GHANEM, Elie (Ed.). Seminário Educação, Igualdade e Capacidades Especiais: documento final. São Paulo, setembro de 2001. 2002.

May 22, 2017 | Autor: Elie Ghanem | Categoria: Educação Especial, Necessidades Especiais
Share Embed


Descrição do Produto

seminário

Educação, igualdade e
capacidades especiais



documento final





São Paulo 2002



"O seminário Educação, igualdade e "Música de um diferente* "
"capacidades especiais foi realizado"Eu não sei pra onde vou "
"no Sesc Itaquera, São Paulo, SP, em"Muitas salas diferentes "
"setembro de 2001. "Aqui na escola estou "
"© Copyrigth Fórum de Educação da "Vou plantar uma semente "
"Zona Leste "Eu agora sei quem sou "
"av. Paranaguá 472 Ermelino "Aprendi uma lição "
"Matarazzo 03806-000 São Paulo SP "Grato à professora eu sou "
"tel(11) "Por ter tido compreensão "
"e-mail: "Onde o destino me levar "
"www "Vou abrir meu coração "
"É permitida e recomenda a "Vou contar o meu progresso "
"reprodução total ou parcial desta "Como é bom ter amigos "
"obra, desde que citada a fonte. "E também ter união "
"Favor enviar cópia ao Fórum. "Eu vou achar "
"Edição de texto: Elie Ghanem (Ação "Um toque do destino "
"Educativa-Assessoria, Pesquisa e "O brilho de um olhar "
"Informação) "Sem medo de errar "
"Editoração eletrônica: "Vou desfrutar "
"Projeto gráfico: "De tudo o que aprendi "
"Tiragem: "Na escola que vivi "
" "No fundo dos meus sonhos "
" "Ser um vencedor "







seminário

Educação, igualdade e
capacidades especiais



documento final





São Paulo 2002



Apresentação



Alargando o horizonte da educação especial

Antonia Sarah Aziz Rocha*

A cultura é um privilégio. A escola é um privilégio. E não queremos que
seja assim. Todos os jovens deveriam ser iguais perante a cultura. (Antonio
Gramsci)

Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamou o direito à
instrução, que deverá ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana.

Em 1994, quando da realização da Conferência Mundial de Educação Especial,
em Salamanca, na Espanha, foi reafirmado pelas nações e organizações
presentes o compromisso para com a Educação para Todos, ressaltando
evidentemente a urgente e necessária organização da educação de crianças,
jovens e adultos com necessidades especiais dentro do sistema regular de
ensino.

Existem, no mundo, milhões de adultos com deficiências que não tiveram
acesso aos rudimentos da educação básica. Existem, no mundo, milhões de
crianças com necessidades especiais que continuam fora do sistema escolar
em nome da "falta de vagas nas classes especiais".

Embora a tendência das últimas décadas tenha sido a de promover a
integração e a inclusão, esta última têm sido tema de inúmeros debates,
muito embora esteja fundamentada em princípios éticos, dentre os quais
destacamos: o reconhecimento e o respeito dos preceitos e oportunidades
iguais perante a diversidade humana.

Assim sendo, a inclusão social exige que sejam garantidas as condições
apropriadas de atendimento às características individuais. Tratando-se do
segmento constituído por pessoas com deficiências, a inclusão social se
traduz pela garantia do acesso imediato e contínuo das mesmas ao espaço
comum da vida em sociedade na escola.

No Brasil, algumas iniciativas têm sido tomadas neste sentido. A exemplo, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), em seus
artigos 58 e 59, que tratam especificamente da educação aos portadores de
necessidades especiais. Observamos (nos itens I a V) a garantia legal de
atendimento, currículo, método, terminalidade, enfim, acesso igualitário de
todos os portadores de necessidades especiais.

Em se tratando do Estado de São Paulo, a Secretaria de Educação, elaborou a
Resolução 95, de 21/11/00, que dispõe sobre o atendimento de alunos com
necessidades educacionais especiais nas escolas da rede estadual de ensino.
Dentre as diretrizes dessa resolução, destacamos as que se referem ao
atendimento em classes comuns com apoio de serviços especializados, a
permanência, a progressão e o sucesso escolar de alunos portadores de
necessidades especiais; enfim, a aplicação das mesmas regras previstas no
regimento escolar para fins de classificação em qualquer série ou etapa,
mediante avaliação feita pela escola.

Essa resolução tem sido um guia para o planejamento de ações que norteiam
os procedimentos a serem adotados frente aos portadores de necessidades
especiais. Por um lado, tem sido considerada uma das garantias de acesso,
permanência e direito à terminalidade dos inclusos. Por outro, tem causado
grande perplexidade à maioria dos educadores, dada a enorme variedade de
situações especiais encontradas nas diferentes escolas e salas de aula, bem
como a falta de preparo dos professores de classes comuns para atender esta
clientela.

Embora o estado de São Paulo tenha procurado atender algumas das
proposições de Salamanca a da própria LDB, falta ainda o investimento no
aprimoramento, na pesquisa, na capacitação docente e, assim, completar a
promoção desta minoria que ainda continua afastada do convívio social
escolar mais amplo.

Vejamos agora algumas das iniciativas da Secretaria de Estado da Educação e
da Diretoria de Ensino Leste 2, que abrange os distritos de Itaim Paulista,
Lajeado e São Miguel Paulista.

Criação do Sape (Serviço de Apoio Pedagógico), cujo objetivo é
reorganizar a educação especial ampliando os serviços de apoio
especializado, renovando projetos pedagógicos, metodologias etc.

Salas especiais, abrangendo 15 classes de deficiência mental e uma de
deficiência auditiva, equipadas com materiais e computadores e com
professores especializados.

Levantamento da demanda, com a finalidade de otimizar o atendimento.

Capacitação com o objetivo de promover o espírito da inclusão, realizada
conjuntamente (professores de classes especiais e professores de classes
comuns).

Em vez de falar não sobre aquilo que fizemos ou deixamos de fazer,
trataremos do que é necessário ser feito. Há experiências sendo realizadas
em todo o mundo e também no Brasil. Existem estudos, pesquisas e
experiências pessoais da nossa realidade que precisam ser relatadas. Posso
afirmar que tratam de pessoas realmente muito especiais, capazes de
aprender nem tudo aquilo que a sociedade desigual requer do ser humano, mas
capazes de conviver e transformar a vida em existência...

Quanto a nós, educadores, pensemos um pouco nas palavras de Miguel Arroyo:
somos todos aprendizes de mestres, de professores, de professoras... Onde
está este aprendizado? Na escola, nos livros, nos manuais, nas lições, nos
discursos e conselhos? Aprendemos convivendo, experimentando, sentindo e
padecendo com a vivência deste ofício.

