Gerenciamento de informações e estrutura em rede como requisitos para a Universidade de Santa Cruz do Sul fazer frente aos desafios colocados pelo desenvolvimento institucional no contexto da sociedade informacional

August 1, 2017 | Autor: Caco Baptista | Categoria: Universidad, Administração e Gestão Educativa
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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Mestrado em Ciências Sociais - Organizações e Sociedade Disciplina: Formação de competências e inovação Professor: Dr. Hermílio Santos

Gerenciamento de informações e estrutura em rede como requisitos para a Universidade de Santa Cruz do Sul fazer frente aos desafios colocados pelo desenvolvimento institucional no contexto da sociedade informacional

Marcos Moura Baptista dos Santos Julho de 2002

As sociedades contemporâneas têm sido palco de uma das mais extraordinárias transformações já vistas pela humanidade, comparável, por sua magnitude, ao conjunto de transformações econômicas, políticas, culturais, sociais e tecnológicas que caracterizaram o período da Revolução Industrial. Nas últimas décadas do século vinte foram vários os autores que, sob diferentes perspectivas, estudaram esta transformação radical do modo de produção do social e identificaram nela uma ruptura com os padrões da sociedade industrial. Chamada de sociedade pósindustrial1, sociedade informática2, sociedade em rede3 ou sociedade tecnizada4, a nova forma social que os autores vislumbram sob estas transformações é a de uma sociedade globalizada, altamente tecnizada, centrada no uso e aplicação de informação e conhecimento e cuja base material está sendo alterada aceleradamente por uma revolução tecnológica concentrada na tecnologia da informação. A tecnização e informatização da sociedade colocam o conhecimento em posição privilegiada como fonte de valor e de poder5. O paradigma informacional, característica central das sociedades baseadas no conhecimento, produz uma nova organização do trabalho - com alterações na estrutura de empregos, nas relações trabalhistas, na estrutura ocupacional e nas definições de trabalho qualificado e trabalho desqualificado - e uma profunda reorganização do processo educativo, das relações sociais entre gêneros e idades, e dos sistemas de valores6. No âmbito da educação superior o novo contexto político, econômico, social e tecnológico tem desafiado as universidades para que ofereçam maior flexibilidade na oferta de serviços educacionais, garantindo um acesso mais amplo à educação superior através do uso das novas tecnologias da informação e comunicação. A chave para isso é o uma efetiva gestão do conhecimento e da informação, com o desenvolvimento de sistemas de informações, treinamento e capacitação de pessoal, a manutenção de diferentes bases de dados, a construção de redes de computadores e a aquisição de equipamentos e todas as aplicações e ferramentas técnicas necessárias. Este esforço não deve ser restrito à áreas acadêmica, com a introdução de novas metodologias e tecnologias educacionais, mas também na área administrativa, com a adoção de novas tecnologias e metodologias de gestão. Em todas as áreas de atuação da universidade as novas tecnologias da informação e da comunicação podem transformar a maneira como as tarefas são realizadas, podem desvelar toda espécie de novos relacionamentos e alianças e podem mesmo chegar a revolucionar o modo de operação da instituição e mesmo a sua estrutura. Evidentemente, mais do que a tecnologia em si, o que importa são as atitudes e habilidades humanas para criar e ajustar os mecanismos institucionais necessários ao desenvolvimento e fortalecimento dos processos de troca de informações e compartilhamento de conhecimentos. Ao lado da pertinência e da relevância social das suas atividades - maior qualidade e diversidade de serviços educacionais, maior capacidade de resposta às demandas externas, maior relevância da produção intelectual e da pesquisa e ampliação do acesso à graduação - as universidades precisarão também preocupar-se com a competitividade - maior eficiência e eficácia dos processos, estruturas mais flexíveis, decisões mais ágeis e melhor informadas, gestão mais profissional - e com a ampliação e aperfeiçoamento da interatividade com a comunidade (acadêmica e local/regional).

