GOVERNANÇA CORPORATIVA E ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO: um estudo de caso na Petrobras

June 24, 2017 | Autor: J. Amorim Carvalho | Categoria: Finance, Accountability, Performance Measurement
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GOVERNANÇA CORPORATIVA E ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO: um estudo de
caso na Petrobras

FURTADO NETO, João Ribeiro
CARVALHO, João Conrado de Amorim


RESUMO

A forte interferência do governo na economia vem sendo discutida ao longo
dos últimos doze anos. Apesar das iniciativas de adoção de um robusto
modelo de governança corporativa, algumas estatais ainda são utilizadas
como instrumento de política econômica, prejudicando o desempenho da
empresa e, por extensão, os investidores. Este trabalho procurou avaliar o
impacto da ingerência governamental nas Estatais e utilizou-se da
metodologia de estudo de caso na Petrobrás, a maior empresa brasileira,
para entender até que ponto decisões de ordem econômica podem afetar o
resultado da empresa. Concluiu-se que o governo brasileiro não apenas
desequilibrou a petroleira ao proibir reajuste dos preços dos seus
principais produtos, como obrigou-a a recorrer ao endividamento excessivo
para bancar os investimentos necessários à sua expansão. Em paralelo, a
empresa se viu envolvida em escândalos que levaram importantes personagens
da sua administração a responder criminalmente por desvio de recursos.

Palavras chave: governança corporativa, intervenção governamental, análise
do desempenho financeiro.


1 INTRODUÇÃO
A Governança Corporativa é um instrumento de gestão com a
finalidade definir regras que regem as relações entre os acionistas e
administradores. De forma resumida, a Governança Corporativa veio para
definir o modelo como a companhia será gerida. No Brasil, tais práticas
surgiram em decorrência da abertura da economia nacional, que atraiu cada
vez mais investidores estrangeiros para as empresas brasileiras com ações
na bolsa de valores norte americanas e, com isso, ficaram obrigadas a
seguir as regras da SEC - Securities and Exchange Comission, que representa
a Comissão de Valores Mobiliários Norte Americana, responsável por fazer
relação dos aspectos contábeis, de transparência e divulgação de
informações, seguindo os princípios da Governança Corporativa.
A Governança Corporativa também se aplica às empresas estatais,
ajudando a reduzir a interferência do governo e das suas decisões de cunho
político. No Brasil, entanto, nem sempre esse sistema consegue blindar
totalmente a influência do governo nas empresas públicas. Exemplos dessa
interferência são diuturnamente estampados na imprensa, como vem
acontecendo desde 2012 com as geradoras e distribuidoras de energia,
empresas de telecomunicações, empresas bancárias e com a Petrobras, quando
o governo decidiu congelar preços dos produtos e serviços para manter a
inflação em níveis aceitáveis e, com isso, manter a necessária popularidade
do governo em véspera de eleição. Além disso, o sistema de governança
corporativa não foi também capaz de blindar algumas empresas públicas dos
efeitos da corrupção, fato que pode ser igualmente acompanhado nas páginas
policiais da mídia nos últimos meses.
Nesse contexto, surgem os seguintes questionamentos a serem
respondidos no decorrer do trabalho: Qual o reflexo no resultado das
empresas estatais atribuído à ingerência do governo? É possível mensurar, a
partir da análise das demonstrações contábeis, o impacto da ingerência
governamental nos resultados das empresas? Para responder a essas
perguntas, foi desenvolvida esta pesquisa, cujo objetivo geral é demonstrar
a influência da gestão do governo federal no desempenho financeiro das
empresas estatais, utilizando, para esse fim, a análise das demonstrações
financeiras da Petrobras durante o período de 2009 a 2014. Os objetivos
específicos são demonstrar o impacto que tais decisões causam na economia
nacional e consequentemente a sociedade, bem como sugerir alternativas de
soluções sobre os problemas.
A Metodologia deste trabalho é um estudo de caso, conceituado por
Gil (1991) como "um estudo exaustivo e em profundidade de poucos objetos,
de forma a permitir conhecimento amplo e específico do mesmo". Para tanto,
foi realizada uma pesquisa bibliográfica, pois apresenta dados numéricos
com base na análise das demonstrações financeiras da Petrobras, utilizando
o método de análise conhecido como DuPont. A Petrobrás foi escolhida como
estudo de caso por diferentes razões, entre elas o fato de ter as suas
demonstrações financeiras divulgadas, auditadas e comentadas por analistas
de diferentes matizes. Além disso, a empresa foi, de longe, a mais
assediada pelo governo e essa interferência redundou não apenas no
reconhecimento contábil dos desvios de conduta, mas também em inúmeros
processos criminais discutidos no Brasil e em outras jurisdições onde a
Petrobrás negocia seus papeis no mercado de capitais.
Este capítulo tratou do problema de pesquisa, objetivos,
metodologia e delimitação. Nos capítulos seguintes, serão abordadas as
referências bibliográficas, estudo de caso e conclusão.


