HARRY POTTER: REPAGINANDO O SISTEMA LITERÁRIO

July 7, 2017 | Autor: Fabiana Moes | Categoria: Social Media, Fandom, Harry Potter studies, Childrens Literature, Fanfiction Studies
Share Embed


Descrição do Produto

HARRY POTTER:
REPAGINANDO O SISTEMA LITERÁRIO[1]

Fabiana Móes Miranda (UFPE/CAPES)
[email protected]


RESUMO: O artigo apresenta a série Harry Potter, da autora britânica J.K.
Rowling, como um fenômeno que tem feito crianças e adultos se posicionarem
de forma ativa na construção do texto (tanto da autora, como de textos
próprios com base na série). Estes leitores/fãs/escritores se apropriam das
ferramentas hipermidiáticas e do acesso à internet para construção de um
corpus textual paralelo (fandom) ao do livro oficial (cânon). O fandom é
formado por um mundo de textos, imagens, vídeos, músicas, representações
teatrais e concursos de cosplay (roupas dos personagens), além disso, estes
fãs da série criam e sistematizam uma consciência crítica própria.
Palavras-chave: Sistema Literário, Literatura Infanto-juvenil, fandom,
fórum hipermidiático

ABSTRACT: The article intends to present the Harry Potter series, from the
British author J.K. Rowling, as a phenomenon that has been making children
and adults position themselves in an active way in the construction of the
text (as be one of the author, as be own texts based on the series). These
readers / fans / writers appropriate from the hyper-media tools and the
access to the internet for construction of a parallel textual corpus
(fandom) to the official book (canon). The fandom is formed by a world of
texts, images, videos, music, theatrical representations and cosplay
contests (the characters' clothes), besides, these fans of the series
create and systematize an own critical conscience. Word-key: Literary
System, Children-Juvenile Literature, fandom, hyper-media forum


Introdução
- Claro que está acontecendo em sua mente, Harry, mas por
que isto significa que não é real? (Harry Potter e as
Relíquias da Morte)


A série Harry Potter, da autora britânica J. K. Rowling tem sido vista
como um fenômeno na Literatura Infanto-Juvenil (LIJ), tanto em suas
controvérsias quanto em seu "toque mágico" junto ao público em geral.
Muitos especialistas procuram definir quais fatores fizeram de um livro
destinado às crianças e jovens um best-seller lido e relido – apesar de sua
quantidade de páginas –, fazendo muitos tomarem ou retomarem o gosto pela
leitura. Uns acreditam ser o retorno ao elemento mágico (imaginação), que
difere da contemporânea concepção realista de literatura para crianças;
outros julgam ser todo o marketing utilizado para a venda dos livros.
Embora as duas perspectivas definam também o sucesso da série, há
ainda outro elemento que trato aqui, e que seria uma propaganda feita pelos
próprios leitores via Internet. Surgido praticamente ao mesmo tempo em que
se iniciou toda a disseminação hipermidiática (metade dos anos 90 e início
dos anos 2000), Harry Potter encontrou um campo vasto, além dos livros,
para a sua propagação, tornando impossível desvincular os acontecimentos da
série de toda uma "mídia de fãs" que acompanhou as aventuras do herói
bruxo.
Neste contexto, basta mencionar a própria página da autora e sua
relação com alguns sites destes fãs – sites que apresentam desde uma
enciclopédia sobre o mundo bruxo até enquetes sobre expectativas para os
lançamentos posteriores da série.[2]
É a partir desta "geração de bruxos internautas" que será conduzido
este artigo. Desta maneira, trato de dois elementos crescentes tanto na
Literatura Infanto-Juvenil como nas construções e vivências destes mundos
através do meio hipermidiático: o primeiro, demonstra que não é impossível
uma aproximação entre leitura, tecnologia e entretenimento, desde que seja
de uma forma espontânea e de livre escolha, tanto dos livros preferidos
como dos mecanismos para essa aproximação; e o segundo, visa o processo de
expectativa e recepção do último livro da série: Harry Potter e as
relíquias da morte, sendo este processo verificado de forma atualizada nos
espaços virtuais: no caso, os fóruns dedicados à obra, em que se discutiam
possibilidades de finais e se especulavam sobre os mistérios e personagens.
Todo este mundo que se construiu paralelo à série Harry Potter é chamado
fandom.
Fandom[3] é nome que se dá a produção cultural infanto-juvenil criada
para este público e por ele vinculada na internet e corresponde ao lugar da
criação do leitor/fã, reunindo blogs, fóruns, arquivos de fanfics,
fanvídeos, fanarts.[4] O leitor infanto-juvenil se torna também produtor de
respostas às suas expectativas, não apenas num ato de leitura, mas na
reescritura de sua série favorita. Esta utilização e mediação são
facilitadas pelos meios divulgadores do hipertexto (internet) e dos
arquivos onde se guardam estes textos, que poderão ser lidos e comentados
por outros fãs.
O leitor da série sente-se na visibilidade de sua participação mesmo
que seja para mostrar seu ponto de vista, seus anseios e desejos, um
colaborador junto ao desenvolvimento dos livros. Esta forma de interação
encoraja o leitor numa atividade lúdica de uma escritura paralela à da
leitura,[5] somando à série Harry Potter, através da virtualidade, um
Universo Alternativo (UA). Aqui, não participam apenas textos, mas
desenhos, vídeos feitos pelos próprios leitores, numa riqueza de produção
movida pelo livro impresso sem precedente na história da literatura.
Tudo isso constitui um novo paradigma não só para a Literatura Infanto-
Juvenil (LIJ), mas para a literatura em geral, e que deveria ser levado em
consideração pelos educadores e especialistas, pois revela muito mais do
que a noção de leitura e as práticas de escrita sem significação para as
crianças e jovens.
Ao mesmo tempo, surge a preocupação de que se forem utilizadas na
escola poderiam afastar os leitores que vêem na construção destes mundos
uma forma de identificação particular e comunitária, desligada da escola ou
das funções educativas. Embora seja uma forma de aprender e um meio de
construção de conhecimento, são espaços voltados a grupos com os mesmos
interesses e que não diferem de outros grupos juvenis.
Nestes espaços, que se transformam em espaços identitários para os
fãs, que se distinguem dos fãs apenas como consumidores, podemos ver como
ocorreu a discussão sobre a construção e a finalização da série Harry
Potter e, a partir daí, entender como funcionou para os leitores a recepção
de uma obra ainda em processo. Estes espaços produzem dinâmicas próprias e
permitem aos jovens participantes a criação de definições de literatura,
que operam para a construção de suas próprias disposições e discussões
críticas sobre os livros da série e as condições que o promovem.