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LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna, Lisboa: Gradiva, s.d. SCHAFF, Adam. A sociedade informática. São Paulo: Brasiliense, 1995 3 CASTELLS, Manuel. A sociedade em redes. SP: Paz e Terra, 1999 4 MACHADO, Lucília. "Sociedade industrial X sociedade tecnizada". Universidade e Sociedade, ano III, n. 5, julho 1993, p. 32-37. 5 TOFLER, 1990. 6 SCHAFF, 1995. 2

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Neste trabalho, tendo como pano de fundo a sociedade informacional em forma de rede descrita por Castells, apresento algumas reflexões, ainda incipientes, sobre as possibilidades de um processo de reconfiguração da UNISC para a universidade fazer frente aos desafios de seu desenvolvimento nos próximos anos. Este desafio precisa ser abordado em três frentes simultâneas e articuladas: a utilização intensiva e inteligente da tecnologia da informação para a gestão do conhecimento e implantação de redes de comunicação e sistemas interativos, um processo continuado de desenvolvimento de pessoal para a formação de competências nas áreas demandadas pelas transformações tecnológicas e sociais e uma estrutura que garanta flexibilidade, agilidade e autonomia operacional sem perder a capacidade de coordenação em torno de estratégias centrais da instituição.

Sociedade informacional: a sociedade em rede Para estas reflexões baseio-me fortemente na análise das estruturas sociais emergentes no final do século vinte feita por Manuel Castells em A sociedade em rede7. A análise de Castells apresenta quatro aspectos principais: a centralidade da tecnologia da informação (que penetra em todas as esferas da atividade humana); o refinamento da teoria sociológica (com a da articulação do conceito clássico de modo de produção à noção, por ele desenvolvida, de modo de desenvolvimento8); a compreensão do papel do Estado no desenvolvimento econômico e tecnológico (deixando de lado a visão reducionista e ideologizada das perspectivas liberais do Estado mínimo); e a caracterização da sociedade informacional como uma sociedade em rede, com a morfologia social definida por uma topologia em forma de rede. O surgimento da sociedade em rede torna-se possível com o desenvolvimento das novas tecnologias da informação que, no processo, "agruparam-se em torno de redes de empresas, organizações e instituições para formar um novo paradigma sociotécnico"9 cujos aspectos centrais representam a base material da sociedade da informação. Castells indica cinco aspectos centrais do novo paradigma sociotécnico baseado na tecnologia da informação: a informação é matéria-prima; as novas tecnologias penetram em todas as atividades humanas; a lógica de redes opera em qualquer sistema ou conjunto de relações usando essas novas tecnologias; a flexibilidade de organização e reorganização de processos, organizações e instituições; e, por fim, a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado, conduzindo a uma interdependência entre biologia e microeletrônica10 . Assim, diz Castells, o paradigma da tecnologia da informação tem como principais atributos a abrangência, a complexidade e a disposição em forma de rede. O conceito de rede pode ter uma definição inicialmente muito simples - "rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de

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CASTELLS, 1999 Por modo de desenvolvimento Castells designa os "procedimentos mediante os quais os trabalhadores atuam sobre a matéria para gerar o produto, em última análise, determinando o nível e a qualidade do excedente" (op. cit., p. 34). Castells procura destacar a existência de uma interrelação empírica entre modos de produção (capitalismo, estatismo) e modos de desenvolvimento (industrialismo, informacionalismo). Cada modo de desenvolvimento é definido pelo elemento que promove a produtividade, e uma nova estrutura social está associada ao surgimento de um novo modo de desenvolvimento. 9 Castells, 1999:77 10 Castells, 1999: 78-79 11 Castells, 1999: 498 12 Castells, 1999: 499 10 Castells, 1999: 78-79 11 Castells, 1999: 498 12 Castells, 1999: 499 8

