II SEMINÁRIO NACIONAL DE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS ANÁLISE DA PAISAGEM SONORA EM PRAÇA PÚBLICA DE BELÉM, PARÁ, AMAZÔNIA BRASILEIRA Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG

August 30, 2017 | Autor: A. Lobo Soares | Categoria: Amazonia, Soundscape
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II SEMINÁRIO NACIONAL DE DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS   

26, 27 e 28 de novembro de 2012 – Belém (PA)

   

ANÁLISE DA PAISAGEM SONORA EM PRAÇA PÚBLICA DE BELÉM, PARÁ, AMAZÔNIA BRASILEIRA Thamys Conceição Costa Coelho(a) Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)

Antonio Carlos Lobo Soares (b) Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)

José Luis Bento Coelho (c) Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal (CAPS) (a) [email protected]; (b) [email protected]; (c) [email protected]

RESUMO O som é um dos elementos mais importantes na composição da paisagem e, portanto, necessita ser avaliado frequentemente pelos usuários do ambiente onde se insere. Estudos sobre a paisagem sonora da Praça da República (PRE) no centro histórico de Belém, Pará, na Amazônia brasileira, vêm demonstrando que há uma relação direta entre o uso dos parques públicos e o ruído dentro e fora destes. Os 5ha de área da PRE são constituídos por coretos, lagos artificiais, fontes de água, dois teatros e um bar tradicional, cercados por árvores e gramados, formando um conjunto arquitetônico protegido pelo IPHAN. Para avaliar a sua paisagem sonora, medições do nível de pressão sonora equivalente (LAeq) foram realizadas, juntamente com entrevistas aos seus usuários. Aos domingos, em comparação aos demais dias de semana, a densidade de frequentadores da PRE é tal que eleva as leituras de LAeq a um nível superior àqueles recomendados pela norma de conforto ambiental NBR 10151. Contrariando estes resultados, as entrevistas aos usuários da PRE demonstraram que a percepção sonora destes é positiva. Este antagonismo é apresentado neste trabalho. Palavras-chave: Amazônia, Belém, Paisagem Sonora, Parques Públicos Urbanos.

ABSTRACT Sound is one of the most important elements in landscape composition, and thus it needs to be often evaluated by the users of the environment where it occurs. Studies on the soundscape of the public square known as Praça da República (PRE), in the historic downtown of Belém, State of Pará, Brazilian Amazonia, have shown a direct relationship between usage of public parks and the noise within and without. PRE encompasses a 13-acre area of gazebos, artificial ponds, water fountains, two theatres and a traditional café, lined by trees and lawns, in an architectural complex protected by the Brazilian Institute for the Historical and Artistic Heritage. To evaluate the soundscape, measurements of equivalent sound pressure level (LAeq) were taken in conjunction with user interviews. On Sundays, as compared to weekdays, visitation density in PRE is such that makes LAeq readings higher than the levels recommended by Brazilian guidelines for environmental well-being (NBR 10151). Contrary to those results, interviews revealed a positive perception of the soundscape by PRE users. The present paper examines this conflict. Keywords: Amazonia, Belém, Soundscape, Urban Public Parks.

INFORMAÇÕES CADASTRAIS Título: Anais do II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais Classificação: Nacional País de Publicação: Brasil Idioma de Publicação: Português Meio de Divulgação: Meio Digital ISSN: 2316-719X Natureza do trabalho publicado: Artigo Completo Ano de Publicação: 2012 Volume: I  

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26, 27 e 28 de novembro de 2012 – Belém (PA)

   