Assim, vamos construindo nossa identidade de mestres. Não sei, não posso,
não quero – são afirmações que não devem fazer parte do nosso vocabulário.
Lembremo-nos que os nossos esforços devem desafiar as impossibilidades,
pois as grandes proezas da história foram conquistas do que parecia
impossível.

A inclusão dos portadores de deficiência no ensino regular

Vera Lúcia dos Passos Darwiche*


Ser utópico não é ser irrealista ou fazer propostas absurdas, mas é ser
capaz de denunciar e anunciar: denunciar a sociedade ou as relações
injustas entre os homens e anunciar uma nova sociedade mais humana. (Paulo
Freire)



O que me levou a desenvolver o projeto A Inclusão dos Portadores de
Deficiência no Ensino Regular,[1] junto com as colegas do curso de
Pedagogia, foi ter sentido na pele o preconceito e a discriminação, por ser
portadora de deficiência física. Em 1994, prestei um concurso público
municipal em São Paulo, para professora adjunta de Ensino Fundamental I, no
qual fui aprovada com uma boa colocação. Contudo, no exame médico, fui
impedida de exercer a função. Ao ser excluída, sofri muito, não pensei só
em mim, que sou uma pessoa esclarecida, sei dos meus direitos e da minha
capacidade laborativa. Pensei também nos menos favorecidos, que não possuem
o conhecimento dos seus direitos, nas pessoas com deficiência que nem se
atrevem a prestar um concurso. Após essa reflexão, a minha dor cresceu
ainda mais. Porém, renasceu em mim uma força redobrada, para lutar pelos
meus direitos e, assim, favorecer outras pessoas. Entrei com um processo
judicial contra o município, o qual já ganhei na primeira instância.

Quando trabalhava como monitora no projeto Saesp (Serviço de Atendimento
Especial a Jovens e Adultos Portadores de deficiência) na Unicsul, ouvia
queixas dos alunos que estavam integrados no ensino regular sobre a
indiferença de alguns professores, o descaso dos colegas, enfim, o
preconceito que sentiam dos outros em relação a eles.

Estudando cidadania, compreendi o seu processo, que possui uma dimensão
subjetiva, parte do eu, dos sentimentos, desejos e necessidades que levam a
exercê-la. Com o projeto, encontrei outro caminho para lutar pelos direitos
das pessoas portadoras de deficiência e também uma forma dinâmica de fazer
estágio. O estágio de observação perde muito em seu emprego, pelo
descompromisso e falta de uma intrínseca relação daquilo que é analisado
com o observador e seu objetivo de trabalho. É, na verdade, cansativo e não
oferece bagagem de conhecimentos e experiências acrescentados a quem
desenvolve um projeto.

Uma forma diferenciada de fazer o estágio foi incentivada pelas professoras
Maria Stella Aoki Cerri (disciplinas Prática de Ensino e Didática) e Iara
Regina B. Guazzelli (Sociologia da Educação), que enfatizaram a importância
de realizar um projeto que partisse do eu, de algo que tivesse significado
em nossas vidas pessoal e profissional.

A princípio, sentimos o medo do novo, do desconhecido, que sempre nos
assusta, pois exige muito empenho e compromisso. É preciso estar envolvido
para não medir esforços e atingir os objetivos propostos. Isto nos foi
despertado pela professora Stella Cerri, que nos desafiou a buscar,
pesquisar e acreditar no nosso potencial de trabalho. Desta forma, fomos
motivadas a reconhecer e vencer obstáculos. A professora Magda Marly
Fernandes, coordenadora do projeto Saesp nos orientou na indicação da
bibliografia específica.

Desenvolvemos um projeto de pesquisa e de ação pedagógica no qual o público
alvo, em 1998, foram os alunos das turmas de 4º ano do Cefam (Centro de
Especialização e Formação e Aperfeiçoamento do Magistério), EE Engº Hugo
Takahashi; os professores da Emef Antonio Carlos de Andrada e Silva e da
Emei Afrânio Peixoto; também os alunos do curso de Pedagogia da Unicsul. Em
1999, foram os alunos das turmas de 4º ano do Cefam e de 4º ano do
Magistério da EE Condessa Filomena Matarazzo. Com esse trabalho, procuramos
levá-los a refletir sobre a sua postura e sua importância no processo de
inclusão de alunos portadores de deficiência na sala de aula comum.

Em nossa pesquisa, constatamos que, para construirmos uma sociedade mais
humana, a escola tem papel fundamental, desde que todos os segmentos da
comunidade escolar estejam envolvidos no processo, em parceria com os
profissionais da saúde e de outros setores. Seguimos a Declaração de
Salamanca, na linha de ação: Uma boa gestão escolar depende da participação
ativa e criativa dos professores e do trabalho em equipe para atender as
necessidades dos alunos.

Na avaliação de 1988, o projeto obteve bons resultados, tanto que fomos
convidadas a voltar ao Cefam para dar continuidade ao desenvolvimento do
projeto de ação pedagógica com os alunos do 4º ano de Magistério em 1999 e
2000. A avaliação dos alunos sobre o projeto, em 1999, revelou que houve um
trabalho anterior à nossa apresentação, pois, em relação a turma de 1998,
eles estavam com uma concepção mais definida sobre a pessoa portadora de
deficiência.

O projeto foi tomando dimensões que não esperávamos. A minha filha Tatiane,
aluna de Automação de Escritório e Secretariado na Fatec, fez um trabalho
em grupo em 1999, tomando nossa pesquisa como referência. Fomos convidadas
pelo grupo para relatar nossa experiência com o projeto a diversas turmas.

Observamos que há uma carência por projetos significativos e atrelados ao
projeto pedagógico da escola, de estagiários que possam contribuir com o
trabalho pedagógico do professor, desde que lhe dêem oportunidade, como nos
foi dada, pelas professoras e coordenadoras pedagógicas das escolas que nos
acolheram.

Bibliografia

ASSIS, Olney Queiroz e PUSSOLI, Lafaiete. Pessoa deficiente : direitos e
garantias. São Paulo : Edipro, 1992.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Turma do bairro. A
integração do aluno com deficiência na rede de ensino. Manuais e
Noções Preliminares sobre as pessoas com deficiência.

CORDE (Cordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência). Declaração de Salamanca e linhas de ação sobre
necessidades educativas especiais. Brasília : Corde, 1994.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão, construindo uma sociedade para todos.
Rio de Janeiro: WVA, 1997.

SPINK, Mary Jane Paris. A cidadania em construção. In : SAWAIA, B.B. São
Paulo: Cortez, 1994.

