Imaginar um outro “porquê”: as faces de Morgan le Fay

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O recurso a estes dois autores como baliza cronológica deve-se à longa e ainda existente tradição dos mesmos como autoridades predilectas deste universo arturiano.
Estas irmãs são muito provavelmente druidas ou sacerdotisas,
Insula Avallonis (Avalon) em Historia e Insula Pomorum (a Ilha das Maças) em Vita Merlini, numa clara alusão ao Jardim das Hespérides da mitologia clássica.
"Here [in the Isle of Apples] nine sisters rule by a pleasing set of laws those who come to them from our country. She who is first of them is more skilled in the healing art, and excels her sisters in the beauty of her person. Morgen is her name, and she has learned what useful properties all the herbs contain, so that she can cure sick bodies. She also knows an art by which to change her shape, and to cleave the air on new wings like Daedalus; when she wishes she is at Brest, Chartres, or Pavia, and when she will she slips down from the air onto your shores. And men say that she has taught mathematics to her sisters." in The Vita Merlini (Life of Merlin) by Geoffrey of Monmonth, p.18
Provas da natureza benigna de Morgen e da admiração e respeito que suscita nas restantes personagens surge no seguinte trecho, quando cura Artur depois da batalha de Camlan – "Thither after the battle of Camlan we took the wounded Arthur (…) With him steering the ship we arrived there with the prince, and Morgen received it with fitting honour, and in her chamber she placed the king on a golden bed and with her own hand she uncovered his honourable wound and gazed at it for a long time. At length she said that health could be restored to him if he stayed with her for a long time and made use of her healing art. Rejoicing, therefore, we entrusted the king to her (…)" - idem, ibidem.
Sobre a natureza dos Fey, veja-se Amber Wolfe, "Capitulo XVI – A Natureza dos Fey", Os Mistérios de Avalon, Planeta Editora, 2ª edição, 1996, pp.200-215; O papel das fadas na mitologia do território galês e inglês também pode ser encontrado em contos como "O rapaz que voltou do reino das fadas", "A recompensa das fadas" e "Guto Bach e as Fadas". Veja-se VARANDAS, Angélica, Mitos e Lendas Celtas do País de Gales. Livros e Livros, 2007
Veja-se Erec et Enide by Chrétien de Troyes, tradução de W. W. Comfort, p.37.
Brut (c.1180 – 1204) é baseado numa tradução francesa da obra de Geoffrey com o título Roman de Brut (c.1155), da autoria de Wace.
"Elf", elfo em português, é uma criatura que apesar de ainda deter conotações obscuras na cultura nórdica, germânica e celta, as três convergem na ideia de um ser de beleza sobrenatural, com capacidade para ajudar mas também para causar a destruição.
A sereia da Antiguidade Clássica atraia os homens para a perdição com o seu canto. No século XIII, primeiro no Liber Monstrorum (século VI/VII) e depois nos Bestiários (século XIII), a sereia leva os homens a pecar pelo corpo. O espelho que as acompanha em quase todas as iluminuras simboliza a luxúria, a vaidade e o desejo carnal. Morgan numa das histórias da Vulgata é descrita como sendo boa cantora, apetecível ao olhar, e a mulher mais lascívia de toda a Bretanha. Veja-se the Story of Merlin (Vulgate Merlin ou Prose Merlin), em LACY, J. Norris (ed), Lancelot-Grail: The Old French Arthurian Vulgate and Post-Vulgate in Translation (5 volumes) 1992-1996.
O não-cumprimento dos códigos dita a destituição do herói. Personagens como Gawain e Lancelot caíram em desgraça no Ciclo da Vulgata: o primeiro pelas suas origens galesas e associações a um passado viquingue, violento e bárbaro; o segundo pela consumação do acto sexual com Guinevere, e feito exemplo para aqueles que não cumpriam as normas do código social e do amor cortês. No caso de Gawain, a personagem chega ao ponto de ser descrita como um garanhão, um sanguinário e cobarde que mata maior parte dos seus companheiros da Távola Redonda, até quando estes estão feridos e não se podem bater num combate justo. Isto é visível no texto de Suite de Merlin da Pós-Vulgata.
Note-se que os Cistercienses eram uma das ordens monásticas mais poderosas deste século. Estavam associados aos Templários, que seguiam, tal como eles, a Regula Benedicti, (ordens de São Beneditino), renunciando aos pecados mundanos, ligados aos prazeres da carne. Era uma coisa perigosa para qualquer religião, olhar demasiado para o rosto de uma mulher. Era necessário evita-la a todo o custo, pois o homem perecera tantas vezes de tantas maneiras por sua culpa. Estas crenças não eram de todo favoráveis às personagens femininas arturianas e muito menos a uma cujas origens estavam tão enraizadas no mundo pagão. A beleza e a magia fizeram dela um demónio; os escritores não podiam tolerar uma mulher poderosa, apesar de benigna. Isto só daria credibilidade ao poder do feminino e do paganismo. Sobre a influência dos cistercienses nas lendas arturianas, veja-se a tese de Dax Donald Carver, "Goddess Dethroned: The Evolution of Morgan le Fay", Georgia State University, 2006. Disponível em «http://scholarworks.gsu.edu/rs_theses/1»
"Valley of No Return" ou "Valley of the False Lovers", isto é, o "Vale do não Regresso" ou o "Vale dos Falsos Amantes" numa tradução coloquial. – "it was named the Valley of No Return because no knight came back from it; and it was named the Valley of False Lovers because all knights stayed there if they had been unfaithful to their lovers in any way whatever, even in thought." – Veja-se Lancelot-Grail: Lancelot Part III, p.127-128

