História da Música no Maranhão Republicano

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História da Música no Maranhão Daniel Lemos Cerqueira UFMA / UNIRIO / FAPEMA

3. Maranhão Republicano

Entrada do Palacete Emílio Lisboa Atual sede da EMEM

3. Maranhão Republicano

3. Maranhão Republicano 3.1 Música Sacra: eventos continuam a acontecer mesmo sem o cabido da Sé 3.1.1 Litúrgica: quando circula, é sob outra função social 3.1.2 Religiosa: mais diversificada, especialmente com a música evangélica 3.2 Música Laica: canções e música instrumental em contextos não-religiosos

3.2.1 Música de concerto: redução da prática devido à falta de estrutura 3.2.2 Música popular em geral: aumento considerável, especialmente através dos meios de comunicação em massa (rádio, gravações, televisão, internet)

3.2.2 Música popular “maranhense”: surge a partir da década de 1970, com o uso de elementos musicais das tradições folclóricas do Maranhão 3.3 Música africana do Maranhão: valorização e exploração turística dos folguedos

3.4 Música indígena: provavelmente permaneceu sob práticas semelhantes

3. Maranhão Republicano Início promissor? Após a Proclamação da República em 1889, o Maranhão teve uma “sobrevida” na música de concerto graças à prolífica prática ocorrida a partir da segunda metade do século XIX e que se estendeu até o início do século XX, com a criação de uma escola de música estadual que existiu entre 1901 e 1911. Entretanto, a falta de apoio institucional do governo e da iniciativa privada para garantir essa permanência levou à redução progressiva desse tipo de música, sendo a “causa e efeito da estagnação histórica maranhense” (DANTAS FILHO, 2014, p. 53).

Poucos músicos, como Marcellino Maya (ca.1870-1935), cruzaram “gerações” e vivenciaram esse contexto, atuando tanto no Império quanto na República. Serão apresentados adiante alguns desses personagens.

3. Maranhão Republicano Músicos que cruzaram gerações Antonio dos Reis Rayol (1863-1904): tenor, violinista, regente e compositor. Teve um papel de liderança no meio musical maranhense. Organizava eventos, dava aulas e dirigia clubes musicais. Iniciou seus estudos de música com seu irmão Leocádio, na viola. Passou a compor danças de salão e reger grupos musicais em São Luís. No início da década de 1890, foi para o Rio de Janeiro tentar carreira como tenor. Foi subsidiado pelo Conde de Leopoldina para ficar seis meses na Itália, em 1892. Ao voltar, residiu em São Luís, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. Nessa última capital, foi nomeado professor efetivo e diretor de orquestra do Conservatório Musical em 1899. Porém, voltou para o Maranhão em 1900 para ser professor de música da Escola Normal. Em 1901, foi criada a primeira Escola de Música do Estado do Maranhão, a partir de suas “Aulas Nocturnas”. Dirigiu-a até 1904, quando faleceu.

3. Maranhão Republicano Músicos que cruzaram gerações Antonio se manteve eclético mesmo após voltar de Milão. Atuava em festas religiosas, de carnaval, eventos políticos e teatros, além de fazer bailes e soirées em sua casa. Deixou obras sacras, orquestrais, música de câmara, muitas danças de salão e a ópera “Iracema”, cuja partitura está perdida. A quadrilha “Carnaval de 88” faz uso de temas populares de bumba-meu-boi, reis da Bahia, maná e caninha verde, característica do nacionalismo folclorista. Teve popularidade em sua época especialmente às menções do jornal “Pacotilha” – que ajudou a promover em 1880.

3. Maranhão Republicano Iconografia Capa da polca “La Cave d’Or”, editada no Recife por Pestana dos Santos & Cia.

3. Maranhão Republicano O livro didático “Noções de Musica” Escrito em 1903 por Antonio Rayol para uso na primeira Escola de Música do Estado do Maranhão. Foi publicado na Typografia do Frias que editava o Diario do Maranhão, concorrente da Pacotilha. A partir de então, os redatores desse último jornal passaram a atacá-lo. Os resquícios do livro oferecem informações sobre como se pensava o ensino e as valorações sociais da música no Maranhão nessa época – objeto de estudo da violoncelista e professora Kathia Salomão em seu mestrado (2016).

3. Maranhão Republicano Sobre a influência da música “italiana” no Brasil A música vocal, em especial as óperas e suas árias mais famosas, era o repertório predileto dos teatros brasileiros. Entretanto, alguns músicos e críticos, após conhecer o repertório alemão (wagneriano, em especial) e francês, passaram a questionar a influência da música italiana no Brasil. Antonio Rayol não ficou isento a essas críticas. Segue uma nota de Luís de Castro, feita em 1896:

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX João José Lentini (1865-1940): trompetista, compositor, regente e professor. Natural da Bahia, estudou música no Colégio dos Órfãos de São Joaquim. Chegou ao Maranhão em 1888, atuando como trompetista e professor. Em 1898, foi para Manaus organizar a banda do Corpo de Bombeiros, ensinar na Academia Amazonense de Bellas Artes e afinar pianos. Voltou ao Maranhão para atuar em outras profissões. Com a fundação da Sociedade Musical Maranhense em 1918, voltou a dar aulas de música. Foi professor e diretor da Escola de Bellas Artes a partir de 1922, dando aulas de solfejo e canto orfeônico em São Luís e Parnaíba. As partituras de suas obras – danças de salão e peças de concerto – estão perdidas.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Ignácio Manoel da Cunha (1871-1955): violinista e compositor, filho do artista plástico João Manoel da Cunha Júnior. Fez aulas com o clarinetista Tomé de Sousa (?). Atuou em vários concertos no final do século XIX como spalla da orquestra do Teatro São Luiz. Compôs obras sacras, orquestrais – como a “Abertura Maranhão” – de câmara e danças de salão para cinemas, outro campo em que atuou. Utiliza harmonias típicas do ragtime, utilizando acordes de nona e sexta na tônica – gerando uma identidade particular para sua obra no contexto do Maranhão. Adelman Corrêa o chamava de “príncipe dos compositores maranhenses”.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Elpídio de Britto Pereira (1872-1961): violinista, regente e compositor de Caxias, um dos mais importantes do Maranhão. Estudou em Paris com Paul Vidal três vezes: de 1890 a 1892, 1898 a 1903 e 1913 a 1916. Teve contato com Francisco Braga e Magdalena Tagliaferro. Morou em Belém, Manaus, Rio de Janeiro e, por fim, Mendes (RJ). Trabalhou nos consulados do Brasil na França e na Inglaterra entre 1921 e 1940. Possui peças solo, camerísticas, orquestrais, obras sacras e hinos. Seu balé “Les Pommes du Voisin” foi interpretado 76 vezes no Teatro de la Gaité Lyrique, em Paris. Sua única obra ainda não interpretada é a ópera “Calabar”.

