Habilidades psicológicas de coping em atletas brasileiros

June 1, 2017 | Autor: Renato Miranda | Categoria: Motricidade humana
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Motricidade 2013, vol. 9, n. 1, pp. 95-106

© FTCD/FIP-MOC doi: 10.6063/motricidade.9(1).2467

Habilidades psicológicas de coping em atletas brasileiros Psychological coping skills in brazilian athletes D.R. Coimbra, M. Bara Filho, A. Andrade, R. Miranda ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

RESUMO O objetivo do presente estudo foi analisar as habilidades de coping em atletas brasileiros. Especificamente, verificar as diferenças entre os sexos (masculino e feminino), esportes (coletivos e individuais), de diferentes níveis (regional nacional e internacional). A amostra foi de 375 atletas, idade média 16.8 ± 2.1. A maioria do sexo masculino (74.7%) e de esportes coletivos (68.3%). Em relação ao nível, 124 atletas foram classificados de nível regional, 72 nível nacional e 171 de internacional. O instrumento utilizado foi o Athletic Coping Skills Inventory-28 (ACSI-28), versão em português (ACSI-28BR) que aborda questões especificas de habilidades de coping no esporte. Houve diferença significativa para efeito principal na interação entre género, modalidade e nível competitivo para: Lidar com Adversidades e Desempenho sob Pressão. O estudo identificou diferentes contextos influenciam diretamente a aquisição de habilidades de coping. Palavras-chave: habilidade de coping, desempenho, ACSI-28BR

ABSTRACT The aim of the present study was to analyze the coping skills in Brazilian athletes. Specifically, verify the differences between the genders (male and female), sports (individual and collective), at different levels (regional, national and international). The sample was 375, mean age 16.8 ± 2.1, mostly male (74.7%) and sports collective (68.3%). Concerning level, 124 athletes were rated regional level, 72 national level and 171 international level. The instrument used was the Coping Skills Inventory-28 (ACSI-28), Brazilian Portuguese version (ACSI-28BR) with items specific coping skills in the sport. Significant difference for main effect in the interaction between gender, sport and competitive level for: Coping with adversity and peak under pressure. The study found that different contexts directly influence the acquisition of coping skills. Keywords: coping skill, performance, ACSI-28BR

Submetido: 05.03.2012 | Aceite: 27.12.2012 Danilo Reis Coimbra, Maurício Bara Filho, Renato Miranda. Faculdade de Educação Física e Desportos, FAEFID – Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF – Juiz de Fora, MG. Brasil. Alexandro Andrade. Centro de Ciências da Saúde e do Esporte, CEFID – Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC – Florianópolis, SC. Brasil. Endereço para correspondência: Danilo Reis Coimbra, Faculdade de Educação Física e Desportos, Campus Universitário S/N – Martelos, CEP: 36036-900, Juiz de Fora, MG, Brasil. E-mail: [email protected]

96 | D.R. Coimbra, M. Bara Filho, A. Andrade, R. Miranda

Atualmente, o tema de maior repercussão

(Bebetos & Antoniou, 2003; Coetzee, Grob-

no esporte é o estresse e a maneira como cada

belaar, & Gird, 2006; Cresswell & Hodge,

atleta lida com ele (Bebetsos & Antoniou,

2004; Géczi et al., 2009; Goudas et al., 1998;

2003; Cresswell & Hodge, 2004; Miranda &

Heever, Grobbelaar, & Potgieter, 2007; Meyers,

Bara Filho, 2008; Nicholls & Polman, 2007;

Stewarts, Laurent, Leunes, & Bourgeois, 2008;

Segato, Brandt, Liz, Vasconcellos, & Andrade,

Omar-Fauzee, Daud, Abdullah, & Rashid,

2010; Weinberg & Gould, 2008). A este fenô-

2009). Smith, Schutz, Smoll, e Ptacek (1995)

meno de lidar com estresse denomina-se

compararam atletas do género masculino

coping (enfrentar, lidar, gerenciar), ainda pouco

e feminino e observaram que os do género

estudado pelos psicólogos do esporte do Brasil

masculino obtiveram maiores médias em cinco

e desconhecido da maioria dos atletas e treina-

das sete dimensões (as mulheres obtiveram

dores (Gomes, Coimbra, Guillén, Miranda, &

médias maiores em Treinabilidade e Livre de

Bara Filho, 2007). Lazarus e Folkman (1984)

