IGREJA DE NOSSA SENHORA APARECIDA DA CIDADE DE SÃO JOSÉ - PROCESSO DE CRIAÇÃO E ANÁLISE ARQUITETÔNICO-LITÚRGICA DO EDIFÍCIO

Share Embed


Descrição do Produto

IGREJA DE NOSSA SENHORA APARECIDA DA CIDADE DE SÃO JOSÉ PROCESSO DE CRIAÇÃO E ANÁLISE ARQUITETÔNICO-LITÚRGICA DO EDIFÍCIO

Trabalho de Conclusão de Curso Lato Sensu em Espaço Celebrativo Litúrgico e Arte Sacra para a obtenção do título de Especialista em Espaço Celebrativo Litúrgico e Arte Sacra pela Faculdade Jesuíta de Minas Gerais, de autoria de Eduardo Faust sob a orientação da professora Nádia Yorioka. Apresentado em 2010.

Autor: Arquiteto Eduardo Faust

2

RESUMO

As formas, os cálculos, os fluxos, os sistemas, os materiais, as normas legais, a função dos elementos contidos, a função dos elementos que contem, o clima, a produção, a estética, a logística, a inovação, a acessibilidade, a sustentabilidade, o custo benefício, a viabilização, etc. A composição arquitetônica exige de seu autor sensibilidade e conhecimento multidisciplinar. O saber arquitetônico pós-moderno intensificou sua relação com a filosofia e a psicologia, aumentando ainda mais o leque antes baseado na arte e na engenharia. Na construção de templos temos a soma de outra disciplina a este combinado, a ciência da religião. Um edifício igreja deve seguir conceitos e técnicas como qualquer outra arquitetura, porém sua base deve encontrarse na liturgia e no simbolismo. Este simbolismo é guiado por uma história de mais de dois mil anos, as decisões arquitetônicas são embasadas nos conceitos do Cristianismo - nenhuma forma deve ser gratuita. O conceito: “a forma segue a função” [pertencente à arquitetura modernista] guiou e ainda guia as decisões arquitetônicas. Fazendo analogia de tal conceito, aos templos, podemos dizer que: “a forma segue o significado”; “a forma segue a liturgia”; “a forma segue a beleza” ou temos: “o significado é uma função”; “a liturgia é uma função”; “a beleza é uma função”. Logo ao desenhar uma igreja os conceitos de funcionalidade são enriquecidos pelo significado [simbolismo], liturgia [comunicação com Deus], beleza [o divino]. A liturgia é definida pelos documentos relacionados ao Concílio Vaticano Ecumênico II, o significado [simbolismo] está na sagrada escritura e na filosofia cristã, a beleza está na arte sacra e no entendimento sensível da busca do sagrado, do mistério, de Deus.

Palavras-Chave: Igreja. Liturgia. Arte sacra.

3

ABSTRACT

The architecture composition demands both sensibility and multidisciplinary knowledge of it's author. Form, function, materials, aesthetics, creativity, calculations, systems, climate, sustainability, accessibility, fluxes, legal regulations, production, logistics, feasibility, costs, etc. Post-modern architecture has intensified its relationship with philosophy and psychology, further increasing its range beyond the boundaries of art and engineering. In building temples we have to add another discipline, religion. A church, as an edification, should relate to concepts and techniques as any other form of architecture, but liturgy and symbolism should be in it's essence. This symbolism has been guided by a history that spans for over two thousand years. All the architectural choices must be based in concepts from Christianity – and by no means should be gratuitous. The concept: "form follows function" comes from the modernist architecture that guided, and still guide, the architectural decisions. Making an analogy between this concept and the temples, we could say that: "form follows meaning", "form follows the liturgy", "form follows beauty" or we could have: "the meaning is a function"; "the liturgy is a function "," beauty is a function. " So in designing a church the concepts of functionality are enhanced by the meaning [symbolism], liturgy [communication with God], beauty [the Divine]. The liturgy is defined by the documents related to the Ecumenical Vatican Council II, the meaning [symbolism] is in Scripture and in Christian philosophy, beauty is in the sacred art and the understanding of the sensitive search for the sacred, the mystery of God.

4

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Museu de arte moderna do Rio de Janeiro do arquiteto Afonso Eduardo Reidy, ícone do modernismo no Brasil. ....................................................................................................... 10 Figura 02: Igreja de Santa Maria dos Anjos, projetada pelo arquiteto Mario Botta, localizada na cidade de Monte Tamaro na Itália. Exemplo de igreja pós-moderna. .................................. 14 Figura 03: Igreja de Cristo Luz, projetada pelo escritório “Skidmore, Owings e Merrill”, localizada na cidade de Oakland nos Estados Unidos da America. Exemplo de catedral pósmoderna. .............................................................................................................................................. 15 Figura 04 : Esquema dos elementos básicos para a celebração e um proposta de layout liturgicamente indicado conforme o concílio vaticano II. .............................................................. 17 Figura 05: Mapa do Brasil, em destaque o estado de Santa Catarina. ..................................... 20 Figura 06: Mapa de Santa Catarina, em destaque a cidade de São José (grande Florianópolis). ...................................................................................................................................... 20 Figura 07: Mapa de de São José, em destaque o bairro Serraria.............................................. 21 Figura 08: Mapa do bairro Serraria, em destaque a região da obra da igreja. ......................... 21 Figura 09: Em destaque o lote a ser construída a igreja. ............................................................ 22 Figura 10: Lote situação inicial, a esquerda ao fundo os edifícios aonde aconteciam os cultos. ................................................................................................................................................... 22 Figura 11: Lote e a implantação dos edfícios. ............................................................................... 25 Figura 12: Maquete vista da esquina. ............................................................................................. 26 Figura 13: Maquete vista da fachada leste. ................................................................................... 27 Figura 14: Maquete do interior da igreja ......................................................................................... 27 Figura 15: Representação isométrica da estrutura de concreto armado. ................................. 29 Figura 16: Representação isométrica da estrutura de concreto armado, com as treliças metálicas. ............................................................................................................................................. 30 Figura 17: Desenho original de concepção do partido arquitetônico. A cruz (Jesus) que corta atravessa o mundo mítico e intervém no terreno. ......................................................................... 31 Figura 18: Torre vista do altar.. ........................................................................................................ 32 Figura 19: Topo da torre ................................................................................................................... 33

