Hipermídia: diversidades sígnicas e reconfigurações no ciberespaço | Pedro Nunes

August 19, 2017 | Autor: Pedro Nunes | Categoria: Cibercultura, Ciberespaço, Ciberespacio, Redes Digitais, Sistemas hipermídia, Texto, imagem e som
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Hipermídia: diversidades sígnicas e reconfigurações no ciberespaço1 Pedro NUNES FILHO Universidade Federal da Paraíba

A dinâmica do ciberespaço

I

nicialmente devemos pensar o ciberespaço como um sistema virtual complexo e ramificado de significações produzidas, armazenadas e disponíveis em forma de textos, imagens estáticas – dinâmicas e som. Trata-se de um ambiente imaterial desterritorializado, que opera com diferentes

fluxos de informação dispostos de modo não linear formando uma rede digital com conexões sucessivas. A principal característica desse oceano digital semiótico é atuar em trama com a velocidade. As informações numéricas que compõem este universo elástico também atuam em tempo real, ou seja, há uma instantaneidade nos processos de trocas simbólicas que resultam na permanente construção de novas formas de sociabilidade. O processo de semiose, movimento e desenvolvimentos dos distintos signos de natureza multimídia se efetua com a dinâmica rizomática da instantaneidade, Mídias Digitais & Interatividade

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simultaneidade e não sequencialidade das informações que sempre geram novos signos. Há de se destacar que o desenvolvimento das tecnologias digitais, o processo crescente de miniaturização tecnológica e a criação permanente de softwares avançados e de sistemas inteligentes, permitem o trânsito de diferentes representações que incidem diretamente na dinâmica da cultura. Com base neste escopo conceitual o ciberespaço pode então ser caracterizado como um espaço híbrido de informações sígnicas que se enlaçam de forma recorrente remetendo-nos infinitamente para novas informações, dada a sua natureza pluritextual e sonoro-visual. Esse novo ambiente virtual do saber que transforma o próprio saber agrega formas de cooperação flexíveis que resultam em processos de inteligência coletiva experienciados na rede. No que pese as formulações críticas a Pierre Lévy quanto a sua síndrome de cândido (RÜDIGER, 2007), o autor é considerado um dos teóricos pioneiros a enfatizar a natureza dinâmica desse ambiente virtual de memória: O ciberespaço, dispositivo de comunicação interativo e comunitário, apresentase como um instrumento dessa inteligência coletiva. É assim, por exemplo, que os organismos de formação profissional ou à distância desenvolvem sistemas de aprendizagem cooperativa em rede… Os pesquisadores e estudantes do mundo inteiro trocam idéias, artigos, imagens, experiências ou observações em conferências eletrônicas organizadas de acordo com interesses específicos... O crescimento do ciberespaço não determina automaticamente o desenvolvimento da inteligência coletiva, apenas fornece a essa inteligência um ambiente propício. (LÉVY, 1999:29)

Desse modo, o ciberespaço é concebido como um sistema aberto e contraditório que agrega informações múltiplas descentralizadas montadas com base em diferentes plataformas técnicas que se apresentam com suporte para constituição social de um ambiente propício para a produção e o debate cultural que geram formas crescentes de sociabilidade complexas. 220

