Humanamente

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Humanamente
Pedro Moreira Nt


RESUMO
O presente texto tem como objetivo realizar relações epistemológicas entre o pensamento humanista do sujeito de suas vontades e possibilidades em contraposição à concepção contemporânea rizomática da figura individual e suas conexões sob controle. A partir de influências filosóficas que conceberam o sujeito, busca-se entender em contraposição os principais fundamentos que constituem o indivíduo pós-moderno e a concepção de monstros.


INTRODUÇÃO
O surgimento do indivíduo quebra o comunitarismo como pressuposto de uma vida protegida. O comunitário no domínio do individual, compreendendo relações sociais definidas, exigindo a co-participação na tomada de posições e cumprimento de obrigações. Entre ser protegido e liberto, entre comunitarismo e individualidade, em ser tiranamente dominado e contrariamente desprotegido, a comunidade não é mais alcançada como um lugar possível (BAUMAN, 2005).
A partir de Nietzsche (1974) e Freud (1995), o sujeito histórico, constituído como crítico da realidade concreta é disperso. Sujeito e indivíduo são categorias de epistemes diferentes. O sujeito como aquele que é dependente dos conflitos sociais, da ação histórica, e o indivíduo como aquele que está em separado e se faz apartado dessa situação conflituosa da realidade social tornando-se suficiente em si mesmo. No dizer de Korsh (1971) se não se quer deixar de ser burguês, o mesmo que não deseja suprimir-se a si mesmo, mantendo-se individual às confrontações sociais do mundo tal se apresenta enquanto realidade concreta. Essa diferenciação categórica do humano em Nietzsche (1974), a adoção ao individual.
A construção de homem liberto, de uma individualidade completa, compreende os esforços do humano a partir da sua força natural, de um poder-ser que deve se movimenta para alcançar novos objetivos. Em seu mais elevado sentido, o indivíduo comportaria uma liberdade tal que o livra das amarras da moral e da tradição no caminho de um ser humano melhor, adiantado e dono de sua própria realidade. O homem dominado por estruturas definidas, assinalado como aquele que tem uma ética de dever ser, de buscar caminhos encontra em sua alteridade um além-do-homem. Distante de sua verdadeira origem, em correr riscos, de seguir seu caminho, ele perde seus instintos, e é corrompido em suas escolhas quando, por fim, escolhe o que lhe é nocivo, contrário à sua natureza.
Entre um lugar a outro, a meio caminho deixa-se sucumbir, não se ergue carregado de sua vaidade, de seu em-si-mesmo dominado. O exercício solicitado não se dá na duralibilidade de um conhecer suficiente, mas esquemas, isto é, estruturas que se impõem a uma realidade caótica, a sua regulação, na construção de uma forma, que alcance uma satisfaçam a uma ação necessária e prática da vida. (NIETZSCHE, 1974).
Se vê em tudo o que faz a falta de finalidade última do homem, seu próprio agir adquire a seus olhos o caráter do esbanjamento. Mas sentir-se, como humanidade (e não somente como indivíduo), tão esbanjado como vemos a florescência isolada ser esbanjada pela natureza, é um sentimento acima de todos os sentimentos. – Mas quem é capaz dele? Certamente apenas um poeta: e poetas sabem sempre consolar-se. ( NIETZSCHE, 1974, p. 105).