5

Figura 20: Lápide do início do século III. Museu Terme di Diocleziano .................................... 34 Figura 21: Esquema do conceito para a composição da cobertura. .......................................... 35 Figura 22: Concha. ............................................................................................................................. 36 Figura 23: Desenho de concepção da cobertura.. ........................................................................ 36 Figura 24: Desenhos dos conceitos. ............................................................................................... 37 Figura 25: Cristo pantocrator inserido numa vesica piscis imagem de um dos tímpanos da Catedral de Chartres.......................................................................................................................... 38 Figura 26: Layout e legenda dos elementos e ambientes da igreja. .......................................... 39 Figura 27: Fragmento do projeto executivo, planta baixa do pavimento da igreja. ................. 40 Figura 28: Representação isométrica do edfício sem cobertura. ............................................... 41 Figura 29: Fragmento do projeto executivo, corte BB no eixo de hierarquia. ........................... 42 Figura 30: Fragmento do projeto executivo, corte CC de frente para o altar. .......................... 43 Figura 31: Desenho de concepção para o altar. ........................................................................... 44 Figura 32: Cruz processional, altar e cadeira da presidencia. .................................................... 45 Figura 33: Ambão. .............................................................................................................................. 46 Figura 34: Desenho de concepção para a sédia........................................................................... 47 Figura 35: Altar e sédia. .................................................................................................................... 48 Figura 36: Desenho de concepção para a capela do santíssimo. .............................................. 49 Figura 37: Capela do santíssimo. .................................................................................................... 50 Figura 38: Ambão e capela do santíssimo. .................................................................................... 50 Figura 39: Pia batismal, iluminação focal coloca as mãos da padroeira sobre o batistério. .. 51 Figura 40: Entrada da igreja e a padroeira Nossa Senhora Aparecida. .................................... 53 Figura 41: Presbitéria visto da circulação principal (eixo de hierarquia). .................................. 54 Figura 42: A assembléia e a origem de sua geometrica. ............................................................. 55 Figura 43: Janelas laterais. ............................................................................................................... 56 Figura 44: Assembléia e sua relação com o presbitério. ............................................................. 57 Figura 45: Representação isométrica com corte na horizontal, para entendimento do espaço do átrio. ................................................................................................................................................ 58

6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................8 2 SOBRE A ARQUITETURA PÓS-MODERNA ......................................................................................9 3 ARQUITETURA MODERNA E A IGREJA CATÓLICA ....................................................................... 12 4 QUAL É A FUNÇÃO DO EDIFÍCIO IGREJA..................................................................................... 15 5 ELEMENTOS LITÚRGICOS E A ARQUITETURA ............................................................................. 16 5.1 Lista de elementos e ambientes.............................................................................................. 18 6 ANÁLISE DA IGREJA DE NOSSA SENHORA APARECIDA ............................................................... 19 6.1 LOCALIZAÇÃO .......................................................................................................................... 19 6.2 Programa do edifício ............................................................................................................... 23 6.2.1 Centro de evangelização ...................................................................................................... 23 6.2.2 Salão Paroquial ..................................................................................................................... 23 6.2.3 Igreja..................................................................................................................................... 24 6.3 Implantação da obra ............................................................................................................... 25 6.4 Materiais ................................................................................................................................. 28 6.5 Conceitos e o partido arquitetônico ....................................................................................... 30 6.5.1 A Cruz ................................................................................................................................... 30 6.5.2 Ichthys .................................................................................................................................. 33 6.5.3 Concha .................................................................................................................................. 35 6.5.4 Vesica Piscis .......................................................................................................................... 37 6.5.5 Eixo Cronológico ................................................................................................................... 38 6.6 Elementos Litúrgicos e composição espacial .......................................................................... 39 6.6.1 Altar ...................................................................................................................................... 43 6.6.1 Ambão .................................................................................................................................. 45 6.6.3 Sédia ..................................................................................................................................... 46 6.6.4 Sacrário e a capela do santíssimo ........................................................................................ 48

7

6.6.5 Fonte batismal e o batistério ............................................................................................... 50 6.6.6 Cruz....................................................................................................................................... 52 6.6.7 Padroeira .............................................................................................................................. 52 6.6.8 Presbitério ............................................................................................................................ 53 6.6.9 Assembléia ........................................................................................................................... 55 6.6.10 Átrio ou adro ...................................................................................................................... 57 6.6.11 Equipe de canto.................................................................................................................. 58 6.6.12 Capela da reconciliação ...................................................................................................... 59 6.6.13 Via sacra ............................................................................................................................. 59 6.6.14 Sacristia (sala de paramentação) ....................................................................................... 59 6.6.15 Sacristia (sala de apóio do presbitério) .............................................................................. 59 6.6.16 Sala de controle de som e iluminação ............................................................................... 60

