GEOSSISTEMA: A HISTÓRIA DE UMA PESQUISA – ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES E TESES REALIZADAS NO ESTADO DE SÃO PAULO

Share Embed


Descrição do Produto

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

GEOSSISTEMA: A HISTÓRIA DE UMA PESQUISA – ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES E TESES REALIZADAS NO ESTADO DE SÃO PAULO CARLOS EDUARDO DAS NEVES1 GILNEI MACHADO2

Resumo: O conceito de geossistema tem sido amplamente utilizado pela geografia física brasileira, especialmente em pesquisas de cunho ambiental. Entretanto, pouco se conhece sobre as trajetórias e tendências de sua aplicação no cenário geográfico brasileiro. Nessa perspectiva, busca-se compreender o desenvolvimento da pesquisa geográfica em torno do geossistema, entre 1971 e 2011, através da análise teórico-metodológica de dissertações e teses de quatro universidades do estado de São Paulo. Através dos resultados observa-se, especialmente, o deslocamento das pesquisas setoriais (geografia física) para as integradoras (ambientais) através do uso do geossistema.

Palavras-chave: Geossistema; Meio Ambiente; Geografia Física.

Abstract: The concept of geosystem has been widely used by physical geography, especially in environmental oriented research. However, little is known about the trajectories and trends of its application in the Brazilian geographical setting. In this scenario, we seek to understand the development of geographical research about the geosystem concept, between 1971 and 2011, through methodological-theoretical analysis of dissertations and theses of four universities in the State of São Paulo in Brazil. The results obtained with its research show us the offset of sectored (physical geography) to the integrated research (environmental) by the use of geosystem. Key-words: Geosystem; Environment; Physical Geography

1 – Introdução Diversos pesquisadores vêm discutindo e

aplicando o conceito de

geossistema, direcionando aos estudos ambientais na geografia uma análise mais integrada da relação sociedade-natureza. Entretanto, a literatura analisada evidencia que, em território brasileiro, não há estudos analíticos do delineamento histórico e da sistematização do que foi produzido sobre o assunto, dificultando a análise da

1

Mestre em Geografia (UEL) e doutorando em Geografia (FCT/UNESP). E-mail de contato: [email protected] 2 Doutor em Geografia (FCT/UNESP), Docente do programa de pós-graduação da UEL. E-mail de contato: [email protected]

9738

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

contribuição do conceito aos estudos ambientais na geografia, conforme melhor explicitado em nossa Dissertação (NEVES, 2015). Nesse cenário, buscou-se compreender o desenvolvimento da pesquisa geográfica em torno do geossistema, entre 1971 e 2011, para o estado de São Paulo, através da análise das dissertações e teses defendidas na Pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP Rio Claro e Presidente Prudente), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Universidade de São Paulo (USP). A escolha de tal recorte espacial se justifica pelo fato do mesmo apresentar quatro Programas de Pós-graduação de influência nacional. Desse modo, analisou-se de modo especifico quais as subáreas da ciência geográfica mais utilizaram o geossistema e o quanto esse conceito está associado aos estudos do meio ambiente. Acredita-se que estudos que tem como propósito analisar a produção científica de uma determinada área do conhecimento denomina-se de investigação epistemológica e são relevantes ao passo que permitem um processo reflexivo sobre a gênese, estruturação e desenvolvimento da ciência (GAMBOA, 1987; VITTE, 2008).

2 – Materiais e Método Inicialmente realizou-se um breve debate entre o conceito de ecossistema (conceito universalizado) e o de geossistema, já evidenciado em Neves et al. (2014). Nesse momento, evidenciou-se a infinidade de faces a mais que possui o conceito geográfico em detrimento do conceito biocêntrico/ecológico. Esse momento metodológico evidenciou a possibilidade de utilização do geossistema em estudos ambientais no âmbito geográfico. Posteriormente analisou-se 214 dissertações e teses, onde 162 foram coletadas em ambiente online e 52 pesquisas digitalizadas nas bibliotecas das universidades analisadas. O procedimento adotado constituiu-se na leitura sintética de todas as pesquisas realizadas na área de geografia, dispostas no acervo digital e

9739

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

impresso das respectivas universidades, buscando a presença da palavra-chave “geossistema”. As informações presentes em cada trabalho foram coletadas a partir de uma adaptação dos procedimentos de Gamboa (1987) proposta por Ely (2006) (Quadro 1). Através do procedimento é possível o reconhecimento de diferentes recortes temáticos acerca dos estudos geossistêmicos e sua aplicação em distintas realidades e problemas. Quadro 1 – Direcionamento de Análise.