"I've hated [Sir Lancelot] mortally since I knew it, and I'll hate him as long as I live, for he couldn't cause me greater grief than by bringing shame on such a noble man as my brother and by loving his wife and lying with her." Veja-se The Post-Vulgate, Part II - Quest for the Holy Grail, p.177
"the knights about thy board but beardless bairns they be,/ An I were fitly armed, upon this steed so tall, / for lack of strength no man might match me in this hall!." (Sir Gawain and the Green Knight, XII, 11)
Sir Gawain and the Green Knight, Book 4, XIX, 81
Idem, ibidem.
Nesta vertente, Gawain é filho de Morgause e de Lot.
Ao insistir na descrição detalhada do "Green Knight" e do jogo da decapitação, na afirmação de que até os corações dos mais corajosos encheu de terror, e ao demonstrar Artur preocupado em confortar Guinevere, o poeta, indirectamente, consegue explicar mais pela implicação do medo. O leitor apercebe-se que o plano de Morgan foi bem-sucedido.
Relembremos títulos como Once and Future King de T.G.White, The Idylls of the King de Tennyson ou o filme Excalibur de John Boorman.
A bainha é um objecto tão simbólico quanto a espada. As inscrições, os tecidos, ou os materiais ricos de que eram feitas tornavam-nas ainda mais belas. A descrição da bainha de Excalibur é feita nesses moldes – " (…) the scabbard in the deepest of the water so it sank, for it was heavy of gold and precious stones." (vide cap. XIV de Le Morte d´Arthur) Uma era extensão da outra e vice-versa. Vestígios arqueológicos da era anglo-saxónica provam que as espadas eram enterradas juntamente com as respectivas bainhas o que sugere a sua importância. Se a arma simboliza a força física, a bainha podia muito bem simbolizar a força mística, à semelhança dos nomes das espadas; dar um nome significa dar vida. Uma vez que existem bainhas com inscrições, geralmente com o nome do senhor da espada ou frases que indicassem poder ou possessão, o mesmo raciocínio parece válido. Sobre este assunto, vide Hilda Davidson, the The Sword in Anglo-Saxon England, Woodbridge, The Boydell Press, 1962; A supremacia da bainha é evidente em Malory. Excalibur é entregue a Artur pela Dama do Lago, numa demonstração clara do feminino a delegar poder ao masculino, e este acto torna-se ainda mais notável pelo facto de o poder de Excalibur estar contido, não na lâmina, mas na bainha. Artur mostra-se insensível a esta questão e quando questionado por Merlin se prefere a espada ou a bainha, o rei escolhe a espada sem hesitar. Merlin diz a Artur que fez a escolha errada porque enquanto estiver na posse da bainha nenhuma arma o fará sangrar (Cap. XXV – 45). É legítimo afirmar que a bainha representa o feminino e a lâmina o masculino, uma vez que "scabbard" significa "vaginam" em latim. Artur preteriu um ao outro, por ignorância ou vaidade, e não reconheceu o equilíbrio necessário entre os dois elementos. Morgan, por sua vez, sabia perfeitamente do valor dos dois objectos e rouba ambos para entregar a Accolon.
Apesar de ser natural para a história da obra a vitória de Artur, é interessante referir que apesar de não possuir nenhuma das partes de Excalibur (a bainha e a lâmina), Artur reconhece que o poder que detém provém da Espada e, por sua vez, esta provém de um poder superior; é algo "emprestado", não um dado adquirido. É igualmente importante mencionar que é graças a uma personagem feminina (A Dama do Lago) que Accolon deixa cair Excalibur, permitindo a Artur vencer a batalha contra o amante da irmã. Novamente o lado feminino a surgir como elemento decisivo num mundo considerado masculino.
Em Merlin do Ciclo da Vulgata, Mordred é fruto de uma relação incestuosa entre a irmã mais velha de Artur, Morgause, e o rei. Na Suite Merlin da Pós – Vulgata, o autor é explicito ao informar o leitor que Artur cometera incesto com Morgause sem ter conhecimento do parentesco que os unia.
Em Mort Artu do Ciclo da Vulgata, ela recebe-o na orla da água, juntamente com um sem número de donzelas que aguardam num barco; em La Mort d´Arthur de Malory, chega com outras personagens: the Queen of Northgales, the Queen of the Wasteland e Nimue (Viviane ou Niniane noutros textos), a Dama do Lago. Enquanto as duas primeiras são consideradas rainhas "fae" e filhas da própria Morgan, com ligações específicas ao mundo aquático, Nimue é descendente de Diana, a deusa romana dos bosques. Na Vulgata e na Pós-Vulgata, é identificada com uma caçadora e o seu domínio é a floresta de Briosque, onde se encontra o Lago de Diana. Educou Lancelot após a morte do pai deste, iniciando-o no mundo do amor cortês e nos deveres de um verdadeiro cavaleiro. Nimue substitui Merlin como conselheira mágica de Artur e é responsável por desmascarar as conspirações de Morgan le Fay, salvando a vida ao rei e a outros cavaleiros em La Mort de Arthur. A presença de Nimue na barca pode indicar a igual morte do lado mágico de Artur, tal como uma demonstração de autoridade no espaço - a passagem para Avalon é feita através do lago e bosques que são os seus domínios.


O equivalente em galês medieval, Ygnis Afallach (da palavra galesa afall, "árvore da maça") pode estar relacionado com (se não derivar de) Emain Abhlach.
O Outro Mundo – Annwvyn ou Annwn – está presente em muitos textos contidos no Mabinogion, compilação de onze contos que se tornaram conhecidos na Europa do século XIX pela mão da sua tradutora, Lady Charlotte Guest. É algo de constante nos contos, essa transição entre o mundo natural e o sobrenatural. O último é palco da busca, do confronto, dos encontros e desencontros. É o mundo da iniciação e da sabedoria, o mundo da realidade mítica e simbólica, habitado por criaturas e objectos mágicos. Vide Angélica Varandas, Mitos e Lendas Celtas: País de Gales, Lisboa, Clássica Editora, p.31
Estamos a referir-nos ao poema "Preiddeu Annwfn" (The Spoils of Annwfn, os Despojos de Annwfn) que conta de uma expedição liderada por Artur ao Outro Mundo para encontrar um caldeirão com propriedades mágicas. O lume deste caldeirão, certamente um percussor do Santo graal, é "ateado pelo sopro de nove donzelas" (veja-se a tradução completa do poema em Angélica Varandas, ibidem, pp.325-326). No paganismo ocidental, era comum que cada membro de uma trindade sagrada também aparecesse sob três formas ou aspectos. Como número sagrado, três vezes três são nove. Ao longo dos séculos, tanto na religião celta como nas religiões pagãs ocidentais em geral, deuses e deusas apareciam em tríades. Três como número sagrado ainda hoje faz parte da religião cristã e hindu. Uma descrição semelhante de uma ilha mágica, governada por nove sacerdotisas com poderes para mudar de forma, tratar dos feridos e fazer outros encantamentos, está presente em de Chorographia, do hispânico Pomponius Mela (44 d.C). Veja-se Pomponius Mela, Description of the World, tradução de F.E.Romer, Book 3, Michigan, Michigan Press, 1998, p.115.
Sobre as formas linguísticas mencionadas, vide a entrada "Aβall" em Alan G.James, The Brittonic Language in the Old North A Guide to the Place-Name Evidence: volume 2 – Guide to the Elements, p.4
Para a história completa de "Culhwch e Olwen" veja-se o respectivo capítulo em Mitos e Lendas Celtas do País de Gales, p.115-144
Vide Angélica Varandas, "A Batalha de Moytura", Mitos e Lendas Celtas da Irlanda, Lisboa, Planeta editora, p.47-54
Uma figura sombria que lava as roupas manchadas de sangue dos guerreiros, presságio do fim próximo das suas vidas.
Este dado está contido nos Ciclo da Vulgata e da Pós-Vulgata e em Le Morte d´Arthur
A título de exemplo, veja-se o conto "O Sonho de Rhonabwy" (idem, Mitos e Lendas do País de Gales, pp. 145-160
A beleza de Morgan é exaltada nos textos pré-Vulgata. No Ciclo, a sua figura atraente passou a estar associada a uma sexualidade marcante e personalidade lasciva. Somente em Sir Gawain and the Green Knight é que vemos Morgan velha, criando um grande contraste com Lady Bertilak – "Yellow, the older dame, whereas the first was fair. / (...) wrinkles rough, in plenty, (…) / her chins o black (…) / Till naught of her was seen save the black bristly brow/ Her eyes, her nose, and eke her lips, were bare. / And those were ill to see, so bleared and sour they were." (Book 2, XVIII)
Da raiz "Vi-Vianna", surge "Co-Vianna" e, consequentemente, Coventina. A associação não é de descartar uma vez que esta deusa era venerada em áreas da Gália, da Bretanha e da Britânia, locais das lendas arturianas.
Destaque para o best-seller de The Mists of Avalon (As Brumas de Avalon) de Marion Zimmer Bradley de 1983, e a continuação The Avalon Series de Diana L.Paxton (1993-2009)
SAMSON, Fay, Herself, Cosmos Books, 2006, p.7

