HISTÓRIOGRAFIA DAS MISSÕES CARMELITAS NO NORDESTE: DE ANDRÉ PRAT A DAVID MEDEIROS LEITE

August 1, 2017 | Autor: Luiz Eduardo | Categoria: History of Carmelite Order
Share Embed


Descrição do Produto



UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – FAFIC

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – DHI

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA





LUIZ EDUARDO OLIVEIRA SOUZA





HISTÓRIOGRAFIA DAS MISSÕES CARMELITAS NO NORDESTE: DE ANDRÉ PRAT A DAVID
MEDEIROS LEITE

















MOSSORÓ– RN

2014

LUIZ EDUARDO OLIVEIRA SOUZA







HISTÓRIOGRAFIA DAS MISSÕES CARMELITAS NO NORDESTE: DE ANDRÉ PRAT A DAVID
MEDEIROS LEITE











Monografia apresentada ao Departamento
de História da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte-UERN como requisito
para a obtenção do título de Licenciado
em História.


Orientador: Profa. Ma. Lucilvana
Ferreira Barros




















MOSSORÓ
2014


LUIZ EDUARDO OLIVEIRA SOUZA





HISTÓRIOGRAFIA DAS MISSÕES CARMELITAS NO NORDESTE: DE ANDRÉ PRAT A DAVID
MEDEIROS LEITE






Monografia apresentada ao Departamento
de História da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte-UERN como requisito
para a obtenção do título de Licenciado
em História.


Orientador: Profa. Ma. Lucilvana
Ferreira Barros







Comissão Examinadora


____________________________________________
Profa. Ma. Lucilvana Ferreira Barros – Orientadora
Professora da disciplina Técnica de Pesquisa Aplica a História II
Departamento de História – UERN/Mossoró


____________________________________________
Prof. Esp. João de Araújo Pereira Neto

Departamento de História – UERN/Mossoró



____________________________________________
Profº. Me. Roberg Januário dos Santos
Departamento de História – UERN/Mossoró

Mossoró, RN ____ de _______ de 2014


AGRADECIMENTOS



Agradeço primeiramente a minha família, pela presença e apoio em todo esse
período;

Aos colegas que mesmo com todas as dificuldades encontradas persistiram e
a presença desses significou os melhores momentos dessa jornada;

Agradeço aos amigos que me acompanharam nessa caminhada;

A todos os professores independentemente de sua ajuda ou não, fizeram
parte;

A AUA (Associação dos Universitários de Areia Branca), por mesmo não
residindo na dita cidade me aceitaram como associado, me permitindo um
transporte de qualidade e regular;

Por fim, agradeço por todos os bons momentos, que foram muitos e que vão
ficar marcados para sempre;





































































"Se penso, logo existo"

René Descartes

RESUMO




O objetivo deste trabalho consiste em analisar as Missões Carmelitas
no Nordeste brasileiro em especial no Rio Grande do Norte e Mossoró a
partir da Historiografia elaborada sobre o tema, seguindo para isto em três
pontos principais, primeiramente uma discussão sobre o surgimento da ordem
e sua evolução dentro da própria igreja Católica, em um segundo ponto já
discutindo sua presença no Brasil, tomei por base o trabalho do Frade André
Prat que em 1940 publicou a obra "Notas Históricas sobre as missões
carmelitanas no extremo norte do Brasil (séculos XVI e XVIII)", trabalho
até hoje mais completo sobre os missionários, em que o autor como membro da
ordem escreve a partir do grupo, o que é analisado no decorrer do
trabalho, a relação de um sujeito com o seu lugar social, em um terceiro
ponto farei um breve histórico das obras da historiografia potiguar que
abordam diretamente ou indiretamente o tema, as narrativas tradicionais
tomando como base a obra de Câmara Cascudo "Notas e Documentos para a
História de Mossoró", o trabalho de Bruno Balbino "Entre Notas e
Documentos: Um livro, uma História" e mesmo não sendo um trabalho de
historiador incluo da mesma forma David Medeiros Leite e sua obra "Os
Carmelitas em Mossoró" pelo fato deste abranger desde uma pesquisa teórica
com autores como o próprio Câmara Cascudo, até um trabalho de campo que
envolveu a comunidade local do Carmo, revelando a seus habitantes a
importância de sua história, repensando algo primordial em nossa área que
é valorizar a história não somente como um passado desligado do presente,
mas sim demonstrar a importância para uma comunidade rural carente como a
do Carmo da importância de sua história hoje.















ABSTRACT



The aim of this work consists in addressing the theme of Carmelite
Missions from the Historiography written on the topic, following in three
main points, primarily a discussion on the emergence of the order and its
evolution within the Catholic Church itself, in a second point already
discussing its presence in Brazil, made on the basis of the work of André
Prat Friar who in 1940 published the work "Historical notes on the missions
in the far northern city Brazil (XVII and XVIII) ", work until today more
complete about missionaries, the author with a member of the order has
visions aligned with your group, namely, the Carmelite order and that I'll
look at in the course of work as the relationship of a subject with your
social place, in a third point I will make a brief history of the works of
historiography potiguar addressing directly or indirectly the theme Since
traditional narratives like Camara Cascudo until the review of the work of
the last "Notes and documents for the history of Mossoro" made by Bruno
Balbino in his work "Between notes and documents: a book, a story" and even
though I'm not a historian's work include similarly David Medeiros Leite
and his work "The Carmelites in Mossoro" for its importance that ranges
from theoretical research with authors as Camara Cascudo until a field work
which involved the local community of the Carmo, revealing it's in
habitants the importance of its history, going against paramount in
importance of our area which is valuing the history not only as a past off
of this, but rather demonstrate the importance for a needy rural community
of the Carmo of the importance of its history today.

















SUMÁRIO




INTRODUÇÃO 8
Capitulo 1:A ordem Carmelita da mendicância ao Brasil colônia. 11
1.1. De ordem mendicante na Europa á chegada ao Brasil colônia. 11
1.2. Atuação no Nordeste 13
1.3. Presença em Mossoró 15
2º Capítulo: Analise Historiográfica de Camara Cascudo a Bruno Balbino
21
1.1. O frade Andre Prat e a visão de um homem em seu lugar social 21
1.2. Notas Históricas sobre as missões carmelitas no extremo Norte do
Brasil, séculos XVII e XVIII, a obra. 23
1.3. André Prat e as visões dos missionários no Brasil. 27
1.1. Das narrativas tradicionais de Camara Cascudo a analise de Bruno
Balbino 31
1.2. David Medeiros Leite e Os Carmelitas em Mossoró 33






















INTRODUÇÃO



A escravidão indígena foi algo marcante nos anos iniciais da conquista
europeia das Américas e algo devastador por vários motivos desmantelamento
de culturas antigas, extinção de outras e um processo de aculturação ainda
mais devastador e traumático, já que por meio da educação separada para as
crianças, essas eram não só fisicamente, mas também culturalmente
distanciadas de seus antepassados em um processo gradativo que era tão
destrutivo quanto um grupo de exploradores destruindo uma tribo, a
diferença era que essa destruição era imediata enquanto a aculturação é
lenta e gradual, sem novas gerações alguns grupos mais isolados acabavam
desaparecendo em poucas décadas.

A igreja católica participou ativamente das descobertas, sendo comum
qualquer embarcação que saia do velho mundo para o novo mundo levar grupos
de padres das mais diversas ordens desde Franciscanos, Jesuítas a
Carmelitas. Os relatos inicias eram de medo, espanto, com os costumes do
homem americano que caminhava desnudo pelas praias da Terra de Santa Cruz,
mas logo as reações passaram do medo para uma nova visão amplamente
utilizada a inocência.

Aparecendo em muitas narrativas já no século XVI, o índio para a os
missionários e por consequência para a igreja como um todo, assumiu essa
característica inata, seres inocentes que tinham adormecido o seu
sentimento cristão, a função dos homens de Deus seria não pouco simples,
fazer esse homem pagão redescobrir as boas práticas e costumes cristãos.

Dentro desse contexto a ação missionária foi preponderante, sendo
esses os responsáveis pelo contato direto com o índio, varias ordens já
citadas anteriormente vieram para essa tarefa, sendo os Carmelitas uma das
ordens que vieram e também uma das últimas, sendo sua presença registrada
apenas em 1580, numa chegada desastrosa com um naufrágio e divisão do grupo
que de missionários. Essa chegada tardia 88 anos após a chegada de Colombo
ao que achava ser a Índia seria explicada pelas próprias características do
grupo religioso, também conhecido como descalços.

A ordem que teve bases no século XIII acabou sendo oficializada apenas
no XV, sendo esse um dos principais motivos do atraso na chegada as novas
terras, apesar da demora, desde os primeiros grupos que chegaram aqui, a
tarefa era clara, catequizar o maior número de índios possíveis, a
justificativa da inocência e salvação permitia os mais variados métodos,
como a associação de imagens indígenas com imagens católicas.

Como já apresentado na parte inicial esse processo de catequese foi
tão devastador para os índios como os massacres, tanto que comprovando essa
afirmativa, as populações indígenas continuaram a definhar mesmo após as
proibições tanto da coroa espanhola quanto da portuguesa inclusive gerando
conflitos entre colonos, como a Revolta de Beckman, movimento que envolveu
apenas colonos, que tinha entre suas principais questões a escravização
indígena e ataques a aldeamentos que eram os locais onde os missionários
mantinham os indígenas em processo de catequese, a igreja escolheu no caso
a escravidão de africanos como solução aceitável.

