Gravidez na adolescência como fator de risco para baixo peso ao nascer no Município do Rio de Janeiro, 1996 a 1998

July 11, 2017 | Autor: Maria Leal | Categoria: Rio de Janeiro, Public health systems and services research
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Rev Saúde Pública 2001;35(1):74-80 www.fsp.usp.br/rsp

Gravidez na adolescência como fator de risco para baixo peso ao nascer no Município do Rio de Janeiro, 1996 a 1998* The pregnancy during adolescence as a risk factor for low birth weight, Brazil Silvana Granado Nogueira da Gamaa, Célia Landmann Szwarcwaldb, Maria do Carmo Leala e Mariza Miranda Theme Filhac* a

Departamento de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública – Fiocruz. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. bDepartamento de Informações em Saúde do Centro de Informação Científica e Tecnológica – Fiocruz. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. cCoordenação de Programas de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde do Município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil Descritores Gravidez na adolescência.# Fatores de risco.# Recém-nascido de baixo peso.# Fatores socioeconômicos. Estilo de vida. Nutrição da mãe. Coeficiente de fecundidade. Idade materna.

Resumo Objetivo Observar a evolução das taxas de fecundidade e identificar o papel da gravidez na adolescência como fator de risco para o baixo peso ao nascer (BPN). Métodos Em uma amostra de nascimentos provenientes do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC/RJ), entre 1996 e 1998, os fatores determinantes do BPN foram analisados em dois grupos de mães, de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos. Foram estimadas as associações entre as variáveis pela razão dos produtos cruzados – Odds Ratio (OR) e respectivos intervalos de confiança. Utilizaram-se também procedimentos de regressão logística. Resultados O BPN foi significativamente maior entre o grupo de mães adolescentes do que no grupo de 20-24 anos. O pré-natal não foi realizado em 13% das adolescentes, enquanto 10% do outro grupo não tiveram atendimento. Quando realizado o prénatal, as adolescentes tiveram menos consultas. No grupo de adolescentes, o percentual de prematuros foi significativamente maior que no outro grupo. Foram observadas diferenças por tipo de maternidade (públicas/privadas), com predomínio de uso das públicas pelas adolescentes. A análise de regressão logística mostrou que existe um efeito da idade materna na explicação do BPN, mesmo quando controlado por outras variáveis. Conclusões Os achados sugerem que investigações sobre os mecanismos explicativos da associação entre o BPN e a gravidez na adolescência devem ser realizadas, abrangendo fatores socioculturais como pobreza e marginalidade social, assim como os de natureza biológica e de alimentação na gravidez.

Keywords Pregnancy in adolescence.# Risk factors.# Infant, low birth weight.# Socioeconomic factors. Life stile. Mother nutrition. Pregnancy rate. Maternal age.

Abstract

Correspondência para/Correspondence to: Silvana Granado Nogueira da Gama Escola Nacional de Saúde Pública Rua Leopoldo Bulhões, 1.480, 8º andar 21041-210 Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ E-mail: [email protected]

*Pesquisa financiada pelo CNPq; Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj); Serviço Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Recebido em 20/10/1999. Reapresentado em 24/5/2000. Aprovado em 16/10/2000.

Objective To identify the role of pregnancy during adolescence as a risk factor to low birth weight (LBW).

Gravidez na adolescência e baixo peso ao nascer Gama SGN da et al.

Rev Saúde Pública 2001;35(1):74-80 www.fsp.usp.br/rsp

Methods A stratified sample of live births from the Information System of Live Births in the municipality of Rio de Janeiro, in the period 1996-98, was selected. The risk factors of LBW were analyzed for the two strata composed by the mother age, 15-19 and 20-24 years old. For the statistical analysis, odds ratios and correspondent confidence intervals were estimated. Logistic regression procedures were used. Results The LBW was significantly greater among the adolescent mothers group than the 20-24 years one. Regarding prenatal care, adolescents had a lower number of appointments and a higher percentage of no attendance. More than 50% of the older mothers completed high school, but only 31.5% among the younger mothers had the same level of instruction. The percentage of premature live births in this group was significantly greater. Differences were observed by type of hospital (public or private) and there was a predominant use of public hospitals by the adolescents. The logistic regression analysis showed a significant effect of the mother age on LBW, even when controlled for other variables. Conclusions The results suggest that further investigation on the mechanisms that underlie the association between LBW and pregnancy during adolescence should be carried out, taking into consideration sociocultural factors such as poverty and social deprivation, as well as biological and nutritional factors during pregnancy.

