Geo-grapho volátil ou um palimpsesto líquido? Arte de rua em Presidente Prudente- SP. 12

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Geo-grapho volátil ou um palimpsesto líquido? Arte de rua em Presidente PrudenteSP.12 AGDA DE QUEIROZ [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)- Presidente Prudente-SP “Para quem não “pixa” é só ruído.” (MITTMAN,2012,p.26)

Resumo A presente proposta busca entender o panorama da arte de rua [graffiti e pixação] em Presidente Prudente-SP. Para isso, nos remontamos à origem dessas produções artísticas, a trajetória histórica, até sua chegada à cidade. Assim como, o significado que estes palimpsestos têm para seus autores. E como estes quebram a estética urbana, seja por meio da escrita crítica ou com um trabalho com preocupação estética. E ainda, o embate estabelecido com a Prefeitura, e sua tentativa de pintura “resiliente” cinza e higienizadora.

Introdução

O caráter holístico da Geografia possibilitou-me contato com diversas áreas dentro das Humanidades, realizando uma mise-en-plis3 de saberes, para compreensão do recorte. Dentre estas, destaco a História da Arte, tendo em vista, que trato de intervenções artísticas urbanas (de seu caráter estético-crítico), e dos agentes que as realizam. Para isso, reflito, sob um viés do pós-modernismo, entendo que este conta com “(...) outras vias de legitimidade diferentes daquelas abertas pela racionalidade: a inspiração, o sentimento, a indeterminação, a polimorfologia, a polissemia, ou seja, vias que negam a razão totalizante, condição de toda generalização.” (GOMES, 2003,p.21) . Assim como, com a proposta de uma Geografia das juventudes (TURRA NETO in PEREIRA, et. al ; 2010). Com base no que foi brevemente salientado, o recorte condensa: arte de rua, graffiti e pixação, na cidade de Presidente Prudente-SP. Os artistas que a realizam [arte de rua], procuram primordialmente, a inserção e o destaque dentro de um determinado grupo. Estes, majoritariamente, são adolescentes, do sexo Trabalho apresentado na XV Semana de Geografia e X Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia “Geografia no Século XXI: pensar e agir na diversidade” – FCT UNESP – campus de Presidente Prudente-SP. 2 Eixo temático „Teoria e prática: O trabalho, a saúde e a Geografia‟ 3 Estilo de penteado no qual os cabelos úmidos são enrolados e presos, após secarem, são soltos podendo ser modelados. Analogia estabelecida entre este procedimento, e a possibilidade de diálogo entre as humanidades, buscando uma investigação sólida. 1

masculino, e de bairros periféricos. Onde, muitas vezes, o graffiti representa “(...) um horizonte de ruptura e transgressão, um território de rejeição da lei e dos normativos hegemônicos onde se experimentam o risco e o desvio, a excitação e as sanções tantas vezes dolorosas” (CAMPOS, 2009; p.145). O que pode ser evidenciado, com a presença de “pixôs” em prédios altos, e locais de difícil acesso. Sendo um aspecto importante na construção do indivíduo, a formação de uma identidade, onde esta “(...) sempre tem várias dimensões por que ela é individual e coletiva, é que existe muitas vezes um encaixamento de identidades coletivas” (CLAVAL, 2011, p.17). O conceito de espaço urbano é primordial, onde este pode ser tido como um conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si (CORRÊA, 1989). Ou ainda, como um “(...) espaço de objetos (ou seja, de coisas produzidas)” (ARGAN; 2005; p.1), onde a

“ (...) obra de arte determina um espaço urbano: „O que a produz é a necessidade, para quem vive e opera no espaço, de representar para si de uma forma autêntica ou distorcida a situação espacial em que opera‟(G.C.Argan, La storia dell‟arte,op.cit.,p.20)”. “São espaço urbano também os ambientes das casas particulares; e o retábulo do altar da igreja, a decoração do quarto de dormir ou da sala de jantar, até mesmo o vestuário e o ornamento com que as pessoas se movem, recitam a sua parte na dimensão cênica da cidade‟”. (idem; p. 3, grifo meu).

A característica líquida destes palimpsestos, que tendo “(...) como suporte muitas camadas atrás de si, que se deixam entrever através dos tempos, das erosões e das erosões cotidianas” (CLINI, 2010, p.2), ocupa nossas preocupações centrais.

1-

O que as paredes pichadas têm prá me dizer? O que os muros sociais têm prá me

contar?4 O graffiti, nos moldes como o conhecemos hoje, surge na década de 1970 em Nova York. Como destaca MITTMAN (2012, p.23) “Nasceu – esteticamente ainda pouco elaborado– com a aparição de um nome acompanhado de um número escrito em paredes por diversos cantos do espaço urbano. Era Taki 183: Taki, o nome do autor e 183, o número da rua de sua residência. Taki era um jovem office-boy que em determinado momento resolveu espalhar o seu codinome e o número da rua de sua casa pelos diversos cantos que transitava por conta de seu trabalho.”

Deixando seus registros pelas ruas e vagões do metrô nova-iorquino, Taki logo inspirou outros jovens à também fazê-los. Neste período, vimos os primeiros embates entre os agentes que faziam os graffitis e os pixôs, e o poder público com políticas de repressão da atuação destes. 4

YUKA, M.; MEIRELLES, L. Brixton, Bronx ou Baixada . Intérprete: O Rappa. Rio de Janeiro: Warner, 1994. CD.