Esse conflito constante entre colonos e missionários levaria
futuramente a expulsão das ordens. Mas durante os três séculos em que
permaneceram atuando a presença das missões ajudou indiretamente muito a
coroa portuguesa não fossem elas e sua ação em regiões como Norte, Centro-
oeste e Sul, muito provavelmente não teríamos o território que temos hoje,
sendo utilizando à justificativa dessas povoações e outras localidades para
expandir as terras da colina para o oeste.

A ação dos missionários ajudou alguns grupos de índios a permanecer
vivos apesar de aculturados, mas certamente não fosse à presença de alguns
aldeamentos a situação seria bem mais devastadoras, confirmando essa
posição de proteção em muitos casos, está a forte oposição dos colonos as
missões. A ameaça ao governo em boa parte do período colonial não foi
sentida, sendo a religião forte aliada das coroas europeias, elas garantiam
como já citado antes, a ocupação territorial que garantia posse e uma
homogeneização das populações. As relações da coroa portuguesa com as
missões foram abruptas e diretamente ligadas à chegada de Pombal, tanto que
nos anos iniciais do seu reinado José I, o rei de Portugal que assume em
1750, foram publicadas algumas cartas reais que funcionavam como decretos,
que garantiam as ordens, novas áreas para ocuparem a muito elogiosas de sua
ação. Pombal vai ser influenciado diretamente pelo iluminismo que pela
primeira vez colocaria a ciência a frente da religião, pregando a razão, ou
seja, as luzes como fundamentais nas decisões, os reis mesmo sendo figuras
destoantes deste pensamento, já que estavam no trono por direito divino,
assumem muito destas ideias de reformas guiadas pela razão e as implementam
em varias áreas como a educação, administração e tributação, reformas essas
conduzidas diretamente pelos monarcas e que estavam associadas,os reis
caracterizados por essas ações ficaram conhecidos como déspotas
esclarecidos, José I ficou conhecido como um deles apesar de ser Pombal o
responsável pelas reformas, entre elas a expulsão das missões acusadas de
constituírem estados dentro do estado português, o processo foi rápido em
suas expulsões, desapropriação de terras e leilões. Quando Maria I filha do
rei déspota assumiu pós-fim a maioria das reformas expulsou Pombal da
corte, mas não revogou a lei das ordens.

A ação desses grupos religiosos foi preponderante na própria
administração e organização da sociedade, um país pequeno como Portugal
teria enormes dificuldades em controlar o Brasil uma colônia enorme para
não dizer impossível, ai entra mais uma vez a ação da igreja que em muitos
locais era o único poder organizado e respeitado, daí muitos religiosos
acenderem a cargos de comando com facilidade.

O destaque nesses aspectos que citei de prós e contras da presença
carmelita no Nordeste brasileiro tem por sentido, portanto, demonstrar que
não há algo inteiramente prejudicial e nem totalmente a favor, ao analisar
qualquer ação de uma pessoa ou grupo precisamos ver em que contexto
histórico eles estão inseridos e seu lugar social, que vai influencia-lo
diretamente, seja na ação, seja na escrita, sendo assim estabelecer ou
tentar estabelecer um juízo de causa às vezes se torna mais prejudicial na
perpetuação de estereótipos e anacronismos.

Desse modo, algumas leituras foram importantes para o desenvolvimento
da pesquisa, destaco aqui o trabalho de Carla Oliveira "Arte Religião e
Conquista: Os sistemas simbólicos de poder e o barroco na Paraíba, 1999,
bem como o de Robson Costa "'As ordens religiosas e a escravidão negra no
Brasil",2008. Além da leitura de bem como de MONTAIGNE, "Os Ensaios, Dos
Canibais". No que se refere as fontes analisadas foram investigados o
livro Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo norte do
Brasil (séculos XVII e XVIII), 1940, de André Prat, além da obra Os
Carmelitas em Mossoró, publicado pela Fundação Guimarães Duque em 2002.
Menciono também o livro "Notas e Documentos para a História de Mossoró",
1955 de Câmara Cascudo, além dos trabalhos de Bruno Balbino "Entre Notas
e Documentos: Um livro, uma História" e David Medeiros Leite e sua obra
"Os Carmelitas em Mossoró".

Metodologicamente analisamos os discursos presentes nestas obras, no
sentido de investigar a maneiras como os mesmos se referem à presença
carmelita no Nordeste brasileiro. Para efeitos de organização, o nosso
trabalho foi organizado em três capítulos, no primeiro foi optado por fazer
uma síntese do surgimento da ordem, com sua evolução dentro da própria
igreja católica, sendo que inicialmente e até por suas origens os
carmelitas fossem uma ordem mendicante, que não tinha igrejas ou mosteiros,
vivendo da mendicância algo que para cultura medieval não era estranho ou
mal aceito, permanecem assim durante quase três séculos sendo no fim do
século XV a transição para uma ordem organizada e autorizada a construir
suas sedes e receber dízimos regularmente, esse reconhecimento tardio vai
ser um dos motivos da sua inserção tardia nas Américas em especial no
Brasil onde chegam em 1580, em seguida abordo alguns aspectos da sua
chegada e do convento de Recife de grande importância nas missões do
Nordeste e Norte. Em separado de certa forma trato de sua ação em Mossoró
registrada já a partir de 1701, discutindo as características destas terras
em inícios do século XVIII, o processo de doação das terras, as estruturas
que ergueram e sua influencia durante meio século sobre as populações da à
época conhecida região Upaneminha, chegando até vestígios não físicos de
sua presença nos dias de hoje, refletidos na Comunidade do Carmo e no rio
de mesmo nome.

No segundo capítulo parto para uma analise da obra de Andre Prat
"Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo norte do Brasil
(séculos XVII e XVIII)", acerca das varias missões Carmelitas realizadas
entre os séculos XVI a XVIII, tenho como base para o estudo dessa obra a
visão do autor como um membro da ordem, ou seja, é uma analise que veio de
dentro da ordem, e as influencias dessa situação na obra de Prat.

Em um terceiro momento foi feita uma síntese dos escritores locais
sobre a temática, não adentrando muito na discussão do tema que foi diluído
na primeira e segunda parte como um complemento para as mesmas, mas sim
analisando seu trabalho, suas diferenças seus métodos.























CAPITULO 1: A ORDEM CARMELITA DA MENDICÂNCIA AO BRASIL COLÔNIA


1.1. De ordem mendicante na Europa á chegada ao Brasil colônia.




"[...] Nunca os carmelitas chegaram tão frequentemente ao
heroísmo como nas missões do Norte. Enfrentar os rios
amazônicos, penetrar aqueles bosques, vencer a malignidade
d'aquele clima, livrar-se daquelas feras, amansar aqueles
selvagens, lanças as bases de futuras povoações, somente
por amor a Cristo e à Santa Igreja, é missão sobre-humana
a que almas vulgares nunca se abalançariam... André Prat¹






Era 1580 sob a liderança de Frei Domingos Freire um grupo de quatro
carmelitas acompanhava a expedição de Frutuoso Barbosa encarregada de
fundar uma colônia na Paraíba, a tentativa de colonização fracassou devido
uma forte tempestade que dispersou os navios impedindo o desembarque dos
primeiros carmelitas no Brasil, três dos membros da ordem acabaram por se
estabelecer em Olinda em terras doadas onde fundam o convento do Carmo da
cidade de onde partem importantes expedições pela região Nordeste, a época
ainda com muitas áreas despovoadas ou povoadas por povos indígenas não
catequizados, estes principal alvo das missões.
A ordem surge em 1226 oficialmente, mas desde o século X com o
resurgimento da vida eremita² e das cruzadas grupos já bem assemelhados com
os carmelitas vinham surgindo pela Europa, o grupo era composto então por
peregrinos não acostumados a viver em locais fixos, a bula papal que
estabelece a ordem a transforma em ordem mendicante, ou seja, deveriam
continuar vivendo com peregrinos sem nenhuma receita fixa e dependente
única e exclusivamente da benfeitoria das populações de vilas e cidades.

Em 1247 face as grandes dificuldades, outra bula irá permitir aos
carmelitas estabelecer-se de forma definitiva em alguns locais, também lhes
foi permitido fundar conventos, por exemplo, e dessa forma eles iram
permanecer até o cisma [1]do ocidente e o concilio de Trento, onde em meio
à decadência da igreja católica no continente Europeu, provocada em muito
pelo seu enriquecimento, são estabelecidas as ordem mendicantes novamente,
entre elas esta a ordem dos carmelitas descalços.

A presença dos carmelitas em países pioneiros do mercantilismo e das
grandes navegações foi ainda mais importante pelo motivo desses países já
estarem em fins do século XV e inicio do XVI descobrindo novas terras e
povos e a igreja católica viu nesse povo considerado com fé adormecida, uma
nova fonte para o catolicismo que definhava rapidamente em varias partes da
Europa.

Portugal era um desses países, reunia todos os bons motivos, era uma
nação a época pioneira do comercio e das grandes navegações, junto com
Espanha também era um dos países, mais fervorosamente católico da Europa, a
presença de carmelitas no país era datada de 1251 quando se estabelecem em
Moura estrutura construída por militares portuguesas, esse convento vai ter
42 religiosos lotados em 1421 e fins do século irradiará membros para
Portugal e para o novo mundo.