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redes concretas de que falamos"11 - mas que vai evoluindo em complexidade até nos oferecer uma ferramenta de grande utilidade para dar conta da complexidade da configuração das sociedades contemporâneas sob o paradigma informacional. Assim, diz Castells, "redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho). Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio"12 Organizações em rede Esta definição nos oferece uma ferramenta poderosa para analisar as organizações na era da informação, permitindo que se chegue a uma definição de empresa em rede ou, de forma mais ampla, de organização em rede. É importante destacar, a esta altura, que, na literatura sobre universidade é corrente o uso do conceito de instituição, sendo mais raro o seu estudo como organização, termo reservado para empresas ou, mais recentemente, entidades do terceiro setor, como as ONGs. Este é um ponto central no debate sobre o papel e a função da universidade na sociedade contemporânea, sendo importante referir a distinção proposta por Chauí entre instituição social e organização13. Concordando com Chauí, considero, contudo, possível estudar a universidade como uma organização em rede, se considerarmos, como Castells, que as instituições são um tipo específico de organização: enquanto organizações são "os sistemas específicos de meios voltados para a execução de objetivos específicos", instituições são "as organizações investidas de autoridade necessária para desempenhar tarefas específicas em nome da sociedade como um todo"14. Ao apresentar a economia informacional na qual se desenvolveram as empresas em rede, Castells destaca as transformações organizacionais que, a partir da década de 80 do século passado, interagiram com a difusão da tecnologia da comunicação e cujo objetivo era proporcionar maior flexibilidade para lidar com as incertezas. Este processo gerou a transição da produção em massa para a produção flexível e questionou a rigidez organizacional da empresa de grande porte. Entre as formas organizacionais experimentadas nas duas últimas décadas do século vinte destacam-se o toyotismo e o volvismo - baseados na cooperação entre gerentes e trabalhadores, na mão de obra multifuncional, no controle da qualidade total e na redução de incertezas -, a formação de redes entre empresas, as alianças corporativas estratégicas e as empresas em rede15.

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Castells, 1999: 498 Castells, 1999: 499 12 Castells, 1999: 499 13 Para Chauí, a instituição aspira à universalidade enquanto que o sucesso da organização depende da sua particularidade. A universidade, diz Chauí, sempre foi, desde o seu surgimento no século XIII, uma instituição social, isto é, uma "ação social, uma prática social fundada no reconhecimento público de sua legitimidade e de suas atribuições" (p. 6) e estaria agora, no bojo da Reforma do Estado brasileiro, sendo transformada em uma universidade operacional, isto é, estaria passando da condição de instituição social para a de organização social. A organização define-se por uma outra prática social, a da instrumentalidade, não está referida a ações de legitimidade e reconhecimento, internos e externos, mas a "operações definidas como estratégias balizadas pelas idéias de eficácia e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define" (p. 6) CHAUÍ, Marilena. "A universidade operacional". In CIPEDES, n. 4(4), separata da Revista Avaliação, vol. 4, n. 3(13), set., 1999, p. 3-9. 14 Castells, 1999: 173 15 Castells, 1999: 174-188 14 Castells, 1999: 173 15 Castells, 1999: 174-188 15 Castells, 1999: 174-188 12

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Neste movimento para adaptar-se às condições de imprevisibilidade e turbulência introduzidas pelas transformações tecnológicas e econômicas contemporâneas, diz Castells, a empresa alterou seu modelo organizacional, passando de burocracias verticais para a empresa horizontal, caracterizada por sete tendências principais: "organização em torno do processo, não da tarefa; hierarquia horizontal; gerenciamento em equipe; medida de desempenho pela satisfação do cliente; recompensa com base no desempenho da equipe; maximização dos contatos com fornecedores e clientes; informação, treinamento e retreinamento de funcionários de todos os níveis"16. Esta empresa horizontal, cuja forma organizacional procura combinar inovação e continuidade em um ambiente em rápida transformação pode ser definida como "uma rede dinâmica e estrategicamente planejada de unidades autoprogramadas e autocomandadas com base na descentralização, participação e coordenação" 17. Embora seja importante lembrar que as transformações organizacionais decorrentes da necessidade de lidar com um ambiente em constante mudança ocorreram de forma independente das transformações tecnológicas, é necessário destacar que estas últimas intensificaram e otimizaram aquelas, de modo que a empresa em rede surge como resultado da interação entre as transformações decorrentes da crise organizacional e as novas tecnologias da informação. Forma organizacional característica da economia informacional, a empresa em rede é definida, finalmente por Castells como "aquela forma específica de empresa cujo sistema de meios é constituído pela interseção de segmentos de sistemas autônomos de objetivos"18 e tem como atributos fundamentais a conectividade "capacidade estrutural de facilitar a comunicação sem ruídos entre seus componentes" - e a coerência - "a medida em que há interesses compartilhados entre os objetivos da rede e de seus componentes" 19, sendo que os componentes da rede são ao mesmo tempo autônomos e dependentes em relação à rede e podem mesmo fazer parte de outras redes.

