
análise, é feito de forma progressiva e diversificada;
a modalidade narração existe separadamente da
proposição colocada por Pasquier & Dolz (1996),
argumentação. Não podemos dizer que um texto é
que consiste, basicamente, na retomada, no
exclusivamente narrativo, pois não há exclusividade,
aprofundamento e na ampliação de cada gênero de
o que há é um aspecto tipológico que predomina
acordo com a série e com o grau de maturidade do
no texto, que pode ser a narração, a exposição, a
aluno, o que seria uma complexificação dos gêneros
dissertação – em que a argumentação se faz mais
a cada série escolar. Os gêneros correspondências,
presente. Conforme perspectiva da Semântica
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Argumentativa17, a argumentação se faz presente
Como atesta Rojo (1998), há muitos gêneros
em qualquer texto, seja narrativo, expositivo, etc.
presentes em coleção didáticas que, ainda, não
Vemos textos narrativos como Fábulas, Parábolas
foram devidamente estudados, do ponto de vista
e discursos pessoais usados para persuadir e
de sua marcas linguístico-discursivas interna e
convencer.
externas. Essa pesquisadora, ao se debruçar sobre
Falta, porém, um estudo da construção do
alguns gêneros do agrupamento do relatar como:
sentido que permeia cada texto, para não cairmos
Diário íntimo, de viagem, Biografia, e Relato histórico,
outra vez numa classificação fechada e apenas
tem realizado por meio do estudo de aspectos
formal. Um bom exemplo acontece no texto O lar
enunciativos e linguísticos uma análise mais
desfeito (anexo 5) em que podemos observar que,
detalhada e consistente desses gêneros, destacando
por ser o texto uma narração, todas as questões
diferenças entre eles, em termos linguísticos, de
voltam-se para as características tipológicas da
procedimentos coesivos, enunciativos e discursivos.
narração e esquece-se de que a narração é uma
A atividade discursiva se desenvolve em
das maneiras de que podemos nos servir para levar
interação constante, percebemos isso ao explicitar
um determinado público a perceber a situação da
a situação material, indicando a presença dos
família na atualidade, à medida que é narrada a
interlocutores em situação, os lugares imediatos da
relação entre os membros da família.
situação e ao momento definido. Todas essas marcas
As análises textuais presentes nessa coleção
linguístico-discursivas compõem a enunciação, o
didática não se constituem em análises consistentes
discurso.
sobre os gêneros textuais e sobre suas propriedades
No LD em análise os gêneros textuais ainda
linguístico-discursivas externas.
não são bem definidos. As diferenças apresentadas não são suficientes para diferenciar os gêneros de
17 Sugerimos, para ampliar as informações acerca desse assunto, a leitura de obras que tratam da argumentação, como dos seguintes autores Perelman,1996; Anscombre e Ducrot, 1976.
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um mesmo agrupamento. Como, por exemplo, as eLivre
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características do Diário:
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Tais características são insuficientes para que o aluno produza textos nesses gêneros com um grau maior de unidade e com coerência. Há uma infinidade de fatores que compõem a enunciação e que contribuem para a formação do gênero no seu aspecto formal. Alguns gêneros assemelham-se a outros que fazem parte, por sua vez, de outros agrupamentos. Dada essa proximidade, Marcuschi (2000) nos diz que os gêneros formam um continuum, e isso impede a classificação (ou agrupamento) dos gêneros sem que se estabeleçam critérios.19 Isso ocorre com o Relato Pessoal que faz parte do agrupamento do
Essas por serem gerais, não se diferenciam das
relatar e a Crônica que pode fazer parte do narrar e
características da Autobiografia18, que são relatos,
do expor, uma vez que o personagem, às vezes, é o
impressões, fatos vividos pelo autor, ditados por suas
próprio narrador.
lembranças guardadas na memória, que apresenta
Existe uma quantidade de gêneros diferentes
uma estrutura livre e que pode conter narrativas e
para se referir as diferentes maneiras de se preparar
descrições de pessoas, cenas e paisagens (manual
e se constituir discursos; mas, para o estudo desses,
da 5ª série, p.92). Ora, o que foi estabelecido como
se faz necessário o reconhecimento das marcas
característica do Diário pode ser estabelecido
linguístico-discursivas que os diferenciam.
também para a Autobiografia.
19 Ver essa preocupação com a classificação dos gêneros também em Meurer (2000).
18 Ver essas características na página 95 desta analise.
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As atividades, através dos gêneros, para surtir o efeito desejado, devem ser mais de que uma técnica de exposição de características devem ser significativas, fruto de uma necessidade emergente. CONCLUSÃO
As reflexões que se seguem são frutos de uma análise que, embora breve, busca apontar caminhos para que o professor possa fazer um melhor uso do Livro Didático analisando-o como mediador no processo de ensino e aprendizagem, e tendo-o como um apoio questionável, porém necessário, devido à situação atual da educação que impede que o professor elabore o seu próprio material didático. Apresentamos, a seguir, algumas considerações finais desta última parte, partindo das questões que regeram a pesquisa. A partir do título e da proposta apresentada, observamos que a coleção didática analisada voltase, essencialmente, para o estudo dos gêneros. Seus autores-editores tiveram como pressupostos teóricos os estudos dos gêneros centrados no ensino Capa
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e aprendizagem, expostos por Schneuwly (1994),
real. Na prática, vemos à reprodução de padrões
Dolz e Schneuwly (1996) e adotada pelos PCN, que
esquemáticos de estudo e produção de textos
propõem um trabalho com a diversidade de gêneros
partindo, agora, dos aspectos estruturais dos
como fonte de conhecimento e aprofundamento
gêneros.
linguístico-discursivo.