Preocupação). Bebetos e Antoniou (2003)

definem o coping como a capacidade de geren-

abordaram as diferenças e semelhanças entre

ciar os esforços cognitivos e comportamentais

géneros e idades no preenchimento do instru-

que estão constantemente modificando-se para

mento. A análise demonstrou que não havia

administrar demandas psicofísicas específicas

diferenças entre atletas homens e mulheres em

internas ou externas que excedem aos recursos

nenhuma das dimensões. Goudas, Theodorakis,

individuais. (Anshel, 2001; Crocker, Kowalski,

e Karamousalidis (1998) não encontraram dife-

& Graham, 1998).

renças significativas entre géneros em uma

Existem diferentes instrumentos que são

amostra de atletas de basquete masculino e

utilizados para avaliar as habilidades psico-

feminino. Ambos apresentaram médias mode-

lógicas de coping em atletas (Crocker et al.,

radas em todas as sete dimensões. Com atletas

1998; Nicholls & Polman, 2007). O Athletic

de diferentes modalidades e nível competitivo,

Coping Skills Inventory-28 (ACSI-28) é um

Omar-Fauzee, Daud, Abdullah e Rashid (2009)

instrumento com 28 itens auto-preenchidos

encontraram diferenças estatisticamente signi-

relacionados à percepção do atleta em situa-

ficativas (p < .05) entre os géneros apenas na

ções típicas dos treinamentos e competições.

dimensão Lidar com Adversidades (atletas

Utilizando da Análise Fatorial Confirmatória

masculinos obtiveram maior pontuação). No

e Exploratória, estabeleceram-se sete fatores

entanto, quando compararam atletas de dife-

(Lidar com Adversidades, Desempenho sob

rentes níveis competitivos (regional, estadual e

Pressão, Metas/Preparação Mental, Concen-

nacional), encontraram diferenças (p < .05) nas

tração, Livre de Preocupação, Confiança/Moti-

sete dimensões do ACSI-28, sendo a média dos

vação, Treinabilidade). Cada um dos fatores é

atletas nacionais maior em todas as escalas.

composto por quatro itens em uma escala tipo

Pesquisas anteriores apontaram para a

Likert de 0 (quase nunca) a 3(quase sempre) e

importância do coping no desempenho espor-

o escore dos 28 itens é denominado de Índice

tivo (Coetzee et al., 2006; Cox, Shannon,

de Recursos Pessoais de Coping (Bebetos &

McGuire, & McBride, 2010; Gould, Eklund, &

Antoniou, 2003; Goudas, Theodorakis, & Kara-

Jackson, 1993; Heever et al., 2007; Segato et

mousalidis, 1998; Smith & Christensen, 1995;

al., 2010; Smith & Christensen, 1995). Verificar

Smith, Schutz, Smoll, & Ptacek, 1995).

o nível desta habilidade psicológica em atletas

Neste sentido, diversos grupos de pesquisas

brasileiros, almejando a melhora destas apti-

têm investigado as diferenças nas habilidades

dões, é um fator significativo para que o Brasil

de coping medidas pelo ACSI-28 entre género,

obtenha um bom desempenho em competições

modalidade, nível competitivo, idade, etc.

de alto nível. No entanto, há ainda carência de

Habilidades de coping em atletas brasileiros | 97

estudos de análise das habilidades psicológicas

de diferentes esportes (ténis, judo, basquete,

em atletas brasileiros. Os poucos já realizados

volei, futebol, ginástica, etc.). As modalidades

encontraram diferenças significativas entre

individuais representaram 31.7% da amostra

atletas do género masculino e feminino, entre

(n = 119) e as modalidades coletivas 68.3%

modalidades e em diferentes níveis de desem-

(n = 256). Quanto ao Nível Competitivo, 124

penho na personalidade (Bara Filho, Ribeiro, &

atletas foram classificados como nível regional

Garcia, 2005) e nos motivos de início e aban-

(33.1%), 72 como nível nacional (19.2%) e 171

dono esportivo (Carmo, Matos, Ribas, Miranda,

de nível internacional (45.6%).

