Igualdade de gênero

June 16, 2017 | Autor: Ana Ramos | Categoria: Equality
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Discente: Laís Fonseca Ramos  Turma: Introdução à Análise Econômica ­ ECONO0004    Resumo do Capítulo 9 ­ Igualdade de Gênero   Do livro "Políticas Sociais: acompanhamento e análise"    Através  dos  colaboradores  Antonio  Teixeira  Lima  Junior,  Elizabeth  Marins,  Luana  Simões  Pinheiro,  Luciana  da  Luz  Silva  e  Natália  de  Oliveira  Fontoura,  o  capítulo  procura  abordar  importantes  questões  de  gênero  ­  como  os  fenômenos  da  violência  sexual  e  doméstica  e  da  participação  feminina no  mercado  de  trabalho  ­  e  seus  desdobramentos  no  campo  governamental. Os autores focaram a análise no  ano  de  2012,  pois  ele  marca  os  primeiros  dez  anos  de  existência  da  Secretaria  de  Políticas  para  as  Mulheres  (SPM),  da  Presidência  da  República,  que foi criada com o objetivo de fomentar a incorporação  da  perspectiva  de  gênero  nas  politicas  governamentais.  A  SPM  realizou  grandes  conquistas,  como  a  aprovação  da  Lei  Maria  da  Penha  (Lei  n°  11.340/2006),  o  lançamento de três edições do Plano Nacional   de  Politicas  para  as  Mulheres  e da Emenda Constitucional n° 72/2013, que tratou de ampliar o direito das  trabalhadoras  domésticas.  No  entanto,  grandes  desafios  continuam  assolando  a  nossa  sociedade,  para  além da transformação cultural necessária para a promoção da igualdade de gênero.  Entre  2012  e  2013,  diversos  casos  de  violência  sexual  ganharam  destaque  na   mídia  brasileira,  como  o  episódio  "New   Hit",  em que duas adolescentes foram  estupradas por um grupo musical na cidade  baiana  de  Ruy  Barbosa  em   16   de  agosto  de  2012.  O  caso  dividiu  opiniões  por  todo  o  país  em  torno dos  limites  do  que  seria  considerado  estupro,  além  da  questão  da  culpabilidade  das  vitimas  pela  violência.  Neste  processo,  foram  sopesados,   além  do  crime  do  estupro  em  si,  a  conduta  das  jovens.  A  intensa  mobilização  do  movimento  feminista,  é  importante  destacar,  tem  sido  decisiva   neste  contexto  através da  pressão que exerce sobre o Judiciário.  Em  2013,  o  Fórum  de  Segurança  Pública  divulgou   que,  pela  primeira  vez,  a  incidência   de  estupros  no  Brasil  havia  ultrapassado  a  de  homicídios  ­  24,3  homicídios  e  26,3  estupros  a  cada  100  mil  habitantes  (FBSP, 2013, P. 12 e 21), registrando um aumento de  20% em relação ao ano anterior.  Sabe­se  que,  por  um  lado,  este  aumento  pode  estar  relacionado  à  melhora do registro de informação e denúncias,  em  função  de  políticas  públicas,  mas,  por  outro,  sabe­se  que  este  é,  ainda,  um  número subestimado, não  somente  pelo  medo  ou  vergonha  das  mulheres,  mas  pela  ineficiência  estatal,  que  não  oferece 