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A arquitetura tecnológica do ciberespaço (rede virtual entrelaçada por uma infra-estrutura de multiservidores, cabos ou satélites, bancos de armazenamento e agenciamento de conteúdos) possibilita o diálogo com diferentes mídias e linguagens, formando um amplo tecido fragmentário com partes que se interconectam a partir de escolhas deliberadas pelo usuário e onde a noção de tempo anula a noção de espaço geográfico. Ainda neste contexto, o ciberespaço pode ser dimensionado como metáfora das grandes cidades, com seus fluxos de organizações, redes visíveis e invisíveis, movimentos espontâneos, sinalizações, regras de funcionamento, deslocamentos e leis de convivência coletiva. A cidade em sua diversidade e peculiaridade também possui falhas em seus mecanismos de funcionamento, opera com bloqueios, tiltes, blecautes, engarrafamentos, contravenções e situações inesperadas. A cidade virtual desterritorializada é outro espelho da cidade real e que igualmente abriga tensões simbólicas em graus diversificados. Sua natureza é indiscutivelmente pluricultural, ambígua e contrastante. Nela se compartilham fluxos de informações produzidas e reconstruídas por diferentes cidadãos com práticas culturais distintas, ideologias afins ou em estado de colisão, religiões, línguas diversas, experimentos inovadores do campo da arte, de associações comunitárias, centros de investigação, comércio, lazer, sexo e com piratas virtuais (crackers e hackers) que burlam o sistema de segurança. Isto quer dizer que a cidade virtual fragmentária se edifica a partir de uma identidade coletiva que tem como marca a diversidade cultural, o plurilinguismo, a ordem e a desordem, o local e o universal, o centro e a periferia e, sobretudo, a complexidade. Assim a arquitetura liquida da cidade virtus materializa práticas sociais diversas que reconfiguram o saber tendo em conta que sua temporalidade comporta a simultaneidade. As experiências semióticas dispostas na rede apresentam peculiaridades significantes quanto a natureza das mensagens com suas diferentes estratégias de comunicação. Estão sob um mesmo espaço de confluências sígnicas sem fronteiras. Trata-se, no entanto, de um espaço sob domínio da maleabilidade com respeito à sua estruturação significante que libera do pólo de emissão (LEMOS:2005) e que ainda possibilita o livre trânsito de informações. Evidentemente que quando Mídias Digitais & Interatividade

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tratamos dessa relativa liberdade de informação2 na rede não descartamos a existência de mecanismos de controle político, censura e formas de espionagem na esfera estatal por meio da implantação softwares de filtragem, implantação de sistemas de vigilância rebuscados por parte de oligopólios da área de comunicação voltados para fins econômicos, concorrência entre empresas, roubo de dados, quebras de criptografia e invasão de sistemas de segurança. A Arquiescritura (Derrida) da cidade Kbytes – plasmopédia – pode ser também efêmera, fugaz, metamórfica e labiríntica permitindo ao usuário/participante efetuar percursos diversos, recombinar dados, produzir e modificar ambientes imersivos. André Lemos em Andar, clicar e escrever hipertextos acrescenta o seguinte: O ciberespaço, como meta-cidade (ou mega cidade de bits), é um hipertexto mundial interativo, onde cada um pode adicionar, retirar e modificar partes desse texto vivo escrevendo sua pequena história a essa inteligência coletiva, a esse ‘cibyonte’ em curso de concretização. Nesse sentido ‘navegar’ é escrever com imprecisão. (LEMOS, 2006, on-line).

Hipermídia: reconigurações paradigmáticas O desenvolvimento dos sistemas hipermídia3 tanto em sua estrutura associativa no ciberespaço através de redes interligadas e em memórias paralelas, ainda é recente. Estes sistemas nutrem-se primordialmente dos mecanismos das memórias de acesso aleatório que integram os sistemas digitais conectados através das redes telemáticas e satélites. Os sistemas hipermídia, também denominados inicialmente de hipertextos por George Landow se apresentam como ferramentas de aprendizagem, produção, armazenamento e disponibilização de informações multimídia integrando diferentes tecnologias que absorvem a dinâmica das mídias predecessoras ajustando-se a nova realidade digital com especificidades ainda em delineamento. Destacamos a hibridização como uma característica auxiliar importante no contexto de construção da feição dos sistemas hipermídia. Essa espécie de traço 222

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delineador é de certa forma resultante do processo de convergência das mídias/ tecnologias e, consequentemente, do ordenamento de conteúdos tendo por base linguagens diferenciadas. A hipermídia

além de permitir a mistura de todas as linguagens, textos, imagens, som, mídias e vozes em ambientes multimidiáticos, a digitalização, que está na base da hipermídia, também permite a organização reticular dos fluxos informacionais em arquiteturas hipertextuais… O traço da hipermídia está na sua capacidade de armazenar informação e, por meio da interação do receptor, transmuta-se em incontáveis versões virtuais que vão brotando na medida mesma em que o receptor se coloca em posição de co-autor. Isso só é possível devido à estrutura de caráter hiper, não sequencial, multidimensional que dá suporte as infinitas ações de um leitor imersivo.(SANTAELLA:2004:48-49)

