Grécia Antiga - Papel da Mulher nas sociedades greco-romanas

July 24, 2017 | Autor: Enio Vieira | Categoria: Ancient History, Historia Antiga, Grecia Antigua
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História Antiga


Família, Sexualidade e papel da mulher nas sociedades greco-romanas


Introdução
Dificilmente se fala destes três temas em separado, pois não há realmente como tratá-los individualmente. A família greco-romana, apesar de fundamentalmente nuclear e patriarcal, difere da concepção atual desta instituição em alguns conceitos, sobretudo no papel da mulher nestas sociedades. Este aspecto se dava não só na vida familiar e cotidiana; também se estendia às representações artísticas, já que quando pensamos, por exemplo, em estátuas gregas, automaticamente nos vem a mente "homens despidos que olham de frente, com as mãos ao lado e o pé esquerdo mais à frente"¹, já que esse era o ideal de beleza e jovialidade grego. Quase nunca pensamos em estátuas femininas, normalmente cobertas por seus leves vestidos. Nessas duas representações acima já podemos ver como os gregos viam nos homens, uma superioridade a ser representada com todo seu vigor.
Falaremos aqui não só da sociedade grega, mas sim da greco-romana. As próprias fontes pesquisadas nos dizem que "os gregos estão em Roma, são o essencial de Roma; o Império Romano é a civilização helenística nas mãos brutais de um aparelho de Estado de origem italiana. Em Roma, a civilização, a cultura, a literatura, a arte e a própria religião provieram quase inteiramente dos gregos ao longo de meio milênio de aculturação"². Após a tomada do mundo grego por Filipe de Macedônia, o Estado desenvolveu formas próprias de governar que diferiam em muito das práticas de governo gregas, porém no âmbito social e privado, a sociedade permaneceu grega.

Casamento
Podemos dizer que hoje vemos o casamento como a culminação do amor de duas pessoas, que pretendem unir-se afetivamente até o fim de suas vidas. Na sociedade grega, a família "era a instituição fundamental, através da qual se organizava grande parte da vida e se assegurava a continuidade"³. Sua função principal era a de distribuição de heranças e dar continuidade a cultura familiar e social. Interessante notar que salvo certas exceções como a famosa obra Édipo-Rei, "a família não ocupa grande espaço na maioria da literatura grega"³.
Essencialmente patriarcal, o homem tinha liderança absoluta no que diz respeito aos assuntos familiares, incluso na aceitação, ou não, de filhos. Era comum o abandono de recém-nascido nas portas de casa, pois "os recém-nascidos só vêm ao mundo, ou melhor, só são recebidos na sociedade em virtude de uma decisão do chefe de família"², sendo o enjeitamento ou rejeição "práticas usuais e perfeitamente legais"².
O que se vê hoje como crueldade, era na época uma necessidade de sobrevivência. Muitas famílias abandonavam seus recém-nascidos por falta de condições financeiras para cria-los. As famílias mais abastadas, no entanto, também praticavam o infanticídio, já que um filho indesejado podia "perturbar disposições testamentárias já estabelecidas"². Também era direito do pai, em caso de já haver finalizado seu testamento, rejeitar ou deserdar de antemão os filhos que poderia vir a ter.
O casamento era um ato privado que "nenhum poder público deve sancionar"². Não havia, portanto, padres e/ou juízes, tampouco documentos assinados para a comprovação de que havia sido selado um matrimônio. No caso de que um juiz tivesse que decidir se um homem ou uma mulher deveriam receber uma herança, se formaria um tribunal para averiguação, "ou ainda testemunhas podiam atestar que haviam assistido a uma pequena cerimônia de evidente caráter nupcial"³.
No Império Romano, o casamento monogâmico foi aos pouco sendo aceito como o comportamento padrão a ser seguido, e a monogamia foi se transformando em o "ideal greco-romano de autodomínio, de autonomia, estava ligado à vontade de exercer também um poder sobre a vida pública (ninguém é digno de governar se não sabe se governar); no Império, a soberania sobre si mesmo deixa de ser uma virtude cívica e torna-se um fim em si"². Se na primeira visão de casamento seu papel era procriar somente, na segunda visão a esposa era uma amiga para toda a vida. Isso não significava que a mulher ascendera ao status igualitário em relação ao sexo masculino, pois ainda cabia à mulher conhecer "sua inferioridade natural"², e um esposo digno deveria tratar suar mulher "como um verdadeiro chefe respeita seus auxiliares devotados, que são seus amigos inferiores"².

