Hipertextual Navigation in context / Navegação Hipertextual em Contexto

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Capítulo

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Navegação Hipertextual em Contexto Gercina Ângela de Lima

1.1 INTRODUÇÃO A mudança do texto impresso para o texto eletrônico criou uma grande mudança na maneira como é armazenada e acessada a informação. A possibilidade de explorar o texto de maneira interativa introduziu o conhecimento por simulação. O hipertexto, fruto da tecnologia informacional das últimas décadas, não deve ser considerado como um gênero, mas sim como um modo de produção textual, que pode abrigar todos os gêneros, disponibilizando-os de forma não linear. A ideia básica do hipertexto de organizar documentos em trechos, e combiná-los conforme as necessidades de compreensão e organização da memória dos usuários, faz com que o texto eletrônico acelere o tempo e concatene contextos, encadeando e justapondo diferentes unidades de informação e documentos, compartilhando o mesmo espaço de produção e, às vezes, alterando sua compreensão.

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O sistema Memex foi vislumbrado por Vannevar Bush, em 1945, e registrado em seu artigo “As we may think”, no qual o autor previu um sistema de organização de informações, que tinha como objetivo o estabelecimento de associações entre diferentes fragmentos de textos ligados entre si ou com outros documentos, permitindo a leitura não sequencial, mais adequada à flexibilidade do raciocínio humano. Posteriormente, na década de 1960, Theodore Nelson criou o termo hipertexto, definindo como uma “combinação de textos em linguagem natural com a capacidade do computador de fazer pesquisa interativa e exibição dinâmica de um texto não linear, criando um sistema que foi chamado de Xanadu” (CONKLIN, 1987, p. 17). Mas foi Douglas Elgebart, do Instituto de Pesquisa Stanford, EUA, que concretizou a ideia de Nelson, quando implementou um sistema hipertextual como um instrumento representacional que permitia ao usuário interação simultânea, que ficou conhecido como a primeira implementação como hipertexto, estruturado por uma rede de links e blocos de informação interligados, que foi chamado de sistema On-Line Systems (OLS). Mas foi com a criação da WWW (World Wide Web) na década de 1990, por Berners Lee que possibilitou uma maior divulgação e utilização dos documentos hipertextuais, os quais puderam ser compartilhados universalmente, permitindo que as ideias de seus precursores se tornassem realidade. Hoje, o hipertexto permite ir muito além do formato uniforme de uma página. Os escritos informatizados variam e se adaptam de acordo com o leitor. As imagens simuladas na tela do computador funcionam como uma extensão da imaginação. Segundo Marques (1995), os sistemas de hipertexto consistem em abordagens de estruturação e manipulação de textos, caracterizadas pela não linearidade textual. A divisão padronizada das publicações na linguagem tradicional em capítulos, seções e parágrafos continua sendo o ponto de partida para a estruturação das partes do hipertexto. Entretanto, apenas essa divisão tradicional do texto não atende o leitor, mesmo que forneça todos os pontos de acesso temáticos do documento ou o conjunto de documentos. A necessidade de criação de índices remissivos, complementando os sumários, atesta essa limitação. Assim, o hipertexto surge como solução que permite flexibilidade de movimento de um ponto a outro no mesmo documento, ou de um ponto a outro em diferentes documentos. Seu modelo informacional é o da rede estruturada em conjuntos de nós, e links entre os nós. O hipertexto é constituído destes dois componentes básicos: os nós (blocos textuais) e o link (conexões/ligações), que permitem a estruturação e a ligação entre os blocos textuais, tanto

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no momento de sua modelagem quanto no ato da leitura, através de caminhos previstos para navegação.