8

1 INTRODUÇÃO

“Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para vós. E dizvos pela nossa voz: não permitais que se rompa uma aliança entre todas fecunda. Não vos recuseis a colocar o vosso talento ao serviço da verdade divina.” O trecho citado foi escrito pelo Papa Paulo VI data de 1965 e faz parte da carta aos artistas, na conclusão do concílio vaticano II, esta mensagem é dada novamente pelo Papa João Paulo II trinta e quatro anos depois. Mas infelizmente a produção arquitetônica no campo sacro não atende a tal apelo, grande parte dos especialistas do clero em espaço litúrgico é categórica em afirmar que existe uma verdadeira crise na área. Existem motivos para a conformação de tal crise, porém enumerá-los já não é o mais importante, e sim propor soluções. No contraponto ao quadro desta crise, estão os liturgistas e os artistas sacros, que buscam a requalificação dos profissionais e a conscientização dos leigos para a importância extrema que a disciplina exige. A produção arquitetônica sacra do arquiteto Eduardo Faust, autor desta obra é fruto deste esforço. A igreja de Nossa Senhora Aparecida é um exemplo deste trabalho, além de estar conforme as normas litúrgico-canônicas, ela foi fruto da aprovação e colaboração de muitos: das mãos da comunidade, das mãos dos professores de liturgia, das mãos dos padres membros da paróquia, da arquidiocese através da comissão de arte sacra, dos órgãos legais (prefeitura, corpo de bombeiros e vigilância sanitária), dos arquitetos e engenheiros colaboradores. A obra analisada mostra parte do processo citado, colaborando para que arquitetos, membros do clero e membros da comunidade possam entender melhor como se dá o processo de elaboração de um projeto arquitetônico sacro.

9

2 SOBRE A ARQUITETURA PÓS-MODERNA

Como o próprio nome já diz, é impossível não falar sobre modernismo para entender o pós-modernismo. Tanto o modernismo como o pós-modernismo são movimentos ou períodos da historia com uma vasta bibliografia, falaremos aqui sobre ambos de forma rápida e até rasa tendo em vista tamanha complexidade. O pensamento iluminista e a revolução industrial, montam a base da evolução tecnológica da arquitetura no final do século XIX. A engenharia estrutural explora o uso do metal em grandes construções, construções com exigências de grandes vãos e grandes alturas como pontes e estações férreas. No início do século XX ainda sob o pensamento neo-clássico arquitetos tornamse “decoradores” destas estruturas. Engenheiros criavam os espaços e os arquitetos o decoravam. Com a nova tecnologia era possível vencer vãos extremamente grandes, sem a colocação de colunas [pilares], porém nas fachadas destes edifícios eram desenhadas colunas sem função estrutural, fazendo um simulacro da “antiga e bela arquitetura”. Podemos dizer que o modernismo para a arquitetura começa quando os arquitetos resolvem fazer reflexões sobre este novo momento e entender que a arquitetura deveria acompanhar e tirar proveito das evoluções tecnológicas e trazer para arquitetura esta revolução social, econômica e política. Um dos pilares do modernismo foi o rompimento total com os conceitos antigos, as escolas passam a não estudar mais a arquitetura clássica e passam a criar estudos baseados na nova tecnologia e na industrialização. O famoso ensaio: Ornamento e Crime [1908] de Adolf Loos é uma das referências de outro pilar do modernismo, o conceito funcionalista de “forma segue a função”. Acompanhado deste conceito vem a frase denominada a Mies Van der Rohe, “o menos é mais”, que ilustra a geometrização da arquitetura é a busca da composição de um edifício baseada em sua totalidade e não em adornos isolados.

10

Figura 01: Museu de arte moderna do Rio de Janeiro do arquiteto Afonso Eduardo Reidy, ícone do modernismo no Brasil. Fonte: Acervo Eduardo Faust

Outro pilar do modernismo é a responsabilidade social do desenho arquitetônico. No urbanismo o acelerado crescimento das cidades fez com que os bairros de baixa renda [de operários] crescessem de forma desordenada em condições insalubres e indignas. Desenvolve-se o estudo da ergonomia e cria-se o homem padrão que toda a arquitetura deva ser desenvolvida para ele de forma limpa, econômica, útil e para todos. O modernismo ditava 5 pontos básicos de construção de edifícios: - Planta livre [para que sistema estrutural baseado em pórticos substituísse a alvenaria estrutural] que torna a edificação mais versátil; - Fachada livre o sistema estrutural citado admite que se coloquem aberturas em quase toda sua extensão otimizando a iluminação natural e ventilação;

11

- Brise Soleil [quebra sol] é uma estrutura externa às aberturas para o controle da entrada direta de raiso de sol. Ajudando no controle da temperatura. - Térreo em pilotis [o embasamento das construções são colocadas sem fechamentos somente com os pilares aparentes] para que o ar circule por baixo das construções; - Terraço jardim, para aproveitamento das área de coberturas como espaços semi-públicos. O nome modernismo ao longo dos anos torna-se amplo, arquitetos produziam contemporaneamente aos modernos uma arquitetura que também aproveitava novas tecnologias mas sem seguir as regras do modernismo, isso fez com que (mesmo com manifestações contra o modernismo) eles fossem caracterizados como modernistas, porém categorizados como organicistas, enquanto os ditos modernistas tornam-se os funcionalistas, além disso o modernismo passou a ser entendido mais como um período histórico que um movimento, assim até arquiteturas completamente distintas dos preceitos modernistas fazem parte do período como o art nouveau. Em resumo o modernismo é um período que engloba distintas vertentes e o melhor nome para designar a arquitetura elaborada com os conceitos modernistas racionalistas hoje é “Internacional Style” [estilo internacional]. Da pluralidade da arquitetura moderna que surge o pós-modernismo, neste caso uma designação que já surge não como um movimento e sim como um período histórico. Tanto em questões de ordem teóricas como práticas, começam a surgir obras que contestam os princípios modernistas, mais especificamente do estilo internacional, tanto na arquitetura quanto no urbanismo. Citando alguns dogmas quebrados: o homem padrão [modulor]; busca de referências históricas; o desenho pensado basicamente em escala urbana, elementos construtivos sem função unicamente estética. Grande parte dos avanços está ligada à união do conhecimento arquitetônico com as áreas humanas, como filosofia e psicologia:

o

existencialismo, o

pós-estruturalismo,

o

desconstrutivismo,

a

12

fenomenologia e a estética do sublime, foram entre outras escolas que influenciaram o pensamento “humano” dos espaços pós-modernos. Porém como o nome já diz o pós-modernismo deriva do modernismo, todo conhecimento criado foi aproveitado e desenvolvido, pois o modernismo foi fruto de uma das maiores revoluções construtivas da história, isso fez com que o pósmodernismo avançasse no que foi falho, no elemento humano.

