Gramsci e a Primeira Guerra Mundial/Gramsci and World War I

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Outono21 Gramsci e a Primeira Guerra Mundial1 Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos2 Resumo Os objetivos do texto são: a) discutir sumariamente fatos da Primeira Guerra Mundial e respectivas análises de Antonio Gramsci, focando particularmente a neutralidade italiana do início do conflito, a intervenção italiana, a Revolução Russa de 1917, o Armistício entre Alemanha, Áustria e Rússia, a Paz de Brest-Litowski, a ofensiva italiana de 1918 e a paz; b) iniciar uma discussão sobre o modo como tais fatos e análises “convocam” aspectos do pensamento de Gramsci no que se refere a sua obra pré-carcerária e carcerária, possibilitando contextualizar em certo sentido a maturação e a formação de seu pensamento; c) enfatizar com maior atenção a relação da Grande Guerra com as categorias gramscianas de guerra de posição e guerra de movimento, entendidas tanto na perspectiva estrita de manifestações do fenômeno bélico como na abordagem de metáforas da política. Não há de se perder de vista também ponto correlato a tais categorias, a saber, o aspecto político-militar da avaliação gramsciana das relações de força, tema central de seus cadernos carcerários. A hipótese central que orienta a exposição aponta para a validade de pontos da guerra para a política, ressalvando o entendimento gramsciano da complexidade maior dos fenômenos políticos em relação às questões bélicas. Palavras-chave: Gramsci; Grande Guerra; Guerra de Posição; Guerra de Movimento; Primeira Guerra Mundial. Abstract: The objectives of the text are: a) discuss briefly the facts of the First World War and analysis of Antonio Gramsci about them, the Italian neutrality particularly focusing on the conflict begining, the Italian intervention, the Russian Revolution of 1917, the Armistice between Germany, Austria and Russia , the Peace of Brest-Litowski, the Italian offensive of 1918 and peace; b) initiate a discussion on how such facts and analysis "summon" aspects of Gramsci's thought in relation to their pre-prison and prison works, providing context in a sense maturation and the formation of his thought; c) emphasize greater attention to the relationship of the Great War with the categories of Gramscian war of position and war of maneuver, understood both in the narrow perspective of the warlike demonstrations phenomenon as the approach of political metaphors. Ica not be ignored of the correlative categories to such point, namely, the political-military Gramscian assessment of strength relations, the central theme of his prison notebooks. The central hypothesis guiding the exhibition points to the validity of aspects of war to politics, safeguarding the Gramscian understanding of the greater complexity of political phenomena in relation to war issues. Keywords: Gramsci; Great War; First World War; War of Position; War of Maneuver.

Introdução O pensamento do comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937) é normalmente Ano 1 - Edição nº 01 - julho/dezembro 2015

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Outono21 apropriado por diferentes interpretações, sempre suscitando controvérsias sobre o sentido de suas mais conhecidas categorias, como hegemonia, sociedade civil, bloco histórico, intelectual orgânico, guerra de posição e guerra de movimento. Este último par é justamente o objeto do presente artigo. O ponto de partida para tal análise é justamente a Grande Guerra ou Primeira Guerra Mundial, momento significativo na formação do pensamento do comunista sardo e das categorias referidas. O traço marcante referente à guerra de trincheiras da Primeira Guerra Mundial – manifestado desde o fim da batalha do Marne em setembro de 1914 com um equilíbrio franco-alemão de forças e que se instalaria também na frente russa – foi bastante signficativo na formação e maturação de algumas das mais importantes metáforas e categorias do pensamento de Antonio Gramsci (GALASTRI, 2011: p. 265-266). A interpretação hegemônica3 e de teor passivizador e reformista do Partido Comunista Italiano (PCI) no pósSegunda Guerra Mundial a respeito do comunista italiano consagrou-o como teórico da luta política calcada na guerra de posição para o contexto das novas realidades e sociedades civis do século XX, atribuindo-lhe a crítica à via da guerra de movimento4. Por outras palavras, tal interpretação – a guerra de posição - consiste na defesa de uma estratégia de acúmulo de forças e conquista de espaços gradualmente no âmbito da sociedade civil privilegiando a política democrático-eleitoral-institucional, sem ter no horizonte a luta revolucionária de assalto ao aparelho estatal associada à guerra de movimento5. A leitura hegemônica referida não resiste a uma simples leitura rigorosa dos cadernos carcerários gramscianos. A leitura hegemônica referida é reveladora do entendimento da compartimentalização entre guerra de posição e guerra de movimento como construto meramente metodológico e não orgânico. A conjugação de ambas pode aparecer na mesma avaliação conjuntural, conforme o próprio Gramsci: “[...] A resistência passiva de Gandhi é uma guerra de posição, que em determinados momentos se transforma em guerra de movimento e, em outros, em guerra subterrânea: o boicote é guerra de posição e, greves são guerras de movimento, a preparação clandestina de armas e elementos combativos de assalto é guerra subterrânea” (GRAMSCI, 2000, p. 124)6.