Fonte: Adaptado de Ely (2006). Organização: Autores

Para entender como ocorreu a aplicação do geossistema em distintas subáreas e como se deu o deslocamento dos estudos da geografia física (setorial) para uma área ambiental (integradora), utilizou-se a terminologia proposta pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a qual difere as ciências em áreas, subáreas e especialidades. Assim, a geografia física é a subárea das geociências e suas especialidades são: geologia, geomorfologia, climatologia, hidrologia, biogeografia e pedologia. Diferenciou-se ainda a subárea da “geografia física” dos “estudos ambientais” no decorrer do artigo, visto que a segunda se apresenta de forma mais abrangente e integradora do que a primeira, pois é menos setorizada e com maior inserção da vertente antrópica e das ciências humanas e sociais, favorecendo a análise híbrida da sociedade-natureza.

9740

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3 – Desenvolvimento 3.1 – O Geossistema e o Ecossistema: a importância na pesquisa ambiental

O geossistema tem se mostrado relevante à pesquisa geográfica, ao passo que apresenta infinidades de entradas a mais que o conceito já universalizado do ecossistema, pois aponta de forma mais clara a dimensão espacial de análise e a maior importância da vertente antrópica (TROPPMAIR; GALINA, 2008), já o ecossistema possui pouca interdisciplinaridade, peso excessivo da biologia e o desinteresse pela categoria paisagem (PASSOS, 2003; BERTRAND, 2010), como visto no esboço tipológico de relação entre ecossistema e geossistema (Quadro 2). Quadro 2: Esboço tipológico de uso do geossistema e ecossistema

Fonte: Adaptado de Neves et al. (2014). Organização: Autores

Ratificou-se que o ecossistema através do seu objetivo de análise destaca prioritariamente os ambientes naturais. Assim, conhecê-los e descrevê-los a partir

9741

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

dos seus padrões é auxiliar a ciência na criação de modelos relacionais para comparar ambientes que sofreram alterações ocasionadas por ação antrópica e/ou por algum desequilíbrio do seu quadro natural. Os ecossistemas caracterizam-se pelo conhecimento e entendimento da dinâmica energética do potencial ecológico e biológico em distintas escalas, até mesmo naquelas que o homem ainda não possui influência como agente modificador dos padrões existentes através de suas atividades (escalas superiores). Temos nesta modalidade de análise ambiental um excelente método para a compreensão da natureza e dos seus padrões e anomalias, portanto da vida (NEVES, 2014). Já o geossistema pode ser muito bem utilizado pela geografia, até mesmo porque ele representou uma importante evolução nos estudos geográficos, sobretudo na geografia física (humanizando-a), por considerar a interação e a integração dos elementos abióticos (solo, relevo, clima, hidrografia) e bióticos (vegetação e animais) junto às ações antrópicos, atentando-se para não tratar esses elementos de maneira isolada e na mesma escala temporal, por isso o mesmo é exposto enquanto um conceito naturalista com dimensão antrópica. O geossistema ainda se coloca como um conceito em construção, com a necessidade de estudos interdisciplinares que se relacionem à temática, para que com isso ele caminhe paralelamente ao crescimento dos estudos ambientais na geografia (NEVES, 2014). A partir da ênfase na importância da aplicação do conceito de geossistema em detrimento do conceito do ecossistema, apontou-se a relação do mesmo com os estudos ambientais na geografia, especialmente pela aproximação da sociedadenatureza. Desse modo, apontou-se a importância do deslocamento dos estudos setoriais realizados pela geografia física para os estudos integradores de cunho ambiental.