Na América portuguesa, boa parte dos carmelitas é transferida para
Lisboa, onde ocorre o auge do Carmelo que vai até a primeira metade do
século XVIII durante esse período são fundados vários conventos por todo
país, chegando até nas ilhas próximas, atravessam o atlântico ainda no fim
do século XVI do atlântico chegando às terras de Santa Cruz.

Depois de tanto florescimento as ordens religiosas começam a ser
questionadas, até mesmo em países Portugal onde a igreja tinha influencia
ampla, o principal motivo era a tradição desses grupos de se estabelecer em
áreas onde proibiam a escravização dos indígenas como no Brasil, ocupavam
áreas extensas construíam casa e conventos, criavam grandes rebanhos para
os padrões da época e cultivavam grandes áreas como não pagavam impostos e
utilizavam mão de obra indígena sem custos, apesar de essa não ser escrava,
por esses motivos e outros tendiam a acumular grandes riquezas e ter grande
influencia nas áreas que ocupavam se estabelecendo nessas como o verdadeiro
estado, essa condição de constituírem verdadeiros estados dentro do estado
e a própria cobiça por suas riquezas geraram conflitos que iram por fim a
ordem, em Portugal o inicio do declínio ocorre com o grande terremoto de
1755 que acaba pondo abaixo a maioria dos conventos, em seguida ocorrem às
reformas do Marques de Pombal que vão por fim não só a presença carmelita
com de varias outras ordens.

Sua extinção definitiva ocorre em 1834 onde definitivamente são
expulsas e extintas em definitivo, iniciando a partir de então seu
desaparecimento da história portuguesa, será somente um século depois, mas
precisamente em 1930 quando lentamente a ordem começa a se reerguer, havia
tão poucos membros a época que para impulsionar seu desenvolvimento são
chamados grupos do Brasil e até da Irlanda sem sucesso, cabendo o
repovoamento carmelita em Portugal um dos países que antes tinha tantos
membros a grupos que vieram da Espanha.

Em outros países a ordem enfrentou a mesma oposição, principalmente
pelo acúmulo de riquezas e pelas próprias circunstâncias políticas e
econômicas, os reis queriam manter seu poder sem que existissem bolsões
controlados por alguns grupos, em algumas áreas do novo mundo o poder
carmelita e de outras ordens ultrapassava em muito o poder dos monarcas, o
motivo era claro geralmente as missões eram as primeiras a chegar a muitas
áreas e as únicas a permanecer por muito tempo, se tornando nesse espaço de
tempo o governo que ditava as leis, a justiça que as aplicava e condenava e
a própria defesa.

Um exemplo claro desse processo ocorre, por exemplo, nas missões
jesuítas do sul do Brasil colonial na fronteira com o Vice Reinado da Prata
que hoje correspondem aos territórios da Argentina, Uruguai e Paraguai,
onde a extensão do poder dos missionários era tão grande ao ponto dos
colonos acusarem os grupos ali estabelecidos estarem formando um verdadeiro
estado à parte e o mais assustador com grandes exércitos de índios
catequizados dispostos a lutar, é de se duvidar de tamanha grandiosidade,
mas o pretexto foi bem aceito pelas coroas católicas de Espanha e Portugal,
dando origem a uma das mais sangrentas guerras das Américas, envolvendo
apenas católicos, terminada a guerra, as missões são expulsas os índios
dispersados e as terras destinadas ao seu verdadeiro fim, são distribuídas
entre os colonos mais destacados politicamente.

Não há registro que comprove que as missões carmelitas desenvolveram
processo igual ao das missões Jesuítas, muito por suas características que
envolviam não permanecer em territórios por muito tempo, não estabelecerem
propriedades muito extensas e não catequizarem povos de uma região inteira,
se reservando a apenas algumas tribos.


1.2. Atuação no Nordeste



Em terras brasileiras a presença do grupo religioso data de 1580, ano
da fracassada chegada em terras paraibanas, o contexto dessa chegada já
demonstraria as grades dificuldades da sua instalação, depois da intempérie
nas terras paraibanas, os primeiros Carmelitas acabam se estabelecendo no
Recife onde em terras doadas começam a erguer o primeiro convento
carmelita, essa primeira construção foi a mais demorada, mas daria bons
frutos, foi a partir de recife que partira, nas primeiras e mais
desafiadoras missões, para os sertões ainda selvagens, com tribos que mesmo
expulsas do litoral ainda reinavam no interior dominando extensos bolsões
de terras.

O desafio dos primeiros carmelitas era chegar nessas terras inóspitas
e iniciar o processo de catequização de tribos muitas vezes violentas, que
já vinham resistindo às pressões dos exploradores há algumas décadas, mesmo
assim houve sucesso em muitos casos, pois nas palavras de Prat (1940): "Os
Índios attrahidos pelos edificantes exemplos de tão novos indivíduos,
corriam em bandos a ver e ou- vir estes homens raros, e seguiam a doutrina
que com zelo pregavam".2

Os métodos dos carmelitas eram destacados e eficazes segundo Prat,
pois se utilizavam toda simbologia necessária à assimilação dos indígenas
das praticas religiosas, o teatro, por exemplo, era amplamente utilizado,
principalmente com as crianças que naturalmente por ainda estarem em um
período de crescimento absorviam melhor os ensinamentos passados, outro
método utilizado era a ligação de divindades indígenas com santos
católicos, isso permitia de forma a não gerar conflitos nas tribos, que os
índios adotassem seus deuses ao mesmo tempo em que adoravam santos,
gradativamente as características dos deuses indígenas eram retirados e as
características católicas prevaleciam.··.

[2]No nordeste como um todo, as missões carmelitas foram em número
menores, mas seria no Maranhão no século XVII que se concentraria um grande
número de conventos instalados a partir de 1614, foi nesse mesmo local que
iniciaram os conflitos entre as ordens diversas e os colonos interresados
em escravizar os indígenas.

Na Paraíba depois da chegada não bem sucedida os carmelitas iram se
estabelecer em outras missões posteriores ainda durante o período de
dominação espanhola, o primeiro registro depois de 1580 foi o de 1588
quando os carmelitas já estabelecidos fundão uma igreja e uma capela já em
estilo barroco, a localização foi na foz do rio Paraíba onde hoje se
localiza o município de Lucena.

Os carmelitas aqui se instalaram em 1588. Construíram um
convento, a igreja de Nossa Senhora do Carmo e a capela de
Santa Tereza D´Ávila, formando o conjunto Carmelita em
estilo barroco rococó situado na parte mais alta da
cidade, Num promontório ao largo da foz do Rio Paraíba
(hoje município de Lucena) construíram a igreja de Nossa
Senhora da Guia e um hospício, denominação dada aos
hospitais religiosos no Brasil colônia. A igreja da Guia é
classificada como peça exemplar da arquitetura barroco-
tropical em vista dos maravilhosos detalhes, em pedra
calcária representando os frutos e a flora da nova
terra[...]"Não se tem muito sobre a ordem porque durante o
domínio holandês(1634 a 1654) os frades tentaram proteger
seus documentos enterrando-os. Anos depois, grande parte
dos documentos não foi encontrada e alguns estavam
impróprios para a leitura".3




O período que compreende a presença carmelita no nordeste é marcado
pela pouca documentação, sendo que os próprios missionários cuidaram em
muitos casos de esconder a documentação, temendo que registros antigos
caíssem em mãos inimigas e fossem destruídos, foi uma época sombria em que
houve alguma documentação.

1.3. Presença em Mossoró




Frei Júlio; sei que o momento é de festa, posto que sua
ordenação sacerdotal acontecerá agora, em dezembro. E
você, apesar de ter vivido esses últimos anos no Convento
do Carmo, em Pernambuco, em louvável gesto, escolheu
Mossoró, sua terra natal, para receber tão bonito
sacramento.
Permita, pois, que eu faça alguns comentários arrimado na
ligação histórica existente entre sua Ordem religiosa e
nossa cidade. Tema que já abordei em diversas
oportunidades, mas que, desta vez, o faço com um
significado especial, considerando as lembranças que seu
vestíbulo ministerial suscita.
A catedral de Santa Luzia, por exemplo, escolhida como
templo para sua ordenação, quando da singeleza dos
primeiros passos, mereceu toda atenção de seus confrades
que saíam lá do Carmo, onde viviam, para nela celebrarem.
À guisa de ilustração podemos citar que o primeiro
casamento realizado na então capela, em 1778, foi
presidido pelo frei Antônio da Conceição.
Ressalte-se que antes mesmo da existência da capela, os
carmelitas já ministravam sacramentos nas ribeiras dos
rios Upanema/Carmo, Apodi/Mossoró, conforme os registros
históricos comprovam. Portanto, foram esses religiosos os
primeiros missionários em nossa região."4




A citação acima é uma carta de David Medeiros Leite que em processo de
pesquisa para escrever seu livro Os Carmelitas em Mossoró, enviou a Frei
Júlio Cesar, este ultimo em visita a Mossoró.
[3]A região de upaneminha nos oeste da província do Rio Grande do
Norte era uma das varias regiões do nordeste que em pleno século XVIII, 3
séculos após a chegada dos portugueses continuava quase como um território
selvagem aos olhos da igreja e do homem branco.