3. Maranhão Republicano Músicos que conviveram com Elpídio Pereira:

Adelelmo Nascimento

Francisco Braga

Alberto Nepomuceno

Paul Vidal

Magdalena Tagliaferro

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX João Sebastião Rodrigues Nunes (1877-1951): pianista, compositor e crítico de música ludovicense. Aprendeu piano observando as aulas de suas irmãs e estudando sozinho. Começou a se apresentar em 1891. Em 1902, foi para o Rio de Janeiro estudar com Arthur Napoleão, sob incentivo de Coelho Neto. Foi se aperfeiçoar na Europa em 1905, retornando no ano seguinte para São Luís. Tornou-se diretor da Escola de Música do Estado em 1907, permanecendo até 1911. Em 1912, foi aprovado em concurso para professor do Instituto Nacional de Música, cargo que ocupou até 1944. Deixou várias obras para piano solo didáticas e de estética impressionista.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Carlos Augusto Barbosa Marques (1876-1936): pianista, regente e compositor, membro de uma tradicional família maranhense. Era sobrinho de Cezar Augusto Marques, autor do importante “Diccionario Historico-Geographico da Provincia do Maranhão” e que era amigo de Antonio Luiz Miró. Carlos compôs várias danças de salão, porém, algumas partituras foram destruídas por cupins mesmo em posse do Pe. João Mohana. Escreveu uma sinfonia, dada como perdida. Foi farmacêutico e engenheiro da estrada de ferro São Luís – Teresina. Participou especialmente de festividades religiosas em anos específicos, como 1916 e 1929, aproveitando para interpretar novamente a Novena de Nossa Senhora dos Remédios, de Miró.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX O movimento musical de São Luís do final do século XIX culminou na criação da primeira escola de música pública em 1901. Entretanto, esse “sonho” acabou em 1911. A partir de então, os músicos passaram a buscar meios de manter suas atividades musicais em paralelo, pois na ausência de cargos estáveis para o músico profissional, precisavam se dedicar a outras atividades. Tiveram papel fundamental a Sociedade Musical Maranhense (SMM), o Casino Maranhense e a Sociedade de Cultura Artística do Maranhão (SCAM). Em 1974, foi criada uma nova escola de música estadual, dessa vez em caráter permanente. Porém, os altos e baixos da gestão cultural no Maranhão prejudicam o desenvolvimento da área em longo prazo – especialmente devido às políticas implementadas ao longo da história pela Secretaria de Cultura do Estado ou seu órgão equivalente. A seguir, serão apresentadas as trajetórias de alguns músicos desse contexto.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Adelman Brasil Corrêa (1884-1947): flautista, regente, compositor, professor e crítico de música. Teve papel de liderança em São Luís. Em 1918, reuniu músicos da cidade para criar a Sociedade Musical Maranhense (SMM), presidindo-a por vários mandatos até 1947. A partir dela, foi criada uma Escola de Música em 1920 que se tornou a Escola de Bellas Artes. Em 1926, foi preso por ordem de Godofredo Vianna. Em 1929, fez uma tournée passando por Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro. Deixou várias obras orquestrais, entre elas a Sinfonia Maranhense, composta em 1930. Suas críticas possuem fontes valiosas sobre a música maranhense.

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa As notas escritas pelo flautista oferecem valiosos subsídios sobre as práticas musicais do Maranhão durante a primeira metade do século XX. Seguem adiante as transcrições de algumas delas: Pacotilha, 21 nov. 1905: “Passa hoje o 1.º aniversário da morte do ilustre maestro – o primeiro tenor brasileiro – Antonio Rayol. Como tenor, a velha Itália, “terra da música”, considerou-o o 1.º maestro do Mundo Artístico; como regente, ali organizou vários concertos, com o concurso de distintos maestros como S. Luiz hoje não possui; como harmonista, escreveu sua Grande Missa Solemne a quatro vozes, coro e orquestra, que foi impressa e executada em Milão em 1892, sendo considerada uma das mais belas obras primais universais. [...] No Maranhão, sua terra natal, era inapreciado e até insultado por muziquins, que desconhecem os menores segredos da Divina Arte”.

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa Correio da Tarde, 30 nov. 1911: “Vemos sempre as companhias, ainda mesmo as de variedades, acompanhadas das primeiras figuras da orquestra além do diretor. É uma delícia depois de organizada ver-se um bombardino ou oficlide executar a parte de violoncelo ou fagote. As trompas foram substituídas pelos cornetins de pistons, imagine o meu amigo o desgosto que este absurdo causa a um regente consciencioso. O professor é obrigado a fazer-se de forte e executar todas as anotações constantes da sua parte para não prejudicar o efeito [...] Arrojadamente já foi executada por limitadíssimo número de instrumentistas a sinfonia do Guarany, de Carlos Gomes. Tem trabalhado como há muito não se trabalhava. É uma conquista e das mais belas. Os elementos de que dispõem além da competência de muitos, são os seus esforços. É inegável.”

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa Pacotilha, 15 mai. 1915: “Nós artistas quase sempre estamos a queixar-nos do indiferentismo do nosso público pelas coisas de arte. Chegam alguns, mesmo, a afirmar que é no norte, especialmente, que isso se dá. Sempre fui da opinião que, não é só o norte que se ressente de tal defeito, se de defeito a isso posso qualificar. [...] Não é raro ouvirmos o disparate que o Maranhão artístico é inferior a muitos dos menores estados da União. Ainda é corrente que já fomos um povo mais artista do que atualmente somos, e confirma tal notícia os poucos professores que restam desse bem-fadado período, fazendo ruir por terra a opinião contra a minha, há pouco expendida. O Maranhão é tanto dotado de arte como os mais irmãos. O indiferentismo que aqui se nota, é da mesma forma notado nas outras capitais.”

