Hegemonia e inserção internacional dos pequenos Estados da Oceania

July 18, 2017 | Autor: Raony Palicer | Categoria: Hegemony, Relaciones Internacionales, Oceania
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FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL Raony Palicer Graduando de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar considerações iniciais a partir de uma investigação em andamento sobre a posição dos Estados do continente da Oceania no sistema internacional. Pensando o sistema internacional como palco de constante disputa hegemônica, onde prevalecem as relações de política e poder, tentaremos identificar a distribuição de poder dos referidos países neste cenário. Para tanto lançaremos mão do aporte teórico metodológico no campo das relações internacionais.

Palavras-chave: Oceania; Sistema Internacional; Hegemonia; Relações Internacionais.

Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais

FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL INTRODUÇÃO Quando pensamos na Oceania, imediatamente nos vem à mente suas ilhas paradisíacas, os mares de um azul límpido transmutando-se em um belo verde-água. Os corais multicoloridos pulsando vida, as praias de areia branca, os povos com culturas tão ricas e variadas, entre outras maravilhas de pacotes turísticos. Por trás desse panorama idílico estão Estados nacionais frágeis, dominados no sistema internacional, com economias incipientes e sérios problemas de estruturas básicas para a sua população. O colonialismo deixou sua marca inclusive na ciência. Há vários estudos versando sobre a colonialidade do saber, seja questionando o caráter eurocêntrico da epistemologia das ciências sociais, seja observando a falta de olhares múltiplos através da ciência1. Por isso julgamos necessário o olhar de regiões periféricas para o centro, ou para outras regiões periféricas. Se os “brasilianistas” americanos muito contribuíram para a compreensão de nossa realidade, contribuições de igual ou maior relevância poderiam advir de olhares asiáticos, africanos ou de outros países da América Latina sobre o Brasil e vice-versa. Por isso propomos um olhar latinoamericano sobre a Oceania. Cientes de nossas proximidades e diferenças esperamos compor uma alternativa, ao menos na tentativa de conhecimento da realidade, pois nações europeias e os Estados Unidos já têm participações incisivas nos estudos da região. As similaridades históricas – de passado colonial, por exemplo – e atuais – como a manutenção da posição periférica – nos permite traçar paralelos e compreendermos mutuamente os papéis das duas regiões no cenário internacional. Ademais, a aproximação é imprescindível quando verificamos um cenário internacional de embates hegemônicos, no qual ambas as regiões se encontram distantes dos focos de poder. As alianças entre os Estados não-hegemônicos são primordiais para a superação da atual organização dos Estados no sistema internacional, que relega a esses países papeis subalternos e problemas endêmicos de condições básicas de sobrevivência de sua população.2 Este trabalho representa um esforço inicial nesta direção. Procuraremos analisar as distribuições de poder dentro do continente da Oceania e entre este continente e outras regiões do mundo, pensando nos âmbitos teóricos de autores das relações internacionais como Edward Carr e Tullo Vigevani. 1 LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Clacso, 2005. 2 Conforme Luciano Gruppi, pensando a hegemonia em seu papel mais clássico e classista: “Hegemonia é isto: determinar os traços específicos de uma condição histórica, de um processo, tornar-se protagonista de reivindicações que são de outros estratos sociais, da solução das mesmas, de modo a reunir em torno de si esses estratos, realizando com eles uma aliança na luta contra o capitalismo e, desse modo, isolando o próprio capitalismo”. (GRUPPI, 1978, p. 59). Esse conceito é expandido para as relações internacionais por autores como Giovanni Arrighi, para quem a hegemonia mundial “[...] refere-se especificamente à capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas. Em princípio esse poder pode implicar apenas a gestão corriqueira desse sistema, tal como instituído num dado momento. Historicamente, entretanto, o governo de um sistema de Estados soberanos sempre implicou algum tipo de ação transformadora, que alterou fundamentalmente o modo de funcionamento do sistema” (ARRIGHI, 1996, p. 27).