3 ARQUITETURA MODERNA E A IGREJA CATÓLICA

O concílio ecumênico vaticano II (SC) é a constituição da sagrada liturgia, nele contêm diretrizes claras sobre como organizar espacialmente os templos católicos. Datado

de

1961

a

1965

ele

nasce

(após

décadas

de

maturação)

contemporaneamente ao pensamento pós-moderno. Se analisarmos obras da arquitetura pós-moderna e seus expoentes maiores, veremos que uma minoria delas são templos; e podemos dizer que isso é uma novidade na história da arquitetura. Até antes da revolução industrial todo o saber arquitetônico era materializado nos templos. A metodologia de ensino de disciplinas relacionadas à história da arte e da arquitetura tem como vocabulário os movimentos e/ou os períodos em que tais conhecimentos passaram. Em cada período são encontradas características específicas para que se possa categorizá-los. Nesta metodologia verificamos que uma constante se aplica desde os Egípcios [3000 a.c] até o início da revolução industrial [séc XIX] - a base da pesquisa são os Templos. Os templos da arquitetura grega, gótica, românica, islâmica, asteca, e etc, são obras que por sua inovação e qualidade marcam seu tempo e servem de instrumento de ensino de como fazer uma boa arquitetura.

13

No renascimento e no barroco já vemos exemplos de outros edifícios dados como exemplos disciplinares, porém os templos ainda são os principais expoentes, no neoclássico a linguagem dos templos é travestida na arquitetura civil. O final do século XIX até a atualidade é o momento em que os templos saem do foco dos estudos, dando lugar a construções do estado e arquitetura civil em geral. Ao longo do século XX houve uma má interpretação do funcionalismo moderno. Uma verdadeira mutação de importância, fez com que o conceito do “fim do adorno”, transforme-se em “ausência de significado”; e o conceito de “limpeza formal” em “ausência total de composição”. A má interpretação somou-se à má vontade do clero em absorver a arte moderna, assim houve uma demora na aceitação dela como arte sacra. Templos de linguagem e tecnica modernista, ilustravam em seus interiores retábulos barrocos e elementos litúrgicos em geral sem unidade artística. A construção de templos com técnicas construtivas modernas [concreto e aço], passa a ser mais viável economicamente por conta da otimização na estrutura industrial vigente. Estas novas técnicas nortearam o pensamento moderno que desenvolveu uma nova linguagem para arquitetura, por tamanha inovação. A antipatia do clero em relação à arte moderna afastou tanto artistas como arquitetos das obras, empobrecendo muito o legado. Na falta de uma obra iconológica de arquitetura moderna sacra - que servisse de espelho deste novo momento - fez com que em grande número de casos, a arquitetura da “ausência de composição” tomasse esse papel. A construção de templos neo-ecléticos [feitos com técnicas construtivas novas, imitando os materiais antigos] foi outra solução desastrosa adotada nos edifícios. O Papa Paulo VI escreveu na conclusão do concílio vaticano II aos artistas “Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para vós. E diz-vos pela nossa voz: não permitais que se rompa uma aliança entre todas fecunda. Não vos recuseis a colocar o vosso talento ao serviço da verdade divina. Não fecheis o vosso espírito ao sopro do Espírito Santo. O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é

14

este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração. E isto por vossas mãos.” (Paulo, 1965) Trinta e quatro anos depois, na carta aos artistas do Papa João Paulo II escreve “A Igreja precisa de arquitetos, porque tem necessidade de espaços onde congregar o povo cristão e celebrar os mistérios da salvação.” (João, 1999). Já se passaram 45 anos do término do concílio vaticano II, a falta de referenciais arquitetônicos é uma das causas da apatia das comunidades em relação ao que almejar no planejamento de um templo católico hoje. O concílio vaticano II nos dá diretrizes litúrgicas sobre como organizar especialmente os templos, porém sabiamente não nos dá diretrizes de como a obra arquitetônica deva ser desenhada, ficando a cargo dos arquitetos esta definição. E a cargo da comunidade e da Igreja saber cobrar dos arquitetos uma boa arquitetura sacra.

Figura 02: Igreja de Santa Maria dos Anjos, projetada pelo arquiteto Mario Botta, localizada na cidade de Monte Tamaro na Itália. Exemplo de igreja pós-moderna. Fonte: Flickr - http://www.flickr.com/photos/palisader/5013113544/

15

Figura 03: Igreja de Cristo Luz, projetada pelo escritório “Skidmore, Owings e Merrill”, localizada na cidade de Oakland nos Estados Unidos. Exemplo de catedral pós-moderna. Fonte: ArchDaily - http://www.archdaily.com/

4 QUAL É A FUNÇÃO DO EDIFÍCIO IGREJA

Nos ensinamentos de Cristo temos que “Deus está no próximo”, relações humanas como partilha e união são o foco [a união do povo e dele com o divino]. A união do povo se dá pela adoção da filosofia Cristã e pela participação ativa da comunidade para que a partilha aconteça. A comunicação com o divino está na liturgia, praticada no templo, para isso ele é construído. Com isso, a Igreja, apesar de possuir um grande caráter simbólico e metafísico por se tratar de um espaço sagrado, possui uma função bem definida: a de comunicação com o divino, ou seja, litúrgica.