Explique-se: a guerra de posição é a metáfora manifestadora daquela luta cuja conjuntura histórica, relação de forças em vários aspectos da sociedade a luta de um grupo, classe ou fração em posição na qual se busca galgar posições “trincheira a “trincheira”, ponto a ponto no âmbito dos “aparelhos privados” de produção da hegemonia (escolas, universidades, mídia, igrejas, associações etc.), daquela concepção de mundo dirigente da vida nas mais distintas instâncias. Consiste justamente na luta no plano institucional já mencionada Uma vez conquistados “os corações e mentes” em tal natureza de luta, a direção e a conquista do poder se tornam muito mais sólidos. Seria este o caráter daquelas sociedades civis mais complexas, ou em uma metáfora destituída de qualquer eurocentrismo ou conotação evolucionista, “ocidentais”, como o Japão já no século XIX. Outra me60

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Outono21 táfora, o “Oriente” caracterizaria as sociedades civis menos complexas nas quais seria cabível o assalto frontal ao aparelho de Estado, como ocorrido na Rússia da Revolução de Outubro de 1917, a Itália meridional e das ilhas, contemporânea de Gramsci – muito embora o norte italiano fosse “Ocidente”. Evidentemente que Gramsci atentou para as particularidades da luta política naquelas sociedades civis mais complexas, metaforicamente chamadas de “ocidentais” (não necessariamente situadas no Ocidente), distintas daquelas vistas como “orientais” (também não necessariamente localizadas no hemisfério do oriente), cujo caráter da ação política apontaria para a guerra de posição em um primeiro momento. Tais categorias que tomam a guerra como metáfora da política põem o relevo o debate e contexto de alguma forma atinente à Primeira Guerra Mundial conforme a experiência e o testemunho do comunista sardo. Como a Grande Guerra se relaciona à maneira como o pensamento gramsciano e o contexto de sua elaboração? Qual o debate em que isto está inserido? Responder sumariamente e apresentar uma reflexão inicial sobre tais questões é o objetivo deste texto, que expressa os resultados parciais de uma pesquisa sobre o pensamento do comunista italiano no tocante ao tema anunciado no título. É sabido que haveria muito mais a escrever sobre a relação entre Gramsci e a Grande Guerra, mas o foco deste texto recairá sobre uma tentativa de abordagem sumária sobre o tema. O texto percorrerá sucintamente as seguintes etapas, que conformam seus objetivos: a) discutir sumariamente fatos da Primeira Guerra Mundial e respectivas análises de Antonio Gramsci, focando particularmente a neutralidade italiana do início do conflito, a intervenção italiana, a Revolução Russa de 1917, o Armistício entre Alemanha, Áustria e Rússia, a Paz de Brest-Litowski, a ofensiva italiana de 1918 e a paz; b) iniciar uma discussão sobre o modo como tais fatos e análises “convocam” aspectos do pensamento de Gramsci no que se refere a sua obra pré-carcerária e carcerária, possibilitando contextualizar em certo sentido a maturação e a formação de seu pensamento; c) enfatizar com maior atenção a relação da Grande Guerra com as categorias gramscianas de guerra de posição e guerra de movimento, entendidas tanto na perspectiva estrita de manifestações do fenômeno bélico como na abordagem de metáforas da política. Não há de se perder de vista também ponto correlato a tais categorias, a saber, o aspecto político-militar da avaliação gramsciana das relações de força, tema central de seus cadernos carcerários. A hipótese central que orienta a exposição aponta para a validade de pontos da guerra para a política, ressalvando o entendimento gramsciano da complexidade maior dos fenômenos políticos em relação às questões bélicas. O texto tratará a seguir as análises gramscianas sobre a Grande Guerra de modo sumário, destacando alguns pontos específicos da sua vastíssima produção jornalística no período da Grande Guerra. Eventualmente, lançar-se-á mão de pontos da produção carcerária do autor. Ano 1 - Edição nº 01 - julho/dezembro 2015