Há, no manual, poucas oportunidades
No entanto, a abordagem textual em toda
de se colocar o fazer discursivo por meio de
a coleção volta-se, quase que exclusivamente,
uma situação real de comunicação, de uso
para a definição de gênero a que pertence cada
efetivo. O comum é uma prática de um discurso
texto. Fica evidente que o texto continua sendo
ainda padronizado e descontextualizado, já
um pretexto, agora, para o estudo dos gêneros
que não há uma comunidade discursiva real
no seu aspecto estrutural e composicional
com fins estabelecidos, mas sim, situações
(características principais), bem como, para
determinadas pelo LD. Essa prática pode não
ilustrar o estudo de aspectos textuais e aspectos
contribuir plenamente para o desenvolvimento
relativos ao código e à gramática como: coesão
da competência textual-discursiva do aluno. Vale
e coerência textual, palavras de referências,
salientar, no entanto, que no momento da coleção
relações semânticas, vocabulário. Isto é, esta
designado de Intervalo, ocorre um ensaio do que
coleção didática, mesmo mostrando propostas
seria o estudo dos gêneros direcionado para a
inovadoras, não consegue, ainda, alcançar a
construção de um fazer discursivo real que exige
dimensão textual-discursiva que pressupõe a
uma formação crítica e participativa.
concepção da linguagem, presente na teoria
Voltar-se para análise dos gêneros é voltar-
dos gêneros, como um lugar de interação, em
se para uma situação social que apresenta uma
que sujeitos constroem um fazer discursivo fruto
organização típica e com função própria que devem
de uma necessidade de comunicação natural e
ser descobertas e estudadas. Assim sendo, se faz
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necessário, em cada texto estudado, o resgate da
grupo de Genebra e de elementos didatizantes que
situação original do texto que seria: o seu contexto,
são empregados pelo editor-autor no ato de compor
os seus locutores e interlocutores e seu momento
o LD, com o intuito de aproximar o aluno-leitor. De
histórico-social. Prática não identificada na coleção
certa forma, esse fazer discursivo, presente no LD
em análise.
em foco, facilita e contribui para o conhecimento
Durante o estudo dos gêneros textuais, não
de alguns gêneros que, se estudado em situações
foi levado em conta o conhecimento prévio do
mais próximas do real, do seu uso efetivo traria
professor e do aluno quanto às características
resultados mais positivos para a utilização desses
formais dos gêneros. A critério de sugestão,
foram do contexto escolar.
deveria ser dada oportunidade ao aluno de
Os gêneros no LD analisado são estudados
construir um saber sobre um determinado
de forma distante do indivíduo falante, isolado
gênero, partindo de seu conhecimento e de
do seu momento sócio-histórico-cultural. Alguns
pesquisas feitas por ele. Assim, esse descobriria
gêneros regionais não foram considerados como:
outras características de cada gênero destacado
na literatura: o Cordel, as Lendas locais. Na música:
para o estudo, além das destacadas no LD, como:
o Frevo, o Forró, gêneros musicais representantes
quando são utilizados, se ainda são utilizados no
da cultura do Nordeste, talvez porque o LD, ainda
atual contexto social ou se já foram alterados ou
não se abriu para a pluralidade dos discursos e
substituídos por outros etc., o que contribuiria
cultura que há em nosso país, o que permitiria
para que o aluno visse a riqueza que envolve o
um maior estudo das variantes linguísticas e
uso efetivo dos gêneros num âmbito mais amplo,
culturais.
além dos limites escolares.
O ensino de língua, por meio dos gêneros,
O fazer discursivo presente na coleção em
busca
análise se organiza a partir da teoria dos gêneros do Capa
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o
desenvolvimento
da
competência
discursiva do aluno, capacitando-o a compreender eLivre
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Referências
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e produzir textos nas mais diferentes situações
Para alcançar esses aspectos discursivos o LD
de comunicação. O LD em análise, indiretamente,
em análise deveria deixar de perguntar: o que o autor
desperta o aluno para a diversidade de gêneros
disse nesse texto ou nesse trecho? Ou ainda: esse
existentes e para importância do conhecimento
texto pode ser considerado uma narrativa? E passar
desses.
a questionar: a partir de sua constituição, em quais
No que diz respeito ao estudo dos gêneros no
condições de produção esse texto foi realizado?
