Guerra e técnica nas perspectivas de Ernst Jünger e Carl Schmitt

June 29, 2017 | Autor: Kaio Felipe | Categoria: Conservative Revolution, Ernst Jünger, Carl Schmitt, Guerra
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GUERRA E TÉCNICA NAS PERSPECTIVAS DE ERNST JÜNGER E CARL SCHMITT Kaio Felipe Doutorando em Sociologia – IESP/UERJ – CNPq [email protected]

1. INTRODUÇÃO A Revolução Conservadora foi um movimento intelectual que ganhou proeminência na Alemanha durante a República de Weimar (1918-1933). Segundo Jeffrey Herf em sua obra O Modernismo Reacionário (1984), os revolucionários conservadores eram pensadores que mesclavam nacionalismo com socialismo (rejeitando, porém, o marxismo, pois este tinha um viés cosmopolita) e evocavam a primazia da política, no sentido de atenuar a distinção entre guerra e política e colocar o protesto cultural a serviço de um Estado tecnologicamente avançado e poderoso. Ao contrário do tom bucólico e anti-industrial dos nacionalistas alemães do período anterior à Primeira Guerra Mundial, os intelectuais da Revolução Conservadora aceitavam – mas, como veremos, de forma ambígua – a incorporação da técnica em prol da expansão da nação alemã – porém, permanecia o tom anticapitalista e crítico da “civilização ocidental”. Outro tema importante para esse grupo de intelectuais era a guerra, a qual era glorificada a partir de uma perspectiva vitalista (isto é, herdeira da Lebensphilosophie de autores como Nietzsche) e, em alguns casos, até niilista, exaltando o lado criativo na destruição. Pretendo apresentar neste artigo as visões sobre técnica e guerra de dois dos principais representantes da Revolução Conservadora. O primeiro deles é Ernst Jünger (1895-1998), cuja obra, segundo Walter Benjamin, representava a transposição dos princípios da “arte-pela-arte” para o plano da guerra. O ensaio A Mobilização Total (1930) apresenta de forma sintética a visão de mundo de Jünger, marcada não só pela estetização da guerra (que, em seu romance Tempestades de Aço [1920], é apresentada tanto pelas descrições estilizadas das batalhas quanto pela idealização dos soldados), mas também como uma ontologia anti-individualista e uma valorização da técnica, aceitando a reificação (isto é, a “vida própria” que a tecnologia ganhou em relação ao homem), mas colocando-a a serviço de uma nova sociedade, baseada na mobilização total. Carl Schmitt (1888-1985), o segundo autor a ser discutido, também produziu obras fundamentais para a compreensão do estilo de pensamento da Revolução Conservadora. Em O Conceito do Político (1932), Schmitt vê o conflito como necessário à natureza humana e à vida em sociedade; este autor encara a guerra como um pressuposto sempre existente como possibilidade real. Nesta mesma obra o autor

descreve o crescente valor (e avanço) da técnica na sociedade contemporânea. Já em um livro posterior à Segunda Guerra Mundial, O Nomos da Terra (1950), Schmitt faz uma interesse análise da aplicação dos avanços tecnológicos nas guerras do século XX, e o poder muito maior de aniquilação acarretado por eles. A partir de ambos os escritos será possível contrastar suas concepções de técnica e guerra com as de Jünger.

2. A

REVOLUÇÃO

CONSERVADORA:

UM

ROMANTISMO

TECNOLÓGICO? Para compreender melhor o contexto histórico, sociopolítico e intelectual no qual Jünger e Schmitt formularam seu pensamento político, cabe delinear os aspectos principais da Revolução Conservadora. Este movimento foi formado ao fim da Primeira Guerra Mundial por escritores que defendiam uma ideologia nacionalista menos restrita pelo conservadorismo prussiano tradicional. Sua base social era a classe média, a qual reunia diversos grupos que estavam em situação instável diante do rápido desenvolvimento do capitalismo industrial na Alemanha. Os revolucionários conservadores eram movidos pela promessa uma “primazia da política”,

contra o

“materialismo” ou cosmopolitismo liberal, marxista, judaico, francês ou inglês. (cf. HERF, 1993: 34-35) Em sua obra, Jeffrey Herf elencou cinco temas que uniam estes intelectuais: I)

Em primeiro lugar, defendiam virtude do povo (Volk) alemão contra a civilização cosmopolita. Várias dicotomias foram formuladas: entre Kultur e Zivilisation; Volk e Amerikanismus; a comunidade de sangue, raça e tradição cultural contra o liberalismo, o comércio, o parlamento e partidos políticos – encarnados, a propósito, na “europeizada” República de Weimar. Enfim, o nacionalismo era visto pelos revolucionários conservadores como “uma religião secular que prometia uma alternativa a um mundo que sofria de excesso de racionalização capitalista e comunista.” (Ibidem: 49)

II)

Ao contrário do que se poderia imaginar (tendo em vista que formaram o “caldeirão cultural” para o nazismo), a maioria dos intelectuais da Revolução Conservadora não situava o anti-semitismo no centro de sua

visão de mundo. Oswald Spengler, por exemplo, acreditava que “a superioridade alemã se situava nas tradições históricas e nas idéias, e não na biologia.” (Ibidem: 49) Mesmo assim, o judaísmo não era isento de responsabilidade na decadência moral da República de Weimar, pois era associado ao cosmopolitismo, ao capitalismo e ao marxismo. III)

Defendiam a comunidade (Gemeinschaft) como intrinsecamente boa e unida em contraste com a sociedade (Gesellschaft) dividida e fragmentada.