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Outono21 Gramsci e algumas de suas análises sobre a Grande Guerra A Itália assume inicialmente uma postura oficialmente neutra no conflito em seu início, em julho de 1914. Posteriormente, em 23 de maio de 1915, a Itália declararia guerra à Áustria-Hungria, adentrando oficialmente ao conflito. A atuação de Gramsci no âmbito do Partido Socialista Italiano (PSI) é entremeada por um debate interno na Itália em torno da intervenção. As próprias posturas de outros partidos socialistas e social-democratas em torno do apoio ao fim da neutralidade italiana e apoio às causas de seus respectivos países repercute no debate interno no qual Gramsci está inserido. Inicialmente, o PSI declara “neutralidade absoluta”. Isto não significa que Gramsci se contente com a posição de neutralidade absoluta, como atesta em seu célebre artigo Neutralidade Ativa e Operante (GRAMSCI, 2004b) de 31 de outubro de 1914, o primeiro texto político público de sua autoria, publicado no jornal Il Grido del Popolo. No artigo em questão, reflete sobre os enormes custos em vidas que o conflito já proporcionara. Gramsci polemiza com lideranças intervencionistas em favor da Entente – por um engajamento contrário à Áustria - no interior do PSI, como Benito Mussolini. Este, visto como intransigente líder natural contra os reformistas do partido por Gramsci e seus companheiros contemporâneos (e futuros líderes do próprio PSI e depois do Partido Comunista da Itália – PCI), Amadeo Bordiga e Angelo Tasca. Gramsci coloca o problema nos termos da tarefa específica e tão-somente do PSI diante da Grande Guerra. A proposição gramsciana aponta para a fórmula da neutralidade ativa e operante, resgatando o mote da luta de classes. O artigo aponta muito mais questões que proposições, ressaltando aspectos da direção que o PSI deve assumir em face da conjuntura italiana daquele momento na construção do socialismo (DIAS, 2000, p. 53). O partido é visto como “Estado em potência, antagonista do Estado burguês, que busca, na luta diuturna contra este último e no desenvolvimento de sua dialética interna, criar os organismos capazes de absorver e superar tal Estado” (GRAMSCI, 2004b, p. 47). A neutralidade italiana só viria a ser quebrada oficialmente em 23 de maio de 1915, ao declarar guerra ao Império Austro-Húngaro. Turim, relevante cidade industrial setentrional onde Gramsci residia, tornara-se um enorme arsenal de guerra. Conforme dito, havia neste período toda uma discussão no âmbito dos partidos da Internacional Socialista no tocante à guerra, bem como gestões para que os diferentes partidos se posicionem em favor de seus respectivos países de origem. A propósito disto, o apelo do partido belga pelo seu país é analisado por Gramsci, que declara sua simpatia pela causa do pequeno país, inicialmente neutro, mas invadido pelo Império Alemão. Todavia, Gramsci não abre mão de posição segundo a qual os socialistas belgas vislumbrem a luta de classes e o socialismo, acima de qualquer simpatia pela guerra, qualquer que seja o lado que se tome partido. No tocante ao período compreendido entre 1915 e 1916, os escritos jornalísticos 62

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Outono21 gramscianos tem o [...] traço comum dessas intervenções, que, como manda a tradição do jornalismo socialista, quase nunca são assinados, mas apenas manifestada é a guerra e os efeitos que ela tem sobre a vida social, cultural, moral e econômico do país. Como foi justamente observado, o trabalho jornalístico de Gramsci é, sobretudo, ‘uma batalha pela verdade’: a queixa pródigo lucros dos industriais, as especulações dos comerciantes, a ganância dos proprietários, mas mais geralmente procura desmantelar o complexo de mentiras e verdade que préembalados constituem o cimento com o qual a classe dominante procura construir a união sagrada dentro do país, a fim de apoiar o esforço de guerra. Portanto, é acima de tudo, uma luta contra as mentiras da propaganda patriótica, particularmente intensa entre o final de 1915 e nos primeiros seis meses de 1916, quando a idéia de uma guerra rápida e vitoriosa prova ser uma ilusão e o exército italiano é encontrado, como tinha acontecido um ano antes de seus aliados, atolado nas trincheiras da guerra. E, como em outros países europeus, são os intelectuais a mobilizar para espalhar os ideais de patriotismo e denegrir os argumentos dos adversários, apoiando a guerra travada por soldados, a guerra não menos perniciosa ‘do clero’, em que também a arte, a cultura e a ciência assumem o papel nacional e deixar de ser universal e considerados ativos. Mas o caso italiano tem algumas peculiaridades: como estes de uma guerra ofensiva, pelo menos até Caporetto não ouviu nem havia procurado pela maioria da população, e não apenas os intelectuais assumem a tarefa de defender um conjunto de valores pré-estabelecidos, como na França, na Inglaterra e na Alemanha", para inventá-los a partir do zero (SAVANT, 2008, p. 14)7.

