Hardware/Software de imagem e arte rupestre: ver o que os olhos não conseguem

September 4, 2017 | Autor: Fernando Coimbra | Categoria: Rock Art (Archaeology), Arte Rupestre, Computer Science in Archaeology
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HARDWARE/ SOFTWARE DE IMAGEM E ARTE RUPESTRE: Ver o que os olhos não conseguem Fernando Augusto Coimbra Grupo Quaternário e Pré-História, Centro de Geociências – FCT [email protected]

Resumo Algumas gravuras rupestres tornam-se quase imperceptíveis à vista desarmada, sendo necessário condições de iluminação ideais nem sempre possíveis de obter. A solução pode passar pelo tratamento das imagens em computador, através de software diverso, chegando-se por vezes a detectar gravuras até então desconhecidas apesar de as rochas onde surgem já terem sido alvo de publicação. Neste trabalho o autor apresenta exemplos de insculturas descobertas apenas com o auxílio de meios informáticos, sendo essencialmente analisados filiformes finíssimos em xisto (Centro de Portugal e Província de Cáceres) e micropicotagens em mármore (Philippi, Grécia). São ainda tecidas algumas considerações sobre a utilização de scanners 3D a laser na investigação da arte rupestre.

1. INTRODUÇÃO Algumas gravuras rupestres tornam-se muito difíceis de distinguir à vista desarmada, devido ao seu adiantado estado de erosão, sendo necessário condições de iluminação ideais nem sempre possíveis de obter. Para além disso, existem casos em que elas são praticamente imperceptíveis sem recurso a meios tecnológicos. Por exemplo, foi o que aconteceu no ano de 2003 em Stonehenge, onde uma equipa de arqueólogos britânicos da associação Wessex Archaeology, em colaboração com a Archaeoptics, uma empresa escocesa especialista em scanners 3D a laser, descobriu gravuras rupestres até então desconhecidas (Fig.1).

Figura 1: Representações de machados em monólito de Stonehenge. [Graydon03]

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Conhecemos outros exemplos em que certas insculturas são descobertas apenas com auxílio de hardware e software de imagem, não tendo sido observadas nas rochas onde foram executadas. De facto, simplesmente ao ampliar no computador uma fotografia da Laje da Fechadura (concelho da Sertã), que fora digitalizada com grande definição, notámos que sob um escalariforme, existiam mais gravuras, executadas com traço muito fino, que não tinham sido detectadas antes. Posteriormente decidimos fazer a mesma experiência com imagens de outras estações rupestres filiformes como a Pedra Letreira de Góis, o Petróglifo de Aceitunilla (Cáceres) e algumas rochas de Foppe di Nadro e de Campanine di Cimbergo, em Valcamonica, Itália. O resultado, em casos consideráveis, foi idêntico, surgindo mais insculturas do que as inicialmente detectadas e por vezes até já alvo de publicação. O procedimento que aqui apresentamos assemelha-se um pouco à história do ovo de Colombo, isto é, após exemplificado todos dirão que é muito fácil, não trazendo nada de novo. Todavia, torna-se necessário efectuar uma distinção entre a prática de ampliações executadas no computador com a finalidade de observar melhor e aquelas feitas com a consciência de que esse procedimento, embora simples, permite detectar gravuras não descobertas anteriormente. Mas, obviamente, o processo implica um conjunto de acções prévias: Em primeiro lugar, é crucial obter uma boa imagem, de preferência digital1, pois a alta resolução alcançada por esta tecnologia permite ampliar consideravelmente os motivos sob estudo, para além de proporcionar grande nitidez. Posteriormente é vantajoso, em alguns casos, aprimorar aspectos como contraste, brilho, nitidez, exposição e ruído, sendo por vezes também útil alterar a cor da imagem ou invertê-la para negativo fotográfico. Trata-se de um trabalho de paciência, pois nem sempre se conseguem os resultados pretendidos, ficando por vezes as imagens “trabalhadas” com pior qualidade que as originais. Após algumas experiências aprimorando fotografias de alta resolução através de software de imagem diverso, o passo seguinte resume-se simplesmente a ampliar as imagens no visualizador do Windows. E é aí que as surpresas aparecem. Certamente que os scanners de 3D têm uma tecnologia muito superior2 ao processo simples que aqui propomos, mas existem ainda alguns problemas relativos ao seu emprego no estudo da arte rupestre, cuja solução nem sempre é fácil. Por exemplo, o aparelho utilizado em Stonehenge custa 30 000 £ (cerca de 20 400 Euros) e a empresa que o opera cobra os seus serviços a 1000 £ por dia (aproximadamente 680 Euros), o que se torna excessivo para investigadores portugueses. Para além disso, este tipo de hardware apresenta grande sensibilidade à luz ambiente, sendo por vezes necessário utilizar uma tenda em redor do objecto de estudo. Ora, para o caso de lajes insculturadas de grandes dimensões torna-se impossível fixar a tenda sem causar danos na rocha. Pode-se argumentar que se o trabalho for realizado à noite, com luz artificial, já não será necessária a tenda. Todavia, este tipo de scanner pesa cerca de 11Kg e para uma boa iluminação nocturna será aconselhável a utilização de um gerador3. Se pensarmos que as rochas insculturadas se encontram muitas vezes em locais remotos e de acesso difícil torna-se problemático o transporte de todo este material, principalmente de noite. Por outro lado, trabalhar com esta tecnologia exige bastante tempo disponível no terreno, sendo necessário largas horas para o efectuar4, o que pode provocar o descarregar da bateria do scanner, para além de outros inconvenientes. Para além disso ocasiona bases de dados muito vastas, cuja gestão se torna muito trabalhosa [Wessex Archaeology / Archaeoptics03]. 1