3.2 Quantificação, deslocamentos e tendências nos estudos geossistêmicos As dissertações e teses estão divididas por universidade, visando entender as contribuições, trajetórias e tendências das instituições analisadas na pesquisa geográfica sobre o tema (Tabela 1).

9742

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

Tabela 1 – Dissertações e teses publicadas sobre geossistema na UNESP (R.C. e P.P.), UNICAMP e USP entre 1971 e 2011.

* Não houve necessidade de pesquisa in loco. X impossibilidade de trabalho de campo devido a um grande período de greve nas universidades. Organização: Autores

Mesmo com a tradução do artigo de Bertrand (1968) em 1971, para o português, não foi detectado, a partir do material analisado, a utilização do geossistema, nas dissertações e teses, defendidas durante a década de 1970 no Brasil (Tabela 1). No entanto, é a partir da década de 1980 que o geossistema começa a ser utilizado como teoria e método na Pós-graduação em Geografia Física da USP. Diferentemente

da

perspectiva

sistêmica,

ligada

aos

conceitos

de

transformação e dinâmica da paisagem, que desde a década de 1970 é percebida nas teses e dissertações do programa supracitado. Apesar da inexistência de estudos geossistêmicos no período referido, houve recorrente utilização da conceituação de paisagem abordada por Bertrand (1968), que visualizou a mesma enquanto a combinação dinâmica e instável de elementos físicos, biológicos e antrópicos que interagem dialeticamente, fazendo da mesma um conjunto singular e indissociável, em contínua evolução. O uso do geossistema somente em 1980 se deve a uma resistência da própria ciência geográfica brasileira ao estudo global da paisagem e mesmo da relação sociedade-natureza, o que afirmou a prerrogativa de Bertrand (2010) que destacou a resistência dos franceses, engajados no estudo regional, de aceitarem a perspectiva de globalidade na geografia física na década de 1960 e 1970. Nessa perspectiva, o gráfico 1 permitiu-nos visualizar a quantidade de pesquisas realizadas e defendidas nas universidades analisadas. Por meio dele é possível identificar períodos com maior e menor produção relacionada ao tema.

9743

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

Gráfico 1 - Teses e dissertações publicadas nas universidades analisadas entre 1980 e 2011. 14

Quantidade de Pesquisa

12 10 8 6 4 2

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

0

Públicação na USP

Anos analisados Públicação na UNICAMP Públicação na UNESP (P.P.)

Públicação na UNESP (R.C.)

Organização: Autores

O gráfico 1 demonstrou de maneira geral o crescimento das pesquisas sob o tema após o ano de 2004, evidenciando nesse início de século, não somente a criação de novos núcleos de pós-graduação em geografia, como a UNICAMP, mas, sobretudo, o crescimento do número de pesquisas sobre a temática em todas as universidades analisadas. Na sequência demonstrou-se essa quantificação por instituição (Tabela 2), destacando a relevância do tema para cada universidade e a distinção de períodos de maior e menor aplicação da temática. Tabela 2 – Quantificação das teses e dissertações publicadas nas universidades analisadas entre 1980 e 2011.

Organização: Autores

9744

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

Através da análise das pesquisas observou-se ao longo do período analisado que a Pós-graduação em Geografia Física da USP aprovou um conjunto de 661 pesquisas, sendo 308 teses e 353 dissertações. Nesse conjunto de trabalhos defendidos, o tema geossistema só surgiu na década de 1980, perfazendo um total de 97 pesquisas até o ano de 2011, ou seja, 14,7% de toda a produção do Programa, o que demonstra a relevância da temática nas pesquisas desenvolvidas nessa universidade. Desde a criação até o ano de 2011 o Programa de Pós-graduação da UNICAMP apresentou um total de 167 trabalhos concluídos. No que diz respeito às publicações sobre a temática geossistêmica, no período de 2002 a 2011, foram defendidos 33 trabalhos de mestrado e doutorado, trabalhos estes que representam 19,7% de todas as produções do Programa, o que expressou à relevância dada a esta temática na UNICAMP. Entre 1988 e 2011 concluiu-se, na UNESP (P.P.), um total de 336 dissertações e 152 teses. Desse total 35 pesquisas utilizaram a teoria e método do geossistema, o que representa um total de 7,2% das pesquisas realizadas no Programa. As dissertações e teses defendidas sobre a temática na UNESP (R.C.), somam 49 pesquisas entre 2002 e 2011, um número de grande importância para 9 anos de análise, o que representa 16,3% das pesquisas do período que foram realizadas na instiuição (301 pesquisas no geral). As análises da relação entre estudos ambientais, geografia física e outros estudos enfatizaram, no período estudado, uma relevância do enfoque ambiental em três das quatro universidades. Ocorre assim, na UNICAMP, UNESP (R.C.) e UNESP (P.P.) mais que o dobro de pesquisas ambientais em relação aos estudos menos integradores da subárea da geografia física (Gráfico 2). Apesar da USP apresentar apenas 44,3% dos estudos na subárea ambiental, é possível visualizar que cerca de 40% das pesquisas relacionadas à geografia física apresentaram discussões ambientais como pano de fundo, especialmente as de cunho geomorfológico, através da geomorfologia ambiental, sendo os estudos ecodinâmicos e de zoneamento ambiental como temas representativos dessa relação.