Já por ocasião da presença italiana no conflito, destaquem-se duas formulações nos debates públicos jornalísticos travados por Gramsci que ecoariam de alguma forma nas suas formulações carcerárias futuras sobre a guerra como metáfora da política. Como já assinalado acima, as trincheiras eram um traço marcante, inclusive no fronte italiano. As analogias da luta política com o conflito militar se faziam presentes nos argumentos rebatidos por Gramsci. Em artigo de 29 de janeiro de 1916, assim ele se declara no artigo Socialismo e Cultura, no qual polemiza sobre o tema da cultura com seus companheiros de PSI, Bordiga e Tasca: [...] Foi ele mesmo uma magnífica revolução, mediante a qual, como observa agudamente De Sanctis em sua Storia della letteratura italiana, formou-se em toda a Europa uma consciência unitária, uma internacional espiritual burguesa, sensível em todas os seus elementos ás dores e às desgraças comuns, e que foi a melhor preparação para a sangrenta revolta que depois teve lugar na França. Na Itália, na França, na Alemanha, discutiam-se as mesmas coisas, as mesmas instituições, os mesmos princípios. Toda nova comédia de

Voltaire, todo novo pamphlet era a centelha que passava pelos fios já tensos entre Estado e Estado, entre região e região, encontrando por toda parte e ao mesmo tempo os mesmos defensores e os Ano 1 - Edição nº 01 - julho/dezembro 2015

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Outono21 mesmos opositores. As baionetas de Napoleão encontravam o caminho já preparado por um exército invisível de livros, de opúsculos, que vinham de Paris como enxames desde a primeira metade do século XVIII e que haviam preparado homens e instituições para a necessária renovação” (GRAMSCI, 2004c, p. 5960). Percebe-se que a luta militar é tomada como metáfora da luta no âmbito da cultura. Porém, o raciocínio não é tão simples como parece. Não se trata simplesmente de aplicar a guerra como metáfora de uma luta. É o que dá a entender Gramsci no longo, mas não menos relevante trecho de polêmica com Treves, líder da ala reformista do PSI, em 15 de setembro de 1917: O deputado Claudio Treves se deleita com ‘analogias sutis’ [...]. Deleita -se tanto que a elas e às suas afins, as metáforas, sacrifica o pensamento, a trabalhosa busca da verdade, a própria compreensão do específico mundo no qual ele tem a ilusão de viver e agir. Através das analogias e metáforas, a vida – a vida dos homens, que é sangue e dor, que é sofrimento e luta – torna-se algo abstrato, simplista, materialmente tão insensível como as peças de um tabuleiro de xadrez, peças às quais são previamente atribuídos nome e valor para depois fazê-las moverem-se e saltarem com um movimento da mão, com a prévia segurança do êxito ou do fracasso. O abstratismo chega a ponto de fazer com que o poder da vontade, negada como fator ativo da história, ironizada como ‘confiança no milagre, seja depois reintegrada em todo seu valor enquanto negatividade. A vontade só é efetiva quando nega, mas é ilusão quando afirma; a vontade é ativa quando ‘defende’, mas é piedosa ilusão de cretinos quando toma a iniciativa. Para a ‘sutil’ dialética do deputado Treves, só existe conceitualmente a defensiva: a ofensiva é desvairio de mentes enfermas. A verdade é que o deputado Treves, ‘estrategista’ da luta de classe, tornou-se um daqueles ‘amortecedores da inteligência’ que nos deliciam nos jornais burgueses. Exagerou seu método. Reduziu a esquemas, a peças de um tabuleiro de xadrez, o que é absolutamente irredutível a isso. A ‘sutil analogia estratégica entre a guerra e a luta de classe’ induziu-o a dar corpo aos vazios fantasmas metafóricos que são o ‘exército proletário’ com seus batalhões, suas fortalezas, seus campos entricheirados. Imaginou toda uma hierarquia de oficiais, suboficiais,cabos e soldados do Partido, das organizações, das fábricas. Viu-os se moverem, organizados disciplinadamente no assalto ao inimigo, orientados pela ‘ilusão de que a vitória seja uma meta ativa, a qual, por não estar vinculada a circunstâncias reais, objetivas, é alcançada com qualquer meio, bastando agir para que na ação todo esforço seja válido, toda volição seja decisiva para o triunfo’. A verdade é que a ‘sutil analogia’ do deputado Treves, por ser tão sutil, termina por ser ausência absoluta de inteligência. O proletariado não é um exército; não tem oficiais, suboficiais, cabos e soldados. Sua vida coletiva nem de longe pode ser comparada à vida coletiva de um exército em armas, a não ser por acaso, por metáfora. O proletariado tem uma vida coletiva que não pode entrar em nenhum esquema abstrato. É um organismo em contínua transformação, que tem uma vontade; mas esta não é a vontade livresca contra a qual o deputado Treves dispara flechinhas de papel. Os socialistas não são os