equipamentos  ou  capacitação  suficientes  aos  seus  funcionários.  Além  disso,  ainda  persiste  na  nossa  sociedade a ideia de que as próprias mulheres provocam os estupros.   Infelizmente,  a  violência  contra  as  mulheres  ultrapassa   a  forma  sexual,  e  se  evidencia  enquanto  violência  física, patrimonial, moral, psicológica, etc., e, muitas vezes, pode levar a mulher ao óbito, como  no  emblemático  caso  de  Eliza  Samudio.  Ela  desapareceu,  em 2010, após prestar queixas contra o goleiro  Bruno,  que  a  teria  mantido  em  cárcere  privado  e  a feito tomar  abortivos depois de descobrir que a jovem  esperava um filho seu.  A  magnitude  da  violência  doméstica  levou  o  Congresso  Nacional  a  instituir,  em  fevereiro  de  2012,  uma  Comissão  Parlamentar  Mista  de   Inquérito  (CPMIVCM)  sobre  o  tema,  que  coletou  informações  de  18  Estados  brasileiros,  a  fim  de  analisar  as  políticas  brasileiras  de  enfrentamento  à  violência  contra  mulheres,  questões  orçamentárias,  a  situação  das  redes  de  atendimento  à  mulher  e  discussões  acerca  da  atuação  do  Poder  Judiciário.  A  partir  deste  diagnóstico,  notou­se  que  enfrentamos  uma  realidade  preocupante  (seja  no  âmbito  judiciário,  no  psicossocial  ou  no  de  saúde),  desprovida  de  recursos  materiais  e  humanos,  e  com  a  rara  capacitação  destes.  Em  que  pesem  as  ações  governamentais  que  vêm  sendo  implementadas,  ainda  prevalece  a  ausência  de  uma  infraestrutura  adequada  para  o  funcionamento  dos  serviços  que  enfrentam  a  violência  contra  a  mulher.  Frente  a  este  panorama,  os  movimentos  sociais  têm  mobilizado  uma  parcela  significativa  da  população, como o caso da Marcha das  Vadias,  que  pretende  chamar  atenção  para  a  existência  de  uma  cultura  que  retira  a  liberdade  da  mulher  sobre  seu  corpo.  A  despeito  das  críticas  que  possam  ser  feitas  ao  movimento,  os  autores  deste   capítulo  reconhecem a sua relevância como instrumento de denúncia e visibilidade das opressões de gênero.  Em  2013,  foi  aprovada  a  PEC  n°  478/2010,  mais  conhecida  como  PEC  das  domésticas.  A  Emenda  Constitucional  resultante,  de  n°  72/2013,  altera  a   redação  do  artigo  7°  da  Constituição  Federal,  estendendo  às  trabalhadoras  domésticas  uma  série  de  direitos  até  então  negados  a  elas,  como  o  seguro­desemprego,  o  FGTS  obrigatório,   a  jornada  de  trabalho  regulada,  entre  outros.  O  impacto  da  emenda  evidencia  a  desigualdade  de  classes  que a existência do trabalho doméstico pressupõe, pois recai  especialmente  sobre  as  famílias  da  ponta  de  cima  da  distribuição  de  renda  no  Brasil,  em  beneficio  daquelas  que  se  encontram  na  ponta  inferior,  tornando  esta  uma  medida  de  caráter  redistributivo.  No  entanto,  há  um  descompasso  entre  as  mudanças  efetivadas  e  os impactos reais  na vida das trabalhadoras,  devido  à  grande  informalidade  que  atinge  a  categoria.  Além  disso,  é  preciso  levar  em  conta  o  novo 

