IMAGENS E REPRESENTAÇÕES DE PORTUGAL. ANTÓNIO FERRO E A ELABORAÇÃO IDENTITÁRIA DA NAÇÃO

June 6, 2017 | Autor: Carla Ribeiro | Categoria: Cultural History, Cultural Studies, Popular Culture, Contemporary History, Colonialism
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Carla Patrícia Silva Ribeiro

IMAGENS E REPRESENTAÇÕES DE PORTUGAL. ANTÓNIO FERRO E A ELABORAÇÃO IDENTITÁRIA DA NAÇÃO.

Tese apresentada para obtenção do Grau de Doutor em História

Orientadora: Professora Doutora Maria da Conceição Meireles Pereira

2014

AGRADECIMENTOS

Apesar de solitário, todo o processo de investigação académica resulta de um conjunto de interações, relações e, mesmo, amizades. Este pequeno texto é dedicado, pois, a todos aqueles que contribuíram para que este trabalho chegasse a bom termo e se tornasse uma realidade. Assim, e embora correndo o risco de cometer alguma injustiça por omissão, gostaria de destacar algumas pessoas a quem devo uma palavra especial de agradecimento: À Professora Doutora Maria da Conceição Meireles Pereira, orientadora desta tese, agradeço o apoio nesta jornada, pessoal e profissional: o tempo, a atenção, a cordialidade, a rapidez na resposta às minhas solicitações e a paciência que me dispensou foram inexcedíveis. Foi graças às suas sugestões e críticas e às conversas tidas ao longo de muitas reuniões de trabalho que esta investigação foi amadurecendo (e eu com ela). À Mafalda Ferro agradeço a disponibilidade, a simpatia, a abertura e o carinho demonstrados na visita ao novo espaço da Fundação António Quadros, em Rio Maior, bem como a generosidade das conversas que comigo teve sobre a sua família. Ainda na Fundação Quadros, uma palavra especial de agradecimento à Elisabete Araújo, inexcedível na gentileza e simpatia com que me ajudou, no processo de consulta ao espólio de António Ferro. Uma palavra igualmente para o Dr. Paulo Tremoceiro, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, sempre solícito e disponível para ajudar, bem como, em geral, a todos os funcionários da instituição, que recebem os visitantes sempre com uma palavra simpática e um gesto amável. A ressaltar ainda um conjunto de investigadores a quem pedi ajuda, num ou noutro momento deste percurso e que, sem me conhecerem pessoalmente, se mostraram disponíveis, alguns deles de uma forma muito generosa: Pedro Félix Rodrigues, Vera Matos, Regina Bendix, Stefano Cavazza e Orvar Lӧfgren. Um agradecimento especial a alguns colegas de trabalho, que me foram ouvindo, incentivando e ajudando, em especial: Amândio Barros, Rui Bessa e Inês Pinho. Finalmente, à minha família, em particular à minha irmã Paula, e ao Pedro, pela paciência de me ouvir falar incessantemente sobre esta investigação.

RESUMO

O século XX europeu nasceu sob o signo da insegurança, afastado das certezas e das promessas de progresso indefinido da centúria de Oitocentos, situação agravada com a I Guerra Mundial. O mundo pós 1918, dominado no plano económico pelas sequelas da crise de 1929 e da Grande Depressão, viria a ser o período de consolidação de ditaduras fascistas e nacionalistas um pouco por toda a Europa, uma época de marcados nacionalismos. Em Portugal, a política do Estado Novo, oficializado em 1933, no seguimento da ditadura militar instaurada em 1926, assumiu como missão restaurar a alma da pátria portuguesa e assegurar o prestígio da Nação, interna e externamente. Para tal, foi criado logo em 1933 um organismo responsável pela propaganda de Portugal, mas também do regime e do seu chefe, o Secretariado de Propaganda Nacional. A presente tese centra-se, assim, na ação deste organismo, dirigido por António Ferro entre 1933 e 1949, no respeitante à elaboração identitária de Portugal, isto é, a construção de um ideário que expressava a identidade da Nação portuguesa, naquilo que se propunha ser a sua autenticidade. Em termos gerais, analisa-se que imagem de Portugal foi construída neste período,

para que públicos, internos e externos, descortinando os meios/plataformas acionados e os elementos discursivos utilizados, situando-os dentro da Política do Espírito protagonizada por Ferro e pelo Secretariado Nacional de Propaganda, avaliando-se as motivações inerentes a este processo, pessoais e institucionais.

