GEOTECNOLOGIAS APLICADAS NO MAPEAMENTO REMOTO DA EROSÃO REMONTANTE EM UM CANAL FLUVIAL NA ALTA BACIA HIDROGRÁFICA DO PERICUMÃ (ABHP) – MARANHÃO, BRASIL

September 27, 2017 | Autor: Lúcio Cunha | Categoria: Geoprocessamento, Geomorfologia Fluvial, SIG's, Erosão Hídrica
Share Embed


Descrição do Produto

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS NO MAPEAMENTO REMOTO DA EROSÃO REMONTANTE EM UM CANAL FLUVIAL NA ALTA BACIA HIDROGRÁFICA DO PERICUMÃ (ABHP) – MARANHÃO, BRASIL 1

JOSUÉ CARVALHO VIEGAS 2 LÚCIO CUNHA 3 MESSIAS MODESTO DOS PASSOS 4 TAÍSSA CAROLINE SILVA RODRIGUES

RESUMO: O entendimento do funcionamento dos corpos hídricos e áreas adjacentes a estes, sempre foram fundamentais para a fixação das populações locais. Nesse contexto, os estudos desenvolvidos pela Geomorfologia Fluvial, apresentam-se como ramificação de destaque na Geografia, já que tem o caráter destinado a analisar e indicar os condicionantes, aptidões e restrições do espaço geográfico. Nessa conjuntura, objetiva-se de maneira geral: analisar o uso de geotecnologias no mapeamento da erosão remontante em um canal fluvial na Alta Bacia Hidrográfica do Pericumã (ABHP). E como objetivos específicos: identificar o comportamento dos processos naturais e antrópicos responsáveis pela transformação da paisagem da área de estudo, bem como quantificar através do conjunto de imagens do satélite Landsat dos anos de 1977, 1984 e 2013. É descrito no item 3 a metodologia de trabalho. Como resultados, o mapeamento indica processos resultantes de alterações de drenagem no sistema fluvial e o ensaio proposto torna-se útil para o entendimento do estado de equilíbrio da paisagem local. Palavras-Chave: Geomorfologia Fluvial. Geotecnologias. ABHP. Paisagem GEOTECHNOLOGY APPLIED IN MAPPING THE HEADWARD EROSION IN RIVER CHANNEL IN UPPER BASIN PERICUMÃ (ABHP) - MARANHÃO, BRAZIL ABSTRACT: Understanding the functioning of water bodies and adjacent to these areas, have always been fundamental to the establishment of local populations. In this context, the studies developed by Fluvial Geomorphology, present themselves as a prominent branch in Geography, as it has the character to analyze and indicate the conditions, capacities and constraints of geographical space. At this juncture, the generally objective is: to analyze the use of geo mapping of headward erosion in the river channel of Alta Bacia Hidrográfica do Pericumã (ABHP). And as specific objectives: to identify the behavior of natural and anthropogenic processes responsible for the transformation of the landscape of the study area and to quantify through a set of Landsat images of the years 1977, 1984 and 2013 is described in Section 3 the methodology work. The interpretation of the mapping indicates processes occurring in the area, resulting from changes in 1

Discente de Mestrado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente. Rua Roberto Simonsen, 305. CEP 19060-900. Presidente Prudente – São Paulo, Brasil. Telefone: + 55 (18) 981283193; email: [email protected]. 2 Departamento de Geografia Largo da Porta Férrea 3004-530 Coimbra, Portugal. Telefone (+351) 239 859 900; Fax (+351) 239 836 733; [email protected] 3 Professor Dr. da Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente. Rua Roberto Simonsen, 305. CEP 19060-900. Presidente Prudente – São Paulo, Brasil. Telefones: + 55 (18) 99770-1844; email: [email protected]. 4 Mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, professora substituta do curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão – Campus de Bacabal, Maranhão, Brasil. Telefone: + 55 12 981489137; email: [email protected].

http://viiisimposiogeografiafisica.uchilefau.cl/

583

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

river drainage system and the proposed test is useful for understanding the equilibrium state of the local landscape. Keywords: Fluvial Geomorphology. Geotechnology. ABHP. Landscape