16

A igreja, como edifício, deve possuir os elementos para que a liturgia aconteça, sem interferência de elementos supérfluos. Podemos dizer que se o proprietário do empreendimento fosse Cristo, sua lista de aspirações seria a liturgia. Isto para ilustrar o quanto os aspectos de ordem litúrgica ditam as conformações espaciais. Uma série de documentos indica as normas litúrgico-canônicas, o principal deles é o sacrosanctum concilium [SC], em português concílio ecumênico vaticano II. Ao longo da historia da Igreja a liturgia sofreu uma série de mudanças. Datado de 1545 a 1563 o Concílio de Trento era a base da liturgia até a formatação do vigente sacrosanctum concilium [SC] de 1962 a 1965. Oriundo da reforma litúrgica do final do século XIX o SC trouxe grandes mudanças, fazendo com que igrejas tenham de ser adaptadas para que o rito seja possível. Um elemento importante que permeia toda liturgia é a beleza. Na Igreja beleza é uma função, os ícones são signos que comunicam a palavra sendo uma peça evangelizadora, uma tríade inseparável da vida cristã é composta pela bondade, verdade e beleza. A função do belo é ilustrar a verdadeira dimensão do indivíduo - a beleza do divino - nela o fiel admira a beleza de sua fé e enxerga a sua essência. Esta beleza está relacionada ao conceito de “Simplicidade formal sem pobreza de composição, beleza sem ostentação”.

5 ELEMENTOS LITÚRGICOS E A ARQUITETURA

Como vimos o edifício igreja tem seu programa de necessidades baseado na liturgia, aqui, colocaremos os pontos da liturgia [pós concílio vaticano II] que influenciam na arquitetura.

17

Para que um espaço seja considerado uma igreja, ele deve constar 4 elementos: o altar [mesa da eucaristia], o ambão [mesa da palavra], a sédia [cadeira da presidência] e a assembléia [local dos fiéis], todos devidamente consagrados para que tornem-se elementos sagrados. Estes elementos não são o bastante para que uma igreja funcione por completo, mas o rito é possível.

Figura 04 : Esquema dos elementos básicos para a celebração e uma proposta de layout liturgicamente indicado conforme o concílio vaticano II. Fonte: Acervo Eduardo Faust

18

5.1 Lista de elementos e ambientes

1. Altar 2. Ambão 3. Sédia 4. Sacrário [Santíssimo] 5. Fonte Batismal [batistério] 6. Cruz 7. Imagens 8. Presbitério 9. Assembléia 10. Átrio ou Adro 11. Capela da reconciliação [penitenciária] 12. Via sacra 13. Sacristia [sala de paramentação] 14. Sacristia [sala de apóio do presbitério] 15. Administração 16. Sala de controle de Som e Iluminação 17. Capelas opcionais 18. Banheiros

19

6 ANÁLISE DA IGREJA DE NOSSA SENHORA APARECIDA

6.1 LOCALIZAÇÃO

Localizada no bairro Serraria, no denominado localmente Loteamento Canaã, a Igreja é planejada para uma comunidade em crescimento. O bairro pertencente à cidade de São José, [cidade da grande Florianópolis] predominantemente residencial e sofre uma urbanização rápida com muitas obras em execução, tanto de conjuntos habitacionais como de residências privadas. O aumento de sua densidade demográfica também se intensifica por se tratar de um zoneamento específico ARPP (Área Residencial Predominante Popular), a especificidade “popular” faz com que a área tenha lotes menores do que o mínimo estipulado pelo plano diretor que é de 30 metros por 15 metros. Uma igreja com 300 assentos já comportaria com facilidade a atual comunidade, mas em função dos dados citados foi feito um projeto levando em consideração as perspectivas de crescimento. Optou-se pela capacidade de 600 fiéis.

20

Figura 05: Mapa do Brasil, em destaque o estado de Santa Catarina. Fonte: Google maps - http://maps.google.com.br/

Figura 06: Mapa de Santa Catarina, em destaque a cidade de São José (grande Florianópolis). Fonte: Google maps - http://maps.google.com.br/

21

Figura 07: Mapa de de São José, em destaque o bairro Serraria. Fonte: Google maps - http://maps.google.com.br/

Figura 08: Mapa do bairro Serraria, em destaque a região da obra da igreja.

22

Fonte: Google maps - http://maps.google.com.br/

Figura 09: Em destaque o lote a ser construída a igreja. Fonte: Google maps - http://maps.google.com.br/

Figura 10: Lote situação inicial, a esquerda ao fundo os edifícios aonde aconteciam os cultos. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

23

6.2 Programa do edifício

O edifício é um complexo paroquial, mas como neste trabalho estamos tratando do espaço da igreja em si, somente será citado o programa completo sem detalhá-lo.

6.2.1 Centro de evangelização

No terreno se encontra um edifício anexo que hoje são realizados os cultos. Ele será reformado e com esta obra ele passará a conter: 1. Salas de catequese 2. Banheiros 3. Biblioteca 4. Administração 5. Auditório [cinema]

6.2.2 Salão Paroquial

O edifício da igreja possui dois andares, a igreja fica no andar superior e no térreo foi planejado o seguinte programa: 1. Salão paroquial 2. Bilheteria 3. Depósitos

24

4. Bar 5. Cozinha 6. Palco

6.2.3 Igreja

1. Altar 2. Ambão 3. Sédia 4. Sacrário [Santíssimo] 5. Fonte Batismal [batistério] 6. Cruz 7. Imagens 8. Presbitério 9. Assembléia 10. Átrio ou Adro 11. Capela da reconciliação 12. Via sacra 13. Sacristia [sala de paramentação] 14. Sacristia [sala de apóio do presbitério] 15. Sala de controle de Som e Iluminação

25

Figura 11: Lote e a implantação dos edfícios. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.3 Implantação da obra

O projeto se estrutura por um eixo gerado partir da esquina para que a sua volumetria seja valorizada em igual valor para as vias. Na ponta do eixo encontramos o acesso principal da Igreja que dela originam-se duas escadas, e cada uma atende a uma das vias. O terreno possui um declive de 5.30 metros, na cota mais alta se localiza a construção existente, previsto o centro de evangelização. Por possuir dois pavimentos o terreno foi planificado um metro acima da via de cota mais baixa, nivelando o piso da igreja [pavimento superior] pela construção presente no terreno, isso garantiu os acessos de rampas e escadas com menor custo, além de integrar o salão paroquial com a via.