O indivíduo, portanto, como síntese de humanidade, como aquele que domina e que possui em si a potência e o poder para ultrapassar os limites do próprio homem. Aqui, a expressão criadora de algo além, como a arte. O saber resultaria de uma conjunção de acontecimentos que se estruturam como realidade da qual não se dá conta, e necessita desse esforço de superação de si mesmo.
Não havendo como buscar as marcas que determinariam a sua origem natural, em um mundo particular, esse saber estaria constituído de ações evidentes, através do movimento, da vontade e da realização. O que circunscreve o homem em uma cartografia que o delimita a uma espacialidade definida, de raízes, de expressão, compreendendo isso como uma estrutura da realidade da qual o homem se integra e potencializa através do movimento de sua individualidade. Como entendimento de que as funções se estabelecem por haver um pré-jogo nas ações que promovem o conhecimento, uma utilidade, portanto que faz mover as relações humanas.
O utilitarismo leva a um relativismo das circunstâncias sociais que definem o modo como o indivíduo se apresenta fora do campo comunitário. Essa relação indivíduo e comunidade apresentada por uma sociologia do conhecimento que se apropria das formas relacionais como fonte de uma individualidade que a alimenta. Implica uma relação de fragmentação em que, voltando ao pensamento de Nietzsche (1974), no sentido de libertar das amarras de ordens delimitadas à construção do individual.
Assoma-se assim, uma realidade da ação do fazer e do feito, de um processamento calcado na determinação e de o determinado lhe dar a referência para uma alteridade, para um futuro que se apresenta na ação, o fazer no presente para o além do homem. O particular, o individualizado, como uma partícula em movimento que recebe todas as pressões de uma totalidade não conhecida, mas com a qual se determina.
A individualidade não se dá conta do real completamente porque está também, buscando um a si mesmo. E esse ser que a si mesmo se apresenta é sempre volátil, dominado, portanto, pela conjunção de suas partes e em relação a um mundo estruturado, como que sempre novo do qual deve dar conta para se libertar. O sujeito torna-se uma estrutura internalizada da qual se relaciona interpretando o real em externo-interno. 
O caminho longo de Nietzsche a Freud perpassa por ramificações epistemológicas que de um modo indireto se determina nas estruturas do real. Um real, portanto que é mensurável na abstração desse real. Para Freud, o sujeito não existe como parte evidenciada, não se relaciona diretamente ao real concreto da vida social propriamente. O conflito é interno, feito de partes que se intercambiam a uma concepção de si mesmo. Capaz de se auto-determinar, o jogo interno possibilitaria resolver as questões de mundo internalizadas, e dessa forma, superar os engastes provocadores de uma não percepção coerente de si.
A construção do indivíduo é feita nas três divisões básicas que se inter-relacionam em Id, Ego e Superego. O individual é levado a um fazer e a um feito que determina a sua posição de poder em uma geografia sempre estruturante. Nesse sentido,
Interpreta-se o mundo no individual, através do mito estruturante. Uma arqueologia do saber, do conhecimento relacionado ao sujeito simbólico.
A tríade, poder, desejo e conhecimento também se relacionam ao Id, Ego e Superego colocado na ordem estrutural como o lugar, enquanto um real estabelecido, um pensamento plástico, móvel, relacionado à manutenção do prazer, e a uma fixação que se define em uma ordem exemplar, uma representação construída. O limite de um conhecer a si para o mundo, e de um mundo realizado e a um mundo a ser feito do qual se individualiza.
A psicanálise, portanto, se utiliza do mito como meio, e de uma interpretação revelada na manifestação do individual que necessita sempre se recuperar. De outro modo, sofre um impacto sobre as condições de domínio do sujeito no espaço e nas relações. Como são todas estruturantes, a ação do sujeito é dependente dessas configurações, decorrem disso novos mitos, outras fragmentações. A diferença principal entre Nietzsche e Freud se dá nas relações da busca de um ser humano não melhor, mas superior. De um lado a mediação com o real para propulsão dessa potência da vontade mobilizadora de se fazer individualmente superior, superando portanto, as amarras da moral e da tradição, em Nietzsche é revelada como fundamental. E, em Freud para a interpretação e possibilidade de superação desse real através do mito, do simbólico, da percepção e de um pensar que se estabelece dominado por um princípio de prazer, e que no jogo entre Id, Ego e Superego, deve-se dar conta.
Compreendido como estruturas não lineares, provocadoras de ações em formas novas para o embate das contradições humanas, o pensar torna-se como caminho de um fazer que se determina em estruturas que se fragmentam em outras estruturas, como que, no dizer de Sousa Santos (2011) um mundo feito de caixas, de especialidades que separam os fundamentos epistemológicos e que, nessa contemporaneidade possibilita conexões antes não aguardadas. Conexões com as quais o homem permite verter, e se conectar com outras.
Para Foucault (2000), a interpretação deve partir da estrutura para se constituir interlocução com o real. E uma exegese profunda sobre um tema o releva frente aos demais ao mesmo tempo se define como pontos de poder em separado.
O primeiro livro do Capital é uma exegese do "valor"; Nietzsche inteiro, uma exegese de alguns vocábulos gregos; Freud, a exegese de todas essas frases mudas que sustentam e escavam ao mesmo tempo nossos discursos aparentes, nossos fantasmas, nossos sonhos, nosso corpo. (FOUCAULT, 2000, p. 412).