2 REVISÃO DE LITERATURA

A Governança Corporativa foi originada na década de 1990 nos
Estados Unidos e na Grã-Bretanha, com o objetivo de definir regras que
regem a relação de interesses dentro de uma companhia entre os acionistas e
administradores. Em outras palavras, ela é responsável pelo conjunto de
procedimentos que definem a forma em que a companhia será gerida.
De acordo com o IBGC - Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa, órgão responsável por promover a discussão e prática da
Governança Corporativa no Brasil (2008):
Governança Corporativa é o sistema que assegura aos sócios-
proprietários o governo estratégico da empresa e a efetiva
monitoração da diretoria executiva. A relação entre
propriedade e gestão se dá através do conselho da
administração, a auditoria independente e o conselho
fiscal, instrumentos fundamentais para o exercício do
controle. A boa Governança assegura os sócios, equidade,
transparência, responsabilidade pelos resultados
(accountability) e obediência às leis do país
(compliance).


Essa definição leva a entender que a Governança Corporativa apenas
defende os interesses dos sócios, seguindo o modelo shareholders
(acionistas), que é observado nos Estados Unidos e no Reino Unido. O modelo
tem como característica evidenciar que a organização deverá trazer retorno
apenas aos seus acionistas. Todavia, existem outros grupos que possuem
interesse na preservação da companhia e que não deixam de ser afetados
pelas decisões dos administradores, como os redores em geral, os
consumidores, os empregados, o governos e agentes reguladores. Trata-se,
nesse caso, do modelo Stakeholders (partes interessadas), existente nos
países da Europa Ocidental, cujo objetivo é maximizar o retorno para todos
os parceiros do negócio, ou seja, todos aqueles responsáveis por gerar
riqueza de forma direta ou indireta a companhia.
Uma das ferramentas mais conhecidas de análise do retorno
proporcionado aos acionistas é o Método DuPont, explicado por Gitman (1997,
p.125) como "[...] o uma técnica de busca que ajuda a localizar as áreas-
chaves responsáveis pelo desempenho financeiro da empresa". Em outras
palavras, esse método de análise busca verificar a rentabilidade sobre o
capital investido. Baseia-se na relação dos indicadores de margem líquida e
giro do ativo que, multiplicados entre si, geram o ROA (Return On Assets ou
retorno sobre os ativos da empresa). Kassai (2007, p. 181) explica que o
ROA é a "medida que quantifica o resultado operacional produzido pela
empresa". Gitman (2003) ressalva o ROA como taxa de retorno sobre o ativo
total com a função de mensurar a eficiência global da administração na
geração de seus ativos. Em outras palavras, quanto maior for este índice
melhor será a desenvoltura da companhia.
A margem líquida é o indicador que faz relação do lucro com as
vendas líquidas, permitindo analisar a rentabilidade sobre as vendas
líquidas da companhia. Gitman (2003, p. 53) define a margem líquida como:
"índice que mede a porcentagem de cada unidade monetária de venda que
restou, depois da dedução de todas as despesas, inclusive o imposto de
renda". Marion (2002, p. 166), por sua vez, complementa que a margem
líquida deve ser entendida como "quantos centavos de cada real de venda
restaram após as deduções de todas as despesas (inclusive o imposto de
renda)". Já Gitman (2003, p.48) afirma que o giro do ativo "mede a
eficiência com a qual a empresa usa todos os seus ativos para gerar vendas,
quase sempre significa quanto maior o giro total da empresa, mais eficiente
foi o uso dos seus ativos". Em outras palavras, é responsável por analisar
a relação das vendas com os ativos da empresa. Marion (2002, p; 166)
entende que o giro "significa a eficiência com que a empresa utiliza seus
Ativos, com objetivos reais de vendas. [...] "quanto maior for gerado de
vendas, mais eficientemente os ativos serão utilizados". Esta relação se
evidencia nas seguintes fórmulas:
a) Margem líquida = Lucro líquido após IRPJ e CSLL/Receitas líquidas.
b) Giro do Ativo = Ativo total/Receitas líquidas.
c) ROA = Margem líquida x Giro do ativo.
No modelo DuPont, o ROA é multiplicado pela alavancagem financeira
para encontrar o ROE (Return On Equity ou retorno sobre o capital próprio).
O ROE é o produto final do Modelo DuPont, ou seja, a evidenciação do
retorno sobre o capital investido. Kassai (2007, p. 184) entende que o ROE
"mede rentabilidade sobre os recursos líquidos da empresa, sobre os
recursos efetivamente investidos pelos proprietários". Quando o
empreendedor decide investir recursos em um negócio, ele busca maximizar
este capital investido, pois caso contrário, aplicaria esses recursos em
outras alternativas mais rentáveis. Por isso o ROE é uma ferramenta
importante para a tomada deste tipo de decisão. A alavancagem financeira
representa à relação entre o capital próprio e créditos decorrentes de
operações financeiras. Ela é utilizada pela empresa através de recursos de
terceiros (empréstimos, debêntures, financiamentos, ações preferenciais
etc.), para maximizar os efeitos do lucro operacional pelo lucro por ações.
Quando houver elevação do índice de alavancagem financeira, maior será o
risco e o retorno. O contrário também é verdadeiro, ou seja, a redução da
alavancagem reduz o risco e o retorno. A relação dos itens anteriores é
apresenta nas fórmulas abaixo:
a) Alavancagem financeira = Passivo Exigível/Patrimônio líquido
b) ROE = ROA x Alavancagem financeira