26

O recuo frontal segue o afastamento obrigatório para vagas de automóveis, assim a movimentação diária de automóveis está garantida. Para os horários de culto foi proposto um estacionamento abaixo do centro de evangelização. A Igreja soma 720,00 m2.

Figura 12: Maquete vista da esquina. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

27

Figura 13: Maquete vista da fachada leste. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

Figura 14: Maquete do interior da igreja Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

28

6.4 Materiais

A igreja é composta de estrutura com: vigas e pilares de concreto armado; lajes de concreto armado mistas, pré-fabricadas e maciças; vigas metálicas treliçadas sustentam a cobertura de telhas metálicas com isolamento termo-acústico e forro de madeira. O piso da nave é de granilite e de cimento queimado nas circulações, no presbitério temos pedra, na sala de controle carpet e o restante porcelanato. As paredes são somente de fechamento e possuem espessuras variadas e todas são revestidas com a monocapa minerale da weber, sem reboco, detalhes são revestidos de pedras. Esquadrias são com sistema pivotante de vidro temperado. As portas internas lisas pintadas de branco, as portas de entrada possuem um desenho específico.

29

Figura 15: Representação isométrica da estrutura de concreto armado. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

30

Figura 16: Representação isométrica da estrutura de concreto armado, com as treliças metálicas. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.5 Conceitos e o partido arquitetônico

6.5.1 A Cruz

A cruz é o símbolo maior do cristianismo, especialmente na igreja católica. No processo de evangelização em peregrinações de católicos, o gesto de fincar uma cruz

31

no solo para se iniciar os trabalhos era comum, assim como para delimitar um solo sagrado. O partido arquitetônico parte do gesto de fincar uma cruz ao solo, a cruz [representada pela torre] que aponta para o criador, ela é o símbolo do markabah - da condução divina - rasgando o céu e alcançando o terreno. A cruz que simboliza a intervenção divina é o próprio Cristo. O céu na arte sacra pode ser representado por uma concha, a cobertura do edifício foi desenhada como tal - representando os reino dos céus - enfatizando o conceito da cruz rasgando o céu. Pela clarabóia é possível do interior da igreja se ver o fim da torre e o céu “físico”, que aqui representa o céu do céu. Para que o conceito fosse facilmente visto por todos fiéis ao longo do culto, colocou-se uma cruz no interior da igreja elevando-se por todo pé direito.

Figura 17: Desenho original de concepção do partido arquitetônico. A cruz (Jesus) que corta atravessa o mundo mítico e intervém no terreno. Fonte: Acervo arq. Eduardo Faust

32

Figura 18: Torre vista do altar.. Fonte: Acervo arq. Eduardo Faust

33

Figura 19: Topo da torre . Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.5.2 Ichthys

O cristianismo era proibido com pena de morte aos seus seguidores até o ano 313. Neste período foi traçado um dos mais antigos símbolos dos cristãos: O peixe. Ele era utilizado como símbolo de devoção e comunicação entre os fiéis. Este símbolo era desenhado como um código interno para comunicar o crescimento das comunidades cristãs.

34

A palavra peixe no idioma grego é ίχθύς traduzido foneticamente para ICHTHYS. Ela gera o acróstico Iésús – Christós – Theoú – Hyós – Sótér que significa: Jesus – Cristo – Deus – Filho – Salvador.

Figura 20: Lápide do início do século III. Museu Terme di Diocleziano Fonte: wikipedia

Similar a vésica piscis o Ichthys é desenhado ao centro da obra, as terminações dos traços (rabo do peixe) são as escadas que dão acesso à casa de Cristo (Jesus Cristo Deus Salvador) Ao lado deste centro que representa Cristo, temos as 12 águas do telhado emoldurando o centro, finalizando a cobertura, o abrigo dos fiéis. Os 12 apóstolos que estruturam todo cristianismo e contam a boa nova.

35

Figura 21: Esquema do conceito para a composição da cobertura. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.5.3 Concha

A concha é símbolo conhecido por representar a peregrinação, porém, também possui um significado mais antigo e até relacionado, ela representa o céu. Vitrais, abóbodas, pinturas, são muitas as representações de céu no interior das igrejas, pela beleza das formas estas representações simbolizam a morada dos que já foram e olham pelos que ainda permanecem. Neste projeto a idéia do céu, está poeticamente representa pela forma de sua cobertura, baseada no antigo símbolo iconográfico da concha.

36

Figura 22: Concha. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

Figura 23: Desenho de concepção da cobertura.. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

37

6.5.4 Vesica Piscis

Um símbolo antigo encontrado em culturas diversas. No Egito Antigo, por exemplo,

encontramos tal desenho com a mesma simbologia utilizada no

cristianismo. A vesica piscis simboliza: origem, gênese, nascimento, criação. É muito utilizada nos ícones do Cristo Pantocrator (todo poderoso) quando Cristo é desenhado representando Deus, todo poderoso criador de tudo. O sentido de gênese e criação também é atribuído à Maria a gestora que deu luz a Cristo. No caso deste projeto o símbolo está circunscrito na geometria central, que contem o eixo cronológico de Jesus.