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

Seminário de Imaginário Medieval











Imaginar um outro "porquê": as faces de Morgan le Fay
Ana de Fátima Durão Correia


Mestrado em História
Área de Especialização de História do Género





2015


Índice

1 – Introdução………………………………………………………….......pp.3-4

2- As faces de Morgan le Fay………………………………………………pp.5-21

3- Conclusão…………………………………………………………….….pp.22-23

4- Bibliografia………………………………………………………….…..pp.24-25

5- Sitografia…………………………………………………………………p.26











Introdução
Já dizia Le Goff que "estudar o imaginário de uma sociedade é ir ao fundo da sua consciência e da sua evolução histórica. É ir à origem e à natureza profunda do homem". Adicione-se outro elemento à equação – o indivíduo. E quando tal é feito, muitos não conseguem evitar questionar se agora estão perante uma consciência ou consciências, imaginário ou imaginários. Mais ainda, atrevem-se a pensar que existem vários imaginários agregados, e mesmo esse imaginário uno aparenta ser, por sua vez, um de vários. Por exemplo, se perguntarmos ao homem moderno o que é o imaginário, quão frequente não nos deparamos com múltiplas abordagens – uns dizem que o imaginário é mitologia, outros falam do que beberam das suas andanças pelas leituras do fantástico, enquanto outros decorrem, entusiasmados, sobre as séries de televisão de temas apocalípticos ou futuristas. Isto são os imaginários da maioria dos indivíduos, muitos deles jovens ou na aurora da maturidade. E geralmente, estes imaginários são inflexíveis. São teorizações e concepções imagéticas pré-fabricadas, adoptadas e incorporadas como "únicas". Esta introdução pretende-se provocadora para chamar a atenção para as questões deste ensaio: existirá ainda espaço para a questão da imaginação num mundo onde o "porquê" ameaça perder-se? E poderão estas imagens que hoje habitam no mundo moderno implementar a "não-dúvida" e negar ao Imaginário a multiplicidade fascinante que o caracteriza? O Imaginário é algo constante na nossa vida. São imagens incorporadas no eu, imagens, essas, feitas sobre o mundo e sobre si, feitas por si, onde sobressai o poder do pensamento que molda e transporta para o interior do homem essas representações exteriores, de acordo com as preocupações, medos, crenças, e desejos do mesmo. O homem medieval recorria a um imaginário transcendente para ter, na sua vida, um objectivo e referências. Mas este imaginário era um? Não, antes vários, coordenados em um imaginário teórico, naturalmente incompleto e complexo, com mil anos na cronologia, no espaço e na mente. Porém, se tivermos que falar de algo que caracterize "o" imaginário medieval, é a subordinação a um desejo de pertença, de procura, de fé, de algo que não se vê apenas com os olhos do corpo mas com os olhos da alma. E apesar de o homem medieval lidar com a simbologia do imaginário em três níveis (a imediata, a mediata e a oculta), tanto as superstições como os milagres e as convicções religiosas andavam de mãos dadas. Tinham ambas direito à existência; eram ambas consideradas naturais. Questionamo-nos se o imaginário hoje não é antes pensado como algo visível e não como uma visão do Mundo para lá do visível. Nós vemos e pensamos que sabemos em vez de pensarmos sobre o que não vemos ou não sabemos. E o que nos dizem é-nos vendido e apreendido como verdadeiro. Os olhos da alma parecem cada vez mais silenciosos. Animais e personagens do imaginário colectivo parecem produto bruto do século XX e XXI e não recriações ou reapropriações de temas do passado muito por culpa dos próprios indivíduos que, ao contactarem com tais imagens, nelas vêm "um imaginário – uma verdade". Cada vez mais tendemos a aceitar criações do presente e esquecer que provieram da natureza profunda de um passado, que tiveram uma origem, uma evolução, que tal como o homem são produto do seu tempo, de espaços geográficos e de construções mentais específicas. Mas o propósito deste ensaio não é decorrer sobre os negativismos de uma mente que quer ver o que não sabe e saber sobre o que não vê. Propõe-se antes uma reflexão sobre esta ideia da existência de uma verdade absoluta (concepção que já não é tão recente assim) que parece ameaçar por a curiosidade de ir ad fontes para segundo plano e, consequentemente empobrecer um dos mecanismos do imaginário. Como objecto de estudo, recorre-se a uma das figuras que habita ad eternum o Imaginário colectivo: Morgan Le Fay ou Morgan, conhecida por outros como Morgaine ou Morgana. Á luz de uma escolha de natureza pessoal e, por isso, questionável, propõe-se tirar algumas elações do percurso de Morgan le Fay desde as origens da personagem até à imagem e características que possui actualmente, e que fazem dela uma das personagens mais cativantes mas também uma das mais menosprezadas da nossa memória colectiva.