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa Pacotilha, 3 jun. 1915: “Em um lugar onde a música tivesse percorrido um curso que não este que no Maranhão percorre, onde já estivesse firmada uma escola própria, Faustino Rabelo, passaria despercebido. Acontece, no entanto, ao contrário, nas futuras páginas da história da música entre nós. Ele aparecerá com o seu valor relativo, como um trabalhador que serviu de incentivo a muitos que ainda nos seus dias de vida o ultrapassaram e empanaram que uma parte do então lhe pertencia...”

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa Pacotilha, 29 dez. 1917: “Já tive ocasião de mostrar que o violão é um instrumento excluído da palheta instrumental, aparecendo no conjunto orquestra, que me lembre agora, em um trecho do Barbeiro de Sevilha, de Rossini, e em outro da ópera Oberon, de Weber. Preciso justificar que ataquei, nos pontos vulneráveis, o instrumento vagabundo, tangido por ineptos trovadores, exploradores absolutos do respeitável vocábulo – Arte. [...] Josefina Robledo acha-se de passagem nesta capital. Bom seria que nós, sempre apreciadores da boa música, a ouvíssemos, com ouvidos de artistas, com ouvidos de quem gosta do que é bom. [...] dir-se-ia que a concertista, francamente, possuía mais de 10 dedos, tal a quantidade de sons que os ditos magicamente arrancam do instrumento... Só se vendo e ouvindo, que contando não se acredita.”

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa Pacotilha, 11 mar. 1921: “A Sociedade Musical Maranhense empenha-se há cerca de 3 anos na divulgação da música por meio de audições. Não é, todavia, correspondido o esforço que empregam os membros dessa associação, visto como, para difundir a arte dos seus, a mais fina, a mais bela de todas as artes belas, abrem mão de qualquer remuneração, e fazem, gratuitamente, quer os concertos de orquestra, quer os de solos de canto, de instrumentos diversos com acompanhamento de piano, quer ainda os do conjunto orquestral. [...] Empenha-se a Sociedade Musical em divulgar produções de músicos nacionais, com especialidade as de maranhenses. É impossível, porém, organizar programas exclusivamente compostos dessas produções; por isso, enxergando a necessidade de ampliá-los, vai aos compositores estrangeiros, colhendo nas suas obras primas trechos acessíveis ao público maranhense.”

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa Pacotilha, 7 mar. 1922: “O ensino artístico não tem progredido no Maranhão. A sua decadência é notória. Tínhamos uma escola de música e suprimiram-na [...] Já em tempo, todavia, de se tentar alguma coisa no sentido de dotar o Maranhão de um pequeno centro de cultura artística. A experiência de todos os dias nos revela um grande número de vocações para as artes que aqui só os tinham a falta de cultura. Não temos o direito de ficar impassíveis, diante dessa gente nova que quer saber e não tem onde aprender. A cultura artística é um fator poderosíssimo de progresso social que temos descurado. Aparelho educativo onde ela não figura é organismo deficiente. Cuidamos de dotar o nosso de um órgão que a assegure, na escala das nossas possibilidades.”

3. Maranhão Republicano As críticas de Adelman Corrêa Pacotilha, 13 mai. 1930: “Compus, orquestrei, ensaiei e vou executar a 13 do corrente, a Sinfonia Maranhense. São trechos da terra, populares, desenvolvidos, estilizados, entre outros que julgo meus, originais. Tratandose de uma composição de tal natureza, nada mais justo que apelar para a bondade dos meus patrícios, especialmente dos meus colegas músicos, para que ajuízem, julguem tanto na técnica orquestral, como na da composição, sob qualquer ponto de vista. É a primeira vez, ao que saiba, que se aproveita, de semelhante maneira, o folclore maranhense.”

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Alfredo Gentil Verdi de Carvalho (1885-1937): pianista, regente e compositor ludovicense. Foi ainda criança para o Recife, onde fez seus estudos musicais. Em 1910, foi para Manaus, onde atuou como pianista e professor. De volta ao Maranhão em 1912, tornou-se pianista do Cinema São Luiz. Em 1913, abriu uma escola de música em sua casa. Voltou para o Recife no ano seguinte para dirigir a orquestra de uma companhia de operetas – sua principal atividade. Retornou a São Luís em 1919 para dirigir a orquestra do Cine-Teatro Éden. Deu aulas na Escola de Bellas Artes. Em 1924, foi para o Rio de Janeiro dirigir a orquestra da Companhia Brasileira de Operetas, onde ficou até sua morte. Deixou várias canções e danças de salão.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Pedro Gromwell dos Reis (1887-1964): violinista, compositor, regente e professor. Formou-se na primeira Escola de Música do Estado em 1904. Foi um dos poucos músico da primeira metade do século XX que se dedicou “apenas” a atividades musicais. Tocava em bailes até altas horas da madrugada, em navios a vapor e em orquestras de cinemas (campo de trabalho que existiu até 1930). Foi regente da banda da Escola de Aprendizes Artífices e da Escola Técnica Federal do Maranhão. Chegou a atuar na criação da Ordem dos Músicos do Maranhão (OMB/CRMA). Deixou hinos, danças de salão e peças didáticas.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Othon Gomes da Rocha (1904-1967): regente de bandas e professor de música. Natural de Coelho Neto, fez um importante trabalho de reestruturação das bandas do interior, inicialmente com a Lira Joaquim Nunes de sua cidade e depois com a Renascença Coroataense, de Coroatá. Era funcionário da Estrada de Ferro São Luís – Teresina, e provavelmente conheceu Carlos Marques. Foi regente da banda da Escola Técnica Federal do Maranhão na década de 1960, após a saída de Pedro Gromwell dos Reis. É um dos músicos que possui a maior quantidade de partituras no APEM: 166 obras.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Alfredo Mecenas Barbosa (18??-19??): regente de bandas em Riachão, Balsas e Carolina. Antonio Felix Borges Guanaré (1894-19??): regente de bandas em Anajatuba, Rosário, Itapecuru-Mirim, Arari e São Luís.