No Brasil, na década de 1980, se configurou “(...) uma forma muito particular de pichação.(...) esta, envolta em singularidades de forma e de sociabilidade, que será denominada por muitos (GITAHY, 1999; PEREIRA, 2005) como a Escola Paulista de Pichação” (idem, p.26). Sendo direcionada para um determinado grupo, é “(...) um código-território fechado: o pichador marca, apropria-se de um espaço físico, entretanto essa comunicação circula apenas entre os demais pichadores” (ibidem). Ramos (1994, apud FURTADO, J. R.; Zanella, A. V. 2012) destaca “(...) embora o graffiti e a pichação sejam práticas que possuem uma mesma raiz e que, muitas vezes, busquem lugares não autorizados para expor os trabalhos e compartilhem riscos comuns e perseguições, a diferença entre graffiti e pichação está na linguagem empregada. Embora a autora entenda que entre estas duas formas de intervenção haja muitas similaridades, uma vez que se caracterizam como transgressão do espaço urbano, na pichação não há, necessariamente, uma preocupação estética na ação.” (p.141)

Esta distinção pode ser observada nas figuras abaixo. Nas quais, temos o caderno de esboços e a tag do grafiteiro Nico5, pixôs, graffiti e stencil6 .

Figura 1. Caderno de esboços e a Tag7do grafiteiro Nico. acervo pessoal.

Figura 2. Pixô na Avenida Manuel Goulart em Presidente Prudente-SP. acervo pessoal.

5

Nico, grafiteiro de Presidente Prudente-SP. Técnica em que o artista utiliza um molde para realizar várias cópias de uma mesma imagem. Amplamente utilizada por ser fácil de confeccioná-lo. 7 “Na pichação o nome do pichador, ou o seu “pixo”, aquilo que ele “lança” na cidade, a forma como ele identifica-se entre seus pares é conhecida como tag. Não por acaso, na pichação da referida Escola Paulista, esta é denominada como tag-reto, surgindo assim outra diferenciação possível entre os diversos pichadores brasileiros: a tag (de diversas formas possíveis) e a tag-reto (letras retas e pontiagudas).” (Mittiman, 2012, p.27). 6

Figura 3.Graffiti feito com stencil, Moradia Estudantil da UNESP acervo pessoal.

Figura 4. Graffiti coletivo feito pelo Nico, Índio, Bronx Crew, Joka, Ricardo, Bozo e Contrários. acervo pessoal.

Desembarcando na cidade de São Paulo [arte de rua], logo chega no interior do Estado, juntamente com o movimento hip-hop e o rap. Em Presidente Prudente-SP, encontra seu auge na década de 1990. Hoje nos deparamos com atuação de pequenos grupos e agentes isolados solífugos, onde a maioria fabrica a própria tinta, ou realiza outras atividades profissionais para comprá-la. Tendo também, aqueles que trabalham juntamente com a Prefeitura, realizando oficinas culturais. Deparamos-nos com um embate entre esses dois grupos, onde se questiona que atuando em parceria com órgãos governamentais, a arte de rua perde seu caráter de protesto, já que esta somente pode ser feita em locais autorizados.

Resultados preliminares

Este trabalho compõe parte da monografia na qual apresentarei para obtenção do título de bacharel em Geografia, pela Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP campus de Presidente Prudente-SP. Pôde-se observar, por meio de entrevistas e do referencial bibliográfico, que a arte de rua na cidade, na última década, vem perdendo força, realizada por pequenos grupos, ou agentes isolados. Sem autorização para sua confecção, o graffiti e o „pixô‟ tem o mesmo caráter ilegal; sendo que o primeiro tem uma preocupação estética na sua execução.

Referencias Bibliográficas

ARGAN, G.C. História da Arte como história da cidade. 5ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

CAMPOS, R. Entre as luzes e as sombras da cidade: visibilidade e invisibilidade no graffiti. Revista etnográfica: maio de 2009, p.145-170.

CLAVAL, P.C.C. Geografia Cultural: um balanço. Revista Geografia (Londrina), v.20, n.3, p.005024, set./dez. 2011

CLINI, M. M. As cores de Pastore: Grafite Arte e vida. 2010. 188f. Dissertação (Mestre em Psicologia)- Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo,São Paulo-SP. CORRÊA, R.L. O Espaço Urbano. Ed. Ática S.A.: São Paulo,1989.

FURTADO, J. R.; ZANELLA, A. V. - Graffiti e Pichação: Relações estéticas e intervenções urbanasin: VISUALIDADES. REVISTA DO PROGRAMA DE MESTRADO EM CULTURA VISUAL FAV I UFG, 2012. p. 138-155. GOMES, P.C.C. – Geografia e Modernidade – 3ªed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. MITTMANN, D. O sujeito-pixador: Tensões acerca da prática da pichação paulista. 2012.125 f. Dissertação (Mestre em Educação)- Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio Claro-SP.

TURRA NETO, N. Geografia das juventudes: Uma pauta de pesquisa. In: PEREIRA, et. al. Teorias e Práticas territoriais: análises espaço-temporais. Expressão Popular, 2010. YUKA, M.; MEIRELLES, L. Brixton, Bronx ou Baixada . Intérprete: O Rappa. Rio de Janeiro: Warner, 1994. CD.

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