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Outono21 oficiais do exército proletário; são uma parte do próprio proletariado, talvez sejam sua consciência. Mas, assim como a consciência não pode ser separada do indivíduo, tampouco os socialistas podem ser separados do proletariado. Formam com ele uma unidade, sempre uma unidade; e não comandam, mas vivem com o proletariado, assim, como o sangue circula nas veias de um corpo e não pode viver e mover-se em tubos de borracha envoltos num cadáver. Vivem no proletariado; e sua força está na força do proletariado, o seu poder reside nesta perfeita aderência” (GRAMSCI, 2004a, p. 110-11, destaque no original).

Em uma palavra, o contexto histórico específico permite a metáfora da guerra entendida como política e como luta, mas não como um esquema ou modelo mecânico abstrato sem nexo com as questões concretas.

O desenrolar concreto do conflito colocava as dificuldades da luta nas trincheiras e na conquista de posições nos teatros de operação. Pouco mais de um mês após à escrita do artigo, uma marcante derrota italiana ante a Áustria tomou lugar em Caporetto, perdendo posições somadas ao longo de dois anos e meio de envolvimento bélico. A recuperação italiana viria quase um ano depois, tendo êxito na decisiva batalha de Vittorio Veneto. Caporetto e seus desdobramentos foram objeto de análise de Gramsci no período précarcerário e carcerário (FINOCCHIARO, 2008, p. 22). Destaque-se, dentre outras, as análises gramscianas elaborada no cárcere de que não havia sintonia entre o comando militar e o comandante-em-chefe e as alegações historiográficas para o fracasso creditadas à incapacidade dos soldados, refutada por Gramsci em nome de uma totalidade analítica político-militar-social (GRAMSCI, 1975, Q1, §114, p. 102; Q6, §74 p. 740). Não é possível ignorar as enormes dificuldades enunciadas por tais batalhas como possibilidades inspiradoras para a posterior reflexão carcerária de Gramsci sobre a guerra de posição e guerra de movimento. Para finalizar, as análises de Gramsci sobre o processo de paz e da Revolução Bolchevique Russa no tocante a Brest-Litovsky. Gramsci analisa a iniciativa do presidente norte-americano Wilson de proposição da Liga das Nações como uma iniciativa destinada a implementar uma espécie de “superestado” federativo para difundir os ideais burgueses do fim do protecionismo e da expansão do livre-comércio. Como o extremo oposto da perspectiva wilsoniana, Gramsci vê os bolcheviques revolucionários russos, por ele chamados em primeiro momento de “maximalistas”. O tratado de paz que se seguiu ao armistício entre a Rússia e os Impérios Centrais foi o tratado de Brest-Litovsky, firmado em 3 de março de 1918, no qual imensas porções territoriais foram subtraídas da terra dos Soviets. Gramsci defende a postura russa de almejar a paz, mas com uma postura agressiva contra os impérios centrais, incitados, entre outros, pelo governo da Ucrânia, a voltar-se contra a Rússia (SAVANT, 2008, p. 114-144). Uma análise mais aprofundada destes tópicos no desenvolvimento desta pesquisa poderá apontar outros nexos com o tema em pauta neste texto, na medida em que pode ser discutido Ano 1 - Edição nº 01 - julho/dezembro 2015

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Outono21 o nexo entre guerra e revolução, o contexto da guerra civil russa e os acordos de BrestLitovsky, bem como as relações do pensamento de Norman Angell8 com a Liga das Nações e a guerra e o modo como Gramsci criticou e recepcionou as ideias de tal autor.

