Há tendência para agrupamento segmental em classes naturais no balbucio e nas palavras iniciais?

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Há tendência para agrupamento segmental em classes naturais no balbucio e nas palavras iniciais?

Maria de Fátima de Almeida Baia

[email protected] Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Gradus Revista Brasileira de Fonologia de Laboratório Vol. 1, nº 1 Dezembro de 2016 https://gradusjournal.com

Bibtex: @article{baia2016agrupamento, author = {Maria de Fátima de Almeida Baia}, journal = {Gradus}, month = {dec}, number = {1}, pages = {43–66}, title = {Há tendência para agrupamento segmental em classes naturais no balbucio e nas palavras iniciais?}, volume = {1}, year = {2016}}

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Resumo Este estudo segue a perspectiva dos Sistemas Adaptativos Complexos1 e investiga se há evidências na aquisição do português brasileiro (doravante PB) para combinações preferenciais de CV no balbucio e nas produções iniciais como MacNeilage, Davis et al.2 propõem. Os autores observam em dados de crianças adquirindo diferentes línguas ocorrências de três padrões combinatórios preferenciais em sílaba CV: consoantes coronais produzidas com vogais anteriores, consoantes dorsais produzidas com vogais posteriores, e consoantes labiais com vogais centrais. Essas combinações segmentais compartilham posições no trato vocal e são compatíveis com as classes naturais propostas por Clements e Hume3 no modelo uniicado de traços, no qual vogais e consoantes podem ser classiicadas como labiais, dorsais e coronais. Embora este estudo não siga uma perspectiva inatista, o uso de classes naturais na análise não é contraditório, pois assim como há proposta inatista,4 há proposta emergentista5 para o fenômeno, segundo a qual os padrões comuns fônicos seriam resultados de mudanças históricas. Após análise de dados longitudinais de um estudo de caso, concluímos que os dados de balbucio e iniciais do PB não sustentam a hipótese de que as combinações iniciais seriam de segmentos de uma mesma classe natural. Palavras-chave: balbucio; palavras iniciais; Sistemas Adaptativos Complexos.

1. Thelen e Smith, A Dynamic Systems Approach to the Development of Cognition and Action (1994); Larsen-Freeman e Cameron, Complex systems and applied linguistics (2008). 2. MacNeilage, Davis et al., “The motor core of speech: a comparison of serial organization patterns in infants and languages” (2000).

3. Clements e Hume, “The internal organization of speech sounds” (1995).

4. McCarthy e Prince, “Prosodic Morphology I: constraint interaction and satisfaction” (1993); Clements e Hume, “The internal organization of speech sounds” (1995). 5. Mielke, “Distinctive feature emergence” (2005).

Abstract This study follows a Complex Adaptive System view6 and investigates if there is any evidence in Brazilian Portuguese (henceforth BP) acquisition of CV combinations preferences in babbling and early speech as MacNeilage, Davis, et al.7 propose. The authors observe in child data from diferent languages three CV co-occurrence preferences: coronal consonants co-occur with front vowels, dorsal consonants with back vowels, and labial consonants with central vowels. These consonantal and vocalic segment combinations share positions in the vocal tract and are compatible with the natural classes proposed by Clements and Hume8 in their uniied feature proposal, in which vowels or consonants can be classiied as labial, dorsal or coronal. Although this study does not follow an innatist view, the use of natural classes in the analysis of segmental combinations is not contradictory as there

6. Thelen and Smith, A Dynamic Systems Approach to the Development of Cognition and Action (1994); Larsen-Freeman and Cameron, Complex systems and applied linguistics (2008). 7. MacNeilage, Davis, et al., “The motor core of speech: a comparison of serial organization patterns in infants and languages” (2000).

8. Clements and Hume, “The internal organization of speech sounds” (1995).

Gradus 1 (1) is the emergentist claim for the natural classes, which explains common sound patterns as result of common historical changes,9 in addition to the innatist claim.10 After analyzing longitudinal data of a case study, we conclude that BP babbling and early words do not support the claim of combination preferences. Keywords: babbling; early words; Complex Adaptive Systems.

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9. Mielke, “Distinctive feature emergence” (2005). 10. McCarthy and Prince, “Prosodic Morphology I: constraint interaction and satisfaction” (1993); Clements and Hume, “The internal organization of speech sounds” (1995).

Introdução Este estudo investiga se há evidência de preferência de combinação de segmentos na aquisição do português brasileiro (PB), analisando produções de balbucio e palavras iniciais. Davis e MacNeilage11 e MacNeilage, Davis et al.12 propõem, com base nas limitações articulatórias, que as produções infantis iniciais seriam de segmentos de uma mesma classe natural. A perspectiva dinâmica de desenvolvimento13 norteia nossa investigação, perspectiva que compreende o desenvolvimento da linguagem como um processo de evolução caracterizado pela variabilidade. Desde a obra clássica de Jakobson,14 Child language, aphasia and phonological universals, um dos estudos pioneiros sobre desenvolvimento fonológico e o marco inicial do debate a respeito de como seria a transição do balbucio para as primeiras palavras, muito tem sido debatido acerca da natureza das primeiras produções infantis. Na visão do autor, o período das primeiras palavras seria diferente do período anterior do balbucio por ser governado por leis fonológicas da língua-alvo, leis responsáveis pelas semelhanças entre a fala infantil emergente e a fala adulta. Para Jakobson, durante o período pré-linguístico, a criança produz um conjunto aleatório de sons, seguido de um período de silêncio após o qual começaria a aprender sistematicamente os sons da língua materna. O período do balbucio é ainda caracterizado como o período de sucção restrito ao jogo solitário da criança (p. 34), que difere do período das primeiras palavras, no qual a criança passa a reconhecer que os sons têm um valor distintivo e não os usa arbitrariamente como no balbucio. O balbucio, segundo a visão jakobsoniana, é um fenômeno universal largamente determinado por um programa biológico, e, apenas quando as primeiras palavras aparecem, características especíicas da língua a ser adquirida passam a surgir. Em defesa de uma descontinuidade entre balbucio e

11. Davis e MacNeilage, “The Articulatory Basis of Babbling” (1995). 12. MacNeilage, Davis et al., “The motor core of speech: a comparison of serial organization patterns in infants and languages” (2000). 13. Thelen e Smith, A Dynamic Systems Approach to the Development of Cognition and Action (1994). 14. Jakobson, Child language, aphasia and phonological universals ([1941]1972).