Figura 24: Desenhos dos conceitos. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

38

Figura 25: Cristo pantocrator inserido numa vesica piscis imagem de um dos tímpanos da Catedral de Chartres. Fonte: Acervo Eduardo Faust

6.5.5 Eixo Cronológico

Existe um eixo desenhado conforme o terreno marcando sua esquina. Liturgicamente ele representa Jesus, o centro, por isso tanto a arquitetura quanto a liturgia estão orientadas conforme este eixo. Ele delimita os dois leques formados, e varre a semi-circunferência que forma a assembléia. Dito eixo cronológico, pois nele temos um resumo da passagem de Cristo na terra. 1. Maria - gestação e nascimento 2. Pia Batismal – A origem da pregação 3. Altar – O cenáculo 4. Cruz [torre] – A sacrifício 5. O céu – A paixão

39

6.6 Elementos Litúrgicos e composição espacial

Figura 26: Layout e legenda dos elementos e ambientes da igreja. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

40

Figura 27: Fragmento do projeto executivo, planta baixa do pavimento da igreja. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

41

Figura 28: Representação isométrica do edfício sem cobertura. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

42

Figura 29: Fragmento do projeto executivo, corte BB no eixo de hierarquia. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

43

Figura 30: Fragmento do projeto executivo, corte CC de frente para o altar. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.1 Altar

Também chamado de mesa da eucaristia, o altar é o centro da liturgia, uma igreja é construída para abrigá-lo, quadrado do mundo, local símbolo do sacrifício, e do cenáculo, local onde os fiéis revivem a ultima ceia de Cristo, em memória à sua passagem na terra. O altar visualmente e fisicamente deve destacar-se, este destaque ficará a cargo muito mais da disposição do que está em seu entorno do que por seu desenho, pois, deve ser feito de material nobre e cru com linhas simples e belas, sem

44

exageros que levem a duplicação de simbologia. Este conceito serve para a tríade de elementos altar, ambão e sedia, que devem ser pensados juntos possuindo a mesma linguagem compositiva - “Simplicidade formal sem pobreza de composição, beleza sem ostentação”.

Figura 31: Desenho de concepção para o altar. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

Alem de seguir os conceitos citados, neste projeto o Altar foi desenhado em formato de heptágono [figura geométrica de 7 lados], o número 7 é a plenitude, é a soma do 4 que representa o terreno com o 3 que representa o divino. O altar é a peça litúrgica responsável pelo markabah - condução divina – a ligação entre terreno e divino – seus 7 lados enfatizam esta simbologia.

45

Figura 32: Cruz processional, altar e cadeira da presidência. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.1 Ambão

Também chamado de mesa da palavra, o Ambão é o local de leitura da palavra [bíblia], local onde acontece a homilia. A palavra ambão vem do grego anabaino que significa elevar-se, assim o ambão foi colocado em posição elevada [5 degraus acima do presbitério] para que ao declamar a palavra, o orador o faça dotado da simbologia

46

da palavra que vem do reino dos céus. Suas paredes são revestidas pela mesma pedra utilizada no Altar.

Figura 33: Ambão. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.3 Sédia

Também chamada de cadeira da presidência, a sédia é a cadeira do ministro ordenado que celebra o rito, ele é o Cristo cabeça e tem na assembléia seu corpo

47

eclesial. Seu assento é composto da mesma pedra utilizada no Altar e no Ambão, seus braços e encosto de madeira, relendo de forma geométrica as antigas cátedras.

Figura 34: Desenho de concepção para a sédia. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

48

Figura 35: Altar e sédia. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.4 Sacrário e a capela do santíssimo

Urna aonde se deposita o corpo de Cristo, a eucaristia. O sacrário possui sua própria capela no interior da igreja, chamada capela do Santíssimo nela temos genuflexórios e o sacrário junto à sua “lâmpada” [chama natural] em destaque. Encontra-se ao lado do presbitério com fácil visualização de seu acesso. O desenho do apóio do sacrário faz referência ao gesto de se receber algo, neste caso a comunhão. A frente foi colocada outra estrutura que emoldura a lâmpada do santíssimo. Nela foi gravada uma passagem bíblica relacionada à reserva eucarística.

49

Figura 36: Desenho de concepção para a capela do santíssimo. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

50

Figura 37: Capela do santíssimo. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

Figura 38: Ambão e capela do santíssimo. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.5 Fonte batismal e o batistério

Grande parte das igrejas não possui uma fonte, deixando que os batismos aconteçam na igreja matriz da paróquia, porém é indicado que o batismo seja feito na igreja da comunidade. O gesto de benzer-se na mesma pia aonde foi batizado possui grande significado, assim como a lembrança de seus ancestrais que ali foram batizados.

51

Figura 39: Pia batismal, iluminação focal coloca as mãos da padroeira sobre o batistério. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

A fonte batismal faz parte de um rito específico, o batismo. A fonte pode ser colocada na nave da igreja ou possuir sua própria sala. Neste caso ela foi colocada na nave logo na entrada, por se tratar do elemento litúrgico do batismo, o primeiro sacramento, o fiel cada vez que adentra a igreja se depara com seu nascimento em Cristo. A fonte possui alguns elementos técnicos: ela é aquecida, a água em seu interior é benta e não pode ser descartada na rede cloacal ou pluvial, possui um sistema independente para que possa ser direcionada para o jardim.

52

6.6.6 Cruz

Todos na celebração devem ter acesso visual à cruz, logo ela deve ficar sobre ou à frente do altar, apesar de limpo o desenho ganha liberdade de adornos, podendo conter a imagem de Cristo, e/ou ser gemada com cinco pedras representando as chagas, entre outras simbologias. No caso da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, optou-se por uma forma que embeleza e da dinâmica as celebrações, é a da cruz processional, ela adentra a igreja e é fixada a frente do altar e depois retirada.

6.6.7 Padroeira

Somente duas imagens devem constar na nave da igreja: a imagem de Nossa Senhora e a Imagem do padroeiro. Sua colocação é livre desde que mantenha a hierarquia de destaque dos elementos litúrgicos. No caso desta obra a padroeira é Maria, nossa senhora aparecida. Ela foi disposta logo na entrada, no inicio do eixo central, seguindo o conceito de eixo cronológico, ela representando o nascimento de Jesus. Da forma indicada ela possui um lugar de destaque sem “concorrer” com o presbitério.

