História e passado da América Portuguesa: escritores, religiosos, repúblicos do Brasil no século XVII. In: Formas do Império. Ciência, tecnologia e política em Portugal e no Brasil.. 1ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014, v. 1, p. 143-169.
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História e passado da América portuguesa: escritores, religiosos, repúblicas do Brasil no século XVII e sua fortuna histórica Carlos Ziller Csmenietzki='
Ao tratar o tempo em que éramos portugueses
de "época colonial",
criamos uma história que mais se modela pelo que condenamos em nosso presente do que por aquelas características que nos fazem cornpreendê-lo.
A simples mudança
desse ponto de vista, com a ado-
ção de um olhar que prima pelo urbano e por aquilo que se relaciona à vida intelectual,
nos lança em um mundo vigoroso, rico e capaz de
nos fornecer elementos poderosos e bastante capazes de dar respostas às indagações mais urgentes de nossa realidade. A operação lado algumas
intelectual
não é muito simples: significa deixar de
interpretações
muito pregnantes
ao longo do século
XX e que governaram nossa reflexão sobre a economia, a cultura e a política brasileira, com resultados bastante profícuos e estimulantes para os estudiosos. Em primeiro lugar, significa abandonar Brasil como um domínio que principalmente o deleite europeu -
a ideia do
exportava produtos para
açúcar, tabaco, ouro etc. -,
coisas produzidas
com o braço escravo." Certamente, os povoamentos portugueses da América faziam vir homens da África e os destinavam ao trabalho compulsório nos engenhos, nas fazendas, vilas e cidades. Certamente, ainda, esses africanos e seus descendentes produziam diversos bens de consumo 'Instituto
local e de exportação,
de História
da Universidade
HISTÓRIA
federal
mas crer que essa característica do Riu de janeiro
E PASSADO
DA AMÉRICA
(UfRJl.
PORTUGUESA
I (-I ~
do Brasil de outros tempos possa esgotar os dois primeiros séculos da ocupação portuguesa
do Novo Mundo é demasiadamente
do século passado. Essa estratégia
resumido,
mas também muito consistente
do passado brasileiro,
adotados,
como solução intelec-
tual para mais de duas gerações de escritores, aliviar a insistente inquietação
não conseguem
dos intelectuais
mais voltados do que seus antecessores
brasileiros
mais
da partição
para
a produção
com
de bens de consumo
uma presumida
dos europeus
se completava
vocação rural e com um amolecimento
da cultura dos portugueses
e de seus descendentes,
XX estivesse exatamente modernidade
-
-
os espaços ur-
e obscurecia
o exame da
a cultura urbana da América portuguesa,
e sua pluralidade,
e acentuar apenas o brutalismo
agrárias carregam
num
em São Paulo, polo político e cultural
da
brasileira, em franca expansão para dentro do território.
Desvalorizar
da moral e
enterrados
deixava de lado o terreno conquistado
consolidação de suas realizações. Compreende-se com mais facilidade que o epicentro dessas formulações na segunda metade do século
dos
poderes e das riquezas." Em segundo lugar, a ideia do Brasil voltado integralmente
com os modelos de "modernização"
banos criados na América portuguesa
de hoje,
imediatos para a análise dos
modos de governo, de vida, das formas religiosas,
do Brasil, muito
coerente com os problemas maiores do tempo em que foi formulada,
excessivamente restritivo. Aliás, as formas resumidas de entendimento que já se apresentaram
de compreensão
suas realizações
inexoravelmente
existente nas zonas
o triste corolário
no campo do comércio,
sua política
da exclusão de
da manufatura,
das artes,
engenho no interior da América portuguesa.' Essa imagem, aparentemente generosa, acabou por se associar a uma noção singela, mas
das ciências e da política. Em boa parte, a presente geração de intelectuais vem tentando superar esse modo de ver o passado brasileiro,
desprovida de sentido: a fazenda, o engenho e seus traços mais típicos
ainda que seus resultados apareçam esporadicamente
de costumes dominariam profundamente a vida urbana e a cultura brasileira dos séculos posteriores. Ao que se sabe, a cultura rural não
mentado
predomina
nas sociedades
urbanas,
urbano. É certo que as análises dos costumes
a questões diferentes
daquelas que animam
o presente estudo.
nem mesmo naquelas de urba-
Por outro lado, alterar o ângulo de reflexão de uma economia re-
nização mais recente. O problema, agora já tornado mais complexo, permanecia ligado àquelas coisas que a cultura do engenho gerava no ambiente
ou vinculados
e de modo frag-
sumida, de uma cultura senhorial e agrária, de uma expansão
para o
interior, que não chega nunca a seu termo, para outra, alicerçada
das popula-
nas
cidades, nos territórios já organizados pelos novos ocupantes, na vida intelectual e política da América portuguesa, nos franqueia horizontes
ções em ambientes senhoriais são importantes e integram uma parte significativa daquilo que se pensa ser a cultura e a política do Brasil
sequer impensáveis na varanda de uma casa-grande,
ou no lombo de
de tempos passados. Mas crer que os homens de Salvador, de Olinda,
um jegue, ou ainda no comércio de escoamento
do Recife, do Rio de Janeiro dos séculos XVI, XVII e XVIII vivessem
Mais ainda, os próprios
sob o domínio espacial, religioso e cultural da lógica da casa-grande
dinâmica
é um tanto demasiado,
para estudos mais precisos. É assim que essas opções acabam por fornecer diversos trabalhos importantes feitos por estudiosos alheios
conforme
já foi dito recentemente.'
Por fim, o estudo dos deslocamentos em direção ao interior do continente
populacionais
completava
a imagem do Brasil
formulada no século XX.6 Sempre preocupados então prováveis do território, diversos intelectuais caminhos
da expansão
interna
e percorreram
portugueses
política e cultural,
às opções registradas
com as riquezas mergulharam nos
tempos encurtam,
tempos e geografias
Misericórdias
e as ordens terceiras, as revoltas citadinas,
maras municipais
144
I
FORMAS
verifica-se o
tempo mais restrito e a temática diversa nos exames de instituições e acontecimentos tipicamente urbanos, como o Tribunal da Relação, as
traditar,
tão decantada
como se a cidade, sua
mais acima. Em linha de ruptura,
com invasores, as academias
nacional"
agrária.
precisasse de períodos menos dilatados
diferentes, como se a ocupação pregressa viesse a governar, ou a cona "integração
da produção
na segunda metade
DO IMPÉRIO
E PASSADO
os conflitos
os homens de ciência, as câ-
etc. De fato, o exame das estruturas HISTÓRIA
I
literárias,
DA AMÉRICA
jurídicas n30
PORTUGUESA
I
14)
é algo que se possa fazer com referência ao senhorio agrário, ao qual os tribunais e as suas justiças praticamente vale para os estudos dos mecanismos
não têm acesso;' o mesmo da expansão
nem mesmo nos domínios agrários já incorporados para as academias literárias." Assim, pensar o Brasil na sua dimensão pode se vincular ao estudo sincrônico isso, a reflexão econômicos,
fica mais recheada
religiosos e culturais
de seus bisavós, deixaram
da "assistência social" naqueles
anos, que não teriam vigência na fronteira
mais urbana, elementos
assemelhados
e
e, com
economia,
enfim. Essa estratégia
de interrogação
vasto sistema comercial
citadina
uma
reconhecida
e
sobre o lugar das cidades do Brasil no
lusitano,
permite
ver Salvador
e mesmo a
então pequena cidade do Rio de Janeiro como importantes também da construção
naval do mundo português,
função específica no comércio atlântico territorial tralidade
centros
para além de sua
e no controle da expansão
para dentro do continente.