Gradus 1 (1) primeiras palavras, Jakobson propõe que o período do balbucio é um período pré-linguístico com características puramente fonéticas, um estágio no qual o bebê produz um conjunto aleatório de sons e que apresenta muita variação para ser defendida alguma relação entre ele e o período fonológico.[A] É partindo da obra de Jakobson que surgem estudos defendendo diferentes unidades mínimas de desenvolvimento fonológico, alguns defendendo aspectos universais nas combinatórias segmentais iniciais15 e outros enfatizando a variabilidade e o caráter relativo dos aspectos fônicos iniciais e suas combinações.16

Sistemas Adaptativos Complexos e desenvolvimento da linguagem sem dicotomias Diferentemente do primeiro momento da geração cognitiva,17 que propõe a existência de um órgão mental particular para a linguagem, os estudos que fazem parte da terceira geração cognitiva, i.e., do paradigma Sistemas Adaptativos Complexos, defendem que a faculdade da linguagem não é uma função cognitiva estática e fechada, mas uma habilidade cognitiva que depende de outros aspectos, tais como capacidades motoras e auditivas e, principalmente, estímulo do ambiente. Não há estrutura ou regra geneticamente determinada ou programada, e o desenvolvimento da linguagem é entendido como um processo comportamental e emergente. No que se refere às dicotomias presentes na proposta mentalista, e.g. mente/cérebro e competência/performance, segundo Barbosa,18 o princípio da autoorganização pressupõe o abandono delas. O autor, por basear-se na Fonologia Articulatória,19 defende uma visão comensurável entre planejamento da fala e sua execução, deixando de usar o termo representação por estar associado ao planejamento simbólico.20 A outra dicotomia abandonada é a da competência/performance. Chomsky21 defende uma teoria da competência, que estuda os universais linguísticos e caracteriza as propriedades formais que deinem o número possível de línguas naturais. O linguista não leva em consideração na sua proposta o papel cognitivo da memória, atenção e outros fatores de performance em processos linguísticos. Por levar em consideração a importância de outros aspectos cognitivos e de acordo com Thelen e Smith,22 a posição

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As notas da autora são indicadas com letras maiúsculas, e estão ao inal do texto, na p. 63. 15. MacNeilage, Davis et al., “The motor core of speech: a comparison of serial organization patterns in infants and languages” (2000). 16. Vihman, Phonological development: the origins of language in the child (1996).

17. Chomsky, Relections on language (1975).

18. Barbosa, Incursões em torno do ritmo da fala, p. 6 (2006). 19. Browman e Goldstein, “Articulatory phonology: an overview” (1992). 20. Barbosa, Incursões em torno do ritmo da fala, p. 7 (2006). 21. Chomsky, Aspects of the Theory of Syntax (1965).

22. Thelen e Smith, A Dynamic Systems Approach to the Development of Cognition and Action (1994).

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assumida no presente trabalho é a de que a competência seria extremamente limitada se não houvesse interação entre ela e tudo o que seria performance. Além disso, o que tem ocorrido na literatura que assume a dicotomia é The problem with the competence-performance distinction is that no one competence alone is ever enough in any domain. This is why there is no agreed upon set of competencies. The developmentalist who studies language cites performance limitations in concepts (e.g., CLARK, 1972; HOOD; BLOOM, 1979). The developmentalist who studies concepts cites performance limitations in language (Donaldson, 1978). There is no way out of this quandary because real on-time cognition about the real world requires it all — concepts and language and memory and attention and more. 23

A rejeição do pensamento dualístico resulta em uma mudança radical no que as teorias de desenvolvimento assumiam até a segunda formação da geração cognitiva.[B] Trata-se, dessa maneira, de uma perspectiva de desenvolvimento da linguagem que reconhece a importância da interação entre cérebro e mente, e entre competência e performance. Além disso, nessa perspectiva, a mudança está em foco assim como a estabilidade ao longo do percurso. Vihman, Depaolis e Keren-Portnoy,24 em um estudo que apresenta uma perspectiva da complexidade para o desenvolvimento da linguagem e que abandona o raciocínio dualístico, explicam que, enquanto estudos que adotam uma perspectiva mentalista e inatista tentam responder a perguntas como: o que realmente precisa ser aprendido e o que a criança precisa reconhecer como dados mais importantes para a ixação de parâmetros — aquisição de regras ou ranqueamento de restrições?, uma proposta que nega a existência da Gramática Universal (GU) depara-se com outras questões: com qual conhecimento, se há, a criança começa e como a criança adquire conhecimento em relação à estrutura linguística e ao sistema da língua? Seguindo a proposta de Braine,25 que questiona a suiciência de um modelo inatista para explicar o desenvolvimento da linguagem, Keren-Portnoy, Majorano e Vihman26 argumentam que a origem da complexa capacidade de produção de fala se deve a um mecanismo poderoso de aprendizagem atrelado ao funcionamento da memória, que opera simultaneamente com o sistema motor de fala, e não a um conhecimento de princípios linguísticos pré-armazenados.

23. Thelen e Smith, A Dynamic Systems Approach to the Development of Cognition and Action, p. 26 (1994).

24. Vihman, Depaolis e Keren-Portnoy, “Babbling and words: a dynamic systems perspective on phonological development” (2008).

25. Braine, “Is nativism suicient?” (1994). 26. Keren-Portnoy, Majorano e Vihman, “From phonetics to phonology: the emergence of irst words in Italian” (2008).

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Após a exposição acerca da aplicação da teoria de Sistemas Dinâmicos nos estudos de linguagem, espera-se que tenha icado claro ao leitor que linguagem, nessa perspectiva, é entendida como uma habilidade cognitiva que depende de outros aspectos cognitivos e mecanismos como atenção, memória, capacidades motoras e auditivas. Ao assumir tal perspectiva, o estudo anula dicotomias de elementos que operam isoladamente e enfatiza o papel da interação. Ademais, mudança, gradiência, instabilidade, variabilidade e não linearidade são contempladas no estudo do funcionamento da linguagem a im de se veriicar o paralelismo presente na ocorrência dos processos e o princípio da auto-organização. Em resumo, trata-se de uma perspectiva emergentista da linguagem.

