IMPACTOS CULTURAIS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ALDEIA SÃO FRANCISCO - BAÍA DA TRAIÇÃO - PB

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CCTA- CENTRO DE COMUNICAÇÃO TURISMO E ARTES DEPARTAMENTO DE TURISMO E HOTELARIA CURSO DE BACHARELADO EM TURISMO

FERNANDA DE LIMA CÂNDIDO

IMPACTOS CULTURAIS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ALDEIA SÃO FRANCISCO- BAÍA DA TRAIÇÃO - PB

JOÃO PESSOA 2016

FERNANDA DE LIMA CÂNDIDO

IMPACTOS CULTURAIS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ALDEIA SÃO FRANCISCO – BAÍA DA TRAIÇÃO – PB

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado à Coordenação do Curso de Turismo, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito final da obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientadora: Profª. Drª. Adriana Brambilla

JOÃO PESSOA - PB 2016

C217i

UFPB/BC

Cândido, Fernanda de Lima. Impactos culturais provocados pelo turismo na aldeia São Francisco - Baía da Traição-PB / Fernanda de Lima Cândido.João Pessoa, 2016. 69f. : il. Orientadora: Adriana Brambilla Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação) UFPB/CCTA 1. Turismo. 2. Impactos culturais. 3. Aldeia São Francisco Baía de Traição-PB.

CDU: 338.482(043.2)

FERNANDA DE LIMA CÂNDIDO

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado à coordenação de Turismo, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito final da obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

IMPACTOS CULTURAIS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ALDEIA SÃO FRANCISCO – BAÍA DA TRAIÇÃO – PB

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Prof. Adriana Brambilla Orientadora __________________________________________________ Profº. Elídio Vanzella Membro externo/ Estácio de Sá ___________________________________________________ Profª Sofia Araújo de Oliveira Membro da Banca

João Pessoa, 25 de Novembro 2016.

Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso aos meus pais e aos indígenas Potiguara.

“Anama potigûara auîeramanhe o-s-ekobé-ne O tuibaepagûama yby-pe, Gûi-xóbo memé; O-pytá-ne maramonhanga saynha popyatãbaba bé Tym-a oré pyá nhyã abé, Ambite oré poromonhangaba resé” “O povo potiguara sempre viverá Na terra dos seus antepassados, Mesmo partindo; Permanecerá a semente da luta e resistência Plantada em nossas mentes e corações, Para o futuro das nossas gerações” Autor: prof. Josafá Freire Potiguara-PB

AGRADECIMENTOS

Foi preciso muito esforço, foco, paciência, determinação e dedicação para chegar até aqui, mesmo sabendo que ainda não cheguei ao fim da estrada, e que há uma longa trajetória pela frente. Jamais chegaria aqui sozinha, minha eterna gratidão a todos que colaboraram para que este sonho pudesse ser concretizado. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus pela dádiva da vida, e a liberdade de escolha que nos possibilita construir uma história. Agradeço especialmente aos meus pais, Francisco Cândido e Maria Lima por todo amor, carinho e orgulho que sempre tiveram de mim, bem como todo apoio e força proporcionado por eles em toda minha caminhada, sempre fizeram tudo que puderam para me oferecer o melhor, agradeço cada incentivo e preocupação de que eu estivesse sempre no caminho certo, sem eles jamais teria conseguido chegar até aqui, e superado os desafios que encontrei nos quatro anos de jornada acadêmica. Amo vocês, tudo que sou hoje, devo a vocês. Agradeço a Sacha Luana que mesmo com minha ausência em casa nunca deixou de me amar e fazer a alegria da casa a cada vez que eu chegava, aos meus tios e primos, que acreditaram no meu potencial, ainda que a distância não deixaram de me motivar através de mensagens de carinho. E a minha segunda família da Espanha por toda compreensão e apoio, transmitindo sempre boas energias, acreditando na minha capacidade de vencer e ajudando no que fosse possível, em especial a Joaquin e Esther. Agradeço fundamentalmente aos indígenas Potiguara que são sinônimos de resistência e de luta, por todo carinho ao me receberem em seus territórios, agradeço especialmente ao cacique da Aldeia São Francisco, Alcides Alves, e a Pajé Fátima, por disponibilizarem parte do seu tempo para contribuir com as entrevistas, essenciais para desenvolver esse trabalho, a Adriana, Bruno, Isac e Tamara, (indígenas Potiguara) por terem influenciado na escolha da Aldeia a ser estudada, fazerem a ponte de contato com o cacique, e ajudarem nas visitas in loco. Jamais poderia deixar de dedicar os meus agradecimentos especiais a minha querida orientadora Professora Doutora Adriana Brambilla, sempre esteve presente até na pesquisa de campo, sempre me passando ótimas reflexões, com sua sabedoria indiscutível, logrando aperfeiçoar ainda mais os meus conhecimentos, que levarei para o resto de minha vida. Que com muita paciência e atenção, dedicou do seu tempo para me orientar nesse trabalho, além disso, tem me inspirado e motivado para que eu me torne uma profissional melhor a cada dia.

Cara, Professora Adriana, agradeço por todas as oportunidades que me proporcionou, pelo amor e carinho que possui ao transmitir o conhecimento, nas orientações e nas aulas. Neste curso aprendi muito mais do que ser uma Turismóloga, e você é uma das grandes responsáveis disso. Não tenho palavras que descrevam a minha eterna gratidão, quero expressar o meu reconhecimento e admiração pela sua competência profissional, obrigada por sua amizade, por ser uma profissional extremadamente qualificada, pela forma humana que conduziu minha orientação, pela sensibilidade e humildade que a diferencia como educadora e pela presença marcante em minha vida acadêmica e profissional, você é excepcional! Agradeço também ao professor Elídio Vanzella pelo incentivo, apoio e confiança. Agradeço a Universidade Federal da Paraíba, pela oportunidade de fazer o curso, ao corpo docente do curso de turismo que oportunizou a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, por me proporcionarem não apenas o conhecimento racional, mas a manifestação do caráter, não somente por terem me ensinado, mas por terem me feito aprender. Pelas trocas de conhecimento e experiências que contribuíram para meu novo olhar profissional, agradeço também a banca examinadora por aceitar o convite. Aos meus amigos, Will Melo, Alessandra, Hêmilie e Francinete, que estiveram sempre comigo desde o primeiro período, obrigada por todo companheirismo, responsabilidade nos trabalhos, cumplicidade, momentos felizes, lugares que tivemos a oportunidade de conhecer juntos, e que algumas vezes mesmo distante, estiveram presentes na minha vida, agradeço a cada um pelo apoio e motivação. Sentirei saudades do cotidiano em sala de aula, das visitas técnicas, dos momentos únicos que essas visitas me proporcionaram... Cecília Nóbrega e Eliane Freitas, esse momento eu compartilho com vocês com muita alegria, pois vocês participaram tão de perto de cada coisa que tenho vivido vocês fazem parte dessa vitória! Eliane que conheci antes das aulas terem iniciado, mesmo tomando caminhos diferentes, sempre se fez presente, obrigada pelo companheirismo, carinho, sorrisos e momentos de lazer que foram essenciais. Em especial a Cecília, pelo partilhar cotidiano, ajudando uma à outra com duvidas e preocupações com o TCC já que também está concluindo o curso. Obrigada pelo apoio que me deu nesse tempo que me acolheu na residência universitária. Sentirei saudades dessa época. Obrigada a todos que mesmo não estando citados aqui tanto colaboraram para a conclusão desse ciclo e para Fernanda Lima que sou hoje.

RESUMO

A atividade turística pode gerar impactos positivos e negativos nas localidades onde se desenvolve e esses impactos podem surtir diversos efeitos quer sejam econômicos, ambientais, culturais entre outros. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo geral analisar os impactos turísticos culturais na Aldeia de São Francisco na visão dos índios Potiguara. A Aldeia em estudo localiza-se no município de Baía da Traição, Estado da Paraíba. É uma região bastante visitada, principalmente pela presença de índios Potiguara. Para a realização do estudo, foram adotados como procedimentos a pesquisa bibliográfica, a entrevista, a aplicação de questionários e a observação in loco. Os resultados mostram que o turismo que se desenvolve na região é organizado pelos próprios habitantes e por isso, de forma geral, os entrevistados consideram que seus modos de vida não foram afetados pela presença dos visitantes. Na verdade, segundo os inquiridos, o turismo funciona como uma renda extra através da venda de artesanato e outros produtos locais e estimula a auto-estima local, uma vez que a maioria dos turistas buscam vivenciar a cultura indígena, através de um turismo de experiência. Mas, é fundamental que o setor público se faça presente no desenvolvimento do turismo na Aldeia São Francisco, para que possam orientar os indígenas no sentido de que conheça os impactos do turismo e não se guiem apenas pelos interesses econômicos. Desta forma, com o apoio governamental, os índios da Aldeia em estudo podem desenvolver o turismo, de forma a obter retorno financeiro, mas também assegurar que seus modos de vida e suas práticas culturais não sejam afetadas.