O exame do passado brasileiro governado citadina
obscurecidas
e de sincronia
durante
também
por princípios permite
iluminar
de cenzonas
longos anos, como, por exemplo, a formação
escolar dos portugueses quele tempo, comparar
do Brasil'? nas instituições pedagógicas daos temas, programas e livros escolares com
aqueles em uso nos colégios de Coimbra,
Lisboa, Élvas, Évora etc.
Permite perceber nos textos escritos pelos portugueses
daqui ao menos
urna parte do que foi estudado em filosofia e em retórica, disciplinas curriculares
básicas naquele tempo em todo o mundo.
Permite ver
que até mesmo os livros didáticos usados nos colégios da Companhia de Jesus no Rio de Janeiro e em Salvador eram os mesmos usados em muitas escolas francesas, os portugueses
I
FORMAS
Enfim, permite situar
do Brasil num terreno mais integrado
pandido pelos europeus. 146
alemãs, espanholas.
DO IMPÉRIO
Portugal-
o impacto,
se
do Brasil na cultura e na
tal e qual os homens daquele tempo o faziam, conforme documentos
já da primeira
(... ) a índia e outros territórios
valorizada, ao menos a partir do início do século XVII, quando a cidade de Salvador enviava representação às Cortes do reino. Abre horizontes
se é possível reconhecer
intelec-
década do século XVII:
aos que se poderia
de estudo descortina
uma vida política e uma cultura
e religiosas;
algum houve, dos escritos dos portugueses
asseguram
políticos,
ver em Lisboa, Aveiro, Angra ou Goa. Dessa forma, o Brasil aparece mais português,
algum resíduo de suas atividades
política do seu tempo. A pergunta pressupõe a ideia de que os do Brasil eram parte integrante do que se reconhecia, do que era efetivamente
política,
nos tempos pregressos daqueles
tuais, políticas
territorial,
e produtivos;"
Adotar esse gênero de abordagem possibilita perguntar se esses portugueses, que fizeram suas vidas a partir das conquistas territoriais
no mundo ex-
pação deste conselho,
ultramarinos
não são diferentes
tal qual o reino do Algarve e qualquer
cujo governo é preocu-
nem separados das províncias
Minho e Douro etc. (... ) e portanto
qualquer
Brasil ou Angola, é tão português
quanto
deste reino, do Alentejo,
um que nasça em Goa,
os que nascem e crescem
em Lisboa."
Para além dos documentos escritos importantes
legais, essa ideia se confirma por diversos
dos tempos imediatamente
posteriores."
Arguir, por exemplo, a nacionalidade de um escritor do Brasil da época que designamos por "colonial" - ao menos até a metade do Século das Luzes, a época de Pombal e da expulsão
da Companhia
de Jesus - carrega um problema grave que pode não encontrar solução na base documental, nem tampouco literária, daquele tempo. Tome-se como exemplo a inquietação livro de Nuno Marques
Pereira Compêndio narrativo do peregrino
da América: Afrânio Coutinho o autor das peregrinações
dos editores e comenta dores do
e Rodolfo Garcia. Para esse último,
certamente
fez seus estudos em Portugal,
pois o Brasil não poderia oferecer os ensinamentos sibilitariam
a escritura
do Compêndio.
básicos que pos-
O Brasil-colônia
era uma
terra rústica que não poderia oferecer os conhecimentos literários que Nuno Marques teria manipulado na composição de sua obra.':' Para esses intelectuais,
não pode haver sequer dúvida da incapacidade
receber uma formação de qualidade em fins do século XVII.
HISTÓRIA
E PASSADO
de
na Bahia ou no Rio de Janeiro
DA AMÉRICA
I'ORTUGUESA
I
147
No entanto,
diversos escritores
brilhantes,
mas também
menos
homens fizeram por aqui também
se torna algo perfeitamente
brilhantes, do século barroco tiveram sua formação básica nas cidades
porcional
da América portuguesa:
Évora; mas também os vincula ao que o velho continente
a começar por António Vieira, que chegara
ao que faziam os lusitanos de Lisboa, de Coimbra
ou de
desenvolvia
menino a Salvador e só saiu de lá padre formado,
e bem formado,
em termos do conhecimento
com mais de trinta anos; o seu confrade
de Sá, de quem
que o labor investigativo de jesuítas do Brasil, de homens que viveram
trataremos
António
mais abaixo, sequer respirou os ares da Europa até fazer
na América portuguesa,
do mundo natural.
pro-
integrou-se
Já ficou registrado
perfeitamente
ao que faziam os
quase quarenta anos! Contudo, o que mais se destaca em termos do que a formação em
sábios da Europa, mesmo na Royal Society, da improvável e pioneira
Salvador poderia oferecer é a obra do matemático José Monteiro da Rocha, que chegara menino na Bahia e só viria a sair da cidade de-
padre Valentin Stansel em Salvador na segunda metade do século XVII. li Não é necessário alongar-se mais nesse personagem e em
pois da expulsão da Companhia
seus trabalhos. O melhor e mais significativo exemplo do que se pode concluir com
Portugal,
de Jesus dos domínios da Coroa de
com mais de 25 anos." Seu livro escrito na Bahia a propó-
sito da observação
do cometa de Halley em 1759 é testemunho
claro
daquilo que se poderia fazer em termos astronômicos e científicos na cidade de Salvador, com uma formação literária e matemática local. Afastar, a priori, a ideia de que a América portuguesa
era capaz de
Inglaterra
anglicana
-
a se lembrar
dos estudos
astronômicos
do
essa alteração de ponto de vista é ainda a ação dos homens do Brasil naquele espaço que eles consideravam próprio: a política de Portugal. Para isso, contudo, é necessário avançar um tanto na discussão conceitual, já que o próprio aparato teórico de que dispomos deprime a
oferecer condições para uma formação consistente a quem desejasse se dedicar ao trabalho intelectual é certamente coisa da geração de
intervenção
Rodolfo Garcia, e não das gerações de António Vieira, Nuno Marques
pública." Nas primeiras décadas do século XVII, a palavra designava
Pereira e de José Monteiro da Rocha. Afinal, as ideias fundamentais em matéria pedagógica e filosófica eram muito diversas nessas temporalidades,
como não poderiam
deixar de ser: no início do século
XX, voltadas para a alfabetização da população,
e a educação
porque isso se considerava
de largas camadas
necessário,
quase que um
pública nos acontecimentos
Um importante
da política daquele tempo.
termo de época vem a calhar neste momento:
aqueles que intervinham
"re-
na política com escritos e ações públicas,
guiados pelo "bem comum", sem fazê-Ia por dever de ofício - como os religiosos o faziam - e sem agir necessariarr.ente em benefício privado. O conceito que está associado à palavra remete a um tipo específico de intervenção política e pressupõe um público leitor,
mação religiosa, teológica, jurídica ou médica de um número restrito
atento, interessado e capaz de atuar." Pela sua própria natureza, os repúblicos atuavam nos conselhos do
de pessoas, porque assim se fazia havia já alguns séculos e assim se
governo, tribunais do reino, espaços de sociabilidade,
acreditava
bretudo, intervinham
imperativo
civilizacional;
no tempo de Vieira, voltadas
atender às demandas
Afastadas
para a for-
vividas.
