História da Física (a2). A passagem do mito à filosofia e à ciência: a origem do universo (2). Roberto de Andrade Martins

October 16, 2017 | Autor: R. de Andrade Mar... | Categoria: História Da Física, História Da Astronomia, Cosmologia
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História da Física Prof. Roberto de A. Martins A passagem do mito à filosofia e à ciência: a origem do universo (2) http://www.ghtc.usp.br/ Roberto de Andrade Martins

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Pensamento cosmogônico grego Na Grécia antiga: vários períodos • poetas (mitos) Homero, Hesíodo

• filósofos pré-socráticos Tales, Pitágoras, Demócrito...

• [Sócrates] • Platão • Aristóteles

Roberto de Andrade Martins

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Homero Homero -- século VIII ou IX a. C. • Odisséia, Ilíada [talvez compilações]

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Visão de mundo de Homero A Terra era considerada como um disco plano, onde estavam as terras conhecidas, cercadas pelo oceano. [Mapa de Hecataios de Mileto, séc. V a. C.] Roberto de Andrade Martins

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Visão de mundo de Homero Acima da Terra [Gaia] havia a cúpula do Céu [Ouranos], e abaixo da Terra e do Mar havia o Tartaros: “abismo monstruoso, morada horrível da Noite” Roberto de Andrade Martins

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Visão de mundo de Homero

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Visão de mundo de Homero Acima da Terra haveria uma região mais baixa, com ar e vapores, até as nuvens. Acima dessa região haveria uma outra, brilhante, azul (Aither). A Noite (Nyx) sai de baixo da Terra

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Visão de mundo de Homero

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O universo “bolha” No período medieval e renascentista, reapareceu a imagem de uma Terra plana com uma cúpula celeste.

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O universo “bolha”

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O universo “bolha”

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O universo “bolha”

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Os deuses de Homero Cada uma das partes do universo está associada a um deus ou deusa, na mitologia grega antiga Okeanos, o rio que circunda a Terra

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Os deuses de Homero O céu (Ouranos) era um deus masculino, que cobria toda a Terra. Na mitologia egípcia, o céu estrelado é a deusa Nut.

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Os deuses de Homero Cada deus ou deusa estava associado também a um simbolismo: Gaia (Terra) era a mãe de todos os seres vivos Roberto de Andrade Martins 15

Os deuses de Homero

Embora cada deus tivesse uma região do universo que dominava, todos “moravam” no monte Olimpo Roberto de Andrade Martins

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A Theogonia de Hesíodo O poeta Hesíodo (século VIII a. C.) escreveu a “Theogonia” [origem dos deuses] Antes de todas as coisas existiu o Khaos, e depois Gaia de amplo ventre, base sempre sólida de todos os imortais que habitam os picos do Olimpo nevado e o Tártaro sombrio nas profundezas da Terra espaçosa; e depois Eros, o mais belo dentre os deuses imortais, que rompe as forças e doma a inteligência e a sabedoria no peito de todos os deuses e de todos os homens. Roberto de Andrade Martins

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A Theogonia de Hesíodo Khaos nunca foi representado (sob forma de figura ou estátua) pelos gregos. Inicialmente, Khaos NÃO significava confusão, desordem. Khaos vem do verbo khínein (abrir-se) e significa abertura, fenda, ou abismo. Roberto de Andrade Martins

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Início do universo Pelo Khaos surgem a Terra e o Tártaro -pode-se imaginar que eles são as partes que surgem da quebra de uma unidade inicial

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Início do universo Embora a Terra e o Tártaro sejam duas coisas separadas, eles estão unidos entre si por Eros (o desejo) Eros grego = Cupido romano Roberto de Andrade Martins

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Início do universo E de Khaos nasceram Erébos [trevas] e a negra Nyx [noite]. E de Nyx, que se uniu a Erébos pelo amor, foram concebidos e nasceram Aithér [céu azul] e Hèmérè [dia]. Roberto de Andrade Martins

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Início do universo Erébos (masculino) e Nyx (feminina) se unem, e deles saem os seus opostos (o dia e o céu diurno brilhante). Erébos

Nyx

Aither

Hèmére

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Início do universo Normalmente dizemos que “o dia está nascendo” (da noite), mas não costumamos dizer que “a noite está nascendo”. Roberto de Andrade Martins

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Início do universo E inicialmente Gaia [Terra] gerou Ouranos [Céu] estrelado, igual a ela própria em tamanho, para que ele a cobrisse toda e para que fosse uma moradia segura para os deuses felizes. Parece novamente ocorrer uma separação de opostos, a partir de umaRoberto unidade inicial de Andrade Martins 24

Os filhos de Gaia e Ouranos A Terra sozinha produziu em seguida as montanhas. Depois, unindo-se ao Céu, gerou diversos filhos: Okeanos, a Memória, o Sol, e outros (os Titãs).