Gerenciamento da informação A relevância do gerenciamento de informações para a gestão das universidades reside na importância central que a informação assume nas sociedades contemporâneas como principal fonte de geração e de obtenção de valor, na crescente importância social assumida pelas universidades e instituições similares e na necessidade de que as universidades possuam sistemas de informações que lhes permitam adequar-se aos novos tempos e manter a sua posição no campo da produção e disseminação do conhecimento em nossas sociedades. As inovações no campo da tecnologia da informação trouxeram importantes modificações para a abrangência e arquitetura dos sistemas de informação nas organizações complexas, que tendem a uma descentralização cada vez maior e estão distribuídos por quase toda a organização, envolvendo não apenas informação estruturada, mas planos, projetos, relatórios, correspondência, gráficos, desenhos, fotografias, slides, vídeos, fitas de áudio, etc. Do mesmo modo, as pessoas que usam essas informações vão desde os funcionários administrativos de baixo escalão até os principais executivos da organização, passando pelo pessoal técnico e

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Castells, 1999: 185 Castells, 1999:187 Castells, 1999: 91 Op. cit., loc. cit. Castells, 1999: 91 Op. cit., loc. cit. Op. cit., loc. cit.

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profissional e pelos níveis intermediários de gerência. Gerenciar essas informações garantindo que cheguem para as pessoas certas no tempo certo e no formato desejado pelo usuário não é tarefa simples. Uma abordagem muito interessante para construir um sistema de gerenciamento de informações, enfocando ao mesmo tempo aspectos internos e externos à instituição, é encontrada em Academic Strategy: the management revolution in American Higher Education20. Neste livro o autor descreve os padrões emergentes em gestão e planejamento do ensino superior e as razões para a sua emergência, explica o que é o planejamento estratégico, descreve como universidades e faculdades podem introduzir os métodos de tomada de decisões estratégicas em sua vida institucional e examina o novo papel do planejamento estratégico e as mudanças que ele acarreta no papel dos professores e dos dirigentes universitários. No capítulo seis, especificamente, Keller chama a atenção para o tripé fundamental do planejamento estratégico: informação, qualidade e pessoal, e destaca a necessidade da construção de sistemas de informação tanto para o planejamento como para a gestão das atividades cotidianas da instituição 21. Segundo Keller, o primeiro passo para a elaboração de um "management information system" é possuir um grupo de trabalho que defina que tipo de dados são vitais para uma excelente tomada de decisões. Tal grupo, diz o autor, deveria levantar questões como: "What is the connection between policy and information? What kinds of decisions are critical for a college or university? and How much should information be shared and by what means?"22 Para Keller, algumas das categorias de informação que são importantes referem-se às operações internas ao campus, como "space utilization, facility and equipment use and needs, patronage of the library, the bookstore, the student center, and the like. And information about costs and the flows of dolars is equally important" 23. Outra categoria de informações relevantes é sobre os estudantes: "Central to any suchs campus is a careful monitoring of

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Keller, 1983. Keller, 1983:131 op. cit., loc. cit. op. cit., loc. cit. Keller, 1983:133

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op. cit., loc. cit. Conforme Capacity.org review of POWELL, Mike. Information management for development organisations. Oxford: Oxfam, 1999. Reviewed in September 2000. Retirado da rede em julho de 2002: www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm . 21 Keller, 1983:131 22 op. cit., loc. cit. 23 op. cit., loc. cit. 24 Keller, 1983:133 25 op. cit., loc. cit. 26 Conforme Capacity.org review of POWELL, Mike. Information management for development organisations. Oxford: Oxfam, 1999. Reviewed in September 2000. Retirado da rede em julho de 2002: www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm . 22 op. cit., loc. cit. 23 op. cit., loc. cit. 24 Keller, 1983:133 25 op. cit., loc. cit. 26 Conforme Capacity.org review of POWELL, Mike. Information management for development organisations. Oxford: Oxfam, 1999. Reviewed in September 2000. Retirado da rede em julho de 2002: www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm . 23 op. cit., loc. cit. 24 Keller, 1983:133 25 op. cit., loc. cit. 26