Palavras-chave: Impactos, Cultura, Turismo, Aldeia.

RESUMEN

La actividad turística puede generar impactos positivos y negativos en las localidades donde se desarrolla y esos impactos pueden provocar efectos económicos, ambientales, culturales entre otros. En este sentido, este trabajo tuvo como objetivo general analizar los impactos turísticos culturales en la Aldea São Francisco, en la visión de los indios Potiguara. La Aldea en estudio está ubicada en el municipio de Baía da Traição, provincia de Paraíba. Es una región bastante visitada, principalmente por la presencia de indios Potiguara. Para la realización del estudio, fueron utilizados como procedimientos la búsqueda bibliográfica, la entrevista, la aplicación de cuestionarios y la observación in loco. Los resultados muestran que el turismo que se desarrolla en la región está organizado por los moradores y por eso, de forma general, los entrevistados consideran que sus modos de vida no han sido afectados por la presencia de los visitantes. La verdad, según los encuestados, el turismo funciona como fuente de renta extra a través de la venta de artesanía y otros productos locales y estimula el autoestima local, ya que la mayoría de los turistas buscan vivir la cultura indígena, a través del turismo de experiencia. Pero es fundamental que el sector público se haga presente en el desarrollo del turismo en la Aldea São Francisco, para que puedan orientar los indígenas en el sentido de que conozcan los impactos del turismo y no se guíen solo por el interés económico. De esta forma, con el apoyo gubernamental, los indios de la Aldea en estudio pueden desarrollar el turismo, de manera que obtengan retorno financiero, pero también se asegure que sus modos de vida y prácticas culturales no sean afectados.

Palabras llaves: Impacto, Cultura, Turismo, Aldea.

1.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14

2.

OBJETIVOS .................................................................................................................... 15

2.1.

Geral .............................................................................................................................. 15

2.2.

Específicos ..................................................................................................................... 15

3.

METODOLOGIA ........................................................................................................... 16

4. TURISMO EM ALDEIAS INDÍGENAS E OS IMPACTOS NA CULTURA LOCAL .................................................................................................................................... 18 4.1.Turismo e cultura ................................................................................................................ 18 4.2. Impactos turísticos e a cultura local .................................................................................. 20 4.3. Turismo indígena ............................................................................................................... 22 4.4. Aldeia São Francisco e suas tradições indígena ................................................................ 26 5.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .................................................................... 30

5.1. Apresentação das entrevistas ............................................................................................. 30 5.1.1.

Entrevista com a pajé .......................................................................................... 30

5.1.2.

Entrevista com o cacique .................................................................................... 32

5.2. Questionários aplicados com membros da Aldeia São Francisco ..................................... 36 5.2.1.

Fonte de Renda ................................................................................................... 36

5.2.2.

Renda .................................................................................................................. 36

5.2.3.

Membros ............................................................................................................. 37

5.2.4.

Uso de serviço de assistência social ................................................................... 38

5.2.5.

Uso de programa social ...................................................................................... 38

5.2.6.

Uso da rede de saúde .......................................................................................... 39

5.2.7.

Documentos Pessoais ......................................................................................... 39

5.2.8.

Turismo............................................................................................................... 40

5.2.9.

Benefício turístico para a comunidade ............................................................... 40

5.2.10. Participação no turismo ...................................................................................... 40 5.2.11. Influência do turismo na mudança cultural ........................................................ 41 5.2.12. Turismo comunitário e sustentável. .................................................................... 41 5.2.13. Tempo que reside na Aldeia ............................................................................... 42 5.2.14. Atrativos da Aldeia ............................................................................................. 42 5.2.15. Almejam Visitação na Aldeia ............................................................................. 42 5.2.16. Diversão da comunidade .................................................................................... 42 5.3. Participação em eventos .................................................................................................... 42 5.4. Participação no toré .......................................................................................................... .45

5.5. Diário de Campo (com base nas visitas e observações) ................................................... .45 6.

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 48

7.

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 50 ANEXOS........................................................................................................................... 53

Anexo A: Localização de Baía da Traição .............................................................................. 54 Anexo B: Mapa das aldeias indígenas Potiguara .................................................................. 55 Anexo C: Obras de arte feitas pelo indígena Potiguara Severino (Sever) .............................. 56 APÊNDICE ...................................................................................................................... 57 Apêndice A: roteiro de entrevista com a pajé e o cacique........................................................ 58 Apêndice B: questionário aplicado com a comunidade indígena ............................................. 60 Apêndice C: Letras do Toré...................................................................................................... 62 Apêndice D: Pinturas Potiguara e seus significados ................................................................ 64 Apêndice E: Acessórios produzidos pelos indígenas Potiguara ............................................ 65 Apêndice F: Ocas .................................................................................................................... 67 Apêndice G: Entrevistas e aplicações de questionários na Aldeia São Francisco .................. 68 Apêndice H: Participação no Encontro Indígena .................................................................... 69 Apêndice I: Participação no dia das crianças .......................................................................... 70

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Furnas, Baía da Traição-PB, 2016. ........................................................................ 322 Figura 2: Terreiro Sagrado, Baía da Traição-PB, 2016. ......................................................... 322 Figura 3: Maracá ..................................................................................................................... 333 Figura 4: Bombo ..................................................................................................................... 344 Figura 5: Cocar feminino ........................................................................................................ 344 Figura 6: Cocar Masculino ..................................................................................................... 355 Figura 7: Fonte de Renda, Baía da Traição-PB, 2016. ........................................................... 366 Figura 8: Renda em nº de salários recebidos. ......................................................................... 366 Figura 9: Número de membros nas famílias indígenas. ......................................................... 377 Figura 10: Nº de pessoas com algum tipo de deficiência, por família. .................................. 377 Figura 11: Faz uso de assistência social. ................................................................................ 388 Figura 12: Faz uso de algum programa social. ....................................................................... 388 Figura 13: Utiliza a rede de saúde pública. ............................................................................ 399 Figura 14: Possui documentos pessoais.................................................................................. 399 Figura 15: Participação de atividades relacionadas ao turismo. ............................................... 40 Figura 16: A influência do turismo na cultura local. .............................................................. 411 Figura 17: Possui entendimento sobre turismo comunitário e sustentável. ............................ 411

1. INTRODUÇÃO A Aldeia São Francisco, localizada no litoral norte da Paraíba no município de Baía da Traição é composta por índios da etnia Potiguara, e possui um forte potencial turístico. Entre os povos indígenas brasileiros, os Potiguara são os únicos que permanecem no mesmo lugar desde a época da colonização. Essa característica de resistência tem reflexos na cultura desse povo e pode ser considerado um diferencial turístico. Mas, para que haja o desenvolvimento turístico sustentável, é preciso analisar a situação atual da comunidade, de forma que o turismo se constitua em uma forma de auxiliar no melhoramento social das famílias indígenas. O turismo é uma atividade que pode beneficiar a comunidade se for bem estruturado e planejado de forma que os moradores sejam envolvidos e tenham consciência dos pontos positivos e negativos dessa atividade. Para isso é preciso que haja uma disseminação da informação a respeito da atividade turística e dos impactos para a comunidade, bem como, a inserção dos indígenas nas decisões que envolvem o turismo na Aldeia. É importante ficar atento aos impactos que a atividade turística provoca, sejam eles positivos ou negativos, a fim de fortalecer os positivos e sanar os negativos por intermédio de meios viáveis. Por isso, o presente trabalho se volta para os impactos do turismo nos modos de vida dos índios da Aldeia São Francisco. O interesse em investigar esse tema surgiu mediante visita técnica em uma aldeia indígena durante o curso de turismo da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). Durante a visita pude manter contato com índios Potiguara, o que despertou a atenção para os impactos que o turismo pode provocar nas práticas culturais dessas localidades. Os impactos positivos podem ser melhores aproveitados pelos gestores através do incremento dos benefícios para a Aldeia, e os negativos podem ter seus efeitos evitados, minimizados ou revertidos. Diante desse contexto, a questão que norteia esse trabalho é: quais os impactos que o turismo pode acarretar na cultura da Aldeia São Francisco, sob o ponto de vista dos seus habitantes?

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2. OBJETIVOS 2.1. Geral Estudar os impactos turísticos, no que se refere à cultura, na Aldeia de São Francisco na visão dos índios Potiguara. 2.2. Específicos 

Discutir os impactos do turismo na cultura de uma localidade;



Contextualizar o turismo realizado na Aldeia de São Francisco em Baía da Traição;



Identificar os impactos culturais do turismo na visão dos índios Potiguara;



Apresentar sugestões e recomendações, se necessário.