modelo  de  trabalho   doméstico  das  chamadas  diaristas,  que  segue  em  ascendência,  e  permanece  fora   do   alcance das garantias trabalhistas e previdenciárias.   A  instituição  dos  planos  nacionais  de  políticas  para  as  mulheres  (PNPMs),  a  partir  da  criação  da  SPM,  trouxe  a  missão  de  incorporar  a  perspectiva  de  gênero  em  todo o governo federal e demais esferas  públicas.  O  primeiro  PNPM,  em  2004,  gerou  ações  que,  apesar  de  não  terem  sido  realizadas  em  sua  maioria,  foram  pioneiras  ao  inserirem  temáticas  de  gênero,  raça  e  etnia  no  processo  de  elaboração  de  políticas  públicas.  Suas  outras edições trouxeram diversas inovações, inclusive a tentativa de orçar gastos  governamentais  para  políticas  direcionadas  às  mulheres  e  à  igualdade  de  gênero.  A  forte  influência  de  movimentos  religiosos  conservadores  no  espaço  do  Executivo  e  Legislativo,  no  entanto,  dificultou  a  pauta de temas como prostituição e aborto. Ainda assim, os PNPMs têm sua importância ao ampliarem os  mecanismos de gênero nos órgãos governamentais.   Apesar  das  críticas  que  alegam  que  não  se  consegue  avançar  em  outras  áreas  de  combate  à  desigualdade de gênero (como no mercado de trabalho e nos direitos sexuais e reprodutivos) para além do  combate  à  violência  contra  a  mulher,  a  SPM  propiciou  a  reflexão  sobre  os  direitos  das  mulheres  em  diversos  setores  do  governo,  levando  à  instituição  de  programas  que  de  fato  impactaram  a  realidade  das  mulheres  brasileiras.  Além  da  Lei  Maria  da  Penha,  somam­se  a  estes  esforços  o  Pacto  Nacional  pelo  Enfrentamento  à  Violência  da  Contra  a  Mulher  (PNEV)  e  a  Central  de  Atendimento  à  Mulher  ­  Ligue  180,  que  já  possui  alcance   internacional,  entre  outros.  A  SPM  deve  protagonizar  a  execução  de  ações  para  a  garantia  de  uma  cidadania  ativa  e  para  combater  as  desigualdades  de  gênero,  mas  também  deve  fortalecer  sua  atuação  de  coordenação  e   monitoramento,  ao  qualificar  o  controle  acerca  das  políticas  públicas  de  gênero  e  exigir  um  compromisso  institucional  e  político  que  viabilize  o  desenvolvimento  técnico adequado para transbordar do papel os planos elaborados para a vida das mulheres.   No  que  se  refere  às  ações  implementadas,  em  2013  foi  lançado  pela  presidenta  Dilma  Rousseff  o  programa  Mulher,  Viver  sem  Violência,  que  atua  em  cinco  linhas  de  ação:  a  instituição  Casa  da Mulher  Brasileira  (que  propõe  um   espaço  nas  capitais  dos  Estados  que  concentre   todos  os  serviços  de  atendimento  à  mulher),  a  ampliação  da  Central  de  Atendimento   à  Mulher  (transformando­o  em  disque­denúncia),  a  humanização  do  atendimento  na  saúde  publica,  a  criação  de  novos  núcleos  de  atendimento às mulheres nas fronteiras e a realização de campanhas de conscientização continuadas. Esse 

programa,  contanto,  pode   implicar  na  centralização  dos   serviços  nas  capitais,  dificultando  e  limitando  o  acesso para mulheres nas regiões mais distantes.  Sendo  2012  o  marco  dos  oitenta  anos  do  direito  de  votar  feminino  no  Brasil,  e  tendo  em  vista  o  processo  eleitoral,  foi  lançada, em agosto daquele ano, a Plataforma  Mais  Mulheres no Poder: Eu assumo  Este  Compromisso,  para  criação  de  propostas  voltadas  às  politicas  para  mulheres,   e  que  possibilitou  um  pequeno  aumento  no  número  de  mulheres  eleitas  para  as  câmaras  e  prefeituras;  No  entanto,  o  país  continua  longe  da  paridade  de  gênero  na  politica.  Já  na  área trabalhista, o destaque foi o lançamento, em  novembro  de  2012,  da  ação  Mulheres  que  inovam,  para  incentivar  mulheres  a  se  qualificarem  profissionalmente  em  áreas  predominantemente  masculinas  e  que  estão  em  expansão  econômica  (áreas  como  a  civil  e  a  mecânica).  Também  foi  anunciado  o  Programa  Nacional  de  Fortalecimento  da  Agricultura  Familiar  para  as  Mulheres  (PRONAF  Mulher),  que  busca  garantir  o  acesso  ao  crédito  às  mulheres  agricultoras,  viabilizando  seu  empoderamento. 