53

Figura 40: Entrada da igreja e a padroeira Nossa Senhora Aparecida. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.8 Presbitério

Local que abriga o altar, ambão e a sedia, deve ser tratado com o conceito básico de belo na Igreja “Simplicidade formal sem pobreza de composição, beleza sem ostentação”

54

Os degraus presentes na grande maioria dos presbitérios têm a função de facilitar a visualização de todos, e auxiliar no destaque dos elementos litúrgicos. O desenho do presbitério segue a circunferência gerada pelo eixo de hierarquia, nele estão dispostos: o Altar em destaque, a cruz processional, a sedia um degrau acima dos anteriores, o ambão, e os bancos de coroinhas e presbíteros. A iluminação é feita com spots situados no topo das treliças que focam em cada elemento litúrgico, podendo ser acionado de forma independente, fazendo com que o cerimonialista possa dar mais movimento, enriquecendo a celebração em prol da liturgia.

Figura 41: Presbitério visto da circulação principal (eixo de hierarquia). Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

55

6.6.9 Assembléia

Liturgicamente o presbitério deve situar-se ao centro da igreja com a assembléia ao seu redor. Quanto mais a distribuição da assembléia se aproximar desta conformação, mais apto a correta aplicação da liturgia o espaço estará, porém, este layout possui algumas dificuldades de aplicação por questões de ordem prática.

Figura 42: A assembléia e a origem de sua geometrica. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

A assembléia faz parte do rito, o fiel não é um espectador, isso é facilmente visível se levarmos em consideração que foram adotados bancos somente no segundo milênio, se mantém os bancos tradicionais coletivos para propiciar a união comunitária, base da Igreja. As portas das salas e capelas não são visíveis na nave da igreja, assim como as janelas são colocadas nas terminações das “asas”. Esta disposição está a serviço

56

do espaço sagrado que respeita o tempo sagrado, fazendo com que a experiência em seu interior tenha como entorno o tempo mítico, e não do tempo do trabalho, ao adentrar um espaço sagrado, o fiel se torna contemporâneo as suas divindades, o relógio pode afetar a reflexão e a experiência de Deus. Além da questão temporal, este desenho também ajuda a reduzir a visualização de eventos que possam vir a distrair o fiel no culto.

Figura 43: Janelas laterais. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

A igreja possui duas portas de entrada e uma saída de emergência aos fundos, que também é o acesso para deficientes físicos.

57

A iluminação da assembléia é realizada toda de forma indireta com luminárias desenhadas sobre os refletores, fazendo com que a própria paróquia possa fazer a manutenção de troca de lâmpadas, sem a necessidade de andaimes, excluindo a contratação de empresas. As lâmpadas utilizadas foram de vapor metálico com temperatura de cor de 4000K para definição da quantidade luminosa foi feito projeto luminotécnico.

Figura 44: Assembléia e sua relação com o presbitério. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.10 Átrio ou adro

É o espaço que faz a transição entre tempo do trabalho e o tempo mítico, local onde o fiel se concentra antes de adentrar o espaço sagrado. Local também de

58

mudança acústica, se faz a transição e ajuda a manter o silêncio que o templo necessita. O espaço é mítico, o mistério que leva a experiência de Deus, este mistério deve ser guardado, a adro limita a visão de quem está fora da igreja fazendo com que os elementos litúrgicos sejam revelados somente para quem realmente adentra seu espaço.

Figura 45: Representação isométrica com corte na horizontal, para entendimento do espaço do átrio. Fonte: Acervo Arq. Eduardo Faust

6.6.11 Equipe de canto

Situado junto à assembléia a equipe de canto está logo à frente do ambão pois na parte inferior existe um pequeno depósito que ali estão dispostos elementos técnicos, elétricos e sonoros para a boa comunicação com a sala de controle.

59

6.6.12 Capela da reconciliação

Local intimista com pouca luz onde o fiel pode sentar de frente para o padre numa mesa ou também se ajoelhar ao lado num genuflexório protegido por uma delicada grade de madeira [muxarabi]. Um vidro fixo é colocado dividindo a sala da assembléia para que outros possam ver a confissão, porém com privacidade acústica.

6.6.13 Via sacra

Colocada na rampa de fundos da Igreja

6.6.14 Sacristia (sala de paramentação)

Com banheiro anexado, a sacristia foi planejada num local onde o padre possa iniciar o culto junto à assembléia.

6.6.15 Sacristia (sala de apóio do presbitério)

60

Depósito para os materiais utilizados nas celebrações.

6.6.16 Sala de controle de som e iluminação

Um vidro com película fumê comunica a sala com a nave da igreja, para que se faça o controle de iluminação conforme o planejado pelo celebrante e a regulagem sonora correta da equipe de canto.

61

REFERÊNCIAS

ALDAZÁBAL, J (com.). Instrução geral sobre o Missal Romano: terceira edição. São Paulo: Paulinas, 2007. CONSTITUIÇÃO SACROSANCTUM CONCILIUM, sobre a Sagrada Liturgia. In: Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. 4º. Ed. São Paulo: Paulus, 2004. DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Ed. Matins Fontes, 2003. FRADE, Gabriel. Arquitetura Sagrada no Brasil: Sua evolução até as vésperas do Concílio Vaticano II. São Paulo: Ed. Loyola, 2007. GOMBRICH, E. H. A história da arte; São Paulo: LTC Editora, 2002 JOÃO PAULO II, Carta aos Artistas, 04 de abril de 1999. Disponível em: . Acesso em: setembro de 2010. MACHADO, Regina Céli de Albuquerque. O local de celebração: arquitetura e liturgia. São Paulo: Ed. Paulinas, 2001. NESBITT, Kate. Nova agenda para arquitetura. São Paulo, 2006. PAPA PAULO VI, Mensagem do Papa na conclusão do Concílio Vaticano II “Aos Artistas”, 08 de dezembro de 1965. Disponível em: . Acesso em: agosto de 2010. PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. São Paulo: Paulinas, 2008. _______. Guia do espaço sagrado. 4º. Ed. São Paulo: Loyola, 2007. RUSKIN, John. Las siete lamparas de la arquitetctura. Buenos Aires: Ed. El Ateneo, 1956. ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Ed. Matins Fontes, 2002.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.