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student time, activities, and outcomes: improved information about the student's educational progress"24. Keller considera ainda três outras áreas em que é fundamental possuir informações: "cross analyses of educational data and cost data, trends about environment outside the institution, and facts about chief competitors" 25 . Contudo, como muitos os autores advertem, de nada adianta planejar e implementar um eficiente sistema de informações se isto não for acompanhado de uma intervenção educativa no sentido de modificar a cultura institucional. Se as pessoas não estiverem sensibilizadas para a importância da informação e não tiverem a inteira dimensão da suas responsabilidades para com as informações que recebem e que transmitem, elas simplesmente não alimentarão o sistema. Além disso é preciso saber interpretar as informações, saber o que fazer com elas, caso contrário não se criará o hábito de tomar decisões a partir de informações, e então gerenciar informações deixa de fazer sentido. Em um livro voltado para gerentes de organizações de desenvolvimento, no qual procura ajudá-los a pensar sobre um conjunto de modos nos quais a informação e a sua comunicação podem ser gerenciados, Mike Powell 26 apresenta o gerenciamento da informação como uma atividade que permite e apoia a criação de valor a partir do conhecimento e habilidades das pessoas que trabalham na linha de frente da organização, permitindo-lhes que acessem a informação de que necessitam e ao mesmo tempo tornando seu conhecimento disponível dentro da organização, aportando-o ao fluxo principal de informações que circula na organização. Powell chama atenção também para a importância de assegurar-se que os beneficiários das ações institucionais sejam o alvo mais fundamental das ações: "when adressing information management, one should be sure that the beneficiaries receive the information they need, and that they have opportunity to value their knowlwdge to donors or partners" 27. Powell reflete sobre o conceito de sociedade da informação, focalizando sobre o efeito de empowerment da informação e a sua demanda crescente. Embora ele também considere a disseminação de informações através de redes de trabalho, sua atenção volta-se mais para questões internas às organizações, enfatizando a noção de arquitetura da informação como um meio para analisar a informação como um complexo recurso organizacional, além de refletir sobre as vantagens e desvantagens do uso da tecnologia e o impacto das novas tecnologias da informação e da comunicação sobre o gerenciamento de informações. Cabe destacar ainda, do livro de Powell, a sua percepção do gerenciamento da informação como uma prática que, se corretamente abordada, pode tornar outras atividades mais eficazes. É nesta linha de pensamento que me coloco ao pensar um sistema de gerenciamento de informações para a UNISC que possa contribuir para a sua transformação em uma organização de novo tipo, centrada na percepção das necessidades e expectativas dos beneficiários de seus serviços, nos resultados obtidos por seus estudantes e na satisfação dos clientes (alunos, exalunos, empregadores, etc.), e na qual a eficiência é medida pela capacidade de responder a condições mutáveis do 26

Conforme Capacity.org review of POWELL, Mike. Information management for development organisations. Oxford: Oxfam, 1999. Reviewed in September 2000. Retirado da rede em julho de 2002: www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm . 24 Keller, 1983:133 25 op. cit., loc. cit. 26 Conforme Capacity.org review of POWELL, Mike. Information management for development organisations. Oxford: Oxfam, 1999. Reviewed in September 2000. Retirado da rede em julho de 2002: www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm . 25 op. cit., loc. cit. 26 Conforme Capacity.org review of POWELL, Mike. Information management for development organisations. Oxford: Oxfam, 1999. Reviewed in September 2000. Retirado da rede em julho de 2002: www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm . 26 Conforme Capacity.org review of POWELL, Mike. Information management for development organisations. Oxford: Oxfam, 1999. Reviewed in September 2000. Retirado da rede em julho de 2002: www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm . 27