Amizade e Sexualidade
Segundo Aristóteles, "a amizade só é possível entre iguais, de tal forma que a relação entre homem e mulher é de um grau inferior".² A companhia entre pessoas do menos sexo era considerado uma necessidade física e também espiritual. Na Grécia Antiga, especialmente, o comportamento socialmente aceito era o da bissexualidade. A heterossexualidade era malvista, pois o relacionamento entre dois homens gregos representava o "aspecto afetivo e, em certa medida, intelectual, da vida íntima do homem"². Esse comportamento era o aceito na aristocracia, pois nas "classes baixa e média... embora a bissexualidade fosse aceita em toda a sociedade, a família tendia institucionalmente a monopolizar"². Ainda assim o patriarcalismo era o comportamento padrão, já que o adultério ainda era definido somente no caso de "relação sexual entre uma mulher casada e um homem que não era seu marido".³ Uma "mulher ser infiel não constitui um ridículo, e sim uma desgraça, nem maior nem menor do que se sua filha engravidasse ou um de seus escravos faltasse ao dever"². No caso de adultério, o homem era visto como um fraco, e para não se tornar mal falado na cidade "o único meio era ser o primeiro a denunciar publicamente a má conduta dos seus"².
Apesar da visão moderna que a antiguidade era um paraíso de orgias e festas, havia sim certos padrões comportamentais no que diz respeito ao sexo. Reconhecia-se um libertino "pela violação de três proibições: fazer amor antes do cair da noite; fazer amor sem criar penumbra; fazer amor com uma parceira que ele havia despojado de todas as vestes"², no que diz respeito às classes altas do Império Romano. Outro ponto interessante é a visão, ainda presente nos dias de hoje, que os homens ativos, independentes do sexo do parceiro, é que são considerados os machos. A relação sexual visava somente o prazer da parte ativa, e "o macho que leva a fraqueza servil a ponto de colocar a boca a serviço do prazer de uma mulher e o homem livre que não se respeita e leva a passividade"² eram malvistos a ponto de esses comportamentos serem considerados "infâmias supremas"². As relações homossexuais eram bem aceitas se fossem entre um homem mais velho livre "com um escravo ou um homem de baixa condição"², além de meninos mais novos, o que era visto como um "pedaço menor".²
Não só o heterossexualismo era como condenável, como a paixão era "ainda mais temível, pois torna um homem livre escravo de uma mulher", e demonstrava a falta de controle de homem livre e racional para com sua razão, e diziam que este como havia perdido a cabeça e virado um escravo de uma mulher.

As mulheres gregas
As mulheres da Grécia, principalmente as atenienses, eram consideradas objetos que poderiam ter suas vidas dispostas da forma que seus tutores, ou seja, seus pais ou maridos desejassem. Não eram consideradas cidadãs, viviam sob o domínio dos homens e cuidavam da casa, administrando os trabalhos domésticos e mantendo as tradições religiosas da família. Quando se casavam, substituíam os costumes da família paterna, adotando os costumes do marido. O casamento era, por regra, era uma forma de aliança entre famílias na qual a mulher era bem de troca, tal como outras riquezas móveis, que pertenciam sempre a um homem. O convívio amoroso que resultava em casamento era raro, embora pudesse ocorrer, porém o objetivo do casamento continuava sendo apenas a preservação das famílias. Uma vez casada, a mulher estava submetida às ordens de seu marido, que lhe dava a tarefa de administrar o lar seguindo suas orientações; desta forma, a mulher não tinha autonomia para resolver nada, passava seus dias reclusa em uma sala onde podia apenas praticar suas atividades domésticas, como trabalhos manuais, cuidar dos filhos, e outras tarefas deste porte.
A educação das meninas ficava a cargo das mulheres mais velhas da casa: mãe, avó e criadas, com quem aprendiam a cozinhar e a tecer, e frequentemente também um pouco de leitura, cálculo e música, apesar de isso não lhes ser imprescindível. Havia, no entanto, exceções a esse padrão de educação feminina na escola dirigida por Safo, poetisa lírica, onde moças de famílias ricas recebiam educação, entre a infância e o casamento. Nessa escola, que funcionava como grupo fechado, aprendia-se a dança, a música instrumental, canto e também a tocar lira. Realizavam uma serie de festas, cerimônias religiosas e banquetes. Praticavam também esportes atléticos. Há vestígios dessa escola que teria existido na ilha de Lesbos, fins do século VII aC, além de noticias de outras escolas em Pérgamo, já na época helenística.
Xenofonte, autor do século IV a.C., retrata a condição feminina no casamento em sua obra Econômico, a partir da ótica de um marido, Iscomaco, que conta a Sócrates como instruiu sua esposa para que ela pudesse cuidar dos assuntos que lhe diziam respeito, mostrando-lhe os motivos do casamento e as tarefas do marido e da mulher:
"Eu te escolhi e teus pais me escolheram entre outros partidos. E nós cuidaremos de educar nossos filhos da melhor maneira possível, pois teremos a felicidade de encontrarmos neles os defensores e nutridores da nossa velhice. Eu penso que os deuses escolheram o casal que chamamos macho e fêmea a partir de uma reflexão, e para o bem da comunidade. Em primeiro lugar os casais se unem para procriar; depois, entre os humanos, os pais, quando velhos serão alimentados pelos filhos; e como os homens não vivem ao ar livre como os animais, precisam de abrigos. E se os homens querem ter coisas para trazer para os seus abrigos, precisam fazer trabalhos ao ar livre, de onde se traz o que é necessário para a vida, a agricultura e a criação de animais. E quando as provisões chegam ao abrigo, é preciso alguém para conservá-las. Há outros trabalhos que só podem ser feitos em lugares fechados: cozinhar, tecer e educar as crianças. Ora, como essas duas funções, do interior e do exterior, exigem atividade e cuidado, os deuses tornaram a natureza da mulher própria aos trabalhos do interior, e a do homem própria para os trabalhos do exterior. Será necessário que fique na casa, que mande sair o grupo de empregados que tenha o que fazer fora, que supervisione o trabalho daqueles que ficam na casa, que receba as provisões que trouxerem, distribuindo as que precisarem ser consumidas e guardando as outras, cuidando para não gastar as reservas do ano em um mês. Quando trouxerem a lã, deverá cuidar para que teçam roupas para aqueles que precisam. Deverá também cuidar da conservação dos alimentos armazenados. Uma de suas ocupações, e da qual talvez não goste, será tratar dos empregados que adoecerem."6
Mesmo levando uma vida tão submissa não encontramos relatos de insubordinação, no que podemos concluir que o comportamento feminino, em vias gerais, era a resignação. Dentro deste contexto, encontramos casos de mulheres que tinham autorização de seus maridos para saírem de casa. Porém, era apenas nos casos das famílias menos favorecidas economicamente, que por extrema necessidade tinham que provir o sustento da família, como o exemplo a mulher de um pescador, que poderia vender o peixe que seu marido pescava. As diferenças entre as classes sociais alteravam, modificando alguns hábitos, não tornando a vida dessas mulheres mais dignas. Elas eram desprovidas do direito à cidadania dentro de sua civilização. Suportavam o desprezo dos seus maridos que as utilizavam apenas para fins de procriação, não havendo uma relação afetuosa entre o casal. À mulher cabia a função de gerar filhos para dar continuidade ao patrimônio, e fariam a manutenção do culto doméstico, protegeriam os pais na velhice e dando continuidade à ordem cívica e ao equilíbrio entre o espaço público e espaço privado, fatores essenciais para a manutenção da sociedade grega.