A análise científica, epistemológica se aporta na interdependência da base estrutural e semiológica, em uma gramática, a organização, as formas, as medidas, a topografia, o lócus, em um sistema que se estrutura e desestrutura tornando-se sempre outra. Assim, por exemplo, a casa são suas medidas, sua forma, seu significado de abrigo, sua geografia, como topos real e abstrato de sua presença, e continuamente a uma forma de poder, de um estar e de uma ontologia estruturante de um ser-casa. Combinada em suas partes, integrada, o indivíduo é simultaneamente aquele que atravessa a ponte e o que fica: um sujeito de fazer e do feito. No sentido de parte, o indivíduo não passa através da janela em um saber suficiente. Uma parte não define o todo, mas a sua parte. No entanto, nessa semilogia, é essa parte que torna indício de um todo e de uma suficiência individual que faz escolhas.
Creio que cada cultura, quero dizer, cada forma cultural da civilização ocidental, teve o seu sistema de interpretação, as suas técnicas, os seus métodos, as suas formas próprias de suspeitar que a linguagem quer dizer algo de diferente do que diz;-a entrever que há linguagens dentro da mesma linguagem. (FOUCAULT, 1997, p.15).

As co-relações entre estruturas determinam um modo do poder, suas características, e se relaciona a um processo de análise com outras ordens estruturantes, como a política. Em, As Palavras e as Coisas, Foucault retoma a estruturação textual como indício dessa vontade e potência nietzscheano, de um fazer e conhecer do sujeito. Uma praxis que se faz possível com a interpretação gramática da vida, a sua medida e exegese.
O homem fora uma figura entre dois modos de ser da linguagem; ou antes, ele não se constituiu senão no tempo em que a linguagem, após ter sido alojada no interior da representação e como que dissolvida nela, dela só se liberou despedaçando-se: o homem compôs sua própria figura nos interstícios de uma linguagem em fragmentos. Certamente, não se trata aí de afirmações, quando muito de questões às quais não é possível responder; é preciso deixá-las em suspenso lá onde elas se colocam, sabendo apenas que a possibilidade de as colocar abre, sem dúvida, para um pensamento futuro. (FOUCAULT, 2000, p. 535).

A manifestação do sujeito torna-se de uma ação que se define em um quadro de poder, um domínio configurado, estruturado do qual se pode analisar. O estruturalismo recodifica o código estruturante compreendendo a realidade a partir da modelagem. Nesse sentido, o sujeito da comunidade se faz um sujeito inerente a um meio relacional em uma suposta e contínua ação de poder. O exercício de liberdade se define nos pontos relacionais de poder. Portanto, a perda da comunidade como lugar do homem, de sua história gregária entra em conflito entre ser livre e ser seguro.
Há um preço a pagar pelo privilégio de "viver em comunidade" — e ele é pequeno e até invisível só enquanto a comunidade for um sonho. O preço é pago em forma de liberdade, também chamada "autonomia", "direito à auto-afirmação" e "à identidade". Qualquer que seja a escolha, ganha-se alguma coisa e perde-se outra. Não ter comunidade significa não ter proteção; alcançar a comunidade, se isto ocorrer, poderá em breve significar perder a liberdade. (BAUMAN, 2003, p. 10).

A identidade da qual emana uma ação de bem-estar, de um prazer existencial codificado, de pertencimento, portanto é uma estruturação do desejo. Em a Microfísica do Poder as relações são relações que se expressam em um poder, em busca de um domínio. Para Foucault, o poder, o seu lugar, sua história se determinam e define as relações.
As representações não se enraízam num mundo do qual tomariam emprestado seu sentido; abrem-se por si mesmas para um espaço que lhes é próprio e cuja nervura interna dá lugar ao sentido. E a linguagem está aí, nessa distância que a representação estabelece consigo mesma. As palavras não formam, pois, a tênue película que duplica o pensamento do lado de sua fachada; elas o lembram, o indicam, mas primeiramente em direção ao interior, em meio a todas estas representações que representam outras. (FOUCAULT, 1997, p. 415).

