ICS summer school COLLABORATIVE AND SITE-SPECIFIC ART PRACTICES Manifestações artísticas nos espaços públicos: conceitos,contextos e práticas

May 27, 2017 | Autor: Helena Elias | Categoria: Art Practice as Research, Etnography, Reflexive practice
Share Embed


Descrição do Produto

ICS – curso de verão COLLABORATIVE AND SITE-SPECIFIC ART PRACTICES Manifestações artísticas nos espaços públicos: conceitos,contextos e práticas Helena Elias e Inês Marques

No texto “The artist as an anthropologist” (1975) Joseph Kosuth confronta a actividade do artista com a do antropóogo, referindo que o artista é um antropólogo engajado com/na cultura. – é fluente na sua própria cultura, ‘mapeando uma actividade cultural interiorizada na sua própria sociedade por forma a obter fluência na sua própria cultura ’ (Kosuth and Westwood 1991, Robertson 2012).

Kosuth: O antropólogo é desengajado da cultura - é fluente nas outras culturas, mantém igualmente uma posição fora da praxis. (cientista). Toda a actividade artística assenta na praxis (mesmo a teoria da arte, que advem da prática). Hoje, nem os artistas nem os antropologos se reconhecerão nesta definição.

Historicamente, o papel do antropologo era empregar métodos de observação objectiva durante o trabalho de campo em comunidades tradicionais ou indigenas. Este retrato contrasta com os métodos actuais de trabalho de campo do antropologo que trabalha em culturas contemporâneas num mundo globalizado. (The artist as anthropologist) Katheleen Robertson 2012.

Na actualidade, poderemos dizer que não há um afastamento simetrico nem com o mesmo peso de ambos se considerarmos este retrato comparado do antropologo e do artista que Kossut faz, mesmo considerando

as mudanças ocorridas em vários domínio do conhecimento, incluindo a arte e antropologia, e que impulsionaram novos enquadramentos, identidades e papéis (Cultural turn, Visual turn, Artistic turn, Creative turn, Sensorial turn, Geographic turn).

O que recentemente se tem vindo a questionar no cenário epistemológico da investigação em artes, é a abertura a novas conexões, à legitimação de abordagens e metodologias pouco ortodoxas para a tradicional cultura científica e académica.

Prática artística quer afirmar um terreno de conhecimento (na academia).

O processo do artista e a sua auto-reflexão tornaram-se o foco da investigação e da própria prática - prática artistica ligada à investigação académica aproximou-se de outros domínios, e mais consciente dos empréstimos metodológicos feitos a outras áreas do conhecimento, na qual se inclui a antropologia e etnografia.

É neste sentido que trazemos um conjunto de trabalhos artistícos de matriz site-specific, que

nasceram/e/ou acompanham o nosso percurso como artistas/investigadoras/professoras, relacionam em alguns aspectos a prática artística com a prática etnográfica contemporânea e se poderão colocar desta forma em diálogo com a antropologia.

Num primeiro momento, abordaremos o desenvolvimento do termo site-specific na prática artística, considerando os paradigmas enunciados por Kwon e posteriormente mapeando as suas relações com o domínio da antropologia, enquadrando alguns textos que abordam este relacionamento.

Partiremos deste mapa para reflectir sobre a nossa prática artística nos projectos que selecionámos e suas conexões ou afastamentos com as práticas da Antropologia.

Mapeando o site specific

[Arte » Antropologia]

Miwon Kwon – desenvolvimento de conceitos e práticas concepts and practices relacionadas com o site specific Nick Kaye – site specific é uma deslocação do site. O site engloba tanto os espaços virtuais e físicos – documentação escrita, audio-visual, ou outra. Fiona Wilkie - o site sempre implica uma rede de espaços ou localizações "meaning-making processes operating in any one site are always partially dependent upon the meaning-making processes and practices operating in other sites for their effect“

Site-specificity Miwon Kwon

1 Paradigma fenomenológico ou paradigma experiencial [fins 60s] Emergindo das lições do Minimalismo, a arte site-specific era incialmente baseada num paradigma de entendimento fenomenológico or experiencial da especificidade do sítio, Atributos físicos de uma localização particular (tamanho, escala, textura, dimensão das paredes, tectos, quartos; condições lumínicas, elementos topográficos, padrões de tráfego, caracterizações climáticas de uma estação do ano num dado local, etc.), com a arquitectura a servir de contraste ao trabalho artístico …