As terras acabaram entrando numa das doações do governador de
Pernambuco, que a época tinha jurisdição sobre as terras potiguares, as
terras consideradas quase desabitadas são entregues a ordem do Carmo do
Recife.

Da doação os missionários logo se estabeleceram em terras próximas a
um rio onde erguem a primeira estrutura, tendo outras experiências em
missões como em Baia da Traição, Mantemor e Preguiça na Paraíba e Gramácio
atual Vila Flor no Rio Grande, o grupo logo conseguiu avanços na criação
de gado e assistência religiosa a população, solicitando logo ao
Governador do Rio Grande uma ampliação das terras.



Em 28 de Fevereiro de 1706 os Carmelitas requereram um
prolongamento de terrenos na mesma ribeira do Panema,
dessa vez dirigindo-se ao Governador do Rio Grande do
Norte, Sebastião Nunes Colares, que concedeu mais três
léguas de terra rio baixo, entestando com a que os
religiosos carmelitas já tinham obtidos
anteriormente.Este registro está na página 11 do referido
livro de Tombo.5



Eles iram erguer o primeiro espaço religioso no local, alem de uma
fazenda de criação de gado, a missão do Carmo não tinha uma função
principal catequizadora e sim povoadora, as populações presentes nestas
terras eram escassas e as terras ainda apresentavam alguns indígenas
errantes e era essa a única população que existia, fazendo os carmelitas à
função de serviços religiosos, a população permaneceu muito escassa até
inícios do século XIX, sendo que gradativamente as terras da ribeira vão
sendo distribuída em novas sesmarias entre elas a da fazenda Santa Luzia,
com o surgimento dessas novas propriedades a população base dos carmelitas
que eram os grupos dispersos, acabaram indo pros arredores das
propriedades novas em busca de segurança, emprego e condições básicas com
água e alimento, com a divisão das terras a principal fonte de alimento e
rendas para a missão escasseou que era a criação de gado de forma
extensiva que necessitava de grandes áreas para crescer, ao mesmo tempo
com a construção da capela de Santa Luzia a busca por serviços religiosos
como o batismo e missas diminuiu, sendo que a função.

[4]Alguns registros, segundo Camara Cascudo mostram que os Carmelitas
permaneceram de certa forma ilegalmente nas terras até 1845, mesmo após a
expulsão decretada pelo governo Pombal em 1759 tendo para isso alguma
conivência dos párocos mais próximos de Apodi.

[5]Há algum debate atual a cerca não da fundação de Mossoró, mas sim
com relação ao surgimento de uma sociedade local organizada, é um debate
que envolve de um lado os defensores da fazenda Santa Luzia como o
primeiro centro realmente organizado e os que defendem que foram os
carmelitas os primeiros a guiar uma verdadeira sociedade organizada, claro
nos padrões cristãos de organização social a partir dos preceitos
religiosos católicos.

Outro detalhe importante é que além da sede principal os carmelitas
utilizaram por muitos anos, mas precisamente entre 1767 e 1845 uma casa de
orações que se localizava na área que hoje corresponde aos bairros das
Barrocas e Paredões essa assim teria sido construída antes da capela de
Santa Luzia, sobre o acontecido fala monsenhor Francisco de Sales
Cavalcanti em entrevista, historiador da diocese de Mossoró, reconhecendo
a existência da casa, mas não como um local pertencente aos carmelitas.

"A respeito da existência de uma casa de oração no lugar
conhecido como "igreja velha", entre paredões e barrocas,
subúrbios dessa cidade, construída antes da capela de
Santa Luzia. Esta casa de orações, apesar de ter sido
construída de pedra e cal, foi, entretanto coberta de
palha de carnaúba pelo que desmoronou, sendo depois
reconstruída e no seu interior foram sepultados muitos
cadáveres, como era costume nos tempos antigos, onde não
havia cemitério. De 1767 até 1820 os frades carmelitas
batizaram em diversos locais. Nada na mencionada "casa de
orações". Não seria apenas um simples oratório particular
de uma família abastada, como existem muitos pelo
interior?"6




Na mesma entrevista o historiador da diocese fala sobre o
desaparecimento do carmelitas a partir do sepultamento do ultimo Frei
carmelita Antonio da Conceição, que administrou o Carmo por muitos anos e
foi sepultado no interior dessa igreja, não [6]havendo mais registros de
carmelitas desde então, sendo que por ter sido enterrado em outro local,
já não deveria haver na missão do Carmo nenhum tipo de manutenção, já que
era comum o sepultamento de religiosos no local onde ministravam.



O Frei Antonio da Conceição, administrador do Carmo, por
muitos anos prestou serviços religiosos na região. Ao
morrer, já velhinho, foi enterrado no interior da capela
de Santa Luzia, como consta em documentos daquela igreja.
É muito provável que se existisse um convento no Carmo ou
mesmo uma igreja, seu corpo tivesse sido enterrado em
outro local que não fosse no Carmo, principalmente sendo
ele o administrador da fazenda. Devia ser, do mesmo modo
da igreja velha, um oratório da casa dos padres do
Carmo."7



[7][8]Do período dos últimos registros de sua presença em 1845 as terras
vão ser ocupadas pela população local, permanecendo o mesmo uso para as
atividades pecuarista, tendo, passado de mão em mão, o dono mais antigo de
que se tem noticias é o comandante Veras que as adquiriu em fins do século
XIX e de que pouco se tem a falar, em 1907 as terras seriam adquiridas
pelo Sr João Correia que as administrou durante boa parte do século XX, os
familiares do mesmo descreviam a "Casa Grande" como com salas enormes e
vários quartos, além de uma arquitetura religiosa e cavidades onde eram
colocados os santos, o que comprovava a presença carmelita, em fins do
século XX as terras são adquiridas pelo Sr Raimundo Mendes. Os moradores
da localidade do Carmo sempre tiveram muito medo do local, descreviam
vozes e vultos, além da lenda de uma "Botija" que os Carmelitas tinham
deixado e que chegou a atrair interresados, infelizmente à edificação ruiu
nos últimos anos sendo gradativamente consumida pelas intempéries, o local
vulgarmente conhecido como mosteiro do "Carmos" já não existe mais, o
local preciso da construção é de difícil localização, mas relatos informam
ser numa antiga estrada de terra que ligava a região de Mossoró, a época
um lugarejo de habitações espaçadas, a Açu que era a sede.

Mossoró a cidade da memória em que se lembra apenas do que se quer e
não do que interessa, esqueceu a presença carmelita, que acabou hoje se
resumindo apenas a ruínas que afundam cada vez mais.

[9]Além da obra de Prat, também utilizo inicialmente também trechos
da obra de Camara Cascudo "Notas e Documentos para a História de Mossoró",
a utilização dessa terá por fim mostrar a chegada dos carmelitas como
pioneiros nessa terra e dentro do possível descrever sua rotina, assim
tentarei durante a pesquisa trazer um pouco de luz sobre um tema ainda tão
obscuro a nossa historiografia local.

O esquecimento geralmente e a principal razão da falta de
preservação de monumentos, fazer conhecer esse período e os seus sujeitos
no caso os carmelitas, é a principal razão de se trabalha-lo, um ponto
interessante a se supor é se os carmelitas não tivessem sido expulsos
teria Mossoró começado com outro nome a 30 km de onde esta hoje, seu nome
poderia ser Upaneminha nome que a região e outras convizinhas tinham em
inícios do século XVIII, essa cidade teria outro nome, outro padroeiro.

Como já expliquei antes nesse projeto inicialmente utilizo quase que
somente a obras de Prat, mas com o andar da pesquisa irei adicionar outras
obras à pesquisa, obras especificas sobre o tema praticamente não existem,
mas com a leitura de obras que abordam o cotidiano das missões carmelitas,
irei conhecer esse grupo religioso e a partir desse conhecimento estudar
sua presença nas terras potiguares no caso em Mossoró.

A influencia dos mesmos na contemporaneidade se resume aos nomes de
algumas localidades de Mossoró, como por exemplo, a Lagoa dos padres, a
comunidade do sitio Carmo e por fim e mais importante o Rio do Carmo que
ganha esse nome curiosamente apenas ao chegar a terras Mossoroenses, antes
de chegar aqui seu nome é Upanema ou Upaneminha o nome antigo da região de
Mossoró.




















2º CAPÍTULO: ANDRÉ PRAT E AS VISÕES DOS MISSIONÁRIOS NO BRASIL


1.1. O frade Andre Prat e a visão de um homem em seu lugar social







As missões das mais diversas ordens realizadas nos séculos iniciais da
colonização foram imprescindíveis na própria formação do espaço geográfico
dos impérios europeus, principalmente o português que não conseguia
adentrar a colônia, os aldeamentos constituíram assim parte importante da
nossa história, sem que estes existissem possivelmente áreas que hoje
consideramos parte do Brasil, como a Amazônia, centro-oeste e parte do sul
seriam de outro país.

Serão essas missões que André Prat vai descrever em sua obra principal
"Notas Históricas sobre as missões carmelitas no extremo Norte do Brasil,
séculos XVII e XVIII" essa obra foi e continua sendo a principal com
relação a historia do Carmelo brasileiro.