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3. METODOLOGIA Para responder aos objetivos propostos, o presente trabalho foi desenvolvido através de pesquisas bibliográfica, entrevistas, aplicação de questionários e observação. A pesquisa bibliográfica consiste em um levantamento de materiais já produzidos relacionados ao tema, sejam eles artigos e/ou livros. Seguindo a recomendação de Dencker (1998), é importante que o pesquisador analise a forma de coleta dos dados a fim de evitar fontes não confiáveis, assim, confrontar essas fontes é uma forma de reduzir a chance de erros. Além disso, realizaram-se entrevistas com o cacique e a pajé, de forma a conhecer a opinião dos dois principais representantes da Aldeia São Francisco. De acordo com Denker “a entrevista pode ser a principal técnica empregada ou estar inclusa no processo de observação” (1998, p. 104), e são fundamentais quando se quer conhecer os valores e os modos como os entrevistados percebem sua realidade (DUARTE, 2004). Para isso é preciso que se tenha uma preparação através de um dialogo prévio com o entrevistado, para que seja explicado do que se trata a pesquisa, quais os objetivos a serem alcançados, deixando clara a importância de sua contribuição (LAKATOS, 2003). Antes da realização das entrevistas foram feitas algumas visitas de prospecção o que permitiu elaborar um roteiro para auxiliar na entrevista. Assim, as entrevistas foram face-aface, conduzidas pela pesquisadora e semi-estruturadas, pois o roteiro foi uma orientação fundamental para a realização da pesquisa de campo para que se chegasse preparada à entrevista, uma vez que as conversas pessoais poderiam interferir no andamento do trabalho, caso não houvesse um roteiro (BRAMBILLA, 2015). As entrevistas ocorreram no mês de agosto e os dias e horários foram acordados com os entrevistados durante essas visitas de prospecção. A presença na Aldeia São Francisco também possibilitou a observação in loco em um contexto natural e aberto, uma vez que o observador foi identificado. Dencker afirma que “fazer pesquisa é observar a realidade. Todos nós constantemente observamos para obter informações sobre o mundo. Muitos dados de que o pesquisador necessita, podem ser obtidos pela observação” (1998, p. 103). Por isso é essencial possuir sensibilidade e cautela ao analisar os comportamentos (Lakatos, 2003). Com o intuito de conhecer também a opinião dos habitantes da Aldeia, foram aplicados 10 questionários com os moradores. De forma geral, o questionário foi composto por questões referentes à fonte de renda, assistência social, turismo e sua relação com essa

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atividade. O questionário é um instrumento de coleta de dados que em uma sequência de perguntas (CAUHÉ, 1995). Esses instrumentos são bastante utilizados quando se deseja fazer um levantamento de opiniões de uma comunidade, por exemplo, sobre determinado tema (ROESCH, 1996). Por fim, durante toda elaboração do trabalho, além das visitas de prospecção à Aldeia São Francisco, participei de eventos ligados à temática, como o II Encontro de Estudantes Indígenas da Paraíba e o Dia das Crianças realizado na Aldeia São Francisco.

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4. TURISMO EM ALDEIAS INDÍGENAS E OS IMPACTOS NA CULTURA LOCAL 4.1 Turismo e cultura O turismo é a atividade que colabora para o desenvolvimento de uma localidade, como também colabora para a preservação das tradições, favorece a criação de empregos, movimentando a economia (OMT, 2001). A definição de turismo varia podendo abarcar o seu papel na comercialização da hospitalidade como agente gerador de emprego, como moderna atividade de lazer, entre outros (SANTANA, 2009). De forma geral, para Santana (2009), o turismo pode ser considerado uma atividade que compreende o movimento de pessoas por lugares distintos de sua residência, proporcionando o encontro do turista com o destino e seu conjunto. Cisne e Gastal destacam que “compreender a história do turismo, suas nuances e o contexto de desenvolvimento é importante para que se possa entender a situação atual do fenômeno” (2010, sp). Em épocas passadas, o turismo foi considerado um privilégio desfrutado apenas pelas famílias ricas, mas em 1841, Thomas Cook começou a organizar pacotes de viagens que incluíam transporte, hospedagem e entretenimento, dessa forma, com valores menores, o turismo se tornou mais acessível para outras classes sociais (DIAS, 2006). Na atualidade, o turismo tem se destacado como um dos setores econômicos que mais crescem, chegando a 1,6 bilhões de viagens internacionais até 2020 (OMT, 2003). É importante observar esta projeção em termos econômicos, uma vez que esse crescimento pode trazer profundas mudanças nas vidas das comunidades (BRAMBILLA, 2015). Por isso, a atividade turística deve assegurar a sustentabilidade de uma localidade através do comprometimento dos envolvidos (governo, trade e comunidade) em relação à aplicabilidade das normas estabelecidas no planejamento, porque se for desenvolvido de maneira desordenada poderá causar vários danos ao patrimônio e à comunidade envolvida (DIAS, 2006). A atividade turística estimula a conservação do patrimônio, através do incentivo de aprendizado de práticas culturais dos antepassados, desde artesanatos, comidas, bebidas e danças, essas manifestações se fortalecem e ganham vida porque existem turistas que buscam conhecer e interagir com os diferentes modos de vida (DIAS, 2006). A cultura, na maioria dos casos, constitui um trunfo importante para o desenvolvimento do turismo. Ela, em muitos casos, é considerada um fator determinante do crescimento do consumo de lazer e turismo e, por isso, turismo é cultura. A cultura ajuda a determinar o que o turista quer fazer, como resultado de

19 uma educação formal ou informal, os valores e os costumes culturais (MARUJO, 2014, p.2).

Turismo e cultura são temas que conduzem a uma reflexão, cujos agentes culturais são responsáveis pela execução dos fazeres e saberes culturais, estando presente na cultura o objeto de trabalho dos profissionais do turismo (GASTAL, 2000). A cultura pode ser definida como sendo todas as manifestações que venham compor o cotidiano de uma comunidade, sejam costumes, objetos criados, e tudo que envolva a vivência de uma sociedade. E é através desses bens culturais que o turismo se desenvolve. É importante ressaltar que se deve evitar a cultura criada para que o turista veja, pois esta não pode ser entendida como um espetáculo que se inicia quando os turistas chegam. A cultura é a vivência da comunidade e esse é o insumo para o turismo: quando os turistas chegam ao local de visitação são convidados a interagir com as práticas locais (GASTAL, 2000). A cultura é composta por elementos da construção de vida de uma sociedade, por seus fazeres e saberes, cada grupo vai possuir suas diferenças, no modo de falar, vestir, agir, elementos diferenciados na gastronomia, na arquitetura, e suas manifestações culturais, todos esses elementos são essenciais para construção da cultura (DIAS, 2006).

As relações entre turismo e cultura também podem ter um duplo sentido: Por um lado, existe o turismo como um ato cultural ou forma cultural, entendido como o investimento promocional da cultura. Por outro lado, o turismo cultural que permite ao homem o acesso às formas de expressão cultural proporcionando, deste modo, o encontro das culturas pré-existentes e estabelecendo relações com os valores adquiridos, promovendo e negociando o acesso a essa cultura e transformando-a num produto (MARUJO, 2014, p.4).

A cultura abrange diversas áreas, podendo ser estar ligada aos elementos materiais como construções e artefatos e aos imateriais como os saberes que são passados de geração a geração, sendo que cada lugar possui a sua particularidade que é justamente o modo de identificação de cada grupo cultural (DIAS, 2006). “Saliente-se que as identidades e diferenças culturais, transformadas em produtos de consumo, têm contribuído claramente para o desenvolvimento do turismo em muitas localidades” (MARUJO, 2014, p.5). “Os destinos turísticos de maior sucesso são aqueles que conseguem criar uma sinergia positiva entre cultura e turismo e, por isso, a exploração da cultura, enquanto atributo distintivo de cada lugar é, cada vez mais, estimulada pelos promotores do turismo” (MARUJO, 2014, p.5). Isto significa que o turismo ao respeitar a cultura encontra formas de valorizar a oferta turística.

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4.2. Impactos turísticos e a cultura local As localidades turísticas são impactadas em todos os aspectos, sejam sociais, ambientais, econômicos, políticos, culturais, entre outros, podendo ser esses impactos positivos ou negativos (DIAS, 2006). A avaliação dos impactos que o turismo pode provocar depende da forma como ele é desenvolvido, podendo influenciar na perda das características culturais locais, ou constituir uma forma de resgate e manutenção dessas características (BRAMBILLA, 2015). O grau de relevância dos tipos de impactos depende de como o planejamento foi feito, se houve a inserção da comunidade e como é sua relação com o turismo, a forma de exploração e aproveitamento dos atrativos, e o cuidado com o patrimônio ambiental, ressaltando que equivale tanto para impactos positivos quanto negativos (CUNHA; CUNHA, sd). Quando a comunidade é consciente dos benefícios que o turismo pode trazer e tem seus modos de vida respeitados, ela passa a enxergar essa atividade com outro olhar, reagindo de forma mais hospitaleira, isso facilita a interação de maneira positiva entre os visitantes e os receptores (EUSÉBIO; CARNEIRO, 2012). É importante observar que: a atividade turística constitui uma das principais fontes de desenvolvimento regional sustentável, com efeitos positivos sobre a geração de emprego, renda e qualidade de vida. No entanto o desenvolvimento sustentável requer ações para reduzir as pressões destrutivas sobre o ambiente, sobre a integridade cultural e a qualidade de vida da população local. (CUNHA; CUNHA, sd,sp).