Josias Chaves Belleza (1899-ca.1980): saxofonista e regente caxiense. Mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 1940. João Carlos Dias Nazareth (1911-1986): regente de bandas em Cururupu e São Luís. Jocy Neves Rodrigues (1917-2007): natural de Tutóia, foi padre e regente de coral. Compôs vários acompanhamentos para salmos em gêneros regionais, como baião e “xote” (schottisch). Fez um livro sobre escalas da música regional.

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Casino Maranhense: fundado em 1888, era uma das principais sociedades musicais do século XX, junto com o Centro Caixeiral e o Grêmio LíteroRecreativo Português. Colaborou com a Sociedade Musical Maranhense (SMM) durante toda a sua existência, cedendo seus estabelecimentos para reuniões e concertos. “Orquestra” Irmãos Parga: atuante entre 1904 e 1934, foi o principal grupo camerístico de São Luís da primeira metade do século XX. Atuavam os filhos do flautista Joaquim Zeferino Ferreira Parga (ca.1834-1907), sendo Joaquim Possidônio (1871-1909), Tancredo (ca.1870-1940), Raymundo (ca.1875-1935) e Hermenegildo Parga, além de outros músicos da capital como Raymundo Cerveira (1862-1924), Raymundo Cypriano Baptista (o principal afinador de pianos de São Luís) e o pe. Dionisio José Algarvio (18??-1938).

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Foto da “Orquestra” Irmãos Parga (O MALHO, 1917):

3. Maranhão Republicano Músicos da República à primeira metade do século XX Jazz Alcino Bílio: criado em 1930 após o falecimento do jovem violinista Alcino Billio (1904-1929) pelo pianista José de Ribamar Passos, o “Chaminé” (19061965), o saxofonista Paulo Augusto de Almeida, “Paulino Almeida” (1904ca.1950) e o contrabaixista Raymundo Canuto dos Anjos (ca.1880-1940). Foi o principal grupo de jazz do Norte do país até aproximadamente 1959. Vários músicos que tiveram relevante atuação em outros Estados, a exemplo dos saxofonistas João Balby (1914-2004) de Viana e Hélcio Brenha (1923-) de São Bento atuaram nesse grupo.

Rádio Timbira (PRJ-4): fundada em 1941, promoveu inicialmente um importante movimento ao contratar músicos e grupos camerísticos para se tocar ao vivo – técnica chamada de broadcasting. Entretanto, com o tempo, passou a veicular somente música gravada, assim como as demais rádios comerciais de hoje.

3. Maranhão Republicano Bandas de fanfarra na primeira metade do século XX No interior do Estado, as bandas continuaram tendo papel fundamental para a manutenção das práticas musicais. O Pe. Mohana aponta a atuação de mestres em várias cidades, apresentadas a seguir: Alcântara: Francisco Maranhense Freire de Lemos, Honorio Joaquim Ribeiro e Henrique Ciriaco Ferreira; Anajatuba: Antonio Guanaré Arari: José Gonçalves Martins (banda Sant’Anna), Antonio Guanaré (banda Dr. Urbano Santos) Balsas: Alfredo Mecenas Barbosa Barra do Corda: José da Providência Carolina: Alfredo Mecenas Barbosa Carutapera: José Alípio de Moraes Filho

3. Maranhão Republicano Bandas de fanfarra na primeira metade do século XX Caxias: Antonio Cariman (Reação), Alfredo e Josias Belleza (Euterpe Cariman) Codó: Sebastião Pinto Coelho Neto: Othon Rocha e Godofredo Rosa Coroatá: Othon Rocha (Renascença Coroataense) Cururupu: José Alípio de Morais, João Carlos Dias Nazareth Imperatriz: José da Providência Itapecuru-Mirim: Sebastião Pinto, Antonio Guanaré (banda Sete de Setembro) Penalva: Antonio Gama Pinheiro: Honorio Joaquim Ribeiro Riachão: Alfredo Mecenas Barbosa Rosário: Antonio Guanaré Viana: Miguel Dias, Raymundo e Temístocles Lima (“Velho Piloto”)

3. Maranhão Republicano Bandas de fanfarra a partir da segunda metade do século XX Atualmente, a Federação Maranhense de Bandas e Fanfarras (FEMBAF) organiza encontros e concursos de bandas em nível estadual. Segundo o projeto Bandas de Música da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE), o Maranhão possui 43 bandas registradas – que, obviamente, é muito inferior à quantidade real.

Vários municípios criaram escolas de música para manter as práticas musicais de bandas, extintas na maioria das vezes devido ao falecimento de seus mestres ou apoiadores. A prof.ª Beatriz Sousa, do Colégio Universitário (COLUN/UFMA), coordenou uma pesquisa sobre as bandas de música de Pinheiro, registrando as atividades das quatro bandas de música existentes atualmente na cidade. Seria de grande valia que mais investigações do tipo fossem realizadas.

3. Maranhão Republicano Bandas de fanfarra a partir da segunda metade do século XX O projeto “EMEM Itinerante”, realizado entre 2013 e 2014, contemplou as seguintes cidades com suas respectivas bandas e escolas: Açailândia: Escola de Música Professor Zezão Alcântara: Escola de Música de Alcântara Anajatuba: Escola Agrícola Quilombola Renato Guinépero Bacabal: Escola de Música Maestro Almir Garcêz Assaí Bacurituba: Escola de Música Sebastião Ewerton Barra do Corda: Banda de Música Joaquim Bílio Barreirinhas: Escola de Música de Barreirinhas Cedral: (registro não encontrado) Grajaú : (registro não encontrado) Guimarães: Núcleo de Música do Bombeiro Mirim

3. Maranhão Republicano Bandas de fanfarra a partir da segunda metade do século XX Humberto de Campos : (registro não encontrado) Itapecuru-Mirim: Escola de Música José Bandeira Miranda do Norte: Escola de Música Francisco Pontes Linhares Pastos Bons: Escola de Música Zacarias Rego Santa Rita: Escola de Música Bruno Ferreira da Silva Vitória do Mearim : (registro não encontrado) A página mantida pela FEMBAF em rede social também oferece informações e fotos sobre bandas marciais e de fanfarra de vários municípios maranhenses. Endereço: https://www.facebook.com/fembaf .