Prat um frade vai ter acesso para a realização da obra vários
documentos, a maioria enviados a ele por outros membros da ordem, tendo
esse fugido da Espanha durante os conflitos, o mesmo se interessou muito
por todo trabalho missionário feito no Brasil, pois apesar de fazer parte
da ordem, vivia na Europa não tendo contato e pouca noção sobre as missões
em si, a obra foi feita com anos de pesquisa e organização de muitos
documentos como atas e registros de missões distantes que estavam chegando.

Fruto de pacientes e escrupulosas investigações nos
arquivos de nossos velhos conventos, e fruto também de não
poucos apontamentos tomados durantes longos anos ou
suministrados por próprios e estranhos... unido tudo isto
a uma leitura continua e selecionada, as "Notas" em
questão não são como quer seu autor com singular e
encantadora modéstia, um "ramalhete mesquinho de
silvestres flores espalhadas e esquecidas nos outrora
ubérrimos jardins carmelitanos", mas o estado mais
completo"8
[10]
[11]Publicou alem dessa obra outras principalmente ensaios, foi também
um dos fundadores da Revista Mensageiro do Carmelo, publicação que tinha
por finalidade destacar o passado glorioso das missões, e mostrar que ordem
tinha um passado de destaque.

A época, nos anos 1930, o Carmelo já existia e funcionava
normalmente, mas seu desligamento da sociedade em geral o mantinha como um
grupo religioso desconhecido e sem uma função contemporânea, havendo apenas
a ligação do grupo com as missões do período colonial.

O trabalho do frade Prat vai se concretizar em fins dos anos 1930
quando começa a escrever sua obra principal, o trabalho de pesquisa foi
longo e após esse, o mesmo teve que passar por uma avaliação dos superiores
antes da publicação em 1941. O grande destaque do trabalho foi seu
detalhismo e abrangência, conseguindo reunir relatos de missões realizadas
três séculos antes nos confins de um Brasil colonial entre os séculos XVI e
XVIII muito pouco explorado e conhecido, o trabalho claro não destacou os
males as populações indígenas como as doenças, por exemplo, mas sim
transforma os missionários em desbravadores.

O pensamento do autor estava intimamente ligado às posições de seu
grupo, ele era um homem influenciado pelo seu lugar social e pelo seu
tempo, por esse motivo temos que avaliar bem suas posições para não cometer
novos erros como o anacronismo, um exemplo esta na passagem em que Prat
critica a Revolução Francesa nos seus ideais e diminuição do poder
clerical, segundo suas analises foi à revolução francesa base para os
modernos regimes totalitários, lembrando que o trabalho foi publicado em
meio à segunda guerra.

A Revolução francesa, a primeira que deu o golpe quase
definitivo à nossa, coma a tantas ou- tras Congregações
encarregou por assim dizer às modernas ideologias
totalitárias, nascidas de seu seio por uma espécie de
paradoxo, diminuir, aos poucos, os seres privilegiados
que, consagrados a uma vida pacífica e estudiosa,
constituem hoje um exemplo mais admirável do que
imitável.9


O autor, fazendo parte de um grupo novo de Frades que vão iniciar sua
vida eclesiástica entendia, porém que a imagem da ordem era prejudicada
como dito antes, por sua ligação com o passado como cita PRAT(1941. p.7)
"Consiste este anacronismo em considerar aos carmelitas que foram como os
carmelitas que atualmente são" sua principal justificativa era de que a
época as circunstancias favoreciam a posicionamentos mais antiquados e que
com os passar dos anos a tendência é a evolução do conhecimento.


Outro ponto importante que o próprio autor destaca é que em nenhum
momento sua obra ambiciona ser um trabalho histórico, pois tal desejo vai
de encontro as suas convicções, , como cita "Fr. André, sem desejo de
reclame, nem ambição de ser tido por historiador, movido apenas pelo
louvável anseio, - muito em harmonia" PRAT, 1941, pág.11.





1.2. Notas Históricas sobre as missões carmelitas no extremo Norte do
Brasil, séculos XVII e XVIII, a obra.



Em fins dos anos 1930 o trabalho missionário no Brasil vivia seu
período mais obscuro, as ordens de um modo geral já funcionavam sem nenhum
tipo de restrição ao seu funcionamento, mas ao mesmo tempo tinham pouco
apelo na sociedade, não havia como destacado antes um apelo social, uma
função para esses grupos, o número de membros era pequeno e os prédios
estavam em péssimo estado, em meio a esse contexto foi publicada Notas
Históricas, que pós-fim a um longo período de vazio sobre a escrita
missionária, "Reivindicar as dignificantes memórias dos gloriosos feitos da
Ordem no extremo Norte do Brasil, sobre cuja história nada se tem escrito,
tal foi o alvo visado neste despretensioso trabalho" PRAT(1941, p.14). O
trabalho foi feito em sua pesquisa por Prat, mas sua revisão e organização
por outro frade Romeo Peréa.
O trabalho por ser escrito por um membro apresenta controvérsias,
sendo uma escrita mais positivista do que eclesiástica, mesmo em meio a um
Brasil desconhecido e a própria violência mutua entre europeus e indígenas
o trabalho não expõe os conflitos ou os fracassos que sempre existiram e em
nenhum momento toca em questões hoje conhecidas e aceitas pela
historiografia em geral.


[...] a "civilização" impôs-se, primeiro, pelas pestes
mortais; depois, pelas guerras de extermínio e
escravização. O sucesso da ocupação da terra brasílica
pelos colonizadores portugueses, portanto, assentou-se em
três fatores: a) na morte de dezenas de milhares de índios
em decorrência do contato direto ou indireto com doenças
(gripe, sarampo, coqueluche, tuberculose, varíola, etc.)
trazidas por brancos; b) no extermínio físico de povos
indígenas por meio da chamada "guerra justa" deflagrada
pelos conquistadores europeus; c) no processo de
aculturação, em grande parte possibilitado pela
catequese[...]10


Com os genocídios provocados por guerras e principalmente por
doenças, essas ultimas trazidas muitas vezes pelos missionários as tribos
isoladas rapidamente sucumbiam a ferozes epidemias, muitos missionários
eram mortos, pois sua chegada era associada às mortes.
A ação missionária era considerada salvadora e civilizatória sempre ao
lado do estado, no caso o português, as principais referencias aos
indígenas eram dúbias, ou seja, caminhavam em direções opostas havia a
descrição da pureza e inocência comum nas crônicas dos primeiros
descobridores, que apesar de todo o peso religioso não conseguiam ver
figuras demoníacas nos homens do novo mundo, no texto de Prat
diferentemente predomina a outra visão, o autor em varias passagens ira
fazer referencias não muito engrandecedoras dos índios, mas sempre há no
seu texto, o caminho da salvação até para essas almas.


[...]ensinando e baptizando milhares de homens, que
vagavam nas trevas e na ignorância, podiam concorrer para
o engrandecimento e gloria da mesma Igreja, promovendo a
felicidade dos homens neste vasto continente por meio da
cultura, da verdade e dos costumes[...]11

A parte inicial da obra faz uma narrativa sobre os primeiros anos do
Brasil colônia, destacando pouco interesse dos próprios portugueses por
essas terras, a época a verdadeira Índia asiática era bem mais cobiçada.
[12]Os primeiros povoadores foram assim os infiéis, ou judeus muitos
cristãos novos que em Portugal não eram aceitos por varias desconfianças de
sua real cristandade, duvidas certas, ao passo que a maioria dos novos
convertidos não eram realmente católicos ao ponto de fugirem de Portugal e
se estabelecerem na nova colônia, onde mesmo assim eram perseguidos
[13][14]
por praticas judaizantes, foram esses grupos os responsáveis pelas
primeiras e precoces inquisições. [15]
[16]Havia como no caso das outras ordens forte oposição aos primeiros
em mais sangrentos ataques aos índios, que dizimavam tribos antes mesmo dos
missionários chegarem "O furor das Armas não aggrega os homens, serve para
destruir os mesmos homens: a ambição do comércio estende somente as suas
especulações mercantis em Sociedades ordenadas muitas vezes para arruiná-
las". PRAT(1941, p.18)
A igreja passava então na Europa por sua maior crise com as reformas
protestantes que levavam milhares de católicos a conversão, inclusive foi
esse o principal motivo da mudança das ordens em seus métodos de catequese
para que pudessem ir as Américas, no velho mundo a igreja era conhecida e
decadente no novo mundo não havia tais opiniões, muito menos concorrência.
Os primeiros missionários não tiveram segundo Prat coragem e
conhecimento da catequese o suficiente para penetrar nas florestas
fechadas, os franciscanos foram os primeiros em 1503, não chegaram a
realizar algum trabalho se limitando ao litoral, o autor descreve as
primeiras impressões terríveis dos Franciscanos.


[...] e tocando nestas praias brasilenses alguns outros
Regulares em diversos tempos, voltaram assustados da vista
terrível dos Indios e receiosos de penetrar espessas e
dilatadas mattas, que cobriam toda a terra, onde se
criavam feras bravíssimas, e reptis de grandeza enorme,
até que de cultivado o paiz por estabelecimentos novos, se
animaram a emprehender a Catechese dos Indios". 12


Os jesuítas foram em 1549 os primeiros a se estabelecer nessas terras
construindo as primeiras igrejas, vieram como uma missão acoplada à mandada
por Portugal ao Brasil que trazia Tomé de Souza primeiro governador geral,
os Carmelitas iriam chegar em 1580 se estabelecendo no Recife, no mesmo ano
os Capuchinos e por fim já em 1585 os Monges Beneditinos todas as
congregações vem com a mesma tarefa catequizar a maior quantidade de índios
possível.
A necessidade de ir a terras distantes e inóspitas não foi uma prova
de coragem ou algo parecido, quando das primeiras missões em fins do século
XVI e inícios do XVII as terras mais próximas do litoral já tinham uma
ocupação esporádica, os índios já haviam desaparecido ou aculturados.
[17] Foram esses missionários os fundadores de muitas primeiras
cidades do Norte e Nordeste, vilas essas habitadas geralmente por uma
população heterogênea de escravos, indígenas catequizados e uma rasa
população branca.