1. Fandom: para um novo leitor


O fandom define-se como um novo gênero textual (compreendido como
escrita, imagem e som configurados em hipermídias) e difere-se de outros
gêneros semelhantes (fanzines) que se estruturam pela participação dos fãs.
Portanto, os textos escritos pelos fãs como forma de prática narrativa e
que, na atualidade, utilizam-se dos suportes da hipermídia e são
arquivados/distribuídos/compartilhados na Internet, demonstram como ocorre
um novo paradigma para o sistema literário, permanecendo ou não vinculados
ao ambiente virtual. Esta nova concepção de sistema literário ocorre nas
bases constitutivas de produção/recepção.
A leitura e escritura nos fandons oferecem uma nova percepção dos
textos contemporâneos – que seriam representados, principalmente pelas
fanficções. Assim, o fã se converte em escritor (pseudo-oficial) e uma
provável intenção de interpretação e participação (individual ou coletiva)
seria estreitar a relação entre texto e leitor, oferecendo e mediando uma
interação menos formalizada.
Os fandons são ainda comunidades que se apropriam dos mecanismos de
organização da hipermídia para constituírem um corpus de organização e
distribuição de informações com funções e públicos distintos, ou seja,
possuem toda a condição objetiva para a produção e veiculação de textos,
fazendo disto um padrão para a visibilidade de sua subjetividade na criação
desses textos e refazendo outros. Mais do que isso, estas ações se
apresentam como o nascimento de um processo colaborativo e ativo de
leitura, que surge espontâneo entre os jovens, como verdadeiro fenômeno
contemporâneo.
Esta vontade legítima de recontar o texto, dentro da sua interpretação
ou na sua vivência, não é meramente uma apreciação evasiva da obra
literária. Antes, é um reconhecimento desta como criadora de sentidos novos
a cada leitura.
Neste sentido, as idéias dos leitores, após cada etapa de conclusão do
autor na obra, permanecem como outras formas de contar a narrativa, ou
melhor, como um novo texto possível e os espaços criados na Internet para
que os leitores/fãs/escritores coloquem suas história, são recursos
imediatos para verificarmos o processo de desenvolvimento desta
textualidade paralela ao texto canônico – seja ele clássico ou não.
Mas, quem são os participantes típicos nas comunidades de fandom?
Podemos dizer que são fãs (no sentido abrangente de identidade como
identificação e auto-representação), leitores que, de forma geral, lêem e
se interessam por todos os gêneros literários, sem uma distinção técnica ou
classificatória do que procuram como leitura e que se estimulam pela
fruição do texto lido.
São também leitores que respondem aos "vazios"[6] significativos do
texto, construindo, dentro de seus "horizontes de expectativas",
significações particulares. Os leitores/fãs/escritores ganham em autonomia
por "concretizarem" as suas perspectivas nos textos que escrevem, contando
apenas com a opinião de leitores/fãs de interesses semelhantes aos seus. E
ganham em autonomia em relação ao espaço da mídia, uma vez que são, ao
contrário dos escritores oficiais, menos comprometidos com a aceitação do
público e do mercado para a edição e veiculação de suas obras.
Aqueles que estudam antropologia e comunicação observam o fenômeno do
fandom como um modelo crítico (que tanto reforça como subverte a estrutura
cultural e midiática vigente e também os padrões acadêmicos de
"valoração"). Assim, conforme estes autores e estudiosos, existe uma
variedade de fandons, de forma que cada um carrega a identidade de um tipo
de posicionamento cultural.[7] E, se é possível que ocorra uma
identificação altamente direcionada nos fandons, podemos dizer que, em
Literatura, muitos fãs/leitores se sentem participantes tanto como os
autores das histórias que retomam – uma identidade como a construída por
Pierre Menard,[8] mas com momentos distintos na escritura.
É visível que a maioria destes textos se relaciona à cultura de massa
e a mídia: os livros de best-sellers possuem milhares de fãs/escritores,
mas, também, podemos encontrar histórias tiradas de livros e temas
clássicos como os mitos literários ou textos infanto-juvenis também
clássicos como Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Nem todos
estes espaços divulgam apenas textos que se baseiam em livros, alguns
apresentam textos escritos a partir de filmes, atores, seriados de
televisão, mangá e anime (quadrinhos e desenho animado japonês).
Numa perspectiva pedagógica a falta de conhecimento prévio sobre
alguns assuntos constitui uma valiosa demonstração de auto-aprendizagem,
pois muitos jovens sentem a necessidade de procurar por conta própria o
"material" para tratarem dos temas que lhes interessam. Por exemplo, é
comum que um autor de fanficção busque referências "enciclopédicas" para
criar e fundamentar suas histórias (até mesmo explicam no próprio texto os
significados ou traduzam palavras estrangeiras para compartilhar e
facilitar a leitura dos seus textos). Também, nos fóruns há os que se
preocupam em buscar explicações e referências sobre os assuntos menos
conhecidos ou desconhecidos para os outros membros.
No fandom, aberto ao espaço hipermidiático, a idéia do concreto é a
criação de novos textos partindo da primeira significação para seu
leitor/fã/escritor, a interferência passa a ser total e não parcial. O que
interessa e estimula na criação dos textos, não é apenas a competência do
leitor em alcançar o máximo de leituras possíveis da obra, mas o máximo de
respostas particulares, mesmo com insubmissões ao objeto literário.
No caso dos textos produzidos nos fandons – os fanfics - a relação não
é, primeiramente, entre o produto (livro) e o público (leitores), mas antes
se estabelece pelo vínculo de sua reprodução (textos paralelos).


Para quem tem o primeiro contato (livro/leitor), o
significado estético do texto, que já foi experimentado
com a leitura, não precisa estar assegurado num novo
texto. O que buscam de identificação entre o leitor/autor
e o livro aparece num nível mais voltado ao conteúdo
aparente do texto, por isso podemos justificar a
subjetividade usual em cada nova história. Identificar-se,
em uma recriação do texto literário, é no melhor uso da
concepção da teoria do efeito perder, ou melhor, passar de
uma qualidade estética para outra, pois como já vimos
estes textos tem como objetivo readaptar a obra literária
para um confessado gosto dos seus fãs-leitores.[9]


O motivo pelo qual há uma identificação maior entre estes
leitores/fãs/escritores e os livros best-seller talvez seja que estes
livros trabalham com uma quantidade maior de significados compartilhados
que abrange o imaginário coletivo, o que causa no leitor um reconhecimento
imediato. Neste caso, o que denominam como hermetismo[10] em certos textos
literários apenas "implodiria" uma resposta e negaria ao leitor uma
participação mais objetiva, que pudesse ser coletivizada.
No entanto, estas aparentes simplificação e comodidade, geradas pela
identificação, podem criar tanto uma adesão como uma repulsa, pois se
tratam de formas de perceber o livro e que suportam mudanças mais
abrangentes de significação, isto é, mudanças que façam seus
leitores/fãs/escritores buscarem outras compreensões e reconhecimentos: o
caso mais comum é a identificação com um personagem que transmite ao leitor
o desejo de vivenciá-lo além do texto de origem.
Os fandons, com participação de leitores no papel de autores,[11] não
propõem uma desintegração do autor e da obra. Ao contrário do que se
poderia imaginar, ocorre uma afirmação maior da autoria e uma sugestão
maior ao livro.
O texto reelaborado e escrito não é uma cópia e não possui fins
lucrativos. Alguns textos são inspirados em obras do domínio público. Neste
sentido podemos utilizar a observação de Maingueneau: "a partir do momento
que a história contada é, em suas linhas gerais, já conhecidas pelo
público, que não é relacionável a uma fonte única e identificável, (...)
não é possível encontrar uma "obra" e um "autor".[12] Mas, o autor é sempre
citado, assim como os seus livros. E se for usada mais de uma obra, o
leitor/fã/escritor cita todas elas e mostra quais elementos encontrou para
unir textos e escritores.
Nos sites especializados em textos baseados em obras literárias como
em sites pessoais existem sempre os disclaimer, ou seja, o espaço em que o
leitor/fã/escritor menciona de onde tirou os elementos para seu texto e faz
um pequeno resumo da sua própria história. Muitas vezes, pedem desculpas ao
autor/origem dizendo se tratar apenas de uma brincadeira e sem muitas
ligações com a idéia original e assim por diante.
Estes leitores são exigentes e raramente apreciam os textos originais
nestas comunidades especificas. Querem ver e observar opiniões e histórias
sobre textos/obras já conhecidas. Desta forma, não temos nem um texto
totalmente original nem um "simulacro", e só poderíamos analisar estes
textos, se os enquadrarmos entre os dois termos: é original a partir do
momento de sua reestrutura (reescritura) e dos pontos de vista de seu novo
escritor; e é uma "cópia" uma vez que se apropria dos personagens, cenários
e até tenta se assemelhar ao estilo do escritor de origem.
Entretanto, não podemos antecipar se estes estilos são ou não
artísticos. Nas comunidades do fandom, o estilo é uma preocupação
secundária. Pois, enquanto alguns autores podem trabalhar os seus textos,
compreendendo técnicas de escrita e procedimentos de linguagem mais
elaborada, outros se contentam em, simplesmente, verem transcritas as suas
idéias.
É interessante notar como partindo de um objeto - o livro - chegamos
ao que Barthes[13] inicia como uma relação "amorosa" com o texto para
seguir com a proposta racional de "caçar" todos os elementos que
possibilitam a feitura material e imaterial deste objeto. Pois, o leitor
compromete-se não com a elaboração do livro, mas com o conteúdo que pode
lhe revelar opções e experiências de relação com o mundo. Essas leituras
também se comprometem com a imaginação e a criatividade, mesmo que ofereçam
uma racionalização da obra – e este é um dos reforços críticos dos próprios
leitores sobre o texto lido.