Esse diálogo híbrido caracterizado como uma espécie de traço definidor da hipermídia recupera e atualiza as mídias antecessoras e expande a ação de outros sistemas de representação com características específicas como oralidade, a escrita e o sonoro-visual por meio de suportes como o livro, o jornal, o rádio, a televisão música, fotografia, cinema, vídeo além de incorporar modalidades artísticas pré-técnicas como o desenho, a pintura, o teatro, a literatura etc. Esses translados corporificados em forma de passagem das características significantes de outras modalidades de articulação expressiva ao suporte digital denotam que os sistemas hipermídia se desenvolveram como um espaço de confluências intersemióticas. Dizemos conceitualmente que essa espécie de lugar semiótico que opera com nexos associativos dinâmicos não sequenciais abriga mecanismos que naturalmente instauram o processo de hibridização de linguagens e tecnologias (SANTAELLA:2004). De certa forma esse processo de contaminação em forma de interferência também se efetua num sentido inverso ao constatarmos que as mídias convencionais igualmente dialogam com os traços constitutivos da hipermídia e findam de certa forma por serem influenciadas no modo de construção de suas mensagens tendo em conta também o perfil mais exigente dos receptores. Assim, os distintos sistemas de representação se Mídias Digitais & Interatividade

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revitalizam ou expandem a noção de mídia com a realidade virtual e se somam aos aportes específicos da hipermídia, tais como softwares para a produção, tratamento e auto-edição de texto, imagem e som, transferência de protocolos, sistemas de busca, indexação, teleconferência, bases de dados com interconexões, compressão e transmissão de dados, tradutores automáticos, reconhecimento de voz, agentes inteligentes4, simulações interativas entre outros. Dessa forma os sistemas hipermídia mudam com as dinâmicas e especificidades dos sistemas numéricos (simultaneidade, flexibilidade, velocidade, tempo real, não sequencialidade, interatividade, capacidade de armazenamento, interconexões...) e, consequentemente, redimensionam o seu corpo virtual volátil incorporados a partir dos elementos estruturais característicos dos suportes pré-informáticos de base técnica como os sistemas fotoquímicos (cinema e fotografia), o jornal, a revista, o rádio, os sistemas visuais de base eletrônica como o vídeo e a televisão e os modos de articulação pré técnicos que igualmente envolvem códigos de natureza diversa de natural verbal, visual e sonora. No âmbito da hipermídia algumas mídias, agora expandidas, ganham fôlego diferenciado e outras são re-estruturadas a exemplo do livro eletrônico, da webrádio, da webTV, plataforma IPTV em que o usuário personaliza a sua programação televisual que é enviada desde um satélite ou banco de dados com armazenamento criptografados em “nós locais”, as revistas eletrônicas, bibliotecas virtuais, e, inclusive, desenvolvimento de páginas dinâmicas com design orgânico que outorgam ao usuário a possibilidade de movimentar-se através dos enlaces, mapas, diagramas, animações virtuais, comentários, buscas temáticas, estocar informações e

compartilhar

conteúdos na própria rede. No ambiente hipermídia por meio dos percursos pré-formatados sob forma de circularidade, o usuário pode desenvolver situações paratáticas realizando múltiplos caminhos e ao mesmo tempo trabalhar como janelas, consultas on-line enquanto desenvolve atividades off-line. Esse ambiente com suas formas de ordenamento complexo se auto-regula meio a uma aparente desordem oceânica onde diferentes usuários identificados, fakes, crakers, nômades ou tribos diversas trafegam produzindo 224

