História da Música no Maranhão Imperial

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História da Música no Maranhão Daniel Lemos Cerqueira UFMA / UNIRIO / FAPEMA

2. Maranhão Imperial

Teatro São Luiz, 1908 Gaudêncio Cunha

2. Maranhão Imperial

2. Maranhão Imperial 2.1 Música Sacra: continuação da práticas litúrgicas e religiosas do período colonial 2.1.1 Litúrgica: mais rara; seria a Igreja Católica do Maranhão mais flexível? 2.1.2 Religiosa: muito maior incidência, principalmente ladainhas e novenas 2.2 Música Laica: canções e música instrumental em contextos não-religiosos

2.2.1 Música de concerto: apresentada em teatros, soirées e espaços semelhantes 2.2.2 Música “popular”: modinhas, danças de salão (polcas, valsas, schottisches, mazurcas), marchas, dobrados, habaneras, tangos, lundus, maxixes

2.3 Música africana do Maranhão: toadas e batuques; havia proibição 2.4 Música indígena: provavelmente permaneceu sob práticas semelhantes

2. Maranhão Imperial Construção do Teatro União (atual Arthur Azevedo) Por iniciativa dos portugueses Eleutério Lopes da Silva Varela e Estevão Gonçalves Braga (JANSEN, 1974), o Maranhão ganhou um teatro de grande porte, inaugurado 21 de junho de 1817, ainda no fim do período colonial. Durante a primeira metade do século XIX, o espaço fora utilizado para apresentações teatrais. Somente após a grande reforma iniciada em 1849 é que o teatro passou a receber os espetáculos de companhias líricas e dramáticas brasileiras e estrangeiras que transitaram em todo o Norte e Nordeste do Brasil Imperial. A história do teatro será retomada adiante.

2. Maranhão Imperial Obra conhecida mais antiga encontrada no Maranhão: “Hymno” em homenagem ao Imperador Dom Pedro I, composto por Raimundo José Marinho em 1826.

2. Maranhão Imperial Obra conhecida mais antiga encontrada no Maranhão: “Hymno” em homenagem ao Imperador Dom Pedro I, composto por Raimundo José Marinho em 1826.

Formação instrumental: duas trompas em Fá, duas clarinetas em Si bemol, dois violinos, um contrabaixo e duas cantoras soprano. A única fonte encontrada dessa obra é uma cópia feita por Domingos Thomaz Vellez Perdigão (1842-1899) em 1869, presente em seu “Album de Musica” no formato paisagem. 2min04s

2. Maranhão Imperial

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2. Maranhão Imperial Música na Catedral da Sé do Maranhão: Mestres-de-capela e organistas Vicente Ferrer de Lyra (ca.1796-1857), português. Tenor da Sé de Lisboa, pianista, compositor de obras sacras e professor de canto e piano. Assumiu o cargo na Sé por volta de 1826. Há várias de suas peças em Portugal e algumas no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM).

Theodoro Guignard (18??-1887), francês. Organista e pianista. Assumiu o cargo de mestre-de-capela e organista da Sé do Maranhão em 1865. Também atuou em festividades religiosas, concertos no Teatro São Luiz e ensinou piano. Luiz do Rego Lima (1847-1903), piauiense (possivelmente de Parnaíba). Foi mestre-de-capela de 1888 até a extinção desse cargo, por volta de 1897. Atuou como professor de música, regente de bandas, copista e afinador de pianos. Foi professor da Academia Amazonense de Bellas Artes. Faleceu em Manaus.

2. Maranhão Imperial Música na Catedral da Sé do Maranhão: o cabido O cabido da Sé continuou em plena atividade até o final da década de 1890, quando não foram mais encontradas referências ao mesmo – tendo sido provavelmente extinto. Segundo o musicólogo Paulo Castagna (2008), após a Proclamação da República, o governo central parou de pagar a quota para as festividades religiosas, sendo impossível manter os cargos do cabido. Alguns chantres da Sé do Maranhão no século XIX: Manoel Pedro Soares (ca. 1848-ca.1867) e João Tolentino Guedelha Mourão (ca.1880), vindo do Pará. Havia 2 chantres na década de 1860. Em 1875, o arcipreste Raimundo Alves dos Santos é citado como professor de música vocal da Sé.

2. Maranhão Imperial O piano durante o século XIX Em uma época onde não havia gravações, era preciso ir a concertos ou aprender a tocar um instrumento para ouvir a música. Assim, o piano se tornara um instrumento popular tanto pelo extenso registro (do Lá -2 ao Dó 7) quanto pela facilidade em produzir vários sons simultaneamente. Isso fez do piano um instrumento ideal para transcrições e adaptações. O mercado de afinação de piano e partituras era prolífico: árias de óperas famosas eram adaptadas para piano ou piano e canto, além de haver muitas canções e danças de salão. O piano também era parte considerada importante na educação feminina.

2. Maranhão Imperial Uma curiosidade Seguem abaixo algumas piadinhas do século XIX, do jornal O Patriota (1892):

2. Maranhão Imperial Félix José Eiroza A informação mais antiga sobre a presença de um pianista no Maranhão, depois de Vicente Ferrer de Lyra, é sobre o português Félix José Eiroza, que chegou em 1836 e permaneceu até 1848. Seguem dois de seus anúncios:

2. Maranhão Imperial As danças de salão São obras dançantes oriundas da Europa: minuetos, gavotas (mais antigas), polcas, valsas, quadrilhas, schottisches e mazurcas. Havia também as habaneras, que já tinham uma “mescla” com ritmos africanos de Cuba e vieram ao Brasil por meio das companhias de zarzuelas da Espanha. Esta última influenciou muito o chamado “tango brasileiro”, que também podia possuir influência do maxixe e do lundu – gêneros de origem afro-brasileira. Tais gêneros exerceram influência sobre a futura música popular urbana brasileira do século XX.