aquelas considerações
que mais falam do tempo em
salões, mas, so-
por meio de textos, livros e folhetos manuscritos
ou impressos. Não eram necessariamente
que foram escritas do que do tempo a que se referem os escritos, os portugueses
patriotas europeus. António Vieira, Simão de Vasconcelos, Alexandre
tares, médicos, fidalgos, comerciantes. Agiam animando debates e se posicionando diretamente sobre os afazeres políticos de Portugal, o que
de Gusmão, jesuítas, têm seus escritos estudados
naquele tempo já era coisa bastante rara, para não dizer excêntrica."
da América passam a integrar as realizações de seus comcomo expressão de
uma lusitanidade própria do Novo Mundo, e não de uma alteridade forçada que a torna incompreensível. A ciência que esses e outros 148
I
FORMAS
DO IMPÉRIO
Quando
profissionais
letrados de profissão; foram
certamente
da Justiça e de governo, mas também mili-
da Restauração,
nos desarranjados
anos de 1640 na Pe-
nínsula Ibérica, os repúblicos se fizeram presentes como nunca antes. HISTÓRIA
E PASSADO
DA AMÉRICA
PORTUGUESA
I
14lJ
Afinal, em 1° de dezembro sua independência inquietações
política
daquele ano os portugueses de Castela.
O período
do que isso. Tratava-se
resgataram
de fratura
com relação ao futuro do Reino forneciam
de um manifesto
de oposição clara e direta
contra o governo do reino, exercido por Olivares e Diogo Soares, em
e as
Madrid,
a matéria e
e Miguel de Vasconcelos,
secretário
de Estado em Lisboa.
É certo que as ações dos repúblicos são identificáveis, com pouca
o espaço para a ação daqueles que disputavam opções de governo. E o fato de defender abertamente, para quem quisesse, ou pudesse,
dificuldade,
ler as propostas
Reduzi-Ias apenas ao contexto político de insatisfação das populações
para a vida pública portuguesa
acabou por alterar
portuguesas
profundamente o próprio espaço político: ele tornou-se público, ainda que não tenha permanecido assim durante muitas décadas a seguir. Em 1641, meses apenas após o golpe restaurador, intensamente
Lisboa publicava
periódico
gigantesca onda de publicações sobre a política que perdurou até o início dos anos 1670, com maior ou menor intensidade conforme o período e as aflições que o acompanhavam prio andamento
e ainda conforme
das soluções que se apresentaram
dos contrastes. É certo que, em períodos de insatisfação
lhetos e cartazes sobre temas da política circulavam amplamente
-
o pró-
livros, fo-
mais ou menos
a texto
saiu em 1632 e tinha o intrigante
portugueses
sobre uma questão
fidalgo de guerra, não se veria obrigado terços de combate;
a recrutar
ele era letrado,
engajado
ou de uma hipertrofia
da monar-
Depois do golpe
da reedição
de sua obra no início do século
do Século das Luzes pudesse apagar o
do Século Barroco."
antes da Restauração," mas embaixador destacado de dom João IV, se-
homens, formar
homem outrora
extemporânea
como fez Diogo Barbosa Machado.
Para não ficar concentrado apenas em um único exemplo, António de Sousa de Macedo, letrado e também autor de obras importantes
Ele não era
seu espaço de ação na sociedade portuguesa
outro, bem diferente:
uma nacionalidade
discurso oposicionista
publicamente
de governo da maior importância.
em nome de
se a fidelidade aristocrática
em conquistas
alheias desta coroa.1S João Pinto Ribeiro intervinha
bastante importante,
XVIII, o editor excluiu o Discurso sobre os Fidalgos e Soldados, como
título: Discurso sobre
não militarem
de generalização
que merecia. Quando
o caso mais notável para o que interessa no momento
os fidalgos e soldados
espaço conceitual
de aclamar a El Rey Dom João o IV foy mais gloriosa e mais digna de honra, fama e remuneração que a dos que o seguiram aclamado, publicado em dezembro de 1644, ou Preferência das Letras às Armas, publicado em 1645. Os tempos posteriores não lhe fizeram a justiça
é o livreto de João Pinto Ribeiro contra a União de Armas proposta pelo conde-duque de Olivares, poderoso valido da Monarquia Católica.
deixa escapar pelos dedos um
ainda outros folhetos sobre a política portuguesa, sempre com títulos claros que diziam abertamente a que vinham, por exemplo: A ação
como vencedoras
generalizada,
e de fratura política.
de dezembro de 1640, João Pinto Ribeiro se fez homem de governo. Porém, principalmente quando deixou o núcleo do poder, publicou
a Gazeta. Era uma
português,
com o domínio castelhano
quia lusitana,
sobre a política, sobre a guerra que então começava;
editou, ainda, o primeiro
em períodos de grande inquietação
cretário de Estado de Afonso VI e repúblico empenhado
que publicou
era
inúmeros livros e folhetos políticos, alguns quando estava em Londres
no
e acompanhava
aparato jurídico do reino e, depois, agente em Lisboa de dom João, duque de Bragança, mais tarde rei de Portugal. E, no entanto, publica
a primeira embaixada
de dom João IV naquele Reino.
Na época em que ele ocupou as funções de secretário redator do segundo periódico
um texto que combate uma questão central do governo de Olivares,
de Estado, foi
lusitano, o Mercurio Portuguez.
Outros repúblicos importantes
não tiveram sua vida organizada em
tema forte na política ibérica daqueles anos. Nesse caso específico, o
função dos ofícios letrados: Luís Marinho
repúblico projetou suas propostas
era militar e foi engajado escritor de relações de guerra, crônicas e
ou pudesse, conhecer.
Não se tratava
voto ou de um discurso 1 xo
I
FORMAS
na sociedade para quem quisesse, de uma fala privada,
feito num conselho,
de um
era mais, bem mais,
outros folhetos destinados
a um público com níveis de leitura menos
sofisticados
anos de Portugal
nos primeiros HISTÓRIA
DO IMPÉRIO
1
de Azevedo, por exemplo,
E PASSADO
Restaurado."