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as suas marcas e os índices simultâneos, compartilhados ou transmutados por outros usuários moventes. Neste sentido, todo ambiente hipermídia, desde a sua estruturação ao acesso interativo compartilhado, pode ser plenamente compreendido como um modelo semiótico de representações fluídas cujas interfaces com os usuários, geram novas referências. De certa forma, esse ambiente imita a capacidade cerebral de atuar por livre associação, paralelismos e analogias (NUNES: 2008). A hipermídia se estrutura como uma rede semântica de informações que nos permite uma compreensão multidisciplinar por sua natureza, sua capacidade plurisígnica, sua estrutura labiríntica, a participação imersiva do usuário e a leitura sinestésica que mobiliza os sentidos. Núria Vouillamoz define hipermídia como un sistema abierto sin limites ni márgenes, desde el momento que permite navegar de um modo a outro em uma estructura infinita que nos reconoce principio ni fin: como esquema conceptual, es plurisignificativo en tanto que ofrece múltiples recorridos, multiples accesos y lecturas, de manera que es posible reconecer uma cierta analogia entre el modelo hipertextual desarrollado por la informática y el polisemantismo del texto reclamado desde el campo de la literatura. (VOUILLAMOZ, 2000:74).

Num nível simbólico, os sistemas hipermídia apresentam algumas características provenientes do texto poético, sobretudo em sua estruturação fragmentária bifurcada que gera múltiplas possibilidades de percursos ao usuário e, também, pela polifonia de vozes que ecoam no ambiente labiríntico. No entanto há de se destacar que a estruturação não sequencial e a presença de várias matizes semióticas (texto, imagem e som) não significam, por si só, que a mensagem ou a cultura produzida no ambiente seja poética. Os autores do texto poético/arte eletrônica possuem a consciência da linguagem em sua complexidade, do manejo das diferentes textualidades e, sobretudo, são conscientes da forma de ordenação do significante. A natureza de uma mensagem poética há de pensar-se para um sistema de representação e recepção ou acesso específico. Muitas vezes a Mídias Digitais & Interatividade

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sua articulação significante reflete a própria linguagem ou mesmo a sua organização significante permite múltiplas leituras do mesmo objeto. Em síntese, um texto criativo produzido no ambiente hipermídia tem que ter em conta alguns elementos: a natureza desse novo ambiente, sua abertura conceitual não somente com relação aos percursos, o diálogo intertextual, a conotação que gera novos signos, a sincronização dos sentidos e a participação do usuário. Isto significa converter o texto a imagem e o som em uma escritura polifônica5 embasada no arranjo composicional dos signos. Arlindo Machado baseado em Rosentiehl utiliza o termo labirinto como metáfora para a hipermídia e destaca três características: convite à exploração , exploração sem mapa e à vista desarmada e inteligência astuciosa (MACHADO:1997: 149-151). Esses traços associados a hipermídia muitas vezes se interpenetram visto que um usuário desatento em uma exploração específica pode transformar o seu percurso afinando a sua percepção para trajetórias específicas. No entanto, percebemos que muitas produções e experiências hipermidiáticas disponíveis ou vivenciadas no ciberespaço ainda não assimilaram as especificidades simbólicas inerentes ao ambiente descontínuo e imaterial. São propostas lineares em sua forma de apresentação não passam de meras transposições lineares no ciberespaço. Em maior ou em menor grau essas produções são importantes, mas não apresentam os traços de inovação necessária quanto ao aspecto formal, os modos de combinação e produção de conteúdo que demandam os sistemas hipermídia. Muitas dessas possibilidades já estão previamente configuradas em diferentes softwares e sequer são exploradas. Por outro lado, apesar da juventude dos sistemas hipermídia, também percebemos a existência de propostas criativas avançadas que exploram mais radicalmente o potencial inerente das estruturas rizomáticas, os jogos de navegação previamente pensados, as articulações orgânicas entre o verbal, o visual, o sonoro, o estático, o dinâmico e o silêncio. Refletem como já dissemos o movimento do conhecimento com projeção na cultura. Trata-se de experiências compartilhadas em centros de