O “choro” no Maranhão: Segundo o flautista João Neto, a origem do choro ocorreu simultaneamente em várias Províncias brasileiras como Pernambuco, Bahia e Maranhão, e não apenas no Rio de Janeiro (COSTA NETO, 2015).

2. Maranhão Imperial O samba nasceu no Maranhão? Notícia no jornal “Publicador Maranhense” em 1876, informada pelo Prof. Me. Guilherme Ávila:

2. Maranhão Imperial Bandas de música marciais e de fanfarra Em todo o Maranhão, as bandas de música exerciam – e ainda exercem – papel fundamental nas práticas musicais e sociais, tocando em eventos de diversas naturezas e sendo um espaço de aprendizado musical, especialmente no interior. A grande maioria das bandas são compostas por músicos autodidatas e regentes voluntários, podendo contar com apoio de pequenos comerciantes. Infelizmente, poucas são as bandas profissionais. A mais antiga desse tipo é a atual banda da Polícia Militar, criada em 1836 (MARTINS, 1972). Em 1888, foi criada a banda do 5.º Batalhão de Infantaria, atual 24.º Batalhão de Infantaria Leve. Em Caxias, havia duas bandas na década de 1870, segundo Elpídio Pereira (1951, p. 16-17): Euterpe Cariman e Reação. Destaca-se que a Casa dos Educandos Artífices – a ser tratada adiante – formou vários músicos que foram regentes e diretores de bandas. Esse tema será retomado adiante.

2. Maranhão Imperial Bandas de Música (Fanfarra e Marciais) Imagem do prédio do 5.º Batalhão de Infantaria em 1904 (demolido em 1940):

2. Maranhão Imperial Bandas de Música (Fanfarra e Marciais) Atual prédio do 24.º Batalhão de Caçadores de Infantaria Leve, ativo desde 1941:

2. Maranhão Imperial Casa dos Educandos Artífices Estabelecimento destinado à educação de crianças órfãs que existiu entre 1841 e 1889. Oferecia cursos de alfaiate, marceneiro, carapineiro, sapateiro, surrador de cabedal (trabalhos com couro), com aulas de desenho e música em grupo. Formou vários músicos que atuaram no Maranhão durante o século XIX e início do século XX. A história desse estabelecimento e de outros semelhantes no Nordeste – cuja origem remonta à Real Casa Pia de Lisboa, fundada em 1780 – foi contemplada na pesquisa de mestrado da pianista e professora Ana Neuza Araújo Ferreira (2017).

2. Maranhão Imperial Casa dos Educandos Artífices Foto do prédio onde funcionou a Casa, localizado à Praça da República e que hoje sedia a Superintendência Federal de Agricultura – fonte: página do IBGE:

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices Sérgio Augusto Marinho (ca.1826-1864): primeiro professor de música da Casa; atuou entre 1844 e 1858. Mestiço de origem pobre, era flautista e compositor. Compôs acompanhamentos para peças teatrais cômicas encenadas no Teatro São Luiz, sendo pioneiro nessa atividade – na qual ficou conhecido Francisco Libânio Colás. A principal composição de Sérgio Marinho é a Novena de Nossa Senhora da Conceição, cuja cópia fora encontrada pelo Pe. Mohana e está disponível hoje no APEM. O flautista compôs também uma “Ouverture”, interpretada várias vezes nas aberturas de espetáculos no Teatro São Luiz. Faleceu por “alienação mental”. Antonio Bernardino Jorge Sobrinho, em 1864, transcreveu uma bela oração recitada na Igreja do Carmo, por ocasião do óbito de Sérgio Marinho e João Francisco Lisboa, transcrita parcialmente a seguir:

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices Honrar e perpetuar a memória dos grandes homens, que por seus talentos e virtudes se tornam dignos dos seus concidadãos, é um ato que muito enobrece àqueles que sem olhar as vaidades do mundo só levam em mente o engrandecimento do verdadeiro mérito, que não é somente a partilha do poderoso. O talento, senhores, vem ao rico como ao pobre, tanto ao nobre como ao plebeu; e, assim, o mundo civilizado sempre justo nas suas apreciações, entre uns e outros não lhes traça uma linha divisória, mormente quando avalia e estuda o passado de uma vida que já não existe. [...] Um nas letras e outro na música ostentavam talentos não vulgares. No entanto, a posição social destes dois gênios se destacava bastante. O 1.º, o comendador João Francisco Lisboa, descendia de uma família elevada e senão de uma fortuna colossal com...