DA AMÉRICA
PORTUGUESA
I
IS I
Também Manuel Gomes Galhano de Lourosa, médico, astrólogo e repúblico,
cujo livro sobre o governo de Portugal
Restaurado
não
chegou a ser publicado, mas que aparecia regularmente no início de cada ano com seu prognóstico astrológico." Ainda António Carvalho de Parada, António outros
ativos homens
de Freitas Africano
do reino estabilizar
Monarquia
de 1 de dezembro, os grupos dirigentes a forte, e pre-
adversos e, sobretudo,
da poderosa
Católica. Os meses que se seguiram à Restauração
difíceis e conturbados, com a monarquia até então serviam
foram
chegadas retumbantes
à Monarquia,
alterações
terminada
de fidalgos que
populares
em Lisboa
contra a nobreza etc. Especialmente, no início de fevereiro de 1641, um importantíssimo grupo de nobres e de fidalgos da primeira linha
depois de outra maior
foram presos, julgados e executados
de junho de 1641, numa grande
operação
os
política
no Rossio e nas portas de Santo Antão de Lisboa. O caso
administrado
chefiada pelo arcebispo de Braga e
da hierarquia
eclesiástica, da mais alta nobreza
Não se tratava de algo que pudesse ser
com os meios habituais
com os quais se regulavam
as
severas dissensões políticas naquele tempo. Aliás, bem mais do que manifestar
desacordo, afastar-se do processo ou mesmo desestabilizar
o governo, essa conspiração e ao assassinato
visava ao retorno do domínio castelhano
do Bragança." ligada à urgência da situação, saiu finalmente
Certamente
com fugas de nobres e fidalgos descontentes
Bragança,
conspiradores
quando
e das finanças de Portugal. 0
e reunir a maior força política possível para enfrentar visível, reação dos portugueses
política,
envolvia personagens
daquele conturbado
tempo. Nas semanas que seguiram o golpe restaurador cabia aos novos governantes
comoção
era uma tentativa de contragolpe
e diversos e numerosos
da política portuguesa
texto chega ao público apenas em setembro,
cada a obra de Diogo
Gomes
Carneiro
Oração
publi-
Apodixica
aos
Scismaticos da Patria, texto que obteve recentemente uma edição em fac-símile pela Biblioteca Nacional do Rio de janeiro;" O texto
passou a Castela. Entre eles estavam dom Duarte de Menezes, conde
vem dedicado ao secretário de Estado, dom Francisco de Lucena, homem forte do novo governo. A obra, por si só, já seria bastante
de Tarouca,
interessante,
dom João Soares de Alarcão e dois filhos do marquês de
Montalvão, vice-rei do Brasil, dom Pedro e dom Jerónimo Mascarenhas. A nova espantou Lisboa, cuja população alterou-se fortemente contra a nobreza. Também assustou o novo governo.r' No entanto, o que mais importa agora é a insegurança
com relação
à posição do vice-rei do Brasil, pai de dois fujões, coisa certamente alimentada
por um folheto editado em Madrid
algum tempo antes
dadas as circunstâncias
de sua publicação,
mas salta
aos olhos a indicação feita na capa do livro: Diogo Gomes Carneiro era "brasiliense"
e natural do Rio de Janeiro! A pátria de que ele fala
é Portugal! Aqueles a quem dirige sua Oração são portugueses traíram sua Pátria: os Scismaticos.
que
Carneiro chegara a Portugal muito antes de tudo isso, no entender do bibliófilo Barbosa Machado. Ele fora estudante em Coimbra e fez
da Restauração, em que o marquês dava conta a Filipe IV de seus feitos contra os holandeses de Recife." A notícia da aclamação che-
a vida sem retornar
gou a Salvador truncada
a Lisboa com a delegação da cidade. O caso acabou desfeito pouco
traíram Portugal em 1580, e continuaram a trair nas décadas seguintes, como gente vil e avessa à verdadeira honra. Gente que não
tempo depois, já em Portugal,
merecia o nome português:
viram reintegrados
e o marquês foi preso por traição e enviado e os que vieram presos do Brasil se
que agiram imediatamente
trosa fuga dos filhos do marquês de Montalvão, Seu livreto foi composto
sobre essa desas-
estava Diogo Gomes
antes de 15 de março de 1641,
conforme pode ser verificado pela primeira licença de publicação. 152
I
FORMAS
é especialmente
interessante
e caracteriza
aqueles que
na política da nova monarquia."
Entre os repúblicos Carneiro.
O tratado
ao Rio.
DO IMPÉRIO
O
Ainda que os prêmios que lhes oferecem, pareçam maiores que os que se concedem à lealdade, é por que ânimos desordenados prêmios ordenados, interesseiras
e o tempo mostrará
não podem ter venturoso
HISTÓRIA
E PASSADO
não querem
que favores e obediências
fim, enquanto
DA AMÉRICA
é bem que pa-
PORTUGUESA
I
15.l
deçam a confusão
de verem acudir de suas pátrias a esta nossa tantos
purta,
títulos e senhores
estrangeiros
qualquer
briosamente
que, deixando
bizarros para nos ajudarem,
do a glória deste empenho
e luzimento
suas casas e estados e
delícias que gozavam, em tempo, que o espírito da traição faz crer à ignorância
do natural,
que não é vileza, e infâmia vender sua pátria
por honras e mercês que oferece a tirania."
de se fazer governar
tipo de interferência
"colônias"
as vidas oferecem, antepon-
à posse das comodidades
pois a percepção
na política,
do fim do século XVIII,
Diogo Gomes Carneiro.
das
não tinha vigor no tempo de eram os portugueses
sequer era usada com esse sentido no
refere-se diversas vezes aos repúblicos
e à sua ação empenhada
Portugal
e sem
coisa talvez própria
Ele e seus conaturais
do Brasil. A palavra "colônia" século XVII.29 Mais ainda, Carneiro
sem autonomia
de
na defesa do "bem comum".
De
De fato, o repúblico do Rio de Janeiro se via e era visto como bom português que intervinha na política de seu tempo em contraposição
fato, não se há que temer o uso desse termo, arcaico na língua por-
aos seus compatriotas que, por razões interesseiras, mantinham a fidelidade ao castelhano. No fim de seu tratado ele conclama a extirpar
revela sua utilidade para a compreensão política em Portugal Restaurado.
do convívio comum a aleivosia dos traidores! Um texto como esse, vivo e enérgico, lido com preocupações
décadas
tuguesa
de hoje. O próprio
Porém, pouco
problema
nem só de repúblicos
que se seguiram
que o trouxe a este trabalho dos sentidos da intervenção
vivia a política
à restauração.
portuguesa
das
Os homens de Igreja tam-
presas ao tempo em que foi escrito, pode parecer apenas mais um exemplo da oratória barroca, que trata de modo exagerado de pro-
bém agiam em defesa daquilo que acreditavam ser o "rebanho de Deus". Os religiosos, cuja função precípua era a defesa do "bem
blemas que não têm mais sentido para nós. Porém, seu exame detido permite identificar a completa ausência, no texto, de qualquer tipo de
comum", ou ao menos alguma dimensão moral ou cultural, fizeram presentes nesse período de acirramento dos contrastes
referência
ao lugar de nascimento
um lusitano preocupado
do autor. Carneiro
escreve como
sociedade.
com os destinos de Portugal,
sua Pátria. O
de tratar de temas da atualidade vivida pelos seus ouvintes, seja um ataque a uma imagem da Virgem, seja a defesa do reino con-
Rio de Janeiro, o Brasil, é apenas referência que aparece na capa do tratado, como a sugerir algo relativo à adesão da América portuguesa ao governo Bragança. Mas os autores alentejanos, não punham
normalmente
A considerar
a data da composição
naturais de Évora,
essas referências na capa de seus escritos. do tratado
(março de 1641) e a
tensão gerada em torno da adesão do marquês
de Montalvão
e da
cidade de Salvador à Restauração,
pode-se especular
quisesse afirmar o posicionamento
do Brasil, ou ao menos do Rio de
Janeiro,
no conflito maior da política portuguesa
nheza da identificação
do local de nascimento
que Carneiro
de então. A estra-
do autor pode então
se resolver com os elementos da própria conjuntura
política para a
qual o texto foi escrito. Por outro lado, está ausente a ideia da subordinação dos moradores caracterizar
IS4
I
FORMAS
sua morada como "colônia portuguesa".
que possa
E isso nos im-
De fato, aquele que prega no púlpito
tem a obrigação
tra uma invasão estrangeira. Ao longo dos anos do domínio dos castelhanos e daqueles da guerra da Restauração, os religiosos de Portugal próprios, destacado
buscaram sobretudo
cumprir
o seu dever nos espaços que Ihes eram
no púlpito.
no exercício
ao caso exatamente
Talvez aquele que mais se tenha
da parênese,
António
pela excepcionalidade
Vieira,
não venha
de seus recursos
abundância de estudos sobre sua obra, do que se confirma a fornecer referências bibliográficas.