aspecto sócio-histórico-cultural, a coleção deixa a
quais os sentidos que as instruções presentes no
desejar. Há, uma ênfase no reconhecimento dos
texto permitem levantar? Entre outras.
gêneros; porém, mais importante do que esse
Desta forma, o LD passaria a exercitar, na prática,
reconhecimento e sua classificação, é a utilização
a teoria dos gêneros na perspectiva bakhtiniana
desses para o bom desempenho e êxito na
e trabalhada por linguistas aplicados em prol da
comunicação. Portanto, o estudo dos gêneros não
qualidade do ensino e aprendizagem da língua.
deve ter um fim em si mesmo, deve ser visto como
Chegamos a um final provisório de nossas buscas,
um instrumento que favoreça o crescimento de um
indagações e inquietações; porém, como pergunta
saber-fazer textual-discursivo em diversas situações
Todorov: “.... quem nos dirá se o caminho seguido não
de interação verbal, como um instrumento com o
tem mais interesse do que o ponto de chegada?”
qual é possível exercer uma ação linguística sobre
Por isso, convidamos autores de livros didáticos,
a realidade. Assim, o estudo dos gêneros ampliaria
professores e estudiosos da língua em geral a aceitar
a competência linguística e discursiva dos alunos
essa provocação em debater e rediscutir o papel do
- que seria na prática: saber conhecer um gênero
livro didático enquanto regente e interlocutor na
não só por meio de seus aspectos linguísticas e
sala de aula, sobretudo, no Ensino Fundamental,
textuais, mas também por aspectos discursivos, o
bem como, o papel da teoria dos gêneros que serviu
que engloba o social e o histórico.
de suporte para esse trabalho e que ganhou corpo
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no livro didático analisado.
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apontaram para a importância do gênero como
No decorrer dessa investigação, abordamos
organizador das ações de linguagens possíveis e
teorias que se propunham a estabelecer um conceito
como instrumento eficaz no ensino e aprendizagem
e uma classificação dos gêneros na literatura e na
da língua, ideia encampada pelos PCN.
linguística. Na
literatura,
Percebemos, na nossa pesquisa, que há uma foram
sugeridas
diversas
unanimidade na aprovação do estudo dos gêneros
classificações e foram dadas várias definições
no âmbito linguístico e uma preocupação por parte
para os gêneros, conforme a época e a corrente
de todos os linguistas aplicados, em se estabelecer,
literária, muitas delas elaboradas para o estudo
com êxito, a transposição da teoria dos gêneros
de um número restrito de gêneros de valor social
para o ensino.
reconhecido ou exclusivo da literatura. Com o
Essas colocações são visíveis nos trabalhos
advento da modernidade e, consequentemente,
desenvolvidos
pela
equipe
de
Genebra
que
surgimento de uma gama imensa de gêneros
organizou os gêneros em conformidade com os
de circulação social, houve a necessidade de se
domínios sociais de comunicação e trabalham
ampliar o campo de visão dos gêneros. A partir de
com a progressão e a aplicação didática desses no
ampliação desse campo de visão propagado por
contexto escolar.
Bakhtin, Todorov e outros, inicia-se o estudo dos
O nosso estudo, além de divulgar essas novas
gêneros como as formas de dizer que circulam
visões e estudos sobre os gêneros, procuram
socialmente.
contemplar a aplicação e o encaminhamento dado a
O estudo dos gêneros na linguística, aqui
esses numa coleção didática, que apresenta e aplica
apresentado, deu-se, sobretudo, em Bakhtin e
a Teoria dos gêneros.
nas pesquisas mais recentes feitas por estudiosos
Por meio da observação dos estudos dos
franceses, genebrinos e brasileiros. Essas pesquisas
gêneros presentes nessa coleção em análise,
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concluímos que a abordagem dada centra-se mais
Esse procedimento aproxima o Livro Didático
na estrutura interna e visível do gênero: linguística,
do verdadeiro papel da Escola: a vivência, por parte
classificatória e formal. Não é feito um estudo
dos alunos, de uma educação que almeja um mundo
profícuo, de aspectos externos, como por exemplo:
mais participativo e mais promissor.
da situação de comunicação, da interação verbal que concretizou o gênero, o que contribuiria, muito mais, para identificação dos gêneros e para sua apropriação. Como pudemos constatar, a coleção dá um grande passo ao introduzir o estudo dos gêneros, mas a abordagem restrita a aspectos formais nos estudos do texto não garante o domínio textualdiscursivo do aluno e sua autonomia na utilização consciente dos gêneros. Reafirmamos, portanto, a nossa constatação de que o LD pode vir a ser um colaborador na formação crítica dos alunos quando provoca questionamentos
mais
pertinentes
com
a
concepção de gênero e práticas sociais mais próximas da realidade; e, assim, este material de apoio passa a contribuir para a formação de cidadãos aptos a exercerem um papel social bem mais efetivo. Capa
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partir de gêneros e projetos. 5ª a 8ª série. São Paulo: Atual
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