GEO-FOOD: UMA NOVA PERSPECTIVA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

September 3, 2017 | Autor: Jasmine Moreira | Categoria: Sustainable Tourism, Geodiversity, Food and Gastronomy Tourism, Turismo, Patrimonio
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GEO-FOOD: UMA NOVA PERSPECTIVA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

Tatiane Ferrari do Vale1 Jasmine Cardozo Moreira2 Graziela Scalise Horodyski3

RESUMO: A experiência de um turista em um destino vai muito além de visitar um atrativo, pois as pessoas desejam levar consigo uma lembrança que materialize a viagem após seu regresso. Uma das formas mais comuns de adquirir essas lembranças são os souvenirs. Um dos tipos de souvenirs consumidos pelos turistas durante uma viagem é o souvenir gastronômico, que advém dos alimentos e bebidas e são objetos dotados de signiicados. Na perspectiva de comercializar produtos alimentícios valorizando principalmente os aspectos geológicos e gastronômicos, o Geopark Magma (Noruega) idealizou a utilização de souvenirs gastronômicos através do Projeto geo-food. O Projeto possui parceiros na Europa e na América do Norte, o Grupo de Trabalho do Projeto Geopark Fernando de Noronha (PE) é o único parceiro do Projeto na América do Sul. O objetivo desse trabalho foi apresentar o geo-food como um souvenir gastronômico e geo-produto, apresentando exemplos de Geoparks que já o utilizam como ferramenta de geoconservação e o potencial de Fernando de Noronha para sua realização. A metodologia utilizada foi à pesquisa descritiva e como aporte teórico a pesquisa bibliográica. Como principais resultados, veriicouse que o geo-food potencializa e valoriza os elementos da bio e da geodiversidade, agrega valor e confere diferencial aos Geoparks, e no caso especíico de Fernando de Noronha constata-se que há potencial para o desenvolvimento do Projeto geo-food, que como consequência irá gerar novas alternativas de renda para a comunidade local e proporcionará experiências únicas para os visitantes. PALAVRAS-CHAVE: souvenir Gastronômico. Geoparks. Geoconservação. ABSTRACT / RESUMEN: The tourist’s experience in a destination goes beyond viewing an attractive, because people want to carry a reminder that materialize the trip after his return. One of the most common ways to acquire these memories are souvenirs. One kind of souvenir consumed by tourists during a trip is the gastronomic souvenir, which comes from food and beverages and objects that are full of meanings. From the perspective of marketing some food products mainly valuing the geological and gastronomic aspects, Magma Geopark (Norway) envisioned the use of gastronomic souvenirs through Geo-food Project. The project has partners in Europe and North America, the Project Geopark Fernando de Noronha (PE) Working Group is the only 1 Graduada em Turismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. tathy_ferrari@hotmail. com 2 Pós-doutora pela Universidad de Zaragoza. Professora do Departamento de Turismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. [email protected] 3 Doutora em Geograia pela Universidade Federal do Paraná. Professora do Departamento de Turismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. [email protected]

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partner of the project in South America. The aim of this study was to present the geofood as a foodie souvenir and geo-product, presenting examples of Geoparks that already use it as a tool of geoconservation and potential of Fernando de Noronha for your realization. The methodology used was the descriptive and theoretical contribution to literature. As main results, it was found that the geo-food strengthens and enhances the elements of bio and geodiversity, adds value and makes the differential Geoparks, and in the Fernando de Noronha’s case is observed that there is potential for the development of the Project Geo-food, which as a result will generate new sources of income for the local community and provide unique experiences for visitors. KEYWORDS / Geoconservation.

PALABRAS-CLAVES:

Gastronomic

Souvenir.

Geoparks.