As faces de Morgan le Fay

No universo das lendas do Rei Artur, a personagem de Morgan le Fay é das mais conhecidas. No entanto, é também mal interpretada, especialmente pelas audiências modernas. Quando a maioria pensa em Morgan le Fay, a imagem que surge é a de uma meia-irmã maligna, cujo único objectivo é destruir Camelot e matar Artur. Este estereótipo é corroborado pelas abordagens mais recentes à personagem. Por exemplo, tanto a Marvel Comics e a DC Comics tem-na apresentado como vilã: Morgan le Fay no universo Marvel e Morgaine le Fay no de DC. Tanto num como noutro ela é a arqui-inimiga, luta contra os heróis que a temem, apesar de serem, supostamente, mais poderosos do que ela. Recentemente, uma das últimas séries televisivas de sucesso da BBC, "Merlin" (2008-2012), Morgana é mais uma vez uma feiticeira maligna obcecada com a destruição de Camelot, apesar de ser uma vilã mais afável do que megalomaníaca. Para além destes, existem outros inúmeros exemplos modernos de Morgan le Fay como bruxa má. Contudo, esta caracterização maléfica não é, como se podia imaginar, baseada em factos literários. Pelo contrário, ocorreu gradualmente ao longo do tempo, com a personagem de Morgan a modificar-se nas páginas de cada autor, até ao ponto em que já dificilmente se assemelha ao seu "eu" original. A figura de Morgan desenvolve-se muito para além do estereótipo referido, revelando um lado positivo, mesmo compassivo, de uma natureza que atesta a sua possível e provável origem e ligação com divindades do mundo celta. No decurso da evolução das lendas arturianas, Morgan transitou para o lado negro. Como e quando esta transição ocorreu, e o porquê te ter ocorrido, pode ter a sua resposta no seio dos textos originais. A primeira referência surge em Vita Merlini (c.1151) de Geoffrey of Monmouth., onde Morgan cura Artur em Avalon; não há indicações de qualquer relação de parentesco entre eles. Porém, a sua agora típica imagem moderna é a de meia-irmã feiticeira destrutiva e megalómana. Mas as suas origens não demonstram qualquer traço de malignidade pelo que esta Morgan ter-se-á desenvolvido ao longo do tempo. Antes de proceder à exposição de outras facetas talvez menos conhecidas do comum leitor ou entusiasta destes temas, uma análise mais primária e popular do seu papel nos textos de Geoffrey a Thomas Malory pode ajudar a perceber esta transição.
Como mencionado anteriormente, o primeiro retrato de Morgan pela mão de Geoffrey of Monmouth é bastante aprazível. Em Vita Merlini, ela é apelidada de Morgen. É a mais poderosa de nove irmãs e uma das senhoras de um local a que o autor chama de Ilha das Maças ou A Ilha Afortunada. Sob o seu comando, a ilha d´Outro Mundo prospera e permanece fértil. Também em Historia Regum Britanniae (História dos Reis da Bretanha, c.1136) de Geoffrey, este é o local para onde os cavaleiros levam Artur para o rei curar as suas feridas. Não possui uma conotação negativa sendo, aliás, considerado um santuário com características mágicas. Lá reina a abundância e a prosperidade, o que aparentemente prolonga a esperança de vida dos seus habitantes. Se Morgen tem esta ligação com um sítio em tanto semelhante ao paraíso, então de onde provém a ideia da feiticeira ou bruxa má? Geoffrey não faz nenhuma asserção que indique uma ligação às artes negras. A descrição detalhada do quão fértil a terra é demostra que Morgen é uma líder competente. Para além do mais, o texto descreve-a como alguém prestável, partilhando os seus conhecimentos com as irmãs, em vez de os usar para os fins egoístas como a Morgan moderna. Ela é uma personagem adjuvante, conselheira e curadeira. Apesar de ter a capacidade de voar e de tomar qualquer forma, tais poderes não são temidos mas admirados. Por intermédio desta imagem textual, sugere-se que Morgen é uma mulher sábia, atenciosa e dedicada. Ela possui poderes mágicos mas usa-os para curar, ou seja, para o bem, não para o mal. A escolha de levar o rei Artur para Avalon depois da batalha de Camlan e entregá-lo aos cuidados de Morgen é testemunho do poder e status que possui. Para além do mais prova que a mesma é de confiança. E, de facto, esta não tenta atraiçoá-los, amaldiçoá-los ou atacá-los. A Morgen de Geoffrey quer genuinamente ajudar Artur, algo que se percebe pelo cuidado e carinho com que recebe o rei, e pela promessa de zelar pela total recuperação do mesmo. No entanto, e apesar de Geoffrey a pintar com uma aura definitivamente positiva, Morgen é uma personagem plenamente desenvolvida mas enigmática. A descrição completa resume-se a um parágrafo, mas o leitor fica a conhecer muito sobre ela. Geoffrey divulga o nome, a ocupação, o domínio onde vive e preside, até as suas dinâmicas familiares. E, contudo, o autor ainda deixa muito por revelar. Qual é a sua origem? Como é que Morgen se tornou soberana d´ Ilha Afortunada? Qual a fonte do seu poder mágico?
Não será até c.1170, no romance de Chrétien de Troyes Erec and Enide, que Morgen assume o nome de Morgan le Fay e o papel de irmã do Rei Artur. A origem do poder encontra-se agora no nome – "fay", "faie" ou "fey". Forma-se uma relação de "kinship" entre os dois. Ao tornar-se irmã do rei, a história literária alterou-se; o status social de Morgan distancia-se drasticamente do apresentado em Vita Merlini. Mas este estatuto não deixa de ser dual: ela movimenta-se no mundo dos homens mas a sua sabedoria e conhecimento das artes curativas apontam a priori para um contacto com um mundo mais espiritual e místico. É aos seus unguentos que o rei Artur recorre para curar Erec; em Yvain do mesmo autor, o poder de Morgan é dito como ilimitado, pudendo até curar Yvain da loucura. A tradição de Morgan como curandeira está agora plenamente desenvolvida e permanecerá parte integrante da sua personagem até ao tempo de Sir Thomas Malory (século XV). Outro facto é que o laço com Avalon não desaparece em Chrétien. O autor menciona, aquando da enumeração da lista de convidados para o casamento de Erec e Enide, que "Graislemier of Fine Posterne (…) had with him his brother Guigomar, lord of the isle of Avalon. Of the latter we have heard it said that he was a friend of Morgan the Fay." É preciso chamar a atenção para dois pontos importantes nesta frase. Em primeiro lugar é que Morgan ainda mantém um laço indirecto com Avalon na figura de Guigomar. Em segundo, o lugar de Morgan é ocupado por um elemento masculino mas a natureza da relação entre os dois, apesar de inconclusiva, ainda lhe permite reclamar essa ligação à terra. Impõe-se aqui uma outra leitura que será explorada mais pormenorizadamente adiante nesta análise. Será Guigomar senhor de Avalon porque assim o é de pleno direito ou porque a sua relação com Morgan determina tal status? Foi Guigomar que escolheu Avalon ou foi Avalon, na figura de Morgan, que o escolheu para seu senhor? Adicionalmente, escrito entre os séculos XII e XIII, o Brut de Layamon inclui uma personagem em muito idêntica a Morgan. Layamon terá retirado, ou de Wace ou de Geoffrey, a ideia da viagem de Artur para Avalon para curar as suas feridas e eventualmente regressar algures no futuro. Porém, o nome da sua rainha de Avalon – Argante - pode ser considerado uma contribuição sua. Embora a personagem não tenha qualquer relação de parentesco com Artur, outras semelhanças com Morgan permanecem evidentes. Argante, tal como Morgan, é referida como soberana da ilha de Avalon e cuida os ferimentos de Artur com os seus poderes. Por outro lado, é descrita como "the beautiful elf Queen", reforçando os seus laços com o mundo feérico e, consequentemente, com Morgan.