1. INTRODUÇÃO A Praça da República (PRE) é um importante espaço de lazer situado na cidade de Belém, Pará, norte do Brasil, inscrita no livro de tombo Histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1963, e igualmente protegida pelo Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (DPHAC) do Estado do Pará. O artigo 216 da constituição brasileira de 1988 dispõe que um bem cultural de um país é definido, entre outras coisas, pelas edificações e espaços de lazer destinados às manifestações artísticas e culturais (BRASIL, 1988). A PRE possui a mesma morfologia de quando foi criada no final do século XIX, quando a cidade de Belém então passava por diversas intervenções urbanas, a partir das riquezas geradas pela economia da exportação da borracha na Amazônia. Ela tem a configuração de um polígono de 5 ha, onde estão situados os teatros da Paz e Waldemar Henrique; o Núcleo de Artes da Universidade Federal do Pará; coretos, lagos artificiais, fontes de água e um bar tradicional; todos estes cercados por árvores e gramados em um desenho paisagístico característico do ecletismo clássico da época de sua implantação. Segundo o Plano Diretor de Belém, a PRE está situada no bairro da Campina, e faz fronteira com os bairros do Reduto, Nazaré e Batista Campos, estes últimos com característica de ocupação do solo predominantemente residencial. O bairro da Campina, por se tratar de uma área consolidada e com diversos exemplares arquitetônicos de relevância histórica para a cidade, compõe o Centro Histórico de Belém, na Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEIP) (BELÉM, 2008). Na Campina também estão localizados o centro de comércio e serviços da cidade, principalmente ao longo da AV. Presidente Vargas, no entorno imediato da PRE. Durante os dias de semana (segunda à sexta-feira), é grande o volume de pessoas e veículos em busca dos serviços disponíveis no entorno da PRE, submetendo este patrimônio ao principal componente da paisagem sonora urbana atual: o ruído proveniente do tráfego rodoviário. O conceito de paisagem sonora surge de um neologismo utilizado pelo músico canadense Murray Schafer na década de sessenta para designar a composição de todos os sons presentes em uma determinada área ou região, constituída pelo nível sonoro medido, a percepção do ambiente sonoro pelas pessoas, o levantamento de sons agradáveis e desagradáveis e, ainda, os fatores espaciais. Aos domingos, além dos vários atrativos da PRE, a instalação de uma tradicional feira de artesanato e produtos importados; a montagem de palcos com apresentações teatrais e musicais; e outras opções de lazer, atraem um número grande de frequentadores que fazem com que o ruído, que nos dias de semana vem de fora da PRE para dentro, passe a ser mais intenso em seu interior. INFORMAÇÕES CADASTRAIS Título: Anais do II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais Classificação: Nacional País de Publicação: Brasil Idioma de Publicação: Português Meio de Divulgação: Meio Digital ISSN: 2316-719X Natureza do trabalho publicado: Artigo Completo Ano de Publicação: 2012 Volume: I  

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Este estudo avalia a paisagem sonora da Praça da República, tomando como base parâmetros físicos (medições sonoras) e subjetivos (entrevistas aos usuários), nos dias de semana e aos domingos, com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade das atividades de lazer oferecidas nos Parques Públicos Urbanos de Belém.

2. MATERIAIS E MÉTODOS Para caracterizar o ambiente acústico da PRE, primeiramente foram realizadas visitas in situ nas quais se constatou diferenças de uso deste espaço público e de fontes sonoras nos dias de semana e aos domingos. Realizaram-se, posteriormente, avaliações sonoras no período diurno, medindo-se durante 5 minutos os níveis de pressão sonora (LAeq), em 10 pontos na PRE, identificados na Figura 1.

Figura 1: Imagem de satélite com posicionamento dos pontos de medição. Fonte: Google Maps, com edição dos autores.

Os critérios para o posicionamento desses pontos de medição foram: a) locais de aglomeração de usuários e b) distribuição espacial o mais homogênea possível. O aparelho utilizado foi o medidor de nível sonoro do fabricante Brüel e Kjaer, handheld analyser, modelo 2270, calibrado na ponderação “A” [dB(A)] segundo recomendação da NBR 10.151/2000. Para a área mista, com vocação comercial e administrativa em que a PRE esta inserida, os níveis de critério de avaliação (NCA), no período diurno, não devem ultrapassar 60 dB(A). Além da obtenção dos níveis de pressão sonora, compuseram a análise de parâmetros físicos as características dos elementos que compõem a PRE e o seu entorno como os tipos de veículos que transitam nas vias e a altura média dos prédios. A avaliação subjetiva da paisagem sonora da PRE foi realizada através da aplicação de questionários semiestruturados, compostos de perguntas abertas e fechadas a igual número de usuários dos sexos feminino e masculino, buscando identificar a relação entre estes e o espaço INFORMAÇÕES CADASTRAIS Título: Anais do II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais Classificação: Nacional País de Publicação: Brasil Idioma de Publicação: Português Meio de Divulgação: Meio Digital ISSN: 2316-719X Natureza do trabalho publicado: Artigo Completo Ano de Publicação: 2012 Volume: I  