INTRODUÇÃO

Uma viagem envolve muito mais que a visita a determinados atrativos, ela é a soma de experiências e inter-relações de diversos outros fatores que permitem que os turistas tenham uma percepção do produto turístico que estão consumindo. A ideia de materializar a viagem após seu regresso faz com que muitos desses turistas adquiram uma ‘lembrancinha’ do local que visitaram, e uma das formas frequentemente utilizadas para isso é o consumo de souvenir. Os souvenirs são objetos repletos de signiicados, tangíveis e intangíveis, podendo representar o imaginário de uma comunidade produtora sobre o lugar em que vive, bem como corresponder à lembrança do visitante sobre a imagem turística do lugar visitado (HORODYSKI; MANOSSO; GâNDARA, 2013), ou seja, eles são tão importantes para os turistas, quanto para a comunidade. O ato de trazer e guardar um souvenir suscita nas pessoas sensações memoráveis à medida que proporciona a materialização dessa lembrança. (MEDEIROS; CASTRO, 2007 apud HORODYSKI; MANOSSO, GâNDARA, 2013). O consumo de souvenir acontece na maior parte dos países do mundo e seus signiicados dependerão das experiências que as pessoas atribuíram a eles durante a viagem. Esse consumo e seus signiicados estão relacionados com o tipo de viajante que adquire esses objetos (LOVE e SHELDON,1998). Um dos tipos de souvenir adquiridos durante uma viagem é o souvenir gastronômico, que está relacionado aos alimentos e bebidas e servem também como ‘lembrancinhas’.

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Esses objetos são capazes de despertar inúmeros signiicados e buscando valorizar o patrimônio geológico e a gastronomia local, o geopark Magma (Noruega) propôs o Projeto geo-food. Por meio dessa iniciativa é gerado emprego e renda para as comunidades locais, além de ser uma ferramenta de geoconservação. O Projeto possui vários parceiros que desenvolvem ou tem interesse em implementar essa iniciativa. No entanto, outros destinos, não necessariamente vinculados ao Projeto já comercializam o geo-food. O Projeto geo-food tem como parceiros Geoparks de países da Escócia, Canadá, Finlândia e Espanha, universidades, experts em gastronomia e projetos de Geoparks da Dinamarca e Islândia. Na América do Sul o único parceiro dessa iniciativa é o Grupo de Trabalho que está realizando a Proposta de Geopark Fernando de Noronha. Assim, esse trabalho tem como objetivo apresentar o geo-food como um souvenir gastronômico e geo-produto, bem como exemplos de Geoparks pelo mundo que já o utilizam como ferramenta de geração de renda e geoconservação. Também, buscou-se apresentar o potencial de Fernando de Noronha, no que se refere aos aspectos da bio e da geodiversidade do arquipélago para realização do geo-food. Esse trabalho foi estruturado em quatro partes, a primeira busca contextualizar e diferenciar os souvenirs dos souvenirs gastronômicos, a segunda visa apresentar os conceitos de Geopark, geoconservação e geodiversidade, a terceira apresenta o Projeto geo-food e o potencial de Fernando de Noronha para realização do Projeto, e a quarta e última parte apresenta exemplos de Geoparks pelo mundo que utilizam o geo-food e as considerações inais. A metodologia utilizada foi à pesquisa descritiva, e como aporte teórico, foi utilizada a pesquisa bibliográica, que possibilitou o entendimento de conceitos a cerca do tema em questão. Também houve a consulta a sites da internet como complemento bibliográico.

SOUVENIRS GASTRONÔMICOS

Um souvenir é um objeto adquirido pelo turista durante a viagem, como uma recordação dos locais visitados. Da mesma maneira que existem diferentes tipos de turistas (explorador, elite, alternativo, etc.), há também diferentes tipos de souvenir, que Gordon (1996) apud Horodyski et al. (2012) classiica como:

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• produtos como marca, • réplicas de ícones, • produtos pictóricos • objetos ‘piece of the rock’,4 • e produtos locais.