INTRODUÇÃO Diversos autores vêm chamando a atenção para a associação entre a gravidez na adolescência e o risco maior de baixo peso ao nascer (BPN).5,14 Além da maior chance dos filhos de mães adolescentes nascerem com baixo peso (menor do que 2.500 g), alguns estudos revelam maiores taxas de morbidade e mortalidade nesse grupo.5 Dentre os mecanismos explicativos, encontram-se os de natureza biológica, como imaturidade do sistema reprodutivo, ganho de peso inadequado durante a gestação e fatores socioculturais, como pobreza e marginalidade social, combinados ao estilo de vida adotado pela adolescente.14 Apesar da relevância de ambos os motivos – biológicos e socioculturais –, a falta de cuidados pré-natais das adolescentes, associada a pobreza e níveis baixos de instrução, tem mostrado papel preponderante na cadeia causal de recémnascidos de baixo peso. Entre os inúmeros danos relacionados à gestação precoce, são apontados a exposição a abortos16 e os distúrbios de ordem afetiva, tanto em relação à mulher quanto ao bebê.13 Uma maior propensão à baixa auto-estima e à depressão também vêm sendo citadas como contribuintes para resultados adversos durante a gestação, o parto e o período neonatal,1 além de conseqüências emocionais advindas de relações conjugais instáveis.11

prematuridade e o BPN permanecem como as principais causas de morbidade e mortalidade no primeiro ano de vida. Esses agravos têm se manifestado mais intensamente nas jovens com menos de 20 anos de idade, particularmente naquelas com idade inferior a 15 anos.15 A gravidez na adolescência tem sido alvo de preocupação de técnicos e governantes, não só em países pobres, mas também nos desenvolvidos. Nos Estados Unidos, o problema da gravidez precoce tomou tamanha proporção que, em 1996, foi considerada epidêmica.11 No Brasil, a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde2 mostra o crescimento da fecundidade de mulheres de 15-19 anos, em confronto à queda significativa no grupo de 20-24. Essa tendência se acentua nas décadas de 80 e 90. Diferenciais nas taxas de fecundidade em adolescentes são encontrados por áreas geográficas e pelos diversos grupos sociais, afetando mais regiões rurais e mulheres de baixa condição econômica e menor nível de instrução.4 O presente trabalho tem como objetivos observar a evolução das taxas de fecundidade por faixa etária da mãe, entre 1980 e 1995, no Município do Rio de Janeiro, e investigar o papel da gravidez na adolescência como fator de risco para o BPN, por meio dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), no período 1996-1998. MÉTODOS

No que diz respeito ao recém-nato, a mortalidade infantil tem sido referida como o principal prejuízo da gravidez na adolescência. Apesar dos inúmeros avanços nos diagnósticos pré-natais, a

Na primeira etapa do presente trabalho, analisa-se a evolução temporal das taxas de fecundidade por grupo etário da mãe, no período 1980-1995.

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Para o cálculo das taxas de fecundidade, foi utilizado o número de nascidos vivos disponível nas Estatísticas de Registro Civil.7 Os dados populacionais selecionados específicos para o sexo feminino, pelas faixas de idade 10-14, 15-19, 20-24, 25-29, 30-34, 35-39 e 40 e mais anos, foram obtidos a partir dos Censos de 1980 a 19916 e da contagem populacional de 1996 do IBGE.8 As populações foram estimadas para os anos intercensitários, com base nas taxas anuais médias de crescimento, via interpolação geométrica. Para cada grupo etário, foram calculadas as taxas de variação anual, a partir do ajuste de uma regressão exponencial, às taxas de fecundidade no período de 1980-1995. Na segunda etapa, o estudo foi desenvolvido a partir de uma amostra de nascimentos vivos entre os anos de 1996 a 1998 no Município do Rio de Janeiro. Os dados obtidos são provenientes do SINASC, fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Os nascidos vivos entre 1996 e 1998 foram estratificados segundo a faixa de idade da mãe, 15 a 19 anos e 20 a 24 anos, excluindo-se as demais do universo a ser pesquisado. Tomaram-se essas faixas etárias para estudo por suas semelhanças, tratando-se de um grupo adolescente em comparação com outro recém-saído dessa fase. O tamanho da amostra em cada estrato foi estabelecido com o objetivo de comparar proporções em amostras de tamanhos iguais, no nível de significância de 5%, e detectar diferenças de pelo menos 1% com poder do teste de 90%, baseando-se em uma proporção de 10% de BPN (
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