Há, por exemplo, textos que são escrito apenas para um
personagem em particular – geralmente aquele com que o
leitor mais se identifica. Esta preferência ou empatia com
um determinado personagem de um livro resulta na
construção de um cenário onde o personagem possa preencher
um lado visto pelo leitor partindo das possibilidades de
sua interpretação. A assombrosa simpatia, ou o total
desagrado por determinados personagens é causadora de
muitas discussões em listas e fóruns na Internet.[14]


É possível que, quando não havia a simultaneidade da comunicação, a
resposta esperada pelo autor à sua obra não lhe chegasse a tempo de
possíveis mudanças. Hoje, os leitores podem opinar constantemente sobre os
livros: os fandons literários contam com esta participação dos leitores. E
isto revela uma recepção participativa que deve ser considerada parte
destas possibilidades de escolha, onde o conhecimento e a aprendizagem
direcionam-se para um fim específico que é a construção de textos que
poderão ser lidos, comentados e interpretados dentro dos grupos a que se
vinculam, sejam por intelectuais, leitores não comprometidos, ou fãs – de
livros.


2.Canon vs. Fandom – cultura e subcultura

- Gina! - exclamou o Sr. Weasley, espantado. – Será que
não lhe ensinei nada? Que foi que sempre lhe disse? Nunca
confie em nada que é capaz de pensar se você não sabe onde
fica o seu cérebro. Por que não mostrou o diário a mim ou
a sua mãe? Um objeto suspeito desses estava obviamente
carregado de Artes das Trevas... (Harry Potter e a Câmara
Secreta, 2000 – grifo meu)


A frase do patriarca da família Weasley poderia representar a relação
que surge entre LIJ e os recursos hipermidiáticos, muitas vezes,
apresentada como a própria "artes das trevas" no que diz a respeito a sua
eficaz capacidade de sedução do público infanto-juvenil. Este pensamento
sem "origem" ("você não sabe onde fica seu cérebro") aproxima-se também da
noção de virtualidade, onde não vemos/sabemos por quais caminhos se produz
todas as informações a que temos acesso, persistindo aqui a idéia de que os
jovens são as principais "vítimas" desse sistema. É bom lembrar que esses
jovens também fazem parte do processo criador, que oferecem sentidos e
libertam desejos e necessidades. Como no diário de Tom Riddle (Voldemort) o
desejo sempre será respondido, mas a pergunta, primeiramente, está em quem
o possui: da mesma forma, busca-se na virtualidade uma resposta que
satisfaça àquele que a procura.
Muitos especialistas não acreditam/aceitam a vinculação da literatura
como uma linguagem de entretenimento. Apesar de conceberem a leitura
infanto-juvenil em seus aspectos de fruição, sempre retornam as questões
relacionadas à aprendizagem e, mesmo quando concebem que o conhecimento
também se estrutura numa apreensão lúdica do mundo, na prática retomam
velhas posturas, com a escolha dos livros ficando a cargo da escola, do
professor ou do editor.
Torna-se possível observar a resistência – tanto entre educadores
como em críticos de literatura – sobre a relação entre mídia[15] e
literatura. Esta resistência está associada ao princípio da legitimação da
obra literária como texto individualizado (particular), em que o autor e
depois um "tipo" adequado de leitor podem resgatar o texto em sua
totalidade. Neste contexto, podemos perceber que algo considerado
massificado perderia os limites interpretativos, possibilitando muitas
leituras pouco "valoradas" dos livros.
A frase do Sr. Weasley poderia estar na boca de qualquer educador,
que fosse consciente que os livros (tanto quanto as informações) possuem
uma relação entre idéias transformadas pela própria mídia, sendo esta a
relação que abarca a memória e a comunicação, haja vista que as memórias
são organizadas em conformidade ao que desejamos preservar ou não. O diário
(virtual) de Riddle responde a um tempo anterior e preserva ou manipula as
informações desejadas: "que sorte que registrei minhas memórias em algo
mais durável que a tinta. Mas, sempre soube que haveria gente que não ia
querer que este diário fosse lido".[16] Pois, enquanto memória, o diário
não poderia mentir, no entanto, ocorre a manipulação das informações nele
contidas.
Junto a estes fatores, as tecnologias hipermidiáticas encontram
resistência por parte dos educadores. São resistências muitas vezes
infundadas e baseadas apenas no desconhecimento ou despreparo, seja sobre o
domínio dos meios, ou sobre o conflito que existe em aceitar e buscar no
novo um recurso de diálogo que reflita a relação entre os alunos e a
sociedade.
Este diálogo também parece muito difícil quando colocamos a relação
entre o público infanto-juvenil e literatura, pois se despreza ou se
desconhece a interação destes grupos com a cultura que eles particularizam,
criando resistências a ela. Os leitores/fã/escritores destes grupos podem
ser considerados aquilo que Manguel chama em "ordenadores do universo". O
autor de Uma história da leitura, na parte de seu livro dedicada aos
poderes dos leitores, ressalta que é o leitor que deve catalogar os livros
(leituras) de acordo com seu conhecimento.
Ora, ao jovem leitor também deveria ser concedida a "licença poética
elástica", que Manguel habilmente nos apresenta, revelando como essa
leitura transfere o leitor de um estado a outro – já que a imagem contida
no livro, mesmo sendo alheia ao mundo do leitor, pode ser acomodada nesse
mundo: "O significado de um texto é ampliado pela capacidade e desejos do
leitor." O autor chama isso de "transmigração de significado" e conclui: "o
leitor reescreve o texto com as mesmas palavras do autor, mas sob outro
título".[17]
Nesta etapa, o interesse recai, especificamente, na relação entre a
literatura canônica – que para os leitores é a que está em forma de livros,
não havendo julgamento prévio se é de "massa" ou "alta literatura" e os
grupos de fandom, onde os participantes utilizam-se do texto literário e do
meio em hipertexto para a construção de novos textos que se tornam uma
extensão, ainda que informal, dos textos em que se baseiam para
criar/escrever suas histórias e compartilhá-las em rede.[18]
Com o que foi dito, entramos de uma só vez em dois campos que impedem
um maior avanço, em questões teóricas ou metodológicas: o fandom. A
literatura virtual tem criado um interesse crescente dos teóricos da
Literatura, que acompanham os processos de construção e o nível de
interação entre escritores e leitores, ao modo de uma literatura em
processo, ou seja, daquilo que é feito por etapas e na presença de todos e
no tempo sempre atualizado. Uma atualização no sentido de adequação a
fatores externos e não apenas abstratos.
Isso justifica o objeto/obra textual não como referência, mas objeto
inferencial, no qual o resultado é a correspondência da interpretação com a
re-criação do objeto. Em outras palavras, do lado de quem participa do
fandom, não se espera, necessariamente, fazer um texto literário, por não
ser esta a primeira intenção de quem escreve a história sobre um livro já
escrito e lido. Aqui o fator lúdico está mais presente que o fator
estético, embora saibamos que um não anula o outro.
O leitor, após a leitura, pode optar em refazê-lo e, assim, participar
do jogo que a linguagem e a imaginação oferecem. Talvez, boa parte da
conduta de "não-leitura" seja uma conduta de não poder ir uma etapa além da
leitura imposta. Claro está que outros fatores como disposição ou
necessidade devem ser levadas em conta, pois nem todas as crianças e jovens
se sentem satisfeitos com o objeto livro, uma vez que existem tantas outras
opções imaginativas.
Devemos sempre lembrar que o livro não está ali como o material, mas
sim com o que ele possui em histórias e não se pode negar que existem
outros meios de se conhecer e de se vivenciar uma história, seja pela
narrativa, por um desenho animado, por um jogo no computador. É cada vez
maior o número de opções dos recursos de mídia voltados para as crianças e
que oferecem imagens, sons, e textos educativos e de entretenimento. Porém,
sempre fica adiado o momento de ouvir as crianças e os jovens e de
construir uma forma de harmonizar os seus desejos e a desenvolver esses
desejos.
Northrop Frye relaciona com o imaginário cada uma das possibilidades
de (re)apresentar sob a forma de ficcionalização os arquétipos de uma
cultura. A imaginação "educada" é aquela que sabe atualizar e relacionar
mitos. Entretanto, prefiro relacionar o virtual ao real literário (que é um
real potencial a espera de atualização), como coloquei num trabalho
anterior.[19] Esta interação entre o leitor e o hipertexto digital pode ser
lida como a própria vontade do leitor em entrar na história com seus
personagens favoritos e no mundo de seus livros. Neste contexto, atualizei
as perspectivas e contribuições de Benjamim[20] no que se refere ao
fetichismo da boneca, onde amor e jogo se relacionam entre a pessoa e o
objeto.
Todo este "amor e jogo" unidos com a aprendizagem, mesmo não inseridos
no "lócus" escolar, aparecem desenvolvidos pelos jovens que, sozinhos (o
auxilio é dado pelos suportes técnicos e/ou empresariais), constroem e
controlam os próprios mecanismos para essa aprendizagem e, ao contrário do
que se poderia supor, muitas vezes, levando em consideração aprender e se
divertir numa mesma proporcionalidade. Este ambiente de desenvolvimento
crítico e, ao mesmo tempo, lugar lúdico, é denominado por eles mesmos de
fandom.
O fandom corresponde a um imenso campo imaginário/identitário que
reúne blogs, fóruns, arquivos de hiperficção, vídeos e desenhos. Tudo o que
traga referências culturais do mundo percebido, apreendido e difundido
entre crianças e jovens.
A forma de expressão que parte dessa classe infanto-juvenil forma uma
cultura diferenciada que chamam de subcultura[21]. As relações com a
sociedade se estabelecem em função da diferenciação e, devemos recordar que
corresponde (se não como um grupo produtivo) a um grupo consumidor, que
procura reconhecer a si ou ao grupo naquilo que veste, come, lê. Aqui fica
revelado o paradoxo, pois, parte deste mercado – no caso as editoras de
livros infanto-juvenis – prefere entrar em concordância com as instituições
escolares, oferecendo àquele que seria o seu "público alvo" não o que ele
busca, mas representações que o re-inserem na sociedade.
Subcultura, no caso dos fandons, representa ou parodia a cultura em
que estas comunidades ou grupos de jovens estão inseridos e expõe parte das
contradições da própria sociedade. Afinal, que conclusões podemos tirar
quando vemos expostas representações, consideradas tão distantes, como a
"cultura erudita" e a "cultura de massa"? Nesta contínua forma de
aproximação/oposição a integração ocorre de muitas formas, em diversos
meios: como já vimos o fandom associa desde o elemento textual de uma obra
(best-seller e clássico) até filmes, músicas (j-pop, hip-hop, funk),
seriados de televisão, desenhos animados (anime e cartoons) e histórias em
quadrinhos (HQ e mangas), tudo isso num caldeirão só, escolhido por
afinidades particulares e/ou grupais.
A relação com as mídias, multimídias e hipermídias, ou seja, com
produções ligadas a massificação comunicativa e informativa, afasta esta
forma de representação cultural de sua legitimação como expressão de certos
grupos – crianças e jovens, que só dentro deles sentem-se inseridos num
espaço/tempo que refletem suas necessidades imediatas de socialização.
Certamente, não estamos generalizando, cada grupo parte de uma experiência
pessoal primeiramente e que ocorre de jovem para jovem e de grupo para
grupo, podendo se concretizar de formas diferentes, respondendo a
diferentes significações do ambiente socioeconômico ou sócio-cognitivo de
cada um, por isso, mesmo um best-seller pode trazer em suas páginas
questionamentos sobre o próprio meio que a gerou e a qual está presa.
Um exemplo de questionamento pode ser encontrado no segundo livro da
série best-sellers, Harry Potter e a câmara secreta, que apresenta um
escritor de grande sucesso, Gilderoy Lockhart. O escritor-bruxo representa
o estereótipo de todos os autores deste gênero: vive de sua aparência,
distribui autógrafos e está cercado por um público, mais de fãs que de
leitores. Este autor fictício, no final da história, mostra-se um farsante,
que roubou a memória de outras pessoas para compor os seus livros. J.K
Rowling afirmou que, neste período, estava assustada com o imenso sucesso
de seus livros e o assédio dos fãs, e, a sua maneira, procurou resolver os
conflitos, condenando o personagem-autor a uma espécie de esquecimento
perpétuo. A realidade dos best-sellers é mostrada num livro best-sellers
para crianças e jovens, sendo revelador que a maioria das crianças deteste
este personagem e, ao mesmo tempo, se amontoam em filas para comprar os
livros do menino-bruxo.
Desta forma, ficam expostas algumas das reflexões que podemos fazer ao
relacionar cultura e subcultura (literatura de massa), lembrando que alguns
clássicos, como D. Quixote de la Mancha, de Cervantes, foram best-sellers
em sua época. Cada objeto trará, além das suas marcas de representação
simbólica, marcas de produção e consumo pelos variados grupos sociais.