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RAONY PALICER A OCEANIA Composto por pouco mais de uma dezena de Estados, o continente da Oceania é o menor do mundo em massa territorial e também o menos povoado - se excetuarmos a Antártica.3 Também nos chama atenção a sua composição diferenciada, onde os outros continentes apresentam imensas porções de terras, a Oceania traz minúsculas ilhas, com exceção apenas da gigantesca Austrália que representa quase 90% da massa de terra do continente. 4 Não é apenas no tamanho do território que a Austrália difere do restante dos Estados na região. Junto com a Nova Zelândia, são os únicos países que conseguiram se adaptar ao capitalismo mundial, sendo consideradas nações desenvolvidas, com economia diversificada, indústria avançada e bons índices de desenvolvimento humano. 5 Os demais Estados da região, em maior ou menor grau, lutam pela sobrevivência. Afastadas dos polos de poder, sem indústria estabelecida e nem mesmo condições de estabelecêla, com falta de mão de obra e de mercado consumidor, sendo constantemente atingidas por desastres naturais como furacões, tornados e tsunamis, as pequenas ilhas do oceano pacífico se encontram na periferia do capitalismo e consequentemente do sistema internacional. Pensamos o sistema internacional de acordo com definição apresentada, entre outros, por Tullo Vigevani que une a noção de sistema interestatal de Raymond Aron com os fenômenos transnacionais e a economia mundial, no qual o capital passa a cumprir o papel do grande ator transnacional. Assim, o sistema interestatal é exposto por Aron como as relações entre Estados no cenário mundial, já o sistema internacional é definido por Vigevani como “um conjunto que inclui o sistema interestatal, a economia mundial, ou o mercado mundial ou o sistema econômico mundial, e os fenômenos transnacionais ou supranacionais.” 6 Esta relação entre os Estados não é harmônica. Com cada Estado sendo soberano e buscando a conquista de seus objetivos, o que vigora é a anarquia, conforme Vigevani: 3 Há dissenso entre os teóricos quanto aos países que fazem parte do continente. O debate gira em torno da ilha de Nova Guiné, que sofreu um processo de colonização por alemães e ingleses. A ilha é dividida exatamente ao meio sendo que o norte foi ocupado pela Alemanha e hoje é parte da Indonésia e o sul pela Inglaterra, hoje o Estado independente de Papua Nova Guiné, sendo que alguns teóricos consideram toda a Ilha como parte do Sudeste Asiático. Neste trabalho compartilhamos da visão contrária, que por motivos de afinidades culturais e posicionamentos políticos, considera apenas a parte indonésia da ilha como Sudeste Asiático e Papua Nova Guiné como parte do continente da Oceania. Isto posto, esclarecemos que nossa concepção de Oceania abarca os Estados independentes: Austrália, Fiji, Ilhas Salomão, Kiribati, Estados Federados da Micronésia, Nauru, Nova Zelândia, Palau, Papua Nova Guiné, Samoa, Tonga, Tuvalu e Vanuatu; os Estados em livre-associação como Ilhas Cook e Niue - que têm livre-associação com a Nova Zelândia - e as Ilhas Marshall - em livre-associação com os Estados Unidos. Além disso, abarcaremos em nossa análise algumas possessões e colônias, como as ilhas de Guam e Samoa Americana - posses dos Estados Unidos -, o conjunto de ilhas da Polinésia Francesa, a Nova Caledônia e o arquipélago de Wallis e Futuna - em posse da França -, além das Ilhas Pitcairn, último resquício do império britânico na Oceania. 4 Dados geográficos retirados da base de dados do Pacific Island Forum, disponível em acesso em 03/10/2013, em conjunto com informações do CIA World Factbook. 5 Ao levarmos em conta dados do CIA World Factbook, World Bank DataBank e informações da ONU sobre IDH. 6 VIGEVANI, 1999, p. 7

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FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL “Falar em sistema interestatal nesse sentido nos leva de volta à ideia de anarquia, ideia chave em todo e qualquer estudo de relações internacionais. (...) Como sugere a quase unanimidade da literatura, a anarquia existe, é um fato.” 7