1.2  Hipertexto: definição e conversão Encontram-se na literatura várias definições de hipertexto. Pode-se dizer que a definição de hipertexto vem sofrendo algumas mudanças, à medida que o hipertexto passou a ser estudado por outras áreas do conhecimento, como a Linguística, a Filosofia, a Pedagogia, a Literatura e as Ciências Cognitivas. Com isso, novas características foram sendo elucidadas através de diferentes perspectivas e pontos de vistas. Porém a ideia básica da característica de organização associativa da informação, através de blocos de informações, chamados “nós”, que são conectados através de links, permanece em todas as definições. A presença desses links, que permitem estas ligações, criando uma rede interativa, é considerada por todos os teóricos em hipertexto a principal característica que o diferencia do texto impresso. Além disso, alguns autores consideram o hipertexto como um formato textual que é representado por uma rede de relações através das ligações entre os blocos, e outros entendem o hipertexto como uma possibilidade de produção de conhecimento textual, tendo como base os aspectos de enunciação e aspectos cognitivos; e ainda existem aqueles que o veem somente como um artefato computacional dentro das novas tecnologias. Apresentam-se, a seguir, algumas definições que ilustram essas diferentes perspectivas. A primeira definição do termo hipertexto foi feita por Theodor Nelson (1965), que criou o termo hipertexto, definindo-o como “uma combinação de texto em linguagem natural com a capacidade do computador de fazer pesquisa interativa e exibição dinâmica de um texto não linear” (CONKLIN, 1987, p. 17). Posteriormente, uma das definições mais citadas na literatura é a de CONKLIN (1987), o qual define hipertexto como: 





Janelas na tela [que] são associadas a objetos na base de dados e ligações [que] são estabelecidas entre esses objetos, tanto graficamente, na forma de marcas rotuladas, como na base de dados, na forma de ponteiros (CONKLIN, 1987, p. 17). 

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A partir desta, as definições de hipertexto vão ganhando novos elementos, dependendo do ponto de vista em que ele foi sendo estudado. Segundo Fiderio (1988), “o hipertexto imita a capacidade do cérebro em armazenar e recuperar informações através de ligações referenciais para um acesso rápido e intuitivo [...]”. Carlson (1991) completa, afirmando que: 





Os aspectos virtuais do hipertexto imitam o cérebro humano particularmente na qualidade associativa da memória. Como uma ferramenta, o hipertexto não molda somente a realidade externa, mas o interior da mente, proporcionando novas maneiras de “ver” e “sentir” o ambiente de informação. 





A definição de texto virtual de Bolter (1991) remete aos textos impressos, em relação a sua estrutura hierarquicamente organizacional de informações: 





[...] texto é um contínuo de parágrafos, dispostos na tela do computador para o leitor ler através de um caminho tradicional. Algumas palavras estão marcadas em negrito; estilo que indica que há uma observação para aquela palavra ou frase, [...] uma segunda janela pode também conter frases em negrito que podem levar o leitor para outros parágrafos. [...] O processo pode continuar indefinidamente [...] formando uma rede que é chamada de hipertexto (p. 15). 





Já a definição de Lévy (1996, p. 44) traz uma das principais características do hipertexto, a não linearidade, quando define hipertexto “como uma coleção de informações multimodais dispostas em rede para a navegação rápida e ‘intuitiva’”. Coscarelli (1999, p. 17) define hipertexto como “sistemas que gerenciam informações armazenadas em uma rede hierárquica de nós, conectados através de ligações”. Para Xavier (2002, p. 26), os hipertextos são “apenas os dispositivos ‘textuais’ digitais, multimodais e semiolinguísticos (dotados de elementos verbais, imagéticos e sonoros) que estejam disponíveis on-line, in-

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terligados entre si e que possuam um domínio URL, ou endereço eletrônico, na World Wide Web”. Nesse caso, para o autor, o hipertexto é mais que uma estrutura, pois ressalta que o que o caracteriza não é seu formato de organizar informações, mas sua capacidade de condensação de textos, e constituir uma grande rede de referências cruzadas. Com o objetivo de comparar a forma da escrita hipertextual com a unidade textual do material impresso, Le Coadic faz a seguinte comparação (1996, p. 59): 





