HOMENS EM POSSESSÃO NAS RELIGIÕES MEDIÚNICAS: AFINAL, IMPORTAM AS RELAÇÕES DE GÊNERO?

Share Embed


Descrição do Produto

HOMENS EM POSSESSÃO NAS RELIGIÕES MEDIÚNICAS: AFINAL, IMPORTAM AS RELAÇÕES DE GÊNERO?

Lucas Collito Martins

A relação do povo de santo quando em contato com a sexualidade dentro de terreiros e barracões é cheia de perspectivas em face da normatização frente à sociedade. Um elemento nos chama a atenção quando tentamos refletir discussões de gênero entre homens quando em possessão, ou transe no momento religioso. Desta forma, por que não refletirmos sobre esta pratica religiosa entre sexos e normas nas religiões afro descendentes? Em domínio religioso sagrado, importam as relações de gênero? Do ponto de vista de Birman (1991), autora da qual nos debruçamos, para homens, o gênero, ou seja, a questão social de seu papel, é a primeira coisa em jogo, em acusação de prática religiosa. Tudo isso começa, teoricamente, neste traçado reflexivo quando o candomblé se constituiu no início como um matriarcado, logo, os homens que aderissem obtinham papel social feminino. Sendo assim, homens têm a opção de não virar no santo, não se transformando socialmente em um gênero neste meio, exteriorizado pela possessão religiosa. Mas esta reflexão vem mudando timidamente, principalmente na Umbanda: ora, por que homem não pode fazer transe em pombo gira? É o raciocínio de uma transformação de pais e mães de santo de um novo terreno social a ser explorado, visto a analogia de guardiões femininos em filhos-de-santo homens. O sexo e também o gênero estão confinados a uma percepção naturalizada que delimita fronteiras e produz sujeitos dicotômicos: masculino/feminino, heterossexual/homossexual e normal/anormal. Contra isso, uma pedagogia queer e suas indagações poderão apresentar um corpus teórico fundamental sobre educação, gênero e sexualidade. Para Foucault (2010), não se resume em tentar descobrir “quem se é”, “como se é” ou “por que se é” de determinada maneira, mas sim, em transformar experiências, renovar expectativas e práticas, desligando de valores morais que são impostos e regulados. O autor ainda coloca no meio deste paradigma, que o tal processo dicotômico moral só pode ser melhor reorganizado e libertado do dispositivo em contato com a amizade. As amizades entre indivíduos e a importante diferença e igualdade entre sujeitos que constroem e descontroem tais barreiras nas práxis do corpo, do social, da sexualidade, dos povos. A multiplicidade torna-se uma forma de vida, onde sujeitos e suas existências são criadas, construídas, reconstruídas, vividas, inerentes às ações e formação de crianças e às construções de si mesmas. Refleti-las, identificar e compreender a partir de olhares teóricos, são ferramentas necessárias a se repensar na formação e desenvolvimento destes sujeitos.

Penso que esta reflexão em perspectiva além, mesmo que de forma inicial e teórica, auxilie para que todos/as possam recriar novos olhares e novas formas de existência. Enquanto o candomblé reserva sua sacralidade e não acha o homem digno desta evolução, na maioria das casas, a Umbanda caminha, ainda flertando com o pensar flexivo social para tais vertentes, algo a se acompanhar.

BIRMAN, P. Relações de gênero, possessão e sexualidade. Physis, Rio de Janeiro, v. 1,n.2, p.37-57, 1991. FOUCAULT, M. Da amizade como modo de vida. In: MOTTA, M. B. (organização, seleção de textos e revisão técnica).. Ditos & Escritos. Vol. VI. Repensar a Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.