A subcategoria produtos locais, abrange ainda outros elementos, como: arte, artesanato, arte folclórica, produtos alimentícios, vestuário. Horodyski et al. (2012) abordam os produtos alimentícios como souvenir gastronômico, e esses advém dos alimentos e bebidas e seus diferentes consumidores. De acordo com Shen (2011) apud Horodyski et al. (2012) os consumidores podem ser classiicados como culturais e comerciais. Segundo o autor os consumidores culturais dizem respeito àqueles que se preocupam com o signiicado e autenticidade do objeto e os comerciais estariam desinteressados a esses fatores. souvenir gastronômico pode ser conceituado como: (Horodyski et al 2012, p. 5) :

“um produto derivado de alimentos ou bebidas, com identidade diferenciadora, identiicação da origem, embalagem adequada e transporte facilitado; que seja capaz tanto de materializar a experiência da visitação e prolongar as sensações vividas pelas pessoas após o retorno de suas viagens turísticas quanto permita compartilhar lembranças com outras pessoas e motivar novas viagens”.

Os autores ainda propõem que esse tipo de souvenir deve necessariamente considerar cinco elementos: alimentos e bebidas, identiicação, embalagem, identidade e transporte. Os geo-produtos são conceituados segundo a UNESCO (1999, a p. 2) como “a produção sustentável de artesanatos inovadores que tem a conotação geológica, por exemplo, comercialização de fósseis e souvenirs”. Sugere-se aqui uma subclassiicação do souvenir gastronômico, que seriam 4 “objetos de caráter natural em seu estado bruto, ou manufaturados, como conchas, rochas, areia, lores, sementes, animais empalhados, etc”. (HORODYSKI; MANOSSO; GâNDARA, 2013).

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os geo-produtos, que são objetos que tem sua conotação voltada aos aspectos geológicos dos locais visitados. Entende-se então que o souvenir gastronômico pode ser qualquer produto alimentício que tenha os elementos: alimentos e bebidas, identiicação, embalagem, identidade e transporte. Já os geo-produtos são sempre voltados aos aspectos geológicos do local, e o geo-food seria um tipo de geo-produto e também um souvenir gastronômico. Na igura abaixo se evidenciam as categorias que antecedem o geofood:

FIGURA 1: TIPOS DE SOUVENIR

Fonte: Adaptado de Horodyski et al (2012)

Como ressaltam Farsani et al. (2012, p.43), “os produtos turísticos não devem seguir somente os princípios da sustentabilidade, mas também devem promover o desenvolvimento do geoturismo como uma nova ramiicação do turismo”, ou seja, o souvenir gastronômico, também pode ser analisado como um elemento à parte, mas ele depende necessariamente da atividade turística para ser comercializado. No caso do geo-food há toda uma estrutura que antecede sua comercialização, desde o planejamento de seu designer até o momento que será consumido nos estabelecimentos.

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GEOCONSERVAÇÃO E TURISMO

Durante anos se discutiu a importância de preservar o patrimônio geológico, mas nada de efetivo foi feito até a criação da Rede Europeia de geoparks (2000) e da Rede Global de geoparks (2004). Desde a criação das redes muito se avançou no que tange os princípios da geoconservação, evidenciando-se no número crescente de membros inscritos e nas estratégias utilizadas para sensibilizar as pessoas a respeito da importância de preservar o patrimônio geológico. Inicialmente as redes contavam com apenas quatro membros: geopark Maestrazgo (Espanha), geoapark Vulkaneifel (Alemanha), geopark da Reserva Geológica de Haute-Provence (Romênia) e o geopark da Floresta Petriicada de lesvos (Grécia), no entanto contam atualmente com 100 Geoparks em 29 países. O Brasil possui somente um Geopark nessa Rede, o Geopark araripe no Ceará. Um geopark é um selo atribuído pela UNESCO, para áreas que combinam a proteção do patrimônio geológico com o desenvolvimento sustentável. Um geopark não trata somente de geologia, engloba também aspectos ligados à biodiversidade, arqueologia, história, cultura entre outros. A UNESCO (2006, b) conceitua um geopark como:

“Um geopark é um território de limites bem deinidos, com uma área suicientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento socioeconômico local. Deve abranger um determinado número de sítios geológicos relevantes ou um mosaico de aspectos geológicos de especial importância cientíica, raridade e beleza, que seja representativo de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Além do signiicado geológico, deve também possuir outros signiicados à ecologia, arqueologia, história e cultura.”