Atendimento a portadores de deficiência na rede municipal de São Paulo (NAE
10 e NAE 11)


Cláudia Pires Santana Freitas*




"Ano "Atendimento "
"20/3/1992 "CPAP (Centro Público de Apoio a Projetos), administração da "
" "prefeita Luiza Erundina (Decreto nº 31.341) "
"9/12/1993 "Sapne (Sala de Atendimento a Portadores de Necessidades "
" "Especiais), administração do prefeito Paulo Maluf (Decreto "
" "nº 33.891) "
"Ago. 2001 "O NAE 10 e o NAE 11 possuem 8 escolas com Sapnes, sendo "
" "atendidos nestas salas 173 alunos (NAE 11) e 137 (NAE 10), a"
" "maioria alunos com deficiência mental, física e auditiva e "
" "alguns casos de múltipla deficiência. "


Problemas

Número de Sapnes insuficiente, tanto para o atendimento paralelo como
exclusivo.

Falta de atendimento clínico e terapêutico para avaliação diagnóstica e
terapias (fonoterapia, fisioterapia, psicoterapia, terapia ocupacional
etc.).

Falta de transporte para levar os alunos à escola, às avaliações e
terapias.

Formação dos professores das salas regulares.

Trabalho conjunto como outras secretarias e governos.

Adaptação de prédios e equipamentos nas escolas para atender as
diferentes deficiências (física, auditiva, mental e visual).

Falta de atendimento para portadores de deficiência mais profundas.

Soluções

Criar salas de atendimento exclusivo e paralelo

Criar um centro de atendimento em cada NAE para atender alunos com
deficiência grave, fazer atendimento terapêutico e avaliação diagnóstica
de todos os alunos das escolas e das Sapnes.

Trabalho conjunto com as secretarias de transporte, saúde, educação,
assistência social, esporte e cultura.

Parcerias ou convênios com entidades públicas, particulares e
filantrópicas.

Dar continuidade às adaptações dos prédios, comprar equipamentos.

Iniciar a formação dos professores do ensino regular com relação à
educação inclusiva.

Os direitos e o atendimento a portadores de necessidades especiais

Rosângela Gavioli Pietro*

O tema proposto para esta mesa de trabalho encerra grau de abrangência
superior ao que este espaço de discussão comporta, pois tratar de direitos
e de atendimento pressupõe envolver vários componentes.

A igualdade, a dignidade, a liberdade e o pleno desenvolvimento da pessoa,
dentre outros, são direitos garantidos a todos na Constituição Federal de
1988 (CF/88). Para atingir tais objetivos, estão previstos neste documento
oficial o direito à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à
previdência social, à proteção à maternidade e à infância, à assistência
aos desamparados, além, é claro, do direito à educação (art. 6º CF/88).
Portanto, para este debate, será destacado o direito à educação e ao
atendimento escolar aos portadores de deficiência.

Se atentarmos primeiramente para o termo direito, poderemos constatar que
sua compreensão pode assumir diferentes significados3. No entanto, cabe
ressaltar que não se pode dissociar direito de possibilidade de escolha. Só
há, portanto, efetiva garantia de um direito quando houver chance deste não
funcionar como mero dever ou cumprimento de formalidades. Um bom exemplo é
o direito à educação, que deixa de ser um direito quando a baixa qualidade
da escola pública e as péssimas condições financeiras de grande parcela da
população acabam por obrigar seus filhos a conviver com tal atendimento
escolar, porque é o único que "podem" ter.

Quando a população de referência são os portadores de deficiência ou os
que, de maneira mais abrangente, apresentam necessidades educacionais
especiais, há que se destacar que a Constituição federal garante também
"atendimento educacional especializado preferencialmente na rede regular de
ensino" (art 208, III). O receio de muitos que encontram-se direta ou
indiretamente envolvidos com esses alunos é que, em nome da garantia de que
a educação seja direito de todos e que a escola, entendida como escola
regular, seja o espaço privilegiado, os governantes não invistam e
desprezem as necessidades educacionais especiais desta população, deixando
de garantir o que há de especializado no atendimento educacional.

É preciso destacar, ainda, que o único nível de ensino que está garantido
como gratuito e obrigatório na CF/88 é o ensino fundamental, um compromisso
atribuído prioritariamente aos municípios.

Principalmente após 1995, a municipalização do ensino fundamental passou a
ser o eixo central da política educacional brasileira. Nessa direção, a
Secretaria de Educação Especial (Seesp) do Ministério da Educação e do
Desporto (MEC) vem defendendo que o atendimento aos alunos com necessidades
especiais deve ser assumido pelas prefeituras, que deverão investir para
que as escolas contemplem em seus projetos o conjunto das características
de seus educandos, inclusive organizando recursos educacionais especiais
que dêem conta da aprendizagem e do desenvolvimento de toda a demanda
escolar que depende dessa educação especial.

Não basta garantir escola para todos, porque isso não seria suficiente para
que a educação – aqui compreendida como processo de desenvolvimento da
capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral,
visando sua melhor integração individual e social4 - seja assegurada.

A proposta desse trabalho é organizar e analisar alguns indicadores,
construídos a partir de acompanhamento de políticas educacionais e de
investigações de sistemas municipais de ensino que propõem educação para
todos com qualidade suficiente para que as escolas dêem conta de atender as
necessidades educacionais especiais de sua demanda.

O processo de construção de indicadores que possam viabilizar a análise da
consecução de políticas de educação para todos permitiu a organização de
elementos que foram categorizados em: diretrizes legais; concepções de
inclusão escolar e social que norteiam as propostas e programas; tipo de
organização, funcionamento e gestão do sistema de ensino; estrutura e
condições de financiamento do ensino; condições de trabalho do professor e
demais profissionais da educação. No sentido de propor encaminhamentos em
prol da garantia de sistemas educacionais e sociedades que compreendam a
todos, foram sugeridos: a construção de indicadores quantitativos e
qualitativos que favoreçam a elaboração do planejamento a partir de
intervenção, bem como seu acompanhamento e avaliação.

O propósito das considerações expostas não é de esgotar o tema nem de
apresentar, neste momento, um levantamento que cubra exaustivamente todos
os elementos implicados na elaboração de políticas públicas de atendimento
a alunos com necessidades educacionais especiais. Espera-se no entanto, que
as reflexões e direcionamentos elaborados, analisados e propostos possam
subsidiar a elaboração, execução e avaliação de projetos educacionais que
se proponham a assegurar educação para todos, assumindo que tal propósito
passa, necessariamente, pela melhoria de sua qualidade.

Bibliografia


BRASIL. Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília : Senado Federal ; Centro Gráfico, 1998.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional
– Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da
União, 23 de dezembro de 1996.

BRASIL. Ministério da Justiça. Declaração de Salamanca e linha de ação
sobre necessidades educativas especiais, de 1994. Brasília : Corde,
1997.

BRASIL. Congresso Nacional. Plano Nacional de Educação. Lei nº 10.172, de
9 de janeiro de 2001. Diário Oficial da União, 10 de janeiro de 2001.