PALAVRAS-CHAVE

António Ferro Estado Novo Secretariado de Propaganda Nacional Propaganda Identidade Nacional Política do Espírito

ABSTRACT

The twentieth century was born, in Europe, under the sign of insecurity, away from the certainties and promises of indefinite progress of the nineteenth century, a situation hampered by the First World War. The world after 1918, dominated economically by the consequences of the 1929 crisis and the Great Depression, would be the period of consolidation of fascist and nationalist dictatorships all over Europe, an era of sturdy nationalisms. In Portugal, the New State, formalized in 1933, following the military dictatorship established in 1926, took over the mission to restore the soul of the Portuguese nation and to ensure the its prestige, both internally and externally. To this end, in 1933 was established an agency responsible for the propaganda of Portugal, the regime and its leader, the National Propaganda Bureau. This thesis focuses, therefore, on the action of the National Propaganda Bureau, directed by António Ferro between 1933 and 1949, regarding the construction of Portugal’s national identity. Thus, it is analysed what was Portugal’s image in this period, the target audiences, internal and external, unveiling the resources and discursive elements employed, placing them within Ferro’s Politics of the Spirit, and assessing the motivations inherent to this process, both personal and institutional.

KEYWORDS

António Ferro New State National Propaganda Bureau Propaganda National Identity Politics of the Spirit

ÍNDICE AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT ÍNDICE ÍNDICE DE ANEXOS INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 1 1. NACIONALISMO, TRADIÇÃO E ELABORAÇÕES IDENTITÁRIAS .................................... 13

1.1 Nacionalismo e identidade nacional ................................................................................... 14 1.2 A “essencialidade portuguesa”: discursos identitários de meados de Oitocentos ao Estado Novo.......................................................................................................................................... 24 2. O SECRETARIADO DE PROPAGANDA NACIONAL E ANTÓNIO FERRO ........................ 36

2.1 O SPN/SNI e o seu diretor .................................................................................................. 37 2.2 A Política do Espírito: a educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto” ..... 54 2.3 O controlo do campo cultural: SPN, FNAT e EN – competição ou colaboração? ............. 71 2.3.1 O Secretariado e a FNAT ............................................................................................ 71 2.3.2 António Ferro, o Secretariado, a Emissora Nacional e Henrique Galvão................... 81 3. REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS NACIONAIS: HISTÓRIA E IMPÉRIO ...................111

3.1 História e Império, as matrizes da Nação ......................................................................... 112 3.2 Exposições coloniais portuguesas e o estabelecimento de modelos de representação identitária – Porto (1934) e Lisboa (1937).............................................................................. 118 3.3 As Comemorações Centenárias de 1940, a Exposição do Mundo Português e a Secção Colonial ................................................................................................................................... 133 4. REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS NACIONAIS: O DEMÓTICO ...................................147

4.1 A etnografia como instrumento político: os casos da Itália, Alemanha, Espanha, URSS e França...................................................................................................................................... 148 4.2 O concurso “A Aldeia mais Portuguesa de Portugal” (1938) ........................................... 159 4.3 A Secção de Etnografia Metropolitana da Exposição do Mundo Português .................... 172 4.4 A metamorfose: da arte rústica à arte nacional ................................................................. 179 4.4.1 Os bailados Verde Gaio ............................................................................................ 181 4.4.2 As exposições temporárias do SPN .......................................................................... 194 4.4.3. O Museu de Arte Popular......................................................................................... 203 5. TURISMO – PROJEÇÃO DA VIDA NACIONAL ......................................................................216

5.1 A nacionalização do turismo............................................................................................. 217

5.2 A cultura popular urbana como fonte de atração turística ................................................ 224 5.2.1 As Festas da Cidade de Lisboa ................................................................................. 225 5.2.2 As marchas populares de Lisboa ............................................................................... 237 5.2.3 Os ranchos folclóricos ............................................................................................... 245 5.3 As pousadas do Secretariado: uma imagem pitoresca do país .......................................... 249 5.4 Os concursos de Ferro e a encenação da “fachada nacional” ........................................... 257 5.4.1 Os palcos da cidade: o concurso de montras ............................................................. 259 5.4.2 As estações floridas ................................................................................................... 270 5.4.3 A ornamentação florida das janelas .......................................................................... 273 5.4.4 Vestir o país: o concurso de tintas e flores................................................................ 278 5.4.5 A sinalização pitoresca das estradas ......................................................................... 280 5.5 A delegação do SNI no Porto ........................................................................................... 283 6. REPRESENTAÇÕES DE PORTUGAL NO ESTRANGEIRO ...................................................293

6.1 As exposições internacionais como metanarrativas das construções identitárias nacionais... ……………………………………………………………………………………………… 294 6.2 A participação de Portugal em exposições internacionais ................................................ 302 6.2.1 As fontes de inspiração: Sevilha e Barcelona (1929) ............................................... 303 6.2.2 As primeiras experiências: a quinzena portuguesa em Genebra (1935) ................... 308 6.2.3 As exposições de Paris (1937), Nova Iorque e S. Francisco (1939) ......................... 314 6.2.4 A polémica em torno do portuguesismo das representações nacionais .................... 344 7. IMAGENS DE PORTUGAL ENTRE ALIADOS: BRASIL, ESPANHA E GRÃ-BRETANHA ... ………………………………………………………………………………………………………… 352