e pela a recusa
Mas, além de Vieira, outros padres da Companhia de Jesus do Brasil exerceram o púlpito e discutiram temas urgentes na política portuguesa
do conjunto
e das cidades do Brasil a uma "metrópole"
DO IMPÉRIO
se na
de então. O padre António de Sá, por exemplo, nascido
no mesmo Rio de Janeiro
de Diogo Gomes Carneiro,
mas que, ao
contrário desse repúblico, sempre estudou na América portuguesa se formou entre Salvador e a sua cidade natal.
e
I
155
HISTÓRIA
E PASSADO
DA AMÉRICA
PORTUGUESA
Em meio a fortes conflitos internos na Província Jesuítica do Brasil, esse inaciano e seu confrade Simão de Vasconcelos foram escolhidos pela Congregação
provincial abreviada da Bahia de 1659 para enviar
a Roma as demandas
dos padres do Brasil quanto à autonomia
Província com relação à Assistência missionária
dos padres acabam sendo
rejeitadas pela Cúria Romana da Companhia, Província foram remetidos
a Portugal
e os representantes
da
para o retorno à Bahia. Che-
gando a Lisboa em 1662, o padre Simão de Vasconcelos
portugueses. O tom da crítica era bastante na seguinte passagem:
dos
forte, como se pode ver
da
e quanto à política
de Portugal
da Ordem. As reivindicações
de se fazer presente em todo o Reino, de acudir às necessidades
é forçado
Esta assistência, e este cuidado, importa muito ao Rei e importa muito ao Reino. Importa muito ao Rei porque na desatenção dos Príncipes se lavra a matéria ruína; nunca houve descuidos na cabeça que não houvesse contingências na Coroa. O Rei que fecha os olhos ao desvelo dá de olho ao infortúnio."
a voltar a Salvador, junto a diversos outros jesuítas, por ação de um visitador nomeado pela Cúria Romana da Ordem, o padre Jacinto de
Mas seu alvo principal era o valido de dom Afonso VI, o jovem conde
Magistris.!" António de Sá, contudo, fica na Corte, cuida dos assuntos
de Castelo Melhor, escrivão da puridade,
da Província do Brasil e prega na Capela Real. Em 21 de agosto de
carga crítica. O jesuíta do Rio de Janeiro prosseguiu sua fala e mostrou
1663, dia de anos do rei dom Afonso VI, cabe exatamente
um vivo descontentamento
ao padre
responsabilidades
do Brasil pregar o sermão. Nesse período,
a independência
trava bem assentada, mesma segurança.
política de Portugal já se encon-
porém o governo de Portugal Apenas
não gozava da
um ano antes, um golpe pusera
regência de dona Luíza de Gusmão e entregara
fim à
o governo ao rei dom
Afonso VI, nas mãos do jovem conde de Castelo Melhor e de António de Sousa de Macedo. estava pacificada.
Não se pode dizer que a política portuguesa
É importante
registrar
que, após esse acontecido,
os jesuítas haviam perdido muito do prestígio de que gozavam. António Vieira, ligado à rainha regente, amargava contra ele na Inquisição,
de Sebastião
imediatamente
César
após o golpe. O
visitador enviado pela Cúria Romana da Companhia
havia recolhido
os padres do Brasil que atuavam em Lisboa e a política se desenhava contrária às pretensões da Ordem no Reino, com o afastamento muitos de seus aliados do núcleo do poder. Nesse quadro, sermão
intenso
aqui bastante e bastante
resumido,
crítico
de
António de Sá prega um
das práticas
do novo governo.
Entre diversas alegorias típicas dos sermões do tempo, mas solidamente inspiradas conclama IS6
I
naquelas de seu confrade António Vieira, o jesuíta
o rei a assistir aos Conselhos
FORMAS
DO IMPÉRIO
com a entrega, quase uma alienação,
do monarca a seus ministros.
das
O tema, de fato, não
era novo; os portugueses já haviam penado pelas escolhas atribuídas a Olivares algumas décadas antes. Mas, então, aquilo que fora uma prática característica
do domínio castelhano
aparece como opção do
rei Bragança, português e filho de dom João IV! A carga simbólica dessa crítica era, portanto, imensa. Não satisfeito com isso, o jesuíta carioca
fecha seu argumento
contra o valimento em geral, mas também contra Castelo Melhor, o valido válido naquela circunstância,
com as seguintes palavras:
um processo aberto
logo após a nomeação
de Meneses como inquisidor-rnor,
sobre quem recaía a maior
de Portugal,
como forma
Divina política, na verdade, e que todos os Monarcas devem trazer muito diante dos olhos: obrigação é dos vassalos dar aos Príncipes, não só para socorro das necessidades públicas, se não também para ostentação da grandeza própria. Dois dias de real autoridade teve Cristo neste mundo: um no cume do Tabor e outro na entrada de Jerusalém. Naquele os elementos e Céus gastaram o melhor que tinham para suas galas, o Sol as luzes e a neve a brancura; neste os Apóstolos e o povo arrojaram a seus pés as mesmas capas, para que pisadas servissem a seu triunfo. Que até a capa há de dar o vassalo, ainda que não seja mais que para ser pisada do Rei; porém, não é justo que, dando eu a minha capa para que El Rei a pise, em lugar de a ver a seus pés, a veja em outros ombros. O que
HISTÓRIA
E PASSADO
DA AMÉRICA
PORTUGUESA
I 157
se pede para o Rei, o que se pede para as fronteiras, o Rei, gaste-se
com as fronteiras;
gaste-se com os soldados, que o dá se gasta.
gaste-se
com
o que se pede para os soldados,
e veja o Reino que se o dá, naquilo
o episódio
não chega a representar
inflexões nos maiores processos
daquele tempo, mas é suficiente para reforçar uma parte do argumento
para
central deste trabalho:
,2
outros portugueses
os do Brasil agiam na política da Corte como
quaisquer,
Antônio de Sá não se identificou como brasiliense, natural do Rio "Dar a capa para o rei pisar e vê-Ia em outros ombros" é uma crítica
de Janeiro, e não se pode perceber nesse sermão que se tratava de
e um dito muito forte, mesmo para um religioso, que gozava de imu-
padre do Brasil. Ele teve um desempenho
nidade eclesiástica.
oposição política ao governo de Castelo Melhor e de António de Sousa
Esse sermão
Não estranha
foi pregado
que o governo reagisse.
diante do monarca
e de seu governo.
significativo
no campo da
de Macedo, tal e qual outros religiosos beirões, alentejanos,
algarvios
Assistiram à pregação, além do aniversariante, o próprio valido, o secretário de Estado, membros dos conselhos, nobres militares, paren-
etc. que, como o jesuíta do Rio de Janeiro, também não precisavam
tes do rei etc. Ainda que fosse relativamente
Gomes Carneiro,
ao governo por parte dos eclesiásticos
frequente a crítica direta
no exercício de suas funções,
identificar
sua região de nascimento.
que envolviam
o modo usado pelo jesuíta não era tão comum assim; e, mesmo se o
Aqui, diferentemente
de Diogo
que escrevera no calor de fugas e de conspirações
filhos do vice-rei do Brasil, e que não era jesuíta, a
fosse, o governo não reagiu pelo melhor para o jesuíta. António de Sá
identificação do local de nascimento não se fez necessária. Nem sempre essa identificação está facilitada num quadro de autores que
teve de sair um tanto apressadamente de Lisboa, buscou refúgio em Coimbra, que também acolheu Vieira, seu confrade famoso, e de lá
não reconhece diferença significativa entre os naturais do Brasil e aqueles de Portugal. A dificuldade fica ainda maior quando o olhar
retornou à Bahia, onde foi exercer seu magistério e bem longe do Rio de janeiro."