De acordo com Dias (2005) entre os problemas mais comuns ocasionados pela influência do turismo em uma comunidade estão: as mudanças culturais, a prostituição, o aumento no consumo de drogas e na taxa de criminalidade, entre outros, que podem ocorrer sem necessariamente estarem ligados ao turismo. Segundo o autor (2005), a atividade turística pode beneficiar positivamente uma comunidade, através do fortalecimento do patrimônio local, além de desenvolver todo um conjunto de ações que facilitam a implantação de serviços turísticos e que irão beneficiar a população. A atividade turística é capaz de impulsionar o surgimento

de

melhorias

nos

serviços

de

infraestrutura,

como

também

novos

empreendimentos, o que aumenta as oportunidades de emprego em uma comunidade. O turismo: possui algumas características que o diferenciam de outras atividades produtivas: é um produto que só pode ser consumido in loco, estimula o desenvolvimento de outras atividades econômicas (entretenimento, comércio, transportes, meios de hospedagem, agências de viagens, artesanato, serviços de apoio); estimula o desenvolvimento da infra-estrutura (estradas, aeroportos, saneamento, energia etc.);

21 depende da sustentabilidade cultural e ambiental e tem forte efeito indutor na geração de renda e emprego local. (CUNHA; CUNHA, sd, sp ).

O fato de que os atrativos de um determinado local apenas possam de fato ser consumidos se deslocando até ele, é um ponto a favor do desenvolvimento da atividade turística, pois cada produto turístico possui sua particularidade, a história de cada elemento sempre será diferente. Mas, como advertem Eusébio e Carneiro (2012), quando se fala em turismo logo se pensa nos benefícios econômicos que ele proporciona, ficando em segundo plano, o reconhecimento de seu benefício relacionado à valorização e ao resgate cultural de um povo, que pode se fortalecer através dele. O turismo é capaz de desenvolver e beneficiar positivamente uma comunidade, porém, para isso, é necessário adotar políticas de incentivo de forma à desenvolver um trabalho sustentável, contribuindo para que a economia se mova de forma homogênea dentro da comunidade, e com isso se tenham possibilidades de melhorar a qualidade de vida. É possível destacar o aumento das oportunidades de emprego e movimentação da economia, bem como o incentivo à preservação e à conservação do patrimônio regional (SOUZA; FILHO, 2011). Uma outra questão sobre o impacto turístico é quando se busca oferecer uma atividade turística autêntica, através de uma comunidade vista como exótica, onde o principal atrativo é o modo de vida cotidiano. Mas, que por falta de um planejamento mais aprofundado, muitas vezes, a comunidade não é consultada, e essa ausência de participação e envolvimento da comunidade vai gerar desconforto da comunidade e possíveis conflitos, principalmente se não houver um retorno para comunidade (BRAMBILLA, 2015). O turismo impacta positivamente na preservação cultural de um povo quando implantado em conjunto com a comunidade, gerando benefícios econômicos e estruturais, que, muitas vezes, são melhorados justamente por conta da atividade turística, surgindo a necessidade de ampliação e melhoramento dos serviços, para melhor atender à comunidade e aos turistas. Antes de analisar os impactos turísticos, é necessário averiguar como a atividade se desenvolve (BRAMBILLA, 2015). A falta de estudos a respeito dos impactos turísticos é o principal motivo para que eles venham a surgir isso quando se trata dos negativos que poderiam ser evitados e sanados, e os positivos que poderiam ser impulsionados. A atividade turística proporciona o encontro entre culturas, permite o intercâmbio entre a comunidade receptora e os visitantes, esse processo

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pode ser bastante positivo, principalmente quando aproveitado de maneira consciente, a fim de descobrir algo novo, diferente, mas sem permitir que possa modificar suas principais vivências, nem se deixar entrar em conflito por conta do etnocentrismo (OLIVEIRA, 2005). 4.3 Turismo indígena É perceptível que a atividade turística a partir do momento que é desenvolvida em uma determinada localidade passa a gerar impactos, desde os econômicos até os socioculturais (MELO; JESUS, 2015). Na mentalidade de alguns gestores públicos brasileiros ainda se pensa que o turismo serve apenas para geração de empregos, arrecadação de dinheiro para os cofres públicos e pouco se interessam pelos impactos negativos que o turismo, em especial o de massa, provoca quando mal planejado (MAURO, 2007). “Até os anos 1960, os governos da maioria dos países consagrados como destinos turísticos percebia com euforia os resultados econômicos positivos do turismo de massa e deixava de se atentar ou não se importava muito com os impactos negativos gerados” (MAURO, 2007, p. 16). Neste caso, a ganância pelos lucros econômicos sobrepunha qualquer preocupação com as questões sociais e ambientais. “Apesar dos números expressivos, é importante ressaltar que os benefícios econômicos provenientes da atividade turística nem sempre são suficientes para proporcionar às comunidades receptoras melhorias na sua condição de vida” (FORTUNATO; SILVA, 2011, p. 90). Dentre os impactos gerados pela ação de um turismo de massa mal planejado e desordenado, pode-se destacar a poluição sonora, a contaminação dos cursos d’água,o esgotamento de recursos naturais (principalmente água potável, o desmatamento em função da construção da infra-estrutura turística, a concentração de renda, a exclusão sócio-espacial, o aumento do custo de vida para a população local, o desrespeito com a cultura tradicional das comunidades receptoras, a depredação do patrimônio material e o processo de ocupação desordenada de áreas urbanas (favelização) (MAURO, 2007, p.17).

A conscientização das pessoas em relação aos problemas sociais e ambientais fez com que surgisse uma demanda diferenciada, na qual os valores que buscam são contrários ao turismo massivo, pois esse novo grupo de turistas procura uma maior interação com as comunidades, buscam vivenciar a autenticidade de seu dia a dia, de suas manifestações culturais, como também a tranquilidade que a natureza proporciona (GRUNEWALD, 2003). No caso do turismo indígena, a preocupação com os impactos na cultura local é primordial para que a promoção da atividade turística nesses territórios seja uma forma de fortalecer e de resgatar as práticas culturais dos antepassados e proporcionar melhorias de

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vida

na

comunidade,

principalmente

quando

os

próprios

indígenas

anseiam

o

desenvolvimento do turismo. Para Faria, “o turismo indígena, como o nome sugere, é o turismo realizado em terras indígenas ou na cidade com base na identidade cultural e na gestão do grupo/etnia indígena envolvida” (2005, p.73). Neste mesmo sentido, mas de forma mais abrangente, Gonzáles conceitua o turismo indígena como: a atividade onde as comunidades e povos indígenas oferecem ao visitante a oportunidade de compartilhar suas tradições, usos e costumes, o que permite valorizar e preservar seus elementos culturais, além do reconhecimento de sua identidade, em interação cotidiana com seu meio ambiente de maneira sustentável. Ao mesmo tempo se proporciona um desenvolvimento integral comunitário consciente, responsável e solidário (2008, p.113).

Melo e Jesus (2015) recomendam que as conceituações de turismo indígena devam estar diretamente relacionadas às práticas culturais dos índios que foram sendo passadas de geração em geração, por isso, o turismo em aldeias indígenas está ligado diretamente ao turismo cultural e ao turismo étnico. O turismo étnico é um segmento do turismo cultural que tem o papel de resgatar a cultura dos indígenas, quilombolas, africanos, entre outros povos, objetivando desenvolver esses grupos que se encontram à margem de projetos capitalistas (ARAGÃO, 2015). Segundo o autor, “o turismo étnico é uma variante do turismo cultural, pois os elementos de ambos se imbricam tanto nos formatos dos atrativos e roteiros, como na produção de bens, serviços, símbolos de atração na hospitalidade” (2015, p. 200). Na prática do turismo étnico, a comunidade autóctone não está presente apenas para prestar serviços aos visitantes, porque ele é a própria atração (FARIA, 2005). O turismo étnico é desenvolvido a partir do enaltecimento da cultura de povos que foram subtraídos ao longo do processo histórico. Africanos, indígenas, polinésios, esquimós, estão quase sempre no foco do turismo étnico, viabilizando meios de inserir essas comunidades dentro da economia global pelo resgate das tradições culturais (ARAGÃO, 2015, p.197).

De acordo com Aragão (2015, p. 199) o turismo étnico “visa à valorização dos povos que foram muitas vezes excluídos, ao longo do processo histórico, buscando subsídio para a protagonização desses atores sociais e fortalecimento das suas identidades culturais”. Leal (2007) analisa que para se discutir o turismo indígena é necessário, antes de tudo, compreender que, cada vez, mais “os povos indígenas têm pensado na atividade turística como mais uma alternativa sustentável de desenvolvimento local empreendida a

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partir de critérios estabelecidos pelos próprios grupos étnicos”, isto é, desenvolver o turismo indígena tendo como protagonista os grupos indígenas. Tem se verificado um grande crescimento do envolvimento espontâneo de vários grupos indígenas, nas mais diversas regiões do país, na exploração de atividades turísticas, na maioria das vezes, dentro das próprias terras indígenas, e com o consenso, pelo menos parcial, das comunidades (MAURO, 2007, p. 9).