1 INTRODUÇÃO

Para a Geografia e áreas afins, o entendimento do funcionamento dos corpos hídricos e áreas adjacentes a estes, sempre foi fundamental para a fixação das populações locais. Com esse conhecimento, torna-se possível a fixação de aglomeração humana, com vista na utilidade em razão da disponibilidade de água para consumo, obtenção de alimentos, transporte e circulação de riquezas. Do ponto de vista do ambiente, os rios são importantes modeladores do relevo terrestre, pois atuam na retirada de sedimentos, oriundos das áreas mais elevadas, e deposição em terrenos com menor gradiente topográfico (ROSS, 1983). Nesse contexto, os estudos desenvolvidos pela Geomorfologia Fluvial apresentam-se como ramificação de destaque na Geografia, já que têm o caráter destinado a analisar e indicar os condicionantes, aptidões e restrições do espaço geográfico. Nessa conjuntura, objetiva-se de maneira geral com presente artigo: analisar o uso de geotecnologias no mapeamento da evolução erosiva remontante em um canal fluvial na Alta Bacia Hidrográfica do Pericumã (ABHP). E como objetivo específico: identificar o comportamento dos processos naturais e antrópicos responsáveis pela transformação da paisagem da área de estudo, bem como quantificar através do conjunto de imagens do satélite Landsat 1, 5 e 8 dos anos de 1977, 1984 e 2013, as mudanças ocorridas na cabeceira do rio Pericumã. Ressalta-se ainda que este artigo é um ensaio integrante de projetos5 maiores em desenvolvimento. A bacia hidrográfica é compreendida como a área pela qual a água é drenada e flui para um único ponto de saída, notório como seção de controle. Todos os corpos hídricos que nascem nas cabeceiras de uma bacia hidrográfica, escoam para uma seção a jusante ou infiltram para o subsolo. O setor de controle é também conhecido como exutório. Nas cabeceiras de drenagem, o escoamento ocorre por meio de canais tributários, que drenam a água da chuva, sedimentos e substâncias dissolvidas (LEOPOLD et al., 1964). Dessa forma, os rios são responsáveis pelo intemperismo, erosão das rochas e transporte e deposição dos sedimentos (STRAHLER, 1950 1952; CHORLEY, 1962; CHRISTOFOLETTI, 1979; RHOADS, 2006).

5

“Geotecnologias aplicadas ao estudo da fragmentação de paisagem natural na Bacia Hidrográfica do Pericumã – Amazônia Maranhense”, desenvolvido com apoio do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território – CEGOT, abrigado na Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra (UC), Portugal. E o Projeto de mestrado intitulado “Fragmentação natural de paisagem da Bacia Hidrográfica do Pericumã”, desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP - Campus de Presidente Prudente/ São Paulo.