que investiga não crê possível uma intervenção
O sermão Macedo,
certamente
o repúblico
Mercúrio Portuguez;
impactou
secretário
de autor natural
a Corte. António e empurrou
da Companhia
do Brasil.
a tensão sobre
O
de Jesus:
Ainda concentrado
no mesmo período,
homens do Brasil protagonizaram
na Corte aos 21 deste mês os anos de S. Majestade,
e
pregando na Capela Real o Padre Antonio de Sá da Companhia de Jesus, e parecendo que em algumas palavras picava no governo, como alguns pregadores costumam,
se disse que seus superiores o queriam mandar
da Corte, ao que acudiu o Conde de Castelo Melhor, pedindo-lhes
com
toda a instância o não mudassem, e para maior segurança de que o não fizessem, lhe encomendou Real mão, afirmando
S. Majestade por um decreto firmado de sua
que gostara muito de o ouvir, e que queria que os
pregadores falassem com toda a liberdade. Porém, Mercúrio, que é Deus da facúndia,
ISH
I
na época da Restauração,
importantíssimos
feitos naquilo
que viam como sua Pátria. Entre os homens de armas, mas sobretudo entre aqueles que exerciam
E festejando-se
política importante
de Sousa de
de Estado, citou o episódio em seu
mas dissimulou
sermão para os superiores
longe de Salvador
lhes aconselha (se lhe é lícito) que usem dela nos termos
funções de comando,
Matias
O golpe de 1 de dezembro colhe o experiente 0
pelo governo castelhano,
pernambucano
insurretos,
integra-se ao esforço do governo de fortificar as fronteiras,
sobretudo
do Alentejo, para onde é designado.
Lisboa, incluindo
Entre idas e vindas a
uma detenção por suspeita de infidelidade
à adesão de seu irmão, Duarte de Albuquerque Mathias
de Albuquerque
exerceu importantes
Em 1644 ele é nomeado
comandante
funções na região.
das forças portuguesas
Alentejo e decide fazer uma grande entrada na Estremadura lhana. Ele invade a região com alguns milhares
DO IMPÉRIO
HISTÓRIA
E PASSADO
devido
Coelho, a Filipe IV,
sempre as horas são umas, e sempre é bom ir pelo seguro.
FORMAS
preso,
em Lisboa. Porém, tão logo é solto pelos
devidos a tão grave lugar, sem se fiarem desta permissão, porque nem ,4
de Albu-
querque se destaca como chefe militar dos primeiros anos da guerra.
DA AMÉRICA
no
Caste-
de homens, depreda PORTUGUESA
I
151)
vilas e aldeias e enfrenta as forças de Filipe IV nos campos da cidade de Montijo. A se crer nos diversos relatos castelhanos ou portugueses,
e sem sua Capitania:
essa primeira grande batalha da Restauração
termos de restituição
e, ainda que não haja consenso
foi bastante sangrenta
algum entre as partes beligerantes
quanto à vitória, Mathias foi celebrado em Portugal como o vencedor do combate. A proeza acabou por lhe garantir Alegrete, atribuído lhe questionasse natural
o título de conde de
alguns poucos meses depois, sem que ninguém
a naturalidade
de Pernambuco,
ou a conveniência
da mercê a um
embora houvesse quem lhe questionasse
as
e a fidelidade."
competências
Portugal
a Monarquia
Católica reconheceria
a perda de
apenas cerca de vinte anos após esses acontecimentos dos bens confiscados
aos adeptos de dom Filipe
não foram respeitados, menos ainda as mercês atribuídas sobre domínios que já não eram mais seus. Estender comentados
por mais algumas
páginas
os exemplos
na política e na cultura
XVII e XVIII seria por demais enfadonho,
portuguesa
por ele,
rapidamente
aqui dos homens do Brasil cujos trabalhos
guma importância
e os
tiveram aldos séculos
se o que já foi dito ainda
não chegou nesse ponto. De fato, arrolar nomes e obras, mesmo que
Vem ao caso o problema de um interesse suposto, ou menosprezado, da nobreza titulada de Portugal pelo Brasil. Afinal, entre as terras
bastante bastante
conhecidos, pouco adianta se nos movemos por ideias já envelhecidas quanto às principais linhas de força na inter-
incorporadas
pretação
do passado da América portuguesa.
ao reino entre fins do século XV e meados do XVI, a
América estava entre aquelas em que não havia sociedade organizada, civil. E, se à nobreza e à fidalguia de espada cabia o comando da
Os exemplos aqui expostos facilmente se resolveriam nas tradicionais excepcionalidades que plenamente confirmariam uma história
conquista, sua organização comerciantes e agricultores
rústica do Brasil e de sua cultura: Nuno Marques
elevados postos da hierarquia
seria obra de missionários, de letrados, cujo trabalho não promovia aos mais social daquele tempo -
criar cidades,
seria do que alguém extraordinário interior
do Brasil; António
Pereira nada mais
que escreveu um livro sobre o
de Sá, um jesuíta exaltado
que repetia
engenhos e enriquecer não faziam um nobre, não nobilitavam alguém nos séculos XVI e XVII. O problema coloca-se de forma exemplar
o estilo de Vieira em seus sermões; Diogo Gomes Carneiro, um rábula que buscou incrementar seu capital simbólico com um impresso em que
num importante
exaltava a monarquia
estudo de Stuart Schwartz relativo à expulsão dos ho-
landeses de Salvador, em 1625, publicado já há cerca de vinte anos." Mas crer que fosse vedada, ou dificultada, a elevação de fidalgos do Brasil à nobreza titulada
por seus importantes
serviços à Coroa
é supor muito além do que permite a documentação que aconselha co importa
a prudência.
disponível e do
O fato de ter nascido na América pou-
no caso e não fez de Mathias
Bragança; Mathias de Albuquerque,
que deu sorte e comandou
os portugueses
num combate importante;
Salvador Correia de Sá y Benevides, um oportunista mercador homens; Alexandre de Gusmão, um diplomata habilidoso etc. Ocorre que a "integração
nacional"
na pauta política do Brasil e ver o passado como uma embrutecida
Some-se a
e heroica cavalgada
isso a própria natureza da nobreza lusa: pouco numerosa transformação na época que estudamos."
e em forte
tempo e da agenda de agora. Ocorre também
Coelho, irmão mais velho do conde
de
já deixou de fazer as vezes
um mazombo.
Aliás, Duarte de Albuquerque
um militar
em direção ao interior
nos afasta também
que o Brasil rural de
hoje já deixou de ser o terreno do senhorio e da escravidão tempo. O que se vive na atualidade
do
há muito
é, antes de mais nada, uma forte
de Alegrete, também foi feito conde por seu rei, dom Filipe IV, numa curiosa dobrada de títulos de nobreza numa mesma família, que bem
expansão da cultura e da economia urbanas em direção às zonas do interior: acabou-se o lampião de querosene que iluminava o descanso
vale um estudo mais detido. Ironicamente,
de agricultores;
desfrutar
ou transmitir
sem descendentes, 160
I
FORMAS
suas honras: Mathias
e o conde de Pernambuco
DO IMPÉRIO
nenhum
dos dois pôde
no século XXI, eles veem televisão a cabo após uma
morreu pouco depois,
estafante
ficou sem seu condado
Monteiro Lobato hoje preocupa-se com a evolução do crédito agrícola,
jornada
dirigindo
HISTÓRIA
um trator.