PRIETO, Rosângela Gavioli. Educação para todos : reflexões sobre o
atendimento escolar dos portadores de deficiências. In: Educação em
Foco. Juiz de Fora: Editora UFJF, 1999/2000. p.57-70

--------. Política educacional do município de São Paulo: estudo sobre
atendimento de alunos com necessidades educativas especiais, no
período de 1986 a 1996. Tese (Doutorado). São Paulo: Feusp, 2000.

SOUSA, Sandra Maria Zákia Lian, PRIETRO, Rosangêla Gavioli. Atendimento
educacional aos portadores de deficiência mental na rede municipal de
São Paulo : caracterização e análise das Sapnes. Revista de Educação
Especial. (no prelo). Trabalho apresentado na 22ª Reunião anual da
Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped).
Caxambu/MG, set. 1999.



O sucesso do educador frente aos novos desafios de mercado depende de um
salto qualitativo de sua atuação na sociedade

Magda Marly Fernandes*


Introdução

Todo profissional, de uma forma ou de outra, vem procurando maneiras de se
satisfazer com aquilo que pode oferecer ao mundo. Espera, com isso,
reconhecimento pelo seu trabalho. Procura sustentar-se dentro da selvageria
competitiva, muitas vezes, usando estratégias não muito recomendáveis,
desrespeitando seu semelhante e o meio ambiente. Não percebe que faz parte
de um processo mantido por um sistema político-pedagógico e, mais do que
isso, por um pensar. Todos nós somos vítimas e executores da própria
realidade e, sem perceber, colaboradores em potencial de muitas injustiças
derivadas de valores superficiais criados pela visão mecanicista do homem.
Daí, esperam-se soluções paliativas ou imediatas, jogando a competência
humana no campo do jogo de interesses. Hoje, o mundo globalizado pode
tornar a comunicação mais rápida, mas também pode aumentar as desvantagens
entre as pessoas. É preciso que todo profissional carregue junto ao
conhecimento um caráter permeado de atitudes éticas e consciência ecológica
no seu sentido mais amplo. Segundo Souza (1998), em seu livro O novo
paradigma, ao discutir os efeitos da network, a rede responsável pelas
atuais mudanças, diz:

(...) a conclusão que se chega é a de que o imenso globo azul, animado por
interações biológicas tão complexas, só conseguiu atravessar bilhões de
anos de sua evolução devido ao fato de os seus múltiplos sistemas estarem
organicamente integrados. Assim, como as células de qualquer tecido vivo
agem em rede, a totalidade do planeta estaria interligada desta forma.
Restaria à humanidade a função de aprender a interagir, como células
benignas, com o imenso tecido de Gaia. (Souza, 1998, p.78).

A corrida pelo poder provoca atitudes que desclassificam a nossa espécie
como seres sensíveis, amorosos e inteligentes. Capra afirma que o sentido
destruidor da vida é fazer com que o homem suba os degraus do controle
sobre tudo. É esse o alicerce da injustiça social que deprecia mulheres,
judeus, negros, índios, poetas, historiadores, jornalistas, estudantes,
deficientes, pobres, velhos, crianças, árvores, animais e mentes humanas
poluídas por realidades virtuais, fazendo da desonestidade uma qualidade.
Este câncer corrosivo derruba a bandeira de luta por um mundo melhor e o
que é pior, desvia a criatividade do homem para o canal da violência. A
consciência planetária de que todos os seres são interdependentes, apontada
no texto do Chefe Seatle em 1954 e distribuído pela ONU, em favor do meio
ambiente (Santo, 1996, p.113), é o apelo de um índio para que os homens
respeitem a terra, os animais, a cultura, mostrando que o ecossistema somos
todos nós. O profissional da educação, mais do que qualquer outro, precisa
assumir vez por todas o papel que lhe cabe. Mas ele também foi vítima de um
pensar, uma matriz que se instalou para sustentar o poder daqueles que
controlam a economia. Ensinar que o respeito, a solidariedade e a
cooperação são valores universais básicos para educadores não é tarefa tão
fácil como parece. Ele precisa passar por uma educação de excelência, pois
trata-se de mudança de mentalidade e não de molde formatado. Só assim ele
estará melhorando o seu espaço de trabalho (escolas, organizações e centros
educativos). Este é o poder que se levanta contra um mundo virtual, um
mundo onde o fruto do trabalho apenas delega poder ao Estado e à estrutura
econômica que o mantém. Uma cidadania mascarada pelo paternalismo, jogando
o potencial humano pela janela. A educação formal precisa tomar outro rumo.
Alinhar-se com os princípios éticos da convivência humana, fazendo-se
presente nas decisões políticas em seu micro e macro espaço. Portanto, não
é só competência e criatividade que precisa o educador. Precisa também de
firmeza ao conceber sua escolha. Bater de frente contra um poder que se
impôs não parece ser uma estratégia muito inteligente. Precisa aprender a
desviar seu trajeto, abrindo trilhas para outros caminhos que não o da
violência e levar ao seu lado outras mentes humanas, que também procuram o
que é melhor para si e para o bem de todos. Seria uma prova de saber
exercitar com eficiência a sua cidadania. Benevides (1998), define a
cidadania como um conjunto de deveres e direitos individuais, sociais,
econômicos, políticos e culturais, essencialmente participativo e que
deveriam quotidianamente estar presentes nas escolas como forma de melhorar
o relacionamento social consigo mesmo e com o outro. Esse outro não está só
no ambiente restrito. Esse outro deve ser visto em escala planetária, a
começar apontando para si mesmo. Por isso, a educação de adultos, de
crianças, de adolescentes, de pais, de funcionários, de índios, de
deficientes, de empresários e de professores deve ser um processo contínuo.
A exclusão é uma atitude social que vem se repetindo há centenas de anos.
Antes havia ignorância, agora, existe a inconsciência. Basta olhar para o
estilo da ética política. Todas estas posições só podem ser erradicadas
quando também erradicadas do fazer educativo. O que significa isso?
Significa que o educador precisa de preparo melhor para ser eficiente em
seu trabalho.

O educador profissional

Somente projetar sonhos é absurdamente insuficiente. É preciso também uma
metodologia que permita uma boa elaboração de planos, com objetivos
adequados, valorizando os processos de relacionamento interpessoais para
aproveitar das realidades o que elas trazem de melhor. Este grau de
liderança requer um educador competente, com preparação pessoal,
intelectual, emocional, relacional, que se modelem ao contexto histórico em
mudanças descontínuas. Porque esta ênfase no educador? Porque a sociedade
precisa de outro produto humano, precisa de outra matriz ou matrix que
possa alterar uma programação, que, para muitos, já está incorporada. A
sociedade globalizada corre o risco de massificar padrões de comportamento,
desconsiderando o indivíduo enquanto ser produtor de seu próprio destino. A
sociedade do século XXI é uma sociedade emergente de pessoas que saibam
escolher, discernir, pensar e avaliar o que é bom para elas sem tirar dos
outros, que consigam reorganizar-se sem precisar da violência: que usem
criatividade e equilíbrio nas situações insólitas. Estas pessoas já existem
em potencial, mas precisam ter mentes reeducadas para agir positivamente em
seu meio.