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices ... a necessária a curar convenientemente de sua juventude, de modo a mais tarde e por sua aplicação nos livros desenvolver esse grande gênio com que o enricou a natureza; o 2.º, porém, Sérgio Augusto Marinho, a quem comemoramos, era de família pobre e descendente da classe do povo. À falta de ouro não pode Marinho como Lisboa cultivar as letras, para adquirir e estabelecer sua honesta subsistência, procurou diferente vereda, mais apropriada aos seus recursos monetários: abraçou a música. Nesta profissão que escolheu, o seu talento o constituiu uma das glórias da terra que lhe deu o berço. Cada qual no seu gênero nos mostra que o talento, o verdadeiro mérito, é um dom que pode tocar a qualquer sem escolha de nação ou família, do nobre ao plebeu, do rico ao pobre. (In: PUBLICADOR MARANHENSE, 1864)

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices Parte dos segundos violinos da “Jaculatória” da Novena de Nossa Senhora da Conceição, de Sérgio Marinho. Cópia feita por Marcellino Maya:

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices Leocádio Ferreira de Souza (ca.1830-1888): professor de sopros, ex-interno da Casa e sucessor de Sérgio Marinho. Era trompetista. Atuou na Casa entre 1858 e 1885. Apresentou-se em eventos religiosos, políticos, militares e datas comemorativas com a banda da Casa, além de ter atuado em concertos nas orquestras contratadas para os eventos no Teatro São Luiz. Euclydes José de Nazareth (1865-19??): último professor de sopros da Casa. Atuou apenas entre 1885 e 1889, revezando com Luiz do Rego Lima. Tornouse posteriormente regente da banda do Corpo da Polícia Militar, porém, foi exonerado do cargo por problemas de relacionamento. Em 1897, mudou-se para Manaus, onde dirigiu a banda do 2.º Batalhão da Força Pública e foi exonerado pelo mesmo motivo. Posteriormente, seguiu carreira como oficial do Exército.

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices João Pedro Ziegler (1822-1882): violinista formado pelo Real Conservatório de Lisboa, veio para o Maranhão em 1852. Foi o primeiro professor de cordas da Casa. Atuou entre 1854 e 1858, após ser nomeado no Azylo de Santa Thereza em 1857, retornando em 1871 para ficar até sua aposentadoria em 1881. Ziegler participou ativamente da vida musical de São Luís, especialmente como violinista e diretor das orquestras do Teatro São Luiz, além de ensinar música em colégios. Em 1853, criou a “Sociedade Philarmonica Maranhense”, para formar e manter um grupo orquestral em São Luís. Em 1874, fundou a “Academia Musical”, uma escola particular que tinha como professores Leocádio Souza (metais), Joaquim Zeferino Ferreira Parga (flauta), Theodoro Guignard (piano), Leocádio Rayol (cordas) e Ricardo José d’Oliveira e Silva (violão), mas que durou apenas um ano.

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices Notícia do jornal “O Globo” sobre a chegada de João Pedro Ziegler em 1852:

2. Maranhão Imperial Professores da Casa dos Educandos Artífices José de Carvalho Estrella (ca.1810-ca.1888): violinista, assumiu o cargo na Casa em 1858 após a saída de Ziegler. Estrella atuava nas orquestras do Teatro São Luiz, e dava aulas particulares. Foi um dos professores de Leocádio Rayol. E, 1856, participou de uma escola particular na casa do violonista João Evangelista do Livramento (ca.1818-1887), juntamente com Sérgio Marinho e Innocencio Smoltz (ca.1820-1873). Em 1859, lecionou no “Club Philarmonico Maranhense” com o violoncelista Antonio de Freitas Ribeiro e Leocádio Souza. Nesse mesmo ano, o cargo de professor de cordas da Casa foi extinto, sendo recriado somente em 1871, quando retornou novamente Ziegler. Leocádio Rayol (1849-1909): foi professor de cordas da Casa entre 1881 e 1883. Antonio Rayol (1863-1904): ficou no cargo entre 1884 e 1889. A trajetória desses dois músicos será abordada mais adiante.

2. Maranhão Imperial Ex-internos da Casa dos Educandos Artífices Joaquim Zeferino Ferreira Parga (ca.1834-1907): flautista e alfaiate. Joaquim dava aulas e atuava em orquestras da época, além de vender instrumentos musicais e partituras em sua alfaiataria. Ele é o progenitor dos membros da “Orquestra Irmãos Parga”, a ser tratada adiante.

Isidoro Lavrador da Serra (ca.1851-1880): trompetista, compositor de danças de salão e regente de bandas. Logo que saiu da Casa, criou a “Philarmonica Maranhense”, regendo depois a “Lyra de Apollo”. Foi professor interino da Casa, em eventuais afastamentos de Leocádio Souza. Suas composições, cujas partituras não foram localizadas, obtiveram relativo sucesso na época. Euclydes José de Nazareth (1865-19??): ex-interno que se tornou professor da Casa. Também regeu a banda da Polícia Militar. Em 1897, mudou-se para Manaus, onde foi regente da banda dos Bombeiros e vereador.

2. Maranhão Imperial Ex-internos da Casa dos Educandos Artífices Thomé Lisboa (1858-1923): oficlidista (fagotista), clarinetista, professor e diretor de orquestras. Atuou em várias orquestras ao lado dos irmãos Rayol, Ignácio Cunha, Marcellino Maya e Adelman Corrêa. Foi para Manaus criar uma escola de música em 1918. Faleceu nessa cidade.

Saladino Augusto da Cruz (1867-1927): trombonista, compositor de danças de salão e regente de bandas. Teve relevante atuação em São Luís, onde dirigiu a banda de Aprendizes Marinheiros, e Alcântara, onde atuou como regente da banda municipal. Faleceu nesse último local. João de Deus Serra (1867-1899): clarinetista, compositor de danças de salão e regente de bandas. Adquiriu sucesso na época por tocar em bailes de carnaval e festas de clubes. Algumas de suas peças estão no APEM, no entanto, foram encontrados erros na atribuição de algumas autorias.