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público, a frequência e o tempo de permanência no local, e como avaliavam a intensidade sonora e o grau de incômodo desta. Os parâmetros subjetivos correspondem a aspectos particulares, relacionados à percepção do ambiente sonoro urbano “natural” em co-ocorrência multisensorial (RAIMBAULT et al., 2003), ou seja, a avaliação que um ambiente sonoro depende do conforto de todos os sentidos e de como este está sendo utilizado no momento da entrevista pelo usuário.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Em pesquisa realizada entre os anos de 2011 e 2012 em quatro parques da cidade de Belém, Lobo Soares et al. (2012) constataram, através de medições de LAeq que todos os pontos de medição na PRE encontravam-se com valores em desacordo com aqueles estabelecidos por norma, como mostra a Tabela 1: Tabela 1: Síntese dos resultados de LAeq na PRE, por ponto de medição. Fonte: Lobo Soares et al. (2012) tradução dos autores. Ponto

NBR 10151

Resultados de LAeq Dias de semana

Domingos

1

60

66,5

64,8

2

60

68,6

73,9

3

60

60,8

72,4

PRE (e)

4

60

74,1

64,6

PRE (i)

5

60

64,8

67,8

PRE (i)

6

60

61,9

63,8

PRE (i)

7

60

61,5

65,4

PRE (e)

8

60

67,7

72,7

PRE (i)

9

60

62,3

64,9

PRE (i)

10

60

65,6

62,4

Parque PRE (e) PRE (e) PRE (i)

(i) Interior (e) Exterior

É possível observar que em sete pontos de medição, os níveis de LAeq sofreram acréscimo de até 19% entre os dias de semana e os domingos. Em pesquisa realizada por Lobo Soares et al. (2012) observou-se que existe uma diferença de até 12,6 dB(A) entre os pontos de medição localizados nas calçadas perimetrais à PRE e aqueles mais centrais. Os pontos que sofreram aumento nos níveis de LAeq aos domingos são interiores à PRE, ou seja, estão mais afastados das calçadas perimetrais e das vias de entorno. Isto ocorre devido ao posicionamento de diversas atividades que acontecem somente aos domingos, como shows musicais, vendas diversas, e o próprio aumento de pessoas no interior deste espaço em busca de lazer. A Figura 2 ilustra o posicionamento das principais fontes sonoras da PRE aos domingos: INFORMAÇÕES CADASTRAIS Título: Anais do II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais Classificação: Nacional País de Publicação: Brasil Idioma de Publicação: Português Meio de Divulgação: Meio Digital ISSN: 2316-719X Natureza do trabalho publicado: Artigo Completo Ano de Publicação: 2012 Volume: I  

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a) Carrinhos elétricos; b) Bicicleta com caixa de som amplificada acoplada; c) Barraca de venda de mídias com musicas latinas; d) Palco de evento social e shows musicais; e) Prédio em Construção; f) Conjunto musical; g) Manifestação social com caixas de som; h) Pregador religioso; * Tracejado vermelho: feira de artesanato e produtos importados; ** Poligonos azuis: teatros da Paz e Experimental e Escola da UFPA; 

Figura 2: Localização das principais fontes sonoras interiores à PRE, aos domingos. Fonte: Google Maps; sobreposição vetorial da CODEM (2012) e edição dos autores.

Segundo o Mapa Acústico de Belém (MORAES e LARA, 2004), no período diurno os níveis de LAeq na PRE variam entre 70 e 80 dB(A), enquanto que nas medições realizadas por Lobo Soares et al. (2012), os resultados não ultrapassaram 75 dB(A). Estes últimos resultados se devem, predominantemente, ao tráfego rodoviário e, durante os dias da semana, aos aparelhos sonoros das lojas de entorno e à presença de outros tipos de propaganda sonora alternativas, como caixas de som amplificadas afixadas em bicicletas e em automóveis. O tráfego rodoviário é o fator de maior contribuição para que os níveis de LAeq apresentemse altos na PRE. O posicionamento da PRE na malha urbana de Belém é decisivo ao volume de veículos que trafegam em seu entorno, pois faz fronteira com três bairros centrais de estrutura consolidada, alta densidade populacional, e que ofertam serviços de importância metropolitana. Um dos fatores que contribuem para que os sons produzidos no exterior da PRE sejam perceptíveis em toda a sua extensão é a ausência de barreiras físicas (como muros, topografia acidentada ou quantidade significativa de edificações no interior) que atenuem os sinais sonoros. O entorno da PRE é caracterizado pela verticalização e geminação das edificações, onde 39,06% dos imóveis possuem três ou mais pavimentos; 56,25% até dois pavimentos; e 4,68% não estão edificados (CODEM, 2012). Segundo Niemeyer (2010) as características acústicas de um determinado local são condicionadas pela relação entre as fontes sonoras e os fatores físicos INFORMAÇÕES CADASTRAIS Título: Anais do II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais Classificação: Nacional País de Publicação: Brasil Idioma de Publicação: Português Meio de Divulgação: Meio Digital ISSN: 2316-719X Natureza do trabalho publicado: Artigo Completo Ano de Publicação: 2012 Volume: I  