3. Fanfics – a escrita do fandom

No ambiente dos fandons, a idéia do concreto é a criação de novos
textos (escritos ou imagéticos) partindo da primeira significação para seu
público – crianças e jovens. Assim, torna-se um novo desafio às teorias
críticas investigar porque na leitura da literatura moderna surge esta
insubordinação ao texto escrito pelo outro e uma constante leitura voltada
aos próprios desejos.
A identificação que acontece entre leitores e obras torna-se o aspecto
mais visível para a construção dos textos. Esta identificação avança então
dos possíveis alcances pessoais de uma significação para a própria negação
do texto literário lido que se tornará um objeto refratário de onde teremos
a divergência de uma quantidade imensa de novos autores e novos textos, ou
seja, o texto de origem torna-se apenas uma referência para a
personalização da obra revista e reescrita.
Uma das possibilidades de se entender os fandons, como afirmação e
construção de um corpus textual paralelo ao da obra lida, é que seu público
não se sente como o invasor de um espaço alheio nem meramente seu
colaborador. Neste caso, as interações iniciais que há entre o leitor e o
livro não estariam submetidas aos princípios de controle ou
encaminhamentos, como ocorre na hiperficção, embora, não se possa negar a
existência de um controle coletivo/grupal entre os participantes. E este
controle, como veremos, pode até mesmo intervir nas discussões.
O processo inferencial aponta para as formas de permutações, no
sentido que coloca Ítalo Calvino no texto a Combinatória e o mito na arte
narrativa, quando sugere que o contador de história era aquele que
"explorava as possibilidades contidas na sua própria linguagem, combinando
e permutando os personagens e os atos; e os objetos aos quais se referiam
estes atos".[22] (grifo meu). Calvino estava falando da atualização do mito
literário e do fato que podemos perceber no percurso intertextual na
literatura, mas o que destacamos é que o discurso pode ser adaptado para a
voz de quem fará a nova narrativa.
Na Literatura Infanto-Juvenil existe sempre o fator da recepção como
elemento primordial para produção e distribuição dos textos. A recepção
ocorre diferentemente do texto não-infantil,[23] ou seja, por faixas
etárias, pois se tornaram comuns as demarcações desta espécie. E com estas
pré-definições, cada idade se limitou a seus conteúdos e suas estruturas
gráficas e pictóricas. Neste caso, a recepção ocorre de forma antecipada,
antes mesmo que os leitores tenham a possibilidade de "imergirem" no texto.

Assim, ocorre uma série de desencontros entre a recepção dos leitores
e a fabricação de uma recepção: entre a recepção que promove a dinâmica e a
recepção que garante a passividade. Uma das formas que foi encontrada para
atrair a criança ao livro são as histórias "abertas" em que o personagem
entra num livro que está lendo e começa a participar da história, ou como
Bastian, n'A História Sem-Fim, (Michael Ende) passa a controlar o livro que
está lendo. Esta perspectiva difere dos textos metanarrativos, em que o
intuito é ressaltar o valor da literatura e, desta forma, a historia
contada enfatiza o quanto a criança deve amar os livros: nestes textos
todos os personagens querem ser escritores.
Acredito que não há amor maior ao livro que lhe devolver, como um
presente, novas histórias. No caso da Literatura Infanto-Juvenil dever e
amor nem sempre coincidem, pois devemos lembrar o caráter naturalmente
transgressor e questionador dos jovens. É para fugir do dever de amar os
livros e suas implicações sociais que o público de jovens leitores constrói
sua própria noção de realidade com os livros: cada livro se torna peça de
um jogo, sendo um mediador entre a fantasia e a produção de textos
particulares.
O que se pode concluir parcialmente é que a preferência por textos já
criados não é diferente da preferência da literatura em recontar ou
transformar seus mitos em mitos literários. Mas, aqui, o texto literário
torna-se uma rota de fuga e busca por uma coletividade (grupos), que só é
possível se cada um estiver totalmente integrado na dinâmica entre livro e
produção pessoal. Em outras palavras, cada membro do grupo no fandom passa
a ser responsável em mostrar sua própria recepção e exibi-la com uma
reescrita.