Morgan le Fay reaparece no Ciclo da Vulgata e no da Pós - Vulgata, uma compilação de textos dos séculos XII e XIII. Reunidos e adaptados por monges cistercienses franceses, o Ciclo da Vulgata (ou Prose Lancelot ou Ciclo Lancelot-Graal) centra-se na interligação de três temas: a demanda do Graal, a relação de Lancelot e Guinevere e a morte do rei Artur. O ciclo da Pós-Vulgata (ou Roman du Graal) é uma reinterpretação do primeiro, aparentemente escrita com o único propósito de adicionar a personagem de Tristão ao universo arturiano e interligá-la com o Graal. Nestes ciclos, Morgan ganha conotações negativas; a personagem torna-se uma feiticeira negra, sinistra, maligna e perversa, e arqui-inimiga de Artur mas também de Guinevere. Não lhe retiram o reconhecimento do seu intelecto mas é frequente certas alusões à sua voz e corpo, numa comparação semelhante à sereia do mundo grego e à dos bestiários medievais. Mas a transição para o lado negro não é completa até chegarmos a um ponto da Prose Merlin em que Morgan perde alguém que ama, Guiomar (uma clara referência ao Guigomar de Chrétien) por interferência de Guinevere. Se tivermos que indicar o momento em que Morgan se torna definitivamente antagonista talvez seja este. Ao descobrir a afinidade entre o sobrinho e Morgan, Guinevere destrói a relação, provocando em Morgan um ódio tal que a lança numa espiral de pensamentos negativos, mais tarde concretizados em vingança. Todo o antagonismo de Morgan depois deste ponto, especialmente dentro do Ciclo da Vulgata, pode-se reportar a este episódio. As suas acções, todavia, são provocadas pela dor da perda de alguém que lhe é próximo (Guiomar e, mais tarde, Lancelot), e são sempre vingativas, não apenas actos de violência esporádicos. No século XIII Morgan é claramente uma personagem dúbia: capaz de ódio e raiva, instigada pela vingança, mas também capaz de amar, e ainda aceite no (s) círculo (s) interno (s) da sociedade arturiana. Apesar de não ser apresentada como genuinamente má até ao Ciclo da Vulgata, o declínio de Morgan começou certamente nos trabalhos de Chrétien de Troyes. Em Geoffrey, ela é independente e poderosa, mas em Chrétien esse poder está interligado com um homem, seu irmão ou amante. Parece que o género feminino, na figura de Morgan, é subjugado ao masculino, representado por Guigomar. Em apenas duas aparições nas lendas arturianas, a sua personagem modifica-se e aparentemente cai nas redes da visão misógina do mundo medieval. Enquanto o carácter do herói (masculino) respeita as normas sociais, o anti-herói viola-os de alguma forma; para a mulher, geralmente significa poderes mágicos e um estatuo pleno de vilã. Os poderes de Morgan tornavam-na perfeita para esta categoria, uma vez que nenhuma personagem feminina podia ser superior a uma masculina sem usar qualquer tipo de força sobrenatural ou demoníaca. Por outro lado, a vilã feminina nunca era uma "maiden", uma virgem ou rapariga solteira, o que coincide com a caracterização de Morgan como uma mulher de apetite sexual voraz - o uso da magia, a confiança na sua identidade de género e o controlo da sua sexualidade separa-a das outras personagens femininas da literatura arturiana.
É importante explorar com alguns exemplos esta dualidade de Morgan. No Ciclo da Vulgata, após partir de Camelot, Morgan lança um encantamento num vale algures nos bosques da Bretanha para que nenhum cavaleiro, infiel à sua donzela, que por lá passe, saia. A descrição do local é repleta de contradições: se, por um lado, a narração menciona a impotência de muitos cavaleiros e a agonia e morte daqueles que tentaram escapar, outros não parecem preocupados com a sua condição de prisioneiros. O vale é descrito como um sítio agradável, com uma fonte; um local onde não há escassez de alimentos nem bebida, e onde se preza a prática de desportos, de jogos de xadrez, danças, música e cantorias. Tal quadro contrasta drasticamente com o dos cavaleiros que agonizam no seu cativeiro, ao contrário dos restantes que se divertem com as damas. O vale devia de ter uma conotação negativa mas os cavaleiros podem lá viver rodeados de conforto e não existe falta de divertimento. Morgan tudo providencia para viverem uma vida fácil, relaxada e confortável. Os seus conhecimentos permitem-lhe satisfazer os desejos e frustrações não – vocalizados de homens e mulheres que pelos códigos de cavalaria e de honra e normas sociais não podem consumá-los. Apesar de Morgan poder ser muito vingativa e as suas punições para os falsos amantes serem especialmente cruéis, esta não é de todo uma situação desaprazível. Aparentemente as acções de Morgan não lhe dão a priori uma aura maligna pelo que a misoginia dos autores medievais pode ser uma razão forte para tal caracterização. Neste episódio, Morgan cria um espaço protegido (por intermédio da magia) onde os apaixonados podem viver juntos e não temerem serem afastados ou pela guerra ou por terceiros. Isto parece estar directamente relacionado com o episódio entre Guiomar, Morgan e Guinevere mas também traduz uma preocupação de Morgan em castigar os amantes falsos, quase como se ela fosse o baluarte de outras mulheres das lendas, enganadas pelos homens, um traço certamente admirável na sociedade moderna e no meio feminista. Para se vingar de Guinevere, Morgan rapta várias vezes Lancelot. Por intermédio de artimanhas, feitiçaria e simples persuasão, Morgan tenta revelar a Artur o caso amoroso entre o cavaleiro e a rainha. Ao longo do Ciclo da Vulgata, não há outro cavaleiro que ela rapte mais do que Lancelot mas é tudo com o intuito de expor a relação ilícita de Guinevere. Em última instância, Morgan parece realmente zelar pela reputação do irmão e da sua corte.
Por volta do século XIV e XV, a figura de Morgan não é nem adversa nem favorável; pelo contrário, ela é vingativa, quer seja na maneira ardilosa como testa o seu sobrinho Gawain em Sir Gawain and the Green Knight quer pela maneira como tenta retirar o trono a Artur em Le Morte d´Arthur de Sir Thomas Malory. No poema anónimo Sir Gawain and the Green Knight, a malevolência da personagem que emergiu nos romances franceses está ainda presente no texto mas as suas intenções não são tão más. Aqui, Morgan é a instigadora dos problemas na corte do rei Artur. O seu plano, revelado por Bertilak, no papel de "the Green Knight", tem dois objectivos: assustar Guinevere e envergonhar Artur e a sua corte. Isto não significa necessariamente destrui-los, até porque o plano de Morgan acabará por contribuir para o aumento da glória de Gawain e para uma melhor reputação da corte de Artur. Sendo uma feiticeira, ela certamente sabia qual seria o desfecho do seu esquema. Mais, se o que a impulsionava era a animosidade, porque é que trata Gawain com tanta justiça, impondo-lhe os testes? Ela testa-o com uma justiça exemplar: se Gawain fosse desleal ao senhor do castelo, teria sido morto. As linhas de abertura do poema não revelam o esquema vingativo criado ou mesmo quem está por detrás dos eventos a ocorrer. Durante as festividades natalícias, um imponente "Green Knight" surge na corte de Artur e declara que quer defrontar um cavaleiro da Távola Redonda para o jogo de decapitação. Afirma imediatamente que nenhum homem ali presente o consegue defrontar, pois a sua força de espírito é fraca. Artur, indignado, decide aceitar o desafio mas após grande hesitação, e de brandir algumas vezes o machado, Gawain implora ao rei que o deixe tomar o seu lugar. Decapita o cavaleiro e a cabeça decepada diz – lhe para o procurar no prazo de um ano para ser então, ele, Gawain, decapitado. O cavaleiro de Artur inicia a sua busca pelo "the Green Knight" e acaba por encontrar o castelo de Sir Bertilak quando precisa desesperadamente de um sítio para descansar. É neste castelo que a sua coragem, piedade e honestidade vão ser testadas. Lá descobre que Bertilak é o "the Green Knight" graças a um encantamento de Morgan Le Fay. O senhor do castelo revela-lhe que é: "Bernlak de Hautdeset, (…) ´T is she, Morgain le Faye, who dwelleth in mine hall, (…) doth many a man beguile, (…)"; explica-lhe a origem dos poderes de Morgan - "Morgan le Faye (…) who knoweth many a craft, well versed in cunning wile, Mistress of Merlin erst (..) " - e acrescenta que estes poderes não podem ser equiparados – " Morgan, the goddess, she, so men that lady name, and none so proud shall be, but this pride she can tame." Depois de revelar os objectivos de Morgan, ainda acrescenta: "and she is e´en thine aunt, sister to Arthur true, born of Tintagel dame, whom later King Uther knew, and gat with her a son, Arthur, our noble king."