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inerentes à quadra (relação entre a largura da rua/ altura dos edifícios, continuidade e volumetria dos limites laterais, materiais de revestimento do piso e fachadas, topografia). Portanto, a ausência dos afastamentos laterais entre as edificações de entorno, além do característico uso de materiais rígidos nas fachadas, acentuam a reflexão da energia sonora e a percepção do ruído urbano (Figura 3).

  Figura 3: Retratos da verticalização no entorno da PRE. Fonte: Lobo Soares, 2011.

Apesar da significativa contribuição dos sons do tráfego rodoviário (compostos, principalmente, por motores e freios mecânicos desregulados, descargas e buzinas) nas medições físicas, também se destacaram o vento nas árvores e alguns sons da natureza remanescente em meio à intensa urbanização de entorno, como pequenos pássaros urbanos e periquitos (Brotogeris versicolurus). A Figura 4 ilustra outras fontes, advindas de propagandas, construção civil, atividades culturais e de lazer, que também contribuem para a paisagem sonora da PRE:

A

B

C

D

Figura 4: Fontes sonoras que compõe a paisagem da PRE: (a) trio elétrico e obra em construção; (b) Bicicleta com caixa de som amplificada; (c) grupo de capoeira em atividade; (d) carrinhos elétricos. Fonte: COELHO, T.C.C., 2012.

A pesquisa subjetiva revelou que 44,92% dos usuários da PRE vêm de bairros considerados distantes (mais de 10 km de distância), dos quais aproximadamente 35% são visitantes em busca de lazer e dos atributos naturais da PRE. Os usuários que exerciam alguma atividade comercial ou de manutenção na PRE (trabalhadores) frequentam-na com maior

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assiduidade que os visitantes, dos quais perto de 50% utilizam o seu espaço somente nos finais de semana, devido, principalmente, à problemas relacionados à segurança. Para os visitantes, os aspectos mais agradáveis da PRE estão relacionados aos fatores naturais e climáticos, tais como a presença da vegetação arbórea como atenuante da radiação solar e a ventilação. Para os trabalhadores, no entanto, é de maior relevância a massiva circulação de pessoas, que dinamiza as atividades comerciais. Portanto, é possível observar que a amostra entrevistada relaciona os aspectos agradáveis aos seus interesses neste espaço. Identificou-se que 70% dos usuários durante a semana e 69,3% aos domingos, respectivamente, avaliam a intensidade do som ambiente como baixa a normal. Quanto ao grau de desconforto dos níveis sonoros, 59,2% dos usuários durante a semana e 71,4% aos domingos afirmaram não se sentir incomodados pelos níveis sonoros do ambiente. Para 52% dos usuários durante a semana e 86% aos domingos, a qualidade do ambiente sonoro da PRE melhora quando se entra nela. Com relação a esta estatística, é importante observar que os níveis sonoros aos domingos sofreram aumento, pelos fatores já explicados anteriormente, porém a avaliação subjetiva da sua qualidade acústica não possui aparente coerência com os valores de LAeq mensurados. Yang e Kang (2004, p. 220) constataram em análise da correlação entre avaliação subjetiva e níveis sonoros medidos em quatorze espaços públicos em cinco países europeus que “[...] quando o nível de som é mais baixo do que um determinado valor, por exemplo, 70 dB(A), com o aumento Leq não há nenhuma mudança significativa na avaliação do conforto acústico [...]” (Tradução própria). Mais ainda, a boa avaliação do ambiente acústico da PRE aos domingos, quando os níveis de pressão sonora estão mais altos que nos dias de semana, ratifica a afirmação de que os usuários relacionam aspectos do ambiente acústico agradáveis, aos seus interesses na PRE.

4.