O pequeno torna-se agigantado, o indivíduo em toda a sua verve é um ser de poder. A sua expansão mostra como as instituições se corporificam em uma estrutura que consiste em diminuir o lugar e aumentar o homem, e de outra maneira em mostrar essas relações humanas com o espaço estruturado.
O domínio da França sobre a Argélia, a ação política destrutiva nunca foi apresentada por Foucault que viveu nesse período. No entanto, a microfísica das relações lhe foi muito importante. Em base, talvez, a uma necessidade de romper com o aspecto moralista de época e tenha embrenhado por campos onde Nietzsche anteriormente se estabelecera. Em busca de um hedonismo como princípio, como aponta Freud que corresponde a um desejo de liberdade que comprovadamente para Foucault é dominado por uma gramática existencial de domínio.
Na contemporaneidade, as influências foucaultianas retomaram essas relações entre o indivíduo e o espaço. E conceitos como cartografia é montada no sentido de conhecer como essa individualidade extrema constrói um a si mesmo e ao mesmo tempo um mundo com o qual pode dar-se conta. Nessa psicologia de um dentro e um fora, compreende-se a dimensão de que, feitas em pedaços, fragmentárias, subdivididas, apresentam-se como fontes necessárias das relações humanas.
As definições entre tempo espaço perpassam a lógica entre o físico e o subjetivo, o que se pensa e o que é representado. A gramática das relações antecipa-se, servindo a usança do homem, não se concebe "como um evento mental e um evento físico podem referir-se à mesma coisa" (NAGEL, 2005, p.260), a subjetividade se desenvolve através de conexões. O sujeito se dispersa e surge o correspondente, uma figura. Trata-se de um avatar, representação de um fluxo, configuração do texto, apresentação e aparição da possibilidade e nunca um fim último, uma certeza.
Não há, portanto, um inteiro epistemológico que seja suficiente para abarcar uma contemporaneidade fragmentada, e, portanto, "(...) devemos ter em mente que a história é apenas um outro texto em uma procissão de textos e não uma garantia de qualquer significação singular. (COHEN in SILVA, 2001). O evento, portanto, o fluxo como um raio que se vê raio e não as suas infinitas determinações faz entender o pensamento pós-estruturalista no sentido de que uma epistemologia possibilita um saber apenas de um modo. Porem, o conhecimento não se define apenas a partir de uma janela, no dizer de Thomas Nagel, de ponto de visão para o recebimento, proveniente de nenhum lugar. Esse não lugar não é cabível em Foucault conquanto seja a tessitura de um tempo que se preenche no semelhante de suas repetições, e de uma taxionomia estruturante. A realidade contemporânea emerge de uma realidade dissolvida no caos, no surgimento dos monstros, de uma variação de uma ordem que não suporta a sua condição.
O monstro garante no tempo e para nosso saber teórico uma continuidade que os dilúvios, os vulcões e os continentes desmoronados confundem no espaço para nossa experiência cotidiana. A outra conseqüência é que, ao longo de uma tal história, os signos da continuidade são apenas da ordem da semelhança. (FOUCAULT, 2000, p. 216).

Em "Nunca Fomos Humanos", no sentido de sua organização, de sua estruturação na composição textual, o indivíduo se faz principal nas relações em busca de uma humanidade perdida nas fragmentações, associações e dissociações estruturantes do real em um dialogismo sem crítica, indefinido que se recompõe como uma bricolage.
Supõe-se que o diálogo seja capaz de tudo: desde construir conhecimento, resolver problemas, assegurar a democracia, implantar processos cooperativos, assegurar a compreensão, construir virtudes morais e diminuir o racismo ou o sexismo até satisfazer desejos por comunicação e conexão. (ELSWORTH In SILVA, 2001, p. 67).