Ainda nesta direção recuperamos as contribuições de E. Carr. Segundo o autor, entre Estados e sob a lógica da anarquia, o que vigora são as relações de poder. A força, para Carr, está presente em qualquer relação política e segundo ele: “O fracasso em reconhecer que a força é um elemento essencial da política viciou, até agora, todas as alternativas de se estabelecerem formas internacionais de governos, e confundiu quase todas as tentativas de discutir o assunto.” 8

Carr vai se utilizar de uma divisão realizada por Russel, para classificar em três tipos o poder político, ambos os autores são cuidadosos em afirmar a indissociabilidade do poder, sendo esta tipologia meramente teórica. Os três tipos de poder dispostos por eles são o poder militar, o poder econômico e o poder sobre a opinião. Vale ressaltar o caráter teórico desta divisão, Carr coloca que “é difícil, na prática, imaginar um país que, por algum período de tempo, possua algum tipo de poder isolado dos outros”.9 Além disso, temos mudanças no cenário internacional que nos força a atualizar os conceitos, Meire Mathias, por exemplo, ao trabalhar a tipologia de Carr, coloca em evidência a sobreposição do direito privado internacional sobre o direito público internacional, ressaltando que: “Do ponto de vista do poder na política internacional, altera-se não somente a noção de soberania, mas também o domínio dos recursos de poder do Estado resultando, inclusive, no aumento da vulnerabilidade externa do país”.10

Com isso em mente, utilizaremos da tipologia de Carr para analisarmos a distribuição de poder entre os países da região.

O PODER MILITAR Vejamos primeiramente o poder militar, o qual possui “suprema importância” na conceituação de Carr. Segundo o autor, a guerra ocupa posição central na política internacional. Ainda que a guerra seja indesejável, é uma necessidade em última instância para resolução de impasses extremos como um último recurso, estando sempre presente como um espectro rondando as relações interestatais. Por esse motivo, o autor afirma que: “[as potências] são classificadas de acordo com a qualidade e a suposta eficiência do equipamento militar, incluindo a força humana, à sua disposição” 11

7 VIGEVANI, 1999, p. 9 8 CARR, 1981, p. 109 9 CARR, 1981, p.110 10 MATHIAS, 2012, p.162 11 CARR, 1981, p.112

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RAONY PALICER Observando as ilhas por esse viés fica evidente sua debilidade. Nem todas as ilhas possuem Forças Armadas próprias, Kiribati, Palau e Nauru, por exemplo, deixam sua defesa como responsabilidade da Austrália ou da Nova Zelândia, baseados em acordos formais. As Ilhas Marshall têm acordo semelhante com os EUA. Já Samoa se apresenta em uma situação ainda mais frágil, pois o acordo de defesa com a Nova Zelândia é informal, o que o torna mais fácil de ser rompido. Mesmo as forças militares da região, Austrália e Nova Zelândia, não possuem poderio militar para ameaçar as potências hegemônicas, sendo que a Austrália tem atuado como um fiel aliado destas potências, apoiando e enviando tropas, por exemplo, para a Guerra do Iraque, demonstrando um posicionamento mais voltado à submissão aos estados hegemônicos do que à preocupação regional. 12 Quadro Militar13 País

Forças Militares

Austrália

Australian

Defense

Australian

Army

Force

(ADF):

(inclui

Special

Gastos Homens em idade

Mulheres em idade

Militar(16-49 anos)

Militar(16-49 anos)

5,116,722

5,316,464

3%

233,240

222,587

1.6%

142,913

118,164

3.7%

25,190

20,302

-

22,008

23,501

-

Militares (PIB)

Operations Command), Royal Australian Navy (inclui Naval Aviation Force), Royal Australian Air

Force,

Joint

Operations Command (JOC) Republic of Fiji Military Forces (RFMF):

Fiji

Land Forces, Naval Forces (2011)

Ilhas Salomão

Não há forças armadas, nem acordos de defesa

Kiribati

Não há forças armadas, a defesa é fornecida pela Nova Zelândia

Micronésia,

Não há forças armadas, a defesa é

E s t a d o s

fornecida pelos Estados Unidos da

Federados da

América

12 Dados retirados do CIA World Factbook, disponível em acesso em 03/10/13. 13 Tabela construída pelo autor com dados do CIA World Factbook, disponível em acesso em 03/10/13.