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Até a década de 1930, o piano continuou sendo um instrumento popular em São Luís, conforme os relatos de jornal. Diversas pianistas se destacaram como solistas, acompanhadoras e professoras, sendo que várias delas se formaram em outros Estados. Organizavam recitais no Teatro Arthur Azevedo ou em suas residências, muitas vezes para seus alunos. Porém, o interesse social pelo piano foi diminuindo com o tempo. Destaca-se o livro “Uma história do piano em São Luís do Maranhão, da pianista Paula Figueirêdo da Silva (2015). Serão contempladas adiante as trajetórias de algumas dessas pianistas.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Alice Serra Martins (1874-19??): pianista acompanhadora e professora de piano, atuante a partir da década de 1890. Fazia parte de uma família de músicos. Seu irmão, Tancredo Serra Martins (ca.1876-1913), tocava violino. Provavelmente estudou com Antonio Facióla. Em 1913, foi nomeada professora normalista, passando a ensinar canto orfeônico em 1930. Lydia Martins da Serra Pontes (ca.1870-1932): prima de Alice, era pianista e professora de música da Escola Normal. Seu livro de peças para piano, copiadas à mão, foi encontrado pelo Pe. João Mohana e está disponível hoje no Arquivo Público do Maranhão (APEM). Nele constam algumas obras de Ignácio Billio e uma composição sua, “Recordação da Infância”, dedicada a seu avô Theotônio Albino Martins (ca.1802-1892), que lutou na Balaiada.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Almerinda Ribeiro Nogueira (1880-1944): pianista solista e acompanhadora atuante no Maranhão entre 1894 e 1911. Formou-se no Instituto Nacional de Música. Foi diretora interina da primeira Escola de Música do Estado, entre 1904 e 1906. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1912, ao se casar com Adolf Odebrecht. Maria Laura Ewerton Santos (ca.1880-1951): pianista acompanhadora e professora de piano com relevante atuação entre 1894 e 1950 em São Luís. Estudou com João Nunes e, provavelmente, com Antonio Facióla. Atuou ao lado dos irmãos Rayol, Carlos Marques, Marcellino Maya, João José Lentini, Ignácio Cunha, Elpídio Pereira, Adelman Corrêa e Henrique Bluhm Filho, além de vários concertistas em tournées a São Luís. Foi professora da Escola de Bellas Artes e pianista da Rádio Timbira.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Jovina Soutto Mayor d'Almeida Santos, "Sinhasinha Santos" (ca.1885-19??): professora de piano atuante durante a primeira metade do século XX. Estudou com João Nunes. Residia no palacete da família Soutto Mayor, que abrigou o Teatro-Cine Éden e atualmente sedia a loja Marisa.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Adelina Rosenstock (1886-19??): pianista portuguesa que se mudou para São Luís em 1914, atuando até cerca de 1920. Foi professora do Conservatório de Lisboa. Participou dos encontros musicais no palacete de Emílio Lisboa.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Nila Gonçalves de Araújo (18??-19??): professora de piano atuante entre 1910 e 1940. Formou-se com João Nunes na primeira Escola de Música do Estado, sendo indicada pelo próprio pianista como sua principal discípula na época. Helena Reis Palhano de Jesus (18??-19??): pianista solista e acompanhadora que teve importante atuação nas décadas de 1900 e 1910. Provavelmente estudou com Antonio Facióla. Atuou ao lado de Antonio Rayol na primeira Escola de Música do Estado. Mudou-se para Niterói por volta de 1915.

Ayrine Neyde de Oliveira (18??-19??): professora de piano, colega de Sinhasinha Santos e Nila Araújo. Formou-se na primeira Escola de Música do Estado, com João Nunes. Foi professora da Escola de Bellas Artes e da Escola Modelo. Participava das bancas examinadoras de música do Liceu e da Escola Normal.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Esmeralda Billio Martins Couto (1896-1984): professora de piano formada na primeira Escola de Música do Estado. Foi discípula de João Nunes. Lecionou durante toda a vida em São Luís. Esther Santos Marques (?-19??): pianista e professora formada pelo Instituto Nacional de Música, na classe de Alfredo Fertin de Vasconcellos. Foi para São Luís por volta de 1923, atuando como solista durante essa década. Deu aulas particulares de piano a partir de 1926, atuando até a década seguinte.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Maria José de Carvalho Moreira, "Sinhazinha Carvalho" (1897-19??): professora de piano que também atuou durante a primeira metade do século XX. Formou-se no Conservatório Carlos Gomes, no Pará. Foi diretora do Instituto Musical São José de Ribamar e pianista da Rádio Timbira.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Lilah Lisboa de Araújo Costa (1898-1979): pianista, professora de piano e produtora cultural. Seu pai, Emílio Lisboa, fazia recitais em seu palacete, e estimulou várias de suas filhas a estudarem piano, entre elas Hilda Lisboa de Albuquerque Mello (1895-1986). Lilah estudou com João Nunes, Adelina Rosenstock e, no Instituto Nacional de Música, com Luiz Amábile. A partir da década de 1920, passou a dar aulas em São Luís, tanto particulares quando em seu Jardim de Infância Musical. Atuou como pianista e diretora artística da Rádio Timbira. Em 1948, criou a Sociedade de Cultura Artística do Maranhão (SCAM), entidade que manteve o movimento musical em São Luís após o fim da Sociedade Musical Maranhense (SMM) no ano anterior. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1956, indo residir na casa de sua irmã Hilda. Foi professora de várias pianistas maranhenses atuantes na segunda metade do século XX.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Lilah Lisboa em um coral de alunas (SILVA, 2015, p. 102):