Os objetivos de um geopark são proteger e promover o patrimônio através de iniciativas sustentáveis e atividades educativas. geoparks buscam estimular a geração de emprego e renda para as comunidades locais, através da valorização da sua história, cultura e patrimônio. Esses aspectos incluem, entre outros, a promoção e o incentivo de artesanato típico e a gastronomia local. A principal atividade turística realizada em um geopark é o turismo sustentável, que propicie a adequada proteção e interpretação do seu patrimônio. Nesse contexto, insere-se a geoconservação que pode ser deinida como “ação feita com a intenção de preservar e melhorar as características geomorfológicas e geológicas, processos, locais e exemplares” (BUREK; PROSSER, 2008).

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Um conceito que está relacionado à geoconservação é o da geodiversidade, que segundo Moreira (2011, a p.39) é: “a variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos, que dão lugar a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos supericiais que constituem a estrutura para a vida na Terra”. Segundo a autora é importante que a Terra seja entendida como um todo, tanto no que se refere aos aspectos da biodiversidade, quanto de geodiversidade; e uma problemática existente é o termo geodiversidade ser pouco divulgado se comparado a biodiversidade. A falta de divulgação e até mesmo valorização desses aspectos, é um dos motivos que faz com que muitos lugares tenham buscado novas alternativas para uma maior proteção do patrimônio geológico, como criação dos geoparks. Da mesma forma que é necessário que sejam criadas medidas em prol da conservação, como por exemplo, as Unidades de Conservação Federais e os geoparks, também devem ser criados mecanismos de divulgação e valorização do patrimônio geológico, como o geo-produtos e o geo-food.

O PROJETO GEO-FOOD E FERNANDO DE NORONHA

Na perspectiva de desenvolvimento sustentável e geoconservação o geopark Magma (Noruega) desenvolveu a ideia de valorizar a gastronomia local com enfoque nos elementos do patrimônio geológico e da biodiversidade, através do Projeto geo-food. Os parceiros desse Projeto são Geoparks da Escócia, Canadá, Finlândia e Espanha, universidades, experts em gastronomia e projetos de Geoparks da Dinamarca e Islândia. Na América do Sul o único parceiro dessa iniciativa é o Grupo de Trabalho que está realizando a proposta de Geopark Fernando de Noronha. No Brasil, o Projeto visa capacitar às comunidades para que sejam propostos “geo-menus” e “geo-food” (incluindo também souvenirs gastronômicos) a serem oferecidos por estabelecimentos selecionados e preparados pela comunidade local. A valorização dos aspectos geológicos, culturais e naturais através desses produtos tem como intuito gerar renda para as comunidades locais. O arquipélago de Fernando de Noronha é composto por duas Unidades de Conservação Federais, o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Área de Proteção Ambiental Fernando de Noronha – Rocas – São Pedro e São Paulo, no entanto, veriicou-se que há necessidade de medidas mais efetivas para a conservação do seu patrimônio geológico. Assim, após estudos e levantamentos