A máquina que utilizamos actualmente é uma Sony Cyber-shot DSC-H1, com um zoom óptico de 12 X e um Memory Stick Pro, permitindo obter imagens com alta resolução (até 5 MB).

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Por exemplo, estes aparelhos permitem captar nove milhões de pontos de informação em apenas trinta minutos, que são utilizados posteriormente em computador para a elaboração de imagens tridimensionais.

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Deve-se referir ainda que a própria iluminação nocturna não é isenta de problemas, pois, por exemplo, a luz artificial atrai grande número de insectos, o que perturba o desenrolar dos trabalhos.

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Uma simples cruz anglo-saxónica em pedra, decorada em quatro faces, demorou seis horas e meia a digitalizar, sendo necessários 120 scans [Paraglobal], tantos como os que foram precisos para registar uma rocha insculturada de 4m de comprimento por 1,5m de largura [Barnett; Chalmers et alli04].

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Regressando ao método que motivou este pequeno artigo, apresentamos seguidamente alguns casos de novas gravuras descobertas graças ao trabalho das imagens em computador. Publicamos apenas três figuras, pois a técnica preconizada funciona apenas com grandes ampliações.

2. CASOS DE ESTUDO Embora existam vários casos de gravuras observadas só com recurso a meios informáticos, apresentamos apenas três exemplos em arte filiforme pós paleolítica e quatro em gravuras obtidas por micropicotagem em mármores da região de Philippi, Grécia. Tínhamos pensado inicialmente em apresentar também exemplos de insculturas picotadas em granito, muito erosionadas, mas isso tornaria o artigo demasiado extenso para ser publicado nas actas. Ficará para uma próxima oportunidade.

2.1 Filiformes da Beira Interior e da Província de Cáceres Os casos apresentados adiante revelam a existência de novas gravuras em rochas já publicadas e que não tinham então sido observadas. O objectivo não é obviamente indicar as imprecisões alheias (nós próprios não visualizámos certas gravuras sem recurso ao processo que apresentamos), mas sim demonstrar a necessidade e a utilidade de aliar as novas tecnologias de imagem ao estudo deste tipo de arte rupestre que é de observação bastante difícil. Assim, coloca-se a hipótese de existirem gravuras ainda não detectadas em outras rochas com arte filiforme publicadas já há bastante tempo, quando não existia a possibilidade de recorrer a meios informáticos para auxílio da arqueologia.