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FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL Não há forças armadas, a defesa é

Nauru

fornecida pela Austrália

1,823

2,034

-

1,019,798

1,003,429

1.5%

5,272

3,969

-

1,568,210

1,478,965

0.5%

38,260

38,032

-

24,460

24,041

0.9%

2,021

2,026

-

43,331

44,927

-

New Zealand Defense Force (NZDF): Nova Zelândia

New Zealand Army, Royal New Zealand Navy, Royal New Zealand Air Force (Te Hokowhitu o Kahurangi, RNZAF Não há forças armadas, a defesa é

Palau

fornecida

pela

Estados

Unidos

da

América

Papua

Nova

Papua New Guinea Defense Force (PNGDF; includes Maritime Operations

Guiné

Element, Air Operations Element)

Não há forças armadas, a defesa é

Samoa

fornecida pela Nova Zelândia Tonga Defense Services (TDS): Land Tonga

Force (Royal Guard), Maritime Force (includes Royal Marines, Air Wing)

Não há forças armadas, nem acordos de

Tuvalu

defesa

Vanuatu

Não há forças armadas, nem acordos de defesa

As ilhas também possuem baixo nível populacional (novamente com as exceções de Austrália e Nova Zelândia, desta vez acompanhadas por Papua Nova Guiné), o que se desdobra em exércitos defasados. O único país que nunca foi colonizado da região, Tonga, possui disponíveis em idade militar (de 16 a 49 anos) cerca de 40 mil pessoas. Fiji, outro país com força armada própria, possui aproximadamente 450 mil pessoas disponíveis para serviços militares. Números discretos perante aos 2 milhões de pessoas disponíveis para o exército da Nova Zelândia e ainda mais irrisórios frente aos 8 milhões da Austrália.14 14 Dados retirados do CIA World Factbook, disponível em acesso em 03/10/13.

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RAONY PALICER Mapa Geopolítico15

Essa fragilidade fica ainda mais exposta quando observamos a posição estratégica ocupada por esses países. Várias ilhas da região foram utilizadas como base militares durante a segunda guerra mundial, principalmente pelos Estados Unidos e pelo Japão, mas também por alemães e franceses que à época ainda mantinham suas colônias no continente. Atualmente a grande maioria dessas bases foram desativadas, porém os Estados Unidos ainda mantém um grande número de bases ativas, seja em países aliados, seja em suas dependências.

O PODER ECONÔMICO E O PODER SOBRE A OPINIÃO Austrália e Nova Zelândia também são exceções quando se trata do segundo tipo de poder elencado por Carr, o poder econômico. Se, como ressaltamos, as formas de poderes são inseparáveis na prática, mesmo uma separação teórica entre o poder militar e o poder econômico é difícil de realizar, pois, conforme o autor “O poder é indivisível; e as armas militares e econômicas são meramente, diferentes instrumentos de poder” 16. O poder econômico está mais intrinsecamente ligado ao poder militar quando pensamos na ameaça de guerra. Nesta condição, a autarquia, ou auto-suficiência é necessária para superar bloqueios econômicos, garantindo a sobrevivência da nação. Além disso, temos o poder econômico sendo utilizado em companhia do poder militar para garantir a influência dos países no exterior. Para isso realiza-se a exportação do capital, isto é, investimentos externos e o controle de mercados estrangeiros. 17 15 SIMIELLI, 2009, p.37 16 CARR, 1981, p. 118 17 CARR, 1981, pp. 118-126