IV)

Clamavam pela reafirmação da expansão exterior e repressão dos sindicatos nos negócios domésticos.

V)

Articulavam a idéia de um socialismo alemão ou nacional, buscando uma terceira via em relação à Rússia e ao Ocidente. Moeller van den Bruck dizia que o socialismo alemão começava onde o marxismo terminava, e Spengler desejava compatibilizar o socialismo com as tradições antiliberais e autoritárias da Alemanha. (cf. Ibidem: 51)

Um aspecto importante sobre a Revolução Conservadora é a postura que alguns de seus representantes adotaram diante dos avanços tecnológicos do Ocidente. Jeffrey Herf cunhou este subgrupo de “modernista reacionário”: por um lado eram herdeiros de uma tradição política da direita, e demonstravam preocupação com a degeneração da Alemanha devido a excesso de civilização, a qual acarretou em um “mundo sem alma” (cf. Ibidem: 24); por outro não recorriam a imagens anti-industriais para desferirem suas crítica aos valores ocidentais. A propósito, o tema do desencantamento do mundo eram recorrente no pensamento social e filosófico da época, estando presente na obra de autores como Weber (mais notavelmente em A Ciência como Vocação), Lukács (A Teoria do Romance) e, para citar um dos “modernistas reacionários”, também Carl Schmitt, como bem observou Pedro Villas Bôas ao comentar a crítica schmittiana ao positivismo jurídico: A perspectiva ideal com a qual Schmitt opõe o direito ao poder da realidade empírica resulta na crítica que o autor faz ao seu tempo, cujo traço principal se revela numa sociedade marcada pela ausência de espírito, de alma. A carência de espírito da Alemanha do início do

século XX é representada como a “época da máquina da, organização, a época mecânica, como Walter Rathenau a denominou no seu Kritik der Zeit (Crítica do tempo) – em um livro que é tão atual que se poderia, depois dele, denominar a época como a da „crítica do tempo‟”. (CASTELO BRANCO, 2011: 133)

Os românticos políticos1 de direita em geral separavam a idéia de Kultur das dimensões humanísticas do Iluminismo alemão, preferindo associá-la a princípios fundamentais supra-históricos: vida, sangue, raça, luta, vontade, sacrifício. Mais do que isso: articularam um conjunto de símbolos culturais no qual a tecnologia se tornava expressão da alma, da Kultur alemã. (cf. HERF, 1993: 60) De acordo com Herf, “a guerra foi um momento decisivo para o anticapitalismo romântico.” (Ibidem: 37). Jünger e Schmitt eram alguns do que demonstravam entusiasmo pela experiência do front: “a carnificina estava dando à luz um homem novo”. Os “modernistas reacionários” possuíam uma relação seletiva com a tradição: ao se referirem ao romantismo, enfatizavam a idéia de vontade e de decisão, e não as imagens anti-industriais. Com isso adaptavam a velha visão romântica para o contexto moderno. (cf. Ibidem: 26-27) Cabe ressaltar que nem todos os revolucionários conservadores eram modernistas reacionários; o antagonismo à tecnologia persistia em parte da direita alemã. Muitos ainda viam uma natureza “diabólica” da máquina, uma “escravização do homem pela criatura”. Exemplo disso é a recepção ambígua de A Decadência do Ocidente (Spengler), considerada por muitos um libelo contra a tecnologia. (Ibidem: 52) De toda forma, como veremos nos escritos de Jünger e Schmitt, é inegável que os intelectuais da “direita revolucionária” muito influenciaram a maneira pela qual o nacional-socialismo conciliou a Innerlichkeit [subjetividade] com a tecnologia moderna. (cf. Ibidem: 28)

3. ERNST JÜNGER: DIE MENSCH-MASCHINE Uma possível forma de adentrar no pensamento de Jünger é apresentando dois trechos de seus diários de guerra transformados em romance: as Tempestades de Aço. 1

Estou utilizando esta expressão tal como ela aparece na obra de Jeffrey Herf, associada a um anticapitalismo que tem elementos tanto reacionários quanto revolucionários, e não com a conotação liberal-idealista em que o “romantismo político” é descrito pelo próprio Carl Schmitt em obra de 1919.