A emergência da fonologia: do balbucio às palavras iniciais Sabe-se que as primeiras produções articulatórias da criança não começam apenas no balbucio. Antes do balbucio, ou seja, antes dos seis meses, ocorre a produção de sons descritos como cooing. Nesse tipo de produção, a língua ica aproximadamente na posição de descanso e os sons iniciais são produzidos de uma maneira indeterminada em relação à posição da língua e dos demais articuladores. Esses sons, gradualmente, passam a icar mais parecidos com vogais, particularmente semelhantes a [i] e [u].27 Entre os seis e oito meses, o bebê passa a produzir um número mais variado de sons consonantais e vocálicos distribuídos em combinações como gagaga ou bababa, período então descrito como balbucio. Em geral, assume-se que o balbucio pode ser deinido como uma repetição de movimentos articulatórios durante a fonação contínua ou interrompida em um ciclo respiratório, e movimentos que resultam em produção de sílabas CV, padrão descrito como balbucio canônico por Jordens e Lalleman.28 O estudo de Jordens e Lalleman traça um paralelo entre os movimentos iniciais por meio dos quais o balbucio é produzido com os movimentos das mãos e o balançar da cabeça dos bebês, o que colocaria o balbucio como parte do desenvolvimento motor e o distanciaria de um período com abstração envolvida, o período fonológico. O achado dos autores é de grande importância para os estudos de desenvolvimento fonológico de acordo com a perspectiva dinâmica, pois, assim como Thelen e Smith,29 mostram a interação entre desenvolvimento de

27. Yule, The study of language ([1985]2010).

28. Jordens e Lalleman, Language Development (1988).

29. Thelen e Smith, A Dynamic Systems Approach to the Development of Cognition and Action (1994).

Gradus 1 (1) fala e outro tipo de movimento corporal. Quanto aos movimentos articulatórios iniciais presentes no balbucio, isto é, o padrão de repetição CV, há consenso de que, nesse período, é frequente o balbucio reduplicado (também chamado de balbucio canônico), podendo ser deinido como sequências idênticas ou quase idênticas de sílabas CV. Há também o balbucio não reduplicado (ou variegado), no qual a sequência de consoantes ou vogais muda, como em bameba, relativamente frequente desde o início do balbucio.30 Os dois tipos de balbucio são também acompanhados por produções isoladas de V ou CV, como Lewis observa 31 e caracterizados por uma fonação que consiste em uma alternância de abertura e fechamento da boca. Há duas explicações a respeito dos movimentos iniciais e articuladores envolvidos na produção das primeiras sílabas balbuciadas. A Teoria Arcabouço/Conteúdo — Frame, then Content 32 — defende que os movimentos ocorrem por meio da alternância boca fechada/boca aberta, o que resultaria na produção de um molde bifásico de oscilação mandibular, em que existe elevação para as consoantes e depressão para as vogais. O termo “arcabouço” (frame) signiica, na teoria, oscilação rítmica entre o maxilar aberto e fechado com um pouco do “conteúdo” (content) intrassilábico ou intersilábico.33 Tais termos são usados como uma metáfora para explicação do movimento articulatório.[C] O desenvolvimento dos movimentos, segundo a visão da Arcabouço/ Conteúdo, é compartilhado pelos bebês independentemente da língua. Segundo MacNeilage,34 não só os processos fonológicos iniciais podem ser atestados universalmente no período das primeiras palavras (e.g. reduplicação, assimilação, elisão), mas também uma sequência universal de sons é encontrada no período pré-linguístico: antes do balbucio as crianças apresentam um estágio de pré-balbucio (0-7 meses), quando as categorias naturais dos sons emergem por causa dos aparatos facial, respiratório e digestivo, que já estão combinados em um certo grau; o estágio do balbucio (7-12 meses) dá sequência com as crianças começando a balbuciar em uma alternância rítmica entre abrir e fechar a boca; inalmente, vem o terceiro estágio das cinquenta palavras (12-18 meses), quando uma criança com desenvolvimento típico produz suas primeiras palavras. MacNeilage airma que existem algumas características gerais do balbucio que podem ser encontradas na maioria das línguas: consoantes como [t], [d] e [n] e o glide palatal [j] tendem a ocorrer com vogais anteriores, as velares [k], [ɡ], com

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30. Davis e MacNeilage, “The Articulatory Basis of Babbling” (1995). 31. Lewis, Infant speech: a study of the beginning of language (1936).

32. MacNeilage e Davis, “Acquisition of speech production: achievement of segmental independence” (1990); MacNeilage, “Acquisition of speech” (1999); MacNeilage, Davis et al., “The motor core of speech: a comparison of serial organization patterns in infants and languages” (2000). 33. Davis e MacNeilage, “The Articulatory Basis of Babbling” (1995).

34. MacNeilage, “Acquisition of speech” (1999).

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vogais posteriores e as labiais [p], [b] e [m], com vogais centrais. O autor airma35 que “[…] both of these tendencies were attributed to the tendency of the infant tongue to not move large distances in short periods of time”.[D]

Classe natural

Consoantes

Vogais

[labial]

labiais

[coronal]

coronais

arredondadas ou labializadas

[dorsal]

dorsais

anteriores

posteriores e centrais

Em geral, com exceção da combinação de consoantes labiais com vogais centrais, as combinações iniciais observadas por MacNeilage são de segmentos pertencentes a uma mesma classe natural.36 Todavia, apesar de os teóricos da Arcabouço/Conteúdo apresentarem padrões de combinação universal de sons baseados em dados infantis da fala, para Goldstein, Byrd e Saltzman,37 com base na Fonologia Articulatória, a explicação da Arcabouço/Conteúdo a respeito da alternância inicial de sílabas CV não é convincente por se prender apenas ao movimento da mandíbula. Goldstein, Byrd e Saltzman defendem que, em uma sílaba CV, o movimento está in-phase (ocorre ao mesmo tempo) e, em VC, é anti-phase (não ocorre ao mesmo tempo); por isso, o primeiro tipo seria o inicial e universal, pois não exige movimentos mais complexos. Além disso, segundo os autores, a produção de um padrão CV envolve não apenas o movimento da mandíbula, como MacNeilage acredita,38 mas também requer movimento independente da língua e/ou dos lábios. A explicação dos autores da Fonologia Articulatória parece, assim, mais plausível por não se prender apenas ao movimento mandibular. Além disso, Albano, em uma releitura da proposta de Davis e MacNeilage,39 levanta algumas complicações em relação à quantiicação dos dados realizada.40 Os dados do coreano, investigados pelos autores, mostraram não ir ao encontro do defendido pelo próprio estudo. Os estudos reportados até então apresentam as características do balbucio, mas não as relacionam com o período das primeiras palavras diretamente. A compara-

35. MacNeilage, “Acquisition of speech”, p. 314 (1999).

Quadro 1: Classe natural e a combinação inicial dos segmentos. Embora este estudo não siga uma visão inatista, o uso de classes naturais na análise das combinações segmentares não é contraditório por haver uma abordagem emergentista para as classes naturais, segundo a qual os padrões de som comuns podem ser entendidos como resultado de mudanças históricas comuns e princípios de economia. Mielke, “Distinctive feature emergence” (2005).