584

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

Nas cabeceiras dos rios ocorrem processos erosivos ativos, como o recuo de cabeceiras por erosão remontante e casos raros de capturas fluviais (CHRISTOFOLETTI, 1975, 1977, 1979). O recuo de cabeceira é um processo natural da esculturação do relevo, desenvolvido através do escoamento das águas de superfície. Esse processo consiste na escavação e aprofundamento do leito pelos cursos d’água, que rebaixam o fundo do vale no sentido de jusante para montante (ROSS, 1983). A erosão remontante, além do alargamento e do aprofundamento do canal, aumenta o comprimento dos corpos hídricos, o qual pode ser bem rápido e alcança vários metros em alguns anos em solos mais friáveis (erodíveis). No entanto, Ross (1983) salienta que o processo de erosão remontante se faz quase sempre lentamente e sua maior ou eficiência está diretamente relacionada às condições naturais tais como: a distância do nível de base local ou regional, gradiente topográfico do perfil longitudinal do rio, a natureza litológica, o volume d’água, os detritos sólidos em transporte e as condições climáticas da área. Já as capturas fluviais consistem no desvio natural das águas de uma bacia hidrográfica para outra, promovendo a expansão de uma bacia de drenagem em detrimento da bacia vizinha (CHRISTOFOLETTI, 1975). Dessa forma a captura fluvial é um processo de erosão ativa da drenagem de cabeceiras de um rio sobre outro. Tendo essas características gerais, os rios são sistemas superficiais complexos e dinâmicos, pois suas origens e influências atuam na configuração do modelado do dos padrões espaciais da paisagem (SOTCHAVA, 1977; CHRISTOFOLETTI, 1981). Por apresentarem entradas e saídas de energia e matéria, os rios determinam o constante processo de morfogênese, resiliência, sinergia (BERTALANFFY, 2012; TRICART, 1977) e retroalimentação do ambiente, no qual o escoamento superficial em qualquer ponto converge para um único ponto, fixo ou não (STRAHLER, 1952; CHRISTOFOLETTI, 1979, 1999, 1980; MONTEIRO, 2001; GRANELLPÉREZ, 2004). Para tanto, segundo Lang e Blachke (2009), as estruturas e padrões espaciais são considerados como manifestações e processos que ocorrem em diferentes planos de escalas, fazendo com que os trabalhos das feições espaciais e estruturais observáveis e mesuráveis na paisagem, possam ser caracterizados pelas condições e desenvolvimento das mudanças temporais do ambiente geográfico. Nesse contexto, as geotecnologias são excelentes recursos metodológicos utilizados nos estudos dos processos que ocorrem no espaço, sendo indispensáveis nos estudos geomorfológicos de ambientes fluviais, quer do ponto de vista estrito da Geografia Física, quer na sua vertente de aplicação ao planejamento da paisagem desses ambientes, na indicação da ocupação humana, riscos e vulnerabilidades do ambiente. Um exemplo de geotecnologias utilizado na identificação das características geomorfológicas fluviais são as imagens orbitais, as quais podem ser empregadas na criação de MDE (Digital Elevetion Model), determinação de riscos e fragilidades ambientais, avaliação do perfil topografia, medição do comprimento longitudinal, entre outras utilidades. Com o uso das geotecnologias, tornou-se possível aos pesquisadores, testarem técnicas de investigação no 585

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

intuito de responderem questionamento e apontarem as modificações que ocorrerem no espaço geográfico, a exemplo, às mudanças ocorridas no principal corpo hídrico da Alta Bacia Hidrográfica do Pericumã. 3 METODOLOGIA 3.1 Etapas: Revisão bibliográfica: Geossistema, Geomorfologia Fluvial, Geotecnologias e Paisagem; Aquisição de Imagens Orbitais; Criação e organização da base de dados; Aquisição de material cartográfico; Definição da área de estudo; Entendimento do suporte: geológico, climático, hidrológico, geomorfológico, pedológico, flora, fauna e variáveis antropogênicas; Mapas temáticos e vetoriais (IBAMA, IBGE, EMBRAPA, INPE); Expedições a campo (quando e quais os detalhes?); Caracterização geral da área de pesquisa; Analise do mapeamento e síntese das informações do ambiente em estudo. 3.2 Materias empregados: Folhas de Cartas Topográficas na escala de 1: 100.000 (DSG/IBGE); Imagem dos satélites Landsat 1 - MS, 5 TM e 8 OLI; imagens SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission) (TOPODATA); Softwares para suporte, processamento e vetorização de imagens, em Sistema ArcGis 10, e Adobe Photoshop CS6; Câmera CANON 700 D com lentes 55-250mm; Fotografias de campo. 3.3 Técnicas utilizadas: Elaboração do banco de imagens: utilizada no abastecimento das informações a serem processadas; processamento das imagens: ajustadas (correção geométrica) e reprojeção com referencia espacial para WGS 1984 – UTM zona 23, composição colorida das bandas; equalização, mosaicos das imagens, criação do MDT e extração da rede de drenagem; Levantamento socioambiental: Visitas a área no objetivo da percepção e configuração da paisagem e investigar as atividades socioeconômicas; Interpretação dos dados obtidos: o procedimento baseou-se em estudos já realizados na área e exame dos resultados alcançados. 3.4 Localização e caracterização da área: A pesquisa insere-se na Alta Bacia Hidrográfica do Pericumã - ABHP (Figura 01), localizada na Microrregião da Baixada Maranhense (VIEGAS et al., 2014; IBGE, 2013). A Bacia Hidrográfica do Pericumã (BHP) é uma das bacias hidrográficas secundárias do Estado do Maranhão (BRASIL, 2006). E de acordo com Viegas et al., (2014), o local apresenta uma área total de 5.085,73 km² e extensão de 152,71 km (norte-sul), e drena áreas de alguns municípios da Baixada Maranhense e áreas de municípios da microrregião do Litoral Ocidental Maranhense. A estrutura geológica da área é pertencente ao Cenozoico e as formações geológicas observadas no local compreendem o Grupo Barreiras e Formação Açuí. As rochas do Grupo Barreiras são de idade Terciária, formadas por conglomerados, cascalhos, areias, siltes e argilas de cores variadas, com granulação variando de fina a média, pouco compactados e de fácil erodibilidade (FEITOSA, 2006). A Formação Açuí, consisti em depósitos sedimentares inconsolidados, de idade Quaternária, que 586