2. Maranhão Imperial Ex-internos da Casa dos Educandos Artífices Raymundo Cerveira (1862-1924): violinista da “Orquestra Irmãos Parga”. Alexandre da Santa Cruz Marques (1868-1913): foi regente de bandas e professor. Atuou principalmente em bailes carnavalescos. Miguel Dias (1871-1925): regente de bandas e professor de música. Após concluir o curso, retornou para Viana, onde fez um importante trabalho de educação musical. Segundo o Pe. Mohana (1974, p. 97), formou mais de cem músicos. Aristides Emygdio Bayma (ca.1870-ca.1915): trompetista, compositor de danças de salão e regente de bandas. Em 1893, foi para Manaus dirigir a banda do Corpo de Infantaria do Amazonas. Em 1897, tornou-se professor do Gymnasio Amazonense e da Escola Normal do Amazonas. Em 1899, foi nomeado professor da Academia Amazonense de Bellas Artes. Faleceu nessa cidade.

2. Maranhão Imperial Ex-internos da Casa dos Educandos Artífices Marcellino Antonio da Silva Maya (ca.1870-1935): contrabaixista, professor, copista e regente de bandas e orquestras. Segundo Adelman Corrêa, Maya era um dos “cinco maiores” do Maranhão. Atuou como professor de violino da Academia Amazonense de Bellas Artes em 1899. Foi regente das bandas da Polícia Militar, da Fábrica de Tecidos Rio Anil (onde funciona hoje o CINTRA) e da orquestra do Cine Éden. Foi professor na Escola de Música de 1918 a 1921 e na Escola de Bellas Artes, fundada em 1922 por ampliação da primeira e que funcionou até 1930.

2. Maranhão Imperial Fotografia da banda da C. F. T. Rio Anil – fonte: A Revista do Norte:

2. Maranhão Imperial Festa de Nossa Senhora dos Remédios Existente até hoje, essa festividade teve seu auge em meados do século XIX. Congregava todas as classes sociais, havendo missas dentro da Igreja, novenas e procissões na rua e o comércio de diversas iguarias. João Francisco Lisboa (1992) tratou sobre a festividade de 1851, que teve a estreia da Novena de Nossa Senhora dos Remédios de Antonio Luiz Miró (1805-1853), pianista e compositor de Portugal natural de Granada (Espanha) e que foi contratado em 1850 para dirigir o Teatro São Luiz. A regência do grupo musical desse ano ficou por conta do flautista Joaquim Zeferino Ferreira Parga.

2. Maranhão Imperial Foto da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, por Gaudêncio Cunha (1904):

2. Maranhão Imperial Foto do Largo dos Remédios (atual praça Gonçalves Dias), de data desconhecida:

2. Maranhão Imperial Primeira página da grade da Novena de Nossa Senhora dos Remédios, de Miró:

2. Maranhão Imperial Clubes musicais e Sociedades de concertos Em todo o Brasil, as sociedades e clubes para promover concertos, manter orquestras e financiar tournées de músicos tiveram relevante atuação para as práticas musicais até meados do século XX. No Maranhão, os clubes mais duradouros, juntamente com a Sociedade Philarmonica e o Club Philarmonico, foram “Pic-Nic” (que teve Alexandre Rayol na direção), “Santa Cecília” (dirigido por Antonio Rayol), Centro Caixeiral e o “Casino Maranhense”, fundado em 1888. Ao lado, uma imagem do prédio que o recebeu durante a primeira metade do século XX.

2. Maranhão Imperial Professores de música Durante o século XIX, o Maranhão possuía aulas de música em colégios. Os professores particulares também contribuíam valiosamente. Não foram encontrados registros de firmas especializadas em instrumentos musicais e partituras. Sendo assim, esses professores também se incumbiam de vende-los, além de trabalhar como copistas de música – o Maranhão não tinha e nunca teve uma tipografia musical. Adiante, serão apresentadas algumas informações sobre professores de música com relevante atuação durante o século XIX.

2. Maranhão Imperial Professores de música Francisco Xavier Beckman (ca.1828-1869): mestiço, era violinista e professor de violino e violão. Atuava nas orquestras montadas para as companhias líricas em passagem pelo Teatro São Luiz. Foi um dos professores de Leocádio Rayol. Bernardino do Rêgo Barros (ca.1834-1878): clarinetista, compositor, regente de bandas, arranjador, afinador de pianos, comerciante de partituras e professor em domicílio. Em 1861, uma das partituras anunciadas era a polca-lundu “Moreninha”, a indicação mais antiga sobre um gênero híbrido encontrada no Maranhão. Em 1863, foi nomeado regente da banda do 2.º Batalhão da Guarda Nacional, dispondo-se a tocar em passeatas, reuniões particulares, bailes, festividades religiosas e enterros. Em 1866, compôs quadrilhas e regeu grupos para os bailes de máscaras de São Luís – o primórdio dos carnavais. Compôs uma novena para a Festa de São João Baptista, cuja partitura está perdida.