Deve-se compreender que o turismo indígena “é alimentado pelo interesse de ter acesso à cultura e ao povo indígena, buscando conhecer seus costumes, tradições e crenças no próprio ambiente de vivência dos mesmos. A autenticidade é a mola propulsora da visitação turística” (LEAL, 2007, p. 22). Por isso, a preocupação com a preservação do patrimônio indígena “é de extrema relevância, pois os índios brasileiros sofreram grandes pressões por parte de uma cultura alheia a seu mundo simbólico e ainda hoje vem passando por grandes dificuldades para manter minimamente seu padrão de vida” (FORTUNATO; SILVA, 2011, p. 88). Desde a chegada dos colonizadores no Brasil, os índios sofreram bastante, com a perda de território, perda das tradições e o desaparecimento de algumas etnias (MELO; JESUS, 2015). Neste sentido, “entende-se que a atividade turística em terras indígenas precisa ser regulamentada, pois já são realidade há um bom tempo e dificilmente deixarão de ser praticadas” (MAURO, 2007, p. 12), mas é fundamental que essas normas sejam estipuladas pelos próprios indígenas (LEAL, 2007). O turismo em terras indígenas é delicado e requer um planejamento minucioso, no qual a comunidade indígena seja a principal envolvida e sejam os responsáveis por administrar o uso dos recursos de suas terras, uma vez que o turismo indígena envolve os patrimônios naturais e culturais. Os próprios índios anseiam a atividade turística em suas aldeias, porque visualizam nessa prática uma opção de geração de renda para atender certas necessidades da comunidade de forma sustentável (MELO; JESUS, 2015). Porém, mesmo com a recomendação de que essas normas sejam elaboradas pelos indígenas e que estes sejam os protagonistas do turismo em suas aldeias, é fundamental que haja o acompanhamento por parte do setor público para orientá-los de forma que tenham conhecimento tanto dos impactos positivos como dos negativos que a atividade poderá implicar. A partir do momento que a comunidade se esforça para melhor atender os turistas, a tendência é de que aconteçam mudanças culturais significativas. Algumas aldeias indígenas tiveram seu calendário de celebrações tradicionais modificados para que pudessem atender à demanda turística, sendo que em alguns casos foi a própria comunidade que priorizou o

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retorno financeiro que essa mudança lhes proporcionaria, sem se atentarem para os demais impactos provocados (MAURO, 2007). Em outros casos essas iniciativas vêm do trade que pede à comunidade para não falar o português, mas sim à língua indígena, e para que omitam que consomem alimentos industrializados, de forma que os visitantes tenham a “falsa” idéia de que os índios se alimentam apenas de peixes, caças e farinha de mandioca (FORTUNATO; SILVA, 2011). E ainda há situações em que os turistas criam uma imagem estereotipada:

ao visitarem localidades onde vivem populações indígenas que não estão trajando vestimentas imaginadas por eles (tangas, pinturas no corpo, cocares, colares etc.) são comuns manifestações de decepção, já que os turistas acham que suas expectativas estereotipadas devem ser confirmadas (OURIQUES, 2005, p.110):

Esta visão distorcida influencia no julgamento da falta de autenticidade dos indígenas, chegando a serem nomeados de não índio pelos turistas, ou ainda, estimula a encenação dando origem ao índio turístico, aquele especializado em produzir e vender artesanato para os turistas, sem qualquer ligação cultural com as tradições de sua aldeia (SILVA, 2003). Por isso, para que o turismo se desenvolva em moldes sustentáveis, é desejável que se faça um trabalho de conscientização dos turistas para que os mesmos respeitem as regras de visitação estipuladas e se distanciem da concepção equivocada e arrogante de que o fato de estarem consumindo um produto turístico lhes confere a possibilidade de fazer tudo o que bem entenderem no ambiente visitado (MAURO, 2007, p. 23).

Desta forma, os envolvidos na atividade turística devem ser conscientizados sobre as questões culturais e ambientais, para que possam passar para os visitantes uma reflexão sobre a importância de respeitarem os modos de vida locais, bem como a comunidade possa enxergar que as necessidades são mais do que apenas econômicas (MAURO, 2007), pois “o que faz das populações tradicionais, e mais ainda dos povos indígenas, por si só, um atrativo turístico é justamente a sua diferença, a singularidade que lhes confere uma identidade própria, autêntica e não simulada e estereotipada” (MAURO, 2007, p.27). Há que se entender a evolução e as mudanças nos modos de vida indígena e que “esses povos não são seres ou sociedades do passado. São povos de hoje, que representam uma parcela significativa da população brasileira e que por sua diversidade cultural, territórios, conhecimentos e valores ajudaram a construir o Brasil” (LUCIANO, 2006, p. 18).

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Atualmente é comum que os jovens indígenas saiam das aldeias para estudarem cursos superiores, por um lado esse distanciamento do território pode levar a mudanças comportamentais e perda de algumas características identitárias, por outro lado, sua formação servirá de ajuda para o seu povo, o que o deixará feliz, fato que a comunidade espera dos que vão estudar, um retorno para a comunidade (LUCIANO, 2006).

O índio de hoje é um índio que se orgulha de ser nativo, de ser originário, de ser portador de civilização própria e de pertencer a uma ancestralidade particular. Este sentimento e esta atitude positiva estão provocando o fenômeno da etnogênese, principalmente no Nordeste. Os povos indígenas, que por força de séculos de repressão colonial escondiam e negavam suas identidades étnicas, agora reivindicam o reconhecimento de suas etnicidades e de suas territorialidades nos marcos do Estado brasileiro (LUCIANO, p. 33).

4.4. Aldeia São Francisco e suas tradições indígenas A Aldeia São Francisco, pertence ao município de Baia da Traição. Este município fica localizado no litoral norte da Paraíba, vizinha às cidades de Marcação e Rio Tinto e distante aproximadamente 90 km de João Pessoa, capital paraibana. É uma região bastante visitada, principalmente pela presença de índios Potiguara, em especifico na Aldeia de São Francisco, por ser a mais característica em termos de traços físicos indígenas. Os Potiguara são os únicos índios brasileiros que permanecem no mesmo território desde antes do descobrimento do Brasil, pois resistiram às tentativas de conquista de seu território (HISTÓRIA PARA TODO MUNDO, 2014). A Baia da Traição possui cerca de 7 mil habitantes, sendo que 95% da população é indígena. A cidade foi o primeiro ponto paraibano a ser avistado pelos portugueses em 1501 com a expedição de Américo Vespúcio. É considerado um dos mais belos litorais do nordeste em que se destacam falésias, praias sinuosas, bem como o farol e o forte (TV ASSEMBLEIA – PB, 2015). O nome Baía da Traição associa-se a primeira expedição portuguesa que chegou ao município em 1501, e que, de acordo com historiadores, o nome “traição” é dado pelo fato dos portugueses terem se sentido traídos pelos índios ao tentarem se aproximar. Essa traição se deve ao fato de que os índios assaram, deceparam as cabeças e comeram os três mancebos portugueses (integrantes da tripulação que trabalham com serviços braçais) que foram enviados para a primeira aproximação com os indígenas. Na verdade, o que eles realizaram foi o ritual denominado de antropofagismo, porque acreditavam que ao ingerir esses

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mancebos, estariam incorporando o poder e a força daqueles indivíduos. Esse ritual era praticado com pessoas que tentavam invadir suas terras, mas que hoje, não se pratica. (TV ASSEMBLEIA, 2015). Entre os nomes dados pelos indígenas à Baía da Traição, se destaca Acajutibiró, que possui duas versões: uma, segundo os tupinólogos, que significa terra de caju azedo e a outra, que advém de um estudo realizado pelos indígenas que afirmam que “tibiró” está relacionado com tibira, que significa nádegas, e antigamente os indígenas se reuniam para praticar atos que hoje já não são praticados: esses atos eram chamados de acajutibiró (cajueiro da sodomia) (TV ASSEMBLEIA, 2015). Na época da colonização calcula-se que haviam 100 mil indígenas denominados Potiguara, cujo nome foi dado pelos Tabajaras, porque antes eram chamados de Piticachara, que significa senhores dos vales e das praias. Como os Potiguara gostavam muito de praia, peixe, marisco, camarão e crustáceos em geral, os Tabajaras começaram a chamar os Piticacharas de Potiguara, que significa comedor de camarão, nome que permanece ate os dias atuais. Os Potiguara são de origem tupi, com raízes na Amazônia e no rio Negro, de lá vieram e ocuparam quase todo litoral do nordeste (do Maranhão até Pernambuco) (TV ASSEMBLEIA, 2015). Os Potiguara ocupam as terras do litoral norte há mais de 515 anos, sendo a única comunidade indígena brasileira que permanece no mesmo local desde a época das invasões. Os primeiros europeus a chegarem a Baía da Traição foram os franceses, antes de 1500, que se uniram com alguns caciques da época para exploração de pau Brasil (TV ASSEMBLEIA, 2015). Na Paraíba existiam mais de 15 povos indígenas, sendo Tabajara e Potiguara no litoral e os Cariris que habitavam as serras e os sertões nomeados índios botocudos. Mas, o único povo que prevaleceu e resistiu ate hoje de fato entre os mais de 15 povos foram os Potiguara (TV ASSEMBLEIA, 2015). A Aldeia São Francisco é considerada a Aldeia mãe, pois foi a partir dela que surgiram as demais aldeias, sendo essa característica um diferencial para o turismo. Outro ponto relevante é o fato de ser a única Aldeia da região que ainda possui traços indígenas naturais, com pouca mistura de outras raças, pois até pouco tempo, os casamentos só podiam ser feitos entre eles, atualmente estão mudando neste aspecto (ROMILDO, 2013). A Aldeia recebeu esse nome por conta de uma freira e uns franciscanos que residiam na aldeia. Hoje existe um

