Girls Rock Camp Porto Alegre e empoderamento feminino através da música! #riotgrrrl #womeninmusic #girlsrockcamp #feminist

May 24, 2017 | Autor: Isabel Nogueira | Categoria: Gender Studies, Feminism, Riot Grrl
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Girls Rock Camp Porto Alegre e empoderamento feminino através da música! #riotgrrrl #womeninmusic #girlsrockcamp #feminist Por Isabel Nogueira e Gabriela Gelain.

Foram 55 adultas, voluntárias, mulheres de todas as idades e gerações, todas envolvidas, de alguma forma e paixão, com música e movimentos sociais. Recebemos 30 campistas, entre 7 e 17 anos, inscritas para baixo, guitarra, bateria, teclado e vocal, que formaram 6 bandas e ao longo de uma semana compuseram e tocaram uma música, criaram um nome, um logo e uma camiseta para esta banda e no ultimo sábado fizeram um show no bar Ocidente, em Porto Alegre. Somos o Girls Rock Camp Porto Alegre!

Arte de Niege Borges para o Girls Rock Camp Porto Alegre. Fonte: Girls Rock Camp Porto Alegre @girsrockcamppoa

O primeiro Girls Rock Camp iniciou com o nome de “Rock n RollCamp For Girls”, um acampamento diurno para meninas que tem como objetivo de reunir garotas que queiram aprender a tocar instrumentos e mulheres que estejam animadas para ensinar, ou seja, uma rede feminina. Durante uma semana, as garotas aprendem a tocar o instrumento que desejam, participam de oficinas de fanzines, identidade, expressão corporal, autodefesa feminina e, ao final da semana, se apresentam com sua banda e mostram uma música autoral (LEITE, 2005). Assim, o Girls Rock Camp tenta fazer com que o mundo do rock, mais as questões de gênero, sejam integrados e que, ao mesmo tempo, encontrem estratégias positivas para aumentar a autoestima de garotas. No treinamento, as idéias do respeito às campistas, suas falas, gostos e desejos, estimular, incentivar sua criatividade, sem julgamentos prévios, valorizando e apoiando o que elas fazem, são itens que descreviam de forma prática, direta, objetiva e cotidiana o que muitos dos textos sobre empoderamento, feminismo e igualdade de gênero falam.

Banda Meg se apresentando no intervalo do meio-dia. Fonte: Girls Rock Camp Porto Alegre @girsrockcamppoa

Janeiro de 2017 é a data desta primeira edição do Girls Rock Camp em Porto Alegre, que vem sendo planejado desde o final de 2015 por uma equipe composta por Liege Milk, Lisi Zilz, Leticia Rodrigues, Joana Ceccato, Isadora Nocchi Martins, Desireé Marantes, Julia Barth, e Brunella Martina. Entre 23 e 27 de janeiro, as campistas tiveram oficinas de fanzine, identidade, expressão corporal, defesa pessoal e do instrumento desejado (baixo, guitarra, bateria, vocal ou teclado). Hino do Girls Rock Camp Porto Alegre 2017 Posso ser presidenta, engenheira ou astronauta Posso tocar bateria, guitarra ou flauta Quem é você para dizer o que uma menina faz Só eu sei do que eu sou capaz! O camp é um lugar de amizade e alegria Lugar de aprender com outras gurias Pois sou muito melhor com as amigas E é só começo da nossa nova vida! Por isso vamos todas Gritar: VOU CONSEGUIR! Juntas somos mais fortes! Não vou desistir! (2x)

Um pouco da história do Girls Rock Camp no Brasil Os encontros de mulheres na música começaram no Brasil com a organização do primeiro Ladyfest nacional, em 2004. O evento foi organizado pelas integrantes da banda Dominatrix que, dois anos antes, havia tocado no LadyFest Holanda. Assim, durante os Ladyfests, ocorriam debates de diversas

pautas feministas, como questões de gênero, identidade, virgindade, feminismo jovem, violência contra a mulher. Foi durante a tournée europeia do Lady FestAmsterdan que o Rock N RollCamp for Girls iniciava. Depois da experiência de Flávia no LadyFest na Holanda e de ter trabalhado durante três anos consecutivos no Rock n RollCamp for Girls nos Estados Unidos, Flávia Biggs, hoje a diretora do Girls Rock Camp Brasil (também socióloga e ativista) começou a fazer a Oficina de Guitarra para Meninas em Sorocaba. Após 3 anos, quando viu que outras amigas estavam organizando algo que lembrava o que aprendeu no acampamento norte-americano, iniciou um “chamamento geral” para realizar o acampamento no Brasil. Atualmente, segundo Flávia Leite (2005), o que move a prática brasileira de maior fôlego em relação à subcultura Riot Grrrl no país é o Girls Rock Camp (GRC). O GRC acontece desde 2013, em Sorocaba (São Paulo) com voluntárias do Brasil todo, geralmente mulheres envolvidas de algum modo com a cena Riot Grrrl e com o movimento feminista no país.