7.1 Brasil – “Estados Unidos da Saudade” ............................................................................. 353 7.2 Espanha – Entre velhos receios e irredutíveis tradições ................................................... 375 7.3 Grã-Bretanha – A manutenção de uma antiga aliança ...................................................... 393 8. A ELABORAÇÃO IDENTITÁRIA DE FERRO: UMA FÓRMULA EM EXTINÇÃO ...........405

8.1 Ferro depois do Secretariado: os Centros Portugueses de Informações de Genebra e Roma……………………………………………………………………………………..… 406 8.2 O Secretariado depois de Ferro ......................................................................................... 421 8.2.1 As mudanças na política cultural e na missão do SNI .............................................. 422 8.2.2 Um novo modelo de elaboração identitária através das exposições internacionais .. 433 8.2.3 Uma nova conceção de turismo ................................................................................ 442 8.3 Ferro e os olhares dos seus contemporâneos .................................................................... 453 CONCLUSÃO ......................................................................................................................................464

FONTES E BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................482

Fontes Arquivísticas ............................................................................................................... 483 Fontes Legislativas ................................................................................................................. 483 Fontes Hemerográficas ........................................................................................................... 485 Fontes Impressas ..................................................................................................................... 486 Bibliografia ............................................................................................................................. 488 ANEXOS ...............................................................................................................................................533

ÍNDICE DE ANEXOS ANEXO 1 ………………………………………………………………………..………...…………... 534

Algumas causas, aparentes ou reais, da inquietação de certos portugueses no momento actual, António Ferro [1943] ANEXO 2 …………………………………………………………………………………………….... 549

Relatório de António Ferro sobre o Teatro do Povo, dirigido ao presidente do Conselho (10.12.1936) ANEXO 3 ………………………………………………………………………………….…. 557

Relatório de António Ferro sobre o Teatro do Povo, dirigido ao presidente do Conselho (31.12.1937) ANEXO 4 ………………………………………………………………………………….…. 562

Plano de Propaganda, Fernando Homem Cristo (19.4.1935) ANEXO 5 ………………………………………………………………………………….…. 574

Projecto de Reorganização para Integração do Novo Serviço Político no Quadro dos Restantes Serviços, Fernando Homem Cristo (8.4.1935) ANEXO 6 ………………………………………………………………………………….…. 582

Carta de Fernando Homem Cristo ao diretor do SPN (22.3.1935) ANEXO 7 ………………………………………………………………………………….…. 585

Carta de Fernando Homem Cristo ao presidente do Conselho (28.4.1935) ANEXO 8 ………………………………………………………………………………….…. 595

Relatório confidencial sobre os serviços e o funcionamento da Emissora Nacional, Fernando Homem Cristo (20.4.1935) ANEXO 9 …………………………………………………………………….………………. 605

Relatório de Henrique Galvão para o ministro das Obras Públicas e das Comunicações, (3.2.1935) [excertos]

ANEXO 10 ……………………………………………………………………………………. 621

Memória sobre Assistência Social, António Ferro (26.6.1934) ANEXO 11 ……………………………………………………………………………………. 630

Exposição de Arte Popular Portuguesa, Lisboa (1936) ANEXO 12 ……………………………………………………………………………………. 632

Carta de Eurico Sales Viana a Francisco Lage (6.3.1942) ANEXO 13 ……………………………………………………………………………………. 634

Carta de Francisco Lage a Maria Luísa Cerqueira (20.2.1945) ANEXO 14 ……………………………………………………………………………………. 637

Museu de Arte Popular, Lisboa (1948) ANEXO 15 ………………………………………………………………………………….… 639

Plano duma campanha de lusitanidade em toda a América, em especial no Brasil, António Ferro (março de 1942) ANEXO 16 ……………………………………………………………………………………. 670

Exposição de Montras, Lisboa (1933) ANEXO 17 ……………………………………………………………………………………. 671

Carta da União de Grémios de Lojistas de Lisboa ao diretor do SNI (17.12.1945) ANEXO 18 ……………………………………………………………………………………. 674

Carta de Manuel Rodrigues ao diretor do SNI (8.7.1948) ANEXO 19 ……………………………………………………………………………………. 677

Concurso de janelas floridas, Festas da Cidade de Lisboa (1953) ANEXO 20 ……………………………………………………………………………………. 679

Carta de Armindo Monteiro ao presidente do Conselho (9.6.1936) ANEXO 21 ……………………………………………………………………………………. 682

Carta de António Ferro ao comissário-geral da Exposição Internacional de Paris (8.7.1936) ANEXO 22 ……………………………………………………………………………………. 684

Sala de Arte Popular de Portugal na Exposição Internacional de Paris (1937)

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