CONCLUSÕES Esta pesquisa mostrou que vários fatores contribuem à qualidade da paisagem sonora da

PRE. Em todos os pontos de medição os níveis de LAeq ultrapassaram aqueles normatizados pela NBR 10.151, para a área em que a PRE está localizada. Os locais que apresentaram os maiores níveis, nos dias de semana, são aqueles mais próximos das vias de entorno, mostrando que o tráfego rodoviário é o principal fator de elevação dos níveis de LAeq. Apesar desta constatação, a maioria dos usuários entrevistados na PRE avaliou a intensidade do som ambiente como baixa ou normal. A paisagem sonora da PRE é formada pelos sons do tráfego rodoviário; de propagandas sonoras produzidas pelas atividades comerciais de entorno; construção civil, atividades culturais e INFORMAÇÕES CADASTRAIS Título: Anais do II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais Classificação: Nacional País de Publicação: Brasil Idioma de Publicação: Português Meio de Divulgação: Meio Digital ISSN: 2316-719X Natureza do trabalho publicado: Artigo Completo Ano de Publicação: 2012 Volume: I  

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de lazer; vento nas árvores e canto de pássaros urbanos. A ausência de barreiras físicas contribui para que os sons se espalhem em toda a extensão da PRE, enquanto que a conformação das quadras de entorno é responsável pela percepção do ruído com maior intensidade, devido ao fenômeno físico da reflexão. As atividades de lazer, que acontecem com maior frequência aos domingos, são responsáveis pela acentuação da intensidade sonora no interior da PRE. Apesar disto, a boa avaliação e o baixo grau de incômodo dos usuários pela intensidade dos níveis sonoros do ambiente é verificada também aos domingos. Nos dias da semana, quando a maioria dos usuários entrevistados encontrava-se somente de passagem pela PRE, os sons do tráfego rodoviário, foram facilmente percebidos por meio de respostas negativas quanto ao incômodo sonoro. A análise subjetiva constatou, portanto, que quanto maior a relação entre o usuário e o espaço, mais bem avaliado este o é.

AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsa de Iniciação Científica, e ao Museu Paraense Emílio Goeldi pela infraestrutura de apoio a este estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR-10151: Acústica - Avaliação do ruído em área habitada, visando o conforto da comunidade. Procedimento. Rio de Janeiro. 2000. BELÉM. Lei n. 7.990, de 10 de janeiro de 2000. Dispõe sobre o controle e o combate à poluição

sonora

no

âmbito

do

Município

de

Belém.

Disponível

em:

. Acesso em: 14 dez. 2011. ______. Lei n. 8.655, de 30 de julho de 2008. Dispõe sobre o Plano Diretor do Município de Belém

e



outras

providências.

Disponível

em:

. Acesso em: 10 set. 2012. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil : texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas emendas Constitucionais nos 1/1992 a 68/2011, pelo Decreto legislativo nº 186/2008 e pelas emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/1994. – 35. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, edições Câmara, 2012.454 p. – (Série textos básicos ; n. 67). Disponível em: INFORMAÇÕES CADASTRAIS Título: Anais do II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico com o uso de Tecnologias Digitais Classificação: Nacional País de Publicação: Brasil Idioma de Publicação: Português Meio de Divulgação: Meio Digital ISSN: 2316-719X Natureza do trabalho publicado: Artigo Completo Ano de Publicação: 2012 Volume: I  

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. Acesso em 03 set. 2012. CODEM. Arquivos cedidos pela Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém. Belém: CODEM, 2012. IPHAN. Bens móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: 1938-2009 / [Org. Francisca Helena Barbosa Lima, Mônica Muniz Melhem e Zulmira Canário Pope]. 5. ed. rev. e atualiz. Rio de Janeiro: IPHAN/COPEDOC, 2009. Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1356> . Acesso em: 03/09/2012 LOBO SOARES, A.L. et al. Soundscape analysis of urban public parks in the Brazilian Amazon. In: 41st International Congress and Exposition on Noise Control Engineering, 2012, Nova Iorque. InterNoise, 2012 p.12_954 MORAES, Elcione; LARA, Neyla. Mapa acústico de Belém. Belém: Universidade da Amazônia, Relatório de Pesquisa, 2004. CD-ROM. NIEMEYER, Maria Lygia Alves de. Conforto acústico em ruas do Bairro de São Cristóvão. Rio de Janeiro/ Brasil. In: 4º Congresso para o Planejamento Urbano, Regional, Integrado e Sustentável, 2010, Faro/ Portugal. Actas do IV PLURIS, 2010. RAIMBAULT, M. et al. Ambient sound assessment of urban environments: field studies in two French cities. Applied Acoustics, v. 64, p. 1241–1256. 2003. YANG, W. KANG, J. Acoustic evaluation in urban open spaces. Applied Acoustics v.66, p. 211 – 229. 2005.

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