Já  na  área  de  educação,  a  SPM  deu 

continuidade,  entre  outros  projetos,  ao  Programa  Mulher  e  Ciência,  visando  estimular  a  participação  feminina  nas  carreiras  acadêmicas  e  nos  campos  de  pesquisa  científica,  ademais  de  fomentar  o  debate  acerca  da  igualdade  de  gênero.  De  maneira  geral, a atuação da Secretaria permanece, até a publicação do  cap​ í​ tulo, contudo, limitada por dificuldades orçamentárias, de RH, técnicas e institucionais.   No  referente ao  orçamento autorizado da SPM, observa­se a prioridade na alocação de recursos entre  dois  grandes  temas  ­  violência e cidadania. Em 2011, grande parte dos recursos destinava­se a programas  de  cidadania  das  mulheres,  enquanto  em  2012  a  maior  parte  era   direcionada  ao  enfrentamento  da  violência,  mas  fica  claro  que  o  destino  dos  recursos  depende  da  gestão   da  ministra  vigente.  Além  disso,  nota­se  que  a  execução  orçamentária  é   baixa,  girando  em  torno  de  80%  em  2012,  o  que  põe  freio  à  liberação de recursos para movimentação e empenho da Secretaria.   De  acordo  com  movimentos  econômicos  e  políticos,  a  dinâmica da inserção dos homens e mulheres  no  mercado  de  trabalho  vai  se  alterando.  Em  2012,  26,9  milhões  de  brasileiras  com  18  anos  ou  mais  de  idade  não  estudavam  nem  trabalhavam,  e  somente  27%  delas  eram  aposentadas.  Esse  imenso  grupo  de  donas  de  casa  são  mulheres  consideradas  economicamente  inativas,  dedicam  uma  extensa  jornada diária  para  garantir  que  os  demais  membros  da  família  possam  inserir­se  no mercado  de trabalho, e respondem  por  uma  função  de   reprodução  de  força  de  trabalho,  mas  seu  trabalho  não  é  contabilizado  como  tal.  As  responsabilidades  familiares  contrapõem  a  visão  de  trabalhadora  com  disponibilidade  integral  para  o 

trabalho;  a  consequência  disso  se  observa  na  reduzida  taxa  de  participação  feminina  no  mercado  de  trabalho,  e  na  sua  concentração  em  profissões  relacionadas  ao  cuidado.  A  desocupação  ainda  é   maior  entre  mulheres  negras  do  que  brancas,  devido  a  questões  históricas.  Graças  ao  movimento  feminista  ao  redor do mundo, tem se construído um  conceito mais amplo de trabalho, que trata de abranger, também, o  trabalho  doméstico.  No  referente  ao  rendimento  mensal,  a  mulher  negra  ocupa  a  base  da  pirâmide,  em  que  o  homem  branco  ocupa  o  topo.  Observa­se  que  o  homem que mesmo nas categorias em que  há mais  mulheres  ­  como  a  de  serviços  sociais,  os  homens  têm  posições mais privilegiadas e de maiores  salários.  Nota­se,  também,  que  a   maior  presença  feminina  no  emprego  público  é  relacionada  ao  fator  do  filtro  impessoal de entrada, em que as descriminações de gênero não  afetam na admissão, e é um setor que gera  estabilidade, portanto, facilitaria a conciliação entre vida familiar e trabalho.  Ante  o  exposto,  conclui­se  que  o  patriarcado  toma  conta  das  relações sociais para além das relações  econômicas,  e  está   presente  em  todos  os  âmbitos. Nesse contexto, a divisão sexual do trabalho subordina  as  mulheres  aos  homens,  a  reprodução  à  produção.  Além  disso,  mulheres  de  diferentes  classes  não  compartilham  a  mesma  opressão  ou  as  mesmas  relações de exploração. O que  as unifica é a luta contra o  sexismo, o patriarcado e a misoginia.  

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