IDEIAS DE DEMOCRACIA E DE PARTICIPAÇÃO NO CONTEXTO DIGITAL

May 30, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Mídias Digitais, Democracia, Comunicação Pública
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Disciplina: Tópicos Especiais em Gestão, Inovação e Empreendedorismo E-democracia: tecnologia e participação cidadã Professores: Clerilei Aparecida Bier Dra. e Carlos Roberto De Rolt, Dr. Discente: Gisiela Hasse Klein Seminário 02: Debater a noção de democracia que está por trás dos vários empregos de “democracia digital”

IDEIAS DE DEMOCRACIA E DE PARTICIPAÇÃO NO CONTEXTO DIGITAL Antes de discutirmos democracia digital e participação social por meio das tecnologias de informação, é preciso pensar sobre que democracia está se falando e também que tipo de participação está sendo esperada. Gomes1 separa, didaticamente, os modelos de democracia em duas grandes vertentes: os que partem da ênfase na sociedade e os que partem da ênfase no Estado. A partir daí, temos uma série de abordagens (democrata comunitarista, republicana cívica, democrata deliberacionista ...). O autor salienta, no entanto, que o importante é ter consciência da abordagem que está sendo adotada ao se discutir democracia digital. “Assumir a sua perspectiva de democracia é uma forma leal de explicitar as implicações e as consequências da sua visão da democracia digital. ” (GOMES)

Para Gomes, ao se falar em democracia digital, é preciso ter consciência de que: 1. está se adotando modelos e ênfases de teoria democrática que funcionam como mediadores para a ideia de democracia; 2. há consequências e implicações que os modelos e ênfases adotados comportam; 3. os modelos e ênfases concorrentes à disposição no mercado de ideias e das alternativas que estes oferecem para os problemas teóricos e políticos em geral resolvidos pelo modelo e ênfase adotados.

Além da clareza sobre a perspectiva política e sociológica do conceito de democracia, é preciso distinguir também os diferentes tipos de organização social na internet. Haythornthwaite2 analisa o comportamento das multidões e das comunidades. 1

GOMES, Wilson. DEMOCRACIA DIGITAL: QUE DEMOCRACIA? – Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas. 2 HAYTHORNTHWAITE, Caroline. Democratic Process in Online Crowds and Communities. CeDem, 2011, p.23-33.

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A noção de multidão é a de muitos indivíduos se movendo para um mesmo objetivo (a multidão em um jogo de futebol, por exemplo). O objetivo tem vida curta e quando acaba a multidão move-se individualmente para outras atividades. Na multidão, apesar do objetivo comum, os indivíduos não precisam ter relação com os demais e o anonimato é uma das características. A noção de comunidade, por outro lado, trata de um conjunto menor de indivíduos/colaboradores, comprometidos um com o outro, com a comunidade e com os objetivos da comunidade. Em contraste com as multidões, as comunidades demonstram a diversidade de papéis e nichos. Há tarefas diferentes, refletindo especialização entre os indivíduos. Os resultados, por sua vez, dependem de interligação de tarefas e das pessoas. O prazo para a comunidade se estende além de um único evento/objetivo. Além disso, a comunidade mantém uma estrutura mais forte, na qual os indivíduos podem entrar ou sair, mas a comunidade se mantém em sua forma e propósito. Com essas duas noções bem claras de comunidade e multidão, Haythornthwaite propõe duas formas de organização e participação na internet: um modelo de agrupamento, baseado na participação de muitos indivíduos não-relacionados (lightweight colletive) e um modelo de comunidade virtual, baseado em conexões fortes entre um grupo dedicado de membros inter-relacionados (heavyweight colletive). A partir daí, é possível analisar o comportamento dos indivíduos em eventos online, desde a motivação de cada grupo, o nível de participação, de engajamento e as diferentes formas de reconhecimento, reputação e recompensas nos dois casos. A Internet acena como um fórum para a troca aberta de informações e ideias. No entanto, é preciso entender o que motiva um indivíduo a contribuir com uma ideia na rede, a se engajar e a participar. “Com a participação, tanto formal como informal, tem-se os fóruns coletivos online baseados na Internet. O mais importante é entender as facilidades e limitações dos diferentes sistemas de organização e os efeitos que eles têm sobre a participação

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online e o compartilhamento da informação em um processo democrático. ” (HAYTHORNTHWAITE, 2011)

Faraon et al (2013) vão além ao sugerir um modelo que avança da mobilização para a formação de consenso em uma comunidade colaborativa. Ou seja, uma democracia digital plena3. Para tanto, os autores propõem cruzar as potencialidades das redes sociais e das aplicações colaborativas online em um contexto democrático. A pesquisa demonstra que há níveis de interação, mobilização e engajamento até se chegar ao consenso em um ambiente digital, resultado de articulação, negociação e cocriação. A partir desses níveis identificados, os pesquisadores apresentam o desenho de um processo que conduz ao contexto democrático do consenso. Abaixo a tabela que resume os passos até o nível da busca consensual.

Os autores inferem que um meio destinado a influenciar a sociedade de forma bottom-up precisa seguir o padrão de mídia social popular onde é possível descobrir as necessidades previamente dormentes das multidões.

3

FARAON, Montathar; VILLAVICECIO, Victor; RAMBERG, Robert; KAIPAINEN, Mauri. From mobilization to Consensus: Innovating cross-media services to organize crowds into collaborative communities. CeDem, 2013, p.215-227.

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PERGUNTAS: 1) Faraon et al (2013) acreditam que é possível chegar ao consenso iniciando o processo pelas mídias sociais, onde teríamos o que os autores chamam de micro democracias. A estrutura das redes sociais, no entanto, permite que um indivíduo “crie” sua comunidade e que a gerencie, deletando ou adicionando amigos, evitando, assim, as habilidades sociais da negociação articulada, cocriação e consenso, justamente o nível almejado pelos pesquisadores. Não seria um equívoco pensar que há micro democracia nas redes sociais? 2) A partir do artigo de Gomes sobre as perspectivas do conceito de democracia, como podemos enquadrar a perspectiva da autora Caroline Haythornthwaite e dos autores de “From mobilization to consensus”?

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