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centro social que era o local onde a freira usava para fazer caridade, antes a aldeia se chamava Acauã (ROMILDO, 2013). A Aldeia, a exemplo de todo o município de Baía da Traição, tem sua economia baseada principalmente no turismo, artesanato e pesca. Os turistas que visitam a aldeia buscam conhecer as histórias, o artesanato e o cotidiano dos indígenas. O turismo gira em torno da cultura indígena e das belezas naturais (TV ASSEMBLEIA, 2015). Alguns turistas também procuram conhecer as casas de farinha, cujo trabalho é quase todo manual, e a produção é para consumo familiar e comercialização local. A tradição da produção de farinha vem sendo passado de geração em geração, as crianças são levadas para o roçado, para que vejam como se planta, como se colhe, ate chegar ao processo da produção da farinha, elas acompanham todo processo e vão aprendendo. A cultura Potiguara é rica onde se destacam a dança e a religiosidade, o esporte também está presente nos jogos indígenas, sob coordenação do cacique Alcides, esses jogos fortalecem as políticas educacionais esportivas e a cultura. Entre as modalidades estão, o arco e flecha, corrida de toro, cabo de guerra, canoagem no manguezal, no rio ou no mar, simbolização da dança do toré, a tocha olímpica (feita com bambu decorado com algodão) e o evento é realizado com a disputa entre indígenas. O artesanato é produzido com matéria-prima da natureza como, sementes de cabatãn, oiticica, uricuri, jatobá, maçaranduba, é uma arte trabalhosa e de uma beleza exótica, procuram trabalhar com sementes que sejam medicinais também. O toré invoca em suas letras elementos da natureza do sol e do mar, e em forma de círculo, as pessoas que buscam formalizar aproximação com o outro, é uma questão da espiritualidade, um fortalecimento cultural e harmônico dentro de uma comunidade indígena, porque é através dele que os indígenas se sentem mais próximos um dos outros e invocam a cosmologia que faz parte da espiritualidade. Cada cântico possui um significado. No toré por imposição da igreja, foram introduzidas orações como o “Pai Nosso”, que os indígenas eram obrigados a aprender (TV ASSEMBLEIA, 2015).

29 Quadro 1: representação gráfica da organização de posicionamento para dançar o toré

-Tocadores no centro Superiores no meio Demais indígenas

Fonte: Cândido, 2016

Alguns indígenas abandonaram a tradição do toré porque passaram a ser evangélicos. Segundo relatos de um Potiguara “o toré é a religião do índio, e bonito seria se todo mundo visse a magia que é um toré, que é quase como uma corrente de raios que sai de cada índio”. O toré é uma forma de fortalecimento das lutas pelas terras (ROMILDO ARAÚJO, 2014). Existe a preocupação dos professores indígenas Potiguara em ensinarem para as crianças a cultura do toré na língua materna, é importante que aprendam a cantar em tupi (ROMILDO ARAÚJO, 2014). Para participarem do toré, os índios se pintam com uma tinta feita com jenipapo, álcool e carvão ralado, formando a cor escura (próxima ao preto), e o urucum para fazer os traços vermelhos (PROJETO VIDAS PARALELAS, 2013). Na Aldeia também se encontram as Furnas, que são cavidades naturais, que eram utilizadas pelos indígenas para se protegerem dos invasores na época de colonização. Essas Furnas fazem parte dos atrativos turísticos da Aldeia. Em duas aldeias próximas a São Francisco localiza-se um rio e um lago, bem preservados, sendo a Lagoa Encantada na Aldeia Lagoa do Mato, e o Rio do Gozo na Aldeia Tracoeiras, ambos atrativos, apesar de não estarem dentro da Aldeia mãe, podem ser agregados em uma rota de visitação.

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5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Neste capitulo serão apresentados os resultados obtidos através das pesquisas de campo realizadas durante a elaboração do presente trabalho. 5.1. Apresentação das entrevistas Nesta subseção são apresentadas as entrevistas (roteiro no apêndice) com a pajé e o cacique da Aldeia em estudo. O pajé é o indígena que possui maior experiência na aldeia, considerado um sacerdote, por ser conhecedor de todos os rituais e receber mensagens dos deuses, tratar da saúde dos indígenas, pois conhece todas a ervas para fazer chás, evocando os ancestrais que irão auxiliar na cura durante o ritual e o cacique é o responsável pela organização e orientação dos índios, possui a chefia da aldeia (SO HISTÓRIA, sp.), sendo portanto, os dois principais representantes de uma comunidade indígena. 5.1.1. Entrevista com a pajé Nascida e criada na Aldeia de São Francisco em Baía da Traição, a pajé da aldeia diz que a língua oficial dos indígenas Potiguara é o tupi guarani, que vem sendo resgatado nas escolas da própria Aldeia com professores indígenas, pois o ensino da língua às crianças, permite também que elas ensinem aos pais e familiares mais idosos, porque a língua vem sendo perdida entre eles e as crianças têm obrigação de aprender as tradições indígenas. Os Potiguara possuem ritual próprio para casamento e batismo, celebrados em rituais de fogo, pela pajé ou pelo cacique, cujos detalhes são mantidos em sigilo. Os rituais de cura são realizados apenas pela pajé, curando os parentes que ficam doentes e que a medicina convencional não é capaz de curar. Por ser a médica da aldeia, ela também ajuda no trabalho de parto das mulheres (e até dos animais). No caso dos partos, as mulheres só são levadas para o hospital em casos de risco, caso contrário o parto é realizado na própria aldeia, e os umbigos das crianças são sanados com saliva, sal queimado e óleo de côco. Por esses motivos a pajé não tem hora certa para dormir, uma vez que deve resolver as questões de saúde da aldeia em caso de necessidade. A entrevistada ressalta que entre as tradições, o toré é uma tradição indígena que transmite paz, saúde, purificação, libertação e agradecimento, é uma manifestação religiosa indígena. Os instrumentos utilizados no ritual são todos produzidos pelos índios e as músicas são cantadas em tupi e em português. O toré na maioria das vezes só é dançado para visitantes quando possui agendamento. A interação do visitante com a dança é permitido, “às vezes os indígenas sentem que o visitante está carregado de energia pesada e o convida para o ritual

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para que ele seja libertado, e a energia pesada irá para a mata, ficando o visitante purificado”, explica a pajé. De acordo com a respondente, as pinturas possuem dois significados: um para cura e outra para dançar o toré. A pajé explica que os Potiguara possuem uma pintura que é feita apenas por eles: o desenho da colméia de abelha. Ainda com base nas informações obtidas na entrevista, podemos destacar a comida típica dos Potiguara que é o peixe assado na palha de banana debaixo da terra e a bebida, que é a jurema, o artesanato que é confeccionado tanto por crianças como por adultos, desde colares, brincos, pulseiras, anéis, até peças ornamentais como mensageiro dos ventos e filtro dos sonhos. De acordo com a pajé, as peças nunca ficam iguais, pois a peça surge através de uma inspiração momentânea, é um dom. A pajé relata que quando se mudou de uma casa para outra, a única coisa que levou foi um balaio com sementes e cascas, utilizadas na confecção de peças artesanais, isso demonstra o apreço que se tem pelo artesanato. A entrevistada ainda diz que os Potiguara não se sentem discriminados dentro da aldeia, mas fora dela sim, não pelos turistas, porque os que visitam a aldeia já possuem um propósito, pessoas que buscam experiências e o aprendizado de outras culturas. Por isso, para ela, as visitações podem trazer benefícios econômicos, pois sobrevivem da pesca, da caça do que plantam e produzem na casa de farinha, dividem e também fazem troca de farinha misturada, beiju, goma e farinha picica por peixe, mas apenas com pessoas da própria Aldeia. Para a pajé os visitantes não têm influência na perda da cultura, pois as mudanças ocorridas são naturais do tempo. A Aldeia São Francisco não possui um guia de turismo indígena nem profissional. Eles sentem falta do apoio da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) desde que a sede principal que era em João Pessoa se mudou para Fortaleza, tornando a comunicação mais difícil. A respeito do Projeto Trilha dos Potiguara que o governo vem fomentando, a pajé pouco sabia a respeito. A Aldeia é grande, e tem alguns índios que se converteram para religião evangélica, pois os pastores fazem visitação a fim de conseguir a conversão dos indígenas, mas muitos índios não os recebem se fecham dentro de casa e os mandam embora, pois eles já possuem o Deus Tupã. No dia 19 de abril é comemorado o dia do índio, criado por Getúlio Vargas em 1943 pelo decreto de lei número 5.540. Mas, essa comemoração teve inicio em 1940 quando ocorreu o primeiro Congresso Indigenista Interamericano, no qual não houve a presença dos indígenas, porque sentiam medo dos brancos que tanto haviam maltratado o seu povo. Porém, depois de outros encontros, alguns líderes indígenas perceberam a importância da participação