9745

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

A utilização dos geossistemas felizmente tem sido realizado expressivamente em uma perspectiva geográfica ambiental e integradora, pois a subárea ambiental representa 57,1% da amostra, já 34,5% referem-se a geografia física e 8,4% aos outros estudos, especialmente aqueles ligados a geografia humana e ao ensino de geografia. Através da análise dos dados foi possível perceber que, majoritariamente, as pesquisas que utilizam o geossitema foram realizados por pesquisadores da área da geografia física, talvez em função da escolha, por grande parte dos geógrafos “humanos” de outros métodos, em detrimento do sistêmico. Isso contribuiu, em parte, para o afastamento da geografia humana da contribuição teóricometodológica do geossistema, mas revelou a aproximação dos geógrafos físicos aos temas concernentes a geografia humana. A apreciação das 97 pesquisas realizadas na USP, evidenciou a presença de 43 trabalhos relacionados à temática ambiental, 48 com ênfase na geografia física, a 2 na cartografia temática, 3 ao ensino de geografia e 1 na epistemologia da geografia (Gráfico 2). Ao analisar cada especialidade da geografia física, percebeuse um destaque para os trabalhos relacionados à geomorfologia (29 trabalhos), Gráfico 2 - Correlação das subáreas nas universidades analisadas. 50 45 40 Quantidade

35 30 25 20 15 10 5

USP

UNICAMP

UNESP (PP)

Estudos Ambientais

Geografia Humana

Subcampos

Geomorfologia

Climatologia

Biogeografia

Pedologia

Ensino de Geografia

Hidrografia/Hidrologia

Cartografia/Temática

Epistemologia da Geografia

0

UNESP (RC)

Organização: Autores

9746

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

A análise das 33 pesquisas da UNICAMP destacou a presença de 22 trabalhos na subárea ambiental, 6 na geografia física (3 trabalhos na biogeografia), 3 em ensino de geografia, 1 em epistemologia da geografia e 1 em cartografia (Gráfico 3). Na UNICAMP apresentou-se então destaque os estudos de cunho ambiental, sendo estes 66,7% da amostra dessa universidade. Através da análise das dissertações e teses da UNESP (P.P.) perceu-se a presença de 27 trabalhos na subárea dos estudos ambientais e 6 na geografia física (destaque de 3 em biogeografia), 1 em ensino de geografia e 1 em epistemologia da geografia (Gráfico 3). Nessa universidade a subárea ambiental destacou-se em porcentagem, quando comparada às demais, por representar 77,1% dos estudos, ja a subárea da geografia física representou apenas 17,1% das pesquisa. A análise dos trabalhos defendidos na UNESP (R.C.) evidenciou a presença de 30 trabalhos na subárea dos estudos ambientais e 14 na geografia física (destaque à 6 dissertações/teses em climatologia), 1 trabalho em epistemologia da geografia, 1 geografia econômica, 1 em geografia agrária e 2 em geografia urbana (Gráfico 3). Ressalvou-se que 61,2% das pesquisas realizadas na universidade encontram-se na subárea ambiental e apenas 28,6% na subárea da geografia fisica, observando ainda a presença de uma maior diversificação das pesquisas, mostrando a relevância do assunto junto a geografia humana nesta universidade. Ressaltando a utilização do geossistema junto à temática ambiental, percebeu-se, a partir do ano 2000, uma tendência expressiva de crescimento em sua aplicação nos estudos ambientais, reafirmando o deslocamento da análise setorial para a análise ambiental integradora. Em relação a essa tendência do deslocamento, percebeu-se através dos dados representados no gráfico 3 que todas as universidades apresentaram uma tendência positiva (de aumento) entre 2001 e 2011, com destaque para a UNESP (R.C.) e USP. Com isso, notou-se, de uma forma geral, que está havendo um crescimento no uso dessa teoria e método nos estudos ambientais, ou ainda, por meio dela, os estudos especializados da geografia física tem ganhado “vestes humanas”, sendo admissível afirmar que o geossistema tem se mostrado relevante na realização de estudos ambientais na geografia devido à porcentagem representativa desses estudos nas pesquisas de todas as universidades.