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Creusa Tavares Loretto (1904-1986): professora de piano. Em São Luís, estudou com Nila Araújo, formando-se pelo Instituto Nacional de Música com João Nunes. Lecionou em São Luís entre 1928 e 1943, quando se mudou para o Rio de Janeiro após o falecimento de seu pai, Alberto Tavares da Silva. Em seu palacete, ele organizava eventos musicais, assim como fazia Emílio Lisboa. Lygia Barbosa (1905-1926): pianista do Teatro-Cine Éden. Estudou com Laura Ewerton na Escola de Bellas Artes. Escreveu algumas danças de salão. Faleceu precocemente aos 21 anos durante um tratamento de saúde, em Quixadá (CE). Walkíria Ferreira Netto (1926-): professora de piano atuante durante muitos anos na capital maranhense. Estudou com Laura Ewerton, Sinhasinha Santos e Zeimar Lima. Vários músicos atuantes durante a segunda metade do século XX estudaram com ela.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Undine Lisboa de Albuquerque Mello (ca.1920-2011): filha de Hilda e sobrinha de Lilah Lisboa, Undine foi um prodígio em sua infância. Iniciou seus estudos com Manoel Augusto no Recife. Formou-se no Instituto Nacional de Música, com Oscar Guanabarino. Nas décadas de 1930 e 1940, passou a se apresentar em São Luís e no Rio de Janeiro. Posteriormente, passou a dar aulas de piano nessa última capital. Magnólia Santos (1932-): pianista acompanhadora e professora de piano atuante em São Luís durante várias décadas. Filha de Laura Ewerton, estudou com Zeimar Lima e Lilah Lisboa. Passou a dar aulas a partir de meados da década de 1940.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Adelmana Corrêa Torreão (1929-1985): neta de Adelman Corrêa, teve uma carreira brilhante como pianista. Iniciou seus estudos com Lilah Lisboa em São Luís, indo se formar no Instituto Nacional de Música com Liddy Mignone. Fez aulas particulares com Arnaldo Estrella e participou das masterclasses de Magdalena Tagliaferro. Fez várias tournées na França, Itália, Espanha, Portugal e Argentina. Ganhou bolsas de estudos na França e na Itália, onde estudou com Renata Borgatti e Nikita Magaloff. Foi professora do Conservatório Brasileiro de Música, além de atuar na organização de eventos como os Festivais de Verão de Petrópolis, que contaram com aulas de Guerra-Peixe. Fez vários programas para rádio e televisão no Brasil, em Portugal e na Espanha. Gravou toda a obra de piano de Lorenzo Fernandez na França. Faleceu tragicamente em 1985, assassinada em sua casa.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Foto de Adelmana Torreão em 1949, antes de um concerto no Maranhão (DIARIO DE S. LUIZ, 1949):

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Maria José Cassas Gomes (1939-), “Zezé Cassas”: pianista e professora da Escola Técnica Federal (atual IFMA). Estudou com Lilah Lisboa em São Luís, formando-se na Escola Nacional de Música com Ilara Gomes Grosso. Em 1974, foi diretora da Escola de Música do Estado do Maranhão (EMEM), fundada graças aos esforços do barítono José Ribamar Belo Martins (1927-2001) Manteve sua atuação como pianista, e gravou três discos em 2005, 2009 e 2012, contemplando obras de J. S. Bach, Domenico Scarlatti, Beethoven, R. Schumann, F. Chopin, Camargo Guarnieri e do pianista maranhense João Nunes.

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX Foto da formatura de Zezé Cassas (SILVA, 2015, p. 121) e da homenagem feita à pianista no IFMA em 9 de agosto de 2011:

3. Maranhão Republicano O piano maranhense durante o século XX A trajetória dos professores de piano da EMEM. São eles, conforme a pesquisa de Ferreira (2014): João Solano, Flávio Gentil Campos, Alaide Pavão, Talita Saraiva, Mércia Pinto, Ronaldo Caron, José Nilson Rufino, Daniel Nascimento, Joseleno Moura, Rose Mary Fontoura, Ana Neuza Araújo Ferreira, Helen Regina Benevenuto e Silva, Leni Cotrim Nagy, Joezer de Souza Mendonça, Andréa Lúcia Rodrigues dos Santos Ferreira. Investigar a atuação de professores de piano particulares de São Luís. Alguns deles: Paula Figueirêdo da Silva, Calebe Vidal Nunes Alves, Evgeny Itskovich. Investigar a situação da prática pianística no interior do Maranhão.

3. Maranhão Republicano Músicos a partir da segunda metade do século XX José Ribamar Belo Martins (1927-2001): barítono e administrador musical de crucial importância para o Maranhão. Estudou no Conservatório Brasileiro de Música (CBM) e no New England Conservatory, nesse último com bolsa do governo norteamericano. Fez concertos em São Luís e no Rio de Janeiro. Voltou ao Maranhão para trabalhar no Ministério Público Federal e dirigir a SCAM entre 1956 e 1967, criando o Coral do Maranhão e a Academia de Música do Estado do Maranhão (AMEM). Em 1971, seu tio Pedro Neiva de Santana foi eleito governador, nomeando-o como diretor da Fundação Cultural do Maranhão (FUNC/MA), fato que permitiu a criação da atual Escola de Música do Estado do Maranhão (EMEM) em 1974.

3. Maranhão Republicano Músicos a partir da segunda metade do século XX Foto do Coral do Maranhão, presente na capa da primeira edição de seu disco:

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Reportagem sobre a situação da EMEM em 1976:

A trajetória da EMEM foi estudado pela Prof.ª Me. Ana Neuza Araújo Ferreira em sua dissertação de Mestrado (FERREIRA, 2014).

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Gestão da Cultura pelo governo estadual (MARANHÃO, 2015): • Departamento de Cultura do Estado (DCE), de 1954 a 1971. Dirigido por mais de quinze anos por Domingos Vieira Filho. Apoio quase que exclusivo à literatura, buscando reconstruir o epíteto da “Atenas Maranhense”;

• Fundação Cultural do Maranhão (FUNC/MA), de 1971 a 1981: breve gestão de José Martins permitiu a fundação da EMEM. EM 1975, Vieira Filho retorna e passa a focar no folclore, política cultural em vigência até a atualidade; • Secretaria de Estado da Cultura (SECMA), de 1981 a 2015: políticas voltadas à manutenção das instituições do órgão. Mecanismos de apoio são criados como o FUNDEC/MA em 1984 (nunca funcionou) e a Lei de Incentivo em 2011; • Secretaria de Estado da Cultura e do Turismo (SECTUR) a partir de 2015.