Aqui estão presentes várias tradições às quais o "Gawain-poet" aderiu. Sabemos pelas afirmações de Bertilak que Morgan é meia-irmã de Artur e, desta forma, tia de Gawain. Que Artur esteja ligado a Morgan por algum tipo de parentesco não nos surpreende porque em textos anteriores, como em Erec e Enide de Chrétien ou no Ciclos Vulgata, essa relação é quase sempre aludida de uma forma ou de outra. Para além do mais, o propósito de Morgan é testar a corte arturiana e o prestígio da mesma, fazê-los perceber que não podem viver à sombra de glórias passadas. O teste de decapitação pode muito bem ser um antídoto para a folia incontrolada dos cavaleiros andantes. Em terceiro lugar, o seu ódio por Guinevere faz com que o seu desejo de causar medo à rainha seja um dos objectivos de Morgan. Por último, o autor reconhece que Morgan tem poderes de cura (tal como em Vita Merlini e Yvain) e de transfiguração (Suite du Merlin). Quando Bertilak está disfarçado de "Green Knight" e Gawain decapita-o, os poderes de Morgan permitem a Bertilak recuperar convenientemente. A sua habilidade para mudar a forma de uma pessoa é óbvia quando Bertilak, " a knight (…) all green his weed" e " half giant upon the earth", se transforma no anfitrião educado, afável e mortal que acolhe Gawain no seu castelo.
Retomemos a relação entre Artur e Morgan para dar o mote para o último texto que nos interessa abordar. Há apenas um caso em que a aversão de Morgan parece ser direcionada directamente a Artur: a batalha entre Artur e Accolon. Este episódio é descrito em Le Morte d´Arthur de Sir Thomas Malory. Escrita entre 1469 e 1470, a obra recupera a personagem de Morgan desenvolvida na tradição francesa. Talvez o texto mais central e fonte inesgotável de inspiração arturiana para o cinema e para a literatura, a história de Malory pode muito bem ter sido várias histórias separadas e não um trabalho apenas. Como resultado, a representação geral de Morgan em Le Morte d´Arthur permanece inconsistente. Num momento desempenha o papel de feiticeira má, noutras circunstâncias ela usa os seus poderes de cura para o bem.
Morgan rouba Excalibur e a respectiva bainha e entrega-las ao amante Accolon. Convence o jovem a lutar contra outro cavaleiro cuja morte o colocaria no trono; Accolon não sabe que o cavaleiro em questão é Artur. Os dois lutam e o rei sai vitorioso. Depois de descobrir a traição da irmã, Artur jura, publicamente, vingar-se. É o incidente mais complicado entre os dois e o único em que se desafiam directamente. Este acto de traição é, antes, vários, se tivermos em conta não só a conspiração para matar o rei (que é igualmente irmão) mas também o roubo de duas relíquias régias e símbolos de justiça. Este acto contra alguém do seu próprio sangue e tal quebra do juramento de lealdade para com o monarca são dos piores crimes que se podiam cometer nos tempos medievais. Não nos esqueçamos igualmente de que é em Malory que encontramos o motif do incesto entre Artur e Morgan, tão popular nos tempos modernos. Morgan terá seduzido Artur e este, sem saber que era a própria irmã, deita-se com ela. Mordred é o fruto desta relação ilícita. Em Le Morte d´Arthur, Morgan é sempre referida como Morgan Le Fay, Morgan "a Fada", com o nome a identifica-la imediatamente com um mundo místico, da magia, do desconhecido. Adicionalmente, ela é mencionada como sendo Rainha. O título não inclui "Avalon" mas um leitor entendido nestes assuntos certamente aperceber-se-á qual a terra à qual preside. O significado de Avalon mantém-se inalterado – a ilha é mencionada como a morada de descanso eterno dos justos; um local transcendente onde reina a imortalidade e a paz, descrição e características muito semelhantes às do Paraíso, na perspectiva cristã. Quando Artur é ferido mortalmente na batalha de Camlan, Morgan chega numa pequena embarcação e leva-o para Avalon para cuidar das suas feridas. Há uma clara mudança no comportamento e atitude. A ternura com que Morgan recebe Artur, visível no colocar da cabeça do irmão no seu regaço, e as palavras de mágoa que lhe dirige ao ver que o seu tempo chegara ao fim, deixa o leitor na presença de um cenário em muito semelhante a: uma mãe que recebe o filho, dois irmãos que se reúnem, ou de uma deusa que recebe um dos seus escolhidos; é o retorno ao berço, ao regaço materno, ao útero primordial. É sempre a Morgan que é incumbida a tarefa de receber Artur e guiá-lo até Avalon, independente da relação conflituosa ou não que podem ter demonstrado ao longo dos textos.
Transformações claras e evidentes durante a Idade Média foram repercutidas para séculos posteriores e contribuíram para a forma como olhamos para Morgan na actualidade; meia-irmã de Artur, feiticeira, mulher rancorosa e vingativa, mãe de Mordred, e um dos instrumentos da queda de Camelot e da morte do rei – é esta a "verdadeira" Morgan no século em que vivemos. Mas regressemos agora à perplexidade inicial do nascimento de Morgan no panorama arturiano pela mão de Geoffrey of Monmouth. Como se explica então esta figura? Onde está a feiticeira cruel e ambiciosa tradicionalmente associada a Morgan? Quem é esta "Morgen" cuja descrição se assemelha à de uma rainha com poderes extraordinários? É humana ou sobrenatural? Qual é a sua relação com Artur: irmã, amante, ou alguém completamente diferente?
A personagem de Morgan é demasiado complexa para esta brevidade de ensaio, pelo que propomos em seguida somente umas pequenas incursões para uma possível explicação das suas características aparentemente paradoxais.
Entremos no imaginário que serviu de fonte às lendas arturianas: a mitologia celta. Modificações ocorreram enquanto uma religião, a cristã, quis destronar outra. O caldeirão da abundância tornou-se o Santo Graal; o direito da rainha (Guinevere) de ter quantos amantes desejasse foi substituído pelo pecado do adultério; Merlin passou de um vidente louco que vivia na imensidão dos bosques escoceses para ser o filho do diabo; a espada Excalibur passou de presente dos deuses pagãos ao herói, a símbolo do rei escolhido por Deus; por último, a Deusa-mãe dos Celtas transformou-se devagar e deliberadamente, numa feiticeira maligna, devota da destruição.
Relembremos o episódio de Vita Merlini. Geoffrey dá-nos uma breve mas clara referência das tradições celtas antigas sobre ilhas mágicas, mulheres "fae" e deusas celtas. A Ilha de Vita Merlini é reminiscência de um sem número de ilhas mágicas do mito celta, como a irlandesa Tir na nÓg (Terra ou Ilha da Juventude), Tir na mBan (Terra das Mulheres), Tir na mBeo (Terra dos Vivos) ou linguisticamente a mais óbvia, Emain Abhlach (Terra das Árvores de Maçãs ou somente Terra/ilha das Maçãs). Talvez esteja mais directamente relacionada com a terra galesa dos Mortos, Annwn/Annwvyn. É de facto no Annwn que encontramos umas das primeiras referências às nove sacerdotisas.