E PASSADO
O outrora
DA AMÉRICA
"Jeca Tatu"
PORTUGUESA
I
de
161
acompanha a flutuação dos preços das commodities e teme a doença da "vaca louca" bem mais do que o bicho-do-pé e as lombrigas. Afinal, se for lícito fazer uma metáfora musical em homenagem ao barroquismo dos autores citados: a modinha sempre vai predominar sobre o aboio. O que é urbano predomina sempre sobre o rural; no mais das vezes, esmaga as formas aldeãs da cultura, e nunca o contrário. Por outro lado, e para concluir, os temas do domínio externo e da autodeterminação dos povos também já abandonaram o cenário político brasileiro, e manter a crença num governo da metrópole portuguesa sobre o "Brasil colônia" soa mais como algo que nos fala das décadas de meados do século passado do que de relações políticas reais entre os do Brasil e os de Portugal dos três primeiros séculos da conquista. Dessa forma, pensar o passado brasileiro sempre focado nas estratégias de ocupação do interior do continente, nas culturas agrárias e na violência das relações humanas que lhes era própria pode sugerir que a América portuguesa era uma "colônia" rústica e incapaz de formar e oferecer repúblicos, escritores, religiosos e cientistas ao conjunto dos domínios de Portugal no mundo. E, no entanto, eles não apenas existiram, mas também agiram e deixaram resíduos na cultura de seu próprio tempo. A atualização da perspectiva de estudos para o tempo de agora nos permite ver um Brasil bem mais integrado na cultura, na política e nos costumes portugueses do que já pensamos ao longo do século passado. E aquilo que antes víamos como uma expressão projetada no passado, de um "subdesenvolvimento" meta-histórico, não mais nos aparece como um destino, ou uma imposição estrangeira, mas como característica cultural do próprio processo vivido de transformação econômica e social, que teima em nos perseguir, ainda que não haja nenhum "atraso", mas uma profunda desigualdade social e um igualmente profundo desprezo pela gente pobre.
162
I
FORMAS
DO IMPÉRIO
Notas
1.
o autor
agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por lhe ter fornecido os meios para a pesquisa que possibilitou este trabalho. Agradece também a Carlos Alberto Zeron e a Luís Miguel Carolino.
2. Caio Prado Jr. foi talvez o mais brilhante dos autores que buscaram assentar uma interpretação do Brasil nesses termos. Cf. Formação do Brasil contemporâneo. Porém, diversos outros, com variadas inflexões na reflexão, já seguiam pela mesma estrada: Roberro Simonsen, por exemplo, no seu livro História econômica do Brasil 1500-1820. E ainda outros importantes historiadores mais recentes do Brasil, como Fernando Novais, com uma visão mais complexa da evolução dos acontecimentos em seu livro de 1979. Bem mais recentemente, Luís Felipe de Alencastro abre o milênio com horizontes mais largos e até então pouco frequentados. Cf. O trato dos viventes. 3. É inegável que os últimos vinte anos fizeram aparecer um sólido conjunto de estudos que reforça sensivelmente essas características que apontamos. Em particular: FRAGOSO, João Luís, Homens de grossa aventura; BICALHO, Maria Fernanda, A cidade e o império; SOUZA, Laura de Mello et aI. (Org.), O governo dos povos; SOIHET, Rachei et aI. (Org.), Culturas políticas: ensaios de história política e ensino de história; ABREU, Marrha et al. (Org.), Cultura política e leituras do passado; FRAGOSO, João Luís et al. (Org.), O Antigo Regime nos trópicos. 4. Refiro-me especialmente à obra de Gilberto Freire, Casa-grande e senzala, com diversas edições ao longo do século XX. 5. Cf. CAMENIETZKI, Carlos Ziller, "Problemas de História da Ciência na época colonial: a Casa-Grande de Gilberto Freire", p. 1-13. 6. Refiro-me especialmente à obra de Sérgio Buarque de Holanda, cujo impacto no pensamento brasileiro é algo que vem sendo examinado ao longo do tempo, mas que ainda aguarda uma reflexão detida. 7. Cf. SCHWARTZ, Stuart, Burocracia e sociedade no Brasil colonial. 8. Cf. RUSSEL-WOOD, A.J.R., Fidalgos e filantropos. Especificamente sobre esse terreno, muitos estudos foram produzidos desde os anos 1960, quando da primeira edição desse trabalho. 9. Cf. KANTOR, Iris, Esquecidos e renascidos.
HISTÓRIA
E PASSADO
DA AMÉRICA
PORTUGUESA
I
163
10. Por essa expressão, para a América
do Brasil", quero designar aqueles que vieram que partilhavam
do Conselho
consultivo
da Índia, que funcionou
para assuntos
Caramuel
da Índia, p. 173-174.
em que o casrelhano
que dom Filipe 11 não
afirmara
°
tan remotas
de Portugal,
então embaixador
do Bragança
sus ascendientes
salieron
Caramuel
do seu tempo.
Lobkouitz
convencido,
13. Dizia o historiador: Pereira natural tão própria
MACEDO,
de Portugal
"Mas
Obraram 22.
Politico,
peregrino
Nuno
Marques
das coisas do Brasil
nato, como, evidentemente,
básicos de seu saber, que no rústico os naturais
in PEREIRA, da América,
14. Cf. ROCHA,
da terra".
Nuno Marques
de alienígena
GARCIA,
Pereira,
Rodolfo,
Compêndio
Carlos
Ziller,
NIETZKI,
Carlos Ziller, "Esboço
matemático
jesuíta e missionário
físico-matemático
"O cometa,
Miguel,
o pregador
o céu da Bahia" p. 37-52; CAME-
23. Cf. a esse respeito
Rita, A Faculdade das Letras.
ver as obras de Diogo Ramada Curto, especialmente
Cultura política no tempo dos Filipes (1580-1640), Le Portugal au temps du comte-duc
mas também d'Oliuares
a recente SCHAUB,
(1621-1640).
18. Com 32 páginas, o folheto saiu publicado por Pedro Craesbeck em dezembro de 1632, embora sua primeira
I
FORMAS
DO IMPÉRIO
licença lhe tenha sido dada em maio daquele ano.
chegasse aos pés de
o intento de seu da política
Verdadeira
que assistem
da Mila-
na Fronteira
Feitos que os Portugueses
dos Valerosos
de seu Rey e Patria na Guerra do Alentejo. Gomes
Galhano
de Alvitre
astrológico,
Mathematico.
Tratado
ver a obra CAROLINO,
o que diz dom Luís de Menezes,
sua obra basilar,
mas um tanto
Restaurado,
Luís
de Montalvan
fidalga,
o conde da Ericeira,
sobre essa deserção:
História
em de
p. 146-9.
de uma Carta embiada
dei Brasil a un cavallero
desta Corte dan-
D. Felipe IIII, nuestro por D. Jorge mascarenas, Conde de Castillo y Marques católicas
de su magestad
Restaurado,
p. 159-163.