No primeiro deles há uma descrição da guerra que causa uma sensação ambígua no leitor, entre a tensão e o horror: Joguei minha mochila longe e corri para a vala da qual tínhamos vindo. De todos os lados, brotavam feridos no mato bombardeado, atraídos pela possibilidade de se protegerem. A entrada da vala estava horrível, abarrotada de feridos graves e moribundos. Uma figura nua até a cintura, de costas abertas por um ferimento, apoiava-se à parede. Outro, com um naco triangular de cérebro pendurado no crânio, não parava de berrar de forma estridente e tocante. Ali imperava a grande dor, e pela primeira vez eu vislumbrava as profundezas de seu reino através de uma fresta demoníaca. E as explosões não paravam. (JÜNGER, 2013: 37-38)

A propósito, vale notar que o estilo literário de Jünger era o realismo mágico, o qual “encontrou sua mais clara expressão nas descrições de guerra. Aí estavam „sínteses‟ aparentemente infindáveis de fogo e sangue, precisão e paixão, racionalidade e magia, forma externa e vontade oculta.” (HERF, 1993: 98-99) Ao final da batalha descrita na passagem anterior, da qual o protagonista-narrador sai ferido, há um trecho que revela um fervor patriótico que ultrapassa a empolgação aventureira (a qual, aliás, havia levado Jünger à África no ano anterior à guerra): O trem nos levou até Heidelberg. Ao ver a montanha do Neckar coroada pelas cerejeiras em flor, fui tomado por um forte sentimento patriótico. Sim, como era belo aquele país, por certo digno de que se sangrasse e morresse por ele. Eu jamais havia sentido sua magia daquele jeito. Pensamentos bons e sérios me vieram à mente e eu pressenti pela primeira vez que a guerra significava mais do que uma aventura. (JÜNGER, 2013: 40)

É possível notar nesta passagem que a experiência do front era a utopia concreta de Jünger: ele “celebrava a Fronterlebnis como bem-vinda libertação, já há muito retardada, da segurança sufocante da classe média guilhermina de antes da guerra.” (HERF, 1993: 87) Seus livros festejavam “um ideal heróico de soldados imunes ao medo da morte e ao horror de matar”. (Ibidem: 87) A concepção de Ernst Jünger sobre a guerra, inspirada na Lebensphilosophie (Nietzsche, por exemplo), aproxima-se do sentimento oceânico descrito por Freud: há certo misticismo e um anseio de um vínculo com o todo – no caso, a comunidade de soldados. (cf. Ibidem: 89-90) A “experiência interior” de guerra significava para Jünger uma libertação da sociedade de classe média, do isolamento individual e das emoções da piedade e da compaixão:

A aceitação “heróica” da tempestade de aço acompanha a capacidade de enxergar o próprio corpo como uma máquina além do prazer, da dor e da emoção. Jünger representa uma espécie nova de romantismo político, que liga a tecnologia às forças primordiais da vontade e assim salva esse “mecanismo morto” dos ataques das correntes antitecnológicas do romantismo alemão. Em vez de desculpar ou de negar a realidade da subordinação da guerra e do trabalho à racionalização industrial, Jünger, como “realista heróico”, recebia com agrado esse processo que prometia libertação das feições que ele mais detestava da sociedade burguesa: a razão e o sentimento. (Ibidem: 94)

O ensaio A mobilização total volta ao tema da guerra, mas já aponta para horizontes mais ambiciosos do que a estilização e a subjetivação da experiência do front. O texto começa atestando a peculiaridade da Primeira Guerra Mundial – “nela, o gênio da guerra conseguiu atingir e permear o espírito do progresso.” (JÜNGER, 2002: 190) Segundo o autor, a idéia de progresso “é a grande igreja do povo do século XIX – a única que pode gozar de autoridade efetiva e de crença acrítica.” (Ibidem: 192) O legado da guerra de 1914 foi precisamente a destruição da crença de que o progresso técnico e científico anunciaria uma era de paz. (cf. HERF, 1993: 109) Em seguida, Jünger apresenta uma tese intrigante, mas verossímil: “a guerra mundial e a revolução mundial” estão entrelaçadas uma com a outra “de modo muitíssimo mais estreito do que parece à primeira vista.” (JÜNGER, 2002: 191) Jünger então traz à tona o conceito que dá nome ao seu texto – a mobilização total. Antes de tudo, cabe mostrar o que seria para este autor a mobilização parcial, isto é, a forma como a sociedade e a própria guerra funcionavam até o fim do século XIX: Já vão longe os tempos em que bastaria enviar aos campos de combate algumas centenas de milhares de sujeitos alistados sob um comando confiável, algo assim como o que é descrito pelo Cândido, de Voltaire, tempos em que, caso sua majestade houvesse perdido uma batalha, manter a tranqüilidade era a primeira obrigação civil. Mas, ainda na segunda metade do século XIX, guerras podiam ser preparadas, conduzidas e ganhas pelos gabinetes conservadores, ante os quais a representação popular era indiferente ou mesmo antipática. (JÜNGER, 2002: 193)