Conclusão
Com todos os dados coletados, podemos realmente concluir que, além da reprodução, havia pouco, ou nenhum, espaço para a mulher greco-romana em outros aspectos da sociedade. Desde pequenas eram criadas para cuidarem da casa, com "brinquedos que se referiam à vida que teriam como adultas"4. Enquanto os meninos, em especial em Esparta, eram treinados desde muito jovens às atividades militares e exercícios físicos, as mulheres se casavam já em idade muito jovem, logo após atingirem a puberdade. Algumas "garotas de famílias com mais recursos podiam aprender também a tocar e dançar"4. Para os gregos, o homem era o genuíno reprodutor da espécie humana, já que "acreditavam que o sêmen encontrava na mulher apenas um terreno para que uma criança fosse produzida"4. No caso de que um casal fosse incapaz de conceber um herdeiro, a culpa recaía automaticamente na mulher, que era considerada mal reprodutora e "por esse raciocínio, o marido podia divorciar-se justificadamente"4. Por conta da precariedade da época, muitas mulheres faleciam durante o trabalho de parto, e o marido tinha o direito de casar-se com novas esposas, sempre com o objetivo de gerar novos herdeiros e garantir sua linhagem. O pai era responsável pela educação dos filhos, salvo no caso de orfandade, em que a mulher, morto o seu esposo, poderia ser responsável pelas crianças, porém "sob os cuidados de um homem da família que atuava como tutor"4.













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Flávia Matos – 911203172
Bibliografia
CARTLEDGE, Paul. História Ilustrada. Grécia Antiga. 2ª Ed.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2009. pp 366-376

VEYNE, Paul. História da Vida Privada. Vol.1
São Paulo: Companhia das Letras, 1989. pp 11 - 184

FINLEY, M.I. Os Gregos Antigos.
Lisboa: Edições 70, 1963. pp 101 - 128 (e imagens)

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 5ª Ed.
São Paulo: Contexto, 2011. pp 42 - 47

GOMBRICH, E.H. Story of Art. Pocket Edition
London: Phaidon Press Limited, 2010. (imagens)

XENOFONTE. Econômico. VII, 4-39, pp. 364-369.

THEML, Neyde. O Público e o Privado na Grécia do VIIIº ao IVº século a.C: o Modelo Ateniense. Rio de Janeiro. Sette Letras, 1998, p. 88. 


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