A ilha de Avallonis da Historiae tem associações com todas as variações linguísticas celtas de "apple" (maçã), correspondendo a "aball"em Old Irish, "afall" em Middle Welsh e a "avellen" em Middle Breton. Em galês, a ilha é conhecida como Ynis Afallach; Isle of apples em inglês (Ilha das maçãs). Afallach é a forma anglicizada de Avalloch, nome de outra personagem da mitologia galesa, um rei que vivia em Ynis Afallach na companhia das suas filhas. Outras lendas, transmitidas ao longo dos tempos pelas tradições orais bardas, contam-nos que Afallach teria nove filhas, todas experientes nas artes curativas, e a primeira entre elas era Modron, mãe do herói galês Mabon. Modron traduz-se simplesmente por "mãe" e identifica-se com a deusa Matrona, cujo nome significa "grande Mãe" e cujo culto se estendia desde a Gália até ao Vale do Reno. Tal como grande parte das divindades femininas do mundo celta, possuía forma tripla. Tal como elas, era uma divindade marinha, tendo atribuído o seu nome a alguns rios da Gália. Indícios fortes de que estamos perante uma Deusa-mãe e uma das fontes para Morgan le Fay encontram-se no Mabinogion. Na história de "Culhwch e Olwen" Artur salva Mabon, filho de Modron. O seu nome traduz-se literalmente por "Filho da Mãe". E remete-nos para a divindade celta Maponus, deus da juventude, cujo nome significa "Filho Divino" e que em Gales se assume como Mabon. Nas tríades Galesas (Trioedd Ynys Prydain), compiladas nos séculos XIII e XIV, Modron é mãe de Owain ab Urien. No folclore, Urien, pai de Owain, chega a um vau onde encontra uma mulher muito bela que se declara filha do rei Annwn e que se chamava Modron; da união nasce Owain e a filha Morfudd. Este episódio é muito semelhante ao do encontro entre os deuses O Dagda e A Morrígan, em A Batalha de Moytura, e a identificação da última com a lavandeira do Vau relaciona-la, portanto, com as águas a que preside. Assistimos mais uma vez à identificação entre Modron e a A Morrígan, bem como entre ambas e Morgan le Fay. O mais interessante é que Modron era, de facto, tida como a mãe de Owain na mitologia galesa e Morgan viria a tornar-se mulher do rei Urien de Rheged e mãe de Owain/Uwain/Yvain na Matéria da Bretanha. Owain é representado nos mitos galeses como tendo um bando de corvos ao seu comando, um presente da mãe. Ecos de histórias de mulheres pássaro podem ser encontrados nas lendas celtas. Os corvos encontram-se intimamente associados a Modron e a A Morrígan, bem como à Morgen de Geoffrey of Monmonth, que consegue voar com asas de pássaro e transforma-se em tudo o que deseja. Por outro lado, Morgan apresenta claras afinidades com a A Morrígan. Morgan é referida em Sir Gawain and the Green Knight como "Morgan, the Goddess", reforçando a sua ligação ao divino. Adicionalmente, "mor" significa "mar", fortalecendo a origem marinha de Modron, de A Morrígan e da própria Morgan. Morrígan deriva igualmente do gaélico "mor", e "rígan" ou" righan" significa "Rainha", o que é interessante se pensarmos que em Le Morte d´Arthur Morgan surge por vezes como "Queen Morgan le Fay". Outro dado significativo é que Morgan traduz-se por "mulher que veio do mar", o que reflecte a sua ligação com Avalon.
Tal como a deusa celta, Morgan domina a arte da transfiguração, ora surgindo como uma mulher jovem bela, ora uma velha disforme. Isto sugere que ela, tal como a A Morrígan, é uma deusa d´Outro Mundo, da terra dos mortos, comummente chamada de Submundo (Avalon). É uma divindade ligada à guerra, à morte, ao renascimento, ao destino, à justiça, mas também à vingança, à irracionalidade, ao mal e ao medo. Morgan deteve todos estes papéis nos textos discutidos até agora – ela executa vingança contra Guinevere em Prose Merlin por interferir no romance entre ela e Guiomar; instiga à irracionalidade em Accolon, que por amor tudo faz por ela, ao ponto de lutar contra Artur sem saber; ao mal, pelo seu carácter e personalidade descrita nos textos; ao destino, quando prevê o desenrolar dos acontecimentos em Sir Gawain and the Green Knight; à justiça, quando tenta desmascarar, para o bem do reino de Artur e reputação do mesmo, a relação entre Guinevere e Lancelot, ou até a conjuração do Vale dos Falsos Amantes; o medo, tão bem representado pelo "Green Knight", o instrumento dos desígnios de Morgan; por último, a morte e o renascimento, nas idas de Artur a Avalon para se regenerar, até ao momento em que lá permanece. A Morrígan faz parte de uma tríade de deusas da guerra, as Morrígna, juntamente com Macha e Badb. Macha, a Deusa égua, é geralmente a face-mãe, enquanto Badb sobrevoa o campo de batalha. A terceira face pertence a A Morrígan ou, por vezes, a Nemain, a Fúria, que inspira nos guerreiros o desejo de combater. Em Le Morte D´Arthur, das quatro rainhas que chegam na barcaça para receber o rei, três podem constituir a tríade celta referida. Tanto a "Queen of the Wastelands" como a "Queen of the Northgales" são filhas de Morgan le Fay pelo que nos parece legítimo afirmar que são extensões da própria Morgan, ou antes, duas outras faces da mesma pessoa, numa clara alusão a Macha, Badb e A Morrígan. Já Nimue ou Vivianne proverá da transmutação de cultos como os de Diana ou, muito provavelmente, do culto da deusa celta aquática Coventina. Tanto ela como Morgan estão assim ligadas à água. Tendo em conta que Morgan tomou o lugar de Nimue como pupila de Merlin, podem muito bem ser duas aparências da mesma personagem, incluindo-a no quadro da tríade sagrada. Por último, o título de "Le Fay" denúncia prima facie a sua vertente sobrenatural e divina.
Prossigamos com a análise de Morgan como Deusa-mãe. A Grande Mãe assegura a prosperidade e a felicidade dos homens. A "sua" ilha é naturalmente um "Outro Mundo", emergente do caos, do líquido primordial, que dá a vida mas também a retira. Nos mitos celtas, a Soberania é, antes de mais, um genius loci. A personificação da terra é feita por parte de uma divindade feminina que corporiza, ao mesmo tempo, esse conceito. Esta terra revela-se como uma Grande Deusa, ora em toda a sua beleza e majestade, como a paisagem primaveril, ou no seu aspecto de velha horripilante como a paisagem invernosa, num contínuo ciclo de regeneração. A deusa-mãe soberana é demandada pelo rei que com ela tem de estabelecer uma relação de intimidade. Aqui encontra-se igualmente incluído o motivo da regeneração, dos ciclos anuais. Apenas desse modo se pode manter a necessária harmonia entre a terra e o rei que assegura a fertilidade, o bem-estar e a prosperidade de ambos. Por vezes, a Soberania exige um campeão ou herói que por ela lute. Paralelos podem aqui ser estabelecidos entre Morgan e Artur ou outros cavaleiros como Gawain e Guigomar. Morgan corporiza a Ilha Afortunada, uma deusa da cura e da abundância. É da ilha que Artur recebe a espada Excalibur e é a ilha que o acolhe. A divindade preside ao nascimento de todas as coisas e, tal como a mulher, acolhe também no seu ventre tudo o que deixa de viver, presidindo igualmente à morte de todas as coisas. Artur é o campeão da Soberania ao ser-lhe entregue Excalibur, um objecto mágico delegado pela Deusa-mãe, que o identifica como protector do reino e lhe incute a missão de zelar pela justiça e pelo bem. Artur, apesar de falhar na sua missão, tem consciência do poder que lhe foi concedido, e entrega Excalibur ao seu mundo natural no fim da sua vida. A Deusa, isto é, Morgan, por sua vez, acolhe o herói que escolheu no seu regaço. A relação de intimidade entre Artur e Morgan (antes dela, Morgause), personificando o campeão da Soberania e a Deusa-mãe pode ainda estar na origem do nascimento de Mordred, outrora uma união ritual, depois demonizada ao longo dos séculos. Por outro lado, encontramos o motivo da regeneração no poema Sir Gawain and the Green Knight. O rei é ritualmente sacrificado para dar lugar a um monarca jovem e assim permitir a fertilidade da terra decorrente do ciclo das estações. Morgan é no poema uma figura silenciosa. A sua presença mantém-se escondida, mas por trás dos movimentos das restantes personagens, a vontade desta mulher é suprema pondo e dispondo, qual jogo de xadrez, as peças em movimento. Morgan le Fay assume aqui um dos rostos da deusa-mãe, o de mulher velha e feia, enquanto o outro rosto encontra-se presente em Lady Bertilak. Aqui, o campeão escolhido para fortalecer os laços de amizade e intimidade com o Annwn é Gawain. Quanto a Guigomar, o seu estatuto de Senhor de Avalon em Erec pode muito bem ser por transmissão de poder por intermédio da deusa-mãe, na figura de Morgan.