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sobre o patrimônio geológico (MOREIRA, 2008, b e CPRM, 2012), identiicou-se que Fernando de Noronha tem condições de se tornar um geopark e um dossiê está sendo preparado para ser enviado para a UNESCO. A ilha possui geodiversidade única e excepcional e pesquisas e projetos vêm sendo realizados na ilha sobre esse tema desde 2007. Em 2013 foi criado um Grupo de Trabalho com representantes de diversas entidades e da comunidade local, e o Grupo vem trabalhando em ações visando propor a candidatura de Fernando de Noronha à Rede Global de geoparks. Para integrar a Rede, é fundamental que os geoparks possuam atividades educativas e interpretativas, destinadas não só para os visitantes, mas também para a comunidade. Além disso, um geopark deve trazer benefícios a todos os seus envolvidos, sem a comunidade, não há um geopark. Esta não é uma iniciativa “imposta de cima para baixo”. O apoio da comunidade e o seu envolvimento é absolutamente imprescindível para o sucesso de um geopark, seja no seu processo de planejamento ou na execução de suas atividades e desenvolvimento de novos produtos. Deste modo, destaca-se que Fernando de Noronha tem potencial para o desenvolvimento do Projeto geo-food, pois possui atrativos muito conhecidos como o Morro do Pico e as ilhas Dois Irmãos, bem como aspectos da lora e da fauna em geral que podem servir de inspiração para a criação de geo-menus e geo-foods, podendo ser oferecidos para os visitantes, preparados pela comunidade, gerando novas alternativas de renda e proporcionando experiências únicas para os visitantes.

EXEMPLOS DE GEO-FOOD EM GEOPARKS PELO MUNDO

Existem casos já consolidados de geoparks que desenvolvem os geo-foods como ferramenta de valorização e promoção da geologia, cultura e patrimônio natural. Alguns exemplos são: geopark unzen (Japão), geopark Vulkaneifel (Alemenha), geopark Jeju (Coréia), geopark Hong kong (China), geopark naturtejo (Portugal), geopark Açores (Portugal) e geopark arouca (Portugal). No geopark unzen, no Japão, as bolachas possuem desenhos que remetem a lora local e também ao vulcão da região. A embalagem apresenta a história das ultimas erupções (Figura 2). Na Alemanha, no geopark Vulkaneifel as bombas vulcânicas integram a geodiversidade local, divulgando esse aspecto do patrimônio, as confeitarias da região oferecem a “torta da bomba vulcânica”, em que a bomba é retratada como um confeito na torta (Figura 3).

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FIGURA 02: BOLACHAS COM DESENHOS QUE REMETEM A FLORA LOCAL E A UM VULCÃO DA REGIÃO NO GEOPARK UNZEN (JAPÃO) FIGURA 03: TORTA DE BOMBA VULCÂNICA, REPRESENTANDO AS BOMBAS VULCÂNICAS DO GEOPARK VULKANEIFEL (ALEMANHA)

Fonte: Os autores Fonte: Gilson Guimarães

No geopark Jeju (Coréia), seus gestores também aplicaram a ideia do geofood, e em 2014 desenvolveram a “Exibição de ideias de receitas de geo-foods” com base nos recursos geológicos do Geopark. Esse evento teve a participação de vários setores, como estudantes, cozinheiros e donas de casa. O geopark visa comercializar essas receitas de geo-foods em restaurantes, cafés, empresas e casas de hóspedes, onde os lucros provenientes desse projeto podem ser devolvidos à comunidade local através da atividade empresarial, e também ajudará a desenvolver a economia local (GLOBAL NETWORK OF NATIONAL GEOPARKS, 2014). FIGURA 04: EXEMPLOS DE GEO-FOODS PRODUZIDOS PARA UM FESTIVAL GEOLÓGICO LOCAL NO GEOPARK JEJU, NA CORÉIA.