& Bara Filho, 2009). Pesquisas anteriores suportam a impor-

Instrumentos

tância de verificar as diferenças nas habilidades

Após realizar todos os procedimentos de

psicológicas entre atletas de género, modali-

adaptação transcultural (Beaton, Bombardier,

dade e nível competitivo distintos, a fim de

Guillemin, & Ferraz, 2002), utilizou-se a versão

traçar estratégias de intervenções para cada

brasileira do Athletic Coping Skills Inven-

grupo, respeitando suas características e neces-

tory-28 (ACSI-28BR). Cada uma das sete subs-

sidades. Neste sentido, o objetivo do estudo

calas é composta por quatro itens, pontuados

foi analisar as habilidades de coping em atletas

em uma escala tipo Likert (0 = quase nunca até

brasileiros. Especificamente, verificar as possí-

3 = quase sempre), variando de 0 até 12 pontos.

veis diferenças entre os géneros (masculino

A soma de todas as subescalas é denominada

e feminino), modalidades (coletivas e indivi-

Recurso Pessoal de Coping. As dimensões do

duais) e diferentes níveis (regional, nacional e

ACSI-28BR foram definidas da seguinte forma:

internacional).

Lidar com Adversidades (ex: “Eu mantenho o controle emocional, não importa como as MÉTODO

coisas estão indo comigo”), Desempenho

Amostra

sob Pressão (ex: “Minha tendência é jogar/

As características da amostra estão descritas

competir melhor sob pressão, pois eu penso

na Tabela 1. A amostra foi composta de 375

mais claramente”), Metas/Preparação Mental

atletas de diferentes níveis de desempenho,

(ex: “Eu tenho meu plano de competição

com idades entre 13 e 22 anos, tempo de

completamente estruturado na minha mente

prática entre um e 18 anos, sendo a maioria

muito antes de o jogo/competição começar”),

do género masculino (74.7%), praticantes

Concentração (ex: “Para mim é fácil direcionar minha atenção e focar em um único objeto ou pessoa”), Livre de Preocupação (ex: “Eu me

Tabela 1 Características gerais da amostra Característica

Feminino Masculino Total (n = 95) (n = 280) (n = 375)

Idade (anos)

16.6 ± 1.8 17.0 ± 1.9 16.8 ± 2.1

Tempo de Prática 5.9 ± 3.4 6.9 ± 3.7 5.9 ± 3.7 (anos) Modalidade (Individual/Coletiva)

35 / 60

84 / 196

119 / 256

preocupo um pouco sobre o que as pessoas pensam sobre meu desempenho”), Confiança/ Motivação (ex: “Eu sinto confiante de que eu irei jogar/competir bem”), Treinabilidade (ex: “Eu aperfeiçôo minhas habilidades escutando cuidadosamente os conselhos e instruções dos técnicos e treinadores”). A versão brasileira do

Nível Competitivo (Regional/ 12 / 20 / 112 / 52 / 124 / 72 / 60 111 171 Nacional/Internacional)

instrumento possui 28 itens e obteve Consis-

Variáveis contínuas: Média ± dp; variáveis categóricas: n (número) de atletas por categoria

Total o Alpha de Cronbach foi de 0.81. O escore

tência Interna entre 0.54 (Treinabilidade) e 0.77 (Desempenho sob Pressão) e para a Escala α para algumas dimensões foi moderado, o que

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já era de se esperar, pois cada subescala possui

partir do Traço de Pillai. Quando o pressuposto

apenas quatro itens e a amostra é bem ampla.

de esfericidade não foi assumido, foi usado

No entanto, os valores de Alpha apresentados

o valor de ajuste fornecido pelo teste Gree-

se assemelham com os reportados em outros

nhouse-Geiser. O Nível Competitivo, o tipo de

estudos (Géczi et al., 2009; Goudas et al., 1998;

modalidade esportiva e o género foram conside-

Smith et al., 1995).

rados as variáveis independentes, enquanto que as sete categorias de habilidades psicológicas de

Procedimentos

coping, as variáveis dependentes. Foram calcu-

Após a autorização para a realização do

lados os valores de cada uma das sete escalas

estudo, pelo Comitê de Ética em Pesquisa em

(média ± dp). Para a variável Coping Total foi

Seres Humanos da Universidade Federal de

realizada uma ANOVA 2x2x2 separadamente.