Após as transformações sociais que antecederam a Primeira Guerra (e por ela foram consolidadas), o cenário é bem diverso: o que caracterizava o século XX era o processo de mobilização total dos recursos sociais e tecnológicos pelo Estado. Para Jünger, a Primeira Guerra Mundial teve como legado a crescente transformação da vida

em energia e da guerra em gigantesco processo de trabalho. (cf. HERF, 1993: 109-110) A mobilização total é vista por este autor, portanto, como uma grande corrente de energia que se ramifica em todas as camadas e esferas sociais: Assim: com a perda de limites claros entre as classes sociais e o corte dos privilégios aos nobres, vai sumindo, ao mesmo tempo, o conceito da casta guerreira; a defesa armada do país não é mais a obrigação e a prerrogativa do soldado de profissão somente, mas torna-se tarefa daqueles que, em geral, são aptos ao serviço militar. Assim: também a imagem da guerra como um negócio armado, cada vez mais, deságua na imagem amplificada de um gigantesco processo de trabalho. Ao lado dos exércitos que se entrechocam nos campos de batalha, surgem os novos tipos de exército: o do trânsito, o da alimentação, o da indústria armamentista – o exército do trabalho em geral. (JÜNGER, 2002: 195)

Em outras palavras, para Jünger a guerra mundial trouxe uma mobilização sem precedentes. Uma das conseqüências foi a crescente planificação da economia, como no fascismo italiano e no comunismo soviético. A liberdade individual, para ele um direito “desde sempre questionável” (Ibidem: 193), vinha sendo solapada por uma crescente engenharia social; o plano qüinqüenal adotado na União Soviética era exemplo disso. Outro resultado da guerra de 1914-1918 foi o fim da distinção entre civis e militares, entre combatentes e não-combatentes; como veremos na discussão de O Nomos da Terra (Schmitt), um ataque aéreo não faz distinção entre ambos. Diante desse novo tipo de ameaça, é preciso uma mobilização total, “que se estende ela mesma até a criança de berço, a qual está ameaçada como todo mundo, aliás, ainda mais fortemente.” (Ibidem: 198) O seguinte trecho explicita esta tese: A mobilização total é consumada por ela mesma muito mais do que por nós; ela é, na guerra e na paz, a expressão da reivindicação misteriosa e compulsória à qual nos submete essa vida da época das massas e das máquinas. Assim, acontece que cada vida individual torna-se, de maneira cada vez mais clara, a vida de um trabalhador e que, às guerras dos nobres, dos reis, e dos cidadãos, seguem-se as guerras dos trabalhadores – guerras de cuja estrutura racional e de cuja impiedade o primeiro grande conflito do século XX já nos deu uma noção. (JÜNGER, 2002: 198)

A guerra é vista aqui como um mecanismo automático: segue leis próprias e rigorosas que não poupam nem os vencedores. Além disso, as forças contrárias à guerra paradoxalmente acabam por reforçar a mobilização total. Por exemplo, muitos pacifistas

e “humanitários” lutaram na guerra, dentre eles o romancista Henri Barbusse (18731935), para quem este conflito era “a única possibilidade de corresponder às suas idéias, uma vez que, em sua consciência, ela se refletia como uma luta do progresso, da civilização, da humanidade, sim, da própria paz contra um elemento resistente a tudo isso.” (Ibidem: 208) Nesse sentido, Jünger sugere que um dos motivos da derrota da Alemanha na guerra foi que seu regime monárquico não conseguia gerar uma mobilização maior do que as potências ocidentais, em particular os Estados Unidos. Para o autor, a civilisation é capaz de um poder propagandístico bem maior do que a Kultur, e a democracia envolve mais a população na guerra do que um regime oligárquico. Aliás, o próprio estopim da guerra, o assassinato de Sarajevo, desencadeou uma onda de excitação bem maior que a violação da neutralidade belga, pois o “direito de autodeterminação dos povos” possui um significado simbólico bem mais intenso do que o princípio de legitimidade. Jünger então faz uma crítica à ideologia das Potências Centrais (isto é, o II Reich alemão e o Império Austro-Húngaro): “misto de falso romantismo e de liberalismo deficiente.” (Ibidem: 203) Já no final deste ensaio Jünger tece observações instigantes sobre a massificação da sociedade moderna, a qual está interligada com o fenômeno da mobilização total. Este é um dos pontos mais atuais e intrigantes do texto, pois aponta para a tese de que a mobilização total é um fenômeno não específico da Alemanha ou mesmo da Europa, mas que é generalizado, estando presente até mesmo na democracia norte-americana. O verdadeiro “progresso” do mundo moderno não é o polimento dos costumes ou a sofisticação da cultura, mas o desenvolvimento industrial e da capacidade de prontidão: Ao mesmo tempo cresce o valor das massas. A medida de assentimento, a medida de publicidade, torna-se o fator decisivo da política. Em particular o socialismo e o materialismo são as duas grandes moendas entre as quais o progresso tritura o resto do velho mundo e, por fim, a si mesmo. Por mais de um século, a “direita” e a “esquerda”, como que em um jogo de bola, lançaram de lá para cá as massas deslumbradas pela ilusão de ótica do direito ao voto. Sempre pareceu que uma das partes acreditava poder responder de maneira diferente às reivindicações da outra parte. Mas hoje, em todos os países, revela-se, de modo sempre mais evidente, o fato de que a identidade deles e mesmo o sonho de liberdade desvanecem como que espremidos entre as garras de aço de um alicate. (JÜNGER, 2002: 213)