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX As duas etapas das Políticas Públicas de Cultura no Maranhão (CERQUEIRA, 2017):

1) Ênfase no apoio à Literatura, sob a tentativa de reconstrução da “Atenas Maranhense” (1953-1974)

2) Ênfase na exploração turística do folclore (desde 1974)

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Algumas políticas de apoio cultural em outros Estados (CERQUEIRA, 2017): 1. Financiamento de projetos: leis de incentivo e fundos de cultura estaduais; 2. Intercâmbio: passagens e hospedagem para grupos artísticos e de produção cultural circularem no território estadual; 3. Acesso a espaços culturais: liberação de pautas para artistas independentes e projetos culturais de pequeno porte; ocupação dos espaços com temáticas relevantes para a sociedade; 4. Capacitação: apoio à realização de cursos e formação acadêmica para artistas e produtores culturais; 5. Eventos para públicos massivos: otimizar a gestão, permitindo que haja espaço para grupos, artistas e produtores culturais independentes;

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Continuação (CERQUEIRA, 2017): 6. Inovação artística e cultural: apoio a projetos culturais criativos – que se opõem às lógicas de mercado e de “preservação” do patrimônio cultural; 7. Autonomia institucional: permitir que instituições culturais ligadas ao Estado possam captar recursos e não depender somente do órgão superior (no caso, as Secretarias ou Fundações de Cultura).

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Alguns exemplos de ações e programas culturais em outros Estados: Apoio a bandas e fanfarras (MG/CE): doação de instrumentos musicais, oferta de cursos de capacitação para regentes e apoio para realizar encontros e festivais; Música Minas (MG): pagamento de passagens para grupos e artistas em nível estadual, nacional e internacional; Microprojetos/Projetos sem reembolso (RS/SP/RJ/MG): apoio a iniciativas de pequeno porte sem exigir prestação de contas – visa a ajudar artistas independentes, mestres da cultura popular e “pequenos” produtores culturais; Publicação de Editais: todos os programas são regulamentados por editais, oferecendo transparência pública acesso por parte de todos os interessados.

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX O que a Secretaria de Cultura [e Turismo] oferece hoje para acesso democrático? 1. Lei de Incentivo à Cultura, que aceita apenas submissões por pessoa jurídica; 2. “Chamadas” para os festejos juninos, que restringem a participação somente para grupos que atuam na “cultura maranhense” (definida pelo Estado);

DESDE 1953, NUNCA FOI REGISTRADA A PUBLICAÇÃO DE UM ÚNICO EDITAL DE APOIO A PROJETOS CULTURAIS, INTERCÂMBIO, CAPACITAÇÃO OU REGULAMENTAÇÃO DE ACESSO A ESPAÇOS CULTURAIS PELO ÓRGÃO GESTOR DA CULTURA NO MARANHÃO

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Afirmação de Nestor García Canclini (1983, p. 42) sobre a política cultural estatista na América Latina: Afirmamos que, para esta concepção, o nacional reside no Estado e não no povo, porque este é aludido como destinatário da ação do governo, convocado para aderir a ela, mas não é reconhecido genuinamente como fonte e justificativa desses atos a ponto de submetê-los à sua livre aprovação ou retificação. Ao contrário, exige-se que as iniciativas populares se subordinem aos ‘interesses da nação’ (fixados pelo Estado) e as tentativas de organização independente das massas são desqualificadas. Também costuma-se recorrer à origem étnica ou ao orgulho histórico, para reforçar a afirmação nacional.

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Continuação (GARCÍA CANCLINI, p. 42-43): A coesão confusa de setores sociais internos, a indulgência com a qual o folclore exalta os traços nacionais e a atribuição exclusiva das culpas a adversários estrangeiros ou místicos, em relação aos quais o Estado aparece como defensor paternal, são úteis para o Estado populista. Posto que não interessa a intervenção transformadora do povo, para redefinir o projeto nacional, não se favorece a experiência artística nem a crítica intelectual. Os artistas inovadores e os intelectuais independentes são acusados de desligarem-se dos ‘interesses populares e nacionais’. Muitas vezes isto acontece, mas o nacionalismo populista não assinala a verdadeira desconexão entre intelectuais e povo. Sua incompreensão dos requisitos específicos da investigação científica e artística leva-os a...

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Continuação (GARCÍA CANCLINI, p. 43): ...depreciar o trabalho teórico e a autonomia parcial, necessários à produção cultural; ao desconhecer a importância da evolução crítica das massas, julga como estranhos ao povo, mesmo os partidos de esquerda que questionaram a alienação gerada nos oprimidos, por um sistema desigual de acesso à arte e ao saber.

3. Maranhão Republicano Instituições a partir da segunda metade do século XX Há um Plano Estadual de Cultura aprovado pela Assembleia Legislativa do Maranhão, com vigência entre 2015 e 2025. Até o presente momento, quase nenhuma das metas previstas no mesmo foi instituída.

São Luís também possui um Plano Municipal de Cultura, com vigência de 2013 a 2023. Precisamos exigir que as administrações que se sucederem à elaboração do plano, independentemente de partido político, sigam as metas desses planos, que foram elaborados com ampla participação popular – incluindo os profissionais que atuam na Cadeia Produtiva da Cultura em geral e da Música em particular.

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX O movimento Laborarte, do início da década de 1970: • Proposta de criação estética com base no folclore maranhense; • Características semelhantes ao nacionalismo folclorista brasileiro;

• Na música, a criação da sigla MPM: “Música Popular Maranhense”; • Tendência em ser definida como a produção “nativa” e “legítima” do povo maranhense, justificando assim ser tratada com “prioridade”;

• Aproximação com as políticas culturais folcloristas do Estado, vigentes a partir da década de 1970.

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX O disco “Bandeira de Aço”, de José de Ribamar Viana, o “Papete” (1947-2016) e lançado em 1978, é considerado o marco inicial da MPM. Baseia-se no mesmo princípio do nacionalismo folclorista de Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, entre outros, fazendo uso de elementos sonoros das tradições “folclóricas”.

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX A partir da década de 1970, com a possibilidade de sintonizar rádios caribenhas no Norte do Maranhão, o reggae se tornou um gênero influente no Estado.

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX Nas últimas décadas, há um crescente interesse no Choro do Maranhão. Grupos, como o Instrumental Pixinguinha (criado em 1980), e professores, a exemplo de José Alves Costa e João Neto, tem contribuído também com a pesquisa artística – levantamento e interpretação de obras características. Ao lado, capa do disco “Choros Maranhenses” gravado em 2006 no Estúdio Refrão pelo grupo Instrumental Pixinguinha. Formação principal: Zezé Alves (flauta), Raimundo Luiz (bandolim), Juca do Cavaco (cavaquinho), Domingos Santos (violão de sete cordas) e Nonatinho (pandeiro).

