Idosos no Brasil – vivências, desafios e expectativas na terceira idade (review)

July 23, 2017 | Autor: Jorge Felix | Categoria: Politicas Publicas, Serviço Social, Idosos, Previdência Social, Envelhecimento, Cuidados
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“Idosos no Brasil – vivências, desafios e expectativas na terceira idade” Anita Liberalesso Néri (org) Ed. Fundação Perseu Abramo / Sesc, 2007, 288 p.

Resenha publicada no jornal Valor Econômico, em 2007. Por Jorge Félix1 Em seu livro “A era da turbulência”, o bruxo financeiro Alan Greenspan aponta duas variáveis como grandes ameaças à manutenção do crescimento da economia norteamericana: um ataque nuclear e o envelhecimento populacional, o fato de os baby boomers estarem chegando aos 60 anos e alterando dramaticamente a dinâmica populacional dos Estados Unidos. No capítulo “O futuro délfico”, o ex-presidente do Federal Reserve Board escolhe o ano de 2030 – coincidentemente o mesmo apontado por John Maynard Keynes para um texto seu de exercício da futurologia e também o mesmo dos últimos relatórios do IPCC sobre o aquecimento global – para arriscar suas perspectivas da economia mundial. Sua dúvida persiste no quanto o país conseguirá controlar a inflação numa conjuntura repleta de novas demandas sociais. “A relativa tranqüilidade fiscal de hoje mascara um tsunami iminente, que nos atingirá quando parcela significativa da população altamente produtiva do país se aposentar”, afirma Greenspan, ao iniciar generosa explanação sobre os efeitos deste fenômeno do déficit, juros, inflação e produtividade da economia de seu país. No Brasil, apesar das indicações recentes dos dados demográficos, muitos ainda trabalham na inércia de que somos um país jovem e poucos percebem as implicações de um processo de envelhecimento já em pleno curso. Talvez, por este desprezo aos fatos, boa parte das análises siga na linha de Greenspan, ou seja, encare o fenômeno como “crise”, a crise do envelhecimento. Conhecer o processo, no entanto, passa a ser condição fundamental para governos e empresas. As corporações ainda nem desconfiam como o envelhecimento populacional 1

Doutorando em Ciências Sociais (PUC-SP/bolsista CAPES), mestre em Economia Política, pesquisador CNPq, e professor da PUC-SP e da FESP-SP. [email protected]

baterá sobre os seus balanços. É um risco, por enquanto, a descoberto, sem previsão. No entanto, é perfeitamente possível fazer um hedge – basta entendê-lo e tomar algumas iniciativas de médio prazo. Se as empresas quiserem sobreviver de geração para geração, devem desde já conhecer esta dinâmica, porque tudo dentro delas vai ter que mudar, até o design do banheiro. Se não o fizerem, correrão o risco de pagar muito caro pela mão-deobra e pelo conhecimento necessários à produção. É por isso que a nova bibliografia sobre o tema passa a ser importante num campo multidisciplinar. “Idosos no Brasil – vivências, desafios e expectativas na terceira idade”, organizado pela psicóloga do envelhecimento Anita Liberalesso Néri, da Unicamp, é uma grande colaboração para o conhecimento deste fenômeno tão importante para a economia quanto o aquecimento global, o fluxo de capitais ou o avanço tecnológico. O livro parte de pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, no ano passado, com a intenção de perfilar o idoso brasileiro, sobretudo, em suas áreas sensíveis ao preconceito. Mas, ao optar por colar aos dados da pesquisa 14 textos assinados por grandes especialistas no assunto, formou-se bibliografia importante para esclarecer a situação e apresentar os desafios. “A população é sempre culpabilizada pelos problemas e, no nosso século, passa a ser de novo porque vive um pouquinho mais”, afirmou a demógrafa Neide Lopes Patarra, no seminário “Como incluir os excluídos?”, promovido recentemente pela Unicamp para discutir a questão da Previdência. Uma das conclusões com a leitura do livro é que a visão catastrófica advinda do envelhecimento populacional ou a culpabilização são conseqüências do marasmo de atitudes – sobretudo por parte dos governos – para prevenirem-se em relação a este fenômeno. Como destaca a economista Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea, e uma das autoras do livro, as condições de assistência ao idoso brasileiro de hoje está razoavelmente garantida porque este desfruta de um desdobramento benigno de outro mercado de trabalho, onde havia mais formalidade, FGTS, SFH entre outros direitos. O futuro – marcado pela baixa fecundidade, principal determinante do envelhecimento populacional – é incerto. A família, diz Camarano, é outra. Há novo padrão de nupcialidade, separações, recasamentos, solidão e esse novo arranjo aflige mais a mulher –

por esta viver mais. E é aí que as empresas sofreram as conseqüências devido a crescente inserção feminina em todos os estágios do mercado de trabalho. Atualmente, a família tem grande papel na atenção ao idoso. Mas o Estado, como afirma Greenspan, pode assinar seu atestado de incompetência para atender às necessidades desta nova família e a empresa, certamente, será chamada a participar desta assistência. No Japão, afirma Camarano, o governo foi obrigado a instituir a licença de quatro meses – remunerada pela empresa – para os filhos cuidarem dos pais idosos e doentes. Não se surpreenda, portanto, se daqui a poucos anos, dentro da empresa, em vez de uma creche surgir uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI), totalmente custeada pelos acionistas. No capítulo “Velhice e políticas públicas”, a assistente social Maria Eliane Catunda de Siqueira, da PUC-MG, chama a atenção para o desconhecimento – por parte dos próprios idosos – de seus direitos e como esta ignorância beneficia a inação do poder público. Entre os idosos que responderam contar com renda própria, 84% destacam aposentadorias e pensões, mas somente 1% declara receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Isto pode ser explicado porque apenas 63% dos entrevistados conhecem este benefício garantido na Constituição de 1988, regulamentado pela LOAS e ainda referendado pelo Estatuto do Idoso. A autora aponta como uma das soluções para trazer eficiência às política públicas em benefício da terceira idade o fortalecimento do município. Segundo ela, cabe ao Estado brasileiro, pautado no princípio constitucional da descentralização político-administrativa, eleger a cidade como agente privilegiado que é da execução e destinação de recursos para a inclusão social do idoso. Neste aspecto, entram no debate com um papel protagonista, as questões de urbanização. Só mais uma prova de que o envelhecimento populacional irá alterar todos os espaços da vida.

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