2.1.1 Laje da Fechadura (Sertã) Como já referimos, ao utilizar a ampliação repetida numa imagem da Laje da Fechadura notou-se que sob uma inscrição com caracteres da escrita do sudoeste existem outros motivos, mais antigos, executados com traço muito fino e que sob um escalariforme que lhe fica próximo existem outras insculturas também não detectadas anteriormente. Refira-se que já visitámos esta rocha inúmeras vezes na companhia de colaboradores, no âmbito da preparação de uma comunicação a um congresso internacional de arte rupestre, mas as insculturas agora referidas nunca tinham sido visualizadas no local. Foi precisamente esta descoberta acidental, ocorrida já em 2003, que nos levou a pensar na elaboração de um artigo sobre as vantagens das aplicações informáticas ao estudo da arte rupestre. Todavia, apesar da existência de um texto preliminar, tarefas diversas protelaram tal iniciativa, tendo ficado o trabalho “na gaveta” todo este tempo. De qualquer modo, as experiências com software de imagem e arte rupestre foram-se sucedendo ao longo destes anos, contribuindo para uma prática que se tem verificado muito útil.

2.1.2 Pedra Letreira (Góis) No caso da Pedra Letreira (Fig.2), após trabalhar pacientemente um diapositivo antigo,5 descobrimos uma alabarda que não consta dos desenhos já publicados sobre esta rocha, para além de outras linhas filiformes 5

Diapositivos efectuados anteriormente ao aparecimento e divulgação das máquinas digitais também são muito úteis, pela sua definição, para tratamento informático, existindo bons scanners que permitem a digitalização deste tipo de imagem. No nosso caso, digitalizámos alguns slides que transformámos em imagens com 9 MB, ou mais, permitindo descobrir gravuras não visualizadas na rocha. Para além disso, temos tido a experiência de que certas gravuras se vêem melhor em diapositivo (projectado sobre um ecrán), do que in situ.

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pouco perceptíveis. Muitas vezes a ampliação obtida no monitor do computador não é suficiente clara para discernir com exactidão os novos motivos que então surgem. É em casos como este que a utilização de um scanner 3D seria a solução, devido às suas altas performances. Estamos certos que o futuro da investigação da arte rupestre passa pela utilização destes aparelhos, pois, como se verificou no exemplo de Stonehenge, permitem ver o que os olhos não conseguem. Será tarefa das instituições interessadas no estudo da arte rupestre adquirir esta tecnologia que, no futuro, assim esperamos, terá custos mais baixos, como acontece com todo o hardware após conseguir uma utilização mais generalizada.

Figura 2: Filiformes da Pedra Letreira.

2.1.3 Aceitunilla (Nuñomoral, Cáceres) Trata-se de um afloramento de xisto com gravuras filiformes pós-paleolíticas, onde se observam motivos como pentalfas, escalariformes e círculos, entre outros. Apesar de já publicado em 1991, a análise cuidada de uma fotografia digital de grande definição permitiu descobrir gravuras finíssimas inéditas que serão muito dificilmente detectáveis no local a olho nu.6 Trabalhámos intensamente esta imagem, alterando o contraste, a cor, o brilho e invertemo-la ainda para negativo fotográfico, medida que deu melhores resultados que o original a cores. Verificámos então que esta rocha está muito mais insculturada do que parece à primeira vista, detectando novos motivos que sugerem armas (alabardas e facas), que existem efectivamente em outras rochas da Província de Cáceres. Por exemplo, uma das gravuras agora descobertas é uma faca do tipo que surge em Hoya de Azabal com um cabo que termina num pomo quadrangular.

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Não conhecemos esta rocha pessoalmente. A foto referida foi-nos enviada pela Prof. Doutora Carmen Sevillano, da Universidade de Salamanca, que estudou e publicou Aceitunilla no início da década de 90, época em que os meios técnicos se encontravam menos desenvolvidos que actualmente.