www.capacity.org//7/issue7_powell_en.htm

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mercado, pela capacidade de mudar rapidamente o oferecimento de produtos e serviços para atender às necessidades dos alunos e da sociedade, pela qualidade de seus serviços e produtos e pelas alianças que estabelece com clientes, fornecedores e concorrentes. Uma organização deste tipo precisa de uma estrutura flexível e de sistemas informatizados que garantam um fluxo contínuo de informações para poder fazer ajustes rápidos, reformulando ou lançando programas e serviços totalmente novos em menos tempo e sempre à frente da concorrência. Por outro lado é importante destacar que não basta informatizar a instituição e introduzir toda sorte de tecnologias se for apenas para fazer melhor o que já vinha sendo feito. Em vez de lutar contra as novas tecnologias é preciso usá-las criativamente e reformular com elas as atividades, estruturas, processos e objetivos institucionais. Neste aspecto é importante nos referirmos ao relatório de George Lawson, NetState: creating eletronic government28, que procura mostrar como o governo pode sobreviver no novo século digital e apresenta os papéis e funções que podem ajudar a tornar o governo mais eficiente, sensível e confiável. Lawsons argumenta que no novo contexto de uma economia baseada no conhecimento, valores sociais em transformação e inovação tecnológica, o governo precisa fazer algo inteiramente novo. Porém, adverte Lawsons, as novas tecnologias não são uma panacéia para a democracia. Se a disponibilização de serviços de e-governement com acesso 24 horas por dia 7 dias por semana depende de pouco mais que máquinas e sistemas, a tomada de decisões de qualidade depende mais de uma mudança cultural do que tecnológica. É preciso investir em educação e treinamento ao mesmo tempo que se amplia o acesso às tecnologias e torna-se seu uso mais amigável. Embora as novas tecnologias permitam aos políticos e governantes interagir mais efetivamente com o público, é preciso complementar estes passos com reformas que melhorem a qualidade dos processos políticos. É possível transpor as propostas e exemplos de Lawsons para a universidade, procurando utilizar as novas tecnologias para disponibilizar de maneira mais ampla e mais eficiente os serviços da instituição através de educação a distância, e-learning e outras facilidades disponibilizadas através de páginas web na Internet. Mas o mais interessante é utilizar as novas tecnologias para ampliar a interatividade e a participação de todos os públicos e segmentos da instituição e conseguir aperfeiçoar os processos de tomada de decisão. Em uma analogia à criação do electronic government de Lawsons, poderíamos nos referir a uma e-Universidade, a universidade da sociedade da informação.

UNISC: características, potencialidade e desafios institucionais A UNISC concebe-se como uma universidade comunitária que se propõe a atender de forma qualificada às necessidades culturais, educacionais, científicas e tecnológicas das suas regiões de abrangência e fundamenta sua filosofia de funcionamento e operação, seus objetivos e seus compromissos básicos, no melhoramento contínuo, na liberdade acadêmica, na democracia participativa, na transparência administrativa, e na descentralização da gestão financeira, reforçando o seu compromisso com o desenvolvimento regional. As características institucionais que evidenciam o potencial de desenvolvimento da instituição e expressam a sua identidade e especificidade são: o modelo de gestão democrática e participativa; a proximidade entre os gestores e a comunidade acadêmica; a cultura institucional de decisões coletivas tomadas em órgãos colegiados; a

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LAWSON, George. NetState – Creating electronic government. London: Demos, 1998.