Desta forma, há neste ensaio não apenas um elogio da mobilização total, mas também certo espanto: “Cresce ininterruptamente o caráter abstrato e, portanto, também a crueldade de todas as relações humanas.” (Ibidem: 212) É compreensível, portanto, que do ponto de vista político Ernst Jünger buscasse a salvação das almas, a autenticidade e a auto-realização por meio da política – justamente as tradições românticas e apolíticas que Max Weber, em A Política como Vocação, advertira que deveriam permanecer distantes da política. (cf. HERF, 1993: 91) Jünger atacava tanto o liberalismo quanto o conservadorismo tradicional, e defendia uma conciliação cultural do nacionalismo com a vida moderna: Nenhuma outra figura da direita de Weimar fez mais que Jünger para estimular o que chamei de tesouro perdido da tradição modernista reacionária, isto é, a Fronterlebnis. Na opinião dele, o propósito da política era tornar permanente a Fronterlebnis. (...) Nos termos weberianos, a política cultural de Jünger era destinada tanto a evitar a transformação da comunidade masculina carismática das trincheiras em algo rotineiro, quanto a declarar a superioridade da política da ética absoluta sobre a ética da responsabilidade. (Ibidem: 97)

Além desta concepção voluntarista da política, também no domínio da técnica Jünger apresenta uma concepção com fortes traços vitalistas: não vê conflito algum entre a tecnologia e uma nietzschiana vontade de metas mais altas e profundas. É possível afirmar que este autor possuía uma perspectiva anti-materialista (portanto antimarxista e anticapitalista) combinada com um esteticismo amoral da forma tecnológica, em detrimento das paisagens bucólicas evocadas pelos românticos e antimodernos. (cf. Ibidem: 95) Apesar de Jünger jamais ter se filiado ao Partido Nacional-Socialista, não seria exagero (embora possa ser controverso) alegar que os nazistas eram jüngerianos: eles lhe foram gratos por ter “libertado” os jovens alemães da hostilidade à tecnologia, à industrialização e ao urbanismo. Por exemplo, Tempestades de Aço, ao mesmo tempo em que glorificava a guerra, também exaltava o poder de destruição cada vez maior da tecnologia, ainda que este deixasse o heroísmo dos soldados (por exemplo, no combate corpo-a-corpo) em segundo plano: “O efeito das descrições de Jünger é redimir os sacrifícios, encorajar a submissão ao destino e, ironicamente, impedir a vitória de uma máquina sem vida, apresentando a imensidade de sua capacidade destruidora.” (Ibidem: 100)

Por outro lado, há que se considerar que o etos aristocrático impedia Jünger de aderir sem reservas à “guerra tecnológica”; não por acaso, o seu relato autobiográfico da guerra tenta evocar a heroicidade nas cenas de batalhas corpo-a-corpo. Além disso, para este autor cabe ao soldado não temer o perigo, e aceitá-lo como parte integrante da vida, reconhecendo seu elemento trágico e desafiador.2 De toda forma, Jünger dava um passo além dos demais revolucionários conservadores ao alegar que a guerra servia como o palco em que a principais dicotomias da modernidade alemã, Kultur versus Zivilisation ou Gemeinschaft versus Gesellschaft, ficavam reconciliadas: Tentaremos pôr de lado as objeções de um romantismo mal orientado que encara a máquina em conflito com a Kultur. A máquina e o americanismo são duas coisas diferentes. Se a nossa era de fato possui uma cultura, será pelo uso das máquinas, exclusivamente, que estará em condições de expandir ou de defender seu espaço vital. (JÜNGER apud HERF, 1993: 102)

Eis um aspecto fundamental do pensamento político de Jünger, que talvez seja sua principal contribuição “modernista” à Revolução Conservadora: ele argumentava que “a aceitação da modernidade tecnológica não requeria a adoção de uma visão mais todoabrangente de mundo moderno, que incluísse o liberalismo, o marxismo, o racionalismo ou a liberdade individual.” (HERF, 1993: 103) A ode de Jünger ao sacrifício também pode ser comparada com a “visão trágica” que permeia a teoria social alemã do início do século XX. Embora se possa alegar que fosse menos um teórico social do que um “fazedor de mitos” (Ibidem: 123), seus escritos tratam de problemas que também foram levantados na obra de contemporâneos como Max Weber, Werner Sombart, Georg Simmel e Georg Lukács. (cf. Ibidem: 104) O sociólogo Jeffrey Herf, nesse sentido, arrisca-se a uma interessante análise do espectro ideológico daquela geração: Weber e Simmel representavam o centro, advogando a resignação trágica ao mesmo tempo em que defendiam alguns restos da autonomia individual. A esquerda estaria representada por Lukács e Ernst Bloch, os quais acreditavam que (...) a consciência trágica seria superada (...) pela revolução proletária que destruiria as origens 2