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investigação multidisciplinares, coletivos grupos da iniciativa privada, universidades e projetos que enlaçam arte, ciência e tecnologia. Nessa perspectiva de análise Arlindo Machado na apresentação em O Labirinto da Hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço advoga o seguinte: Passados os primeiros momentos de euforia com a descoberta das possibilidades das novas máquinas, passado o deslumbre diante da pura novidade técnica da interatividade, é chegada a hora da verdade, quando artistas, criadores, críticos e investigadores em geral (não apenas técnicos de laboratório) deverão propor formas mais orgânicas e novas estruturas normativas mais adequadas às arquiteturas permutativas. (LEÃO, 1997:162).

Nesse sentido há que se destacar que os sistemas hipermídias requerem uma dimensão estética própria, sobretudo quanto ao aspecto da interatividade, estimulação sincronizada, simulação dinâmica entre outros. Possuem especificidades de linguagem que também resultam da mescla de outras linguagens. Trata-se de especificidades em construção, visto que no processo de delineamento dessa ‘nova mídia’ há contaminações provenientes de outras mídias e, sobretudo, por que a hipermídia funciona como espaço de convergência dos diversos meios existentes na atualidade com o papel relevante do usuário na construção de suas próprias narrativas, por vezes, voláteis. Lúcia Santaella em Hipermídia: a trama estética da textura conceitual ressalta a multidimensionalidade da hipermídia destacando o papel do usuário. Além de permitir a mistura de todas as linguagens, textos, imagens, som, mídias e vozes em ambientes multimidiáticos, a digitalização que está na base da hipermídia, também permite a organização reticular dos fluxos informacionais em arquiteturas hipertextuais... o poder definidor da hipermídia está na sua capacidade de armazenar informações, e através da interação do receptor, transmuta-se em incontáveis versões virtuais que vão brotando na medida mesma em que o receptor se coloca em posição de co-autor. Isso só é possível devido à estrutura de caráter hiper, não sequencial, multidimensional

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que dá suporte as infinitas ações de um leitor imersivo. (BAIRON; PETRY, 2000:8-9).

Notamos que os sistemas hipermídias pensados como uma espécie de rede contextual formada por fragmentos de informações diversificadas com textos, construções tridimensionais, animações, enlaces, mapas de navegação e áudio, estabelecem uma ruptura com a noção narrativa de principio, meio e fim, rompem ainda mais com o conceito de autor, valorizando a autoria compartilhada. Mas também é necessário destacar que há textos somente para leituras, visto que “no todos los sitemas de hipertexto actuales incluen la democratizante y crucial caracteristica de permitir al lector contribuir al texto”. (LANDOW, 1997:32). A tendência nesse novo regime de informação multilinear é que o usuário/leitor, também co-autor, experimente percursos próprios, associe livremente informações do seu interesse e salte de um ambiente virtual para outro a partir de suas escolhas e das possibilidades programadas. Biron e Petry endossam que na estrutura hipermidiática: O leitor é destronado de seu exclusivo recurso de leitura e assume a missão de criador de rotas e picadas, os atalhos sobre os comandos de ‘buscar’ etc. são visivelmente poderosos e o leitor pode se aproximar de um escritor. O atalho pode está numa cor, numa forma, num som etc. (BAIRON; PETRY, 2000:54).

Particularmente, o texto, a imagem e o som em ambientes hipermídia são reconfigurados, pois se materializam em estado potencial. Essa fluidez significante dos sistemas hipermídia apresentada como forma favorável de organizar, armazenar, editar e construir conhecimentos que expandem a capacidade humana ao serem dispostos e compartilhados de diferentes processos abertos como redes de relacionamento, net arte, web arte, simulações interativas, videojogos, wikis, youtube, flickr, second life, orkut, videoconferência, blogs, moblogs, vlogs, sistemas de busca e indexação entre outros.

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De certa forma, os sistemas hipermídias e o ciberespaço nos convidam para reflexões mais centradas em suas complexidades mutantes e a produção de sociabilidades mediadas.

