Impacto do porta-volumes interno para ônibus urbano na qualidade do serviço de transporte público

June 12, 2017 | Autor: Heloisa Barbosa | Categoria: Transportes
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Impacto do porta-volumes interno para ônibus urbano na qualidade do serviço de transporte público Igor Augusto Alves Batista1, Heloisa Maria Barbosa2 e Flávio Henrique Coelho dos Santos3

Resumo: O artigo apresenta uma avaliação do impacto do porta-volumes interno na qualidade do transporte público. O acessório objetiva proporcionar mais conforto aos usuários e aumentar a capacidade do ônibus. Foi projetado para pessoas portando sacolas, mochilas, pastas, enquanto viajam em pé, e está instalado na parte traseira de um ônibus do sistema de transporte de Belo Horizonte. Os objetivos específicos deste artigo são o estudo de ocupação da linha, determinação da unidade de passageiro padrão e dos níveis de serviço para ônibus urbano para testar se a utilização do porta-volumes em horários de pico pode reduzir o desconforto dos passageiros e diminuir a sensação de superlotação do veículo. O estudo de ocupação determinou a área de projeção de um adulto portando diferentes tipos de bagagem e permitiu criar uma unidade de passageiro padrão que considera a influência da bagagem na área de circulação. Estabeleceu-se o nível de serviço, variando de A (melhor) até F (pior), conforme a ocupação do ônibus e o conforto do passageiro, considerando o número de assentos ocupados e a densidade de passageiros por metro quadrado. A adoção do porta-volumes gerou impacto positivo na qualidade do serviço, proporcionando mais conforto para os usuários. Assim, recomenda-se sua implantação na totalidade da frota. Caso não seja viável deve-se considerar operar veículos equipados nos horários de maior demanda, ou estudar o uso do portavolumes prioritariamente em rotas que atendam polos, tais como, escolas, supermercados e estações rodoviárias. DOI:10.4237/transportes.v21i1.618. Palavras-chave: porta-volumes interno, ônibus urbano, qualidade do transporte público, nível de serviço.

Abstract: The paper presents an evaluation of the impact of the internal luggage rack on the public transportation quality. The rack aims at offering more comfort to users and to increase bus capacity. It was designed for passengers carrying bags, backpack, and briefcases while riding standing up, and it is installed on the back part of a bus of Belo Horizonte transport system. Specific objectives of this paper are the bus occupancy study, determination of passenger pattern unity and the level of service for urban buses in order to test whether the use of the rack during peak hours can reduce passenger discomfort and decrease the sensation of vehicle overcrowding. The occupancy study determined the projection area of an adult carrying different types of luggage, and allowed the creation of a passenger pattern unity which takes into account the influence of luggage in the circulation area. Level of service was established varying from A (best) to F (worst), according to bus occupancy and passenger comfort, considering the number of seats taken and passengers density per square meter. The rack adoption generated a positive impact upon service quality, providing more comfort for users. Therefore, its use is recommended to the whole fleet. If not feasible one may consider the operation of equipped vehicles in peak hours, or to study the use of internal luggage rack mainly in bus routes that attend hubs, such as schools, supermarkets and bus stations. Keywords: internal luggage rack, urban bus, public transport quality, level of service.

1. INTRODUÇÃO Atualmente, o sistema de transporte público por ônibus nas cidades grandes e médias brasileiras opera nos horários de maior demanda com superlotação, causando falta de conforto para os usuários, principalmente para aqueles que se encontram em pé. O passageiro portando mochila, sacola, pasta ou bolsa, quando em pé, percebe desconforto não só para ele próprio ao sustentar um peso, mas também para os outros à sua volta, pois o volume carregado dificulta a movimentação de pessoas no corredor do veículo, além de ocupar área destinada aos passageiros. Para minimizar o problema e proporcionar mais conforto aos usuários foi desenvolvido para testes um porta-volumes 1

Igor Augusto Alves Batista, Departamento de Engenharia Mecânica, Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. (e-mail: [email protected]). 2 Heloisa Maria Barbosa, Núcleo de Transportes, Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia, Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. (e-mail: [email protected]). 3 Flávio Henrique Coelho dos Santos, Núcleo de Transportes, Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia, Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. (e-mail: [email protected]). Manuscrito recebido em 24/8/2012 e aprovado para publicação em 26/3/2013. Este artigo é parte de TRANSPORTES v. 21, n. 1, 2013. ISSN: 2237-1346 (online). DOI:10.4237/transportes.v21i1.618.