Jünger trata deste tema de forma mais detida em seu ensaio Sobre o perigo (1931). Em: El mundo transformado (una cartilla ilustrada de nuestro tirmpo). El instante peligroso (una colección de imágenes e informes). Trad. Ela Fernández Palacios. Valencia, Pre-textos, 2005, p. 309-314.

capitalistas da consciência reificada. Jünger é representativo daqueles intelectuais da direita que também acreditavam fosse possível a “superação” da consciência trágica. Ao contrário dos marxistas românticos, a revolução cultural advogada por Jünger dotava o eclipse da individualidade de um halo de heroísmo. (Ibidem: 105)

Esta visão positiva de Jünger sobre a tecnologia e sua capacidade de instrumentalizar os seres humanos é desconcertante: “é como se Weber tivesse olhado com prazer para a perspectiva da „jaula de ferro‟.” (Ibidem: 120) A crise da civilização, tão lamentada por outros autores, era vista por Jünger “como passagem inevitável para uma nova situação histórica, em que o trabalho, organizado sob o império da técnica, mobiliza todos os recursos do planeta e desencadeia tudo o que o ser pode dar.” (VOLPI, 1999: 86) Além disso, o vazio de valores e de sentido produzido pela técnica “não suscita nele uma atitude passiva e queixosa, mas um niilismo heróico da ação.” (Ibidem: 86) Tal visão de mundo de Jünger, embora fosse muito influente na direita “modernista” alemã, certamente não agradou aos intelectuais de esquerda – dentre eles Walter Benjamin. Embora reconheça o tipo de soldado descrito por Jünger é real, “é uma testemunha que sobreviveu à grande guerra, e foi de fato a paisagem do front, sua verdadeira pátria, que ele defendeu no após-guerra” (BENJAMIN, 1994: 69), Benjamin não o poupa da crítica de estetizar e idealizar a guerra: “os traços que (...) julgava serem heróicos eram na verdade traços hipocráticos, os traços da morte”. Além disso, como bom frankfurtiano, acusa-o de naturalizar a técnica: A guerra como abstração metafísica, professada pelo novo nacionalismo, é unicamente a tentativa de dissolver na técnica, de modo místico e imediato, o segredo de uma natureza concebida em termos idealistas, em vez de utilizar e explicar esse segredo, por um desvio, através da construção de coisas humanas. (Ibidem: 70)

Victor Coelho argumenta, entretanto, que Jünger não se encaixa na categoria benjaminiana da “estetização do político”, pois se a dimensão estética é essencial na relação de Jünger com a guerra, por outro lado é uma dimensão que se quer apolítica. Mesmo que tenha simpatias pelo nacional-bolchevismo (uma espécie de apropriação nacionalista do comunismo soviético), Jünger evita dar uma conotação política (isto é, um “ismo”) às suas reflexões. (cf. COELHO, 2013a: 229)

Em suma, é possível afirmar que no pensamento de Jünger passa a se configurar uma nova natureza – a natureza planificada que surge pela mobilização total, e que pressupõe a dissolução da subjetividade. (cf. COELHO, 2013a: 170-171) Através dos relatos de guerra de Jünger é possível verificar dois problemas distintos que se reforçam: a perda de referenciais para o indivíduo, diante da autonomização do mundo objetivado, e uma banalização da morte no campo de batalha, que implica a banalidade da vida individual pela experiência da guerra. (cf. Ibidem: 205) O não temer a morte e a disposição para a batalha em Tempestades de Aço se configurarão em ensaios posteriores, como O Trabalhador (1932), “como disposição para o sacrifício em favor da mobilização total e no princípio da junção do mecânico com o orgânico.” (Ibidem: 211) Ou seja, a experiência da morte em massa no campo de batalha é transformada em um princípio político e filosófico no qual o sujeito é absorvido em uma nova totalidade. Para Jünger, a verdadeira liberdade “é a liberdade de colocar-se a serviço da mobilização total, o falatório burguês é substituído pela linguagem sem palavras da técnica.” (Idem, 2013b: 183)

4. CARL SCHMITT: UM OLHAR DESENCANTADO SOBRE A GUERRA E A TÉCNICA Se em Ernst Jünger há uma visão aristocrática e estilizada sobre a guerra e a técnica, sem a preocupação de fazer uma análise social mais “rigorosa”, o oposto se dá em Carl Schmitt. Em O Conceito do Político e O Nomos da Terra, mesmo que a guerra e a técnica não sejam o tema central destas obras, este jurista busca tratar com precisão conceitual e embasamento histórico questões relativas a ambas. Para Schmitt, a guerra decorre da inimizade, “pois esta é a negação ontológica de outro ser. A guerra é apenas a realização extrema da inimizade.” (SCHMITT, 1992: 59) Isso não quer dizer que a existência política “nada mais fosse que uma guerra sangrenta, e cada ação política, uma ação militar de guerra, como se, ininterruptamente, cada povo estivesse constantemente confronto à alternativa amigo ou inimigo”. (Ibidem: 59) Schmitt deixa claro que sua definição do político “não é belicista nem militarista, imperialista ou pacifista.” (Ibidem: 59) A guerra não é fim e objetivo, nem mesmo conteúdo da política, “porém é o pressuposto sempre presente como possibilidade real,