Fonte: http://www.globalgeopark.org/News/News/8616.htm

Há também o geo-Menu, que é oferecido em restaurantes do geopark

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Hong kong (China), onde foram criados pratos em que sua apresentação remete aos elementos do patrimônio local. Ele é um elemento que compõem os geo-foods oferecidos em restaurantes, para que as pessoas possam escolher os produtos alimentícios oferecidos. No caso do geopark Hong kong, o geo-menu é um cardápio composto pelo nome e descrição dos pratos oferecidos, bem como uma foto da característica geológica e do prato, e sua descrição geológica. FIGURA 05: EXEMPLO DE UM PRATO DE UM GEO-MENU, SERVIDO NO GEOPARK HONG KONG, QUE PROCURA IMITAR A FORMA DO GEOSSÍTIO

Fonte: Internet

O geopark naturtejo (Portugal) é um exemplo de Geopark que confecciona geo-produtos. O estabelecimento de um geo-restaurante e uma geo-padaria foi uma estratégia para criação de geo-produtos, que foram inspirados na paisagem e revivem o passado das civilizações e tradições ancestrais. A geo-padaria é administrada por um casal de geólogos, que confeccionam bolachas de trilobitas5 e granulitos6 (FARSANI, et. al, 2012). No geopark açores (Portugal), são produzidos licores artesanalmente (Figura 6), que possuem rótulos que destacam elementos da geodiversidade, como o Vulcão da Ilha do Pico. No geopark arouca (Portugal), como citado anteriormente, os fósseis de trilobitas são elementos expressivos de visitação turística, portanto, as padarias locais oferecem biscoitos com o formato de trilobitas (Figura 7). FIGURA 6: LICORES PRODUZIDOS NO GEOPARK AÇORES FIGURA 7: BISCOITOS DE TRILOBITAS PRODUZIDOS NO GEOPARK AROUCA (PORTUGAL)

5 Os trilobitas são membros extintos de um grupo animal muito grande, o ilo Arthropoda, ao qual pertencem os insetos modernos. Estão bem representados num grande e detalhado registro fóssil que começa no Cambriano Inferior, há 550 milhões de anos radiométricos, e termina no Permiano, há 250 milhões de anos radiométricos. Encontram-se universalmente nos limites entre as rochas relativamente desprovidas de vida metazoária e outras com abundante evidência de tal vida. (CHADWICK; DEHAAN, 2014) 6 Granulitos é uma rocha metamórica equigranular, sem minerais micáceos ou anibólios e, portanto, sem xistosidade nítida. Produto de metamor-ismo regional do mais alto grau. (MINEROPAR, 2014).

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Fonte: Os autores

Produzir alimentos e bebidas são ações que promovem a valorização dos aspectos da bio e da geodiversidade dos Geoparks. A criação de pratos diferenciados faz com que os turistas associem os elementos já observados no Geopark ao souvenir gastronômico, e ao regressarem de suas viagens, presenteando ou não um amigo ou familiar estarão disseminando a importância da geoconservação. Se o souvenir gastronômico apresentar adequadamente seus elementos, com informações a respeito do geo-produto, a pessoa que até então poderia não conhecer nada a respeito das características geológicos desses locais estará mais suscetível a entender os preceitos e a importância da geoconservação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto geo-food foi uma ideia inovadora para a disseminação dos preceitos da geoconservação nos Geoparks, agrega valor a esses locais, sendo um diferencial, pois seus elementos são explorados a partir de uma nova perspectiva. A realização desse projeto em Fernando de Noronha pode ser uma ferramenta de valorização das características locais que permite que os turistas tenham acesso a uma informação sobre a biodiversidade e a geodiversidade de uma forma diferenciada e criativa. A valorização dos elementos que compõem a paisagem através do souvenir gastronômico promovem renda e geração de empregos a comunidades, criando também um sentimento de valorização do patrimônio na própria comunidade. Há diferentes tipos de consumidores de souvenir, os culturais e os comerciais, estando os segundos desinteressados à cultura local. No entanto, como consideram Horodyski et al (2012), “o consumo de produtos alheios à identidade local não deve ser