Juiz de Fora (CEP-UFJF, parecer: 223/2009), e

As análises não foram ajustadas para a idade,

estando de acordo com os padrões exigidos pela

em razão da não diferença significativa entre os

Declaração de Helsinki (Resolução Conselho

grupos em função desta variável. Considerou-

Nacional de Saúde 196/96) foi feito o contato

-se um nível de significância α = 0.05 (Field,

com um grande clube da capital do Estado de

2009).

Minas Gerais, que aloca diferentes modalidades. RESULTADOS

A coleta também foi realizada em competições regionais e nacionais, consentidas pelos organi-

A MANOVA 2x2x2 resultou em efeitos prin-

zadores, além da aplicação do questionário em

cipais significativos para género [F (7.366) =

diferentes equipes locais após a autorização do

8.31, p = .000; poder = 1.00], tipo de esporte

dirigente ou treinador.

[F (7.366) = 2.41, p = .02; poder = 0.86] e

Os atletas (ou responsáveis em caso de

nível competitivo [F (7.366) = 4.06, p = .000;

menores de 18 anos) assinaram o Termo de

poder = 0.98] bem como para as interações

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),

género*nível [F (7.366) = 3.13, p = .003; poder

informando-os a respeito dos objetivos do

= 0.94], modalidade*nível [F (7.366) = 1.98, p

estudo, da garantia de anonimato quanto à

= .05; poder = 0.77] e género*modalidade*nível

identidade dos atletas e da participação volun-

[F (7.366) = 2.07, p = .04; poder = 0.79]. A

tária na pesquisa.

A duração para assinar o

Tabela 2 apresenta a média e o desvio-padrão

TCLE, preencher o questionário geral e especí-

das habilidades psicológicas para as categorias

fico variou entre 10’ a 15’. A coleta foi realizada

de género, nível competitivo e tipo de esporte.

entre Novembro de 2009 e Abril de 2010.

A Tabela 3 apresenta os valores da estatística F da análise univariada para cada variável depen-

Análise Estatística

dente.

Os dados foram analisados por meio da MANOVA 2x2x2, para investigar a relação entre

Quanto ao Género

as habilidades psicológicas e o Nível Compe-

Em relação às habilidades psicológicas e o

titivo (regional x nacional/internacional) com

género das atletas, foram observados efeitos

possíveis efeitos do tipo de esporte (individual

principais significativos para Melhor Desem-

x coletivo) e género (masculino x feminino).

penho sob Pressão, Lidar com Adversidades,

Quando a análise multivariada detectou efeito

Metas/Preparação Mental e Confiança/Moti-

significativo, efetuou-se a análise univariada

vação (Tabela 3). Independentemente do tipo

por meio da ANOVA separadamente para cada

de esporte e do nível competitivo, os atletas

variável dependente, ajustada pelo teste de

masculinos

Bonferroni. A análise da estatística F foi feita a

nestas habilidades psicológicas do que as

apresentaram

maiores

escores

Habilidades de coping em atletas brasileiros | 99

atletas. Para Lidar com Adversidades, os atletas

Adversidades (género*tipo de esporte*nível

masculinos apresentaram ainda maiores valores

competitivo). Os maiores valores de Melhor

tanto no nível regional quanto nacional (inte-

Desempenho sob Pressão foram observados

ração género*nível competitivo). Por outro

em esportes coletivos masculinos de nível

lado, em Treinabilidade, as atletas apresentaram

nacional, ao passo que os menores valores

maiores valores no nível regional, ao passo que

foram para esportes individuais femininos de

no nível nacional foram observados resultados

nível regional. Quanto à variável Lidar com

similares para ambos.

Adversidades, os maiores valores foram obser-

Foram também encontrados efeitos de

vados em atletas masculinos, sendo que no

interações significativas para Concentração

nível nacional, eles aparecem em esportes cole-

(género*tipo de esporte), Melhor Desem-

tivos, ao passo que no nível regional os maiores

penho sob Pressão e Lidar com Adversidades

valores ocorrem em esportes individuais.