a determinar o agir e o pensar humano de modo peculiar, efetuando assim um comportamento especificamente político.” (Ibidem: 60) Ou seja, é somente no combate real que se apresenta “a conseqüência extrema do agrupamento político de amigo e inimigo.” É a partir da possibilidade extrema do conflito bélico “que a vida das pessoas adquire uma tensão especificamente política.” Em outras palavras, a guerra, “enquanto o meio político mais extremo, revela a possibilidade, subjacente a toda concepção política, desta distinção entre amigo e inimigo.” (Ibidem: 61) Saindo do âmbito estritamente teórico para observações mais empíricas sobre a guerra, podemos recorrer a O Nomos da Terra. Nesta obra Carl Schmitt afirma que “a evolução dos modernos meios de aniquilação segue – e até acelera – a mudança do sentido da guerra.” (Idem, 2014: 336) Até o século XIX, o teatro da guerra era separado entre terra e mar. Na época, só a guerra terrestre contava com forças armadas estatalmente organizadas. Por sua vez, a guerra marítima se manteve até então como uma guerra comercial e econômica, na qual não combatiam frotas estatais; era assunto privado. Nesta modalidade bélica não chegou a haver o princípio da igualdade usado na guerra terrestre européia do século XIX. Ou seja, a pessoa privada que empreendia seu comércio podia ser alvo de ações hostis. (cf. Ibidem: 337-338) Esta configuração começa a mudar no início do século XX, quando surge um terceiro tipo de armamento: a força aérea. Schmitt ressalta a dificuldade de aplicar uma norma a esta novidade: “o envolvimento do avião na condução da guerra marítima consiste em que espaços inteiros do mar livre são declarados zonas de combate ou áreas restritas, ou seja, têm que ser excluídos do espaço marítimo de liberdade.” (Ibidem: 344) As conseqüências, no entanto, são ainda mais profundas, pois se cria um terceiro cenário de guerra: “O avião aproxima-se e lança bombas sobre o solo; faz um vôo rasante e volta a subir; realiza sua tarefa de destruição e imediatamente deixa esse solo, com tudo o que nele se encontra – homens ou coisas – entregue ao seu destino, ou seja, aos detentores do solo estatal.” (Ibidem: 349) Isso revela o puro caráter de aniquilação da guerra aérea moderna: A guerra aérea autônoma anula, em grau mais elevado que o bloqueio marítimo, a relação entre a potência que usa a força e a população afetada. No bombardeio a partir do ar, torna-se absoluta a ausência de

relação do beligerante com o solo e a população inimiga que nele se encontra; já não resta nem uma sombra da conexão entre proteção e obediência. (Ibidem: 349)

A propósito, cabe notar que Ernst Jünger exaltava esta novidade na guerra detectada por Schmitt: “Se a guerra era um microcosmo de tendências conflitantes, arcaicas e modernas as simpatias de Jünger estavam claras: estimulava o desenvolvimento da aviação e das operações bélicas com tanques, para romper o beco sem saída da guerra de desgaste.” (HERF, 1993: 113) Ou seja, o ex-combatente via grande potencial na força aérea como forma de superar o impasse gerado pela guerra de trincheiras – inclusive porque esta havia diminuído a heroicidade no campo de batalha, e talvez a batalha aérea poderia recuperá-la. Quanto ao tema da técnica, é interessante notar que, em 1912, Schmitt havia escrito em seu diário que a sua época acentuaram o problema da mediação, isto é, dos “meios colocados acima dos fins”. (SCHMITT, 2005 apud CASTELO BRANCO, 2011: 134) Sua crítica ao mecanicismo de seu tempo, portanto, remonta à sua juventude. Em O Conceito do Político, essa preocupação com a perda dos fins últimos – que levava à imprevisibilidade, ao niilismo (cf. CASTELO BRANCO, 2011: 134) – reaparece um dos últimos capítulos do livro (“Alternância das áreas dominantes”). Nele Schmitt afirma que já no século XIX o progresso técnico avançara de forma tão assombrosa e, por conseqüência, as situações sociais e econômicas se alteram tão rapidamente, “que todos os problemas morais, políticos, sociais e econômicos são apanhados pela realidade deste desenvolvimento técnico”. (SCHMITT, 1992: 110) Schmitt então tece um comentário parecido com que Jünger fizera em A mobilização total sobre o culto do progresso: “surge uma religião do progresso técnico, para a qual todos os outros problemas se resolvem por si mesmos, graças justamente ao processo técnico”. A crença na técnica estava amparada apenas “no fato de que se poderia crer ter encontrado na técnica o solo absoluto e definitivamente neutro.” (Ibidem: 115) Neste trecho o autor de certa forma critica a “metafísica liberal” que proclamava a era da objetividade e da neutralidade; Schmitt pensa que, ao contrário do que alega tal cientificismo, as crenças e as convicções continuam a exercer um papel central na construção da ordem política. (FERREIRA apud COELHO, 2013a: 148) Estas concepções de Carl Schmitt são certamente menos heróicas que as de Jünger; a preocupação deste autor não é tanto de uma apologia da guerra, mas sim