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Os filhos de Gaia e Ouranos No entanto, Ouranos não permitia que os filhos saíssem de dentro de Gaia. Gaia pede a ajuda do seu filho mais novo, Kronos.

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Os filhos de Gaia e Ouranos Quando anoitece e Ouranos surge, para se deitar sobre Gaia, Kronos sai de um esconderijo e corta os órgãos genitais do pai, com uma foice

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Kronos Kronos representa o tempo: • é o destruidor de todas as coisas • porém, somente pelo tempo as coisas podem nascer É representado com uma foice Roberto de Andrade Martins

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Kronos Kronos se torna o rei dos deuses e se une à sua irmã Rhéia. Eles tiveram 6 filhos, mas Kronos engolia a todos, com medo de ser destronado por eles (maldição de Ouranos). Roberto de Andrade Martins

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Kronos Quando nasce o 6° filho (Zeus) Rhéia engana Kronos, dandolhe uma pedra embrulhada em panos, para engolir. Roberto de Andrade Martins

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Zeus Depois que cresce, Zeus consegue fazer com que Kronos vomite os seus irmãos. Com a ajuda deles, luta contra Kronos e os Titãs, e os prende no Tartaros. Roberto de Andrade Martins

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Os homens Os primeiros homens (os mais perfeitos) foram criados por Kronos. Após a queda de Kronos, Zeus cria novos homens, menos perfeitos Roberto de Andrade Martins

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Os homens • Idade do Ouro (primeiros homens) - paz, fartura, liberdade, saúde • Idade da Prata - sem doenças, não precisavam trabalhar - destruídos por Zeus (por seu orgulho) • Idade do Bronze - violentos, morrem por suas próprias guerras • Idade do Ferro - doenças, velhice, morte, ignorância, necessidade de trabalhar Roberto de Andrade Martins 33

As “saturnais” • Festas, alegria, orgia Em homenagem a • Todas as leis eram Kronos (=Saturno) abolidas eram realizadas em • “Rei” das saturnais Roma, no solstício de inverno, as • Escravos eram liberados “saturnais”, que e servidos por seus representavam um senhores retorno simbólico à • Final: “rei” era Idade do Ouro sacrificado e tudo voltava ao normal Roberto de Andrade Martins 34

O mito cosmogônico grego • Não há deus supremo criador de tudo • Divisões de opostos • Cada elemento criado é também criador • Dinamismo da natureza • Elementos abstratos: Khaos, KronosRoberto de Andrade Martins

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“Mito filosófico” Na Grécia e em outros lugares, como a Índia: mitos altamente sofisticados e intelectualizados, embora mantivessem aspectos religiosos e rituais

MITO FILOSÓFICO

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Hino védico indiano

Texto do Rig-Veda (a mais antiga obra indiana conhecida, aprox. séc. X a. C.) Hino de caráter cosmogônico, com muitos elementos abstratos: “Násadásíyasúkta” Roberto de Andrade Martins

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Hino védico indiano 1. Então não havia nem o ser nem o não-ser. / Não havia o domínio do ar, nem céu além dele. O que estava encoberto? Onde, em que receptáculo? / Existia talvez um abismo imperceptível de água?

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Hino védico indiano 2. Então não havia morte, nem havia imortalidade. / Não havia movimento, nem distinção entre dia e noite. Aquele Um respirava por sua própria natureza, sem respirar. / Além dele nada existia. Roberto de Andrade Martins

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Hino védico indiano 3. Havia trevas ocultas em trevas. / A princípio tudo isto era um ondular indistinto. Aquilo existia envolto no vazio. / Pelo poder do seu ardor, aquilo cresceu e se manifestou. Roberto de Andrade Martins

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Hino védico indiano 4. Nele surgiu primeiramente o desejo, / a semente primal da mente. A união do ser ao não-ser foi descoberta pelos sábios / refletindo sobre o que contemplaram em seus corações. Roberto de Andrade Martins

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Hino védico indiano 5. O raio se estendeu através deles. / O que estava embaixo, o que estava acima? Havia inseminadores, havia poderes, / autonomia em baixo e energia além. Roberto de Andrade Martins

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Hino védico indiano 6. Quem realmente sabe, quem poderia dizer / de onde brotou, de onde provém esta criação? Os deuses são posteriores à sua produção. / Quem sabe então de onde ela surgiu? Roberto de Andrade Martins