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2.2 Micropicotagens em mármore da região de Philippi (Grécia) Se a arte filiforme é de observação difícil, devido aos seus traços finíssimos, as gravuras executadas em mármore não o são menos, em virtude das características desta rocha com veios de cores diversas que tornam o registo destas insculturas numa tarefa árdua. Para além desta dificuldade natural, o processo de levantamento com plástico revela-se complicado no caso de existirem sobreposições, pois surgem reflexos no mesmo apesar de se trabalhar com condições de iluminação ideais. Estas gravuras de Philippi foram estudadas por uma equipa internacional em duas campanhas de trabalho (2005 e 2006), tendo sido o levantamento efectuado com luz rasante ao nascer do dia e ao entardecer. Foram também fotografadas com duas máquinas digitais de grande definição, sendo algumas imagens posteriormente “trabalhadas” pelo autor destas linhas nas instalações do Helenic Rock Art Centre. Foram então apresentadas ao Director desta instituição, Dr. Giorgos Dimitriadis, que desconhecia a existência de alguns pormenores em determinadas cenas. Para além disso, os quatro casos que seguidamente apresentamos revelam gravuras novas, descobertas apenas com o método que divulgamos nesta comunicação.

2.2.1 Cavalo da Rocha 2 de Profeta Elias Na campanha de trabalhos de 2006 tivemos a felicidade de descobrir uma gravura inédita, representando um cavalo de estilo naturalista, completamente diferente dos então conhecidos até à data na região, todos de tipo esquemático [Dimitriadis, Coimbra et alli07]. Tem apenas cerca de 5 cm e encontra-se muito erosionada. Fotografada com grande definição, foi posteriormente trabalhada em computador e ampliada no visualizador de imagens, tendo sido detectada a existência próxima de mais motivos não observados com luz rasante no local. Um deles parece ser outro cavalo, menor ainda mas de estilo esquemático. Para além disso, o cavalo maior parece apresentar rédeas, remetendo desse modo para a existência de um cavaleiro e tornando a figura mais recente do que inicialmente se supôs. Através da utilização de software recente conseguimos alterar, na imagem, a própria textura da rocha, o que permitiu visualizar de forma inequívoca os pormenores referidos atrás. Tratou-se de uma acção bafejada pela sorte, pois resultou de simples experiências preliminares com o novo programa7. Todavia, esta foto foi trabalhada pacientemente com programas diversos por diversas ocasiões, separadas no tempo por alguns meses, tendo proporcionado bons resultados.

2.2.2 Trypia Pietra Trata-se de uma pequena laje de forma quadrangular que apresenta algumas gravuras, significando o seu nome “Pedra esburacada”. Foi alvo de vandalismo, existindo algumas inscrições recentes em caracteres gregos que dificultam, em alguns casos, a percepção das insculturas. Fotografada em 2006 com grande definição, revelou mais tarde, após trabalho em computador, a existência de uma figura antropomórfica não detectada anteriormente. Parece estarmos na presença de um guerreiro exibindo um arco na mão esquerda, mas a sua visualização não é fácil mesmo em computador, pois a imagem encontra-se cortada por uma inscrição recente. A esta dificuldade acresce a característica do mármore onde esta gravura foi executada – cinzento com veios brancos – encontrando-se precisamente numa zona onde estes adquirem grande intensidade.8 Quando executámos esta foto, também em 2006, o objectivo foi fotografar um machado duplo, que se encontra próximo, pois a figura humana não se distinguia no local. Por este motivo, ela ficou cortada acima da representação dos pés.

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Trata-se do programa Nero Start Smart, secção Nero PhotoSnap Essentials. A alteração da textura da rocha foi conseguida ao trabalhar a função “Ruído”. 8 Deste modo, a passagem da fotografia para negativo fotográfico não resulta, pois o efeito torna-se confuso.