2. Maranhão Imperial Professores de música Francisco Antonio Colás (ca.1809-1871): clarinetista, diretor de orquestra e professor de música nascido em Portugal. Chegou a São Luís no final da década de 1820, tornando-se conhecido na cidade. Teve três filhos músicos. Organizava membros para as orquestras que tocavam com as companhias líricas em tournée pelo Maranhão. Mudou-se com seu filho, Francisco Libânio Colás, para o Recife em 1865, cidade onde faleceu. Francisco Maranhense Freire de Lemos (ca.1835-1923): trompetista, compositor, regente de bandas e professor da escola primária de letras e música. Em 1866, participou de uma banda em Itapecuru-Mirim, mudando-se depois para Alcântara, onde ensinou música e criou uma banda. Foi professor de Honório Joaquim Ribeiro (ca,1865-1912), regente de bandas em Alcântara e Pinheiro. Faleceu em São Luís, provavelmente sua cidade natal.

2. Maranhão Imperial Professores de música João Evangelista do Livramento (ca.1818-1887): compositor, copista, professor de violão e comerciante musical. É autor do método maranhense mais antigo que se tem notícia, “Noções Geraes de Musica”, litografado na Europa em 1857. Pedro Alexandrino de Souza (ca.1836-1886): flautista, timpanista, compositor e regente de bandas. Conhecido como o mestiço “Pedro do Rosário”, teve uma composição que ficou muito famosa até meados do século XX: a ladainha do trezenário de Santo Antônio, interpretada nas Festas da Luz da Vila do Paço.

Domingos Thomaz Vellez Perdigão (1842-1899): professor de violão. É autor do método maranhense mais antigo preservado até hoje, “Noções de Musica”, analisado pela prof.ª Me. Kathia Salomão (2016). Seus dois álbuns de música presentes no Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM) oferecem valiosas informações sobre a prática musical de meados do século XIX.

2. Maranhão Imperial Professores de música Capa de “Principios Elementares de Musica”, de Domingos Thomaz Vellez Perdigão, publicado pela Typographia do Frias em 1869:

2. Maranhão Imperial Professores de música Faustino da Cruz Rabello (ca.1843-1893): violinista, compositor e afinador de pianos, apelidado de “Ratinho”. Participou de orquestras ao lado dos irmãos Rayol, Ignácio Cunha e Thomé Lisboa. Alguns de seus “Entre-atos” – peças tocadas no intervalo das récitas do Teatro São Luiz – estão no APEM.

José Alípio de Morais (ca.1845-1929): regente de bandas e professor de música em Cururupu e São Luís. Seu filho, José Alípio de Morais Filho, foi professor de solfejo no Instituto Cururupuense e regente de banda em Carutapera. Apenas o filho possui obras disponíveis no APEM. Désirée Fischer Vieira (ca.1849-1909): professora de piano natural da Bélgica. Na época, o piano era intimamente ligado à educação feminina, motivo pelo qual havia várias professoras do instrumento no Maranhão.

2. Maranhão Imperial Professores de música Ignacio de Loyola Alcebiades Billio (ca.18601929): trompetista, compositor de danças de salão e regente de bandas, filho do artista plástico José Maria Billio Júnior. Foi tido como o compositor mais “popular” de sua época, devido à grande quantidade de danças de salão que escreveu. Foi um dos primeiros regentes de grupos que tocavam em navios a vapor (foto do bar do vapor Maranhão ao lado). Teve dois irmãos músicos: Marçal (ca.1865-1921) e Hygino (ca.1870-ca.1955).

2. Maranhão Imperial Professores de música Cecílio Rodrigues Coimbra (ca.1861-1902): compositor e professor de música. Atuou em vários recitais ao lado de Alexandre e Antonio Rayol. Luiz Medeiros (1861-1900): violinista, discípulo de Leocádio Rayol, e regente das orquestras do Teatro São Luiz. Foi o primeiro professor de música do Liceu Maranhense, sendo nomeado em 1890. Faleceu de “síncope cardíaca” em 1900. Joaquim Possidônio Ferreira Parga (1871-1909): violinista, compositor e regente, também discípulo de Leocádio Rayol. Filho do flautista Joaquim Zeferino, foi o líder da “Orquestra Irmãos Parga” até seu falecimento. Alice Serra Martins (1874-19??): pianista acompanhadora e professora. Ensinou música na Escola Normal e, posteriormente, canto orfeônico. Teve um irmão violinista, Tancredo Serra Martins (ca.1876-1913).

2. Maranhão Imperial Professores de música Leocádio Alexandrino dos Reis Rayol (1849-1909): prolífico violinista, regente e compositor. Entre 1870 e 1873, foi para Portugal se tratar de beribéri, e certamente aproveitou para estudar música. Após ser exonerado de seus empregos em 1883, foi para o Rio de Janeiro, tomando parte em várias sociedades de concerto ao lado de importantes músicos locais. Compôs a parte musical da peça Fritzmack em 1888, mesmo ano em que foi professor interino de violino do Imperial Conservatório. Também escreveu peças sacras. Sua obra apresenta um interessante domínio de técnicas composicionais, em gêneros variados.

2. Maranhão Imperial Leocádio Rayol (1849-1909) Iconografia: capa da quadrilha “Frotzmack”, sobre libreto dos irmãos Arthur e Aluízio Azevedo. Composta em 1888, sendo adaptada para piano e publicada por Isidoro Bevilacqua & Cia.

2. Maranhão Imperial Professores de música Alexandre dos Reis Rayol (1855-1934): violoncelista, barítono e compositor. Escreveu muitas danças de salão para piano e algumas canções para canto e piano. Tinha como profissão principal a direção de colégios. Atuou em vários concertos ao lado de seus irmãos, especialmente entre 1881 e 1904. Seu “Collegio Rayol”, criado em São Luís e depois em Viana, oferecia aulas de música. Sempre aproveitava os eventos escolares para fazer recitais. Em 1910, voltou em definitivo para Manaus – pois residira nessa cidade entre 1888 e 1898. Em 1922, foi eleito deputado estadual. Seu neto, Ney da Costa Rayol, doou várias partituras da família para o APEM em 1988. Elas foram unidas à coleção do Pe. João Mohana.