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX A música popular instrumental – semelhante ao jazz – também tem aumentado. Festivais como o “Lençóis Jazz & Blues” tem promovido intercâmbio cultural, capacitação de músicos locais e geração de empregos diretos e indiretos.

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX A música antiga também passou a ter espaço, com a realização dos Festivais de Música Barroca de Alcântara, iniciativa do empresário Bernard Vassas. O evento trouxe para várias cidades do Maranhão músicos de importância internacional, especialistas na interpretação de época.

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX Os encontros estaduais de bandas marciais e de fanfarras, promovidos pela FEMBAF, tiveram uma interrupção em 2016, mesmo havendo pela primeira vez interesse da Secretaria de Cultura e Turismo em dialogar com a entidade.

3. Maranhão Republicano Movimentos musicais na segunda metade do século XX Já as manifestações musicais de artistas famosos, patrocinados por empresários que investem na cultura apenas para ter mais dinheiro – e não querem nenhum tipo de retorno simbólico, educativo ou inovador – vão de vento em popa...

E tem gente ainda acreditando que música erudita é “coisa de elite”...

3. Maranhão Republicano A questão da poluição sonora Para quem conhece os festejos do Maranhão, a extrema intensidade sonora dos amplificadores – no limiar da dor – deveriam ser um problema de Saúde Pública. Não há nenhuma política do Estado, seja para conscientizar as pessoas (mais interessante, pois esse é um aspecto cultural) ou limitar o uso dos equipamentos.

3. Maranhão Republicano Panorama atual • As rádios não mais incentivam os músicos independentes ou que pretendem construir uma carreira, veiculando apenas gravações de artistas já conhecidos; • A evasão de músicos para outros Estados continua, devido à falta de uma cena consolidada.

• As políticas culturais focam apenas em datas comemorativas e na exploração turística do folclore, e não contribuem para consolidar um espaço profissional; • O Plano Estadual de Cultura, aprovado pela Assembleia Legislativa em 2014, não teve praticamente nenhuma de suas metas instituídas até hoje; • Não há editais de apoio a trabalhos e projetos de músicos profissionais no Estado ou políticas de acesso a pautas de teatros ou espaços culturais;

3. Maranhão Republicano Panorama atual • A música de concerto praticamente desapareceu no âmbito estadual, ficando restrita apenas a pouquíssimas instituições de ensino musical; • O Maranhão é um dos três Estados brasileiros, ao lado de Roraima e Amapá, que não possui uma orquestra profissional;

• Várias bandas marciais e de fanfarra do interior se tornaram escolas de música mantidas pelos municípios; • Criação dos cursos de graduação em Música a partir de 2006, para suprir a demanda da Educação Básica, permitem o acesso à formação superior; • Movimento de composição contemporânea e experimental através dos novos cursos de graduação em Música;

3. Maranhão Republicano Considerações finais Seria interessante que novas pesquisas pudessem abordar os personagens mais recentes da música no Maranhão. Focamos mais detalhadamente apenas até a década de 1950, devido aos limites definidos nesta pesquisa.

Outra carência é a falta de gravações e circulação do repertório maranhense antigo, em especial do século XIX. A criação de grupos camerísticos e de uma orquestra profissional é fundamental para concretizar esse objetivo. Somente Amapá, Roraima e Maranhão não possuem orquestras profissionais, sendo que desses três Estados, apenas o Maranhão possui um histórico relevante com essa formação instrumental.

3. Maranhão Republicano Considerações finais Nossa pesquisa está em andamento, porém, já tem sua delimitação definida. Pretendemos incentivar e apoiar músicos, historiadores, familiares, entusiastas e possíveis interessados em colaborar com a construção de nossa “História” – ou melhor, “Histórias” – da Música no Maranhão, segundo o flautista e professor João Neto. Este breve estudo panorâmico revela o quanto são ricas e diversas são as práticas musicais presentes no Maranhão. Porém, para reconhece-las, é preciso ampliar o conceito de “cultura maranhense” para além daquele imposto e disseminado pelas Políticas Públicas de Cultura do governo estadual desde a década de 1970, percebendo de fato toda a diversidade que existe no Maranhão – e não apenas aquela ligada aos festejos juninos.

3. Maranhão Republicano Considerações finais • Música é um tema de interesse de todos. As pesquisas devem ser elaboradas com isso em mente. • Erudito, popular e folclórico são delimitações frágeis e sempre políticas. • Não existe música “boa” ou “ruim”, e sim valorações em um contexto. • Precisamos nos posicionar politicamente para que o desenvolvimento que desejamos para o setor da Música aconteça ou tenha continuidade. • Devemos valorizar quem produz música, independente da corrente estética. • “Cultura não tem tempo, não tem fronteira nem dono” – a “nossa” cultura sempre nasceu do intercâmbio com outras, e o diálogo cultural sempre existe. Cultura não pode ser pensada como um objeto estático ou imutável.

Referências Bibliográficas CERQUEIRA, D. L. Políticas Públicas de Cultura para a Música em Estados Brasileiros: um estudo comparativo. SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLÍTICAS CULTURAIS, VIII. Anais do... Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa, 2017. DANTAS FILHO, A. P. A Grande Música do Maranhão Imperial, Livro I: História e Vida Musical Maranhense. Teresina: Halley, 2014. DIARIO DE S. LUIZ, São Luís, p. 4, 10 abr. 1949.

FERREIRA, A. N. A. O Ensino de Música no Nordeste: um estudo histórico-organizacional sobre a Escola “Lilah Lisboa de Araújo” em São Luís do Maranhão. Dissertação de Mestrado. 165f. São Luís: PGCult/UFMA, 2014. GARCÍA CANCLINI, N. Políticas Culturais na América Latina. Novos Estudos, v. 2, n. 2. São Paulo, jul-1983, p. 39-51. MARANHÃO. Perfil da Administração Pública - Administração Direta, vol. 1. São Luís: SEGEP/SONPAD, 2015. O MALHO, Rio de Janeiro, p. 26, 28 set. 1917.

Referências Bibliográficas SALOMÃO, K. O ensino de música no Maranhão (1860-1912): lugares, práticas e livros escolares. São Luís: EDUFMA, 2016.

SILVA, P. F. Uma história do piano em São Luís do Maranhão. São Luís: EDUFMA/FAPEMA, 2015.

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