A preparação do educador profissional

Criou-se, durante muitos anos, o hábito de receber tudo pronto, de ver as
coisas pelo lado negativo e dominador com atitudes impostas, autoritárias
e, o que é pior, com ações preconceituosas e destrutivas. Atualmente,
transformar implica muito mais do que só mudar de estratégias, mas mudar
principalmente de atitudes. As ações do educador, éticas ou não, irão
refletir de qualquer forma em seu educando. Esta consciência de que há uma
repercussão de suas ações fora de seu controle é o que faz o educador
responsável buscar competência. Sua autonomia o levará à ascensão.
Conhecimento, auto-conhecimento e atitudes éticas configuram esse processo
dando a ele um perfil de liderança natural. As pessoas não querem ser
usadas, mas querem "servir" para alguma coisa. Portanto, os olhos do
educador devem voltar-se para as qualidades positivas de seu aluno. A
tarefa de desvendar talentos exige muita sensibilidade desvestida de
preconceitos. Requer também muita técnica. Ao levar um sonho para a
realidade, o sujeito precisa aproveitar o que aprendeu naquilo que deve
ainda aprender. Colher contribuição das pessoas com quem irá trabalhar sem
desviar-se de propósitos altruístas de seu caráter.

Condições para a formação do educador

Toda pessoa tem seu dom pessoal, que, se não for praticado, pode tornar sua
vida um fardo sem significados. O educador, reconhecendo seus talentos,
deve expressá-los o máximo que puder. Assim, cada um deve identificar suas
potencialidades e garantir o prazer em ensinar coisas que tem mais
facilidade de realizar. O lugar para exercitar esses dons pessoais deve ser
proporcionado primeiro na universidade. As atividades alternativas e
complementares como dinâmicas para trabalhar com grupos; artes em suas
diferentes manifestações (música, teatro, danças); pesquisa e vivências em
valores e crenças de outras tradições; análise crítica da mídia e os
aspectos da globalização; leituras diferenciadas, conhecimentos básicos
universais, estudo de biografias marcantes na história da humanidade;
técnicas para edificação de projetos educacionais; exercícios com práticas
corporais e meditativas, são algumas sugestões que podem mudar a
configuração do perfil profissional do educador. O mundo de hoje possui
prerrogativas de empenho pessoal que ajudam a fazer escolhas decisivas.
Assim, o comportamento altruísta de melhorar a vida das pessoas
concretizando este trajeto desde a formação docente revela que a
universidade também deve ter um compromisso além das influências
mercadológicas. Afinal, tudo que existe no planeta será o legado que
deixaremos para as gerações futuras. Tudo o que você fizer na terra,
voltará para os filhos da terra.

Bibliografia

BENEVIDES, M.V. M. O desafio da educação para a cidadania. In : AQUINO,
J. G.(org). Diferenças e preconceitos na escola : alternativas
teóricas e práticas. São Paulo : Summus,1998.

CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo : Cultrix, 1997.

COOKE, M. O líder natural: criando possibilidades em benefício do todo.
São Paulo : Peirópolis, 2000.

D'AMBRÓSIO, U. A era da consciência. São Paulo : Peirópolis,1997.

DISKIN, L. Ética ou arte da convivência. In : MIGLIORI (org) Ética,
valores humanos e transformação. São Paulo : Peirópolis, 1998. (Temas
Transversais, 1).

GOLEMAN, D. Inteligência emocional : a teoria revolucionária que redefine
o que é ser inteligente. Rio de Janeiro : Objetiva, 1998.

GROF, S. Além do cérebro : morte, renascimento e transcendência em
psicoterapia. Tradução de Wanda de Liveira Roseli. São Paulo :
MacGraw-Hill, 1997.

O'DONNELL, K., BACON, B. No olho do furacão : sobrevivência para
organizações e indivíduos em tempos de caos. Salvador : Casa da
Qualidade, 1999.

SANTO, R. C. E. O novo paradigma. São Paulo : Cultrix, 1998.

A Rede de Solidariedade aos Portadores de Necessidades Especiais

Ricardo Estevam*

Venho acompanhando, há algum tempo, dois importantes segmentos da
sociedade: os idosos e os portadores de direitos especiais. Os dois
segmentos têm em comum a discriminação social a que são submetidos. Em
1998, iniciei um trabalho com idosos que se organizavam em grupos,
entidades sociais e fóruns de debates e observei que aquele segmento social
deixava as sombras e ganhava visibilidade, seu trabalho e existência eram
reconhecidos e passavam a sair de casa, exigir seus direitos e praticar sua
cidadania.

Em 1999, assumi a supervisão, junto a uma das regionais da Secretaria de
Assistência Social de São Paulo, dos programas do idoso e dos portadores e,
é claro, passei a comparar a evolução dos dois.

Incomodava-me que, enquanto os projetos dos idosos iam de vento em popa, os
voltados aos portadores minguavam, não saíam do papel. Buscando resposta,
cheguei à conclusão de que os portadores precisavam de um fórum onde
pudessem falar e ouvir e também um guia de direitos e deveres. A partir
dessa conclusão, passei a lutar pela criação de um fórum de debates onde os
portadores e seus familiares pudessem "crescer". A primeira tentativa foi
frustada, impedida pelo poder público municipal.

No começo deste ano, fui convidado a assumir a mesma supervisão, só que na
região da Penha-Ermelino Matarazzo. Voltei a lutar pela criação de um
fórum. Iniciei contatando as entidades da região e, para meu espanto,
haviam poucas e, mesmo assim, em situação crítica, às portas da "falência".

Iniciamos reerguendo as entidades, buscando parceria, claro, sempre muito
difícil de se obter. As pessoas e empresas não gostam de ver seus nomes
ligados a pessoas que não têm o modelo vigente na mídia nacional.

Em uma dessas reuniões da busca de parcerias, expus minha idéia de criar um
fórum e, mais uma vez, me surpreendi. A idéia foi amplamente aceita, ali
mesmo marcamos a primeira reunião, criamos a comissão de organização e, no
dia 11 de maio de 2001, ocorreu a primeira reunião no anfiteatro do
Hospital de Ermelino Matarazzo, que estava totalmente lotado, contando com
a presença de representantes de diversas secretarias municipais e
estaduais.