Em que um documento hipertexto difere de um documento convencional de papel? Num documento de papel, seja um artigo ou romance, as estruturas físicas e lógicas estão muito próximas. Fisicamente, o documento é uma longa sequência linear de palavras que, por razões de ordem prática, foi dividida em linhas e páginas. A estrutura lógica do documento também é linear: combinam-se as palavras para formar frases, as frases, parágrafos, os parágrafos, capítulos, etc. Se o documento apresentar uma estrutura lógica hierarquizada, como acontece com muitos documentos científicos, esta hierarquia será reproduzida de forma linear: resumo, introdução, primeiro parágrafo, segunda parte, e assim por diante até a conclusão. 





A passagem de documentos originais para a forma hipertextual é um campo em plena fase de descoberta, como novo gênero literário nascido de curto tempo de gestação. No entanto, com o êxito da Internet, ele tem se tornado forma de expressão cada vez mais explorada e necessária. A conversão de textos originalmente destinados ao suporte impresso para o meio eletrônico envolve uma série de procedimentos, que incluem avaliação do potencial de documentos a serem convertidos, se beneficiarão os leitores, avaliações dessas informações, transformações dessas informações em formatos eletrônicos, identificação e estruturação dos tipos de nós e links com vistas à determinação do conteúdo semântico, construção da estrutura navegacional de acordo com Balasubramanian (1993), que baseou seus estudos nos trabalhos de Glushko (1989) e Riner (1991).

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A estrutura do documento pode ser vista como o modelo de organização das relações e conexões entre seus módulos. Em primeiro lugar, devem-se analisar os conteúdos do documento e definir uma organização interna adequada. Pararelamente, há que se considerar o ponto de vista e as necessidades do usuário em relação ao assunto documentado, antecipando-se ao mapeamento da informação, de modo que os usuários a reconheçam na estrutura e saibam se situar nela. Um documento impresso bem organizado geralmente apresenta suas informações em grupos semânticos, configurando uma clara estrutura hierárquica: sumário, capítulos, seções, subseções, parágrafos, sentenças e índices. Existe uma progressão lógica no documento tradicional, mesmo que o leitor não a perceba conscientemente. Essa característica deve ser mantida no formato hipertextual, embora a ordem de consulta possa ser variada. Além disso, se os leitores de documentos tradicionais têm que passar páginas, o leitor de documentos on-line tem que ler o documento através de um monitor, obrigando ao leitor rolar a página se a informação estiver fora do campo visual. Porém os sistemas de hipertexto traduzem uma abordagem de estruturação e manipulação de textos caracterizada pela não linearidade, que pode causar a fragmentação textual, cujas consequências podem materializar-se em dois problemas clássicos relacionados aos aspectos cognitivos no hipertexto: a desorientação do usuário e o transbordamento cognitivo, que resulta de navegação ineficiente, causando ineficácia de desempenho do referido hipertexto. Conklin (1987) considera esses dois problemas como intrínsecos ao hipertexto. Portanto, para o usuário construir um modelo mental com rapidez e clareza, são necessários mecanismos de design que suportem o processo de formação do modelo mental, no qual deve avaliar a importância da coerência na construção textual do hipertexto; o cuidado de se prover boa orientação e navegação; e um design da interface que evite esse transbordamento cognitivo na construção mental do leitor, e que contorne os problemas de desorientação. Segundo Heinonen (1998), a fragmentação é um problema de escolha dos limites dos parágrafos que podem representar melhor o conteúdo semântico fragmentado. Esses fragmentos, ou seções, são conectados através de links. Assim, quanto mais links existirem em um hiperdocumento, mais fragmentado ele será. Glushko (1989) aponta outras dificuldades que podem surgir na conversão de documentos devido à fragmentação. Por um lado, a grande quantidade de informação a ser tratada pode ser um empecilho à exequibilidade desse processo. Por outro, o desafio está na identificação das unidades de texto que pos-