(género*tipo de esporte*nível competitivo). As atletas do género feminino apresentaram

Quanto ao Nível de Competitivo

maiores valores de Concentração nas moda-

Em relação às habilidades psicológicas e o

lidades individuais, enquanto que os atletas

nível competitivo, foi encontrado efeito prin-

masculinos obtiveram maiores valores de

cipal significante para Lidar com Adversidades,

Concentração nas modalidades coletivas. No

Metas/Preparação Mental, Livre de Preocu-

nível regional, os atletas masculinos apresen-

pação, Treinabilidade e Confiança/Motivação

taram maiores valores de Melhor Desempenho

(Tabela 2). Foram encontradas também intera-

sob Pressão tanto nas modalidades indivi-

ções significativas para Lidar com Adversidades

duais quanto nas coletivas quando comparados

e Treinabilidade (género*nível Competitivo)

às atletas do género feminino. Já no nível

e Concentração (tipo de esporte*nível compe-

nacional, este resultado foi observado somente

titivo) e Melhor Desempenho sob Pressão

nas modalidades coletivas, pois nas modali-

e Lidar com Adversidades (género*tipo de

dades individuais, todos apresentaram valores

esporte*nível competitivo).

similares.

Independentemente do género e do tipo de esporte, atletas de nível nacional apresentam

Quanto ao Tipo de Esporte

maiores valores para Lidar com Adversidades,

Em relação às habilidades psicológicas e o

Metas/Preparação Mental, Livre de Preocu-

tipo de esporte, foi encontrado efeito principal

pação e Confiança/Motivação, ao passo que

significante apenas para Treinabilidade (Tabela

atletas de nível regional apresentaram maiores

3). Independentemente do género e do nível

valores de Treinabilidade. Os atletas mascu-

competitivo, atletas de esportes individuais

linos reportaram valores similares de Lidar com

reportaram maiores valores de Treinabilidade

Adversidades tanto os de nível regional quanto

do que atletas de esportes coletivos. Obser-

nacional, ao passo que as atletas femininas de

varam-se também efeitos de interações signi-

nível nacional apresentaram maiores valores

ficativas para Concentração (género*tipo de

do que as de nível regional para esta variável.

esporte; tipo de esporte*nível competitivo). Os

Quanto a Treinabilidade, valores similares

maiores valores de Concentração foram repor-

foram observados em atletas masculinos de

tados por atletas de modalidades individuais

nível regional e nacional, sendo que nas atletas

e de nível regional. No nível nacional, foram

femininas, maiores valores de Treinabilidade

observados valores similares para esportes indi-

foram observados no nível regional. Atletas de

viduais e coletivos. Houve interações significa-

nível regional apresentaram maiores valores

tivas para Desempenho sob Pressão e Lidar com

de Concentração em esportes individuais,

100 | D.R. Coimbra, M. Bara Filho, A. Andrade, R. Miranda

Tabela 2 Média e desvio-padrão das habilidades psicológicas em função do Nível Competitivo, modalidade e gênero Atletas Masculino Atletas Feminino Esporte Individual Esporte Coletivo Esporte Individual Esporte Coletivo Regional Nacional Regional Nacional Regional Nacional Regional Nacional n = 19 n = 65 n = 97 n = 99 n=7 n = 33 n = 13 n = 47 Desempenho sob Pressão 7.6 ± 2.9 6.6 ± 3.0 7.3 ± 2.6 8.5 ± 2.7 4.4 ± 3.4 6.6 ± 3.4 5.5 ± 3.3 5.9 ± 3.1 Lidar com Adversidades 8.0 ± 2.2 7.0 ± 2.4 7.2 ± 2.2 7.7 ± 2.3 3.8 ± 2.9 6.2 ± 2.5 5.2 ± 2.2 6.3 ± 2.6 Metas/Preparação Mental 8.0 ± 3.0 8.2 ± 2.4 7.1 ± 2.4 7.8 ± 2.6 5.8 ± 3.1 8.6 ± 2.7 6.1 ± 2.3 6.9 ± 2.6 Livre de Preocupação 3.8 ± 2.7 6.2 ± 2.9 5.4 ± 2.7 5.3 ± 2.8 5.3 ± 3.7 5.5 ± 2.6 4.6 ± 2.4 5.2 ± 2.8 Concentração 5.9 ± 1.9 5.5 ± 2.0 5.5 ± 1.8 6.2 ± 1.9 7.0 ± 1.5 5.6 ± 2.1 5.1 ± 1.6 5.4 ± 1.8 Treinabilidade 7.1 ± 2.1 7.2 ± 1.7 7.0 ± 1.9 6.8 ± 1.8 8.6 ± 1.0 7.0 ± 2.0 7.3 ± 1.7 6.5 ± 2.0 Confiança/ Motivação 7.0 ± 1.5 7.2 ± 1.5 6.8 ± 1.6 7.1 ± 1.5 5.0 ± 2.4 6.5 ± 1.9 5.8 ± 1.9 6.0 ± 1.9 Variáveis contínuas: média ± dp; variáveis categóricas: n (número) de atletas por categoria Tabela 3 Estatística F da análise univariada Habilidades Psicológicas Confiança/ Metas/Prep. Livre de Desemp. Concentração Treinab. Lidar Motivação Mental Preocupação Pressão Género (G) 18.4** 34.4** 6.2** 0.00 0.01 0.9 23.8** Tipo de Esporte (TE) 1.4 1.0 3.2 0.01 2.5 4.2* 0.00 Nível Competitivo (NC) 2.6 4.2* 8.2** 3.7* 0.5 4.9* 5.3* G x TE 0.5 1.2 0.00 0.9 4.3* 1.2 0.2 G x NC 1.8 7.3** 2.9 0.8 1.5 4.4* 1.5 TE x NC 0.05 0.03 0.8 1.4 5.5* 0.2 1.2 G x TE x NC 5.3* 3.8* 2.3 3.0 0.2 0.7 1.9 Efeitos e Interações