Das análises ao pensamento: a Grande Guerra e a guerra de posição e guerra de movimento É possível caracterizar no pensamento de Gramsci a unidade entre as funções técnico-militares e a política. Corrobora esse entendimento sua afirmação de que toda inovação orgânica na estrutura modifica organicamente as relações absolutas e relativas no campo internacional por meio de suas manifestações técnico-militares (GRAMSCI, 1975). Dito de outra forma, as questões bélico-militares estão ligadas às modificações estruturais e políticas ocorridas nas sociedades. Trata-se de ponto em que Gramsci e o clássico teórico da guerra e general prussiano Carl von Clausewitz convergem, embora cheguem a essas conclusões em linhas de raciocínio bem distintas entre si. Uma tipologia incompleta, não exaustiva da guerra como metáfora da política na obra carcerária de Gramsci leva às noções de guerra de posição e guerra de movimento. A primeira é característica das democracias modernas na qual a complexidade da sociedade civil. Por outras palavras, a estrutura produtiva e social complexa constitui, metaforicamente, trincheiras para assalto ao aparelho estatal, a sociedade política. A estrutura das sociedades “ocidentais” tem uma estrutura complexa e resistente às crises, depressões. A análise gramsciana se insere em contexto mais amplo da discussão da tradução, ressignificação histórica e cultural, da revolução russa para o Ocidente. Por conseguinte, coloca-se um ponto central na reflexão de Gramsci sobre a natureza da luta política a ser empreendida com tal objetivo. É sugestivo que as relações de força sejam distintas na Rússia e no Ocidente com o objetivo da revolução. Ressalte-se que “Ocidente” e “Oriente”, parte de um todo separável somente metodologicamente por Gramsci, também são metáforas e não se baseiam em critérios geográficos, conforme já explicado. Eles referem à complexidade da sociedade civil, na qual a oriental é menos complexa por oposição à ocidental. Lutar na perspectiva da guerra de posição ou guerra de movimento – par conceitual também inseparável e pertencente a um todo – não é exatamente uma escolha e sim decorrência da análise de forças de um momento histórico. Somente a superioridade de forças de um oponente permite escolher a natureza da luta, se guerra de movimento ou guerra de posição. Conforme Galastri, a avaliação histórica conjuntural de equilíbrio de forças das classes sociais na Europa levou Gramsci a tal avaliação na perspectiva da luta revolucionária (GALASTRI, 2011, p. 265). Foi neste sentido que Gramsci buscou “traduzir”, ressignificar o par guerra de posição e guerra de movimento a partir de suas reflexões sobre a Grande Guerra. A perspectiva mais ampla de guerra apresentada por Gramsci, não somente comen66

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Outono21 te metáfora da política, mas como guerra no sentido estrito, aprece em outro raciocínio sobre a guerra de posição. Mesmo tratando da guerra de posição como conflito interestatal, a característica do equilíbrio de forças e da complexidade para determinar a superioridade das forças referidas continua como ponto característico. Ela é definida como o avanço da técnica militar no contexto da Primeira Guerra Mundial – armas químicas, avião, submarino –, ponto que inviabiliza um cálculo preciso da potência de um Estado (GRAMSCI, 1975, p. 623, Q 13, §28). Esse raciocínio justifica a transformação, também na política, de uma guerra de movimento a uma guerra de posição ou assédio. Em primeiro momento, a avaliação remete justamente a ponto ressaltado no entendimento da guerra de posição como metáfora da política: um equilíbrio de forças como ponto que caracteriza tal tipo de conflito, uma definição não precisa das forças referidas no caso das classes sociais. No campo internacional, o avanço das forças produtivas incidiu na tecnologia militar e nas suas expressões técnico-militares, trazendo o equilíbrio ou imprecisão no cálculo de potência para todos os lados da luta. Voltando ao tema da guerra de posição como conflito no interior dos Estados e como metáfora da política, a vitória na guerra de posição é definitiva, pois exige uma extraordinária concentração de hegemonia, de coesão interna, mais recursos, intervenção, sacrifícios, espírito inventivo e paciência. Isso porque se trata da vitória depois de um relativo equilíbrio de forças e de destruição de complexa rede reforçada de trincheiras. Por fim, o tema das relações de força. A unidade político-militar no pensamento gramsciano é ponto que remete, entre outros autores e categorias, tanto ao contato com a análise da Primeira Guerra, como também provavelmente Croce, Lenin, Trotsky, autores com quem travou contato para acessar indiretamente a formulação de Carl von Clausewitz sobre o nexo dialético e indissolúvel da validade de pontos da guerra em relação à política9, por ser justamente a guerra parte da política embora haja muitas diferenças entre ambas. Muito poderia ser desenvolvido sobre tal tema, mas uma reflexão inicial será formulada sobre o nexo político-militar como um dos momentos que compõe a análise das relações de forças por parte de Gramsci, isto é, o nexo entre a unidade orgânica de estrutura e superestrutura com vista ás transformações sociais e históricas. Assim ele se refere sobre tal tema, num trecho absolutamente relevante para a discussão em tela: “Mas a observação mais importante a ser feita sobre qualquer análise concreta das relações de força é a seguinte: tais análises não podem e não devem ser fins em si mesmas (a não ser que se trate de escrever um capítulo da história do passado), mas só adquirem um significado se servem para justificar uma atividade prática, uma iniciativa de vontade. Elas mostram quais são os pontos de menor resistência, nos quais a força de vontade pode ser aplicada de modo mais frutífero, sugerem as operações táticas imediatas, indicam a melhor maneira de empreender uma campanha de agitação política, a linguagem que será bem mais bem compreendida pelas multidões etc. O elemento decisivo de cada