A Petrobras é uma companhia que se propôs a adotar as melhores
práticas de Governança Corporativa existentes no Brasil. A companhia chegou
a criar um novo Estatuto Social, aprovado pelo Conselho de Administração,
denominado Código de Boas Práticas e das Diretrizes de Governança
Corporativa, o que a deixou capacitada para a utilização dos instrumentos
de gestão empresarial mais sofisticados existentes no mercado. Como
consequência dessas práticas, a Petrobras aprimorou o seu processo de
tomada de decisão na alta administração do negócio, tornando-se mais
atrativa ao mercado.
No entanto, a partir de 2011 percebeu-se que as ações da Petrobrás
vem sofrendo queda constante no mercado de capitais. Dados extraídos da
Bolsa de Valores informam que a companhia fechou com a menor cotação nos
últimos dez anos, quando as ações preferenciais caíram em 6,5% a R$ 8,18,
ou seja, no menor nível desde setembro de 2004. Esse fenômeno também
ocorreu nas ações ordinárias, com queda em torno de 5,1% alcançando R$ 8,04
em maio de 2014. Em parte, essa queda nas ações se deve ao fato da agência
de classificação de risco Moody's reduzir todos os ratings da companhia em
decorrência dos escândalos de corrupção envolvendo a empresa, entre os
quais a compra de ativos superfaturados e a venda de ativos com comissões
milionárias a lobistas Tais ocorrências foram fartamente noticiadas na
imprensa, conforme transcrição seguinte de texto escrito por André Fuentes
no Blog da Veja Impávido Colosso:
Compra da refinaria de Pasadena, no Estado do Texas nos Estados Unidos
em parceria com a trading belga Astra Oil, quando a companhia
brasileira desembolsou 1,18 bilhões de dólares em garantia de posse de
50% da refinaria no ano de 2006. Contudo em junho de 2012, a parceria
foi rompida através de um litígio, levando a Petrobras a tentar
colocar à venda a refinaria e receber proposta de apenas 180 milhões
de dólares, ofertada pela empresa norte americana Valero, ou seja,
pouco mais de um décimo do valor pago;
A venda da Refinaria de San Lorenzo que se localiza em Santa Fé cidade
da Argentina, em que, segundo denúncias feitas a Policia Federal,
cerca de R$ 10 milhões foram pagos como comissões a lobistas, dos
quais 50% destinados a políticos responsáveis por indicar diretores da
estatal;
Além dos problemas citados anteriormente com refinarias localizadas
fora do país, no front interno ocorreu problemas semelhantes com a
refinaria Abreu e Lima localizada no Estado de Pernambuco, em que o
seu custo passou dos 2,5 bilhões de dólares iniciais para 20 bilhões
de dólares. Esta refinaria está sobre investigação do TCU (Tribunal de
Contas da União);
Após auditoria realizada na estatal em meados de 2013, o contrato com
a construtora responsável pela manutenção da refinaria de Pasadena foi
reduzido de 840 milhões de dólares para 440 milhões de dólares; e
Também houve um escândalo decorrente da suspeita que funcionários da
companhia receberam "comissões" da maior empresa de fabricação de
plataforma de exploração de petróleo marítima do mundo estimada em 30
milhões de dólares no Brasil, a fim de conseguir contratos bilionários
com a Petrobras.
Além disso, os escândalos estão presentes nas investigações
realizadas pela Polícia Federal, na famosa "Operação Lava Jato". Segundos
dados extraídos do site g1 da Globo, esta operação foi iniciada em 17 de
março de 2014, em decorrência da investigação de um "esquema" bilionário de
lavagem e desvio de recursos da Estatal. Segundo informações da Polícia
Federal e do Ministério Público Federal, empreiteiras de porte econômico
expressivo no país, "remuneravam" diretores e gestores da companhia, a fim
de conseguir contratos bilionários com a estatal. Segundo informações
extraídas de depoimentos de investigados presentes na delação premiada, as
"comissões" eram em torno de 3% do contrato, percentual considerado pelos
investigadores e alguns peritos como abaixo da realidade praticada. A
Polícia Federal estima que o prejuízo da Estatal com corrupção seja em
torno de 19 bilhões. Todavia em demonstrativo financeiro publicado em abril
de 2015 pela companhia, foi admitido perdas no valor de R$ 6,2 bilhões.
No capítulo a seguir, veremos o impacto que a ingerência
governamental trouxe ao desempenho financeiro da Petrobras, através da
análise dos demonstrativos financeiros dos anos de 2009 a 2014, embasado no
método Dupont.