4. Fandom de Harry Potter: como produzir e receber os livros da série

A série Harry Potter foi escrita para o público infanto-juvenil e
quebrou vários paradigmas relacionados com esse público-alvo. Entre eles o
de que crianças e adolescentes não tem paciência para lerem livros com
muitas páginas e sem figuras e não gostam de escrever. Pois, os livros
desta série possuem centenas de páginas e os seus leitores costumam
reelaborar e reescrever textos baseados nas histórias do menino-bruxo,
exibindo uma imaginação tão fértil quanto à da autora.
Os sete livros da série apresentaram um menino que passou da condição
de órfão excluído para adolescente consciente de suas responsabilidades e
deveres. No primeiro livro, Harry Potter é o órfão que vive sob a guarda
dos tios. Uma criança rejeitada pela própria família, que dormia sob um vão
de escada e não possuía amigos. Ao completar onze anos o menino descobriu-
se um bruxo poderoso e rico. Foi aceito na escola de magia, onde podia
desenvolver a sua potencialidade, conseguiu amigos e uma família. Todos o
respeitavam e alguns (os malvados) o temiam.
Na continuidade da série, o personagem vai crescendo e aprendendo
questões que estão relacionadas com a vida de quaisquer adolescentes: o
afastamento de casa, o relacionamento com outras pessoas, a compreensão de
sua força, a responsabilidade sobre as conseqüências de seus atos, a
fidelidade aos amigos, o amor...
No último livro, os leitores conviveram com esse garoto, agora um
adolescente de dezessete anos pronto para entrar na vida adulta. Sofreram
com ele o desprezo dos tios e de alguns professores; se preocuparam com os
amigos e com as provas; viram-se compelidos a entrar num jogo de morte pela
própria sobrevivência; suportaram as perdas: a dos pais, quando ainda era
um bebê, a do amigo Cedric, a do padrinho Sirius Black, a do mentor
Dumbledore.
No adolescente-bruxo, essas passagens e atribulações possibilitaram a
formação de um caráter íntegro, com uma mente talentosa, ações objetivas e
afetuosidade para aqueles que lhes são caros ou dele necessitam. Um ponto
importante, considerando que a série foi escrita para leitores infanto-
juvenis. Outro ponto que merece atenção é o que diz respeito à família: a
atenção com a família se apresenta de extrema importância em um livro
voltado para esta faixa etária e a escritora teve o cuidado de apresentar a
base familiar como favorável ao desenvolvimento das crianças e
adolescentes. E mesmo os relacionamentos familiares, digamos,
desestruturados são apresentados como um rompimento do padrão, causado por
fatores exógenos – no caso, o mal representado por Lord Voldemort -, o que
favorece a aceitação da leitura por parte dos pais.
Com essas características, não foi surpresa a série tornar-se um best
seller não apenas no seu país de origem, mas em todo o mundo. A surpresa
foi a resposta dada pelos leitores que transformaram Harry Potter num
fenômeno hipermidiático, apropriando-se dos textos e das ferramentas
disponibilizadas pelos sistemas de dados e internet.
No ciberespaço, a série Harry Potter originou uma cadeia de ações
subordinadas ao ato de leitura e, ao mesmo tempo, conseqüentes delas:
reescritas textuais como os fanfics, e os fóruns; e gráficas como os
fanarts e os fanvídeos, que se interligam e se amalgamam ao texto-origem,
formando o que se conhece por fandom.[24] Pode-se dizer que todo um Sistema
Literário se "constrói" em torno de Harry Potter.
A interação nos espaços virtuais é determinada por vários fatores e,
talvez, o principal seja a identificação ou escolha pessoal de cada
participante. O que ocorre é a participação e adesão comunicativa e afetiva
através de um determinado meio – no caso o computador – que possibilita ou
define formas de relacionamentos integradores entre homens/máquinas.
Xavier defende a união entre hiperleitura e interatividade, que seria
a "capacidade (de um equipamento ou sistema de comunicação ou sistema de
computação, etc. de interagir ou permitir a interação."[25] Em outras
palavras, a forma como um suporte permite a comunicação entre as pessoas
(emissor e receptor) de forma dinâmica.
É também a partir desta interatividade que os internautas constroem os
espaços em que podem interagir, pois,


a liberdade de escolher seu perfil, de modificá-lo e
acomodá-lo às necessidades emergentes pode ser vivenciada
pelo menos na realidade virtual. Seus efeitos psicológicos
não se conhecem ainda, mas os reflexos sociolingüístico-
cognitivos parecem positivos na maioria dos casos, pois
fazer amigos e encontrar pessoas, mesmo que virtualmente,
é sempre uma oportunidade de ampliar a visão do mundo, de
conhecer novas percepções e de ponderar os próprios
valores à luz dos alheios.[26]


As perspectivas de Xavier são bastante positivas na interação que
ocorre através da internet, mas isto porque se tem saído da perspectiva
anterior de que os meios virtuais isolariam e afastariam as crianças e
jovens de uma interação real. O fato se comprova falso, pois recentemente
os jornais estão demonstrando que a maioria das crianças (de certas classes
sociais) procura a internet para escaparem da solidão e do espaço
destituído de imaginação em que vivem. Justamente devido à separação e
oposição do real e do imaginário, a interação virtual oferece um
espaço/tempo para que o real e o imaginário sejam reunidos e reorganizados.
Além disso, sabemos que estes meios são apenas "janelas" e que muitos
destes usuários procuram depois se conhecerem pessoalmente.
Na A História Sem Fim, Atreiu – o filho de todos – ao receber o Aurin
(medalhão que representa o reino de Fantasia com a figura do Ouroboros:
duas serpentes enlaçadas que simbolizam a eternidade) das mãos do centauro
Cairon, escuta a seguinte colocação: "de agora em diante sua opinião deixa
de contar."[27] De maneira semelhante, a opinião de cada um dos integrantes
de um fandom, fica submetida à opinião geral e consensual do grupo, que
direciona, conduz e medeia a interação dos usuários. O que não significa
dizer que as opiniões individuais sejam desprezadas.
O grupo aparece como "as comunidades interpretativas" de Stanley
Fish, ou seja, parece haver uma convergência para um núcleo de opiniões que
a priori condicionam os interesses. De modo geral, as interpretações sobre
um determinado texto conseguem um consenso entre os leitores/participantes,
com ou sem a presença do moderador. Entretanto, não podemos dizer que isto
é uma regra: os fandons (principalmente os fóruns) são palcos para grandes
discussões e divergências e, comumente, o que provoca a concordância é que
só entra nos debates quem tem alguma afinidade com o assunto. O assunto
previamente escolhido e a intercessão dos moderadores impedem "fugas" ao
tema e ao principio de organização destas comunidades.
Nestas comunidades tudo precisa ser escrito e lido pelos seus
membros. Para que haja compreensão, interpretação e, posteriormente, a
resposta reescrita (a réplica, a crítica, a adesão) precisará ocorrer em
forma de leituras. O que parece causar angústia a "cultura dos pais e
professores" é o desleixo com a forma gramatical, a falta de coordenação
das idéias ou a "superficialidade" destes textos, aliás, considerados quase
telegráficos.
O que interessa ao membro de uma comunidade de fandom é sobre o que ou
quem escrever: no caso do que, o assunto central é o livro tema (Harry
Potter) e as passagens que interessam ao grupo como um todo; no caso sobre
quem, refere-se aos interesses pessoais sobre personagens específicos.
Desse modo, os grupos se subdividem e cada um deles opina, aplaudindo ou
divergindo dos pontos de vistas colocados.
Nos grupos, cada um tenta defender um ponto de vista pessoal,
expressar um sentimento, um desacordo com o livro. Nos subgrupos, há
desentendimentos, pois é preciso defender muito mais que o fandom do grupo,
é preciso defender a visão sobre um determinado personagem e convencer os
demais que esta visão é a mais "verdadeira": a mais próxima do cânon (livro
tema). Desta forma, as argumentações para convencer os indecisos ou fazer a
conversão dos membros de outros subgrupos são bastante importantes, e
revelam que é necessário o controle da escrita e que a "escrita correta" é
sempre mais apreciada.
Uma das características interessantes destes grupos é que a escrita
ocorre de forma circular, em outras palavras, os membros escrevem para si
mesmos. A própria forma restrita dos interesses que articulam os grupos e
assuntos são a causa desta circulação. Considero que isto também garante a
segurança de alguns destes membros de que estarão entre aqueles que
compartilham idéias e desejos próximos aos seus.
Além disso, nos fandons mais organizados não é apenas a escrita que
aproxima os participantes, pois circulam links para sites de fanart,
fanfics, fanvídeos, ou dicas sobre outros livros. Esta comunicação é o
principal processo na criação deste mundo paralelo ao livro de interesse do
grupo e através dela temos a dinâmica do processo de leitura. Há também uma
circulação de informações e produções pelos próprios membros, o que inclui
uma forma crítica, já que é preciso ser cuidadoso com o material que se
quer compartilhar com os outros.
Com esta função democrática os fóruns conseguem a adesão por parte dos
participantes, pois tudo acontece como uma transgressão e uma apropriação
para um bem comum que está associado ao compromisso com o livro favorito.
É nos fóruns, portanto, que as frustrações dos leitores em relação as
suas expectativas sobre o lido tomam um sentido e formam um nexo, dando
início a um processo de recriação que pode, ou não, se transformar num novo
texto.
Harry Potter e as Relíquias da Morte foi lançado no segundo semestre
do ano de 2007 e chegou em novembro nas livrarias, traduzido para o
português. A maioria dos participantes dos grupos, no entanto, teve acesso
a traduções não oficiais. Harry, que começou o livro na idade de onze anos,
chegava à maioridade bruxa (que corresponde à britânica) e não podia mais
permanecer na casa de sua família, onde a proteção de sua mãe terminaria.
Precisava deixar a casa e completar o trajeto. Sempre sozinho (pois, só ele
poderia derrotar Voldemort) e, ao mesmo tempo, sempre em companhia dos
amigos, ele parte.
Muitos estavam certos: Harry Potter precisou morrer e voltar à vida
para concretizar a profecia e para esgotar (pelo menos no cânon) a sua
história. O livro terminou com um epílogo que mostra Harry, já marido e
pai, acompanhado dos amigos e dos filhos, que partem para Hogwarts, fazendo
o percurso que ele fez anteriormente. E a história recebeu o seu fim.
Fim? Para alguns fandons sim, mas para outros, apenas um recomeço. As
respostas do último livro estavam longe de satisfazer os desejos dos
leitores, e o epílogo, apesar de querer impedir o distanciamento, pois
mostrava uma conclusão para o futuro, não impediu os fãs de fazerem suas
alterações e de protestarem veementemente: na verdade, para muitos estava
finalmente dada a liberdade para os fandons: era do livro fechado que os
personagens e seu mundo poderiam sair para contarem as suas histórias.
Para muitos leitores foi assim que terminou a série de Harry Potter,
mas para outros o fim é o início, principalmente depois que a autora deu
permissão para os fãs continuarem escrevendo a história.