SPIRAL JETTY Rozel Point, Great Salt Lake, Utah April 1970 mud, precipitated salt crystals, rocks, water coil 1500' long and 15' wide Collection: Dia Art Foundation, New York

http://www.robertsmithson.com/earthworks/spiral_jetty.htm

“…it is a site-specific work and as such is not to be relocated. To remove the work is to destroy the work." Richard Serra

Richard Serra, "Tilted Arc," Federal Plaza, New York, 1981 http://www.cfa.arizona.edu/are476/files/tilted_arc.htm

2 Paradigma social/institutional Através das investigações materialistas da crítica institutional, o sítio foi reconfigurado como um agrupamento ou rede de espaços interrelacionados e economias (atelier, galeria, museu, Mercado da arte, crítica de arte), que juntos enquadram e sustêm o sistema ideológico da arte. Estes trabalhos (…) são vistos como desafiadores do hermeticismo deste sistema, enetndendo o site-specific como um trabalho que não se restringe à arena física mas que atende à constituição social, economica, e seus processos politicos.

Descodificar/recodificar as convenções institucionais para expor as suas operações escondidas— reveler a forma na qual as instituições modelam o significado da arte para regular o seu valor cultural e económico (Kwon, 2002:14). “Maintaining art”:

Mierle Laderman Ukeles, Hartford Wash: Washing Tracks, Maintenance Outside, Wadsworth Atheneum, Hartford, 1973. (Photos courtesy Ronald Feldman Fine Arts, New York.)

Tarefas domésticas associadas às mulheres: lavar, tirar o pó, e arrumar elevadas ao nível da contemplação estética, questiona o que está por trás da aparência perfeita, imaculada dos espaços brancos do museu, como forma emblemática da neutralidade. A imagem do museu está totalmente dependente do trabalho escondido e desvalorizado do trabalhadores que cuidam dos espaços que circundam as obras de arte.

3 Paradigma discursivo A caracteristica que distingue a arte site-specific hoje é a a relação do trabalho com a actualidade de um local (como site) e as condições sociais do enquadramento institucional (as site) amabas subordinadas a um determinado site discursive que é delineaado como campo de conhecimento de troca intelectural, ou debate cultural. O sitio não é definido como pré-condição e é gerado pelo trabalho (por vezes como conteúdo), e assim verificado pela convergência com a formação discursive existente. Project based art

Mark DION, The Department of Marine Animal Identification of the City of New York, , 1991 [http://www.tanyabonakdargallery.com/artists/mark-dion/series-sculpture-and-installation/34]

Agenda do artista, reflecte a contradição do próprio sistema, é uma auto-reflexão ao sistema:

Sierra sabe que não há refeições grátis: tudo e todos têm um preço. O seu trabalho pode ser visto como uma meditação sobre as condições políticas e sociais que permite a disparidade de preços que as pessoas valem para poder subir. Comissionado para fazer trabalho nas galerias, segundo Bishop (2004) Sierra cria um realismo etnográfico, no qual o resultado ou desvelar desta acção forma um traço indexical da realidade social e económica do local onde ele trabalha.

Mark Dion, Tate Thames Dig, , 1999 [http://www.tanyabonakdargallery.com/artists/mark-dion/series-sculpture-and-installation/34]

Ambos os paradimas incorporam a chamada viragem etnográfica do artista, enunciada por Foster em The return of the real (1995), as instituições de arte não podiam ser descritas em termos do seu espaço físico – era agora também uma rede discursive de outras práticas e instituições, outras subjectividades e comunidades. Observador sai do domínio fenomenológico para on domínio social. – a arte passa então para o campo da cultura que a Antropologia investiga.

1 – Site-specificity - phenomenological or experiential paradigm

2 – Site-specificity - social/institutional paradigm

1 – Site-specificity - discursive paradigm

Kosuth (1975), The artist as anthropologist Hal Foster, The artist as ethnographer, The return of the real, 1995 Claire Bishop, Antagonism and relational aesthetics, 2004

arte e antropologia

Os projectos de Helena Elias (1999-2001), desenvolvidos em contexto de investigação académica, lidaram com as memórias históricas e culturais dos locais onde a artista residia, indagando sobre as relações voluntarias/involuntarias que as pessoas neles estabeleciam, considerando por vezes as geografias dos locais que estas incursões auto-biográficas proporcionavam.