(*p < .05; ** p < .01)

enquanto que atletas de nível nacional apresen-

e individuais e competindo em nível regional e

taram maior Concentração nos esportes cole-

nacional/internacional. Os resultados obtidos

tivos. Maiores valores de Melhor Desempenho

apontaram uma interação significativa nas

sob Pressão e Lidar com Adversidades foram

três variáveis analisadas na dimensão Desem-

observados em atletas de nível nacional, prin-

penho sob Pressão e Lidar com Adversidades.

cipalmente em atletas masculinos e de esportes

Concentração apresentou interação entre duas

coletivos.

variáveis: Género e tipo de esporte e tipo de

A Figura 1 e 2 ilustram graficamente as

esporte e nível competitivo. Em Treinabilidade

diferenças nas médias(± Erro Padrão), nas

a interação ocorreu entre género e nível compe-

habilidades de coping Lidar com Adversidades

titivo. As habilidades Metas/Preparação Mental

e Desempenho sob Pressão, respectivamente.

(género e nível), Livre de Preocupação (nível)

Foram as únicas que apresentaram interação

e Confiança/Motivação (género e nível), apesar

significativa entre as três variáveis dependentes

de apresentarem diferenças nas variáveis indivi-

analisadas: Género, modalidade e nível compe-

dualmente, não mostraram interação. Atletas masculinos de modalidades cole-

titivo.

tivas e nível nacional possuem os níveis mais DISCUSSÃO

elevados de Desempenho sob Pressão, seguido

A proposta desta investigação foi verificar

pelos atletas de modalidades individuais de

as habilidades psicológicas de coping através

nível regional e coletivo de nível regional,

do ACSI-28BR em atletas brasileiros, compa-

contrastando com as do género feminino de

rando as diferenças entre atletas do género

modalidades individuais e coletivas de nível

masculino e feminino de modalidades coletivas

regional. Em esportes coletivos, lidar com a

Habilidades de coping em atletas brasileiros | 101

Figura 1. Diferenças (M ± EP) na variável Desempenho sob Pressão

Figura 2. Diferenças (M ± EP) na variável Lidar com Adversidades

pressão é uma tarefa equacionada por toda

lidades coletivas lidam melhor com adversi-

a equipe, há a possibilidade de substituição

dades, pois, por serem esportes de confrontação

do atleta, geralmente possui maior duração e

direta e de habilidade motora aberta, ocorrem

intervalos que servem para atenuar a situação,

mais adversidades, mais situações inesperadas

melhorando o desempenho, mesmo em situa-

do que em atletas de esportes individuais, pois

ções adversas. No entanto, o que parece

nestes geralmente não há a possibilidade de

influenciar na habilidade de Desempenho

modificar um trajeto (por exemplo, atletismo),

sob Pressão é o género e não o esporte prati-

ou sair do percurso (por exemplo, natação),

cado. Lidar com adversidades é uma habilidade

ou seja, são esportes mais previsíveis. Enfim,

melhor desenvolvida em atletas masculinos de

atletas de esportes coletivos por vivenciarem

esportes individuais e nível regional, seguido

mais adversidades, poderiam desenvolver mais

pelos de modalidades coletivas e nível nacional.

habilidades de enfrentá-las.