Considerações Finais Percebemos que o ciberespaço tem sido considerado por alguns autores mais céticos como uma espécie de esgoto público mundial constatando-se o crescimento do ciber sexo, do comércio eletrônico e a própria a existência de mecanismos de controle. Há de se extrair as reais potencialidades dos sistemas hipermídia interligados ao ciberespaço como ferramentas de interação e que processualmente interferem nos distintos campos do conhecimento que contaminam as práticas culturais em suas singularidades e pluralidades contextuais. Se por um lado caracterizamos, ao longo deste artigo, o ciberespaço enquanto um espaço virtual fluído e dinâmico agregado aos sistemas hipermídia por outro, destacamos que essa nova lógica digital opera com a liberação da produção, aumentos das formas de cooperação, a disponibilização e o tráfego intenso de diferentes ordens sígnicas multimídia. Essa teia virtual nomeada como ciber-cultura-remix (LEMOS:2005) está amparada em uma infra-estrutura tecnológica e econômica que necessita ser redimensionada não somente quanto a sua dimensão técnica, tecnológica e política, mas sim, ser ainda radicalmente transformada no que se refere ao papel direto dos usuários e desenvolvedores de conteúdos. Isso implica em afirmar que o potencial emancipatório presente em raras propostas na rede deve ser perseguido com muito mais força criativa. Há de observar no presente as tendências futuras por meio de mobilização de saberes transdisciplinares para o desenvolvimento de projetos colaborativos, diferenciais, interativos e, até mesmo, observar com maior acuidade as experiências de natureza transitória que pipocam na rede. Há de se ter sempre em conta que esses processos de significação enlaçados como partes integrantes desse contexto estão carregados de ambiguidades e contradições, Mídias Digitais & Interatividade

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mobilizam diferentes códigos entrecruzados com a emergência de novos formatos midiáticos que adquirem especificidades semióticas inerentes ao próprio locus digital. Essas experiências reconfiguram a dimensão comunicacional integrante do cenário mutante da sociedade contemporânea marcada por paradoxos e formas de exclusão. Faz-se necessário reconstruir criativamente o ambiente da hipermídia com novas formas de comunicação muito mais orgânicas e sincrônicas por se tratar de um espaço dinâmico onde a dimensão tecnológica sempre se transforma e interage com a dimensão cultural e englobam a dimensão social e coletiva da rede. De certa forma, os sistemas hipermídia e o ciberespaço nos convidam para reflexões mais centradas em suas complexidades mutantes e produções cada vez mais descentralizadas.

Notas 1

Artigo inicialmente publicado na revista eletrônica Fórum Media – Portugal. Foi revisto e atualizado para publicação em versão impressa para o presente livro: Mídias Digitais & Interatividade.

2

Esse potencial concreto de abertura da rede, o aumento sistemático de usuários e o processo de trocas de informações em tempo real tem desencadeado mecanismos de controle e espionagem da informação em países como a China, Irã, Arábia Saudita, Cazaquistão, Geórgia entre outros. A China através de seu Escritório de Gestão da Informação pela internet criou uma rede de vigilância virtual que mobiliza diretamente técnicos do governo e softwares de filtragem para remoção de conteúdos indesejáveis, veto a blogs, bloqueio ao acesso aos periódicos como The New York Times e Ming Pao News e a proibição da circulação de artigos. Outro exemplo desse mecanismo de espionagem é o ECHELON desenvolvido pela National Security Agency (NSA) dos Estados Unidos em consórcio com vários países europeus. O ECHELON pode interceptar diferentes informações por satélite, fibra ótica ou microondas de qualquer parte do planeta. As mensagens interceptadas podem ser gravadas, meticulosamente examinadas, traduzidas, transcritas e enviadas ao centro de espionagem em tempo real.

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O prefixo hiper significa acima, posição superior ou mais além. O termo hiper foi utilizado na física por Einstein para descrever um novo tipo de espaço na teoria da relatividade, o hiperespaço: espaço visto de outro modo.

