Imaginando a evidência — Apontamentos para a revelação da música no pensar, no viver e no habitar de Raul Lino

May 28, 2017 | Autor: E. Ayres de Abreu | Categoria: Architecture, Ballet, Music and Architecture, Raul Lino, Sintra
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Descrição do Produto

COLÓAUIO

NACIONAL

RAT]L LII\O nlN Z I § rtl§ ACTAS

DO

II

UI

SII\TRA

§ 7/l§ Z I § 7/l§ Z I N Z I §

CICLO

DE CONFERENCIAS

25 e 26 de Junho

Casa dos Penedos 20 t4

Índice Carlos Duarte: «Nota de Abertura>)

Título coLoQUIO NACIONAL SOBRE RAI|r. t.rNo t:M gN'1RA II CrcLO DE CONFERENCIAS

ACTAS DO

Rodrigo Sobral «Preliminar»)

Autores

Gonçalo

AAW

7

lL

Cunha:

Byrne:

1-5

«Rau[ Lino na intimidade da paisagem)>

Coordenador Rodrigo Sobral Cunha

Zs Maria Helena Souto: Raul Lino» «Em torno do conceito de síntese das artes na obra de

Capa

f

Casa dos Penedos (fotografia de Marco

António Coelho)

Luís Cabral: «A vegetaçáo sintrense>»

Contracapa Casa do Marco ou Casa Branca (fotografia de Marco

Rosa Lapa

/

IADE

Fotografias do Colóquio Pedro Rodrigues

/

/IADE

Impressão

CASTELO DO AMOR

Tiragem: 75 exemplares @

António Coelho)

Bernardo d'Orey

51

Manoel:

69

«A Casa do Marco nas Azenhas do Mar»>

Design

Edição

35

oaquim Domingues:

«A estética existencial de Raul Lino»

Castelo do Amor

Serra de Sintra, Outubro de201,6 (2a ed.)

Especial apoio: A ADPS foi constituída em 10 de Abril de 1981 por escritura notarial e publicada no Diário da República,ne.L76,3a Série em 3 de Agosto de 1981, com a finalidade da: "Detecção, divulgação e valorização do Património Cultural do Concelho de Sintra e da protecção do meio ambiente do referido Concelho na diversidade que naturalmente o caracteriza". A ADPS foi galardoada com a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro - na Classe de Ambiente por "assinaláveis benefícios ao município'l

António Nunes

Pereira:

83

«O Romantismo revisitado: Raul Lino e o Palácio da Pena»>

Paulo Manta Pereira: «A Arquitectura de Raul Lino ou expressão da obra O caso do Cipreste e do Paço de Sintra»

total.

Renato Epifânio: "saber das árvores": entre Raul Lino e José Marinho»

103

LL7



\23

Maria do Céu Aguiar da Mota: «Música para Raul Lino - um arquitecto musical»

131

Diogo Lino Pimentel: «Apresentação à Casa dos Penedos>>

743

Inr;rgens do Colóquio

155

Apôndice

16L

ljtlward Ayres de Abreu

L63

Irnaginando a evidência Apontamentos para a revelação da música no pensaf,, no viver e no habitar de Raul Lino

Edward Luiz Ayres de Abreu * Imaginando a evidência Apontamentos para a revelação da música no pensa[ no viver e no habitar de Raul Lino Raul Lino (L879-L974), procurando trazer uma renovada portugalidade para a arquitectura nacional, viu a sua obra ser descrita como ideologicamente serôdia pelas mais jovens gerações, e o seu legado, assim ostracizado, permanece ainda hoje largamente desconhecido. Não obstante uma já considerável e acessível bibliografia básica em torno do autol é gritante a (quase) inexistência de estudos críticos abrangentes e aprofundados à luz da nossa contemporaneidade, como é gritante não podermos encontrar catálogos ou livros de arte equiparáveis às qualidades editorial, iconográfica, mesmo quanto mais de uma Phaidon até comercial, de uma Taschen -, meios de divulgação e de apreciação de que a sua vasta e multímoda obra seria justamente digna e merecedora. Neste pouco afortunado contexto, quis o acaso que eu recebesse o convite para apresenta4, a 10 de Maio de 20L5, no 50.q Festival de Música de Sintra, Quinta da Ribafria, uma palestra sobre a relação entre Raul Lino e a música, depois repetida a 3L de Outubro do mesmo ano na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, em Lisboa. Este texto é pois o resultado deste acaso e constitui-se como um breve e ligeiro contributo para o estudo da obra e pensamento do arquitecto, numa das suas dimensões mais porque especialmente íntima do pen' ignoradas e mais relevantes o da músÍca. Oxalá possam estes sar, viver e habitar de Raul Lino -: apontamentos servir para ajudar a desempoeirar o sótão de complexos totalitário-modernistas que em obscura e subterrânea galeria incrustaram a efígie alada que tão significativamente se acusava "livre como o cipreste"l.

*

Centro de Estudos de Sociologia e Estótit::t Mttsit':tl ((.l1SliM ) / Universidade Nova de Lishoa. Ir,

I

I. Música no pensar de Raul Lino A convite de Manuel lvo Cruz (1,90L-7985), então director do Con-

servatório Nacional, em Lisboa, Raul Lino preparou e apresentou uma conferência duplamente ilustrada (com projecções fotográficas e com exemplos musicais) nos dias 4 e 6 de Maio de L947. O texto, que se fez logo publicarz, afigura-se-nos como o mais desenvolvido testemunho directo do que o arquitecto pensava sobre a relação entre música e arquitectura. As considerações que toma revelam, por um lado, uma cultura musical muito para admirar no nosso contexto - salvo raras excepções, não se pode dizer que a elite intelectual lusitana seja neste âmbito minimamente informada, quanto mais musicalmente alfabetizada ou sequer literata por outro, desvelam uma -; conceptualização historiográfica muito própria do anos da sua juventude e, por sinal, significativamente germanófila, com os seus intrínsecos preconceitos teóricos e necessária divagação especulativa mas nem por isso fora de propósito ou definitivamente ultrapassada à luz da nossa contemporaneidade porque, verdade seja, a discussão de várias das ideias enunciadas continua hoje criticamente oportuna. Vale a pena passar seguidamente por algumas delas. A primeira consideração a propósito da relação música-arquitectura é a de que o seu estado evolutivo não é entre si paralelamente correspondente ao longo dos séculos. Para Lino, a música balbuciaria timidamente as suas primeiras notas, não passando de « melopeia uma dicção salmodeada >>, uma arte « homófona e primitiva >), quando já nos templos da antiguidade grega pairavam os ecos da poesia homérica, e nos teatros se representariam os maiores clássicos da tragédia, atingindo-se assim « a mais nobre estilização do Homem e observando-se no (( Pàrtenón a materialização artística perfeita e sublimada do espírito helénico ». A música levaria outrossim a dianteira com a decadência de Roma e o desenvolvimento do que viria posteriormente a ser conhecido como canto gregoriano: « obra que se possa comparar ao canto-chão [...], na sua serena majestade, no seu anelo que procura satisfação na Fé, só cerca de meio milénio mais tarde pôde surgir. Só a arquitectura da primeira fase do estilo românico, no XI século, é que se pode considerar digna e capaz de se fundir com a cantilena romana dos tempos gregorianos »). Prolongar-se-ia >>,

t64

este desencontro, ao revés, entre a « inquietação gótica, expressa no florescimento ardente das suas catedrais » e o ) de >, excerto de um poema de sadi de Xiraz (LZL0?-1292?), que o arquitecto terá achado em Walden; on Ltfe ín the Woods de Henry David Thoreau.

L78

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