Mas, novamente, o que mais contribuiu para a

As diferenças encontradas entre os géneros

diferença entre os grupos foi o género, embora

nas habilidades de traçar metas e preparar-se

a hipótese aqui seja de que atletas de moda-

mentalmente e, ainda, na confiança e motivação

102 | D.R. Coimbra, M. Bara Filho, A. Andrade, R. Miranda

já é bastante difundida na literatura de psico-

o uso de feedback positivo para aumentar a

logia do esporte (Weiberg & Gould, 2008).

confiança e a motivação dos atletas, ou ainda,

Pesquisas anteriores apontam que atletas do

estratégias de ativação e desativação básica

género feminino possuem maiores níveis de

para obter um melhor desempenho mesmo sob

ansiedade cognitiva e somática e menor auto-

pressão ou frente às adversidades. Traçar metas

confiança, comparando com atletas do género

tangíveis a curto e médio prazo e o treinamento

masculino, bem como maior irritabilidade

mental também são estratégias possíveis de

e emotividade, o que pode também influen-

serem ensinadas para melhorar as habilidades

ciar em sua habilidade de desempenhar bem

de preparação mental.

sob pressão e lidar com adversidades (Craft,

Sabendo das diferenças peculiares entre esportes coletivos e individuais, tanto em

Magyar, Becker, & Feltz, 2003). Diversas áreas do conhecimento buscam

exigência

física,

técnica

e

metodológica,

diferenciar homens e mulheres sob vários

quanto em estrutura e preparação nos esportes

aspectos. No campo das ciências do esporte,

(Bompa, 2002), características da personali-

encontrar essas diferenças entre o género é

dade (Bara Filho et al., 2005) humor (Beedie,

fundamental para a aplicação de diferentes

Terry, & Lane, 2000), habilidade psicológica

métodos e meios de aplicação e avaliação para

(Cox et al., 2010; Elferink-Gemser, 2005) e

possibilitar o melhor rendimento individua-

desempenho optou-se por verificar também a

lizado (Bara Filho et al., 2005). Muitas vezes,

diferença entre estas modalidades nas habili-

o género do indivíduo é uma variável impor-

dades de coping. Atletas de modalidades indivi-

tante na relação entre habilidade psicológica

duais possuem maiores níveis de Treinabilidade

e desempenho (Cox et al., 2010; Elferink-

do que atletas de esportes coletivos, indepen-

-Gemser, 2005; Sheldon & Eccles, 2005). No

dentemente de género e nível. Presume-se que

estudo de Bebetos e Antoniou (2003) foram

esta diferença encontrada seja devida a parte

encontrados valores similares nas dimensões

da amostra ser composta por atletas de lutas.

do ACSI-28 entre homens e mulheres. No

Notadamente nestes esportes há uma forte

entanto é importante destacar que os atletas

relação de subordinação ao treinador, inerente

pesquisados eram de uma mesma equipe e

as características da modalidade há um maior

treinadas pelo mesmo técnico, motivo apon-

respeito à experiência e ao conhecimento do

tado pelos autores como principal causa da

mestre. Outro possível fator é que em esportes

ausência de diferenças entre os géneros. Smith

coletivos o treinador precisa equacionar a

et al. (1995) também não encontraram dife-

atenção para todos da equipe, diminuindo as

renças significativas entre homens e mulheres,

chances de comunicação entre estes e todos

bem como Goudas et al. (1998) com atletas de

os membros da equipe, além do caso de uma

basquete. Ambos apresentaram médias mode-

crítica ou correção ser dada na frente do time

radas em todas as sete dimensões e na escala

pode ser motivo para se envergonhar para

total. Omar-Fauzee et al. (2009) encontraram

alguns e sentir-se desafiados para outros.

significativas

O tipo de modalidade também influenciou

(p
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