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

ocorrem na região preenchendo as áreas mais baixas e planas (FEITOSA, 2006; BANDEIRA, 2013). A área de estudo apresenta clima quente e úmido, com duas estações bem definidas: uma de estiagem, entre os meses de agosto e dezembro, e outra chuvosa, de janeiro a julho. O local apresenta-se com vegetação típica de campos inundáveis, que incidem por toda a planície de inundação, dos lagos e dos canais fluviais e mosaicos de florestas abertas e remanescentes de floresta nativa (amazônica) (VIEGAS, 2012; PEREIRA, 2012; IBGE, 2012). O principal rio da BHP é o rio Pericumã. Esse corpo hídrico tem seu exutório na baía de Cumã e não tem uma nascente bem definida pelos estudos locais. Já os solos encontrados na área são do tipo “laterita hidromórfica”, pouco profundos, mal drenados, geralmente com restrições ao uso agrícola devido a problemas de inundações (PINHEIRO, 2000; SILVA, 2007).

Figura 01 - Mapa de localização da ABHP Fonte: INPE, (2013); IBGE, (2013); (org) base de dados VIEGAS (2014).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES O mapeamento da evolução erosiva remontante em canal fluvial na Alta Bacia Hidrográfica do Pericumã tornou-se possível por meio da utilização do conjunto de imagens do Satélite Landsat 1, 5 e 8, respectivamente dos anos de 1977, 1984 e 2013 (Figura 02) e da geração do modelo digital de terreno – MDT para determinação dos níveis de base local.Os resultados apontam significativas mudanças do corpo hídrico principal no trecho estudando, em que as mudanças mais expressivas estão interligas diretamente a três processos: Evolução do modelado do relevo (erosão 587