Hoje, a idéia já está consolidada, as reuniões se repetem mensalmente,
sempre com a participação média de 300 pessoas. A comissão organizadora
conta com a participação de membros do poder público e da sociedade civil.

A rede debate questões ligadas ao dia-a-dia, tanto dos familiares quanto
dos portadores, e dá encaminhamentos às questões, busca a participação da
sociedade civil, ONGs e população em geral. Hoje, tem o reconhecimento da
população e das autoridades e tem agendado encontros até o final deste ano.

Na comissão, já está em fase final de elaboração um guia voltado aos
portadores onde constam resumos de leis municipais, endereços de entidades
públicas e privadas que trabalhem com os portadores.

A política de atenção ao desenvolvimento educacional

Maria Luísa Cenamo Cavalheiro*

A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo têm por diretrizes: a
democratização do acesso e da permanência; a democratização da gestão; a
qualidade social da educação. Essas diretrizes apontam o compromisso desta
gestão com uma concepção de educação para todos, propalada por um conjunto
de declarações internacionais (como a Declaração de Salamanca) e pela nossa
Constituição, pela a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente, garantindo o direito de todos à educação.

A perspectiva da educação para todos, do direito de todos à educação com
qualidade social, é a de uma educação articulada com a realidade dos
alunos, pautada pelo respeito à diversidade de todas as ordens, que
constrói sujeitos construindo conhecimentos, que é diferente da qualidade
proposta pelo neoliberalismo. Propomos uma política de inclusão como
sinônimo de atenção ao desenvolvimento educacional.

Esta compreensão implica que todas as crianças, jovens e adultos, em
qualquer modalidade de ensino, são alvo da atenção ao desenvolvimento
educacional, contemplando as responsabilidades de garantir a equidade de
condições a todos, para que compartilhem do processo de ensino-aprendizagem
na perspectiva da pedagogia de convívio, da tolerância, da solidariedade.

Atenção, porque significa estar atento a toda e qualquer situação que
implique risco ao desenvolvimento educacional. Identificada tal situação,
estudar, pesquisar, produzir reflexão, experienciar, trocar, publicar,
juntar potencialidades e competências da própria educação de outras
ciências, de diferentes secretarias, de entidades e instituições parceiras,
na escola com o professor e com o aluno, para gestar as soluções. Ter o
cuidado, a delicadeza, a profundidade, o compromisso de estar atento às
"capacidades especiais", que positivamente este seminário nos colocou,
promovendo o desenvolvimento educacional.

Desenvolvimento, porque compreendemos que todos os seres humanos têm a
potencialidade de, mesmo diante das adversidades de toda ordem, superar-se
e disso são testemunhas as produções científicas como as de H. Wallon,
Vigotsky, Maria Teresa Mantoan, Carlos Skliar. Superação que se produz e se
constrói pela ação mediadora do outro, inscrita social, histórica e
culturalmente na promoção do convívio solidário.

Educacional, porque é nossa responsabilidade de Secretaria Municipal de
Educação. É garantir a educação de todos, considerando as suas "capacidades
especiais", sua condição social, de gênero, étnica, sua orientação sexual,
sua condição de "liberdade assistida". Cabe pensar as mediações que a
comunidade escolar deve gestar, produzir, experienciar, para promover a
educação, o ensino e a aprendizagem de todos, na territorialidade "escola".

A política de atenção ao desenvolvimento educacional implica uma
articulação com as diretrizes estabelecidas. Quanto à democratização do
acesso e permanência: garantir a matrícula; garantir as normas de
acessibilidade e equiparação nos equipamentos públicos da educação; criar
estruturas de atenção ao desenvolvimento educacional - que integrem a
formação permanente e o apoio à família - descentralizadas, articuladas com
as demais secretarias, especialmente a de saúde.

Quanto à democratização da gestão: garantir a participação de todos nas
diferentes instâncias da gestão da escola; garantir que a política de
atenção ao desenvolvimento educacional se construa junto aos diferentes
grupos sociais nela envolvidos.

Quanto à qualidade social da educação: reorientação curricular; formação
permanente para educação inclusiva; material pedagógico que contemple a
diversidade; reorientação das Sapnes e escolas municipais de ensino
fundamental; pedagogia da convivência; revisão dos convênios; parcerias
internas e externas.

Implantar uma política assim dimensionada é promover o direito de todas as
crianças, jovens e adultos da cidade de São Paulo à educação em todas as
escolas, com qualidade social. É promover a cidadania sua ativa, de suas
famílias e de nossa sociedade, humanizando-a, construindo um convívio
solidário, onde a diferença é promotora de sujeitos ativos de sua história,
éticos, livres, solidários, cooperativos. É também a construção de seres
doces, ternos, sinceros, alegres por ter no outro um companheiro a quem se
ensina e de quem se aprende, a quem se ama, vive e convive, na troca
cotidiana das inúmeras "capacidades especiais" que nos permitimos
desabrochar presenteando o outro.

O serviço Atende *

O Serviço de Atendimento Especial Atende é um serviço porta-a-porta,
gratuito, oferecido pela Prefeitura do município de São Paulo às pessoas
portadoras de deficiência física com alto grau de severidade e dependência,
impossibilitadas de utilizar os meios de transporte comuns. O serviço é
gerenciado pela São Paulo Transportes S.A. e operado pelas empresas de
ônibus.

Os clientes são devidamente cadastrados numa das dezessete regionais da
Secretaria Municipal de Assistência Social, marcando suas viagens com
quinze dias de antecedência ao mês de seu transporte, por meio de uma ficha
de programação de viagens, as quais envolvam reabilitação, tratamento de
saúde e educação. Têm direito, ainda, a uma viagem no mês para fins de
cultura e lazer.

A São Paulo Transportes S.A. mantém um canal direto de comunicação com os
clientes que se utilizam do Atende e demais munícipes interessados em obter
informações sobre este tipo de transporte. Essa comunicação se faz pelo
telefone 0800-15-5234.

Propostas do Seminário

Educação


1. Diminuir o número de alunos PCE (Portador de Capacidade Especial) por
sala de aula, ou que cada sala tenha dois professores.

2. Criar jornada de dedicação exclusiva de professores.

3. Criar equipe de apoio escolar para avaliação diagnóstica e assessoria
a professores e familiares.

4. Criar equipe volante de profissionais (multiprofissionais) para
assessoria à família em educação.

5. Descentralizar as reformas e adaptações necessárias às escolas.

6. Adaptar as escolas para que possam acolher os PCE.

7. Fornecer equipamentos e materiais adequados que auxiliem o trabalho do
professor com a criança PCE.

8. Combater também o preconceito e a discriminação quanto a alunos(as) ou
professores(as) gordos(as).

9. Agilizar a implantação do Mova (programa de alfabetização de jovens e
adultos) porque ser analfabeto também é ser deficiente.