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considerado uma atitude negativa”. No entanto, entende-se que, segundo os objetivos de um Geopark e do próprio desenvolvimento sustentável, as ações realizadas nesses locais devem propiciar a adequada proteção e interpretação do seu patrimônio, ou seja, é importante que os turistas tenham consciência da importância desses locais, e para isso o souvenir gastronômico, através do geo-food podem auxiliar nesse processo. A geração de renda é um dos fatores primordiais para a comunidade, mas será muito mais benéico para a geoconservação se os consumidores comerciais passarem a serem consumidores culturais. Fernando de Noronha é considerado um lugar de beleza rara e excepcional, tendo suas áreas protegidas por Unidades de Conservação. No entanto, apesar do arquipélago ter a devida proteção no que se refere aos aspectos da biodiversidade, é importante que medidas mais especíicas para a proteção do patrimônio geológico sejam tomadas, como a criação de um geopark. A criação de um Geopark irá beneiciar primeiramente a comunidade local, e será uma catalizadora de emprego e renda. No entanto, o Projeto geo-food no arquipélago não depende necessariamente da inscrição de Fernando de Noronha como membro da GGN, mas sim da comunidade local e entidades parceiras aderirem à ideia, bem como a captação de recursos por meio de projetos de inanciamento. Estudos sobre a importância do souvenir gastronômico como ferramenta de valorização do patrimônio geológico são praticamente inexistentes, contando com uma bibliograia limitada. É importante que novos trabalhos surjam abordando as diferentes faces da utilização desses objetos, principalmente estudos de caso, para que o conhecimento avance e análises mais amplas sejam possíveis.

REFERÊNCIAS BUREK, C. V; PROSSER, C. D. The History of Geoconservation. Geological Society of London, 2008. CHADWICK, A. V; DEHAAN, R. F. Os Trilobites: Um Enigma de Complexidade. Disponível em: Acesso em: 10 jun. 2014. WILDNER, W; FERREIRA, R. V. IN: SCHOBBENHAUS, C; SILVA, C. R. Propostas de Geoparques do Brasil. CPRM. Rio de Janeiro, 2012. GLOBAL GEOPARKS NETWORK. Geofood Recipe Idea Exhibit. Disponível em: Acesso em 8 jun. 2014. HORODYSKI, G. E; MANOSSO, F. C; BIZINELLI, C; GâNDARA, J. M. Souvenirs

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Gastronômicos como Lembranças de Viagem: um estudo de caso em Curitiba – Brasil. Revue Internationale Interdisciplinaire de Tourisme, NO PRELO. HORODYSKI, G. E; MANOSSO, F. C; GâNDARA, J. M. Conceitos e Abrangência do Souvenir na Dinâmica do Espaço Turístico: O Caso de Curitiba – PR. Turismo – Visão e Ação – Eletrônica, v. 15 – nº1 – p.130-143, 2013. LOVE, L e SHELDON, P. Messenger of Meaning. In NA – Advences in Consumer Research, v. 25, eds, Joseph W. Alba & J. Wesley Hutchinson, Provo, UT: Association for Consumer Research. p. 170-175, 1998. 1. MOREIRA, J. C. Geoturismo e Interpretação Ambiental. Ponta Grossa, Editora UEPG, 2011, a. 2. MOREIRA, J. C Patrimônio Geológico em Unidades de Conservação: Atividades Interpretativas, Educativas e Geoturísticas. 2008. Tese (Doutorado em Geograia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008, b. MINEROPAR. Glossário de Termos Geológicos. Disponível em: Acesso em 10 jun. 2014. FARSANI, N. T et al. Geoparks and Geotourism: New Approaches to Sustainability for the 21 st century Brown Walker Press. Boca Raton, Flórida, 2012. UNESCO. UNESCO Geoparks Programme – A New Initiative to Promoter A Global Network of Geoparks Safeguarding and Developing Select Areas Having Signiicant Geological Features. 156 EX/ II Rev, PARIS, 15 de abril de 1999. Disponível em: < http://unesdoc.unesco.org/images/0011/001151/115177e.pdf> Acesso em: 10 de jun. 2014, a. UNESCO. The Criteria for Selection. Disponível em: . Acesso em: 01 nov. 2006, b.

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