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

remontante); interferências e modificações antropogênicas e fatores climáticos locais. A erosão remontante na cabeceira do rio Pericumã está associada a erosões de fluxo linear, com ocorrência de filetes de escoamento superficial, ravinas e pequenas voçorocas. Este último processo erosivo vai avançando a montante (regressão), originando capturas naturais de pequenos filetes de escoamento, sulcos e ravinas, promovendo a expansão da drenagem. Destaca-se que o processo erosivo do trecho em estudo no ano de 1977 era controlado pelos níveis de base A e B (locais) demonstrado na (Figura 03) e pelo nível de base geral (Nível do mar). Para o ano de 1977 (Figura 02 - 1977 (a) e (b)) do limite à jusante do corpo hídrico ao nível de base C (Figura 03), o alto curso do rio Pericumã apresentava-se com a extensão de 14.511km. Já a interpretação visual da imagem Landsat e da rede de drenagem para o ano de 1984 (Figura 02 – 1984 (a) e (b)), tornou-se possível identificar e mensurar o processo erosivo remontante ao longo do curso superior do rio Pericumã, com o quantitativo de 16.554 km, isto é, um avanço remontante de 2.043m em sete anos, o equivalente 291.85 metros de erosão por ano. Nota-se também, o início do surgimento de canais meandrantes, acentuadas curvaturas e braços mortos (abandono de canais). Tais modificações são mais perceptíveis na Figura 02 – 2013 (a) e (b), onde o traçado principal se apresenta com um segmento de 18.763, um avanço de 2.209km em relação ao ano de 1984 e de 4.252 entre os anos de 1977 a 2013. No entanto, na mesma imagem é identificado um segmento isolado de 3.939 km, o que indica futuramente a captura fluvial desse segmento pelo rio principal, onde a diferença do cumprimento erodido aumentaria para 6.148km em relação ao intervalo de 2013 1984 e de 8.191km entre os anos de 1977 a 2013. Isto é, na primeira hipótese de 1984 a 2013 (29 anos), o Pericumã recuou em direção à jusante aproximadamente 212m por ano. Já no segundo intervalo de tempo (36 anos), o corpo hídrico avançou o equivalente a 227.52 metros ano. Salienta-se que o processo erosivo pode não ter ocorrido de modo igual para todos os anos e que se deve levar em consideração o segmento isolado de 3.939m. Tal hipótese precisa ser verificada e validada em um conjunto de imagem com menor intervalo de tempo, medição de vazão em campo e monitoramento com estacas fixas. Apesar disso, o significativo aumento do traçado do corpo hídrico em estudo está ligado também às modificações antropogênicas, ou seja, à construção da barragem no médio curso do rio. Com a construção da Barragem no trecho médio do Pericumã, esta contribuiu para o surgimento do quinto (04) nível de base (quatro naturais e um artificial). As características geomorfológicas fluviais de todo o rio Pericumã, passaram por significativas alterações em face da construção entre os anos de 1979 a 1981 e nos anos posteriores a construção. Com os objetivos de minimizar a penetração da água salgada, facilitar a navegação, reduzir as enchentes em áreas urbanas e 588

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

agrícolas e regularizar as vazões de água no período de estiagem e chuvoso. Nota-se que a construção da barragem beneficiou a população local, pois antes da construção da barragem, a população local sofria com a escassez sazonal de água e com a salinidade dos campos que, por sua vez, inviabilizava alguns usos econômicos e o ambiente tinha características diferenciadas das atuais por influência da cunha salina da baia de Cumã. Por outro lado, nesse mesmo período o rio Pericumã passou pela modificação na sua dinâmica natural. Já que no ambiente ocorreu a construção de canais artificiais e dragagem do leito principal, e tais intervenções na configuração natural do corpo hídrico resultaram em maior velocidade do escoamento das águas em períodos de cheia, o que acelera os processos erosivos na cabeceira da BHP. Os processos erosivos são mais intensos entre os meses com maiores quantitativos pluviométricos, na estação chuvosa, que vai de janeiro a julho com valores pluviométricos em torno de 2.000 a 2.400 mm/ano e umidade relativa do ar variando entre 79 e 82%. No período de cheia do rio, a barragem é aberta com o intuito de escoar a água em excesso, a abertura das comportas causa aumento na velocidade da água, sobretudo em dias de grande pluviosidade e o aumento da intensidade do fluxo solapa as margens côncavas do canal fluvial, escava e aprofunda os cursos no alto curso, retira sedimentos para as áreas de menor declividade.

589

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

Figura 02: Conjunto de imagens do satélite Landsat 1, 5 e 8 Fonte: INPE, 2013; (org) da base de dados VIEGAS, (2014).

590

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

Figura 03: Modelo Digital de Terreno – MDT e perfil topográfico. Fonte: INPE/ TOPODATA, 2008; (org) da base de dados VIEGAS, (2014).