Conclusão

Resta-nos concluir estas deambulações com o seguinte. A demonização gradual de Morgan foi certamente bem-sucedida mas também contribuiu para tornar a personagem mais intrigante e fascinante. Afinal, existe um "porquê". Tudo tem um início ou vários inícios, outros caminhos para explorar. Apesar de ela ser certamente conhecida para as audiências modernas como vilã, é geralmente mal-interpretada por muitos. Em contrapartida, nos últimos 30 ou 40 anos, outras abordagens a Morgan le Fay, nomeadamente no campo do feminismo, tem vindo a apelar ao público por diferentes interpretações da personagem. Todavia, o caminho ainda é longo e Morgan ainda não deixou de ser apresentada como arqui-inimiga, mais concretamente uma feiticeira diabólica. E é compreensível até certo ponto. Sem dúvida que era a candidata perfeita, tendo sempre sido uma personagem referida como detentora de poderes mágicos, hábil na transfiguração, com o dom da profecia e de cura, ao contrário de Guinevere ou Morgause que, e apesar de não termos decorrido sobre esse assunto no ensaio, serão também outras manifestações da Deusa celta. Porém, nunca foram figuras tão directamente identificadas com o mundo místico ou sobrenatural. Depois dos romances de Chrétien de Troyes, a personagem de Morgan como uma mulher vingativa e má iniciou um percurso irreparável. Contudo, uma incursão ad fontes dará aos leitores a primeira face de Morgan. Examinada uma cronologia de contos e textos ligados ao imaginário celta, torna-se evidente que a personagem começou por ser uma força positiva, uma curandeira e líder, e foi depois demonizada e denegrida ao longo dos anos e das interpretações. Parece-nos visível que uma das principais razões (para não dizer a principal) foi de natureza misógina: autores medievais que viram numa personagem feminina tão poderosa um perigo. Porém, mesmo nas histórias dos séculos XIII ao XV em que Morgan é, aparentemente, vilã, ela atesta um lado positivo. As suas acções perdem a tal vilania característica quando nos apercebemos que todas as atitudes e planos que engendra parecem ter como objectivo último o bem-estar e prosperidade de Camelot, bem como da sua corte (Gawain, Accolon, Guiomar) e do seu soberano (Artur). Morgan está indubitavelmente ligada a divindades aquáticas femininas do mundo celta, nomeadamente a A Morrígan e Modron. Com o tempo, a Deusa transformou-se na fada, a fada em feiticeira, equiparável à feiticeira boa que se torna na bruxa má, da curandeira à personagem maléfica a que ainda é associada nos nossos dias. Contudo, acreditamos que no nosso imaginário Morgan permanece irmã, amante, vingadora, sedutora, conspiradora, curandeira e deusa. A sua personagem percorreu grandes distâncias e o resultado? O de uma figura que perdurou como uma das mulheres mais complexas e fascinantes da literatura e, recentemente, do grande ecrã. Morgan faz parte integrante do imaginário, e a mesma sabe disso:

"I am what I am.
I am eternal. I am the shape-shifter. I am Morgan the Fay.
The half-sister of the good King Arthur, and his arch-enemy, am I not?
The wicked witch, the embodiment of evil.
And yet…
Others call me Morgan the Goddess.
I am the Queen who takes Arthur in my arms for healing."



















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