2. Maranhão Imperial Professores de música Antonio de Almeida Facióla (1865-1936): pianista formado pelo Conservatório de Milão, local onde se tornou amigo de Carlos Gomes. Seu pai, João Facióla (ca.1823-1898), foi um tenor que veio por uma das companhias líricas do empresário José Maria Ramonda em 1856 e se estabeleceu em São Luís. Antonio atuou em concertos e ensinou piano nessa cidade para mulheres entre 1884 e 1894, quando foi em definitivo para Belém. Foi professor de piano do Conservatório Carlos Gomes. Deixou a música para ser arquiteto, diretor do Banco do Estado do Pará, da Cervejaria Paraense e senador.

2. Maranhão Imperial Reabertura do Teatro São Luiz Em 1852, houve a reabertura da grande casa de espetáculos do Maranhão, agora com o nome de “Teatro São Luiz”. A partir de então, apresentaram-se no mesmo companhias brasileiras (principalmente), portuguesas, espanholas, italianas, francesas, norteamericanas e até japonesas, revelando a importância do teatro para o intercâmbio cultural em nível internacional, colocando São Luís no mesmo patamar de cidades como Recife e Salvador.

2. Maranhão Imperial Reabertura do Teatro São Luiz As companhias líricas eram organizadas por empresários brasileiros que arrendavam o teatro, como Germano Francisco d’Oliveira, José Maria Ramonda, José Marinangeli e Joaquim Franco. Traziam atores, músicos, figurinistas e, às vezes, diretores de orquestra (MENDES, 2014). Contavam com repertório de óperas e operetas cômicas – sendo essas últimas as preferidas do público maranhense. Alguns músicos decidiam ficar em São Luís para dar aulas e organizar concertos, contribuindo para a formação musical e a produção cultural da cidade.

2. Maranhão Imperial Músicos ligados a companhias líricas Antonio Luiz Miró (1805-1853): pianista, regente e compositor natural de Granada, na Espanha, mas que cresceu em Lisboa. Foi discípulo de frei José Marques e do importante pianista Domingos Bomtempo (1775-1842). Foi diretor do Teatro das Laranjeiras e diretor da orquestra do Teatro São Carlos, a principal casa de óperas de Portugal. Em 1849, foi contratado pelo governo da Província do Maranhão para dirigir o Teatro São Luiz na reabertura após as reformas, em 1852. No Maranhão, deu aulas de piano, vendeu partituras, fez adaptações de obras e compôs valsas para piano. Enquanto ensaiava a orquestra e o coro (sem exigir experiência prévia), compôs a Novena de Nossa Senhora da Conceição. No final de 1852, adoeceu, vindo a falecer em abril de 1853 no Recife na tentativa de retornar a Portugal para tratamento. Sua esposa, Josephina dos Santos Miró (1826-1900), foi uma exuberante atriz.

2. Maranhão Imperial Músicos ligados a companhias líricas João Facióla (ca.1823-1898): tenor italiano que chegou a São Luís pela companhia lírica de 1856 de José Maria Ramonda. Deu aulas de canto e piano durante sua estadia no Maranhão. Residiu posteriormente em Porto, Portugal, e na Itália. Pai de Antonio Facióla, mudou-se em definitivo para Belém em 1896.

Cezar Savio (18??-18??): tenor italiano, colega de João Facióla. Savio residiu pelo menos até 1867 em São Luís, onde ensinou canto, piano e tomou parte em concertos. Innocencio Smoltz (ca.1820-1873): compositor e diretor de orquestras italiano. Morou no Maranhão em 1857, indo depois para o Recife, onde se estabeleceu em definitivo. Foi professor de canto e piano, além de um prolífico compositor de danças de salão. Faleceu na Europa, em 1873.

2. Maranhão Imperial Publicações sobre venda de partituras É possível saber algumas das peças que circulavam com mais frequência na época. Várias danças de salão de Innocencio Smoltz continuaram sendo vendidas no Maranhão entre as décadas de 1870 e 1880:

2. Maranhão Imperial Músicos ligados a companhias líricas Margarida Pinelli Sachero Costa – vinda na companhia lírica de Ramonda de 1859 como prima-donna, residiu nesse ano em São Luís após a morte de seu esposo, o tenor Melchior Sachero. Apresentou-se diversas vezes no Teatro São Luiz, além de ter contribuído com a realização de soirées em sua casa, segundo o Pe. Mohana (1974, p. 101-102), e com a manutenção da Sociedade Philarmonica. Casou-se pela segunda vez com o ator Francisco Gaudêncio da Costa. A foto ao lado está presente no livro de José Jansen (1974).

2. Maranhão Imperial Músicos ligados a companhias líricas Francisco Libânio Colás (ca.1831-1885): ludovicense, Colás foi o primeiro músico maranhense a ter uma carreira nacional. Tinha o violino como primeiro instrumento, além de ser regente, compositor e arranjador. Dirigiu o Teatro em uma parceria com Francisco José de Couto Rocha. Em 1864, foi para o Recife com seu pai após a morte de sua esposa, a atriz italiana Carmela Lucci (ca.1828-1863). Dirigiu por vários anos a orquestra do Teatro Santa Isabel. Foi um prolífico compositor de música para teatro e precursor do nacionalismo “folclorista”. Também produziu obras sacras. Em 1879, regeu a orquestra no concerto de inauguração do Teatro da Paz, em Belém.