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sam constituir módulos separados e também servir de referências cruzadas para outras entradas, definindo seu nível de granularidade.1 Finalmente, a natureza estilística do texto pode impor dificuldades à fragmentação, pois a explicitação de estruturas implícitas pode diminuir ou eliminar a força expressiva do texto original. Nesses casos, o autor do hipertexto se depara com o dilema de reduzir a fragmentação a um mínimo que preserve as ideias e o estilo do autor do texto linear, mantendo, ao mesmo tempo, uma manipulação semântica viável. A fragmentação ainda é problemática na identificação de nós e links em hipertextos devido ao desafio de coadunar, ao mesmo tempo, a identificação de unidades de informação que podem ser separadas em módulos e sua utilização com referências cruzadas para outras entradas. Os links devem seguir algum modelo para atender às necessidades dos usuários em um determinado contexto. Decidir sobre o nível de granularidade é um problema difícil, na medida em que a melhoria da especificidade possa ser diretamente proporcional ao problema da fragmentação. A fragmentação tende a criar estruturas implícitas entre as partes do documento, podendo gerar um tratamento errôneo do tema. Por isso, é importante achar meios de reduzir a fragmentação das ideias e a perda da estrutura informacional, devido à manipulação da estrutura semântica do documento linear. Através dos links, torna-se possível combinar as estruturas lineares e hierárquicas da informação. Os links permitem fazer conexões entre seções de diferentes níveis ou páginas na hierarquia do texto. A criação de links é a tarefa mais importante na conversão do texto linear para o hipertexto. Através deles, torna-se possível combinar a estrutura linear e a estrutura hierárquica da informação, fazendo conexões entre seções de diferentes níveis ou páginas na hierarquia do texto. Dessa forma, o hipertexto é uma forma de estruturação textual que permite ao leitor ser uma espécie de coautor do texto, oferecendo-lhe a possibilidade de opções entre caminhos diversificados, de modo a permitir diferentes níveis de desenvolvimento e aprofundamento do tema. Essa variabilidade do grau de aprofundamento é notável em textos acadêmicos, a exemplo da tese de doutorado. Povoada de referências, citações, notas de rodapé, quadros, tabelas, exemplos, etc., sua concentração de estímulos convoca o leitor a pensar sobre outros textos, consultá-los e, mesmo, suspender sua leitura, em um processo de alteração de curso para obter outras informações ou fazer anotações. Como

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o hipertexto oferece uma multiplicidade de caminhos a seguir, compete ao leitor decidir qual fluxo de informações será incorporado em sua trajetória de leitura (LIMA, 2004). Nota-se, na literatura, que os teóricos em hipertexto têm dado maior ênfase ao hipertexto como forma de leitura, interessando-se menos pelas suas características de ferramenta de auxílio ao autor e ao texto. No presente estudo, interessa mais este segundo aspecto: os detalhes que permitem criar um texto dinâmico, estruturado semanticamente com uma navegação coerente, com o intuito de solucionar os problemas relacionados aos aspectos cognitivos através da proposta de um hiperdocumento que seja criado dentro de um contexto específico que atenda às necessidades de uma determinada comunidade.