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transparência administrativa; a qualidade dos serviços educacionais; os significativos investimentos em qualificação de pessoal e infraestrutura; a profunda inserção na comunidade regional e o caráter de instituição comunitária e sem fins lucrativos. Entre os fatores externos que afetam o desenvolvimento da Unisc e sobre os quais a instituição não tem controle, foram apontadas a elevada dependência das decisões do Ministério da Educação - MEC e do Conselho Nacional de Educação - CNE, cujas ações e legislação tendem a limitar a autonomia universitária e dificultam o planejamento institucional; a expansão da concorrência, que tem forçado o crescimento da Unisc; a redução do poder aquisitivo da população e a redução do financiamento externo ao estudante. No âmbito interno foram considerados fatores limitadores do desenvolvimento a elevada dependência financeira das mensalidades estudantis; a cultura de separação entre a questão acadêmica e a questão financeira e administrativa; a falta tempo para planejar e de condições para implementar o planejado; o fluxo inadequado de informações e a falta de determinadas informações; a falta de comprometimento institucional em algumas unidades acadêmicas; a inadequada distribuição da responsabilidade institucional; a diluição de responsabilidades; a falta de melhor estrutura no nível administrativo superior; a cultura estabelecida de a administração superior dedicar muito tempo para questões operacionais em detrimento das questões estratégicas e a falta de ferramentas para pensar estratégias e para a inovação. Da análise institucional da UNISC transpareceram a crescente necessidade de dispor de informações organizadas, atualizadas e adequadas sobre a organização e o ambiente - natural, social, político, cultural, tecnológico e econômico -, e a necessidade de provocar transformações na cultura institucional no sentido da utilização efetiva das informações disponíveis e do reconhecimento, por cada um, de sua responsabilidade em relação às informações, tanto sobre as que recebe como sobre as que fornece. Nesta análise confirmaram-se a necessidade de dinamização do processo decisório e da efetiva implementação das decisões tomadas e do fortalecimento de uma coordenação geral mais efetiva, sem prejudicar a participação democrática e a descentralização administrativa características da instituição. Ficou clara a necessidade de realizar esforços em duas frentes, cada uma com seu próprio tempo: na dimensão cultural, a construção de uma visão de futuro que seja assumida por toda a instituição como expressão de uma identidade compartilhada e idéia motriz de um plano de desenvolvimento institucional e, na dimensão da estrutura, a construção de uma configuração em rede, uma estrutura descentralizada mas que inverta a tendência de transformação da instituição em uma federação de cursos e departamentos e garanta a coordenação de ação e a agilidade decisória. O desenvolvimento da UNISC no horizonte dos próximos cinco anos cobertos pelo Plano de Desenvolvimento Institucional 2002-2006 é visto como um processo de crescimento e qualificação que se impõe como exigência de um cenário de mudanças rápidas e profundas na sociedade, no mundo do trabalho e no campo da educação superior. Este cenário aponta para novas exigências de qualidade e para um aumento da competição, com a entrada de novos concorrentes e modificações no perfil da demanda e da oferta. A situação impõe a preparação da instituição para um processo de expansão com qualidade e diversificação, através da oferta de novos cursos e programas em novos formatos e modalidades, do uso de novas tecnologias, da implantação dos novos campi fora de sede e consolidação do campus central, da inovação na prestação de serviços e desenvolvimento de novos empreendimentos e da profissionalização da gestão 29.

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UNISC. Plano de Desenvolvimento Institucional III - 2002/2006. Intranet: www.intra.unisc.br

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Para dar conta deste conjunto de exigências é preciso adotar uma estrutura flexível, capaz de garantir a adaptabilidade da instituição às modificações do ambiente e que facilite a interação entre as diferentes unidades organizacionais e da instituição com outras organizações e um novo modelo organizativo que possibilite a coexistência de uma estrutura central de coordenação, responsável pela definição dos objetivos estratégicos, com unidades descentralizadas dotadas de grande autonomia operacional. A coesão organizacional é obtida pelos objetivos estratégicos definidos pela gestão central e por uma forte adesão dos membros da instituição a alguns princípios e ideais considerados os compromissos básicos da instituição. Por outro lado, a autonomia operacional das unidades permite reações em tempo real e maior adaptabilidade às transformações ambientais. As vantagens desta estrutura, que coincide com a estrutura em rede descrita por Castells, consiste justamente na capacidade da instituição tomar decisões rapidamente e de alterar o percurso em curtos períodos de tempo. Caracterizada por uma direção central com a visão do todo - o Conselho Universitário e a Reitoria, capazes de tomar as grandes decisões estratégicas e definir os objetivos gerais da instituição - e por um conjunto de unidades (os nós da rede) capazes de concretizar os objetivos institucionais mas com grande autonomia operacional e capacidade de resposta em tempo real, esta nova estrutura depende de um forte comprometimento dos seus membros, que precisam compreender a missão e os objetivos institucionais como um ideal coletivo da instituição e aderir a eles incorporando-os a suas atitudes e procedimentos.