Oficina de Expressão Corporal. Fonte: Girls Rock Camp Porto Alegre @girsrockcamppoa

O acampamento Girls Rock Camp Brasil segue dialogando com o movimento feminista, e são feministas interseccionais, onde há o recorte de gênero, raça, classe, sexualidade. As feministas insterseccionais percebem e enfatizam que as mulheres não sofrem o mesmo grau e modo de opressão, uma vez que mulheres de diferentes realidades vivenciam outros sistemas que dizem respeito a questões de raça, etnia, classe e sexualidade. Deste modo, reconhecem diferentes realidades para além de mulheres de classe média, brancas e heterossexuais. Quando questionada sobre onde a subcultura Riot Grrrl está presente em sua vida, Letícia Rodrigues (voluntária, instrutora de bateria, Rio Grande do Sul, 38 anos, comenta sobre o Girls Rock Camp e a transformação individual das meninas e mulheres através do acampamento e Luiza (21 anos, São Paulo), sobre o vínculo destas mulheres a subcultura Riot Grrrl: Agora, como eu estou mais fortalecida assim, eu acho que ele se manifesta em tudo mesmo, mas mais é dentro das bandas, do Girls Rock Camp...E a gente vai empoderando uma a outra, até tá rolando muito isso, assim. Porque é uma mudança bem profunda né, não só se restringe a quem toca ou quem ouve música, a um meio… ela acontece profundamente na pessoa. Isso que é massa. Uma transformação pessoal. È isso que a gente quer passar no Girls Rock Camp ou em qualquer outro projeto que envolva meninas. Não é porque elas vão aprender a tocar um instrumento em uma semana, não interessa se elas vão continuar. O que desperta nelas é que é muito maior, sabe. Que é essa coisa da sororidade né, a

cooperação entre as mulheres, o fortalecimento entre as mulheres. O espaço das mulheres. (Letícia Rodrigues, 38 anos, Rio Grande do Sul). Participei do Girls Rock Camp como jornalista e conheci as meninas que organizam. Elas vivem intensamente a subcultura riot e é um universo incrível e seguro para mulheres. Também fui a um show beneficente para o Chicas Rockeras (GRC para meninas latinas em Los Angeles) e foi a mesma sensação de empoderamento. (Luiza, 21 anos, São Paulo).

Voluntárias do Girls Rock Camp Porto Alegre. Fonte: Girls Rock Camp Porto Alegre @girsrockcamppoa

Consequentemente, os acampamentos aos moldes do Girls Rock Campnão são apenas acampamentos diurnos musicais, são programas que apresentam uma comunidade de mulheres que resistem ativamente a sua subordinação cultural e trabalham para promover uma mudança social. As voluntárias dos acampamentos fundem sua motivação pessoal com o desejo de ajudar outras gerações e estimular o envolvimento com suas cenas musicais, através de história da música das mulheres, aulas feministas e produções Do It Yourself. Assim, o Girls Rock Camp é um acampamento que atrai diversas mulheres (musicistas, oficineiras, ativistas) de partes diferentes do país, além de fãs e seguidoras que se inspiram na ideia e buscam, principalmente através dos ambientes digitais, voluntárias e auxílio para que se mantenha ativo, bem como continuam a divulgar ideias feministas e de empoderamento de meninas e mulheres através da música. Muitas das organizadoras dos eventos (tanto o Girls Rock Camp de Sorocaba quanto o de Porto Alegre) são em sua maioria mulheres que de algum modo estiveram ligadas ao Riot Grrrl ou o movimento feminista há alguns anos e algumas já são mães, trabalham, têm bandas, dão oficinas (GELAIN, 2017).

Oficina de fanzine do Girs Rock Camp. Fonte: Girls Rock Camp Porto Alegre @girsrockcamppoa

Se é uma experiência transformadora para cada uma das campistas, é assim também para as voluntárias, instrutoras, mediadoras, MCs (mestres de cerimônia), oficineiras, cada uma de nós que fazemos o Camp acontecer. Elaborar os cartazes para enfeitar a escola, conversar sobre o manual de conduta nos treinamentos, entender que a experiência de cada uma é importante e essencial para o projeto é muitos transformador para a música, mas também é transformador para repensar as invisibilizações e a construção de um sentido de grupo, de cooperação e de não-competitividade entre meninas, entre mulheres. “Quem são as mulheres da música que te inspiram?”, perguntamos para cada uma das meninas na oficina de teclado - e pedimos que elas trouxessem no outro dia nomes de mulheres tecladistas, ou compositoras, ou cantoras, que sejam referências para elas.

Fonte: Girls Rock Camp Porto Alegre @girsrockcamppoa

Ver as meninas chegando no primeira dia do camp, olhinho brilhando, olhando um a um todos os cartazes espalhados pela escola, ver a forma como elas lidam com as idades diferentes, as trajetórias, as motivações, o encantamento dançando com as bandas nos shows do horário do almoço, cada uma destas coisas são motivadoras e instigantes para um mundo da música onde a presença de mulheres seja uma constante, “Ela quer muito!”, diziam as mães. “A gente também!”, nós pensávamos. Fontes consultadas: GELAIN, Gabriela Cleveston. Releituras, rupturas e atualizações da subcultura Riot Grrrl no Brasil, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, 2017. (NO PRELO). LEITE, Flávia. Riot Grrrl: capturas e metamorfoses de uma máquina de guerra. 2015. 320 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015 Site oficial Girls Rock Camp Porto Alegre: http://grcportoalegre.com/ Instagram: @girlsrockcamppoa

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