36. Clements e Hume, “The internal organization of speech sounds” (1995). 37. Goldstein, Byrd e Saltzman, “The role of vocal tract gestural action units in understanding the evolution of phonology” (2006).

38. MacNeilage, “Acquisition of speech” (1999).

39. Davis e MacNeilage, “The Articulatory Basis of Babbling” (1995). 40. Albano, “Descontruindo uma inluente perspectiva atual em aquisição da fonologia: a teoria ‘Arcabouço-Conteúdo’” (2011).

Gradus 1 (1) ção é feita por Vihman, Macken et al.,41 que comparam padrões fonéticos, fonotáticos e referentes ao tamanho da palavra em dados de balbucio e de primeiras palavras. Os autores notam semelhanças entre os dois tipos de produção no que se refere à prosódia e aos segmentos, isto é, não encontram características linguísticas que comprovem haver uma barreira entre os dois momentos. Em outro estudo, Boysson-Bardies e Vihman42 questionam o aspecto universal dos sons do balbucio defendido por Jakobson43 por observar a emergência de diferentes sons consonânticos e vocálicos na análise de dados de balbucio de diferentes línguas (inglês, sueco, francês e japonês). Os autores observam, por exemplo, que sons consonânticos e vocálicos presentes no balbucio de crianças adquirindo o inglês não são os mesmos presentes no balbucio de crianças adquirindo o sueco. Keren-Portnoy, Majorano e Vihman, em um estudo com base na perspectiva da complexidade, defendem a importância da prática do balbucio, da atenção e da memorização na emergência das primeiras palavras.44 Para os autores, a prática do balbucio facilita a identiicação e a padronização das primeiras palavras, o que explica a ocorrência de palavras reduplicadas, que compartilham características com o balbucio canônico, no período inicial de aquisição fonológica. Ao mesmo tempo que Keren-Portnoy, Majorano e Vihman defendem que o trajeto do balbucio para formação das primeiras palavras é universal (prática do balbucio seguida por padronização — templates — e depois por produção acurada), os autores não deixam de ressaltar os aspectos individuais no percurso de cada criança. Embora os estudos de Vihman, Macken et al.45 apresentem evidências contra a universalidade proposta por Jakobson46 para os aspectos sonoros do balbucio e ressaltem a inluência da fonotática presente no balbucio tardio nas palavras iniciais, o trabalho dos autores não dialoga e revisita, como este estudo, a proposta de combinações segmentais universais nos dados iniciais de MacNeilage, Davis et al.47 Na sequência, apresentamos a análise dos dados de desenvolvimento fonológico do PB e sua fonotática inicial.

Metodologia São analisados dados longitudinais de uma criança do sexo masculino: M. 09–2;0, 16 sessões/meses, 1975 tokens. As sessões analisadas são mensais e com duração

51 41. Vihman, Macken et al., “From babbling to speech: a re-assessment of the continuity issue” (1985).

42. Boysson-Bardies e Vihman, “Adaptation to language: evidence from babbling and irst words in four languages” (1991). 43. Jakobson, Child language, aphasia and phonological universals ([1941]1972).

44. Keren-Portnoy, Majorano e Vihman, “From phonetics to phonology: the emergence of irst words in Italian” (2008).

45. Vihman, Macken et al., “From babbling to speech: a re-assessment of the continuity issue” (1985). 46. Jakobson, Child language, aphasia and phonological universals ([1941]1972). 47. MacNeilage, Davis et al., “The motor core of speech: a comparison of serial organization patterns in infants and languages” (2000).

Gradus 1 (1) de trinta minutos. Os tokens são compostos por produções selecionadas, produções de acordo com a forma-alvo, e adaptadas, adaptações da forma-alvo. Os dados pertencem ao banco de dados A Aquisição do Ritmo em Português Brasileiro.48 Todos os dados, transcritos auditivamente pela autora deste trabalho com o uso do alfabeto fonético internacional (IPA), contaram com a veriicação e julgamento de um foneticista. Houve 90% de concordância entre os dois transcritores, indicando que os dados foram corretamente transcritos. A respeito dos 10% discordantes, após discussão, chegou-se a um acordo sobre a produção. São analisados tokens na presente pesquisa, diferentemente dos outros estudos sobre desenvolvimento fonológico que consideram types.49 Optamos pela análise de tokens, pois se apenas types fossem considerados, pistas ou evidências de diferentes combinatórias segmentais poderiam ser deixadas de lado. Por exemplo, M. apresenta as seguintes produções para a palavra “aranha” em uma mesma sessão (1;6): [a.ˈbo] [a.ˈla.nɪa] [a.ˈla.ɲa] [a.a.ˈã.ɲa] [a.ˈã.ɲa] [a.ˈi.ɲa] [a.ˈa.ɲa] [a.ˈi.ã] [a.ˈda.ɪa] [a.ˈja.ja] [a.ˈba.ɪa] [ma.ˈɪa.ɲa]. Se o critério para a escolha do type fosse frequência de ocorrência, mais de um type seria escolhido por não ter havido produção que se sobressaiu em relação às demais. Foram feitas duas categorizações quanto aos dados. Primeiramente, entre o que é balbucio e palavra, seguindo os critérios de Vihman e McCune,50 pois o estudo de dados iniciais, que parte da classiicação do que pode ou não ser avaliado como palavra, exige categorização devido às tênues diferenças entre o que é palavra ou não no período inicial da fala. Por certo, o contexto, semelhança fônica e a repetição da palavra com o uso constante de um mesmo sentido são fundamentais para a categorização, mas não são os únicos critérios considerados para a classiicação dos dados inicias (balbucio e palavra). Com o intuito de categorizar os dois tipos de produção de uma maneira rigorosa, é preciso, indubitavelmente, comparar os dados entre si. No entanto, só a comparação interna não é suiciente. É preciso partir de uma categorização geral baseada em critérios que possam ser e tenham sido checados na análise de dados de diferentes crianças. Vihman e McCune,51 baseados na análise de dados de transição do balbucio às primeiras palavras de dez crianças entre nove meses e um ano e seis meses de idade, propõem critérios que partem de parâmetros contextuais e fônicos para determinarem quando a palavra pode ser entendida como palavra fonológica. Sobre a necessidade

52

48. Santos, A Aquisição do Ritmo em Português Brasileiro (2005).

49. Vihman e Velleman, “Whole-word Phonology and templates: trap, bootstrap, or some of each?” (2002); Vihman e Croft, “Phonological development toward a ‘radical’ templatic phonology” (2007).

