Honestidade e o trabalho intelectual

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Max Weber, Sociología, Ciencia
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração
Turma: Mestrado Acadêmico 2015
Professor: Mauricio C. Serafim
Discente: Gisiela Hasse Klein
Aula: Honestidade e o trabalho intelectual
Obra estudada: WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 2002. (Parte I: A política como vocação e A ciência como vocação).


Sobre o que é o livro?
A parte I do livro resgata duas palestras proferidas por Max Weber: A Política como Vocação e A Ciência como Vocação. Não se sabe ao certo se tais palestras foram apresentadas em 1917 ou 1918, mas acredita-se que ambas foram para plateias de jovens estudantes alemães. No caso da política, Weber traça um paralelo entre as realidades americana, inglesa e alemã. Já para a ciência, o pensador relata os sistemas americano e alemão e não poupa críticas ao sistema americano. Aos que pretendem seguir a política como vocação, Weber ressalta três características necessárias: a paixão, o senso de responsabilidade e o senso de proporção. Já aos que se aventurarão no campo da ciência a mensagem é a "integridade intelectual".

O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito?
Ao tratar da política como vocação, Weber define política como qualquer liderança de uma associação ou Estado. Por Estado, o pensador entende "qualquer comunidade humana que pretende o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território". Daí a inferência de que a política é sempre a participação no poder ou a luta para influenciar na distribuição do poder em um Estado. Para Weber, há três tipos de autoridades políticas: a tradicional (patriarcal ou mesmo a autoridade do príncipe, baseada na tradição), a carismática (ligada a um líder, um profeta ou aos demagogos a partir das cidades-Estado) e a autoridade com base na legalidade, na qual as regras racionalmente criadas legitimam a autoridade do político. A política por vocação se enquadra no segundo caso – carismática.
A política por vocação está atrelada ao Estado moderno, com seus quadros administrativos e sua ordem estatal burocrática. Weber difere a política como uma ação subsidiária, utilizada pelo agente como forma de subsistência, e a política como vocação, na qual o agente vive para a política ou vive da política. Nesse caso, o agente pode desempenhar os dois papeis: viver "para" e "da" política.
Weber analisa a evolução da vocação política a partir do Estado de Estamentos, passando pela consolidação dos partidos até a democracia das massas norte-americana, chegando ao político profissional e ao funcionalismo moderno com os servidores especializados nas diferentes áreas da administração pública. Interessante aqui uma análise do profissional jornalista como uma espécie de demagogo ou político profissional pago.
A análise de Weber sobre a política como vocação encerra com o questionamento da relação entre ética e política. Para o pensador, o problema ético da política é o fato dela ser o meio de legitimar a violência. Aqui, Weber alerta quem deseja dedicar-se à política como vocação sobre a ética da responsabilidade: "... é profundamente comovente quando um homem maduro – não importa se velho ou jovem em anos – tem consciência de uma responsabilidade pelas consequências de sua conduta e realmente sente essa responsabilidade no coração e na alma".
Já na palestra A Ciência como Vocação, o alerta de Weber é para a integridade intelectual. Ele inicia apresentando as perspectivas da época para os estudantes que resolvessem se dedicar profissionalmente à ciência. Esboçou as regras nas universidades norte-americanas e nas alemãs. Em ambos os países, o estudante deveria ter claro que ao optar pela erudição teria de desempenhar dois papeis: a própria erudição e o ensino. Por ensino, Weber deixou claro que o sucesso não estaria em uma sala de aula lotada ou na postura de líder de um professor, mas na capacidade de apresentar problemas científicos a mentes pouco instruídas, porém receptivas, de modo que pudessem compreender e refletir de forma independente.
Em seu texto, Weber deixa transparecer a paixão pela ciência. Afirma que a "experiência pessoal" da ciência está na capacidade de acreditar que a sorte da alma depende de fazer ou não a conjectura correta em um trecho de um manuscrito, e que se alguém não for capaz de viver sem essa "estranha embriaguez", essa "paixão", então esse alguém tem vocação para a ciência. "Pois nada é digno do homem como homem, a menos que ele possa empenhar-se na sua realização com dedicação apaixonada".
Weber também insiste que a ciência é um trabalho árduo e que a "dedicação à tarefa, e apenas ela, deve elevar o cientista ao auge e à dignidade do assunto a que ele pretende servir". Cita Leão Tolstói, ao explicar que a ciência desencanta o mundo e que é responsável por tirar do homem civilizado o significado da morte. A ciência nos traz a noção do infinito, do progresso eterno, do algo provisório e não definitivo. Por isso, a falta de sentido na morte, pois o homem civilizado nunca se saciaria da vida.
Em A Ciência como Vocação, Weber expõe também os instrumentos do trabalho científico (conceito e experimentação racional), a necessidade de uma postura imparcial do professor em sala de aula e da integridade intelectual. Uma das suas críticas nessa palestra é com relação a uma forma de mercantilização do ensino nas universidades norte-americanas já naquela época. "A concepção que o americano tem do professor que o enfrenta é: ele me vende seu conhecimento e seus métodos em troca do dinheiro do meu pai, tal como o verdureiro vende repolhos a minha mãe".

O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele?
A primeira parte do livro que traz as palestras "A Política como Vocação" e "A Ciência como Vocação" é verdadeira. As demais partes não foram analisadas. O conteúdo exposto é verdadeiro porque as informações apresentadas por Weber são verdadeiras e, considerando que Weber acreditava como verdadeiros seus pressupostos, suas conclusões também o serão. Logo, as duas palestras são coerentes.

E então? Qual a importância do livro para mim?
Para minha formação, o principal legado do texto "A Política como Vocação" está no resgate histórico da estruturação da administração pública e no papel do político. Além disso, a leitura feita por Weber do papel do jornalista no contexto histórico e político do início do século XX me era desconhecida até então. Tal entendimento merece de minha parte um estudo mais aprofundado. Creio que, a partir desse texto, posso evoluir para outras leituras que tratam do papel da comunicação na política e na administração pública.
Já a palestra "A Ciência como Vocação" foi importante para fortalecer meu entendimento do papel do pesquisador e do cientista no meio acadêmico. Tal entendimento se faz necessário já que me propus a ingressar na carreira acadêmica. Ressalto ainda que considerei o conteúdo dessa palestra complementar às Reflexões Autobiográficas, de Eric Voegelin.


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