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interno para ônibus urbano posicionado sobre os bancos, sem modificar a configuração interna do veículo. O acessório está instalado na parte traseira de um ônibus urbano do sistema de transporte da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais (ver Figura 1), e poderá ser adotado em outros veículos. O veículo é do tipo Padron com três portas. O projeto, confecção e colocação do acessório bem como a caracterização do perfil do usuário da linha na qual o ônibus equipado com o acessório opera estão descritos em Baptista et al. (2010). O perfil do usuário da referida linha apontou 41,0% dos passageiros pagantes portando algum tipo de volume, e a grande maioria dos passageiros pagantes em pé, 71,9%, carregando algum pertence. A estratificação por tipo de volume apresentou 48,4% de mochilas, 20,0% de pastas, 17,5% de cadernos/fichários, e 14,1% de sacolas (Batista et al., 2010). O uso de mochilas é um fato importante para estudar a área ocupada por bagagens, que pode ser revertida para os passageiros com o uso de portavolumes. O objetivo deste trabalho é apresentar os procedimentos adotados na análise do impacto do porta-volumes na qualidade do serviço de transporte público por ônibus urbano e abordar, principalmente, o aspecto do conforto para o usuário. A metodologia adotada compreendeu o estudo de ocupação da linha, a determinação da unidade de passageiro padrão e dos Níveis de Serviço (NS) para ônibus urbano. O TRANSPORTES v. 21, n. 1 (2013) p. 14–22

Figura 1. Porta-volumes instalado no ônibus tipo Padron e em uso durante viagem

estudo de caso testou a seguinte hipótese: a utilização do porta-volumes em horários de pico pode reduzir o desconforto dos passageiros e amenizar, ou mesmo diminuir, a sensação de superlotação do veículo, ao retirar volumes e bagagens da área destinada à circulação de passageiros? 2. QUALIDADE DO SERVIÇO DE TRANSPORTE PÚBLICO Nível de serviço é uma medida geral de todas as características de serviço que afetam os usuários do transporte público (Vuchic, 2007). A qualidade do serviço de transporte público é um dos três grupos que compõe o NS, e pode ser definida como os elementos qualitativos, tais como, conveniência e simplicidade de usar o sistema, conforto durante a viagem, estética, limpeza e comportamento dos passageiros (Vuchic, 2007). O nível de serviço para o transporte de passageiros é baseado em duas medidas: fator de carga (passageiros por assento) e área de passageiros em pé, quando alguns passageiros devem ficar em pé ou quando o veículo é projetado para acomodar mais pessoas em pé que sentadas (TRB, 2003). Os limites dos níveis de serviço (de A a F) estabelecidos para a área de passageiros em pé e os respectivos comentários estão na Tabela 1. Ferraz e Torres (2004) identificam 12 indicadores de qualidade do transporte público por ônibus: acessibilidade, frequência de atendimento, tempo de viagem, lotação, confiabilidade, segurança, característica da frota e dos locais de

parada, sistema de informação, transbordo, comportamento dos operadores, e estado das vias. Para o fator “lotação” adotam como parâmetro de avaliação a taxa de passageiros em pé por metro quadrado que ocupam o espaço livre no interior dos veículos. Os valores da taxa definem o padrão de qualidade em três níveis (bom, regular e ruim). Conforme Vuchic (2005) a definição de capacidade usada para trens de alta capacidade e serviços de ônibus é expressa em assentos mais a área para viajar em pé, e o conforto do passageiro é computado em função da área livre por passageiro em pé. Em cidades de países desenvolvidos o padrão adotado está entre 4,0 e 5,0 passageiros em pé por metro quadrado. Veículos superlotados são comuns em cidades de países em desenvolvimento e o valor de 6,7 passageiros em pé por metro quadrado é mais usado (ver Tabela 1). Segundo a EBTU (1988) os seguintes aspectos definem o nível de conforto oferecido: condições de ocupação do veículo, possibilidade de viajar sentado, temperatura interna, condições de ventilação, ruído, aceleração/desaceleração, altura dos degraus, largura das portas e disposição e material dos assentos. A maioria dos aspectos depende do projeto do veículo. No entanto, a ocupação do veículo é o aspecto de conforto mais importante do ponto de vista do usuário. A densidade de ocupação de um veículo de transporte público é definida como a quantidade de passageiros transportados em pé em relação ao espaço útil

Tabela 1. Qualidade do serviço no transporte público – conforto do passageiro

Densidade (pass/m²)

Ferraz e Torres (2004) Densidade (pass/m²)

Excelente

Só sentados

Ótimo

EBTU (1988) Qualidade do serviço

TRB (2003) NS

Densidade (pass/m²)



A

5,0

E

2,1 a 5,0

Péssimo

> 6,0



F

> 5,0

TRANSPORTES v. 21, n. 1 (2013) p. 14–22

Vuchic (2005) Comentários Nenhum passageiro sentado ao lado de outro Passageiro escolhe onde sentar Todos podem sentar Lotação em pé confortável segundo projeto Lotação máxima programada Passageiros comprimidos

Densidade (pass/m²)

Condição de passageiros em pé

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