50. Vihman e McCune, “When is a word a word?” (1994).

51. Vihman e McCune, “When is a word a word?” (1994).

Gradus 1 (1) de haver tais critérios, os autores lembram que tal preocupação de reconhecer o que seria “primeira palavra” tem acompanhado especialistas em fala infantil antes do advento da pesquisa psicolinguística contemporânea. Termos e conceitos têm sido propostos na busca por delimitação e entendimento acerca das produções iniciais; por exemplo, “holófrase”, para palavra isolada que pode ser entendida, na verdade, como uma sentença;52 e “vocábulo”, termo proposto para não haver distinção equivocada entre o que seria uma palavra de acordo com o alvo ou algum outro tipo de verbalização.53 O que se percebe é que o ponto de vista assumido pelo pesquisador recorta e interpreta diferentemente o objeto. Vihman e McCune54 propõem, então, uma nova metodologia para identiicação de palavra sem apresentar novos termos ou conceitos. Em vez de novas terminologias, os autores sugerem o uso de critérios fonológicos que levem em consideração o contexto de interação também. Os critérios são aplicados antes na seleção prévia das produções que levantam dúvidas. O candidato à palavra que suscita dúvidas quanto à sua categorização deve apresentar aspectos fônicos próximos ao do alvo e/ou pistas de contexto especíico de uso para não ser descartado de início. Após a identiicação daqueles que suscitam dúvidas, os seguintes critérios são seguidos: A Critérios baseados no contexto: determinativo – veriica-se se a palavra ocorre em um contexto sugestivo de uma determinada palavra e não de outra; identiicação materna — veriica-se por meio do estudo da interação adulto e criança, ou seja, se o adulto entende o candidato à palavra da mesma maneira que o pesquisador; uso múltiplo – veriica-se se a criança utiliza a mesma produção mais de uma vez no mesmo episódio; episódios múltiplos – veriica-se se a criança utiliza a mesma produção em diferentes episódios. B Critérios baseados no modelo de vocalização: correspondência complexa – veriica-se se a produção da criança contém mais de dois segmentos da forma alvo; correspondência segmental exata – veriica-se se até um ouvido não treinado reconheceria a produção da criança como sendo idêntica à produção–alvo; correspondência prosódica – veriica-se se as características prosódicas são as mesmas presentes na forma alvo, i.e., posição de acento, tipo e quantidade silábica. C Critérios baseados em outras vocalizações: tokens imitados – veriica-se se o candidato à palavra é uma produção imitada e se a criança compreende o que

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52. Laguna, Speech: its function and development (1927). 53. Werner e Kaplan, Symbols formation (1963). 54. Vihman e McCune, “When is a word a word?” (1994).

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imita; ausência de variação – veriica-se se o candidato à palavra é repetido mais de uma vez sem variação fonética; ausência de usos inapropriados – veriica-se se a produção mantém o mesmo signiicado em diferentes contextos. A correspondência fonética, segundo os autores, não é cópia idêntica dos segmentos do alvo.[E] Vogais que ocupam lugares vizinhos no quadro do IPA, por exemplo [a] sendo produzido como [ə] em “casa”, não são tratadas como diferentes seguindo os critérios propostos. O critério de correspondência também é obedecido quando consoantes são produzidas com aspiração quando o alvo não o é, e sibilantes produzidas com troca de ponto de articulação. Vihman e McCune55 propõem que um bom candidato será aquele que respeitar no mínimo quatro critérios. O presente estudo faz uso de todos os critérios e assume o número mínimo proposto pelos autores na análise dos dados. As produções que não satisizerem pelo menos quatro critérios serão categorizadas como balbucio e estão fora da análise deste estudo.

55. Vihman e McCune, “When is a word a word?” (1994).

Resultados e discussão Para a análise da combinatória segmental em sílabas balbuciadas, a organização dos dados foi feita levando em consideração as classes naturais. O intuito foi o de realizar uma análise interna das combinações segmentais do balbucio para veriicar, posteriormente, a sua relação com as combinações presentes nas palavras.[F] As combinatórias das produções do balbucio de M. foram organizadas e analisadas seguindo a classiicação proposta por Clements e Hume.56 É importante ressaltar que o uso de tal classiicação, que se originou em um estudo inatista, não implica assumir, neste trabalho, que o sistema categorial é inato. Independente da perspectiva teórica, há evidências de que segmentos que compartilham propriedades fonéticas tendem a estar juntos em processos fonológicos, fato que uma perspectiva por mais emergentista que seja, como a do presente estudo, não pode ignorar.[G]

56. Clements e Hume, “The internal organization of speech sounds” (1995).

Gradus 1 (1) É sabido que as crianças trilham o caminho do desenvolvimento fonológico manipulando e aprendendo o inventário segmental, a fonotática e os padrões de alterações da língua.57 A maneira como tal manipulação ocorre oferece evidências de que há uso de classes fonológicas ativas discretas por mais que a gradiência também seja atestada.58 [H] Nove categorias foram criadas partindo das classes naturais para análise da combinatória segmental: CC (coronal + coronal) CDL (coronal + dorsal labial)59 CD (coronal + dorsal) DC (dorsal + coronal) ⌢

55

57. Vihman e Menn, “features in child phonology” (2011); Gerken, Language development (2008). 58. Vihman e Menn, “features in child phonology” (2011); Gerken, Language development (2008). 59. Na categorização, separouse a dorsal [a] das dorsais labiais (arredondadas) [ɔ, o, u].

DDL (dorsal + dorsal + dorsal labial) DD (dorsal + dorsal) LC (labial + coronal) ⌢

LDL (labial + dorsal labial) LD (labial + dorsal). Nos dados totais de balbucio, das 410 combinações analisadas, predominou a combinação DD (24%, 100), seguida de CD (20%, 81), DC (12%, 48), LD (11%, 45), LC (11%, 44), CC (10%, 42), DD͡L (5%, 21), LD͡L (5%, 21) e CD͡L (2%, 8). As combinações DD e CD predominaram no conjunto total dos dados e a preferência está, principalmente, no tipo de vogal (dorsal). O gráico 1 ilustra a produção de cada tipo de combinação no total de dados. ⌢

Gráico 1: Combinações segmentais nas produções balbuciadas de M. (dados brutos).

Gradus 1 (1)

56

Como o gráico 1 apresenta, a combinação DD prevaleceu em relação às demais combinações. A combinação CD também teve um alto número de ocorrências. A tabela 1 foi elaborada para ilustrar a combinação predominante em cada sessão. A combinação que predomina está destacada em negrito e sublinhado.