Não só nas margens agradáveis desses Rios se foram
estabelecendo grandes Missoens, mas pelo interior de
aridos e desabrigados sertoens, se fizeram povoaçoens que
ainda hoje conservam os nomes de seus primeiros Fundadores
e são Cidades populosas.13


Enquanto os jesuítas se concentraram no Sul, Sudeste e Centro-Oeste os
Carmelitas tiveram como grande centro de difusão Recife e Olinda, cidades
onde sua presença era mais antiga segundo PRAT(1941, p.29)"Foi do convento
de Olinda, casa central de suas missões, e, pela sua antiguidade, também
cabeça de todos os outros cenóbios carmelitanos fundados no Brasil [...]",
e até por sua maior proximidade da metrópole partindo desse centro partiram
grupos que chegaram ao Maranhão e territórios do norte do Brasil, sendo os
missionários saídos de lá os mais bem preparados para a tarefa
evangelizadora.




Foi do convento de Olinda, casa central de suas missões,
e, pela sua antiguidade, tambem cabeça de todos os outros
cenobios carmelitanos fundados no Brasil, . (l) Mas como o
nosso fim não é evidenciar senão o estabelecimento das
fundações carmelitas no extremo Norte, não trataremos das
estabelecidas no Sul do paiz.14







1.3. André Prat e as visões dos missionários no Brasil.




Como um missionário comum de qualquer outra ordem as impressões de
Prat acerca de Brasil tem sempre seu fundo religioso imprimido, com o seu
diferencial, ele viveu em um período em que a ordem passava por uma crise,
que ia desde a pouca ligação com a sociedade, até o baixo número de
membros, pode assim reunir o conhecimento de séculos escritos por seus
colegas de visões ainda muitas vezes medievais e refletir dentro de suas
limitações religiosas, sobre tudo, sem cometer o anacronismo histórico.

[18]Suas considerações acerca do pensamento dos primeiros religiosos
era de que esses muitas vezes chegavam a refletir sobre os problemas da
igreja mas por pressões externas e superiores não chegavam a pratica,
"imperando fortes e soberanas a autoridade e a tradição era lícito a quem
pensava e estudada velar à lâmpada solitária, sem cuidado e preocupação do
exterior". PRAT, 1941, pág.7.

Uma parte considerável da obra em seu início basicamente se resume a
justificar a ação catequizadora, com os motivos comuns, de salvar as almas,
mas os índios não precisavam ser salvos unicamente do inferno, mas também
dos próprios europeus que os estavam dizimando pelas costas litorâneas do
Brasil, a tarefa era ambígua ao mesmo tempo em que pregavam a salvação
indígena, esses missionários estavam amarados aos exércitos oficiais ou até
em muitos casos mercenários, uma união indissolúvel na frase já dita antes
de "cruz e espada".

As duas espadas do poder civil e do eclesiástico estiveram
sempre tão unidas na conquista do Oriente que raramente
encontramos uma a ser utilizada sem a outra; porque as
armas só conquistaram através do direito que a pregação do
Evangelho lhes dava, e a pregação só servia para alguma
coisa quando era acompanhada e protegida pelas armas.15




A visão da igreja católica com relação à escravidão não esta presente
em nenhum momento da obra apesar de claramente a igreja apoiar a escravidão
negra no Brasil e inclusive todas as ordens tem históricos de utilização do
trabalho escravo, principalmente em suas construções e no trabalho braçal
nos mosteiros e conventos urbanos geralmente.




Num relatório de 1870, foi descoberto que os beneditinos,
com apenas 41 monges em onze mosteiros, possuíam sete
engenhos de açúcar, mais de 40 fazendas, 230 casas e 1265
escravos; os carmelitas, com 49 frades em quatorze
conventos, possuíam mais de quarenta fazendas, 136
construções e 1050 escravos; entretanto, os franciscanos,
com 85 frades em 25 conventos, possuíam apenas 40
escravos.16




Os números demonstram que mesmo em um período já avançado da história
quando a campanha abolicionista crescia e a guerra do Paraguai chegava ao
fim todas as ordens tinham escravos sendo que proporcionalmente a Carmelita
era a segunda mais numerosa em quantidade de escravos, algo hoje
inimaginável, obvio, mas em 1941 nem[19]mesmo Prat fazendo parte de um
grupo modernizador não se arriscaria a falar de um tema que em anos 2000 a
igreja esconde a sete chaves.[20]

[21]Havia entre os religiosos que chegavam métodos para o processo de
catequização, bem avançados para a época e que facilitavam e aumentava a
eficiência, um método já época utilizado era o aprendizado da língua
indígena, no contato direto com as tribos esse facilidade linguística era
essencial, os Carmelitas como as outras ordens sabiam como utilizar
artifícios para atrair os nativos sem provocar conflitos ou revoltas,
apesar de elas ocorrerem.

Em 1596, havendo já neste convento crescido numero de
noviços e professos, abriu-se ahi um curso de theologia,
precedido de humanidades. Para melhor habilitação dos
futuros missionarios, era tambem cultivada, neste collegio
a lingua indigena.17


A obra de Prat não toca em temas importantes como a cultura dos índios
permanecendo intercalados apenas os relatos comuns dos primeiros a chegar
que até mesmo aos olhos do autor tinham uma visão muito carregada do homem
Americano.


O Brasil como terra é geralmente descrito como uma terra infernal que
assustava qualquer um que chegasse, seus habitantes eram selvagens
desgraçados e inclusive descritos como pobres algo que até para a época não
aplicava, pois o termo não se adequaria ao contexto dos índios.

Os religiosos carmelitas zelosos da gloria de Deus e da
salvação das almas, não trepidaram atravessar, navegando,
mares encapellados e furiosos, para trilhar aridos
desertos, e trepar altas serranias; não esmoreciam á vista
de medonhos sertões, para descobrir, entre aquelles idosos
mattos a choupana do miseravel Indio, a cujos barbaros
ouvidos nunca tinham chegado as alegres noticias da
salvação.18


A atuação das ordens permaneceu normal e forte no Brasil colonial até
o século XVIII, sendo esse último período o seu mais forte e atuante, onde
a coroa portuguesa e seu rei Don José I publicavam decretos onde a atuação
carmelita e das outras missões era destacada e apoiada.

A subida do Marquez de Pombal a condição de ministro principal mudou
as regras do jogo, os motivos de sua ascensão eram vários, Portugal já não
era uma grande potência no máximo mediana seu império colonial vinha
definhando gradativamente com perdas nas índias, África e Ásia.

[22]O combate às missões foi rápido e sendo também um dos principais
pontos do programa modernizador de Pombal, entre os motivos estava o poder
excessivo dos líderes religiosos que controlavam milhares de hectares de
terras e milhares de índios, muitos desses dispostos a pegar em armas para
defender seus novos lideres.[23]

O surgimento de verdadeiros estados dentro do estado foi levado rei
que em meio a crise apoia suas medidas até 1759 as ordens são expulsas seus
bens confiscados os aldeamentos desbaratados.

Vai ser desse período com o iluminismo e despotismo esclarecido a
ligação estreita de religião e atraso algo que em países como Portugal e
Espanha era inimaginável, por serem consideradas as mais católicas da
Europa e onde a igreja tinha mais força.

Havia um processo hegemônico da conquista europeia até pouco, com os
relatos geralmente indo de encontro ao defendido por Prat nos anos 1930,
muitas obras, porém vão ao oposto e não são agora, Michel de Montaigne
grande humanista do século XVI já refletia acerca do processo de
aculturação dos índios.