1.3  NAVEGAÇÃO HIPERTEXTUAL EM CONTEXTO Segundo LIMA (2004), o autor (ou designer) do hipertexto é responsável por organizar o espaço das funções cognitivas: coleta as informações, armazena-as na memória, avalia, prevê, decide e concebe o espaço virtual. Pode-se dizer, então, que a interface é uma forma de representação do modelo organizacional da informação, como uma forma de visualização do conteúdo modelado e o meio que permite o acesso a esse mesmo conteúdo. Os aplicativos dos hipertextos são projetados para efetuar a navegação através de um espaço de informações. Para isso, o projeto de navegação de tais aplicativos é uma etapa crucial no seu desenvolvimento. A navegação é uma metáfora utilizada para descrever como os usuários se movimentam por documentos hipertextuais, desenhando um percurso em uma rede que pode ser simples, mas também tão complicada quanto possível. Isso porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede interativa. Assim, navegar está relacionado com as mudanças de foco ou movimentação em relação ao conhecimento disponível no hiperdocumento, por meio da utilização de características abstratas, estruturas ou outras ferramentas para orientação geral (WOODHEAD, 1990). A estrutura navegacional é construída sobre nós e links (ou elos). Como já foi descrito, os nós contêm as informações básicas nas aplicações hipertextuais e sua estrutura depende do conteúdo semântico que representa os interesses particulares dos usuários aos quais a aplicação se destina. Os nós podem ser acedidos em diferentes contextos e seus atributos e links podem mudar de um contexto para outro. A realização navegacional das relações ocorre através dos links.

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Navegação é conceituada por direcionamento das mudanças de foco ou movimentação em relação ao conhecimento disponível na base de dados por meio da utilização de características abstratas, estruturas ou outras ferramentas para orientação geral (WOODHEAD, 1990). Navegar na Internet é o ato de passear pela web, movendo-se de um documento (nó de origem) para outro (nó de destino), seguindo os links (ligações), que sinaliza uma unidade de informação que consta em um documento hipertextual, o qual leva e/ou liga a outro documento ou a outro recurso. Amorim (2002, p. 1) esclarece que: 





A navegação nos sistemas de hipermídia ocorre principalmente por busca (search) ou por “folheio” (browse) dos documentos. A navegação nesses sistemas possui mais uma dimensão: a linear, usada para o movimento dentro de um nó, e a não linear, usada para os “saltos do hipertexto”. Esses sistemas devem ajudar os usuários a entender e localizar suas posições correntes, facilitando a navegação pelo hiperespaço. Diversos tipos de interface podem ser usadas para ajudar o processo de navegação, como visão hierárquica, roteiros guiados, mapas e trilhas, além de outras ferramentas, como anotações, referências globais, palavras-chaves e marcadores.  Navegar, surfar, corresponde a “folhear”, visualizar, ler diversos documentos e informações. O leitor segue de um para o outro através de links. 





Snyder (1997) aponta que a navegação e a orientação são consideradas atividades problemáticas tanto no momento da construção quanto no momento da navegação hipertextual. Para obter uma estrutura conceitual e possibilitar sua navegação ao mesmo tempo flexível, coerente e objetiva, é necessário estudar previamente o domínio do conhecimento a ser representado, para que se possa desenvolver uma modelagem semântica, preservando o conteúdo, mesmo diante da fragmentação textual inerente ao hipertexto. Novais (2012) afirma que a organização dos conteúdos oriundos dessas rupturas textuais sem perda semântica só pode ser alcançada quando os domínios e o reconhecimento de unidades sintática e semântica atuam de forma integrada, estabilizada e coerente. A autora acrescenta, ainda, que a construção do sentido na navega-