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Outono21 situação é a força permanentemente organizada e há muito preparada, que se pode fazer avançar quando se julga que uma situação é favorável (e só é favorável na medida em que esta força exista e seja dotada de ardor combativo). Por isso, a tarefa essencial consiste em dedicar-se de modo sistemático e paciente a formar esta força, desenvolvê-la, torná-la cada vez mais homogênea, compacta e consciente de si. Isso pode ser comprovado na história militar e no cuidado com que, em qualquer época, os exércitos estiveram preparados para iniciar uma guerra a qualquer momento. Os grandes Estados foram grandes Estados precisamente porque sempre estavam preparados para inserir-se eficazmente nas conjunturas internacionais favoráveis porque havia a possibilidade concreta de inserir-se eficazmente nelas” (GRAMSCI, 2000, p. 45-46)10.

O trecho acima é considerado por estudiosos de Gramsci como o mais importante dos cadernos carcerários. Entre outros pontos, encerra o nexo político-militar para a análise das relações de força nas transformações históricas, o que impossibilita de fechar a contento nossa reflexão. Torna-se imperativo continuá-la em outra oportunidade.

Considerações Finais Buscou-se mostrar ao longo do texto o impacto e a preocupação gramscianas com aspectos marcantes da Grande Guerra para forjar o importante par categorial da guerra de posição e da guerra de movimento. Foi desenvolvida de modo embrionário como a apropriação de tais categorias e a reflexão militar inserida numa totalidade social orgânica e numa “tradução”, uma ressignificação histórica, social e cultural de tais categorias entendidas como metáforas da política fazem parte de um modo de raciocinar de Gramsci longe de qualquer fórmula única e mecânica. Assim, fica aberta e imperativa a continuidade desta reflexão.

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Notas O autor agradece ás ponderações e observações do parecerista anônimo da Outono 21. Este texto integra pesquisa que contou com financiamento do CNPq (processo 162679-2013-1) e Fapesp (processo 2015/07867-5). 1

Docente da Universidade Estadual Paulista – Campus de Marília; Professor Colaborador da Unicamp, Bolsista de Pós-Doutorado Senior do CNPq pelo Instituto de Economia da Unicamp e Doutor em Ciência Política pela USP. 2

3A

hegemonia no sentido gramsciano compreende todas as questões globais e moleculares da vida social como concepção de mundo em sentido ético-político, moral, econômico, cultural, sexual, ideológico etc com diferentes combinações específicas de força e consenso. Para exemplificar um pouco de alcance, tomase o dizer de Adam Morton (2007: p. 114) dando conta de que tal categoria filtra através das estruturas sociais aspectos referentes à economia, cultura, gênero, etnicidade, classe e ideologia. Não há na obra gramsciana a noção de “conta-hegemonia”, visto que todo processo histórico subentende o embate de projetos hegemônicos, mesmo no caso daqueles que aspiram a tal condição. A hegemonia na sua forma completa tem o predomínio da direção sobre a dominação, do consenso sobre a força. Todavia, é possível encontrar formas hegemônicas incompletas nas quais predominam a força, a dominação sobre a direção e o consenso. A popularização da noção de contra-hegemonia se deveu, muito provavelmente, a Raymond Williams (1977). 4 Ver

a respeito COX, (1999, p. 8), JONES, (1999, p. 148 e 160) e EGAN (2013 p. 1-2).