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FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL Pois novamente os únicos países em condição de exercer tais poderes na região são a Austrália e a Nova Zelândia e mesmo assim de forma limitada. Ambos possuem uma economia diversificada entre indústria, turismo e a agropecuária. O restante dos países da região tem um leque de possibilidades econômicas diminuto, baseando-se quase que exclusivamente em exportações de bens primários e na indústria do turismo.18 Com suas belas praias de águas claras, com seus corais pulsando vida, com a riqueza e variedade de suas culturas, as ilhas do pacífico devem muito de sua renda ao turismo. Contudo, a região é turbulenta. Cercada de vulcões, com grande número de terremotos e sendo atingidas por tsunamis e ciclones, as ilhas são frequentemente devastadas, o que gera períodos de oscilação no número de turistas, outro fator que acarreta em baixas nesta indústria são as democracias recentes, as quais ainda passam por turbulências, como golpes de estado e instabilidades política. 19 Além dessa indústria inconstante, o extrativismo é outra fonte de renda das ilhas, com todos os malefícios que isso acarreta, como degradação do meio ambiente, condições precárias de trabalho e eventuais extinções da fonte de riqueza. Neste sentido, o caso de Nauru é exemplar, esta ilha foi exaurida pela mineração de fosfato, ficando com um território destruído pela erosão, uma população empobrecida pela concentração dos lucros e um Estado falido, por não ter outra fonte de renda. Ainda hoje temos algumas ilhas que vivem apenas da exportação de copra (polpa seca do coco) e óleo de coco, ou outros produtos tropicais, todos com baixa taxa de lucro. Outras ilhas, por fim, tem em sua economia somente a agricultura de subsistência, sendo que alguns casos mais extremos exigem a importação de alimentos e ajuda internacional. Fica aparente desta forma a falta de poder econômico das ilhas do pacífico, que não conseguem promover uma autarquia e muito menos expandir sua influência através da economia, sendo que, são elas que tem em seu território, uma grande influência dos países hegemônicos. Quadro Econômico20 País

População

PIB (US$)

Crescimento

Austrália

22,262,501

1.542 trilhões

3.6%

Fiji

896,758

3.996 bilhões

2.1%

Mão de Exportações Importações O b r a (US$) (US$) Disponível 1 2 . 1 5 258.8 bilhões 239.7 bilhões milhões 991.6 335,000

1.762 bilhões milhões

Ilhas Salomão

597,248

1.01 bilhões

5.5%

202,500

226.5 milhões

$360.3 milhões

Kiribati

103,248

173 milhões

2.5%

7,870

7.066 milhões

80.09 milhões

18 HEZEL, 2012, pp. 10-14 19 HEZEL, 2012, pp. 16-17 20 Tabela construída pelo autor com dados do CIA World Factbook, disponível em acesso em 03/10/13.

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RAONY PALICER Micronésia, Estados Federados da

106,104

327 milhões

1.4%

15,920

24.9 milhões

132.7 milhões

Nauru

9,434

60 milhões

-

-

64,000

20 milhões

4,365,113

169.7 bilhões

2.5%

2 . 3 9 4 milhões

37.9 bilhões

37.15 bilhões

Palau

21,108

221 milhões

5.8%

9,777

12.3 milhões

113.4 milhões

Papua Nova Guiné

6,431,902

15.79 bilhões

9.1%

3 . 9 8 6 milhões

5.604 bilhões

4.412 bilhões

Samoa

195,476

683 milhões

1.2%

47,930

11.4 milhões

318.7 milhões

Tonga

106,322

476 milhões

1.4%

39,960

8.4 milhões

121.9 milhões

Tuvalu

10,698

37 milhões

1.2%

3,615

600,000

16.5 milhões

Vanuatu

261,565

783 milhões

2.7%

115,900

$55.9 milhões

316.4 milhões

N

o v a Zelândia

A última forma de poder apregoada por Carr é a propaganda, ou seja, o poder sobre a opinião, no qual a capacidade de influência sobre as massas é fundamental para o exercício pleno do poder. Este é mais um tipo de poder notável por sua ausência nas pequenas ilhas do pacífico. Sua influência é muito fraca, tanto interna como externamente. A ausência de controle da opinião é visível internamente através dos sucessivos golpes militares e instabilidade política. Fiji, por exemplo, já sofreu quatro golpes de estados desde 1987, sendo que o último, de 2006, perdura até os dias de hoje. A falta de influência no plano externo é visível pela pouca participação e pequeno peso das ilhas em decisões internacionais, sendo que algumas ilhas têm livre-associação com Estados Unidos ou Nova Zelândia, ficando estes países responsáveis pelos assuntos de política externa dos Estados, ou seja, eles nem mesmo chegam a se manifestar propriamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Apresentamos aqui, baseados na teoria de Carr, um levantamento inicial de um quadro geral dos países da Oceania no sistema internacional. Pudemos visualizar sua visível fragilidade e sua posição à margem da hegemonia mundial. Esse quadro pode ser encarado como desanimador, ao pensarmos as dificuldades que esses Estados encontram em se manterem autônomos e conquistarem melhores condições de vida para sua população, entretanto, podemos vislumbrar na região uma potencial configuração, ou ao menos, um potencial aliado de uma contra-hegemonia. Conforme Edmundo Fernandes Dias:

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FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL “Constrói-se uma hegemonia na luta contra as formas institucionais da ordem anterior, na crítica das suas formas de conceber o mundo; constrói-se, enfim, pela atualização das suas possibilidades de transformação.” (DIAS, 2006, p. 46).

Sendo assim, uma área inicialmente tão frágil, pode vir a ser um poderoso contraponto a essa dominação vigente. Por isso achamos importante o estudo da região em uma perspectiva internacional. Procuraremos, com o avanço dos estudos, formar quadros mais amplos da posição desse continente no sistema internacional. Neste caso nosso foco estará nas pequenas ilhas, excetuando a Austrália e a Nova Zelândia que por se diferenciarem dessas ilhas tanto em termos econômicos, quanto populacionais e militares, não caberia em nosso recorte. Visto, no entanto, o importante papel que as duas nações cumprem na região, seria impensável não levalas em consideração ao pensamos sua relação com as ilhas. Com um quadro mais completo da posição desses países no sistema internacional poderemos investigar as possibilidades de organização regional, construção de contrahegemonia e aproximações com a América Latina. Uma aproximação inicial entre as duas regiões é referente a forte influência americana, atual pólo hegemônico, que se desdobra na ausência de soberania de alguns países e na perda parcial da autonomia de outros mais poderosos. O segundo caso é visível em políticas voltadas para interesses americanos de países maiores e mais desenvolvidos, como o Brasil na América Latina e a Austrália, na Oceania. Já a ausência de soberania se visualiza claramente através dos Estados livre-associados, como Porto Rico na América Latina e Ilhas Marshall na Oceania que estão diretamente sujeitos à política norte-americana. Esperamos com a continuidade deste trabalho encontrar novas aproximações e aprofundálas, para pensarmos a configuração de uma força nacional e internacional mais proeminente entre essas nações no sistema internacional.

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RAONY PALICER REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. UNESP, Rio de Janeiro, 1995 CARR, Edward H. Vinte Anos de Crise: 1919 - 1939. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981. DIAS, Edmundo Fernandes. Política brasileira: embate de projetos hegemônicos. São Paulo, Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2006. FININ, Gerard A. Power Diplomacy at the 2011 Pacific Islands Forum (PIF). Asia Pacific Bulletin, Honolulu, n. 136, p.1-3, nov. 2013. GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Graal Editora, 1978. HEZEL, Francis X. Pacific Island Nations: How Viable Are Their Economies. Pacific Island Policy, Honolulu, n. 7, p.1-33, 2012. LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005. MATHIAS, Meire. Inserção internacional do Brasil contemporâneo: o pêndulo das mudanças. Revista Aurora, América do Norte, 6, dec. 2012. Pp 161-174. Disponível em: . Acesso em: 04 Ago. 2013 SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas Básico. São Paulo: Ática, 2009. VIGEVANI, Tullo. Ciclos longos e cenários contemporâneos da sociedade internacional. Lua Nova [online]. 1999, n.46, pp. 5-53.

OUTRAS REFERÊNCIAS CIA. World Factbook. Disponível em: . Acesso em: 04 ago. 2013. NAÇÕES UNIDAS. International Human Development Indicators. Disponível em: . Acesso em: 03 out. 2013. PIF. Members Countries. Disponível em: . Acesso em: 03 out. 2013. WORLD BANK. World Bank Databank. Disponível em: . Acesso em: 03 out. 2013.

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