Universidade na sociedade da informação: um projeto de gerenciamento de informações em rede Considerando as características da sociedade informacional e o potencial e as limitações da UNISC, apresento a seguir as linhas gerais para dar início a um projeto de gerenciamento de informações e gestão do conhecimento na universidade com a utilização intensiva das tecnologias da informação e comunicação. Objetivos: -

amplo e fácil acesso dos membros da comunidade universitária a terminais interligados à Intranet e à Internet;

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capacitação de toda a comunidade universitária para o domínio das novas tecnologias de informação e comunicação;

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utilização rotineira da rede para divulgação e aquisição de informação, seja ela de natureza acadêmica, administrativa ou cultural, bem como a veiculação das notícias dos jornais;

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utilização rotineira da rede para comunicação interna na universidade, incluindo a comunicação professoraluno, a comunicação entre as áreas administrativa e acadêmica, a troca segura de documentos e o trabalho em rede;

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uso planejado e crescente das novas tecnologias;

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valorização interna da informação através da disseminação e fortalecimento da idéia de que a produção e o uso da informação bem estruturada e precisa é parte integrante da vida acadêmica.

Pré-condições: O grande passo necessário para se prepara a UNISC para a Sociedade da Informação consiste em uma transição cultural. Todos os segmentos da instituição devem tornar-se simultaneamente produtores e usuários de informações de alta confiabilidade. Para isso é preciso melhorar a qualidade da informação armazenada e melhorar as condições de sua disponibilização, tornando-as confiáveis e de fácil acesso.

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Para tanto será preciso o uso intenso das ferramentas da informática tanto para fins de comunicação quanto para o tratamento e disseminação da informação necessária no cotidiano universitário, mas é preciso enfatizar que os objetivos do projeto são bastante amplos e não cabe à área de informática agir sozinha sobre eles, sendo fundamental que toda a área administrativa se integre ao processo de mudança cultural, com a ampliação e abertura gradual de serviços e informações da INTRANET a toda a comunidade da Universidade. Isso exige que a informatização atinja a todo o corpo de funcionários, professores e estudantes da Universidade. Neste sentido, como grande incentivo para aumentar a intercomunicação dentro da instituição, é fundamental que se proceda a ampla capacitação de toda a comunidade universitária no uso da informática e se disponibilize as ferramentas adequadas. Todos deverão estar capacitados a usar eficientemente e de forma criativa as ferramentas atuais e a se adaptarem continuamente às rápidas transições da tecnologia. É importante também a continuação da evolução tecnológica da rede e a ampliação e renovação de equipamentos e aplicativos, além do incremento dos investimentos em capacitação e serviços de apoio de diversos tipos. Espera-se que a realização deste projeto deverá ter forte influência nas chamadas atividades-fim da Universidade, conforme as especificidades de cada uma. Na pesquisa o uso rotineiro da rede tende a levar a uma maior cooperação internacional e a facilitar a divulgação da produção científica. Espera-se ainda realçar a importância da comunicação com outros pesquisadores, grupos e centros de pesquisa nacionais, bem como ressaltar a importância fundamental da comunicação interna entre os pesquisadores da UNISC. Em algumas áreas do conhecimento o uso da rede de informações pode ampliar e redimensionar o universo das pesquisas. No ensino espera-se que o aluno adquira durante a sua formação, tanto na graduação como na pósgraduação, capacitação para o uso de informática em suas aplicações profissionais. O aluno também deverá estar preparado para incorporar as novas tecnologias da área às suas atividades diárias. O ensino deverá fazer uso cada vez mais intenso das ferramentas que são disponibilizadas pela tecnologia (o que pode levar, inclusive, a profundas mudanças no conceito de ensino). A evolução da expertise da instituição em tecnologia da informação deve permitir o incremento de formas alternativas de ensino-aprendizagem (educação à distância, educação continuada, autoinstrução, etc.). Na extensão os conceitos, técnicas e métodos originados do processo de transição para a Sociedade da Informação poderão constituir experiência valiosa, com reflexos em vários ramos de atividade, a qual deverá ser transferida para a sociedade em geral, contribuindo para a alavancagem do processo de desenvolvimento regional.

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Referências Bibliográficas

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