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ção hipertextual depende do reconhecimento por parte do leitor dessa rede de relações entre esses elementos, a sua função em determinado contexto, a sua disponibilidade dentro daquela estrutura, reconhecendo um todo articulado e com sentido dentro do documento hipertextual. Para que os leitores encontrem as informações específicas que estão procurando, pode ser estrategicamente necessário reduzir as possibilidades de navegação, tendo como foco as necessidades dos usuários e não seus interesses. Para melhorar os aspectos da leitura em hipertextos não é suficiente concentrar-se somente nos aspectos técnicos da navegação. Portanto, a criação de um modelo conceitual que expressa informações semânticas representando associações entre conceitos dentro de uma área específica, ou de um documento específico, e que considere a necessidade do usuário dentro desse domínio específico, pode ser a principal solução para esse problema. Diferentemente do texto convencional, o hipertexto não impõe ao leitor uma sequência hierárquica de partes e seções a serem obrigatoriamente seguidas. Os caminhos sugeridos não são tão independentes conforme é imaginado pelo leitor. Cabe ao autor (ou designer) do hipertexto decidir quais caminhos criar por meio de disponibilização dos links para outros nós de informação; portanto, essa liberdade pode ser considerada ilusória, pois é o produtor que faz a modelagem da rede informacional que permite ao leitor ter acesso ao conteúdo apontado pelo link. Por isso, a importância do planejamento conceitual do domínio a ser representado, pois o uso inadequado dos links pode dificultar o entendimento do leitor, fazendo até, em alguns casos, com que eles abandonem a navegação, já que a ideia é que o leitor navegue no mesmo fluxo do pensamento. Sem uma estrutura eficiente para representar o domínio do conhecimento dentro do contexto conhecido pelo usuário, os problemas cognitivos e de entendimento surgem como um problema crucial no hipertexto. A informação representada dentro do contexto daquele conhecimento específico pode ser uma solução para esse problema. Nesse caso, a modelagem hipertextual deverá ser feita com o foco nas necessidades do usuário. Portanto, o planejamento de uma estrutura navegacional que, inicialmente, reconhece as necessidades informacionais dos usuários de um sistema hipertextual, antes de realizar a modelagem conceitual para que ela possa ser adequada ao contexto específico do domínio do conhecimento a ser representado, poderá resultar em uma navegação mais direcionada e específica, porém poderá melhorar, assim, o nível de compreensão dos usuários e suas habilidades em encontrar a unidade de informação relevante no documento. Herrs-

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trom e Massey (1989) afirmam que para conseguir atingir esses objetivos a modelagem hipertextual deve levar em consideração dois pontos de vistas: a acessibilidade e a relevância. A informação é acessível, se os usuários puderem encontrá-la, tanto quando eles sabem o que estão procurando ou mesmo quando não. A informação é relevante quando o módulo de informações encontrado for adequado, compreensível e útil para o usuário. A chave para a acessibilidade e relevância para um grupo de usuários específico é ter uma estrutura cuidadosamente projetada, a qual permite aos seus usuários navegarem de forma eficiente, em caminhos claramente mapeados, através dos links determinados, e acessar os nós de informação, de acordo com as suas necessidades. Lima (2015) aponta que existe uma carência de modelos teóricos para a elaboração e modelagem conceitual para hipertextos, com o foco nas necessidades do usuário, que dê conta de uma estrutura navegacional eficaz. A maioria dos modelos relatados na literatura, até o momento, é criada sem esse planejamento a priori, que, por vezes, pode tratar o hipertexto mais como um artefato tecnológico do que uma forma de representação textual. Embora tenham sido realizados vários estudos para projetar sistemas de hipertextos eficazes (FURNAS, 1997; GLENN; CHIGNELL, 1992; JUL; FURNAS, 1997), tem havido pouca pesquisa sobre importância do contexto da informação em sistemas de hipertexto. Para entender o contexto e sua importância para uma navegação eficaz, apresentamos primeiramente algumas definições sobre este conceito. Atenham-se, aqui, somente às definições que são relevantes e que condizem com a proposta do estudo, que é a importância de levar em consideração o contexto no momento de realizar uma modelagem conceitual dentro de um domínio específico para atender às necessidades informacionais dos usuários daquele sistema. Contexto é a relação entre o texto e a situação para qual ele existe, em um determinado momento. O léxico on-line o define como “um conjunto de circunstâncias em que se produz a mensagem que se deseja emitir – lugar e tempo, cultura do emissor e do receptor, etc. – e que permite sua correta compreensão” (Dicionário on-line). Já o dicionário léxico apresenta as seguintes definições para contexto: 





[...] 3. (Linguística) Aglomerado de componentes linguísticos e não linguísticos que envolvem um texto, um enunciado ou

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uma exposição oral; 4. Organização da sequência de ideias ou

pensamentos no discurso; 5. Elo, encadeamento ou conexão entre diferentes partes que constituem um todo. (LEXICO ON-LINE ) 





O Dicionário Aurélio on-line traz uma definição de contexto semelhante à anterior: 





[...] 3. Conjunto de elementos linguísticos à volta de som, palavra, locução, construção, frase, parte de discurso, etc. 4. Modo pelo qual as ideias estão encadeadas no discurso. 5. Ligação entre as partes de um todo [...] 