(2000-2001) Rituais e deslocações

Por trás dos rituais e rotinas Sublinhar de micro-narrativas

Parade (Aberdeen 2000) O processo artístico trabalha com procedimentos das ciências sociais Auto-etnografia (anotações em diário gráfico e video-diário da artista). Recolha de dados (observação e documentação do evento, entrevistas a participantes, consulta de documentação em arquivo, jornais e reportagens televisivas) e tratamento de dados – processo de fazer é exposto (selecção e entrevistas). Parade foi exibido no Lemon Tree Theatre, numa sala tradicionalmente destinada a preparar as comemorações do dia do armísticio.

Uma câmara de video fixa registava situações chave, cujo o processo de edição revelava uma aproximação mais realista ou ficcionada da filmagem destes relacionamentos. Por sua vez, davam ao espectador a possibilidade de escolher e de se relacionar com as imagens de uma forma mais particular, encontrando detalhes, gestos familiares e comportamentos diferenciados ou similares aos da sua própria experiência.

Parade (2000) 1’ 30’’ loop Limousine Bull Gallery, Lemon tree Theatre Aberdeen, Phaldata and Lugar Comum

deslocações Start end point É percurso em loop, uma caminhada sobre uma rua em Aberdeen que já não existe e que deu lugar a galerias de um centro comercial. Dentro do edificio o desenho da rua foi mantido para que as pessoas pudessem passar entre dois quarteirões. O trabalho refletce sobre a transformação da cidade e privatização do espaço público

Start-end point, vídeo installation Limousine Bull Gallery (1999) Artists and Writers group residency 1 ,2,3 paradigma

25 secondos before shoting a photo MA Show 2000

Durante minhas incursões auto-biográficas em trânsito, surge a ideia de filmar 25 segundos que antecedem o momento que é registado através da fotografia, em colaboração com os amigos que me visitavam em Aberdeen ou os que eu visitava quando ia a Lisboa.

ABZ - Aberdeen Airport Video installation arts residency at Lugar Comum Fábrica da Pólvora (March 2001)

ABZ - levanta a questão de quão dependentes estamos de referências mesmo quando estamos em Não-Lugares Partidas e chegadas do Aeroporto de Aberdeen – non – lieux , As preocupações antes da partida e depois da chegada: identidade, registo civil, vigilância e segurança, procura de referências familiares – filmagem directa, apenas selecção de edição- Anotações sobre a descrição fisica do lugar desplotaram a ideia.

Quê bê Quê bê (q.b.) é um projecto experimental baseado na interpretação de imagens de livros de culinária de vários países. Os participantes interpretam as imagens e cozinham aquilo que lhe parece ser o prato – sem recorrer aos signos verbais.

QB – FIAR – Festival of Art in the street (Palmela – Portugal) and everywhere O trabalho celebra a comida, a creatividade, invenção, e o relacionamento entre as pessoas e a sua experiência sensorial com a comida e promove a criação pessoal de receitas Realça a qualidade da experiência – focado no encontro entre pessoas em qualquer lugar.

Pode ser do domínio da experiência ou adaptar-se a um local – uma área de pic-nic que nunca foi para as pessoas da vila, mas para turistas, agora desactivado. Incrementa o encontro ocasional. Não segue uma agenda curatorial – pode ser desevolvido expontaneamente (private space/public space) Potenciar a capacidade criadora Processo e resultado igualmente importantes

Os sentidos, visão, tacto, cheiro, tornam-se os guias preferências durante o processo de culinária e reguladores da construção da receita. O participante decide, de acordo com o seu paladar, memória sensorial passada, e a sua cultura de sabores, quais os ingredients, métodos da culinária, proções e tempos de cozedura que vão elaborar o prato visualizado

Imagem da receita original de um livro de cozinha da Ucrânia. Imagem do prato confeccionado. O projecto é aberto a todos quanto queiram participar no processo e prova dos pratos. c

Depois de confeccionar, as pessoas reescrevem o processo de confecção produzindo uma nova receita. A receita é publicada em livro

Os recentes projectos da dupla de artistas Marques and Elias exploram uma partipação mais lúdica nos locais onde trabalham e esperam um desenvolvimento que não é programado, procurando uma renovação momentânea de relacionamentos, abrindo o campo de possibilidades de como o trabalho pode terminar ou ser adaptado a outras circunstâncias. l

Da linha à Costa Workshop e instalação colectiva de desenho drawing of the skylines and other boundary lines of the Atlantic sea and the river Tagus.

Participants are asked to draw the Estoril coast, known as “the (train) line” in Portuguese, and the other bank of the river Tagus, Costa da Caparica, known in Portuguese as "the coast".