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2.2.3 Rocha 3 de Mana A existência desta rocha foi indicada à equipa de investigação, no final da campanha de trabalhos de 2006, por um pastor reformado, o Sr. Stelios Foustopoulos. Não havendo tempo para a estudar integralmente, procedeu-se apenas a uma pequena limpeza, pois algumas gravuras encontravam-se cobertas por pequenas pedras e terra. Detectaram-se algumas representações de homens a cavalo e quadrúpedes indeterminados. No local, a nossa opinião foi tratar-se de uma cena de caça, facto confirmado mais tarde, após trabalho em computador a partir de fotografia digital com grande definição. Foi então possível identificar que os “quadrúpedes indeterminados” eram na realidade cães com as caudas levantadas, como é normal em outras cenas de caçadas proto-históricas. Descobrimos ainda que um dos cavaleiros aponta um arco com flecha a outro quadrúpede, certamente o animal objecto de perseguição. A identificação destes motivos foi facilitada ainda pelo facto de a limpeza apressada ter deixado ficar alguma terra nos sulcos das insculturas, proporcionando assim um bom contraste na fotografia, facto que foi bem aproveitado no trabalho sobre a imagem. Na próxima campanha de trabalhos, quando se proceder ao levantamento destas gravuras, será imprescindível a presença de um computador portátil onde se possa ampliar a fotografia referida, de modo a compará-la com o registo efectuado sobre plástico, visto que algumas insculturas são de dimensões muito reduzidas.

2.2.4 Rocha 3 de Profeta Elias (Sector B) Trata-se da rocha com o maior número de gravuras entre as encontradas até hoje em Philippi. Para além disso, a sua zona central (Sector B), apresenta incontáveis sobreposições (Fig.3) que se tornam muito difíceis de compreender através do levantamento com plástico9. Torna-se necessário recorrer aqui a meios mais sensíveis que a visão humana para obter um registo correcto destas insculturas. Neste caso, a solução pode passar pela conjugação do levantamento com plástico e a utilização, no local, de um computador para ampliar fotografias previamente trabalhadas que permitirão ultrapassar as dificuldades colocadas pelas próprias características da rocha acrescidas pela problemática das sobreposições.

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Em certos casos, o registo com plástico apresenta alguma subjectividade, pois quem o executa pode ser iludido por ideias pessoais sobre o que pensa que está a ver [Coimbra04].

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Figura 3: Sobreposições no Sector B da Rocha 3 de Profeta Elias (Philippi, Grécia).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através dos sete casos de estudo referidos verificou-se que algumas gravuras foram apenas detectadas após a sua observação em computador. De facto, certas insculturas encontram-se de tal modo erosionadas que são muito dificilmente visualizadas a olho nu. É então que se torna extremamente vantajoso utilizar um bom programa de imagem que possibilita alterar as características das fotografias, permitindo descobrir o que os olhos não conseguem ver sobre a rocha. Para além disso, as imagens podem ser vistas no monitor quantas vezes se quiser, enquanto que no campo já se torna pouco viável efectuar visitas frequentes, pois geralmente as rochas historiadas encontram-se em locais remotos e de acesso difícil. Ulf Bertilson, Presidente da CAR-ICOMOS, argumenta que o recurso a fotografias digitais, como pretende fazer o departamento estatal da região da Lombardia, não é um método conveniente para efectuar levantamento de imagens ou cenas presentes em arte rupestre e resume a sua utilidade ao registo da erosão [Bertilson05]. Embora concordemos que esse procedimento será insuficiente, pensamos que a fotografia digital tem recursos muito mais poderosos que o simples controlo do desgaste natural. De facto, como ficou exposto ao longo deste pequeno artigo, o conjunto de hardware/ software de imagem torna-se um aliado indispensável na investigação de gravuras em rocha, permitindo observar com uma acuidade muito maior que a visão humana. Relativamente ao recurso a scanners 3D, devido à sua elevada precisão e resolução, a vantagem será ainda maior que o uso de simples imagens digitais trabalhadas posteriormente com software. Todavia, conforme já referimos, o preço de este tipo de hardware é ainda bastante elevado, sendo o principal obstáculo à sua divulgação10.

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A utilização destes aparelhos exige ainda o trabalho com software especializado, também ele bastante dispendioso.