O contexto influencia a interpretação do destino do link pelo leitor, pois ele remete ao conteúdo existente nos nós de informação. As informações contextualizadas são importantes, porque tornam a navegação eficaz, permitindo que cada processo de navegação ocorra dentro de um domínio específico do conhecimento, e são ligadas às necessidades dos usuários daquele sistema hipertextual. O contexto auxilia nas interconexões das partes, ajudando a compor o significado dessas com o todo da estrutura, assegurando aos usuários que eles estão dentro daquele espaço virtual de informação, criando assim um processo de alinhamento semântico das unidades informacionais. Portanto, uma boa estrutura de hipertexto deve refletir a estrutura organizacional do assunto relacionado ou uma rede semântica da sua temática.

1.3.1 Proposta de Navegação em Contexto Um protótipo hipertextual com proposta de navegação em contexto foi realizado por Lima (2004), em sua tese de doutorado intitulada “Mapa Hipertextual (MHTX): um modelo para organização hipertextual de documentos”, no qual visou à construção de um modelo estruturado semanticamente

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para auxiliar a organização e representação do conhecimento humano estruturado em hipertextos para navegação em contexto. No processo da criação desse modelo, são consideradas quatro frentes: (1) Teoria da Análise Facetada (TAF), como técnica de classificação e indexação para modelagem da estrutura semântica; (2) Mapas conceituais, como ferramentas para representação e visualização, uma alternativa navegacional dentro do contexto; (3) Links hipertextuais, que permitiram mostrar as relações entre os conceitos, como ferramentas de navegação; e (4) as normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que estabeleceram requisitos para apresentação de sumário de documentos, permitindo uma visão de conjunto e facilidade de localização das seções e outras partes e a que especifica os princípios gerais para elaboração de trabalhos acadêmicos. Sua elaboração se deu, primeiramente, com a modelagem conceitual de uma tese de doutorado como documento, para, posteriormente, trabalhar uma proposta de uma navegação em contexto, dentro de um domínio específico do conhecimento, e ligada às necessidades dos usuários daquele sistema hipertextual. Na etapa seguinte, o modelo foi implementado tecnologicamente com os recursos técnicos do pacote de software Greenstone Digital Library, para construção da base de dados (Biblioteca Digital de Teses e Dissertação), contendo o documento hipertextual, a estrutura navegacional hieráquica do sumário expandido do documento, e do software Star Tree Studio para construção do mapa conceitual semântico. A tese impressa foi convertida em um documento hipertextual, no qual cada capítulo, seção e subseção tornou-se um módulo separado. Como uma solução para questão da fragmentação inerente ao documento hipertextual, foi utilizada a alternativa da modularidade, que é a formação de blocos de informação e a estruturação do documento em módulos, permitindo definir os blocos de informação, os seus conteúdos, as ligações entre eles e a sua organização coerente. O módulo é a unidade básica na construção do sistema. O raciocínio inerente à concepção de documentos multimídia implica as decisões de como segmentar a informação, de forma que cada módulo seja completo, em si, e contenha ligações suficientes com outros módulos. Além disso, deve ser possível, ao usuário, apreender outras informações relacionadas, sem que haja demasia de informações que dificulte a retenção na sua memória de curto-termo. Cada módulo pode ser composto de um ou mais parágrafos que representam seu conteúdo, mantendo-o independente de outros módulos, sem a necessidade de se relacionarem entre si, podendo ser representado por um único conceito. O parágrafo, por ser considerado como a unidade temática mínima,