6 CONCLUSÃO É importante que a comunidade científica, bem como a sociedade em geral, tome conhecimento dos processos erosivos que alteram a drenagem da Alta Bacia Hidrográfica do Pericumã e do modo como estes contribuem para a dinâmica do geossistema da área e para a configuração da paisagem. Nesse contexto, ressalta-se que novas intervenções humanas, a exemplo construção de obras de engenharia (dragagem, retificação de canais) podem fixar modificações ambientes futuras. E que possíveis construções de obras de engenharia, necessitam ter em vista a complexidade desse ambiente e a inter-relação dos elementos da paisagem com a comunidade local e o corpo hídrico principal. Com o uso de novos procedimentos de investigação (geotecnologias), torna-se possível aos pesquisadores testarem técnicas de investigação no intuito de responderem aos questionamentos e apontarem as modificações que ocorreram no espaço geográfico em questão. Além disso, este ensaio traz informações do processo erosivo remontante no principal corpo hídrico da BHP, bem como apresenta evidências das nascentes de cabeceira do rio Pericumã, pois para o local a precisão e determinações dessas nascentes, geram duvidas e questionamentos entre estudos locais. No local é indicado e observável o fenômeno de captura fluvial de pequenos meandros e erosão remontante significativa, em que a interpretação do mapeamento indica processos ocorridos na área, resultante de alterações de drenagem no sistema fluvial e o ensaio proposto torna-se útil para o entendimento do estado de equilíbrio do leito do alto curso do rio Pericumã e da paisagem da ABHP. Contudo, cabe aos pesquisadores identificarem os desequilíbrios ambientais locais, e aos órgãos públicos e a população local garantir a valorização e manutenção da área em estudo, reconhecendo as mudanças naturais e artificiais que a região passou nos últimos 40 anos, com vistas em alterações futuras. 591

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

AGRADECIMENTOS pelo apoio e contribuições à pesquisa: A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela concessão de bolsa de Mestrado; Ao Programa de Pós Graduação em Geografia da UNESP - Campos de Presidente Prudente; Ao Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território – CEGOT, abrigado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal; A Universidade Federal do Maranhão – UFMA por meio do Núcleo de Estudos em Pesquisas Ambientais - NEPA e o Departamento de Geociências da UFMA - Campus de São Luís e Pinheiro (Professores: Antonio Cordeiro Feitosa e José Raimundo Campelo Franco); E o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da cidade de Pedro do Rosário (Lenôra Luar). REFERÊNCIAS BANDEIRA, I. C. N. Geodiversidade do Estado do Maranhão. Programa Geologia do Brasil. Levantamento da Geodiversidade - CPRM. 294 p.; 30 cm + 1 DVD-ROM. Teresina, 2013. BERTALANFFY, L. von. Teoria geral dos sistemas: fundamentos, desenvolvimento e aplicações. Tradução de Francisco M. Guimarães. – 6 ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Caderno da Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental. Brasília, DF, MMA, 2006. BRASIL, Divisão Territorial Brasileira - 2013. Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia – IBGE. Disponível em: Acessado em 20 de janeiro de 2014. CHRISTOFOLETTI, A. (1975) Capturas fluviais. Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo, vol. 5, p. 2.049-2.051. CHRISTOFOLETTI, A. (1977) Considerações sobre o nível de base, rupturas de declive, capturas fluviais e morfogênese do perfil longitudinal. Geografia, 2 (4), p. 81102. CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em Geografia – Introdução. São Paulo, Hucitec: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979. ________________Geomorfologia. Ed. Edgard Blucher, São Paulo 1980. ________________Geomorfologia Fluvial. Volume 1. Ed. Edgard Blucher. São Paulo, 1981. ________________Modelagem de Sistemas Ambientais. 1ª. edição. São Paulo, SP: Ed. Edgard Blucher. LTDA., 1999.