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Fomos recentemente informados que existem duas ou três empresas em Portugal a operar esta tecnologia mas cujos serviços se orientam de preferência para trabalhos de engenharia, entre outros11. De facto, as características técnicas destes scanners variam bastante com a finalidade de utilização, sendo indispensáveis para o estudo de gravuras em rocha os que operam em sistema de triangulação, sendo o laser projectado sobre a superfície e visualizado por uma câmara digital integrada [Wessex Archaeology / Archaeoptics03]. Um dos mais recomendados parece ser o Minolta Vi – 910. Apesar de todos os problemas que os scanners 3D ainda encerram, alguns investigadores são de opinião que no futuro eles irão revolucionar o registo da arte rupestre [Barnett; Chalmers et alli04]. Partilhamos a mesma ideia, mas todavia pensamos que esta tecnologia não será uma panaceia para os problemas de levantamento e interpretação das gravuras. Os levantamentos com plástico, para o caso de insculturas, são ainda um processo indispensável, pois permitem detectar, directamente pelo investigador, casos de erosão ou acidentes de carácter natural que a máquina poderá interpretar como arte. Para além disso é indispensável que se resolvam os problemas relacionados com a sensibilidade à luz ambiente, de modo a evitar a utilização sempre incómoda de tendas. Apesar do levantamento de gravuras rupestres com plástico polivinilo continuar a ser um processo simples e fiável, pode e deve ser completado pelo método que aqui apresentámos, baseado no trabalho das imagens com software. De facto, hoje em dia pode transportar-se para o campo um computador portátil, onde é possível ampliar imagens que serão comparadas no local com os levantamentos efectuados. Será um meio de completar e corrigir o que é dificilmente observado a olho nu, mas que as aplicações informáticas actualmente permitem de modo simples e cómodo. O tratamento de imagens em computador, com software diverso, também é muito útil no caso da arte rupestre executada por picotagem, principalmente nas gravuras muito erosionadas. De facto este processo permitiu-nos identificar gravuras na Laje dos Sinais (Barcelos), que não tinham sido observadas no local e que entretanto já tinham sido objecto de publicação.

4. BIBLIOGRAFIA [Barnett; Chalmers et alli04] T. Barnett; A. Chalmers; M. Díaz-Andreu; G. Ellis; R. Gillibrand; P. Longhurst; K. E. Sharpe; I. Trinks. Breaking Through Rock Art Recording: Three-Dimensional Laser Scanning of Prehistoric Rock Art. In The 5th International Symposium on Virtual Reality, Archaeology and Cultural Heritage VAST (2004). University of Durham, University of Bristol: 70-71. K. Cain,Y. Chrysanthou, F. Niccolucci, N. Silberman (Editors). 2004 [Bertilson05] U. Bertilson. Rock Art: Heritage at risk. Icomos Thematic, pages 260-262. CAR-ICOMOS. 2005 [Coimbra04] F.A. Coimbra. As gravuras rupestres do concelho de Barcelos (Portugal). Subsídios para o seu estudo. In Anuário Brigantino 27. pp. 37-70. Arquivo e Biblioteca Municipais de Betanzos. 2004 [D’ Arragon99] B. D’ Arragon. Methodological Consideration for Recording Petroglyphs on Medium and Large Surfaces. In Proceedings of NEWS 95 International Rock Art Congress. CD. CeSMAP, Pinerolo 1999 [Dimitriadis, Coimbra et alli07] G. Dimitriadis, F. A Coimbra et alli. Post-Palaeolithic engravings at Philippi in eastern Macedonia, Greece: rock art in the land of the Hedones. Antiquity Vol 81 Nº 311. 2007 www.antiquity.ac.uk/ProjGall/311.html 11

Desconhecemos ainda se trabalham na área da Arqueologia e que preços praticam.

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[Graydon03] O. Graydon. Laser scanner finds mystery carvings. 2003 http://optics.org/cws/article/research/18520 [Paraglobal] Paraglobal. Caso em Estudo: registo 3D sem contacto. www.paraglobal-3d.com [Wessex Archaeology / Archaeoptics03] Wessex Archaeology / Archaeoptics. 3D laser scanning. 2003 www.stonehengelaserscan.org/laser.html

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