Honestidade e o trabalho intelectual

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Eric Voegelin
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Descrição do Produto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração
Turma: 2015
Professor: Mauricio C. Serafim
Discente: Gisiela Hasse Klein
Aula: Honestidade e o trabalho intelectual
Obra estudada: VOEGELIN, Eric. Reflexões Autobiográficas. São Paulo: É Realizações, 2008.


Sobre o que é o livro?
O livro traz um resumo da vida e obra de Eric Voegelin, narrado pelo próprio filósofo. Em 1973, Ellis Sandoz, estudioso da obra Voegelin, convenceu o mestre a gravar uma série de entrevistas, usadas posteriormente em "A Revolução Voegeliniana: uma Introdução Biográfica". Aqui, Sandoz escutou 27 horas de gravações, feitas entre os dias 26 de junho e 7 de julho daquele ano, para preparar os primeiros manuscritos, revisados e corrigidos por Voegelin. O resultado é um jeito diferente de apresentar uma biografia. Os textos transcritos em primeira pessoa aproximam o leitor do filósofo, e expõem a solidez de caráter existente por trás da grandiosidade de uma obra intelectual honesta.

O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito?
Os 27 capítulos de "Reflexões Autobiográficas" mostram a trajetória intelectual de
Eric Voegelin. Há poucos detalhes sobre a vida privada do filósofo ou fatos pitorescos em sua carreira. Trata-se de um relato sobre sua produção intelectual. Eventualmente, há menções sobre fatos de sua vida particular, mas somente daqueles que influenciaram diretamente sua obra.
O poder de síntese nas narrativas é uma das características marcantes nesse livro. Em poucas linhas, Voegelin deixa claro sua forma de trabalhar e apresenta, de maneira fundamentada, suas críticas às ideologias e à pobreza intelectual na academia e na imprensa, que resultaram em guerras, mortes e distorções filosóficas.
Apesar de não seguir a ordem cronológica da vida de Voegelin, o encadeamento dos capítulos se dá pela linha de raciocínio da narrativa oral. Dessa forma, pensamentos profundos e complexos nos são dados de forma leve, como se estivéssemos sentados ao lado do mestre, ouvindo sua história. As primeiras páginas nos relatam a vida acadêmica de Voegelin e nos mostram, por exemplo, que uma criança pobre na Áustria dos anos de 1910/1920 estudava latim, inglês e italiano. Tinha contato com a Teoria da Relatividade na oitava série e se preparava para uma espécie de "vestibular" lendo "O Capital", de Marx.
Voegelin é implacável em suas críticas às ideologias. "Ideologia não é ciência, e os ideais não substituem a ética", afirma em uma das passagens. O pensador retoma, ainda, os conceitos de ética da intenção e ética da responsabilidade para expor as consequências da ideologia na academia e na política.
Adiante, o filósofo defende os estudos comparados nas ciências sociais, apontando a técnica de Meyer em sua obra, na qual é possível compreender uma situação histórica pela forma como os indivíduos nela enredados a pensavam. Outra "dica" do professor para todos nós é o estudo dos textos em seus originais. Ele próprio dominou uma série de idiomas, entre eles, o grego, para aprofundar seus estudos comparados.
Voegelin não era judeu ou comunista, mas ainda assim teve de fugir da Áustria após a anexação à Alemanha, pois sempre deixou claro sua aversão ao nacional-socialismo. Escapou por pouco da Gestapo, que chegou a vasculhar sua casa em busca de alguma prova. Deixou de ser preso por questão de horas até conseguir o passaporte para Zurique e, de lá, para Harvard.
O trabalho nas universidades americanas e o contato com pensadores locais mostrou a Voegelin outro mundo, que seguia diferentes pressupostos dos europeus. Mas o pensador deixa claro que não há comparativos entre a Europa e os EUA. São mundos intelectuais diferentes, que merecem ser analisados sem preconceitos, considerando a realidade histórica de cada um.
Um dos pontos marcantes nas reflexões biográficas de Voegelin é seu relato pela busca de uma história das ideias políticas. Ele passou vários anos pesquisando, em fontes originais, as bases para escrever sobre o assunto até que compreendeu que deveria mudar o foco para o estudo das experiências da realidade e não das ideias.
Outros temas abordados no livro são misticismo, imortalidade, verdade e consciência. Enfim, um apanhado geral e introdutório à obra do pensador.


O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele?
O livro é verdadeiro. Não somente os relatos de Voegelin, mas também os títulos e notas inseridos por Sandoz. Há uma preocupação em fundamentar as opiniões e respeitar os autores que inspiraram o trabalho de Voegelin. A narrativa é clara, concisa e precisa. Há a exposição de todas as linhas de pensamento do filósofo, nos levando a entender e respeitar seus posicionamentos, muitas vezes, bastante incisivos.

E então? Qual a importância do livro para mim?
O livro é a prova de nossa mediocridade intelectual, mas ao mesmo tempo, deixa claro qual o caminho para a aquisição do conhecimento científico. Voegelin se mostra um bom professor, além de grande pensador. Com sua narrativa intimista, nos faz acreditar que, com esforço e honestidade intelectual, é possível sair da zona da mediocridade para, no mínimo, chegar à consciência do nosso momento histórico.


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