Advogados de J.K. confirmaram que ela está até feliz com
as novas histórias paralelas a serem publicadas on-line,
enquanto seus livros não esgotarem, mas que ela não estará
envolvida em nenhuma delas.


A escritora também pediu para que as sequências não
contenham pornografia ou racismo.


Enquanto isso, Rowling comemora o fato de ter sido eleita
uma das personalidades do ano pela revista Entertainment
Weekly.


Os 7 livros da série Harry Potter já venderam quase 400
milhões de cópias pelo mundo.[28]

Como na entrevista imaginária feita pela escritora/fã Magalud,
arquivada no FanFiction.Net (Anexo).


Conclusão

Na atualidade, uma crítica especializada em literatura infanto-
juvenil precisa conhecer não apenas os livros para o público a que se
destina, visando às questões no seu nível de recepção – sendo neste caso
considerado as perspectivas etárias ou a relação conteúdo/forma dos textos.
Isto porque a produção deve ser levada em conta, paralelamente a estes
estudos, principalmente nas condições de suportes hipermiadiáticos, que
permitem as editoras e aos autores conhecerem o interesse deste público,
que apesar de receber e pactuar com os textos oferecidos nem sempre se vê
representado por ele.
Muitos talvez ainda considerem a série Harry Potter mais um fenômeno
de mídia e não percebem que esta afirmação marginaliza ainda mais a
Literatura Infanto-Juvenil, principalmente porque demonstra descaso com o
desejo dos leitores, que também passam a produtores. Nesta questão, é comum
escutar que os textos dos fãs não possuem qualquer qualidade e se passam
como qualquer redação escolar. Este equívoco mostra o preconceito de quem
não conhece o significado desta produção, lembrando que não podemos
considerar isso apenas obra do mercado, já que os jovens leitores escrevem
para si mesmos e para outros membros dos grupos que queiram ler, sendo
pequena a possibilidade de serem lidos devido a quantidade de textos
alocados nos fóruns.
Observar as expectativas dos leitores e entender como readaptam para
seus discursos particulares – aquilo que os estudiosos da cultura jovem
chamam discursos inseridos na própria classe em que estão incluídos estes
leitores – poderia ser uma maneira de entender a própria leitura feita,
principalmente numa época em que se questiona a leitura interpretativa
destes jovens (neste caso, o público letrado).
Neste processo, cultura de massa e de mídia é sinônimo de recepção,
pois aqui os agentes – neste caso, os jovens – direcionam para o que
conhecem e para a forma na qual se sentem representados dentro da "alta
cultura".
No decorrer da redação deste artigo, estava havendo uma verdadeira
manifestação nos grupos de fandom, devido a um projeto de lei sobre crimes
no ciberespaço. Diante disso, alguns se questionavam se a fanficção seria
considerada plágio e muitos autores/leitores confessavam abertamente que
tinham aprendido a escrever e a criar com as fanfics. O que posso concluir,
ainda que parcialmente, é que está havendo uma reação "canônica" que vê na
inibição destes textos a perpetuação da autoridade de textos e críticas
oficiais. Longe de proteger os direitos autorais, leis como estas se
colocam contra a liberdade criadora e a participação ativa dos leitores.
A participação é outra palavra de grande importância para os
leitores/fãs, pois revela o interesse pelo livro comentado e pela interação
com os outros participantes, reforçando nos grupos a comunicação entre o
leitor e a obra: é o texto que cresce no contexto e o contexto passa a ser
criado no ambiente da Internet.
Nos fóruns dos fandons também se dissolvem equívocos como aqueles
criados do "lado de fora", começando pelo de que jovens não gostam de ler –
aqui vale lembrar C. S. Lewis, autor de Crônicas de Narnia, que defende que
há diferentes tipos de leitores e que nem todos estão aptos à mesma relação
com os textos. Também parece totalmente errônea a idéia de que a série
representaria uma ameaça "moral" aos jovens, pois fica constatado que
alguns "valores" são reforçados e que há uma extrema preocupação com
assuntos como a família, os amigos e a escola.
Este equilíbrio, pendendo hora para um lado e hora para outro, já que
os leitores podem formar consecutivamente o mercado e o mercado pode formar
"idéias" para os leitores, se intensifica com o recurso de hipermídias e
com a distribuição, arquivo e complexas relações de interação que ocorrem
no acesso a Internet.
De certa forma, a Internet, como anteriormente os artigos eletrônicos
de jogos para mídias, é aceita pela cultura jovem primeiramente em sua
forma de entretenimento (os nomes são muitos: ciberpunks, nerds, fangirls
ou, simplesmente, jogadores on-line). Os livros entraram neste processo por
necessidade destes leitores para a construção de uma realidade ficcional,
num mundo em que a virtualidade se torna a provedora de possibilidades.
Mas, o livro não representa apenas um instrumento de acréscimo a um
universo que já conta com outras mídias providas de imagens e som, pois sua
inclusão ocorreu devido a uma recepção "positiva".
Talvez, esta forma de recepção não esteja adequada ao pensamento de
Wolfgang Iser ou a noção de obra aberta, prevista e revista por Umberto
Eco, mas corresponde ao comportamento do "novo leitor". Falo de "novo
leitor" não nos aspectos de receber, interagir e participar ou colaborar
com o texto, mas naquele que já lê com uma intenção definida, ou seja, de
participar de uma comunidade (fandom) na internet para interagir com os
demais membros, que também se inserem e compreendem esta forma de leitura
que será dinamizada numa escritura textual ou visual.
Além disso, o "novo leitor" se considera realmente um fã dos livros,
assumindo assim a relação entre mídia e entretenimento. Este leitor pode
manter a fidelidade a uma obra por anos (como vimos que ocorre na série
Harry Potter) ou até o próximo livro que achar mais interessante e que
possuam comunidades que lhes interessem participar.
Sem dúvida é uma questão perturbadora e que parece desestabilizar o
sentido que damos à noção de leitura – incluindo o texto literário – mas,
também, demonstra que os aspectos de uma "leitura silenciosa" não
correspondem mais ao interesse dos "novos leitores": ainda que leiam os
seus livros no silêncio individual, sentem a necessidade de compartilhar as
etapas de sua leitura com o grupo e por isso ativam a parte de jogo que se
encontram nos livros de LIJ, abrindo cada texto como um imenso tabuleiro de
possibilidades e movendo as peças (personagens) em muitas outras vidas.
O "novo leitor" quer, dentro do fandom, um leitura em que possa
atuar, mesmo que através do livro que leu e de uma história que resgatou do
esquecimento do autor de origem. Embora devamos lembrar que o leitor
reconhece a trilha que o autor deixou, ele a ultrapassa por escolha e
assume os riscos. Mas, nos grupos, ou os riscos são assumidos por todos ou
redirecionam o leitor/fã de volta ao caminho: os fóruns, como os de Harry
Potter, são os guias para os viajantes.