aceitar de que o conflito é uma dimensão imprescindível; não há sociedade sem antagonismo. Sendo assim, a guerra é um horizonte que deve ser levado em conta diante de situações de extrema tensão na relação amigo-inimigo. Quanto à técnica, Schmitt não é exatamente um crítico dos avanços tecnológicos, mas sim da “religião” que se criou no Ocidente em relação a eles, como se a sociedade devesse ser governada por tecnocratas. Ao invés de lamentar a decadência cultural, postura que acusa em Spengler e até Weber (cf. SCHMITT, 1992: 117), importa para Schmitt que haja uma liderança política proativa, até mesmo autoritária, que saiba conciliar usar a tecnologia avançada a serviço de um Estado forte.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS À guisa de conclusão, cabe traçar algumas comparações entre Jünger e Schmitt. Ambos pensavam que “que o primado da política era uma alternativa a – e uma extensão de – uma era instrumental pós-burguesa.” Assim como Jünger, a ofensiva ideológica de Schmitt contra o racionalismo burguês servia à causa do avanço tecnológico. (HERF, 1993: 125) Há, contudo, divergências ontológicas, isto é, na forma como ambos concebem a realidade: enquanto Schmitt quer retirar o fundamento ontológico do sujeito e deslocálo para uma esfera transcendente, recuperando o legado teológico cristão, Jünger está mais próximo de uma substancialização da vontade de poder nietzschiana. (cf. COELHO, 2013a: 223) O olhar de Schmitt sobre a guerra é menos idealizado que o de Jünger. O autor de O Conceito do Político possui certo “realismo político”, que o leva a conceber a guerra como uma possibilidade constante do processo político; não chega, contudo, a exaltá-la como uma experiência natural e revolucionária, tal como faz Jünger em A mobilização total. Quanto à técnica, Schmitt e Jünger divergem do viés anti-tecnológico de parte da direita alemã (e também da esquerda, como se pode verificar em frankfurtianos como Benjamin ou Adorno). Carl Schmitt critica a idéia de uma organização social dirigida por técnicos, na medida em que lhe faltaria “instintos” de liderança e direção; acreditava, porém, que o “estado autoritário, quando associado à tecnologia avançada, pudesse restaurar o dinamismo político de uma sociedade burocratizada.” (HERF, 1993:

58-59) Ou seja, Schmitt, assim como Jünger, está próximo da “ética da convicção” caracterizada por Max Weber em A Política como Vocação, e parece concordar que a mobilização total (ou, para utilizar um termo menos jüngeriano, a politização) pode acabar com a neutralização, a “paralisia decisória” gerada pela política liberal. Por sua vez, Jünger molda sua crítica com um viés anti-individualista: a mobilização total pressupõe a dissolução da subjetividade em prol de uma sociedade planificada, de um ascetismo autoritário: “para Jünger, a utopia conservadora do corpo mecanizado e o rearmamento da nação eram dois lados do mesmo processo.” (JÜNGER apud COELHO, 2013a: 199) Por outro lado, este autor afirma algo não necessariamente distante da ênfase voluntarista de Schmitt nos conceitos de liderança e decisão: “o combate das máquinas é tão colossal que o homem está muito perto de, perante ele, se apagar. (...) E, no entanto, por detrás de tudo isto, está o homem. Só ele pode orientar as máquinas, dar-lhes sentido”. (Ibidem: 199) Ou seja, também Jünger não deseja uma elite tecnocrática: uma tecnologia autoritária exige um Estado autoritário (cf. HERF, 1993: 122); porém, neste ponto recorre a uma idealização (a elite que almeja é a dos “trabalhadores-soldados”) que possivelmente não seria compartilhada pelo “realista” Schmitt.

BIBLIOGRAFIA BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. CASTELO BRANCO, Pedro Hermílio Villas Bôas. Secularização inacabada: política e direito em Carl Schmitt. Curitiba: Appris, 2011. COELHO, Victor de Oliveira Pinto. A técnica como totalidade. Uma abordagem da obra de Ernst Jünger no entreguerras. Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de História, 2013a. ______________________________ Ernst Jünger: o sublime da guerra e o tempo como mudança de plano. In: Dimensões, vol. 30, Vitória, 2013b, p. 173-212. HERF, Jeffrey. O Modernismo Reacionário: tecnologia, cultura e política na República de Weimar e no 3º Reich. São Paulo: Ensaio; Campinas: Editora da UNICAMP, 1993. JÜNGER, Ernst. Tempestades de Aço. São Paulo: Cosac Naify, 2013. ______________ A mobilização total. In: Natureza Humana, 4 (1). São Paulo, jan.-jun. 2002, p. 189-216. SCHMITT, Carl. O Conceito do Político. Petrópolis: Vozes, 1992. ______________ O Nomos da Terra. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014. VOLPI, Franco. O niilismo. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

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