Nessas conexões infindáveis e indeterminadas, a partícula indivíduo emerge desse dialogismo cujas relações fragmentárias, não duráveis, e mesmo não localizadas apesar de uma cartografia que ofereça um limiar para a confirmação de sua presença se indetermina na audiência. Não há um sujeito histórico, imbuído de meios frente a um conflito social na busca de superação de enganos, e de um conhecimento que se faz possível em totalidade.
O pensamento contemporâneo, do que também foi chamado de pós-moderno se realiza em quadros estruturantes que se dissolvem no momento em que são perquiridos. São as dobras do real em sua multiplicação, compreendendo plicar a própria dobra, dado de uma historicidade em que o indivíduo é o motor de sua própria história não como uma definição, mas como possibilidade de afetar e ser afetado, e a lhe produzir uma subjetividade que se faz discursivo. Advém disso uma linguagem própria, conexão com sistemas em sua pluralidade, dobras do real.
Assim, há uma eicidadade (heicidade) na ordem discursiva do sujeito relacionado ao real, no plicar em dobrar-se a esse real estruturado, como o hábito. Acordar cedo, vestir algo, de enfim se levantar, despertar pela manhã. Trata-se de uma obrigatoriedade não-obrigada, esforço e sofrimento da condição humana. Apesar de não demonstrar esse esforço, o sujeito se estabelece na conjunção, articulação com a estrutura de seu comportamento assujeitado. Compromete-se, portanto ao costume, ao habitual, ao rotineiro como ação individual mecânica, partícipe de sua estruturação. A eicidade, palavra introduzida na linguagem filosófica por Aristóteles, defini-se a uma disposição tanto para o bem quanto a um estar mal que se relaciona a algo tanto previsto como imprevisto, em relação a si ou a outra coisa. Portanto, a regra ética de Aristóteles perpassa essa escolha entre o que julga ser passível de controlar e aceitar. No caso de controlar, de se utilizar do hábito, do comum para a tomada de posição, e do aceitar, configurar em si mesmo uma situação de entendimento de algo com o que não se pode lutar, - o hábito. As virtudes humanas estão correspondentes a essa eicidade, a essa habitualidade do qual se faz simultaneamente pertencente e distante quando possível escolha, a partir do lócus dessa condição estruturada.
A dobra do real se refere a um movimento do real assumido no indivíduo, que se constitui entre dentro e fora a individualidade. A pós-industrialização é um pressuposto de uma realidade que se reestruturou através das dobras intercomunicantes que realizam a história das individualidades. O pós-industrialismo, por exemplo, é uma estrutura que constitui-se como uma mudança radical dos modos de vida do indivíduo, que se manifesta na cultura pós-moderna. Essas apresentações do real se manifestam estruturantes, a natureza do saber se recodificou com novas linguagens. São por isso estruturas ínfimas dentro da estrutura macro da rede, entre linhas e conexões, encontros, complexidades, dispositivos entre estar ou não conectado a novos canais de interligação. Essa dinâmica dobrável da realidade é refeita na tradução estruturada da linguagem de onde o conhecimento em sua quantidade de informações é subsidiado, trançando um caminho não definido e por isso, questionável.
Em tal visão pós-estruturalista, entende-se que as mudanças se dão na performática ação do indivíduo. Portanto, as fronteiras se dão na expansão do saber decorrente do maior número de interligação de rede e transmissão de conhecimentos. Nesse sentido, a Educação é tratada como algo cuja transparência é possível como uma estrutura cuja tendência se desenvolve com maior número de conexões a cada dobradura do real, de interligações em rede. Considerando isso, a passagem de um estado a outro é uma transmissão, como caixas que são levadas e aportadas em outras dimensões, uma ordem mercadológica de contatos de acertos, por exemplo, que se definem como uma postura de utilidade ao processo estrutural.
Com isso se definem tendências em que se definem as estruturas, a rede se realiza através de dispositivos que propiciam as trocas de saberes.
Discussão
A teoria pós-moderna, fragmentada em seus próprios interstícios retira do sujeito a sua reflexibilidade crítica e o coloca frente a um mercado em rede do qual ele é apenas um conjurado a carregar as suas caixas de saberes. Para Boaventura Sousa Santos, trata-se de uma teoria celebratória do indivíduo sobre o sujeito, sobre uma humanidade departida.