3 ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO DA PETROBRAS

Conforme foi explicitado na introdução deste trabalho, o método de
avaliação do desempenho financeiro utilizado para a análise dos balanços da
Petrobras durante o período de 2009 a 2014 é o modelo DuPont, composto
pelos seguintes indicadores: Margem líquida, Giro do ativo, Retorno sobre o
ativo e Alavancagem financeira, e este método tem como produto final o ROE,
que significa retorno sobre o capital investido. Esse modelo tem a vantagem
de dissecar o retorno dos acionistas a partir da análise de outros
indicadores, o que proporciona uma visão mais abrangente da companhia
analisada.
A margem líquida da Petrobrás no período de 2009 a 2014 foi obtida
a partir da seguinte fórmula:


Margem líquida= Lucro líquido após IRPJ e CSLL/Receitas líquida

Tabela 1 – Margem líquida- Resumo
"MARGEM LÍQUI DA "PERÍODO "VALORES DOS ÍNDICES "
" "ANO DE 2009 "15,86% "
" "ANO DE 2010 "13,91% "
" "ANO DE 2011 "13,14% "
" "ANO DE 2012 "7,45% "
" "ANO DE 2013 "7,55% "
" "ANO DE 2014 "-6,50% "


Fonte: Elaborado pelo autor

Conforme análise realizada do indicador, observa-se queda
significativa de 140,98% durante o período avaliado, decorrente de um
aumento significativo dos custos e despesas de forma desproporcional ao
crescimento da receita. Esse fato foi agravado em 2014 com o reconhecimento
das perdas da corrupção.
O Giro do ativo é o indicador que mede a eficiência da utilização
do ativo para a geração de receita e foi calculado utilizando-se a seguinte
fórmula:

Giro do Ativo= Receitas líquidas/Ativo total

Tabela 02 – Giro do Ativo- Resumo
"GIRO DO ATIVO "PERÍODO "VALORES DOS ÍNDICES "
" "ANO DE 2009 "52,87% "
" "ANO DE 2010 "40,99% "
" "ANO DE 2011 "40,69% "
" "ANO DE 2012 "41,52% "
" "ANO DE 2013 "40,49% "
" "ANO DE 2014 "42,51% "


Fonte: Elaborado pelo autor

O giro do ativo teve comportamento semelhante ao indicador anterior
– margem líquida – ou seja, também sofreu decréscimo no período, em razão
das receitas não terem evoluído tanto quanto os ativos da companhia. Isso
se deve ao engessamento do preço dos combustíveis para manter a inflação
artificialmente baixa e, ainda, porque a companhia foi obrigada a se
endividar para investir em ativos de produção, como plataformas, sondas de
prospecção e navios. Agrava-se o problema ao ficar evidente que os ativos
foram superestimados para acobertar os percentuais que seriam direcionados
à corrupção já denunciada e reconhecida contabilmente em 2014.
O ROA (Return On Assets), que mede o retorno sobre os ativos
investidos na empresa., foi calculado com o apoio da seguinte fórmula:
ROA= Margem líquida x Giro do ativo

Tabela 03– ROA- Resumo
"ROA "PERÍODO "VALORES DOS ÍNDICES "
" "ANO DE 2009 "8,39% "
" "ANO DE 2010 "5,70% "
" "ANO DE 2011 "5,35% "
" "ANO DE 2012 "3,09% "
" "ANO DE 2013 "3,06% "
" "ANO DE 2014 "-2,76% "


Fonte: Elaborado pelo autor.

