II FORUM ADAPTA SERTÃO: TECNOLOGIAS SOCIAIS

Share Embed


Descrição do Produto

IMPORTANTE EVENTO NO MUNICÍPIO DE PINTADAS II FORUM ADAPTA SERTÃO: TECNOLOGIAS SOCIAIS DE ADAPTAÇÃO Á MUDANÇA CLIMATICA [Publicado na GAZETA DA CHAPADA, maio 2011]

Paolo Cugini Segunda feira 8 de abril no Auditório do Centro SICOOB do Município de Pintadas aconteceu o II° Fórum do projeto Adapta Sertão. Se trata de um projeto pioneiro no mundo, assim como salientou o professor Emilio La Rovere, da Universidade Federal de Rio de Janeiro, pois é no Município de Pintadas que á alguns anos um grupo de pesquisadores – entre eles Daniel Cesano e Thais Corral - junto com um pessoal local – Nereide Segala, Gerente Local do projeto e o técnico Florisvaldo Merces –, com um financiamento da Alemanha, estão experimentando uma serie de técnicas para que o homem do campo consiga produzir na catinga do sertão baiano. O nome do projeto já revela o objetivo: aprender a não fugir da seca do sertão, mas sim a conviver com ela, adaptando-se, estudando formas de convivência e, sobretudo, pesquisando a possibilidade de cultivar a terra durante os longos períodos da estiagem. O desafio é grande, pois todo ano milhares de homens, jovens e mulheres saem das cidades baianas em busca de trabalho e de condições melhores. Sabemos que para produzir fruta e verdura precisa de água: então como cultivar a terra nos períodos de seca? Segundo os pesquisadores do projeto Adapta Sertão se trata de realizar algumas mudanças de mentalidade e, sobretudo, de destroçar alguns mitos. O primeiro é que para cultivara

terra precise de muita água. Na realidade são suficientes poucas gotas de água para cultivar fruta e verdura em abundancia. Água que é possível encontrar nos açudes ou nos poços de água doce ou salobra. É este o primeiro importante passo: desenvolver a tecnologia da micro -irrigação. É isso que apreenderam, á alguns anos, Florisvaldo e um grupo de jovens; e é isso que estes jovens estão ensinando também a outras pessoas em outros municípios. Atualmente o projeto Adapta Sertão, além de Pintadas, está presente também em Baixa Grande e no Município de Quixabeira. Sendo que o projeto visa incentivar a produção local feita de pequenos agricultores o grande questionamento é este: como atingir a tecnologia que amiúde fica nas lojas das grandes cidades e, sobretudo, com que dinheiro? É a este nível que o pesquisador italiano Daniel Cesano indicou a segunda importante mudança de mentalidade do projeto. “Não se trata de ir nas grandes cidades em busca de tecnologia, mas de trazê-la ao alcance do pequeno agricultor. Para isso acontecer é necessário uma cooperativa local bem articulada que saiba oferecer o suporte necessário para o projeto desenvolver”. É na mesma cooperativa que o pequeno agricultor poderá encontrar a tecnologia necessária para desenvolver o seu trabalho. Talvez seja este o maior desafio do projeto: criar uma mentalidade cooperativista. Não é um caso que este projeto do Adapta Sertão foi experimentado com sucesso no Município de Pintadas, pois a realidade de Pintadas é única na Bahia. De fato, neste últimos vinte anos este Município passou através de um processo de democratização sem precedentes na região. A expressão mais evidente deste processo são as inúmeras associações e cooperativas que, a diferença de outros municípios, funcionam e trazem beneficio pelo mesmo Município, pois não são vinculadas e controladas pelo poder local. É este dato que o

professor Emilio La Rovere salientou ao longo do debate. “O grande desafio do Adapta Sertão, que tem na cooperativa local o próprio coração, será criar uma mentalidade cooperativista, mentalidade que brota somente num contexto democrático”. O terceiro eixo do Adapta Sertão é a disponibilidade de fundos para realização do projeto, sobretudo, para a sua extensão em grande escada. Neste sentido, o Adapta Sertão prevê a criação de um fundo rotativo local que viabilize empréstimos para a aquisição da tecnologia pelo produtor e que será pago através da comercialização dos seus produtores. Quando isso não é possível o projeto entra em parceria com o PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar- ou com outros parceiros. Último ponto chave pela realização do Adapta Sertão é a comercialização dos produtos.

Atualmente

é

a

CONAB

(Companhia

Nacional

de

Abastecimento) que sustenta a comercialização dos produtos do Adapta Sertão. Além disso “está sendo desenvolvido um Selo Climático de produtos resilientes a mudança do clima enquanto estão sendo engajadas redes de vendas regionais e nacionais”. O Dr. Egon do Ministério do Meio Ambiente, presente ao evento, além de frisar a importância de um projeto deste porte, indicou a possibilidade de estendê-lo a nível nacional. Perante algumas observações que tentaram mostrar o limite do projeto, sobretudo no acesso a uma tecnologia que não parece especifica do sertão baiano, Walcyr Rios, prefeito de Pintadas, retrucou mostrando a necessidade de ter nas mesas das prefeituras projetos viáveis e que, sobretudo, mostrem uma evidente alternativa ao problema do campo. “Nestes anos foliamos centenas de projetos – salientou o prefeito Walcyr, que por vários anos acompanhou a Pastoral dos Migrantes da diocese de Ruy Barbosa, seguindo de perto o sofrimentos de centenas de homens e

mulheres forçados a emigrar, sobretudo na região de são Paulo, em busca de trabalho – e se chega nas nossas mesas algo que está dando certo devemos fazer de tudo para apoiá-lo”. O mesmo pesquisador italiano Daniel Cesano mostrou, com abundancia de dados, como na realidade a tecnologia que está sendo aplicada no Adapta Sertão é fruto de um lento trabalho de escuta do homem do campo. A esperança agora é que o projeto Adapta Sertão se consolide ainda mais e possa oferecer para o homem do campo do sertão, uma alternativa viável para nunca mais ter a necessidade de emigrar em busca de condições de vida melhores. Um projeto social para dar certo precisa da contribuição de um bom numero de parceiros. Por isso o Adapta Sertão tem tudo para dar certo. Aliás, está já dando certo.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.