Referências Bibliográficas
ANTUNES, Cláudia Rejane D. Modos de Ler. Letras de Hoje. Porto Alegre.
V.37. n°2, p. 11-23. junho,2002. PUCRS.
BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. J. Guinsburg. São Paulo:
Perspectiva, 1987.
__________. Lingüística e Literatura. trad. Isabel Gonçalves e Margarida
Barahona. São Paulo, 1980.
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Trad. Sergio Paulo
Rouanet. 7 ed. São Paulo, 1994.
_________. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. trad. Marcos
Vinicius Mazzare. 4 ed. São Paulo: Summus, 1984.
BLOOM, Harold. Um mapa da Desleitura. Rio de Janeiro, Imago, 1995.
__________. A angústia da influência – uma teoria da poesia. Rio de
Janeiro: Imago, 1991.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 8°ed. São Paulo: T.A. Queiroz,
2002.
CALVINO, I & outros. Atualidade do Mito. trad. Carlos Arthur R. do
Nascimento. São Paulo: Duas Cidades, 1977.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil teoria – análise – didática. São
Paulo: Ática, 2000.
CHARTIER, Roger. Morte ou transfiguração do leitor? In: Os desafios da
escrita. São Paulo: Unesp, 2002.
__________. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Trad. Reginaldo
Carmello C. de Moraes. São Paulo: UNESP. sd.
EAGLETON, Terry. Uma Introdução a Teoría Literaria.
ECO, Umberto. Leitura do texto literário: lector in fabula. Trad. Mário
Brito.Lisboa, Ed. Presença:1976.
__________. Interpretação e Superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
ENDE, Michael. A história sem fim. Trad. Maria do Carmo Cary. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
FERREIRA, Ermelinda. O leitor do texto e o leitor no texto. In: Revista
arte e comunicação. Recife: UFPE, n.8, ano 9, 2003.
FISH, Stanley. Como reconhecer um poema ao vê-lo. In: Palavras, Revista do
Deptº. de Letras da PUC – Rio. Rio de Janeiro, 1993, p. 156-165.
FRYE, Northrop. The Motive for Metaphor. In: The Educated Imagination.
Bloomington: Indiana University Press, 1964
ISER, Wolfgang. O ato da Leitura. Vol, 1. trad. Johannes Kretschmer. São
Paulo: Ed.34.1996.
__________. The Implied Reader. The Johns Hopkins University Press Ltd.
Lodon: 1974.
__________. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, Luiz Costa. A
literatura e o leitor. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1979.
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria
literária. Trad. Sérgio Tellaroli.São Paulo. Ed. Ática, 1994.
JOLLES, André. Formas Simples: legenda, saga, mito, advinha, ditado, caso,
memorável, conto, chiste. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Ed. Cultrix,
1976.
LEÃO, Lúcia. O Labirinto da Hipermídia: arquitetura e navegação no
Ciberespaço. São Paulo: Iluminuras, 2001.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na Era
da Informática. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 2000.
__________. Qué es lo virtual? trad. Diego Levis. Barcelona: Paidós Ibérica
S.A, 1998.
LYOTARD, Jean-François. The Postmodern Condition: A Report on Knowledge.
Minneapolis: University of Minnesopa Press, 1993.
MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária. trad. Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MANGUEL, Alberto. Uma História da Leitura. Trad. Pedro Maia Soares. 2° ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
MARTINS, M. H. O ato de ler. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense,1992.
MEURER, J.Luiz e MOTTA-ROTH, Désirée. (orgs.) Gêneros Textuais e práticas
discursivas: subsídios para o ensino da linguagem. São Paulo: EDUSC, 2002.
MÓES, Fabiana. "Quem conta um conto, aumenta um ponto": Fanfic – uma
recriação do texto literário. In: Anais, I ENCONTRO NACIONAL SOBRE
HIPERTEXTO: desafios lingüísticos, literários e pedagógicos. Recife, 2005.
__________. Fanfic e fanfiqueiros: leitores/fãs de livros/escritores. In:
Anais, I ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO: desafios lingüísticos,
literários e pedagógicos. Recife [s.c.p], 2005. CD-ROM.
ROWLING, J.K. Harry Potter e a pedra filosofal. trad. Lia Wyler. Rio de
Janeiro: Rocco, 2000.
__________. Harry Potter e a câmara secreta. trad. Lia Wyler. Rio de
Janeiro: Rocco, 2000.
__________. Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban. trad. Lia Wyler. Rio
de Janeiro: Rocco, 2000.
__________. Harry Potter e o cálice de fogo. trad. Lia Wyler. Rio de
Janeiro: Rocco, 2000.
__________. Harry Potter e a Ordem da Fênix. trad. Lia Wyler. Rio de
Janeiro: Rocco, 2005.
__________. Harry Potter e o enigma do príncipe. trad. Lia Wyler. Rio de
Janeiro: Rocco, 2005.
__________. Harry Potter e as relíquias sagradas. Trad. Lia Wyler. Rio de
Janeiro: Rocco, 2007.
PINHEIRO, Najara F. A noção de gênero para análise de textos midiáticos.
In: MEURER, José Luiz; MOTTA-ROTH, Désirée (orgs.). Gêneros textuais e
práticas discursivas: subsídios para o ensino da linguagem. São Paulo:
EDUSC, 2002, p. 275.
SAMPAIO, Mariza Narcizo; LEITE, Lígia Silva. Alfabetização tecnológica do
professor. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
SANTAELLA, Lucia. Três tipos de leitores: o contemplativo, o movente e o
imersivo/Matrix: corpo plugado e mente imersa. In: Navegar no ciberespaço.
O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.
THEODORO, Ezequiel. A leitura no mundo contemporâneo. In: RIBEIRO,
Francisco A. (org.) Leitura e literatura infanto-juvenil. Vitória: UFES,
1997.
TOLKIEN, J.R.R. O senhor dos anéis: as duas torres. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
XAVIER, Antônio Carlos. Hipertexto: Novo paradigma textual? In:
Investigações – Lingüística e Literatura. Vol. 12 – UFPE, Recife, 2000.
__________. Leitura, texto e hipertexto. In: Hipertextos e gêneros
digitais: novas formas de construção do sentido. orgs. Luiz Antônio
Marcuschi e Antônio Carlos Xavier. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
__________. Hiperleitura e interatividade na Web 2.0. In: RETTENMAIER,
Minguel e RÖSING Tânia M. K. (orgs.). Questões de leitura no
hiperespaço.Passo Fundo: UPF Editora, 2007.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global,
1987.
__________. & LAJOLO, Marisa. Literatura infantil brasileira: história e
histórias. Ática: São Paulo, 1985.

Sites:
http://www.inf.ufsc.br/~jbosco/InternetPort.htm.
http://www.textodigital.ufsc.br/
http://www.aurores.com/forum/viewforum.php?f=77
http://forum.potterish.com/viewforum.php?f=146&st=0&sk=t&sd=d
http://www.deviantart.com/
http://www.fanfiction.net/book/
Virou-se rapidamente para o eParte inferior do formulário

Anexo


Nome da fic: Uma nova entrevista
Autor: Magalud
Par: Gen (Significa sem pares)
Censura: G
Gênero: Humor
Spoilers: Spoilers para o Livro 7. Spoiler Totalus!
Beta: Cris, sempre ao meu lado.
Sinopse: Desta vez, Rowling convoca uma entrevista coletiva.