[...] acho que não há nessa nação nada de bárbaro e de
selvagem, pelo que me contaram, a não ser porque cada qual
chama de barbárie aquilo que não é de seu costume; como
verdadeira mente parece que não temos outro ponto de vista
sobre a verdade e a razão a não ser o exemplo e o modelo
das opniões e usos do país em que estamos. Nele sempre
está a religião perfeita, a forma de governo perfeita, o
uso perfeito e cabal de todas as coisas. Eles são
selvagens, assim como chamamos de selvagens os frutos que
a natureza, por si mesma e por sua marcha habitual,
produziu; sendo que, na verdade, antes deveríamos chamar
de selvagens aqueles que com nossa arte alteramos e
desviamos da ordem comum. Naqueles outros estão vivas e
vigorosas as verdadeiras e mais úteis virtudes e
propriedades, as quais abastardamos nestes, e simplesmente
as adaptamos ao prazer de nosso paladar corrompido. 19




O realto acima foi escrito no século XVI, ou seja, em pleno período de
consolidação das conquistas europeias nas Américas e quando os massacres
contra grupos indígenas atingia níveis alarmantes, levando a própria igreja
a temer a extinção completa dos índios americanos e começar a pleitear
junto ao Papa e aos reis católicos de Portugal e Espanha sua proteção para
fins de catequese. [24]
































CAPÍTULO 3: HISTORIOGRAFIA POTIGUAR SOBRE AS MISSÕES CARMELITAS




1.1. Das narrativas tradicionais de Câmara Cascudo ás analises
contemporâneas




As principais obras sobre as missões escritas e hoje estudadas são
narrativas tradicionais no que se diz respeito ao levantamento de questões
como, por exemplo, a quase inexistência de conflitos, a aceitação passiva
dos indígenas e outros pontos, comuns a história do século XIX que pregava
uma escrita que transmitia a ideia de ausência de conflitos entre os
grupos, autores como Prat tinham essa escrita positivista e ao mesmo tempo
eram influenciados por sua própria orientação religiosa, seu lugar social,
outros já citados como Camara Cascudo tinham mais uma escrita ligada as
elites de seu tempo, no caso inícios do século XX período em que mais a
sociedade civilizada da republica velha quis passar a imagem de organização
e hábitos ocidentais, tal comportamento não afetava apenas os costumes, mas
também a história, que a época no Rio Grande do Norte estado em questão era
feita por homens da elite que a vida despreocupada de problemas financeiros
permitia alguns excessos, entre eles pesquisar e escrever, não desprezando
em nenhum momento o que escreveram.

O trabalho de Camara Cascudo deve ser destacado por ser ao mesmo tempo
uma escrita tradicional e também por ainda ser a principal fonte para
estudos sobre o tema, a obra no caso "Notas e Documentos para a História de
Mossoró" é considerada até por seus críticos a mais completa sobre Mossoró,
abrangendo varias temáticas pouco estudadas até hoje.

Dentre os temas tratados esta a presença carmelita em Mossoró, algo
antes ignorado por Vingt Rosado em sua obra sobre o município, publicada em
1940, Cascudo realmente abrangeu com os seus métodos a história,
redimensionando o estudo o histórico, sobre a presença das missões o autor
utilizou documentos recolhidos até do Recife, único local praticamente que
contém escritos sobre as doações aos missionários e seus primeiros
trabalhos. Assim, nesse trecho, percebemos algumas características do fazer
historiográfico de



Luís da Câmara Cascudo. Para ele a prática do historiador
reside no dever de compilar etranscrever fielmente o que
está posto nos documentos, pois para Cascudo a "história
éo próprio documento"13, daí a necessidade do historiador
de registrar tudo que estácontido na documentação para que
seu trabalho possa servir aos futuros estudiosos.21


A escrita de Cascudo como citado acima é baseada no documento, sem que
haja questionamento algum, desta maneira os trechos da obra que citam os
Carmelitas é apenas uma reprodução do que o mesmo encontrou nos arquivos da
de tombo, que são documentos da igreja que ficam reunidos e abertos à
consulta, a obra então se limita a descrever cronologicamente os fatos
desde doações, a instalação da fazenda e algo da rotina.

Como o trabalho foi encomendado pela prefeitura obviamente não
interessava discussão a cerca de os Carmelitas terem fundado primeiramente
um centro de povoamento antes da fazenda Santa Luzia.

Entre as características marcantes da obra a cerca dos missionários
carmelitas, esta uma importância exagerada que Cascudo liga a sua presença,
o principal motivo seria o interesse do autor em diminuir a atuação dos
holandeses protestantes, tanto que os trechos que falam dos Carmelitas já
em inícios do século XVIII vêm intercaladas com as narrativas da presença
holandesa que são mínimas, para o autor a sociedade Mossoroense tem por
únicas bases a presença portuguesa representada nos proprietários das
fazendas de criação de gado e a religião católica representada pelos
carmelitas e na capela de Santa Luzia base religiosa e de desenvolvimento
do centro urbano.

A obra de Bruno Balbino vai reconhecer a importância documental de
Cascudo e ao mesmo tempo refletir sobre a escrita do autor, indo de
encontro não aos métodos de pesquisa, mas sim aos resultados, a falta de
uma analise critica dos documentos que como Cascudo afirmavam eram a
história.

Mas esses documentos não eram a totalidade da História, nem a verdade
absoluta, mas sim faziam parte de sua construção, obras publicadas por
encomenda de prefeituras deveriam exaltar alguns fatos e diminuir ou até
omitir outros, uma história que muitas vezes seria simples é ampliada e se
torna um discurso, como ocorreu em Mossoró. [25]




Esse tipo de discurso que se torna hegemônico por ação do estado
prejudica o estudo de novas visões empobrecendo o conhecimento histórico.




1.2. David Medeiros Leite e Os Carmelitas em Mossoró



A única obra escrita especificamente sobre o tema "Os Carmelitas em
Mossoró" publicada em 2002 pela fundação Guimarães Duque, o autor não é
formado em história como mesmo assume, mas movido apenas pelo interesse
pelo tema e vontade de pesquisar.

Já tendo sido utilizado trechos da obra e discutidos alguns pontos da
mesma, segue então uma entrevista concedida pelo autor, prestada ao jornal
O Mossoroense, sendo interessante observar a relação do autor com sua
fonte, a pesquisa e com a comunidade que foi envolvida diretamente no
processo.

Paralelo as minhas atividades profissionais, de
administrador e advogado eu sempre tive essa inquietação
de pesquisar, de escrever, embora não me considere um
escritor. Na verdade eu sou um curiosos, um pesquisador,
como disse. Já pesquisei a história de Mossoró, a
presença da Ordem Carmelita[...] Eu advogo que Mossoró
não começa pela Capela de Santa Luzia mas sim 70 anos,
com a chegada dos Carmelitas. Existe hoje uma tentativa
de resgatar a região do Carmo como sendo o marco zero da
fundação de Mossoró. Época em que os frades chegaram na
região para a catequisação indígena. Lá ainda existem os
escombros do que foi a morada dos Carmelitas. [...]Está
no chão, em meio ao mato. A gente defende uma prospecção
arqueológica. Arqueólogos vão lá em busca de objetos. O
pessoal do curso de História também. Eles estão tentando
ver se conseguem o apoio da Petrobras. Mas até se
conseguir convencer uma instituição dessa a bancar um
projeto dessa envergadura é difícil. Vizinho aos
escombros, as ruínas, nós estamos erguendo a capelinha de
Nossa Senhora do Carmo. A venda do livro que escrevemos
sobre a presença dos carmelitas em Mossoró foi doada a
comunidade da região e para erguer a capelinha. É um
trabalho de resgate muito lento, muito difícil, como eu
disse, embora hoje já tenha sido gerado algum
fruto. [...]Paralelo as minhas atividades profissionais,
de administrador e advogado eu sempre tive essa
inquietação de pesquisar, de escrever, embora não me
considere um escritor. Na verdade eu sou um curiosos, um
pesquisador, como disse. Já pesquisei a história de
Mossoró, a presença da Ordem Carmelita[...] Eu advogo
que Mossoró não começa pela Capela de Santa Luzia mas sim
70 anos, com a chegada dos Carmelitas. Existe hoje uma
tentativa de resgatar a região do Carmo como sendo o
marco zero da fundação de Mossoró. Época em que os frades
chegaram na região para a catequisação indígena. Lá ainda
existem os escombros do que foi a morada dos
Carmelitas. [...]Está no chão, em meio ao mato. A gente
defende uma prospecção arqueológica. Arqueólogos vão lá
em busca de objetos. O pessoal do curso de História
também. Eles estão tentando ver se conseguem o apoio da
Petrobras. Mas até se conseguir convencer uma instituição
dessa a bancar um projeto dessa envergadura é difícil.
Vizinho aos escombros, as ruínas, nós estamos erguendo a
capelinha de Nossa Senhora do Carmo. [...] quando ocorra
a prospecção arqueológica não esteja tão deteriorada,
porque muita gente vai por lá, vê algum objeto e acaba
carregando. Ainda não houve uma catalogação dos objetos
que são encontrados na área. Agora, o pessoal do curso de
história pegaram alguns objetos e guardaram, até mesmo
pela questão de preservação. Existe um projeto que foi
apresentado pelo vereador Renato Fernandes a prefeita
Rosalba Ciarlini, de tombar a área para preservar até que
um projeto seja executado. Porque, por conta própria, a
comunidade nem os historiadores podem fazer sito. Tem que
partir do poder público[...] 22


O autor além de destacar os feitos dos missionários em Mossoró, entra
em temas delicados com, por exemplo, a discussão a cerca da fundação da
cidade, manteve também como já citado anteriormente contato com membros da
ordem fora da cidade onde compartilhou suas ideias a cerca da missão na
Serra do Carmo.
Davis Medeiros Leite realizou o trabalho de pesquisa com o apoio de
Gildson de Souza Bezerra e José Lima Dias Júnior como coautores, o
trabalho teve grande envolvimento com a comunidade do Carmo, sendo que
parte das rendas obtidas com o trabalho foi doada para melhorias no local
e uma capela foi erguida onde estava o antigo casarão.

Por fim o próprio autor destaca a falta de um trabalho mais serio de
preservação, sendo que existem muitos objetos são levados do local, não há
catalogação e nenhum controle, algo que nem mesmo o seu trabalho consegue
barrar.