5 Sobre

a interpretação de caráter dogmático e de cunho passivizador e reformista do PCI, consulte-se DIAS, 2012. 6 Sempre

que possível, será inserido o original em italiano, referenciado como de costume nos estudos gramscianos que tomam por base a edição crítica dos cadernos carcerários organizada por Valentino Gerratana. Ou seja, com a indicação da página, caderno (Q) e parágrafo (§), padrão que será seguido doravante. O trecho original em italiano contem a seguinte formulação: “La resistenza passiva di Gandhi è una guerra di posizione, che diventa guerra di movimento in certi momenti e in altri guerra sotterranea: il boicottaggio è guerra di posizione, gli scioperi sono guerra di movimento, la preparazione clandestina di armi e di elementi combattivi d’assalto è guerra sotterranea”. (GRAMSCI, 1975: p. 175, Q1, §134). 7A

tradução é de minha autoria. No original em italiano, o trecho é assim encontrado: “Filo conduttore di questi interventi, che, come vuole la tradizione del giornalismo socialista, non sono quasi mai firmati, ma solo siglati, è la guerra e gli effetti che essa produce sulla vita sociale, culturale, morale ed economica del paese. Come è stato giustamente osservato, l’attività giornalistica di Gramsci è soprattutto «una battaglia per la verità»: denuncia i lauti profitti degli industriali, le speculazioni dei commercianti, l’esosità dei padroni di

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Outono21 casa, ma più in generale cerca di smontare quel complesso di bugie e di verità preconfezionate che costituiscono il cemento con cui la classe dirigente cerca di costruire l’unione sacra all’interno del paese allo scopo di sostenere lo sforzo bellico. Dunque è soprattutto una lotta contro le menzogne della propaganda patriottica, particolarmente intensa tra la fine del 1915 e i primi sei mesi del 1916, quando l’idea di una guerra rapida e vittoriosa si rivela una mera illusione e l’esercito italiano si ritrova, come già era accaduto un anno prima ai suoi alleati, impantanato nelle trincee della guerra di posizione. E come negli altri paesi europei, sono gli intellettuali a mobilitarsi per diffondere gli ideali patriottici e per infangare le ragioni degli avversari, affiancando alla guerra combattuta dai soldati, una non meno nefasta «guerra dei chierici», in cui anche l’arte, la cultura e la scienza vestono i panni nazionali e cessano di essere considerati patrimonio universale. Ma il caso italiano presenta delle peculiarità: trattandosi di una guerra offensiva, almeno fino a Caporetto, non sentita né voluta dalla maggioranza della popolazione, gli intellettuali assumono non tanto il compito di difendere un insieme di valori precostituiti, come accade in Francia, in Inghilterra e anche in Germania, «quanto di inventarli ex novo»”. 8 Norman

Angell (1872-1967), jornalista criticado por Gramsci que logrou grande influência no período posterior á Primeira Guerra Mundial. Seu livro, A grande ilusão, escrito nos anos 1910, simbolizou o pensamento liberal identificado com a paz ao defender a tese de que a guerra seria indefensável economicamente dada a interdependência econômica entre as nações. Portanto, haveria muito prejuízos do que ganhos com a manifestação belicosa para os indivíduos dos Estados envolvidos. Ver a respeito ANGELL, 2002. 9 Esbocei

este nexo em outro momento de modo mais aprofundado (PASSOS, 2014).

10 O

trecho no original: “Ma l’osservazione più importante da fare a proposito di ogni analisi concreta dei rapporti di forza è questa: che tali analisi non possono e non debbono essere fine a se stesse (a meno che non si scriva un capitolo di storia del passato) ma acquistano un significato solo se servono a giustificare una attività pratica, una iniziativa di volontà. Esse mostrano quali sono i punti di minore resistenza, dove la forza della volontà può essere applicata più fruttuosamente, suggeriscono le operazioni tattiche immediate, indicano come si può meglio impostare una campagna di agitazione politica, quale linguaggio sarà meglio compreso dalle moltitudini ecc. L’elemento decisivo di ogni situazione è la forza permanentemente organizzata e predisposta di lunga mano che si può fare avanzare quando si giudica che una situazione è favorevole (ed è favorevole solo in quanto una tale forza esista e sia piena di ardore combattivo); perciò il compito essenziale è quello di attendere sistematicamente e pazientemente a formare, sviluppare, rendere sempre più omogenea, compatta, consapevole di se stessa questa forza. Ciò si vede nel la storia militare e nella cura con cui in ogni tempo sono stati predisposti gli eserciti ad iniziare una guerra in qualsiasi momento. I grandi Stati sono stati grandi Stati appunto perché erano in ogni momento preparati a inserirsi efficacemente nelle congiunture internazionali favorevoli e queste erano tali perché c’era la possibilità concreta di inserirsi efficacemente in esse” (GRAMSCI, 1975: p. 1588-1589, Q 13, § 17)

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