Considerando o declínio dos dois indicadores anteriores que são
base para cálculo do ROA, não seria nenhuma surpresa concluir que o
indicador, constatou-se que mesma trajetória de queda de 132,95% do período
de 2009 a 2014.
A alavancagem financeira representa o aumento da rentabilidade da
entidade com o uso de capital de terceiros, ou seja, é a capacidade de
lucrar mais utilizando menos recursos próprios. A seguir será analisado o
comportamento deste indicador, bem como sua fórmula e interpretação gráfica
do período:


Alavancagem financeira= Passivo Exigível/Patrimônio líquido

Tabela 04– Alavancagem Financeira- Resumo

"ALAVANCAGEM FINANCEIRA "PERÍODO "VALORES DOS ÍNDICES "
" "ANO DE 2009 "214,56% "
" "ANO DE 2010 "166,82% "
" "ANO DE 2011 "180,63% "
" "ANO DE 2012 "196,19% "
" "ANO DE 2013 "115,54% "
" "ANO DE 2014 "155,33% "


Fonte: Elaborado pelo autor

Conforme se pode visualizar na tabela 04, a capacidade de
lucratividade da companhia com recursos de terceiros caiu em torno de
27,60%., explicada em razão da captação de recursos com terceiros para
realizar a exploração de novos poços. Além disso, as tarifas de preços de
venda estavam congeladas até o ano de 2012, compra de ativos superfaturados
e a baixa de 6,2 bilhões com a corrupção.
O ROE (Return On Equity) é o produto final deste método de análise
do desempenho financeiro da companhia, que tem como objetivo mensurar o
retorno sobre o capital investido, ou seja, é a capacidade em que ela tem
de agregar valor se utilizando dos próprios recursos. A seguir será
demonstrado o comportamento deste indicador durante o período avaliado, bem
como sua fórmula e interpretação gráfica do período:

ROE= ROA x Alavancagem Financeira

Gráfico 1– ROE

Fonte: Elaborado pelo autor

Conforme foi visualizado no gráfico 1, o ROE da companhia sofreu
uma variação negativa de 123,86% do período de 2009 a 2014, ou seja,
significa que o retorno sobre o capital investido só está decrescendo ao
longo do tempo. Isto pode ser explicado por todos os fatores que
influenciaram os demais indicadores já calculados e comentados
anteriormente e que podem ser mencionados resumidamente da seguinte forma:
tarifas de preços de venda congeladas, aumento dos custos e despesas de
forma desproporcional à receita, investimentos desnecessários e
superfaturados, investimentos necessários porém financiados por falta de
geração de caixa e o reconhecimento de perdas por impairment (não
recuperabilidade dos valores registrados nos livros), ajuste a valor justo
de ativos e expurgo da corrupção, que levaram a empresa ao prejuízo em
2014.
Especificamente, a empresa realizou reavaliação dos seus ativos e
registrou perdas por irrecuperabilidade. A baixa desses valores em
decorrência do reconhecimento de transações atípicas foram os principais
fatores que levaram ao declínio do desempenho financeiro da estatal.
Segundo dados extraídos das notas explicativas das demonstrações contábeis
do exercício de 2014, a metodologia utilizada para a baixa nos ativos foi a
declaração nos depoimentos feitos na delação premiada pelos executivos que
participaram de corrupção na operação lava jato, que reconheceram
sobrepreço de 3% nas propostas para gerar fundos a serem doados aos
partidos da base aliada do governo. Já a baixa da reavaliação de ativos,
deve-se à postergação de projetos de refinos e pesquisa da demanda em
produtos petroquímicos, ou seja, isto tudo influencia na capacidade de
geração de receita pelo que foi investido.