O trabalho Os Carmelitas em Mossoró continua a ser hoje a única obra
especifica sobre o tema, e mesmo não sendo escrita por um historiador,
merece destaque pela pesquisa abrangente, e principalmente pela
envolvimento pessoal do autor com a temática e com a própria comunidade
fazendo com que esta reconheça o seu passado.[26]





































CONSIDERAÇÕES FINAIS



O objetivo deste trabalho foi a partir da historiografia sobre o tema
da missões carmelitas no Nordeste, em especial o Rio Grande do Norte e
Mossoró, essa sequencia que estabeleci indica a pesquisa que fiz, levando
pesquisas de abrangência regional e local com o interesse principal de
abordar a temática principal que abrange em nível de Nordeste e Mossoró
trazendo para nossa realidade o tema trabalhado.

A presente pesquisa trará importantes contribuições para uma área tão
pouco estudada, falo isso pela experiência de ao pesquisar, encontrar
poucas discussões realizadas sobre o assunto em nossa instituição. Durante
o processo de pesquisas identifiquei fontes e trabalhos referenciais ricos
acerca da temática das missões, selecionei as mais completas e que
ofereciam uma visão mais ampla possível.

Minha leitura durante esse período foi ampla pelo meu interesse
pessoal em todas as partes deste trabalho e o conhecimento que adquiri, o
que exponho, acredito que é esse tipo de conhecimento crítico próprio do
campo da história, a minha leitura fez entender que o conflito constante
dos discursos e desde o início não tentei seguir um caminho único, pelo
motivo simples de as narrativas irem de encontro uma com a outra, seriam
os carmelitas homens bons que protegeram os índios? Ou seriam os
carmelitas parte de todo processo de destruição das culturas indígenas?

Foram esses dois questionamentos que tentei responder sem ser
contraditório durante o processo, posso afirmar que foi a ação dos
missionários que impediu um extermínio definitivo das tribos, isso se
torna claro pelos números que mostram a queda abrupta da população
indígena em poucos anos de presença dos europeus, nesse sentido não fosse
à ação dos religiosos a situação seria bem mais alarmente,
demograficamente falando. Por outro lado à presença das missões teve um
gradativo efeito negativo e suas permanências mesmo hoje são fortes, de
início podemos associar as missões a um processo de extermino dos índios
por doenças que foram até certo ponto mais cruéis que as guerras e esse
foi o efeito negativo imediato de sua ação, em segundo esta a aculturação
que é o processo permanente, podemos vê-lo hoje de formas não oficiais e
oficiais, apesar de não adentrar no tema dentro do corpo do texto, pois
acredito que incluir tal discussão iria me levar para longe do ponto que
queria chegar, acredito que até mesmo a ação de construir escolas em
aldeias seja algo negativo , a língua é parte importante da cultura, tanto
que os índios eram logo iniciados no português ou espanhol dependendo do
local e essa prática era uma aculturação, no contexto atual essa ação é
dimensionada pelas próprias relações sociais, onde o domínio da língua
obviamente é uma vantagem, geralmente após aprender a língua oficial e
outros costumes os índios acabam indo embora para as cidades e nessa nova
realidade acabam transformando suas culturas, fora a ação das igrejas
evangélicas e em menor número hoje a igreja católica.

Como parte da proposta de trabalho trouxe para nossa realidade,
redimensionando o tema, a ação dos carmelitas, no caso a Missão do Carmo
em Mossoró a época Upaneminha, foi no estudo desse caso que me interessei
mais pela temática, ao ver que era algo quase desconhecido minha vontade
de trabalha-lo aumentou, vejo nesse trabalho uma ferramenta para novos
estudos que complementem ainda mais o que já foi escrito, ainda dentro
dessa linha outro fator que me incentivou foi à proximidade física com a
fonte, a localidade do Carmo fica a poucos quilômetros e visitei varias
vezes sem ter noção de que lá no inicio do século XVIII existia um grande
casarão com rebanhos de gado e uma população esporádica que vivia dos
serviços preciosos de alguns poucos frades.

As leituras de David Medeiros Leite foram um complemento e uma
inspiração, pois foi de encontro ao que considero primordial que é
escrever história para as pessoas comuns, envolve-las no processo, David,
além da própria pesquisa em si, construiu uma pequena capela no local e
doou as rendas para os habitantes do local, a visão que ele vai perpetuar
vai ser até certo ponto a minha, ou seja, não é a defesa de um grupo ou a
critica aberta a outro, é um simples trabalho onde as duas visões apostas
são mostradas e onde autor entra como um mediador, claro com sua visão
inserida, mas não ao ponto de ser uma obra tendenciosa.

Ao concluir assim, destaco o trabalho não é conclusivo, não se dispôs
a ser e nem é menor do que os outros por não ser, a finalidade principal a
que busquei foi aumentar a discussão, trazer algo novo mesmo que mínimo e
tentar reunir essa historiografia com o meu conhecimento próprio adquirido
durante o processo de criação do que está finalizado aqui, e pretendo que
enriqueça a discussão, que outros se interessem por essa rica temática e
outras obras surjam.










FONTES E REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Maria das Graças Souza Aires. Decadência e Restauração da ordem
Carmelita em Pernambuco (1759-1923) Tese de Doutorado, Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, 2007.


PRAT, F. A. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), 2. Ed. Recife, Convento do Carmo,
1940. 327 p.

COSTA. B. B. A. Entre Notas e Documentos: Um livro, uma História. Natal.
Imburana – revista do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-
Grandenses/UFRN. n. 2, nov. 2010. 86 p.

LEITE. D. M. Os Carmelitas em Mossoró. 1. Ed. Fundação Guimarães Duque,
Mossoró. 2002. 83.

LEITE. D. M. Carta a Frei Júlio Cesar. Sessão Recanto das Letras. Crônicas.
08/12/2007.

CASCUDO, L. C. Notas e Documentos para a História de Mossoró. 1955. 2. Ed.
p. 20. Coleção Mossoroense. Mossoró. 1997. 254


REFERENCIAS TEXTUAIS

OLIVEIRA, C. M. Arte Religião e Conquista: Os sistemas simbólicos de poder
e o barroco na Paraíba. João Pessoa. PPGS. UFPB.1999. 132 p.

COSTA, R. P. As ordens religiosas e a escravidão negra no Brasil. Recife,
UFPE. 2008.p. 7.


BITTAR, M. JUNIOR, A. F. Infância, catequese e aculturação no Brasil do
século XVI. Revista Brasileira de estudos pedagógicos. Brasília. 2000. p.7.


MONTAIGNE, M. Os Ensaios, Dos Canibais. 1588. Edição Pierre Moreau, O homem
e a obra'. In Ensaios de Montaigne, Brasília, UnB/Hucitec, 2. ed. 1987,
Vol. I, p. 3-93. Página 307 a 308.










































-----------------------
[1] PRAT, André. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no
extremo norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife, Convento do Carmo,
1940. p. 3.


2 PRAT. André. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife Convento do Carmo1940. p.
20.
4 LEITE.David Medeiros. Carta a Frei Júlio Cesar. Sessão Recanto das
Letras. Crônicas. 08/12/2007.


5 CASCUDO, Luiz da Camara. Notas e Documentos para a História de Mossoró.
1955. Mossoró. Coleção Mossoroense. p. 20.

[2]

6 Monsenhor Francisco de Sales Cavalcanti. Entrevista a Geraldo Maia do
Nascimento "Seriam os Carmelitas os fundadores de Mossoró"2011.





[3]



7 Monsenhor Francisco de Sales Cavalcanti, entrevista a Geraldo Maia do
Nascimento "seriam os carmelitas os fundadores de Mossoró"2011.





8 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife Convento do Carmo, 1940.
p.9.
9 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife, Convento do Carmo. 1940 p.
8.

10 BITTAR, Marisa. JUNIOR, Amarilio Ferreira. Infância, catequese e
aculturação no Brasil do século XVI. Revista Brasileira de estudos
pedagógicos. Brasília. 2000. p.7.
11 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII). Recife, Convento do Carmo, 1940. p.
16.







12 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife, Convento do Carmo, 1940. p.
19.










13 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife, Convento do Carmo,
1940. p. 19.
14 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife ,Convento do Carmo,
1940. p. 19.






15 COSTA, Robson Pedroza. As ordens religiosas e a escravidão negra no
Brasil. Recife, UFPE, 2008. p.6

16 COSTA, Robson Pedroza. As ordens religiosas e a escravidão negra
no Brasil. Recife, UFPE.2008.p. 5
17 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no
extremo norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife, Convento do
Carmo, 1940. p.9.







18 PRAT. Andre. Notas Históricas sobre as missões carmelitanas no extremo
norte do Brasil (séculos XVII e XVIII), Recife, Convento do Carmo, 1940. p.
28.



19 MONTAIGNE, Michel. Os Ensaios, Dos Canibais. 1588. Edição Pierre
Moreau, O homem e a obra'. In Ensaios de Montaigne, Brasília, UnB/Hucitec,
2. ed. 1987, Vol. I, p. 3-93. Página 307 a 308.


21 COSTA. B.B.A. Entre Notas e Documentos: Um livro, uma História. Natal.
Imburana – revista do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-
Grandenses/UFRN. n. 2, nov. 2010
22 David Medeiros Leite. Entrevista concedida ao Mossoroense
(Perguntas creditadas a O.M. sem identificação do entrevistador).
1/08/2013.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.