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que se estrutura em torno de uma ideia básica (tópico frasal) e tem unidade de sentido (GUIMARÃES, 1999), permite que o autor do hipertexto use o conceito para representar o conteúdo do módulo, em vez de mostrar todas as sentenças e períodos que o compõem. Esses módulos de informação formam um documento on-line no todo, permitindo, porém, ser visto parcialmente no monitor. Esse texto modular é acessado através de um link, que pode ser representado pelo conceito que mostra seu conteúdo informacional. Essa estrutura foi representada através de um mapa conceitual que compõe a estrutura semântica tridimensional, em que foram representados todos os conceitos relevantes da tese e suas relações semânticas. Sua navegação é caracterizada pelas inter-relações existentes entre os conceitos. A estrutura conceitual é composta dos conceitos relevantes da tese escolhida, e organizada de acordo com a estrutura facetada, com as relações semânticas, hierárquicas e associativas. O objetivo do Mapa Conceitual (MC) do MHTX é possibilitar ao usuário uma visão geral da estrutura semântica do texto escolhido através de sua representação gráfica, facilitando a navegação semântica em contexto, através de seções e subseções, digitalizadas, constantes da base de dados hipertextual.

1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não se pretendeu com este estudo esgotar as possibilidades de aprofundar conhecimentos sobre a importância do contexto na estruturação da navegação hipertextual. Por isso, este trabalho não teve a intenção de ser exaustivo no tratamento do tema, já que muito ainda há para ser estudado a respeito do assunto. O hipertexto, como uma forma textual, carece de mais estudos sobre outras contribuições da linguística textual para sua estruturação. Estudos sobre a coerência semântica em hipertextos ainda estão em fase inicial, já que o hipertexto é constuído de uma forma não linear; com isso, a relevância pode ser adquirida através da justaposição de unidades temáticas da informação. Espera-se também que as teorias da Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), em conjunto com os aportes téoricos linguísticos, possam contribuir para minimizar a desorientação do usuário e o transbordamento cognitivo, que resulta da navegação improdutiva, causando ineficácia de desempenho do referido hipertexto. A linguística textual tem o texto como ob-

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jeto de análise e compreensão; por outro lado, na BCI, o processo de análise de assunto requer uma leitura documentária, compreendendo a estrutura do textual, sua tipologia e sua coerência e coesão textual. A compreensão textual, seja ela em forma impressa ou hipertextual, assegura uma modelagem e representação da informação de forma eficiente, minimizando os problemas de fragmentação e da recuperação semântica nos seus contextos.

Agradecimentos Agradeço ao apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), assim como ao auxílio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

1.5 REFERÊNCIAS AMORIM, D. Metodologia Orientada a Objetos para Projeto de Aplicações Hipermídia. Disponível em: 2002. Acesso em: 09 jan. 2016. BALASUBRAMANIAN, V. State of the art review on hypermedia issues and applications. Newark, New Jersey: Rutgers University, Graduate School of Management, 1993. BOLTER, J. D. Writing space: the computer, hypertext, and the history of writing. Hillsdale, N. J: Lawrence Erbaum, 1991. BUSH, V. As we may think. Atlantic Monthly, v. 176, n. 1, p. 101-108, 1945. CARLSON, P. A. New Metaphors for Electronic Text. Impact Assessment Bulletin, v. 9, n. 1/2, p. 73-88, 1991. CONKLIN, J. Hypertext. An introduction and survey. Computer, n. 20, n. 9, p. 17-41, 1987. CONTEXTO. Léxico: dicionário on-line de português. Disponível em Acesso em: 08 jan. 2016. COSCARELLI, C. V. Leitura em ambiente multimídia e produção de inferências. 1999. 322 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos). Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1999.

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BIBLIOTECA DIGITAL HIPERTEXTUAL: Caminhos para a Navegação em Contexto

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Capítulo

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  Navegação Hipertextual em Contexto

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