A ideologia pós-moderna acopla-se a uma estruturação única com a qual concorrem os demais a fomentar o que já se define como uma realidade de conexões desenraizando o real de sua própria história, estabelecendo a idéia rizomática da flexibilidade, acatamento, descarte, aceitação, desmanche. Assim, o conhecimento estaria relacionado a uma infinidade de posições perceptivas do real, de outras idéias que se abarcam num mesmo pressuposto de rede. A estrutura da rede comparte o indivíduo comum para todos os demais em comum, o que torna o próprio entendimento do saber como relativo aos processos interconectados. Tudo é possível. O indivíduo é uma agenda de retorno, de respostas ao imensurável das conexões. Nesse sentido, no plano da objetivação, ocupando do quadro instalado estrutural, a objetividade não é reconhecida devido a sua permeabilidade, de uma relatividade do real tratado como simples discurso não havendo como processar.
A expressão do comunicante se faz antes de tudo como autonarrativa, apresentação de uma linguagem banhada na experiência e na condição que transporta inúmeras partes de um todo não reconhecido, porém presente. A totalidade no contemporâneo não se apresenta ou se faz possível porque se trata de metanarrativas que encobre os laços conectivos. Esses enlaces são construções que se relacionam entre eventos, trata-se de um eu compartido a uma audiência. O eu que se desalinha em relação à sua substância, no sentido de que, apesar de ser operante, o pensar se faz como um processo sem um controle definido de onde emerge nuances de um "eu" que se perde na própria manifestação da linguagem.
Relações em rede entre conexões e subconexões dimensionando o "eu" a uma aparição fantasmagórica, virtual e não definida como um todo, ou como uma potência, uma vontade e representação. Trata-se de inconstâncias e estas mesmas permeáveis a constituírem-se de sentidos e significados não perduráveis. Nesse sentido, o humano não apresentado não se define completamente tal qual, portanto, contrariamente à busca de significado e de um pressuposto comunicacional, o pós-estruturalismo se engendra na forma de analítica técnica, de intensidade, de autoridade, e aparatos. (ROSE, in SILVA, 2001, p. 157). Não há portanto um "eu" no sentido psicológico, histórico e de conformação com a comunicação e sua representatividade entre sentidos e significados, mas uma possibilidade, e portanto indefinição.
O que se determina é a técnica, os aparatos formadores das relações enquanto possíveis conexões, sem uma necessidade, uma temporalidade, duração, potencialidade dessa estruturação. A educação se relaciona a um agrupamento de saberes que se dissolvem e se recompõem como informações a serem utilizadas e atualizadas, proveniente de uma gramática renomeada e reabilitada para o aprendizado. Assim, aprender se faz como meio de realizar novas conexões possíveis. A estruturação se dá na base de zonas, estratos, espaços, épocas, estágios, regimes, aparatos de uma cartografia de um "eu" que se auto-destitui da centralidade. Funciona como uma agência da linguagem, e no sentido psicológico se apresenta em várias conexões. Torna-se o indivíduo estabilizado apenas no hábito, em um fazer cuja constância, repetição se determina em um coeficiente latitudinal e longitudinal.
O dialogismo educacional se manifesta como representação estrutural de formas de poder que se utiliza de aparatos e se encaminha a processos de conexão. A base estruturante do lugar de onde se fala. A janela existencial parte da ordem discursiva e como se reestrutura como fundamentação lógica no outro. Estudante e professor se integram a uma rede estruturada dessas relações que são parte do processo educacional. Poder, desejo e conhecimento estão em simbiose ao processo estruturante pedagógico e dessa forma estruturado a uma posição para considerar uma partida adiante do que a si, se faz representar.
O endereçamento acompanha o pressuposto da rede e das interligações, das dobras e das possibilidades de condição do jogo relacional entre linguagens estruturais. Em vez de uma racionalidade explícita, o pensamento pós-estruturalista inclui no rol de suas categoriais, no endereçamento, a direção a quem o filme, por exemplo é dirigido e com isso sua determinação a partir da linguagem como identificação possível que demanda certas práticas discursivas para o encontro e conexão.
O domínio do social é instituído através da disseminação de termos intersubjetivos de autoridade pelos aparatos do governo e da educação. Ao mesmo tempo, é na negociação, recombinação e bricolage dessas estruturas que a identificação da subjetividade e a individuação da agência emergem, de forma contígua, como fronteiras. (ELSWORTH In SILVA, 2001, p.66).
Nesse sentido estrutural, a pedagogia enquanto falas, diálogo é também uma implantação política do falante aos falantes. O diálogo pedagógico enquanto prática como construção histórica, social, culturalmente plantada, uma lógica carregada de intenções que são intrínsecas ao processo educacional.