9747

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

Gráfico 3 – Crescimento e tendência linear do deslocamento dos estudos ambientais com o uso do geossistema.

Organização: Autores

Portanto, reconhecendo o deslocamento dos estudos setoriais para uma análise integrada é possível destacar a importância dos estudos geossistêmicos para a análise ambiental na geografia.

4 – Considerações Diante dos resultados obtidos nessa pesquisa observou-se um panorama sucinto da produção e contribuição, especialmente quantitativa, das pesquisas geossistêmicas no estado de São Paulo, bem como a importância do conceito para a “humanização” da geografia física. Ao fim do artigo é possível afirmar que de todas as pesquisas analisadas, verificou-se que 57% delas não são específicas, mas sim dedicadas ao estudo ambiental integrador. Há uma tendência de aumento do número desses estudos relacionados ao geossistema. Observou-se, no entanto, que pesquisas de cunho epistemológico e históricobibliográfico são essenciais para o entendimento das contribuições de cada conceito para a maior inter-relação da sociedade-natureza na geografia. Neste caso, o geossistema auxiliou a ciência geográfica no resgate e reconstrução de velhas bases teóricas e metodológicas que, por vezes se encontram dispersas na história e tanto tem feito falta à geografia nesse “momento

9748

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

de crise ambiental”, um momento que apela por novas racionalidades e o fim da dicotomia entre sociedade-natureza.

5 – Referências BERTRAND, G. Itinerario en torno al paisaje: uma epistemología de terreno para tiempos de crisis. Ería, v. 81, p. 5-38, 2010. BERTRAND, G. Paysage et Geographie Physique Global: esquisse methodologique, Revue Geographique des pyrinées et du Sud-Ouest.Toulouse, v. 39 n.3, p. 242272, 1968. ELY, D. F. Teoria e método da climatologia geográfica brasileira: uma abordagem sobre seus discursos e práticas, 2006. 208 f., Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, 2006. GAMBOA, S. A. S. Epistemologia da pesquisa em educação: estruturas lógicas e tendências metodológicas. 229 f. 1987. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1987. NEVES, C. E.; MACHADO, G.; HIRATA, C. A.; STIPP, N. A. F. A importância dos geossistemas na pesquisa geográfica: uma análise a partir da correlação com o ecossistema. Sociedade & Natureza (UFU online). Uberlândia, v. 26, n. 2, p. 271285, 2014. NEVES, C. E. “Geossistema: a História de uma Pesquisa” – Trajetórias e Tendências no Estado de São Paulo. 191 f. (Dissertação de Mestrado em Geografia), Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, Paraná, 2014. PASSOS, M. M. Biogeografia e Paisagem. Presidente Prudente: UNESP, 2003. TROPPMAIR, H.; GALINA, M. H. Geossistemas. Mercator (UFC), v. 10, p. 79-89, 2007. VITTE, A. A Geografia Física no Brasil: Um panorama quantitativo a partir de periódicos nacionais (1928-2006). Revista da ANPEGE, n. 4, p. 47-60, 2008.

9749

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.