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Os autores Luis Bugay e Vânia Ulbricht no livro Hipermídia definem agentes inteligentes como “uma entidade computacional que excuta tarefas delegadas pelo usuário autonomamente. As origens das tecnologias de agentes inteligentes são embasadas na inteligência computacional, engenharia de software e domínios da interface humana”. Segundo os mesmos autores, os atributos dos agentes inteligentes são os seguintes: delegação, habilidade de comunicação, autonomia monitoramento, atuação e inteligência. P 114-115

5

Termo inicialmente empregado por Mikail Baktin. Também adotado por Sergei Eisenstein referindo-se a um tipo de montagem cinematográfica que valoriza os elementos significantes da obra fílmica em forma de composição (montagem polifônica). A escritura polifônica nos sistemas hipermídia deve ser entendida como a articulação sonoro-visual de textos verbais, não verbais, movimento e áudio.

Referências BUGAY, Edson Luis, ULBRICHT, Vânia Ribas. Hipermídia. Florianópolis: Bookstore, 2000. BAIRON, Sérgio, PETRY, Luís. Hipermídia: psicanálise e história da cultura. São Paulo: Ed. Mackenzie, 2000. LEÃO, Lúcia. O labirinto da Hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo: Iluminuras, 1999. LANDOW, George P.(Comp.) Teoría del hipertexto. Barcelona: Paidós, 1997. LANDOW, George P. Hipertexto. Barcelona: Paidós, 1995. LEMOS, André. Ciber-Cultura-Remix. In Cinético Digital. São Paulo: Itaú Cultural, 2005. _________. Andar, clicar e escrever hipertextos. Disponível em: Acesso em: 20.12.2008. LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 2000. _________. Cibercultura. Rio de Janeiro: Ed.34, 1999.

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MACHADO, Arlindo. Hipermídia: o labirinto como metáfora. In Diana Domingues (Org.) A arte no século XXI. São Paulo: Ed. UNESP, 1997. NUNES, Pedro. Processos de significação: hipermídia, ciberespaço e publicações digitais. Revista Fórum Media. Disponível em: Acesso em 28.01.2009. _________. A memória fractalizada. In Revista Ágora N.2 . Disponível em: Acesso em 20.05.2008. RÜDIGER, Francisco. Introdução às teorias da cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2007. SANTAELLA, Lúcia . Navegar no ciberespaço. São Paulo: Paulus, 2004. _________. Cultura e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2004.

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Rádio Digital: desaios presentes e futuros ...........................185 Elton Bruno Barbosa PINHEIRO Pedro NUNES FILHO

Interatividades na mídia ...............................................................203 Matheus José Pessoa de ANDRADE

Hipermídia: diversidades sígnicas e reconigurações no ciberespaço ...................................................................................... 219 Pedro NUNES FILHO

A cibernotícia como reconiguração da atividade jornalística no ciberespaço ..........................................................233

Sumário

Rodrigo Rios BATISTA

Educação Mediada por Interface: A mensagem pedagógica da hipermídia....................................................................................255 Rossana GAIA Nasson Paulo Sales NEVES

Mídias digitais: acessibilidade na web e os desaios para a inclusão informacional ..................................................................275 Joana Belarmino de SOUSA

YouTube: artes, invenções e paródias da vida cotidiana. Um estudo de hipermídia, cultura audiovisual e tecnológica ........................................................................................285 Cláudio Cardoso de PAIVA

Espaços públicos de inclusão digital: comunicação, políticas e interações .......................................................................................305 Juciano de Sousa LACERDA

Em busca do tempo perdido: Espaço e progressão dramática em Fahrenheit .............................................................323 Mauricio PELLEGRINETTI

O potencial narrativo dos videogames ...................................341 João MASSAROLO

Artemídia e interatividade na constituição do bios midiático: um estudo sobre as relações entre comunicação e estética.............................................................................................369 Maurício LIESEN

Sobre os Autores..............................................................................391

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