O modo de endereçamento parece-se mais com a estrutura narrativa do filme do que com seu sistema de imagem. Tal como a história ou a trama, o modo de endereçamento não é visível.



Assim, a análise pós-moderna se faz como esquizofrênica. Distante de um concreto real para um determinante possível em desconstrução. O sujeito único, identificável torna-se o sujeito da totalidade, mas de uma totalidade de sujeito, isto é, de indivíduo. "No lugar do eu, proliferam novas imagens de subjetividade: como socialmente construída; como dialógica; como inscrita na superfície do corpo". (ROSE in Silva, 2001, p. 140).
O processo de diálogo pedagógico se institui em um instituído interno, aceito, uma ordem esquemática do real, entende-se a sua funcionalidade instrumental de um lugar-onde no modo relacional, como se processa no cinema, um endereçamento determinante, configurado. Entre um suporte e um aguardado, uma complementariedade esperada que diminua as incertezas e aumenta em certo sentido uma segurança. Assim, o processo pedagógico é aguardado dentro dos limites de seu suporte. Nesse estabelecimento, nesse lugar de relações, a educação se estabelece "é governada, em grande medida, por uma outra imagem de como o lado de fora se ajusta ao lado de dentro". (ELSWORTH In Silva, 2001, p. 53).




El hombre se apropia su esencia universal de forma universal, es decir, como hombre total. Cada una de sus relaciones humanas con el mundo (ver, oír, oler, gustar, sentir, pensar, observar percibir, desear, actuar, amar), en resumen, todos los órganos de su individualidad, como los órganos que son inmediatamente comunitarios en su forma son, en su comportamiento objetivo, en su comportamiento hacia el objeto, la apropiación de éste. La apropiación de la realidad humana, su comportamiento hacia el objeto, es la afirmación de la realidad humana; es, por esto, tan polifacética como múltiples son las determinaciones esenciales y las actividades del hombre; es la eficacia humana y el sufrimiento del hombre, pues el sufrimiento, humanamente entendido, es un goce propio del hombre. (MARX, MANUSCRITOS ECONÓMICOS Y FILOSÓFICOS)

Necessita de compartilhar, dessa forma o outro é a parte fundamental de uma humanidade que se faz no conjunto das realizações, no conflito social exigindo uma pratica social crítica do real. Essa argumentação não se substancia no pensamento foucaultiano, e menos em James Donald.

Referencias

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade, a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003.
FOUCAULT, Michel. A palavra e as coisas, São Paulo, Martins Fontes, 2000.
_____.Nietzsche, Freud e Marx, theatrum philosoficum, São Paulo, Princípio, 1997.
KORSH, Karl. Marxismo y filosofía, México, Era, 1971.
MARX, Karl. Manuscritos econômicos y filosóficos de 1844, tercer manuscrito.
Disponível em: HTTP://www.marxists.org
NAGEL, Thomas. Como é ser um morcego?
Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 15, n. 1, p. 245-262, jan.-jun. 2005.
Disponível em: http://www.fflch.usp.br/df/opessoa/Nagel_trad.pdf
NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas. São Paulo, Abril Cultural, 1974.
SILVA, Tomas Tadeu. Nunca fomos humanos, Belo Horizonte, Autentica, 2001.

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Sobre o autor:
propedromoreira.blogspot.com.br
Curriculum Vitae
http://lattes.cnpq.br/4328652537015326
Books
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N.A. Metafísica,V, 20, 1022b, 10.

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