A entrevista coletiva

(...)

FÃS: Tarde demais! Com o fim do cânon, o fandom é nosso!

GILLIAN: Calma, gente...

ROWLING: Calma? CALMA? Esses fãs querem tomar conta do que é meu! Harry é
meu!

FÃS: Harry agora é nosso! E o resto do povo também!

ROWLING: Mas é muita pretensão! Eu chamo a polícia do copyright, hein?

(ROWLING, FÃS e PERSONAGENS começam a bater boca. A coisa parece
degringolar rapidamente)

MASTER (para GILLIAN): Ih, chefe, tô vendo que vai dar encrenca de novo.

GILLIAN (cochichando): Fica preparado. Se precisar, puxa o fio da tomada de
novo!

HARRY POTTER (dando um fim à discussão): Já chega! Vamos embora. Madame,
como se diz por aí, valeu, mas agora tenho que vazar. Muito obrigada por
tudo, e desculpe qualquer coisa.

ROWLING: Vazar? Como assim? Harry, aonde você vai? Que caminho você vai
tomar?

HARRY POTTER (sorrindo): "Segunda estrela à direita e em frente até o
amanhecer" (). Eu sempre quis dizer isso!

N.A. -() Coordenadas da Terra do Nunca, como citadas em "Peter Pan".

-----------------------
[1] N. da A. Este artigo é uma adaptação da minha monografia de
Especialização em Literatura Infanto-Juvenil (FAFIRE), 2008. O título
permanece, embora não estejam incluídas aqui as análises feitas aos fóruns
do fandom de Harry Potter, que mostravam a imensa interação dos
fãs/leitores e da forma como os comentários revelavam as expectativas sobre
os livros e ofereciam idéias para a criação de novos textos.
[2] N da A. O MuggleNet é um site sobre a série que ainda se mantêm
atualizado não apenas sobre o livro de Harry Potter, mas sobre a autora e
os atores que representam os personagens nos filmes.

[3] N. da A. O fandom não é necessariamente representado pelos jovens e
crianças nem aos seus interesses. Grande parte dele é representada por
adultos interessados, geralmente, em séries de tv e produções
cinematográficas.
[4] N. da A. No ciberespaço, o fandom agrupa e interliga as produções em
texto (fanfics), vídeos (fanvideos), desenhos (fanarts) e fóruns (debates)
de um mesmo livro. Harry Potter, por exemplo.
[5] N. da A. Já existem dois livros, mais conhecidos, que se passaram por
livros da série Harry Potter e que, no entanto, foram escritos por
leitores. Estes livros também foram lidos e comentados, pois participam do
mundo do fandom dedicado à série. (apêndice A)
[6] N. da A. Os termos vazios, horizonte de expectativas, concretização
fazem parte do vocabulário técnico/crítico da Teoria da Recepção, que tem
em Jauss e Iser seus principais defensores.
[7] N. da A. Há uma discussão acadêmica "não-oficial" entre vários
especialistas em fandom no Livejournal. Autores como Henry Jenkins, que
estuda a cultura dos fãs desde os anos 90 e considera esta leitura um
processo social. Além disso, enquanto alguns vêem este processo como "fuga
da realidade", outros observam como fenômeno de uma "utopia" com bases na
hipermídia, ou porque não, uma utopia-mediada.
[8] N. da A. O personagem de Jorge Luis Borges que para escrever "o" D.
Quixote precisa "tornar-se" Cervantes.
[9] MIRANDA, Fabiana Móes. Quem conta um conto aumenta um ponto: fanfics –
a recriação do gênero literário. 2004. Monografia. (Bacharela em Letras –
Habilitação em Crítica Literária). UFPE, Recife.
[10] N. da A. Certamente, pode-se considerar uma falácia crítica determinar
"graus" de hermetismo, palavra emprestada de outras áreas do conhecimento,
pois para certos leitores o nível de desconhecimento prévio de qualquer
texto (mesmo oral) cria dificuldades para a articulação de sentidos. Ao
mesmo tempo, inúmeros leitores apresentam verdadeiras "exegeses" a textos
em que o significado poderia parecer "claro".
[11] "Boa parte dos textos, escritos para o ambiente virtual, espera ser
lido, e desta forma conta com os meios disponíveis e se coloca a disposição
de críticas e sugestões. Entre estas formas de interação, uma das mais
importantes é o review: quando se escreve na Internet, como nos blogs,
sempre se espera um retorno sobre suas histórias – feedback. Em outras
formas de textos, os autores, depois de escrever o texto eles colocam
frases como: Então o que acharam? ou, Devo continuar? Esta parte na
interação dos leitores/escritores é muito importante, uma vez que muitos só
continuam a escrever os capítulos de suas histórias ou mesmo novas
histórias se receberem este feedback." MIRANDA, Fabiana Móes, Op. Cit. P
22.
[12] MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária. trad. Marina
Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 91.
[13] BARTHES, Roland. A morte do autor. In: O Rumor da Língua. trad. Mario
Laranjeira. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1988, p. 70.
[14] MIRANDA, Fabiana Móes. Op. Cit. p. 27.
[15] N. da A. Observa-se aqui o paradoxo, ou seja, a mídia é considerada um
problema, pois afastaria das crianças e jovens questões com "verdadeira
cultura", "valores", "formas artísticas", etc. Entretanto, é o mercado de
LIJ que dita todas estas questões, mesmo quando contrata um autor para
escrever um livro que tenha estes "valores", etc. As encomendas de livros
em LIJ são comuns, como também é comum que as escolas recebam caixas e
caixas de livros infanto-juvenil que sequer serão abertos. Livros assim
funcionam como tvs desligadas.
[16] ROWLING J. K. Harry Potter e a Câmara Secreta. Rio de Janeiro: Rocco,
2000, p. 205. (grifo meu)
[17] MANGUEL, Alberto. Uma História da Leitura. Trad. Pedro Maia Soares. 2°
ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 239.
[18] N da A. Utilizo o termo extensão (e não novo texto), pois a relação
com a obra cânon é tão estrita e vital que se perderia sem a referência do
texto representado como uma nova história (fandom).
[19] N. da A. Refiro-me a minha monografia de graduação (2004), "Quem conta
um conto, aumenta um ponto": Fanfic – uma recriação do texto literário.
[20] BENJAMIM, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação.
trad. Marcos Vinicius Mazzare. 4 ed. São Paulo: Sumus, 1984.
[21] N. da A. O termo subcultura, infelizmente ainda, carrega uma
significação pejorativa, mas neste trabalho está colocado como uma das
muitas formas de disposições culturais que se apresenta paralelamente a
cultura "dominante".
[22] CALVINO, I & outros. Atualidade do Mito. trad. Carlos Arthur R. do
Nascimento. São Paulo: Duas Cidades, 1977, p. 75.
[23] N da A. Estou utilizando "não-infantil" e não "literatura adulta" pela
problemática definição de limite etários dos livros, já que qualquer livro
poderá ser lido (apesar das significações diferentes) de forma independente
em qualquer idade. Aos jovens os clássicos podem despertar grande interesse
e há adultos que se deleitam com a literatura para os "pequenos leitores".
[24] N. da A. Os principais fandons são os de fantasia, como os da série
Harry Potter, e os de ficção-científica, que incluem muitos filmes e
seriados de televisão, Jornada nas Estrelas e Guerras nas Estrelas, por
exemplo.
[25] XAVIER, Antonio Carlos. Hiperleitura e interatividade na Web 2.0. In:
Questões de leitura no hiperespaço. Minguel Rettenmaier e Tânia M. K.
Rösing (orgs.) Passo Fundo: UPF Editora, 2007, p. 33.
[26] Ibidem, 2007, p. 40.
[27] ENDE, Michael. A história sem fim. Trad. Maria do Carmo Cary. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
[28]< http://metropolitanafm.uol.com.br/noticias/fas-podem-escrever-novas-
historias-de-harry-potter.shtml? PHARRY
POTTERSESSID=b7f4158046de0c669355948851c70fce> acesso 18/03/2008.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.