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Hino védico indiano 7. De onde brotou esta criação, / se ela foi feita ou não o foi, Ele que a observa do mais alto dos céus, / Ele realmente o sabe, ou talvez nem ele o saiba. Roberto de Andrade Martins

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Aspectos não-mitológicos Hino com elementos abstratos • sem deus personificado (o Um) • questiona mitologia tradicional (nem os deuses conhecem o início) • o início é uma unidade paradoxal de opostos (nem ser, nem não-ser; nem morte nem imortalidade; respirava sem respirar) • modo de conhecer: “contemplação” Roberto de Andrade Martins

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Outros textos indianos Há textos indianos antigos que misturam aspectos mitológicos com aspectos abstratos “Código de Manu” = Mánavadharmashastra (aprox. séc. III a. C.) Roberto de Andrade Martins

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Código de Manu Universo cíclico • fases de atividade (dia de Brahman) • fases de repouso (noite de Brahman) DIA

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NOITE

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Código de Manu Divisão do tempo em ERAS • cada ano humano = 1 dia dos deuses • 1 ano dos deuses = 365 anos humanos • 1 era dos deuses = 1 ciclo da humanidade = 12.000 anos dos deuses = 12.000 x 365 anos humanos = 4.380.000 anos humanos Roberto de Andrade Martins

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Ciclos humanos Cada ciclo da humanidade: 4 períodos (yuga) • Krita = 400 + 4.000 + 400 anos dos deuses • Trita = 300 + 3.000 + 300 • Dvapara = 200 + 2.000 + 200 • Kali = 100 + 1.000 + 100 anos dos deuses

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Ciclos humanos Em cada ciclo da humanidade, os homens são inicialmente mais perfeitos, e em cada “yuga” vão decaindo em sabedoria, saúde, poder, longevidade Roberto de Andrade Martins

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Ciclos humanos Os ciclos humanos vão se repetindo muitas e muitas vezes O dia de Brahman tem 1.000 desses ciclos.

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Ciclos do universo Dia de Brahman • 1.000 idades dos deuses = 1.000 x 12.000 anos dos deuses = 1.000 x 12.000 x 365 anos humanos = 4.380.000.000 de anos • noite de Brahman = DIA dia de Brahman

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NOITE

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Grandes períodos de tempo Na Teogonia de Hesíodo também há 4 fases da humanidade, no entanto, essas fases não se repetem. As durações das eras descritas pelo Código de Manu são superiores a qualquer outra tradição antiga. Origem: análise dos movimentos astronômicos. Roberto de Andrade Martins 53

A grande conjunção Astros: movimentos cíclicos. Conjunções de planetas (yuga) se repetem depois de períodos sempre iguais. “Grande conjunção”: todos os planetas se reúnem no céu - período enorme = maháyuga. Quando os movimentos celestes se repetem, tudo se repete. Existe idéia semelhante em Platão. Roberto de Andrade Martins 54

Início de cada universo Cada ciclo do universo: • Trevas, algo imperceptível, sem distinções • Um Ser incognoscível, como se estivesse mergulhado no sono (Brahman) • Deus auto-existente se manifesta e remove a obscuridade, brilhando por si próprio • Vontade de produzir criaturas

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Produção do Céu e da Terra • • • •

Deposita sua semente na água Transforma-se num ovo dourado como o Sol Depois de um ano nasce Brahmá Divide o ovo em dois - céu, terra, espaço

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Brahmá Brahman = palavra neutra Brahmá = palavra masculina deus criador, senhor dos 4 Vedas e 4 Yugas

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Ovo cósmico Há outros mitos semelhantes: • China - Pan-Ku nasce no meio do ovo cósmico, depos de 18.000 anos; os elementos puros formam o céu, e os elementos pesados formam a terra, que se separam 10 pés por dia

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Ovo cósmico Há outros mitos semelhantes: • Grécia - cosmogonia órfica - No início existem Chronos (tempo), Chaos (espaço) e Aither. Aither produz um ovo luminoso, que contém os germes de tudo, de onde nasce Phanes, que produz o mundo e se isola no Sol Roberto de Andrade Martins

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Surgimento da matéria Brahman desperta e cria o pensamento, que existe e não existe, e produz os 5 elementos: • a mente, movida pelo desejo, produz o éter • éter: vibração, som modifica-se • vento: tato • luz: cor • água: sabor • terra: odor Roberto de Andrade Martins

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Cosmogonia do Código de Manu Características especiais do mito cosmogônico do Código de Manu: • baixo antropomorfismo • muitos elementos abstratos • relacionamento com conhecimentos científicos mais avançados • transição do mito religioso para a filosofia Roberto de Andrade Martins

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FIM

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