592

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

CHORLEY, R. J. Geomorphology and General Systems Theory. In: theoretical papers in the hydrologic and geomorphic sciences. Washington, 1962. p. b1-b14. COSTA-NETO, J. P. BARBIERI, R. IBAÑEZ, M. do S.R. Limnologia de três ecossistemas aquáticos característicos da Baixada Maranhense. Bol. Lab. Hidrobiologia. Volume, 14/15. 2001/2002. Universidade Federal do Maranhão. São Luís 2001/2002. FEITOSA, A. C. Relevo do Estado do Maranhão: Uma Nova Proposta de Classificação Topomorfológica. VI Simpósio Nacional de Geomorfologia: Geomorfologia Tropical e Subtropical: Processos, métodos e técnicas. Goiânia, 2006. GRANELL-PÉREZ, M. del C. Trabalhando Geografia com as Cartas Topográficas. 2ª ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2004, 128p.il. GUERRA, A. J. T. O início do processo erosivo. In: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S. da; BOTELHO, R. G. M. Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. GUERRA, A. J. T; SILVA, A. S da; BOTELHO, R. G. M (Org.). Erosão e conservação dos solos. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. JENSEN, J. R. Sensoriamento Remoto do Ambiente: uma perspectiva em recursos terrestres. 2 ed. São José dos Campos: Parêntese, 2009, 604 p. LANG, S. BLACHKE, T. Análise da paisagem com SIG. Tradução: Hermann Kux. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. LEOPOLD, L. B; WOLMAN, M. G; MILLER, J. P. Fluvial processes in geomorphology. San Francisco: W. H. Freeman and Company, 1964, p.215-281. MONTEIRO, C. A. Geossistema: a história de uma procura. São Paulo. Contexto, 2001. PASSOS, M. M. dos. Biogeografia e paisagem. Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, 1998. PINHEIRO, C. U. B. Estudo etnobiológicos: Baixada Maranhense. São Luís, 20002003. Relatório final – Universidade Federal do Maranhão / DEOLI. PEREIRA, R. C. de C. As transformações históricas e a dinâmica atual da paisagem na alta bacia do rio Pericumã. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Presidente Prudente, 2012. (Tese orientada pelo Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos). RHOADS B. L. The Dynamic Basis of Geomorphology Reenvisioned: A process perspective on geomorphology. Annals of the Association of American Geographers. 2006. 96: 14–30. 593

“RIESGOS, VULNERABILIDADES Y RESILIENCIA SOCIOAMBIENTAL PARA ENFRENTAR LOS CAMBIOS GLOBALES” Santiago (Chile), 03 al 05 de Diciembre 2014 Eje 2 – Geotecnologías aplicadas a los riesgos y vulnerabilidades p. 583 – 594

RODRIGUES, M. Introdução ao Geoprocessamento. In: Simpósio Brasileiro de Geoprocessamento, 1. São Paulo, 1990. Curso In trodutório. São Paulo: EPUSP, 1990. P 1-26. SILVA, Lucinês Campos. Implicações Socioambientais da construção da barragem do rio Pericumã sobre a cidade de Pinheiro - MA. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Maranhão, curso de Geografia / PROEB, Pinheiro 2007. STRAHLER, A. N. Equilibrium theory of erosional slopes, approached by frequency distribution analysis: Am. Jour. Sci., v. 248, 1950 p. 673-696, 800-814. STRAHLER, A. N. Dynamic basis of geomorphology. Geological Society of America Bulletin, September 1952, v.63, nº.9, p.923-938. SOTCHAVA, V. B. O estudo de geossistemas. Instituto de Geografia. Universidade de São Paulo. São Paulo: Ed. Lunar, 1977. ROSS, J. L. Considerações a respeito da importância da geomorfologia na questão dos limites territoriais. In: Revista do departamento de Geografia. Nº 2. São Paulo: USP, 1983. TRICART, J. Ecodinâmica. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Superintendência de Recursos Naturais e Meio Ambiente. Diretoria Técnica. Rio de Janeiro, 1977. VIEGAS, J. C. Dinâmica da Paisagem do médio curso do Rio Pericumã, área de influência da Cidade de Pinheiro - Maranhão. Monografia apresentada ao curso de Graduação – Universidade Federal do Maranhão - São Luís, 2012. VIEGAS, J. C.; PASSOS, M. M.; RODRIGUES, T. C. S.; PEREIRA, P. R. M. GERAÇÃO SEMIAUTOMÁTICA DE DADOS MORFOMÉTRICOS: proposta para os novos limites do divisor de água e altimetria da Bacia Hidrográfica do Pericumã – Maranhão, BRASIL. In: Anais da I Jornadas Lusófonas de Ciências e Tecnologias de Informação Geográfica. Coimbra, Portugal, 2014.

594

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.