10. Orientar estágios no curso de magistério para que propiciem dos(as)
estagiários(as) com PCE.

11. Criar núcleo profissionalizante como o da Estação da Lapa na Zona
Leste.

12. Fazer a inclusão de alunos tanto quanto apoiar profissionais que
possuem algum tipo de deficiência.

Saúde


13. Criar centro regional de atendimento aos PCE na Cidade Tiradentes e
região de Guaianazes, com especialistas em diversas áreas
(fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia etc.).

14. Garantir profissionais nas unidades de saúde (de fonoaudiologia,
psicologia, psiquiatria, fisioterapia, serviço social e neurologia)

15. Tornar mais ágeis os atendimentos e encaminhamentos dos serviços
públicos.

Ações conjuntas em educação e saúde


16. Realizar censo por escola, em parceria com NAE[2] e órgãos da área da
saúde.

17. Aproveitar os dados estatísticos obtidos pelos agentes de saúde no
planejamento de ações educativas.

18. Fazer com que profissionais da saúde e educação planejem conjuntamente
ações junto a PCE.

19. Pedir supervisão técnica a profissionais da Secretaria da Saúde que
lidam com o atendimento a PCE, com a finalidade de auxiliar no
processo de inclusão dentro da escolas.

20. Criar em cada NAE centros de acompanhamento de alunos com necessidades
de: oftalmologia, audiometria, fonoaudiologia e psicológico.

21. Fazer encaminhamentos de saúde dos alunos PCE em locais próximos ou
centralizados como o NAE.

22. Oferecer visitas de profissionais de psicologia e fonoaudiologia a
professores(as) e alunos(as) nas escolas, pelo menos quinzenalmente.

23. Criar grupo de profissionais de psicologia que auxiliem profissionais
de Emeis (Escola Municipal de Educação Infantil) a lidar com PCE.

24. Criar em cada NAE uma unidade de saúde que atenda alunos de escolas
municipais, para tornar mais ágeis as consultas com especialistas de
diversas áreas e informar as escolas.

Cursos


25. Capacitar professores(as) que recebem PCE, principalmente nas escolas
onde não há SAP e Sapne.

26. Organizar regionalmente, por cada NAE, curso de capacitação para
professores em língua de sinais.

27. Fazer a capacitação de todos os funcionários das escolas com dispensa
de ponto, abrangendo aspectos práticos e teóricos dos três tipos de
deficiência (mental, auditiva e visual).

28. Formar professores(as) em orientação sexual junto a alunos(as) PCE e
seus pais.

29. Realizar curso de especialização em educação para professores,
oferecido pelo governo estadual e pela prefeitura, sendo ministrado
por PCE.

30. Oferecer formação permanente de professores(as) da creche ao nível
superior.

31. Estruturar o curso para professores de SAP e Sapne, de tal forma que o
trabalho em sala de aula seja de fato levado em conta.

32. Possibilitar que profissionais de escolas estaduais sejam
convidados(as) a participar de cursos de capacitação organizados pela
prefeitura.

33. Reformular cursos de formação inicial de profissionais, principalmente
de educação, que lidarão com a inserção dos alunos(as) PCE.

34. Incluir as novas tecnologias na área educacional de maneira
organizada, capacitando primeiro professores(as).

35. Possibilitar acesso à capacitação para todo(a) profissional que
trabalha em escola, não só docentes, apesar de não ser obrigatório
possuir especialização para lecionar com PCE.

36. Viabilizar cursos profissionalizantes para PCE adultos.

Transporte


37. Expandir o serviço Atende a toda pessoa PCE.

38. Aumentar o número de atendentes no telefone Atende.

39. Fazer convênio com frota de taxi para auxiliar os PCE.

Campanhas e divulgação


40. Realizar campanhas publicitárias de conscientização da população sobre
inclusão dos PCE na sociedade.

41. Divulgar direitos, benefícios e serviços que os PCE possuem.

42. Realizar um censo, envolvendo professores(as), alunos(as) e comunidade
a fim de que pessoas ditas normais se conscientizem e se envolvam em
projetos sociais.

Outras medidas


43. Alterar a legislação que vincula a aposentadoria do deficiente à renda
da família, ou pelo menos aumentar essa renda.

44. Aumentar o número de atividades para deficientes nos bairros.

45. Desenvolver plano de apoio à família da pessoa portadora de
necessidades especiais.

46. Fiscalizar o cumprimento da legislação que trata do acesso aos
prédios.

47. Criar espaços que acolham PCE enquanto seus familiares trabalham.

48. Oficializar a língua de sinais, estendendo seu uso a todos(as)
funcionários(as) que lidam com o público: professores(as), policiais,
médicos(as) etc.

49. Destinar 1% do IPTU ou Imposto de Renda para escolas, associações ou
entidades de atendimento a PCE.

50. Criar auxílio financeiro a famílias carentes que tenham PCE.

51. Criar centros recreativos para comunidades distantes.

Fórum de Educação da Zona Leste


52. Organizar os próximos seminários sobre deficiências, mental, física ou
auditiva, com os próprios PCE.

53. Encaminhar um trabalho unificado entre o Fórum de Educação da Zona
Leste e diferentes entidades que lutam por uma sociedade que respeita
e convive com o que é diverso.

54. Realizar novos seminários sobre esse tema, envolvendo profissionais de
toda rede de ensino.

55. Divulgar através do boletim informativo do Fórum de Educação da Zona
Leste, das entidades e órgãos que podem subsidiar o trabalho dos
educadores

56. Levar os resultados deste seminário para o âmbito escolar.

57. Convidar pessoas que foram vítimas da tortura no regime militar - como
Flávia Schilling - para participar dos próximos encontros.

Sou eu o deficiente?

Frei Betto*

Porque sou tetraplégico, preso a uma cadeira de rodas, chamavam-me de
"aleijado". Por sofrer de cegueira, fui considerado "deficiente físico".

Psicótico, trataram-me como um bicho de sete cabeças. Agora, por ter
perdido um braço num acidente, cuja pancada me deixou leso, sou qualificado
de "portador de deficiências física e mental".

Mudam os termos, mas não a cultura que ponha fim aos preconceitos que me
cercam. Antes, diziam que sou mongolóide; agora, sofro de síndrome de Down.

Era leproso; agora, tenho hanseníase.

Nesta sociedade contaminada pela síndrome de Damme, e que cultua a
idolatria dos corpos - ainda que a cabeça se assemelhe à do camarão -, sou
confinado, léxica e socialmente, às limitações que carrego.

Se saio à rua, pouco encontro rampas, em calçadas e prédios, para passar
com a minha cadeira de rodas. Com freqüência, há um carro estacionado na
vaga a mim reservada. Temo um novo atropelamento ao cruzar a rua, pois o
tempo do semáforo e a fúria dos motoristas não respeitam a lentidão deste
corpo que se apóia na bengala.