Leone Battista Alberti [1404-1472]

Albrecht Dürer [1471–1528]

David Hockney (2001) Secret Knowledge: Rediscovering the lost techniques of the Old Masters

A set of transparent surfaces will be displayed over a belvedere in order to draw the landscape. Rather than drawing from a single point of view, participants will select distinct locations to draw and explore accidental overlaps and perceptive differences of the sea and the estuary landscape.

Relying on the tradition of perspective drawing, and its optical instruments - the perspectograph, the Alberti's Veil, etc., the workshop aims to make landscape drawing available to all.

Sea Tales – histórias do mar

What is this? Where this branch comes from? What may have been this piece of wood? This would be a cup, a mug or a teapot? How did it get here? And this seat would be part of a bench, or a lounge chair?

histórias do mar mesa com objectos, fragmentos e vestígios de diversas proveniências

As more participants integrate the intervention, a network of objects and fragments, will be organically built while connecting the short stories written in the paper tapes. Participants may arrive at any time and elect, for example, an object that is already on the network and add their written tales to the object.

Sea Tales– the intervention takes the form of a drawing, a constellation

As the participants placed their contributions in the ground, a net of written sentences and found objects was being constructed.

histórias do mar

An experience of collective creation, encouraging the reflection on the origin of these fragments and objects collected.

Taking up the stories invented collectively last year, and the remains, fragments and objects brought by sea flows and tides that served as their motto, the sea tales project now proposes a memory exercise and reinterpretation of the previous work. An installation in the center of the space is an evocation of such objects and stories, the center visitors can (re) learn.

Inside the CIAPS: earthenware reliefs made from the found objects small wood boards with the colours of the found objects

In the space next to CIAPS: Sentences pasted on a small pool

Display of sentences in the small pool of the CIAPS building

This is the very wax that felt from the Shakespeare’s candle when he was writing Hamlet. Just imagine… Laura She was listening to the sound of the washing machine, of the watch, and the fridge. Antony misses his familly I made a wish with this string

Trans-Iberian curatorial project: a moving on from the original place were objects were found, towards the source of the river Tagus. The projects will be adapted to the several circumstances and specificities of places but carrying the effects of previous interventions and proposing several layers of people’s engagement. Sae tales begun in Cascais, is now being developed in Oeiras, in the context of the project DWELLING The CORETO. Next stop will be in Lisbon.

Habitar o coreto DWELLING The CORETO

The curatorial project DWELLING The CORETO encompasses a series of temporary exhibitions of works of art at the bandstand of Paço de Arcos garden during the year 2016.

These exhibitions will take place inside the four existing windows on the bandstand base. Drawings, small sculptures, painted objects, among other interventions, will be on permanent display to garden visitors. Each exhibition will last two months. Small interventions in the garden will complement the exhibition of the bandstand. All works of art on display will be designed specifically for the place.

Sea tales project will be exhibited in the stand band

1 – Site-specificity - phenomenological or experiential paradigm Kosuth (1975), The artist as anthropologist 2 – Site-specificity - social/institutional paradigm

Hal Foster, The artist as ethnographer, The return of the real, 1995

1 – Site-specificity - discursive paradigm Claire Bishop, Antagonism and relational aesthetics, 2004

arte e antropologia

…uma espécie de conclusão: Projectos articulam-se de maneira diferente as suas possíveis relações com a Antropologia : Elias recolha de dados –método etnográfico, registos intersubjectivos dos representados, exibindo o nível de de aproximação aos dados recolhidos (maior ou menor), no fundo o processo de edição/ficcionar a neutralidade do meio? Conceitos, subjectividade que é dada para ser partilhada por outros´.

…uma espécie de conclusão: Elias e Marques/Marques e Elias Relação intersubjectiva

Terceiro modelo de site specificity, com a ideia do espaço como construção social e da nossa relação intersubjectiva com as pessoas, mas não confinada a uma comunidade ou grupo. Depede da actividade performativa e o resultado é uma construção colectiva intersubjectiva, mais do que a soma das partes. Os projectos adaptam-se a diferentes circuntâncias, mas é o site que é gerado a partir do projecto, construido nesta relação intersubjectiva. São efectuados estudos prévios, com observação, documentação dos locais para criação/ adaptação do projecto. Temos operado fora do sistema de arte e sem mediadores.

Bishop, Antagonism and Relational Art (2004): Who is the public? How is a culture made, and who is it for?” what types of relations are being produced, for whom, and why?

Muito obrigada

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.