2. Maranhão Imperial Iconografia Capa de uma polca-lundu para piano solo composta por Colás no Recife. Editada por Antonio José d’Azevedo, um importante editor e vendedor de pianos pernambucano.

2. Maranhão Imperial Músicos ligados a companhias líricas Ettore Bosio (1862-1936): pianista, violoncelista, compositor e regente italiano. Chegou ao Maranhão em 1892 em uma companhia lírica organizada por Joaquim Franco, ficando por um ano. Tomou parte nos primeiros concertos de Elpídio Pereira em São Luís, Caxias e Teresina. Foi no ano de 1893 em definitivo para Belém, tornando-se um importante músico. Em 1900, foi nomeado professor de violoncelo do Conservatório Carlos Gomes, juntamente com Antonio Facióla (nomeado para piano). Compôs peças que usam elementos da música tradicional paraense, sendo assim adepto do nacionalismo folclorista brasileiro.

2. Maranhão Imperial Músicos ligados a companhias líricas Joaquim Franco (1857-1927): natural de Campinas, era cantor, pianista e regente, tendo atuado principalmente como empresário. Trouxe várias companhias líricas europeias para o Teatro São Luiz entre 1883 e 1894, passando então a leva-las apenas para o Amazonas e Pará, que ofereciam subvenções. Foi idealizador e diretor da Academia Amazonense de Bellas Artes, fechada após seu falecimento. Participou de vários concertos realizados em São Luís, tendo convidado músicos maranhenses para dar aulas na mencionada Academia.

2. Maranhão Imperial Críticas aos imigrantes no Maranhão Tanto Antonio Luiz Miró quanto João Pedro Ziegler, assim como artistas vindos em companhias líricas, eram alvo de críticas por não serem brasileiros natos e, supostamente, “mercenários”. Segue uma nota em “O Observador” de 1853:

2. Maranhão Imperial Críticas aos imigrantes no Maranhão Porém, havia aqueles que reconheciam os esforços desses artistas ao deixar sua terra natal para trabalhar em locais adversos. Segue adiante uma notícia sobre o trabalho de Inocêncio Smoltz na companhia lírica de José Maria Ramonda:

2. Maranhão Imperial Sobre o Teatro São Luiz e a “Europa” Há uma visão amplamente disseminada de que o teatro durante o século XIX no Maranhão “só favoreceu o desejo de frequentar as praças de Lisboa e Paris”, segundo Josias Sobrinho (In: CARACAS; CARACAS, 2006, p. 207). Alguns documentos adiante permitem refletir mais profundamente acerca dessa concepção.

2. Maranhão Imperial Sobre o Teatro São Luiz e a “Europa” 1) O repertório preferido do público maranhense não era o mesmo da Europa: A belíssima partitura da Cavalleria Rusticana [de Pietro Mascagni] executou-se do princípio ao fim sem despertar o público da apatia em que parecia abismado, sem conseguir vibrar uma corda sequer do entusiasmo que se manifesta por ovações e aplausos. Tudo frio, tudo silencioso! [...] Quando subiu o pano para o 4.º ato dos Huguenotes [de Giacomo Meyerbeer], cantado magistralmente por Conti Foroni e Patti, apareceu, de surpresa, na cena, o artista Ferrari, que cantou com graça, primeiro uma cançoneta cômica, e depois, instado muito pelo público que insistentemente pedia bis, sem recomendação do programa, bem entendido, porque nele nem ao menos se fazia menção da cançoneta como parte integrante do espetáculo, o artista cantou outra cançoneta...

2. Maranhão Imperial Sobre o Teatro São Luiz e a “Europa” 1) O repertório preferido do público maranhense não era o mesmo da Europa: ... cômica como a primeira e como esta frenética e delirantemente aplaudida e que seria bisada até amanhecer se a direção não fizesse ouvidos de mercador ao pedido da maioria dos espectadores. Não sabemos se ao leitor produzirá o mesmo efeito desagradável que a nós a audição de um trecho cômico de composição ligeira quando temos os ouvidos saturados da harmonia da música lírica – parece, ainda que mal comparado, a uma mancha negra em branco vestido de virgem; pois bem, apesar dessa sensação pouco grata, não deixaremos de dar parabéns a quem teve a ideia de enxertar entre a ópera de Mascagni e a ópera de Meyerbeer aquelas cançonetas do gênero bufo, talhadas a molde para os cafés-concertos ou para variantes de ópera-cômica, porque ...