Combinação Segmental Faixa Etária

0;9 0;10 0;11 1;0 1;1 1;2 1;3 1;4 1;5 1;6 1;7 1;8 1;9 1;10 1;11 2;0

CC

CD͡L

CD

DC

DD͡L

DD

LC

LD͡L

LD

13% (14) 3% (1) 4% (3) 19% (3) 5% (1) 0 0 14% (5) 0 31% (6) 0 0 35% (8) 13% (1) 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0 14% (1) 25% (5) 9% (2) 0 0 0 0 0

44% (44) 3% (1) 0 0 10% (2) 0 40% (2) 34% (12) 14% (1) 11% (2) 9% (2) 33% (11) 9% (2) 13% (1) 0 100% (1)

14% (15) 3% (1) 21% (15) 13% (2) 5% (1) 38% (5) 20% (1) 0 14% (1) 0 0 6% (2) 13% (3) 24% (2) 0 0

6% (6) 6% (2) 13% (9) 0 0 0 0 6% (2) 0 11% (2) 0 0 0 0 0 0

23% (22) 50% (16) 7% (5) 68% (11) 33% (7) 46% (6) 40% (2) 9% (3) 14% (1) 11% (2) 26% (6) 40% (13) 17% (4) 13% (1) 100% (1) 0

0 0 36% (26) 0 14% (3) 8% (1) 0 3% (1) 0 0 47% (11) 0 0 24% (2) 0 0

0 0 10% (7) 0 10% (2) 0 0 6% (2) 14% (1) 11% (2) 0 3% (1) 22% (5) 13% (1) 0 0

0 35% (11) 10% (7) 0 23% (5) 8% (1) 0 28% (10) 30% (7) 0 9% (2) 18% (6) 4% (1) 0 0 0

A mesma tendência presente nos dados totais pode ser veriicada ao longo das sessões,60 pois as combinações CD e DD foram as que predominaram na maior parte das sessões.

Tabela 1: Combinações segmentais nas produções balbuciadas ao longo das sessões de M. 60. Cf. gráico. 1, p. 55.

Gradus 1 (1) Assim como nos dados do balbucio, foram criadas nove categorias para análise da combinatória segmental nas palavras, baseando-se nas classes naturais. Nos dados totais de palavras foram analisadas 2676 combinações.61 Diferentemente dos dados de balbucio, que apresentaram o predomínio de DD, nos dados de palavra predominou a combinação CD (17,9%, 480) seguida de LD (16,3% 437), DD (15,2%, 407), LC (12,2%, 326), LDL (11,5%, 305), CC (11%, 294 ), CDL (8,3%, 223), DDL (4,2%, 113) e DC (3,4%, 91). O gráico 2 ilustra a produção de cada tipo de combinação no total de dados:

57

61. Do total de 3419 sílabas, não foram analisadas sílabas compostas por apenas um segmento e aquelas compostas por três segmentos com alguma semivogal intermediária devido ao pequeno número de ocorrências.

Gráico 2: Combinações segmentais nas palavras de M. (dados brutos).

Gradus 1 (1)

58

A tabela 2 foi elaborada para ilustrar a distribuição das combinações ao longo das sessões. A combinação predominante em cada sessão está destacada em negrito e sublinhado. Combinação Segmental Faixa Etária

0;9 0;10 0;11 1;0 1;1 1;2 1;3 1;4 1;5 1;6 1;7 1;8 1;9 1;10 1;11 2;0

CC

CD͡L

CD

DC

DD͡L

DD

LC

LD͡L

LD

0 6% (2) 20% (5) 0 0 12%(10) 4% (3) 4% (5) 6% (5) 11% (26) 6% (19) 14% (33) 16% (54) 12% (36) 13% (43) 13% (53)

0 0 0 0 0 0 1% (1) 1% (1) 1% (1) 8% (19) 6% (18) 23% (55) 14% (46) 12% (36) 5% (17) 7% (29)

0 0 8% (2) 0 9% (4) 5% (4) 1% (1) 2% (2) 4% (3) 6% (15) 24% (76) 20% (48) 21% (70) 21% (64) 24% (82) 27% (109)

0 0 0 7% (2) 15% (7) 1% (1) 1% (1) 0 0 1% (3) 2% (6) 1% (3) 5% (18) 4% (12) 2% (8) 7% (30)

0 9% (3) 20% (5) 0 0 0 1% (1) 0 1% (1) 2% (4) 5% (16) 5% (13) 7% (23) 6% (19) 4% (13) 4% (15)

0 79% (25) 16% (4) 66% (20) 9% (4) 33% (27) 52% (40) 11% (15) 9% (7) 14% (32) 13% (40) 13% (30) 9% (31) 15% (45) 18% (60) 7% (27)

0 0 20% (5) 27% (8) 20% (9) 0 5% (4) 0 11% (9) 17% (40) 16% (51) 6% (14) 16% (53) 10% (30) 10% (32) 17% (71)

0 0 0 0 12% (6) 0 3% (2) 30% (40) 41% (34) 27% (63) 8% (24) 9% (21) 4% (14) 12% (37) 9% (30) 8% (34)

0 6% (2) 16% (4) 0 35% (16) 49% (40) 32% (24) 52% (70) 27% (22) 14% (32) 20% (64) 9% (22) 8% (26) 8% (25) 15% (49) 10% (41)

A mesma tendência presente nos dados totais pode ser veriicada ao longo das sessões, isto é, a combinação CD predominou na maior parte das sessões. Na análise global dos dados, não foi encontrado segmento produzido no balbucio que não fosse produzido também em palavras. O quadro 2 traz, em negrito e sublinhado, os segmentos consonantais presentes nos dois tipos de produção, e, sem destaque, aqueles presentes em produções classiicadas como palavra. Ponto Modo

Oclusiva

Nasal

Fricativa Africada

Bilabial

Labio- Alveolar PósPalatal Dental Alveolar

pb

m

Tabela 2: Combinações segmentais nas produções de palavras ao longo das sessões de M

td

fv

n

sz

ʒ

ɲ

Velar Glotal

kg h

Tepe

Aproximante Aprox. Lat.

l Quadro 2: Inventário segmental consonantal (geral) do balbucio e palavras de M. (0;9–2;0).