1640. de Portugal
26. Em uma perspectiva obra: WAGNER,
bastante
Mafalda
peculiar, o assunto foi tratado
de Noronha,
há alguns anos na
A Casa de Vila Real e a conspiração
de 1641 contra D. João 1 V. 28. Ibidem, p. 22v-23r.
e dos níveis diversos da leitura em Portu-
de, Relaçam
os Portugueses
e seu trabalho
27. CARNEIRO,
da alfabetização
das
A escrita celeste.
na Bahia", p. 159-182.
17. Sobre as variadas formas de exercício da política em Portugal no período do do-
jéan-Frédéric,
Manuel
Sehor, governadas
e o cientista:
Luís Marinho
que Alcançaram
"Nota
dos cometas.
da Preferência
que "( ... ) não convinha
Idem, Commentarios
biográfico de Valentin Stansel (1621-1705),
gal do século XVII, ver a obra MARQUILHAS, mínio castelhano,
AZEVEDO,
dole cuenta de Ias armas
do
o tratado
António de Sousa de, Flores de Espana Exce/encias
dificil-
narrativo
por ter incluído
democratico, ethico, aristocratico e theologico. O encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa Cod. 5170. Sobre
25. Cf. História
António Vieira e Valentin Stanse! observam
16. Acerca do problema
Brasil-colônia
p. 17.
José Monteiro da, Sistema
15. Cf. CAMENIETZKI,
a
physiologico,
manuscrito
24. Traslado
biográfica",
dom
um prefácio
conde da Ericeira, e acrescentou
para não ver na sua pessoa desvanecido
em Defensa
LOUROSA,
Pereira), e que quiçá com mais razão, se houvesse trazido da pátria de origem adquirir
,1
pudesse ter alguma vigência em 1729.
Victoria
de Olivença;
Portugal
mente podiam
164
grosa
no país (como era o caso de Nuno Marques
os ensinamentos
seu trabalho
como se o brado de João Pinto Ribeiro contra o controle
esse personagem [de considerar
do Brasil] não basta, porque a erudição assistência
da
p. 107.
esta suposição
podia ser de brasileiro
que tivesse diuturna
há
de Sousa de, [uan
António
considerando
21. Por exemplo:
Orientales
tantos anos". Porém dom Filipe não o seria, uma vez que não partilhava portuguesa
editor dedicou
de Portugal; Idem, Ulissipo Poema Heroico.
do reino. Diz
los que habitan en Ias lndias
aunque
Letras às Armas,
20. Por exemplo, M ACEDO,
aqueles filhos, netos e bisnetos de portugueses
portugueses
se desculpa
pelos militares
afinal, sua mãe era
que teriam ido viver na Índia, mesmo se vivessem tão distantes
ele praticamente
autor",
um escrito de Juan
por ser castelhano;
e isso o faria também português.
sustenta que eram portugueses ele: "... son verdaderos
Xavier de Menezes,
Vossa Excelência,
de dom João IV à Co-
de Sousa de Macedo combate
António
Lobkovitz
em Lisboa como um conselho
sobre a legitimidade
seu título de rei de Portugal
portuguesa
cultura
Francisco
junto à Coroa de 1604 a 1614, apud Fran-
coloniais
12. Em meio às árduas controvérsias roa de Portugal,
°
João Pinto, Obras várias.
cada um dos dois volumes em que saiu a obra. No prefácio do segundo volume,
cisco Paulo Mendes da Luz, O Conselho
perderia
19. RIBEIRO,
a língua, os costumes,
religiosa erc,
a confissão 11. Consulta
"portugueses
e seus descendentes,
29. Cf. CAME
Diogo Gomes, Oração Apodíctica IETZKI,
Carlos Ziller. "Incômoda
aos scismáticos história:
colônia
da pátria. e passado
no Brasil", p. 71-83. 30. Cf. CAMENIETZKI,
Carlos Ziller, "O Paraíso Proibido,
nica de Simão de Vasconcelos Figueroa; historias
LEDEZMA, naturales
31. SÃ, António
em 1663", in FIGUEROA,
Domingo
y el Nueuo
Ledezma
Mundo,
HISTÓRIA
Luis Millones
de
(Org.), EI saber de los [esuitas,
p. 109-132.
de, Sermão que pregou o Padre Antonio
de Jesus nu dia que Sua Majestade
A censura à Chro-
de Sá da Companhia
faz anos, em 21 de agosto de 1663, p. 17.
E PASSADO
DA AMÉRICA
PORTUGUESA
I
16S
32. lbidern, p. 20.
°
33.
episódio não andou interpretado de Antônio
os trabalhos
pelos estudiosos
de Sá. Cf. MARQUES,
Portuguesa e a Restauração 1640-1668, SIMI, Marina, na oratória
"Enlaces
sagrada
e desenlaces
que se debruçaram
João Francisco,
especialmente
entre mundo
sobre
A Parenética
v. I, p. 121; e MAS-
luso e mundo
Referências
brasileiro
por padre Antônio
do século XVII: os sermões pregados
de Sá", p. 318-332. 34. DIAS, Eurico Gomes,
Olhares sobre o Mercurio
(1663-67),
p
ABREU, Marrha
de Albuquerque",
p.
ALENCASTRO,
Portuguez
e ensino de história.
67-8. :\5. Cf. PIMENTA,
Belisário,
de Marhias
"O 'Mernorial'
Atlântico
1-34.
"The nobility had never been drawn to rhe overseas colonies in great numbers.
36.
lndia, Africa and Brazil even more so, represented not represenr
the full social hierarchies
and lawcodes'
seek ing recognition
rhe
of Portugal,
by rnissionaries
rhese places dorninated
(catecismo
and reward".
restoratiori
e ordenações)
SCHWARTZ,
of independence,
MONTEIRO,
Cf. MONTEIRO,
and merchant
Nuno Gonçalo
in the European
Context:
clássica GODINHO,
capital
Virorino Magalhães,
overview",
de Anvers,
1644.
___
o
___
Brasileira,
no século
2003.
Carlos Ziller. "Esboço biográfico de Valentin Stansel (1621-1705), história:
na Bahia", Ideação, n. 3, 1999, p. 159-182.
colônia
e passado
no Brasil",
Terceira Margem,
V.
p. 71-83.
. "O cometa, observam
e a economia
Civilização
jesuíta e missionário
"Incômoda
18,2008,
A cidade e o Império: o Rio de Janeiro
Fernanda.
Rio de Janeiro:
matemático
Nobiliries
p. 1-14, e a obra já
Os descobrimentos
Maria
XVIII.
CAMENIETZKI,
"17th and 18th century Porruguese
a historiographical
do Brasil no
das Letras: 2000.
1641.
vêm se desenvol-
et ai. (Org.), Optima Pars;
2007.
. Relaçam Verdadeira da Milagrosa Victoria que Alcançaram os Portugueses que assistem na Fronteira de Olivença. Lisboa: Jorge Rodrigues,
BICA LHO,
before the
p. 744.
de Portugal
Nuno Gonçalo
___
The lands of
B., "The Voyage of
Stuart
Brasileira,
de. Commentarios
Luís Marinho
Lisboa: Lourenço
did to
Civilização
dos Valerosos Feitos que os Portugueses Obraram em Defensa de seu Rey e Patria na Guerra do Alentejo.
were not for a nobleman
1624-1640",
37. Já há algum tempo, os estudos sobre a nobreza vendo bastante.
and fidalgos objected
and royal magistrates.
Vassals: royal power, noble obligations,
portuguese
in these colonies
Rio de Janeiro:
Luís Felipe de. O trato dos viventes: formação
Sul, séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia
AZEVEDO,
only sacrifice and danger
with little hope of glory or riches. The local societies
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