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS



A interferência Governamental tem colocando a Petrobras em uma
situação delicada, uma vez que a empresa está sem capacidade de
investimento, recorrendo ao endividamento para financiar as suas
explorações. Ao mesmo tempo, um investimento de capital considerável foi
requerido na exploração do pré-sal, deixando à Petrobras na opção de ceder
a exploração a investidores estrangeiros em face de sua incapacidade de
arcar com os gastos. Por outro lado, refinarias e outros investimentos
necessários ao desenvolvimento do país foram sendo deixados em segundo
plano, em decorrências da interferência do governo e dos escândalos de
corrupção envolvendo as suas construções.
Milhares de trabalhadores brasileiros começaram a apostar nas ações
da Petrobras. Muitos deles transferiram recursos de seu FGTS, a sua futura
aposentadoria, para esses papéis porque renderiam bem mais que no fundo
gerido pelo governo. No entanto, com a ingerência do Governo, os princípios
da Governança Corporativa foram esquecidos. As decisões tomadas não tiveram
como objetivo alavancar o resultado da companhia e gerar riqueza para os
acionistas, mas apenas ser instrumento de política econômica (controle da
inflação) ou partidária (financiamento de campanha). Dessa forma, todos os
acionistas, incluindo os trabalhadores que apostaram sua futura
aposentadoria, foram prejudicados.
Infelizmente, a ingerência governamental ajuda a comprometer a
imagem do Brasil no exterior, uma vez que a companhia vem perdendo posições
na lista anual emitida pela revista Forbes. Em 2012 a Petrobrás estava
entre as 10 maiores do mundo e agora encontra-se na posição 416. Milhares
de investidores certamente irão reavaliar as suas decisões em ampliar
recursos em papéis na Petrobras considerando que a empresa não tem
liberdade de ações, além de se envolver em escândalos de corrupção. Outros
já ingressaram na justiça em seus respectivos países buscando reparar suas
perdas. Além disso, poucos acreditam que os valores expurgados dos ativos
da companhia representam, de fato, a real dimensão dos recursos desviados.
Esta ingerência por manter um preço de gasolina artificialmente
baixo e os escândalos de corrupção foram fatores responsáveis por fazer o
valor de mercado da Petrobras reduzir de US$ 86,8 bilhões para US$ 44,4
bilhões, ou seja, uma variação negativa de 48,85%. Por ser sócio
majoritário, o governo proporcionou motivos para que os investimentos
passassem a ser avaliados como de risco mais elevado do que aqueles que
seriam previsíveis em empresas sem esses tipos de ingerência, reduzindo o
escore da companhia e elevando os seus custos de captação.
Prova disso é a enorme dificuldade que o governo teve em licitar a
exploração de algumas reservas petrolíferas e de gás. O consórcio formado
pelas empresas Petrobras, Shell, Total, CNPC, e CNOOC arremataram o campo
Libra sob o regime de partilha, que ofereceu repassar a União 41,65% do
excedente extraído do campo, ou seja, percentual mínimo fixado no Edital do
leilão. Além disso, terá que pagar a União um bônus por assinatura do
contrato no valor de R$ 15 bilhões em uma única parcela a fim de que o
contrato seja assinado. A participação do consórcio ficou dividida da
seguinte forma: Petrobras (40%), Total (20%), Shell (20%), CNPC (10%) e
CNOOC (10%). Entretanto esse consórcio trará maior necessidade de gasto de
capital, que na realidade atual, compromete ainda mais o caixa da Estatal.
Como reflexo, a empresa se endividará ainda mais para realizar
investimentos levando o Bank of America Merrill Lynch (Bofa) a classificar
a Petrobras como a maior dívida do mundo entre as empresas exploradoras de
petróleo.
Tudo isso vai obrigar o governo a aumentar o preço dos
combustíveis, prejudicando a sociedade e outros setores da economia, como
por exemplo, o automobilístico e vender ativos não tão rentáveis para
conseguir fazer caixa, sem "comissões milionárias", a fim de arcar com o
investimento altíssimo de capital. Segundo reportagem publicada no site do
jornal GGN, estima-se que a produção dessas novas explorações se iniciará
em 5 anos se o ritmo for rápido, e que no período de 35 anos, trará um
retorno de R$ 1 trilhão para o país. A sociedade, no entanto, espera que os
executivos, políticos e empreiteiros envolvidos nestes esquemas de
corrupção sejam julgados e punidos, retomando a confiança dos investidores
com a companhia, pois a venda de ações é uma forma de captação de recurso
menos onerosa que a captação com instituições financeiras. Caso isto não
ocorra, alguns analistas advogam a privatização da Petrobras como a melhor
saída, garantindo aos investidores maior probabilidade de decisões
técnicas que políticas e, certamente, maior capacidade de ganhos.


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