Gradus 1 (1)

59

Como o quadro 2 mostra, na análise global das consoantes, as fricativas, a nasal palatal e a fricativa glotal estão ausentes nas produções balbuciadas. Trata-se, portanto, de segmentos consonantais característicos das palavras de M. O balbucio é caracterizado por sons oclusivos e nasais, segmentos que estão também presentes nos dados de palavra. No intuito de saber se a equivalência segmental consonantal entre balbucio e palavra permaneceria também na análise de cada sessão, a distribuição foi analisada por sessão. O quadro 3 apresenta, em negrito e sublinhado, os segmentos consonantais presentes nos dois tipos de produção, em itálico os segmentos presentes apenas no balbucio e sem destaque os que foram produzidos apenas em produções classiicadas como palavra Faixa Etária

0;9 0;10 0;11 1;0 1;1 1;2 1;3 1;4 1;5 1;6 1;7 1;8 1;9 1;10 1;11 2;0

Segmentos Consonantais: Balbucio e Palavra, Palavra e Balbucio

t d/ k ɡ/ n p b/ t/ k ɡ/ m/n p b/ k ɡ/m/ n p b/ t/ k ɡ/ n p b/ t d / k ɡ / m p b/ t d / k ɡ / n p b/ t / k ɡ/ m/ n p b/ t d/ k ɡ/ m/ n p b/ t d/ k ɡ/ m/ n/ f v / l p b/ t d / k ɡ / m/ n/ ɲ/ f v/ l p b/ t d/ k ɡ / m/ n/ f v/ s z/ l p b/ t d/ k ɡ / m/ n/ ɲ / f v/ z/ l p b/ t d/ k ɡ / m/ n/ ɲ / f v/ s/ l p b/ t d/ k ɡ / m/ n/ ɲ / f v/ s/ l p b/ t d/ k ɡ / m/ n/ ɲ / f v/ s z/ʒ/h/ l p b/ t d/ k ɡ / m/ n/ ɲ / f v/ s / l

Na sessão inicial (0;9), não foi identiicado nenhum dado de palavra, por essa razão todos os segmentos presentes nesse período são considerados segmentos de balbucio. Assim como foi observado na análise geral dos dados apresentada no quadro 2, na análise por sessão foi veriicado que sons fricativos são característicos das produções de palavra, e sons oclusivos, nasais e laterais caracterizam os dois tipos de produção.

Quadro 3: Inventário segmental consonantal (por sessão) do balbucio e palavras de M. (0;9–2;0).

Gradus 1 (1)

60

O mesmo tipo de análise das consoantes foi realizado com as vogais. O quadro 4 traz, em negrito e sublinhado, os segmentos vocálicos presentes nos dois tipos de produção, e sem destaque os que foram produzidos apenas em produções classiicadas como palavra. Não foi encontrado segmento vocálico produzido no balbucio que não fosse produzido também em palavras.

Altura Anterior/Posterior Anterior Posterior Central

Alta

Médio-alta

Médio-baixa

i ĩ I uuʊ

e ẽ oõ

ɛ ɔ

Baixa



Como o quadro 4 mostra, na análise global das vogais, observa-se que as produções vocálicas consistem em vogais anteriores, posteriores ou centrais, presentes nos dois tipos de produção. Vogais nasais são mais frequentes em produções de palavra.

Quadro 4: Inventário segmental vocálico de balbucio e palavras de M. (0;9–2;0).

Gradus 1 (1)

61

O quadro 5 mostra, em negrito e sublinhado, os segmentos vocálicos presentes nos dois tipos de produção, em itálico os segmentos presentes apenas no balbucio, e sem destaque, os que ocorrem apenas em produções classiicadas como palavra: Faixa Etária

0;9 0;10 0;11 1;0 1;1 1;2 1;3 1;4 1;5 1;6 1;7 1;8 1;9 1;10 1;11 2;0

Segmentos Vocálicos: Balbucio e Palavra, Palavra e Balbucio

i/e/u ʊ/ a i ɪ/e/ ɛ/ u ʊ/ o/ a i /e/ ɛ/ u ʊ/ o/ ɔ/ a i /e/ u ũ/ o/ a i /e/ ɛ/ u / o/ a i ɪ / e/ ɛ/ o/ ũ /a i ɪ/ e/ ɛ/ u ũ/ o/ ɔ /a ã i ɪ/ e/ u ʊ / o/ ɔ /a ã i ɪ/ e /ɛ/ u/ o/ ɔ/ a ã i i ̃ ɪ/e ẽ/ ɛ /u ʊ / o / ɔ / a ã i ɪ/e ẽ/ ɛ /u ʊ / o õ/ ɔ / a ã i i ̃ ɪ/e ẽ/ ɛ /u ũ ʊ / o õ/ ɔ / a ã i i ̃ ɪ/e ẽ/ ɛ /u ũ ʊ / o õ/ ɔ / a ã i i ̃ ɪ/e ẽ/ ɛ /u ũ ʊ / o õ/ ɔ / a ã i i ̃ ɪ/e ẽ/ ɛ /u ũ ʊ / o õ/ ɔ / a ã i i ̃ ɪ/e ẽ/ ɛ /u ũ ʊ / o õ/ ɔ / a ã

Como o quadro 5 apresenta, todos os segmentos vocálicos balbuciados estão presentes nos dados de palavras. Na sessão inicial (0;9), não foi identiicado nenhum dado de palavra, por essa razão todos os segmentos presentes nesse período são considerados segmentos de balbucio. Assim como foi observado na análise geral dos dados presente no quadro 4, na análise por sessões foi veriicado que vogais nasais estão presentes em dados de palavra.62 Retomando as combinatórias segmentais após apresentar os detalhes dos segmentos isolados, observamos que as combinações segmentais não favoreceram classes naturais. Dessa maneira, a hipótese de MacNeilage, Davis et al.63 não foi conirmada na análise de dados porque não houve preferência de segmentos de uma mesma classe natural nas combinações de M. em produções de balbucio tardio e primeiras palavras. Em geral, as combinações mais frequentes no balbucio (B) não foram as mesmas em palavras iniciais (P) e não tenderam a caracterizar-se por segmentos de uma mesma classe: M. B (DD, CD) e P (CD, CL). O teste One-way ANOVA foi realizado envolvendo a

Quadro 5: Inventário segmental vocálico (por sessão) de balbucio e palavras de M. (0;9–2;0).

62. Cf. quadro 5.

63. MacNeilage, Davis et al., “The motor core of speech: a comparison of serial organization patterns in infants and languages” (2000).

Gradus 1 (1)

62

produção de balbucio e primeiras palavras de M. (variável dependente) e as combinações preferenciais propostas por MacNeilage, Davis et al. e outras combinações possíveis considerando as classes naturais (variável independente): Balbucio: M. F (1.42) = 0.003, p> 0.05. Palavras iniciais: M. F (1.42) = 0.291, p> 0.05.

Dessa maneira, os dados indicam não haver preferência de combinação de sons de uma mesma classe.