2. Maranhão Imperial Sobre o Teatro São Luiz e a “Europa” 1) O repertório preferido do público maranhense não era o mesmo da Europa: ... elas, as benditas cançonetas, cantadas com tanto espírito pelo artista Ferrari, tiveram o alto mérito, o inestimável valor de acordar o público, arrancando-lhe a gargalhada franca e sincera, que por alguns momentos o fez esquecer das cogitações tristes que o fazia sorumbático. [...] Já basta de dramático, senhores de mestrança! Sirvam ao povo alguma coisa que o faça rir, porque de chorar o povo está farto. (PACOTILHA, 1892)

2. Maranhão Imperial Sobre o Teatro São Luiz e a “Europa” 2) A organização dos eventos não era a mesma adotada na Europa: Foi com muito prazer que vimos no dia 28 [de julho de 1852] a ópera em música A Marqueza, composição do Sr. Antonio Luiz Miró. Se o Sr. Miró, em outras muitas composições, que tem sido geralmente aplaudidas, não estivesse já dado exuberantes provas do seu talento, bastava esta única ópera para fazer a sua reputação artística. [...] Temos, porém, para cômodo do público, de pedir ao Sr. Miró, que, para as outras vezes que ponha a sua ópera em cena, que a divida em dois atos, o que pode muito bem fazer na caução, ou em outra qualquer parte que o julgue mais conveniente. Na Europa, aonde de inverno, os espectadores fogem dos salões para a plateia, a fim de estarem mais agasalhados, toleram-se atos que duram 5 quartos de hora; mas no Maranhão, aonde o clima é ...

2. Maranhão Imperial Sobre o Teatro São Luiz e a “Europa” 2) A organização dos eventos não era a mesma adotada na Europa: ... diferente, o dilletanti mais entusiasta, não pode estar com prazer, na plateia, todo aquele tempo sentado n’uma cadeira. (O GLOBO, 1852).

2. Maranhão Imperial Sobre o Teatro São Luiz e a “Europa” Outras questões: 3) As companhias líricas contratavam músicos locais para os concertos; 4) Artistas vindos nessas companhias davam aulas durante sua estadia no Maranhão, colaborando para a formação artística local; 5) Os espetáculos geravam empregos indiretos, em especial com a venda de partituras com adaptações de trechos das óperas (geralmente para canto e piano) e venda dos libretos das mesmas, em livrarias ou tacabarias.

2. Maranhão Imperial Músicos amadores Entende-se aqui por músico “amador” aquele que tem como prioridade outra profissão. No século XIX, os músicos profissionais atuavam em campos diversos do mercado musical, mantendo-se exclusivamente dos ganhos dessa atividade. Já havia também o cargo de oficial militar músico, muito importante até a atualidade. Em seguida, serão apresentados alguns músicos amadores que promoveram relevantes contribuições durante o Maranhão Imperial.

2. Maranhão Imperial Músicos amadores Claudio Serra de Moraes Rego (1863-1909): médico, flautista e compositor. Atuou em vários concertos ao lado de importantes músicos da época. Tomou parte na criação do Casino Maranhense em 1888, clube musical de grande importância para as atividades musicais especialmente na primeira metade do século XX. Compôs obras camerísticas, em especial um quinteto intitulado “Avec”. Há apenas uma composição sua no APEM. Edgard Serzedelo de Carvalho (18??-19??): comerciante, proprietário da firma “Edgard Carvalho & C.”. Estudou música quando jovem, chegando a compor danças de salão. Não teve continuidade em suas atividades musicais, porém, seu álbum com registros de melodias em voga no final do século XIX e início do século XX foi encontrado pelo Pe. João Mohana. Esse valioso documento está disponível hoje no APEM.

2. Maranhão Imperial

MAS E CATULLO? Catullo da Paixão Cearense (1866-1948) foi letrista e intérprete de modinhas. Fez carreira no Rio de Janeiro. É necessário investigar quais canções tem a parte musical de sua autoria, pois o crédito aos autores foi “deturpado” pelo jornalista Guimarães Martins, que comprou os direitos da obra de Catullo em 1943 por CR$ 5.000,00.

Referências Bibliográficas CASTAGNA, P. O som na Catedral de Mariana nos séculos XVIII e XIX. In: FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Sons, formas, cores e movimentos na modernidade atlântica: Europa, Américas e África. São Paulo: Annablume, 2008.

CERQUEIRA, D. L. Uma edição diplomática do Hymno (1826) de Raimundo José Marinho. Debates, n. 17. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2016, p.137-171. COSTA NETO, R. J. M. E tem choro no Maranhão? Subsídios Históricos e Musicológicos para um processo de formação do choro no Maranhão entre o final do século XIX e meados do século XX. Dissertação de Mestrado em Etnomusicologia. 137f. Belo Horizonte: PPGMUS/EMUFMG, 2015. JANSEN, J. Teatro no Maranhão. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1974. LISBOA, J. F. A Festa de Nossa Senhora dos Remédios. São Luís: Editora Legenda, 1992.

MARTINS. R. M. (org.). Coleção Ausência Presente n.º 2: A Festa dos Sons. São Luís: SIOGE, 1972. MENDES, J. S. Crônica do Teatro Ludovicense em Meados do Século XIX (1852-1867): arte, negócio e entretenimento. Dissertação de Mestrado em Artes Cênicas. 195f. São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA/USP, 2014.

Referências Bibliográficas MOHANA, J. M. A Grande Música do Maranhão. 1a ed. Rio de Janeiro: Agir, 1974. O GLOBO, Sâo Luís, p. 3, 7 ago. 1852. O PATRIOTA, Teresina, p. 3, 21 ago. 1892. PACOTILHA, São Luís, p. 3, 22 abr. 1892. PUBLICADOR MARANHENSE, São Luís, p. 2, 2 jun. 1864. SALOMÃO, K. O ensino de música no Maranhão (1860-1912): lugares, práticas e livros escolares. São Luís: EDUFMA, 2016. SILVA SOBRINHO, J. Parte VIII – Música. In: CARACAS, R. J. B.; CARACAS, M. F. R. (Org.). Perfil Cultural e Artístico do Maranhão, Volume II. São Luís: AMARTE, 2006. p. 197-278.

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