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e este encontro ocorreu no dia 19 de abril, por isso foi escolhido no continente americano como o Dia do Índio. Este dia é comemorado nacionalmente por toda população brasileira, os índios se reúnem e unem forças para lutar por seus parentes (MUSEU DO INDIO, s.a). O Dia do Índio é celebrado no Terreiro Sagrado da Aldeia São Francisco (imagens abaixo), o ritual é iniciado nas Furnas, que eram utilizadas pelos Potiguara para se protegerem dos invasores. E dias antes do 19 de abril são feitas algumas coberturas de palha para se protegerem do sol, no Terreiro Sagrado. Figura 1: Furnas, Baía da Traição - PB, 2016.

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Figura 2: Terreiro Sagrado, Baía da Traição - PB, 2016.

Fonte: CÂNDIDO, 2016

5.1.2. Entrevista com o cacique O entrevistado Alcides da Silva Alves é o cacique da Aldeia São Francisco há 14 anos, tendo entre suas funções a de aplicar regras na Aldeia, solucionar conflitos, estabelecer

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punições, deliberar guerra, organizar as caças, de modo geral cuida da organização da aldeia. De acordo com o cacique, a língua oficial dos Potiguara é o tupi que passou um longo tempo esquecida, mas, agora vem sendo resgatada através da escola local. Entre os principais rituais da Aldeia podem ser citados: o toré, um ritual de dança, que segundo o entrevistado, para os Potiguara, significa resistência, amadurecimento, força, proteção e sabedoria, e por isso só pode ser dançado mediante autorização do cacique. Os rituais de cura pedem a participação dos anciões, e na ausência desses o cacique é o substituto. O batismo das crianças é realizado com todos os participantes do batismo trajados, com saiote, pintados e com os colares. A criança recebe a consagração das plantas medicinais, seguido do ritual sagrado, que é o toré. As musicas dos rituais podem ser cantadas em português e em tupí. A cultura passa de geração em geração, desde o convívio familiar, nas escolas e na comunidade. Os instrumentos utilizados nos rituais são produzidos pelos índios, sendo os principais, segundo o entrevistado, o bombo (zabumba), maracá, (chocalho confeccionado com cabaça seca e sem miolo ou quenga de côco, em seu interior são colocados sementes do mesmo tamanho, para que emita som, esse som marca a pisada na dança do toré), flauta (feita de bambu), conforme imagens a seguir: Figura 3: Maracá

Fonte: CÂNDIDO, 2016

34 Figura 4: Bombo

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Ainda de acordo com o entrevistado, as pinturas simbolizam a comunidade através da colméia de abelha, como também a pintura de linhas horizontais no rosto, representando o garapirá que significa pássaro grande, no braço pintam o camarão, símbolo dos Potiguara. As pinturas são diferenciadas de outras tribos, sempre serão diferentes os traços e a forma de pintar. No que se refere à alimentação típica dos Potiguara tem-se, beiju de mandioca mole, o jenipapo, e a jurema. O cocar também produzido por eles simboliza a arte, cultura indígena, tradição e hierarquia do povo. É feito de penas consagradas que servem também para rezar os parentes quando estão doentes; cada um tem o seu cocar, e não podem usar o de outra pessoa, sendo que o cocar do homem sempre vai ser maior do que o da mulher. Como mostram as imagens abaixo: Figura 5: Cocar feminino

Fonte: CÂNDIDO, 2016

35 Figura 6: Cocar Masculino

Fonte: CÂNDIDO, 2016

No contexto do turismo, a Aldeia, de acordo com o entrevistado, não recebe muitas visitações. O maior fluxo de turistas é no mês de abril por conta do Dia do Índio e nos jogos indígenas. Nos demais períodos, o fluxo é baixo e esporádico. Às vezes ligam avisando da visita, outros chegam de surpresa. Os jogos indígenas concentram cerca de mil e quatrocentos índios para participação, o evento é de nível nacional. Para o cacique, os Potiguara algumas vezes se sentem descriminados por serem vistos como algo exótico, porque alguns visitantes acham que o índio deve andar nu, não pode ter um celular, carro, casa de alvenaria, não é para andar para cidade. Alguns turistas não possuem ética e não respeitam os modos de vida dos índios atuais, por acharem que uso de planta medicinal é droga, querem ver os índios em ocas. Os produtos que tem a oferecer para o turista são o artesanato, a dança, a gastronomia típica.

E não considera o turismo como uma ameaça para a aldeia, pois, segundo o

entrevistado, o turismo quem faz são eles, e os visitantes que procuram são diferenciados. A Aldeia possui uma boa estrutura, de acordo com o respondente, para receber turistas, mas caberia uma organização e planejamento maior, com apoio governamental. Muitas vezes, “os Potiguara recebem os turistas, fazem de tudo, mas não deixam renda, trazem comida de casa ao invés de consumir o que a aldeia oferece”.

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5.2. Questionários aplicados com membros da Aldeia São Francisco Nesta subseção serão apresentados os resultados obtidos com os questionários aplicados a dez habitantes da Aldeia em estudo. 5.2.1. Fonte de Renda Figura 7: Fonte de Renda, Baía da Traição - PB, 2016. Programas Sociais 20%

Aposentado 20%

Liberais 10%

Artesanato 30%

Agricultura 20%

Fonte: CÂNDIDO, 2016.

De acordo com os resultados percebe-se que a maior fonte de renda provém do artesanato que ocupa um lugar de destaque na cultura indígena, o que corrobora com a afirmação de que “o artesanato tem sido um dos principais elementos de reconhecimento oficial dos povos indígenas, sendo substancialmente utilizados no contexto turístico” (LEAL, 2007, p. 22).

5.2.2. Renda Figura 8: Renda em nº de salários recebidos. Entre 1 e 2 10%

Menos de 1 90%

Fonte: CÂNDIDO, 2016.

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Apenas 10% recebem mais de um salário mínimo, enquanto 90% recebem menos de um salário, tendo em outras atividades, como visto anteriormente, formas de obtenção de renda. Tanto a agricultura como o artesanato dependem das situações climáticas para que haja produtividade, não apenas para o cultivo das plantações como também na colheita de sementes para fabricar as peças artesanais.

5.2.3. Membros Figura 9: Número de membros nas famílias indígenas. Mais de 10 20%

Entre 1 e 3 20%

entre 7 e 10 20% entre 4 e 6 40% Fonte: CÂNDIDO, 2016.

Observa-se que 40% das famílias são compostas por 4 e 6 pessoas (em cada casa), onde geralmente vivem os pais e os filhos. Figura10: Nº de pessoas com algum tipo de deficiência, por família.

Sim 60%

Não 40%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

De acordo com a pesquisa, 60% das famílias possuem ao menos uma pessoa com deficiência, o que indica a necessidade de intervenção do setor público, uma vez que foi constatado que não recebem nenhum tipo de assistência específica.

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5.2.4. Uso de serviço de assistência social Figura 11: Faz uso de assistência social.

Não 50%

Sim 50%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Como se pode observar, metade dos entrevistados faz uso dos serviços de assistência social. Entre os que responderam sim, indicaram o CRAS – Centro de Referencia da Assistência Social. 5.2.5. Uso de programa social Figura 12: Faz uso de algum programa social.

Não 30%

Sim 70%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Entre os que responderam que fazem uso de algum programa social (70%), os principais programas citados foram Bolsa Família e BPC – Beneficio de Prestação Continuada. O BPC é um beneficio para as pessoas que tem alguma deficiência ou com doença terminal, como também para maiores de 65 anos em que a família não pode prover seu sustento, esse benefício não da direito à décimo terceiro, pois não é aposentadoria, para

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receber a pessoa precisa estar em vulnerabilidade social. De acordo com a pesquisa, constatou-se uma falta de informação por parte dos respondentes, pois muitos não têm conhecimento dos direitos sociais. 5.2.6. Uso da rede de saúde Figura 13: Utiliza a rede de saúde pública.