Considerações inais A presente pesquisa, com base em um estudo de caso de uma criança adquirindo o PB, não apresenta evidências a favor da hipótese de que as combinações segmentais de uma mesma classe natural predominam nos dados de balbucio tardio e palavras iniciais. No entanto, é preciso partir agora para análise de dados de mais crianças e que estejam adquirindo diferentes variedades do português. Além disso, é preciso retomar a análise dos dados partindo de uma teoria fonológica que permita apresentar uma melhor descrição do que não se mostrou discreto e sim gradiente nas produções da criança, como, por exemplo, a Fonologia Articulatória. Reconhece-se que detalhes podem ter sido ignorados por conta da análise realizada de oitiva. Para inalizar, de acordo com uma perspectiva da complexidade, por mais que se reconheça a existência de restrições de ordem articulatória no desenvolvimento inicial da fala, um universalismo combinatório segmental é questionado, pois tem se observado variabilidade inter e intra-sujeitos de uma mesma comunidade linguística,64 o que é esperado porque o sistema fonológico é entendido como um sistema dinâmico aberto e instável. Nos momentos de instabilidade, novas categorias fônicas são testadas e produzidas até sua estabilização devido ao princípio de auto-organização, ou seja, a formação espontânea de padrões fonotáticos que emergem de acordo com o input que a criança recebe.

Agradecimento Agradeço ao Daniel Oliveira Peres pelos comentários e sugestões.

64. Baia, “Os templates no desenvolvimento fonológico: o caso do português brasileiro” (2013).

Gradus 1 (1)

63

Notas inais [A] É preciso lembrar que Jakobson defende que fonética e fonologia são dois módulos distintos, apesar de haver colaboração entre os dois: “While phonetics seeks to collect the most exhaustive information on gross sound matter, in its physiological and physical properties, phonemics, and phonology in general, intervenes to apply strictly linguistic criteria to the sorting and classiication of the material registered by phonetics.”65

[B] Para detalhes sobre as três gerações, ler Baia (2013).66 [C] “MacNeilage and Davis (1990a, 1990b, 1993) have proposed ‘Frames, then Content’ as a metaphor to describe spatio-temporal and biomechanical characteristics of babbling and changes during early speech”.67

[D] Devido à terminologia utilizada por MacNeilage e por ele airmar a existência de um padrão segmental, entende-se que sua proposta atribui aspectos linguísticos às produções balbuciadas.68 [E] Embora façam uso da palavra “exata” em “Correspondência Segmental Exata” nos critérios do item b, Vihman e McCune explicam não haver necessidade de cópia idêntica para veriicação da correspondência fonética.69 [F] Uma das generalizações nos estudos fonológicos é a de que certos conjuntos de segmentos tendem a estar juntos em processos fonológicos. Esses conjuntos de segmentos podem ser caracterizados em termos de propriedades fonéticas que são compartilhadas.70

[G] Logo, realizar uma análise partindo da categorização em classes naturais não implica assumir uma determinada teoria. Por exemplo, Vihman e Menn, em um estudo emergentista, buscam evidências para a realidade psicológica dos traços fonológicos de acordo com a Geometria de Traços.71 [H] Toda a discussão acerca do que é categórico e do que é gradiente é atual nos estudos de Fonologia, 72 com seu debate a respeito das unidades presentes nas representações fonológicas. A assunção de que somente propriedades contrastivas (fonemas/traços) ocorrem nas representações fonológicas tem sido criticada por foneticistas e até mesmo por fonólogos.

65. Jakobson e Halle, Fundamentals of Language, p. 18 ([1956]1980). 66. Baia, “Os templates no desenvolvimento fonológico: o caso do português brasileiro” (2013).

67. Davis e MacNeilage, “The Articulatory Basis of Babbling”, p. 1200 (1995). 68. MacNeilage, “Acquisition of speech” (1999).

69. Vihman e McCune, “When is a word a word?” (1994).

70. Clements e Hume, “The internal organization of speech sounds” (1995).

71. Vihman e Menn, “features in child phonology” (2011). 72. Cristófaro-Silva e Gomes, “Representações múltiplas e organização do componente linguístico” (2007).

Gradus 1 (1) A inquietação atual parece ser contrária àquela que levou os linguistas do Círculo de Praga a proporem a divisão entre Fonética e Fonologia, em 1928, no Primeiro Congresso Internacional de Linguistas em Haia, na Holanda. A tendência é contrária por existirem hoje propostas teóricas que visam a acabar com a barreira entre as duas áreas, como a Fonologia Articulatória,73 e aquelas que criticam propostas que partem do traço ou fonema como unidade mínima fonológica, como a Fonologia de Uso74 e a Whole-Word Phonology.75 . O objetivo das correntes que se posicionam contra a delimitação entre as duas áreas é rever o papel delas, questionando até que ponto a Fonética é devidamente situada nos estudos linguísticos quando é assumido o seu papel puramente descritivo, baseado em aspectos físicos da produção, percepção e transmissão dos sons da fala, debruçando-se também no que é gradiente. Até que ponto pode-se realizar um estudo fonológico, essencialmente explicativo e com base na busca da função linguística e do aspecto categórico dos sons, sem partir de um estudo descritivo e físico? Embora tenha sido assumido, desde os estruturalistas, que as duas áreas são interdependentes, falta consenso no que se refere à razão para a separação delas e à unidade mínima de análise. O presente estudo pressupõe que há abstração fonológica, mas não ignora a gradiência presente em nos dados. Um outro diferencial na perspectiva assumida por este estudo é que, diferentemente dos estudos simbólicos, assume-se que a representação não é estática.

64

73. Browman e Goldstein, “Articulatory phonology: an overview” (1992). 74. Bybee, Phonology and Language Use (2001). 75. Waterson, “Child phonology: a prosodic view” (1987); Vihman e Croft, “Phonological development toward a ‘radical’ templatic phonology” (2007).

Referências Albano, Eleonora Cavalcante (2011). “Descontruindo uma inluente perspectiva atual em aquisição da fonologia: a teoria ‘Arcabouço-Conteúdo’”. In: Estudos em Aquisição Fonológica. Ed. por G. Ferreira-Gonçalves, M. Brum-de-Paula e M. Keske-Soares. Pelotas: Universitária Pelotas, pp. 11–33. Baia, Maria de Fátima de Almeida (2013). “Os templates no desenvolvimento fonológico: o caso do português brasileiro”. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo. Barbosa, Plínio Almeida (2006). Incursões em torno do ritmo da fala. Campinas: Pontes/FAPESP. Boysson-Bardies, Bénédicte e Marilyn May Vihman (1991). “Adaptation to language: evidence from babbling and irst words in four languages”. In: Language 67.2, pp. 297– 319. Braine, Martin D. S. (1994). “Is nativism suicient?” In: Journal of Child Language 21.1, pp. 9–31.

Gradus 1 (1)

65

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Gradus 1 (1)

66

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