Muitas vezes, na rua, dependo da solidariedade anônima para subir no ônibus
ou poder sentar-me no metrô. À noite, sonho com fantasmas gritando em meus
ouvidos: "Fique em casa! Sua debilidade é o seu cárcere! Não se atreva a
imiscuir-se neste mundo de corpos esbeltos e saudáveis, sarados e curados,
lindos e louros. Não se manca que esta nação cultua heróis que ousaram
desafiar os limites do corpo? O Brasil não tem nenhum santo canonizado,
embora o Peru tenha um casal, Rosa de Lima e Martinho de Porres. Nunca o
Prêmio Nobel chegou a estas terras. Só em poesia, o Chile ostenta dois,
Gabriela Mistral e Pablo Neruda. Em compensação, chutamos a bola como
ninguém (embora não estejamos em nossos melhores dias), corremos na Fórmula
1 a uma velocidade que nenhum outro mamífero alcança, erguemos os braços
vitoriosos em quadras de tênis e vôlei. Você nem herói nacional pode ser!
Se ao menos pudesse requebrar sobre o gargalo de uma garrafa, haveria de
merecer o seu minuto de fama. Fique em casa!"

Não fico. Nem aceito que minhas limitações permaneçam estigmatizadas por
expressões equívocas. Não sou um portador de deficiência. Sou um portador
de inteligência, aptidões e talentos. De dignidade e cidadania. Por que não
qualificam de deficientes visuais aqueles que usam óculos?

Sou um Pode - portador de direitos especiais. Todos temos direitos
universais. Tenho direito também aos especiais: equipamentos sociais,
prioridade no atendimento público, estacionar em local proibido, etc. Quero
ser definido não pela carência que atinge a minha saúde, mas pelo direito
que a sociedade está obrigada a me assegurar.

Neste mês de agosto, é a mim que o Ano Internacional do Voluntariado dedica
sua atenção. O Comitê Brasileiro de Voluntariado e o Centro de Voluntariado
de São Paulo esperam que a campanha deste mês sirva para mobilizar todos
aqueles que podem ajudar-me a ser reconhecido como cidadão.

Como qualquer pessoa, preciso trabalhar. Sei que não tenho aptidão para
certas tarefas, em razão do meu descontrole motor. Mas de quantas coisas
sou capaz, graças à minha inteligência e cultura, habilidade e talento! Sei
pintar com a boca ou com os dedos dos pés; posso ensinar idiomas ou
computação sem me erguer da cadeira, sou bom no controle de qualidade dos
produtos.

O que seria de nós se Beethoven fosse discriminado como surdo e Stephen
Hawking, como aleijado? E se Van Gogh permanecesse internado após cortar a
própria orelha? E se Lars Grael ficasse em casa lamentando a perda de uma
perna?

Deficiente é quem traz na vida um déficit com quem depende de
solidariedade: o pai que ignora o filho doente, a mãe que se envergonha da
filha excepcional; o empresário que exige "boa aparência" de seus
funcionários; o poder público que não constrói equipamentos, nem põe na
cadeia quem discrimina um portador de direitos especiais.

Vontade de fazer as coisas eu tenho. Capacidade também. Sei que posso, sou
um Pode. Só faltam oportunidades e quem reconheça que, aquém dos direitos
especiais tenho também direitos universais.

Quem somos nós

O Fórum de Educação da Zona Leste, constituído em 1993, reúne professores,
estudantes, diretores, coordenadores pedagógicos, líderes comunitários e
integrantes de conselhos de escolas para a discussão de temas de política
educacional.

O Fórum tem por finalidade lutar por nova qualidade de ensino, por ensino
público para todos (com extinção do analfabetismo), democratização da
gestão da escola, melhoria salarial dos profissionais da educação e maiores
recursos orçamentários para o ensino fundamental e médio.



" " " "
"Campanha "Comissão Executiva " "
"Nacional "Antonio Marchioni/Cilene Silva Fernandes " "
"pelo Direito"João Kleber de Santana Souza/Manoel Candido" "
"à Educação "dos Santos " "
" "Marlene de Paula Grativol/Milton Alves " "
" "Santos " "





-----------------------

* Melodia de Um sonhador (Leandro e Leonardo), apresentada no seminário por
crianças portadoras de capacidades especiais. A letra foi adaptada pela
profa. Maria de Fátima Santos (Emef Saturnino Pereira), com a colaboração
da profa. Maria Bárbara Gonçalves (Emef Wladimir Herzog) e profa. Maria do
Carmo Nogueira (Emef Maurício Goulart).
* Representante da Diretoria de Ensino da Região Leste 2.
* Pedagoga, responsável pela área de portadores de necessidades especiais
na Secretaria Municipal de Educação/ Núcleo de Ação Educativa – NAE 10
[1] Iniciado em 1998, com as discentes de segundo ano de Pedagogia da
Unicsul: Alessandra Della Peruta Gomes, Cícera G. Figueiredo, Elen
Francisca V. de Sena, Leide Jane R. Cavalcante, Márcia Maria de Faria,
Maria Dulce F. Nascimento, Maria Niuza F. da Silva, Terezinha Pinheiro da
Silva e Vera Lúcia P. Darwiche.
* Pedagoga, responsável pela área de portadores de necessidades especiais
na Secretaria Municipal de Educação/NAE 11 (Núcleo de Ação Educativa 11).
* Professora do Departamento de Administração Escolar e Economia da
Educação da Faculdade de Educação da USP.
3 Dentre outros significados, direito é um adjetivo compreendido como
aquilo que é justo, reto e conforme à lei, prerrogativa que alguém possui,
de exigir de outrem a prática ou obtenção de certos atos, ou o respeito a
situações que lhe aproveitam; jus; faculdade concedida pela lei; poder
legítimo.
4 Dicionário Aurélio
* Mestranda em distúrbio do desenvolvimento na Universidade Presbiteriana
Mackenzie; especialista de educação e deficiência pela Unisa, professora
facilitadora do programa de Educação em Valores Humanos pela Fundação
Peirópolis; docente na Unicsul.
* Médico da Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo (Penha-
Ermelino Matarazzo).
* Da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Divisão de Orientação
Técnica, Educação Inclusiva.
* Informação prestada por Renato Perez, da Secretaria Municipal de
Transportes de São Paulo.
[2] NAE: Núcleo de Ação Educativa, órgão administrativo intermediário da
rede escolar municipal de São Paulo, que sucedeu as antigas delegacias de
ensino. Há 13 NAEs no município.
* Escritor, autor do romance O vencedor (Ática), entre outros livros. Este
artigo foi publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, 8/8/01.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.