Não 20%

Sim 80%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Essa questão refere-se aos serviços básicos de saúde como dentistas e clínicos gerais, no qual 80% afirmam fazer uso dos serviços que são oferecidos pelo governo federal. 5.2.7. Documentos Pessoais Figura 14: Possui documentos pessoais.

Não 10%

Sim 90%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

A maioria, ou seja, 90% possuem os documentos pessoais como RG (Registro Geral) e CPF (Cadastro de Pessoa Física). Mas, 10% não possuem nem mesmo o RG.

40

5.2.8. Turismo Quando questionados sobre o que sabem acerca do turismo, as respostas têm em comum os benefícios econômicos, uma vez que responderam: bom para ganhar dinheiro (30%), bom para vender arte (20%) e oportunidade de melhoria de renda (20%). Para outros respondentes, o turismo é uma atividade que traz visitas de fora (20%) e incentiva a cultura da comunidade (10%). Por isso, é importante que os indígenas conduzam todo o processo de desenvolvimento do turismo em suas aldeias, mas assessorados por setores públicos responsáveis que os orientem no planejamento da atividade e nos estudos dos impactos decorrentes. 5.2.9. Benefício turístico para a comunidade No que se refere aos benefícios do turismo para a comunidade, todos os respondentes consideram que a atividade turística trará muitos benefícios para o turismo, isso porque vêem na atividade a oportunidade de vender seus artesanatos, sua gastronomia, entre outros, e dessa forma obter benefício econômico. As respostas obtidas nesta questão são similares às da questão sobre o que entendem como turismo e ressaltam a necessidade urgente de um acompanhamento no que se refere aos impactos turísticos para que os interesses econômicos não prevaleçam. 5.2.10. Participação no turismo Figura15: Participação de atividades relacionadas ao turismo.

Sim 60% Não 40%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Foi observado que 60% da comunidade já participaram de alguma atividade relacionada ao turismo. As principais que citaram foram: reuniões e palestras com o intuito de

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desenvolver o turismo na Aldeia, cursos de capacitação para o turismo e a venda do artesanato para os visitantes. 5.2.11. Influência do turismo na mudança cultural Figura16: A influência do turismo na cultura local. Sim 20%

Não 80%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Constatou-se que, 80% da comunidade afirmaram que o turismo não interfere na cultura local, pois têm a consciência de que não irão deixar suas práticas culturais por conta do turismo. Os respondentes afirmam que na verdade o turismo pode incentivar os mais jovens a manterem essas práticas por se sentirem motivados e orgulhosos em enaltecer suas raízes e mostrar para os visitantes. 5.2.12. Turismo comunitário e sustentável. Figura 17: Possui entendimento sobre turismo comunitário e sustentável.

Sim 30%

Não 70%

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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Neste questionamento buscou-se saber se os índios já tinham ouvido falar sobre Turismo Comunitário e Sustentável. O resultado obtido demonstra que a maioria (70%) não tem conhecimento sobre esses termos e nem seus significados, o que indica a necessidade do apoio do setor público para orientar esses habitantes. 5.2.13. Tempo que reside na Aldeia Em relação há quanto tempo residem na Aldeia São Francisco, 90% dos entrevistados responderam que nasceram e foram criados na localidade, sendo que esta expressão “nascido e criado” é muito ligada à identidade indígena da aldeia em estudo, pois podemos perceber que a mesma resposta é dada pelo cacique e pela pajé nas entrevistas realizadas.

5.2.14. Atrativos da Aldeia De acordo com os respondentes, os principais atrativos turísticos da Aldeia São Francisco são a Lagoa Encantada, as Furnas, as praias, o Toré, o artesanato, o Rio do Gozo e a gastronomia. 5.2.15. Almejam Visitação na Aldeia Todos os participantes da pesquisa relataram que desejam que a atividade turística seja consolidada na Aldeia, pois, vislumbram melhorias para a comunidade através do turismo. Como referenciado no trabalho, os benefícios econômicos almejados pelos índios podem se sobrepor aos demais impactos, o que deve ser evitado através de um apoio do poder público de forma que a atividade turística se desenvolva de forma sustentável.

5.2.16. Diversão da comunidade As principais opções de diversão na Aldeia, segundo os respondentes, são: o Toré, a prática de esporte, a confecção do artesanato, as festas tradicionais e o rio do Gozo.

5.3. Participação em eventos A seguir descreveremos alguns eventos em que a autora dessa monografia esteve presente com o intuito de aprofundar os conhecimentos para elaboração deste TCC. 1) II Encontro de Estudantes Indígenas da Paraíba LOCAL: Auditório 412, CCHLA - UFPB

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ORGANIZAÇÃO: Seampo / GTI e PET DATA: 8 e 9 de Setembro de 2016 O encontro foi realizado na UFPB - Universidade Federal da Paraíba, com continuidade de suas atividades na Aldeia Coqueirinho, localizada no litoral norte da Paraíba no município de Marcação. O encontro contou com a presença de estudantes indígenas da UFBA – Universidade Federal da Bahia, das etnias, Pataxó, Tuxá, Tupinambá, Coroa Vermelha, Pankararé e Tupinambá, sendo as etnias Potiguara e Tabajara da Paraíba. No evento foram expostas todas as dificuldades enfrentadas pelos estudantes indígenas dentro da Universidade, desde preconceitos até descasos com os auxílios a que têm direito. Os relatos dos indígenas eram emocionantes, quem está de fora não imagina o preconceito que enfrentam por serem indígenas. Muitos deles pensam em desistir do curso, ficam depressivos, com a falta de auxílios regulares ou a demora para o recebimento, precisam optar por se alimentar ou comprar material para estudar. É uma realidade desconhecida. Mas que com a ajuda do SEAMPO (Setor de Estudos e Assessoria a Movimentos Populares), esses estudantes têm conseguido superar unidos, e com mais força para lutarem juntos. Além do AUP (Associação Universitária Potiguara), do PET Indígena (Programa de Educação Tutorial Indígena) e do GTI (Grupo de Trabalho Indígena), que lutam juntos por uma só causa, direitos dos indígenas. Um dos pontos discutidos durante o evento foi o fato de que muitos índios são discriminados por fazerem uso de tecnologia e por residirem em casas, sendo taxados de não índios, como referenciado por Luciano (2006), que explica que os indígenas da Amazônia que tiveram o seu contato com os colonizadores bem depois, conseguiram continuar suas tradições com maior força, por esse motivo alguns brasileiros acreditavam que apenas eles eram os índios de verdade, por continuarem com a língua tradicional, sempre pintados, nus e com seus rituais. Essa mentalidade ainda permanece culpa da informação que é passada pela mídia e nas escolas (LUCIANO, 2006). Outro momento de riqueza cultural vivenciado foram as lendas e histórias Uma das historias interessantes é sobre “As Bruxas de Coqueirinho” em que três mulheres que moravam na aldeia de Coqueirinho, no litoral norte, e que praticavam rituais, mas que com a chegada de uns padres na região, começaram a ser perseguidas por conta dos rituais, taxados como algo do demônio, e para não serem queimadas, usaram uma embarcação de pescadores para fugir, e remaram muito para irem longe. Com o tempo começaram aparecer plantas

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misteriosas na aldeia, e diz a lenda que eram elas que traziam de outros lugares, dizem também que há quem escute suas gargalhadas, as vêm nos coqueiros, já encontraram suas vassouras, seqüestravam as crianças pagãs e cortavam as redes dos pescadores. Como essa outras lendas foram contadas, como a do Batatão da Aldeia Galego, da Folha do Cajueiro e do Rio da Ponte, todas essas da cultura indígena Potiguara. À noite, no encerramento do encontro, foi celebrado um ritual indígena, com músicas cantadas em português e nos idiomas dos indígenas do estado da Bahia. O encontro foi enriquecedor, podendo vivenciar mais de perto as tradições indígenas, saboreando a gastronomia local, sentindo as energias positivas que eles irradiam, as formas de se comportarem, a realidade das lutas, e a força que eles precisam para continuar com essa garra e orgulho por serem indígenas. Neste encontro pude aprender algumas letras cantadas no toré, que se encontram redigidas no apêndice.

2) Dia das Crianças na Aldeia São Francisco LOCAL: Aldeia São Francisco – Baía da Traição ORGANIZAÇÃO: Aldeia São Francisco / GCET – Grupo de Cultura e Estudos em Turismo. DATA: 12 de Outubro de 2016 Em uma das visitas feitas na Aldeia algumas mulheres falaram a respeito do evento do Dia das Crianças, considerada por elas uma data importante para ser comemorada na Aldeia. Todos os anos com ajuda de outras pessoas organizam uma comemoração para as crianças. A partir deste diálogo fui convidada a participar da festinha e também ajudar se fosse possível. Juntamente com o GCET e alguns voluntários, foi lançada uma campanha na rede Social Facebook, com pedido de doação para poder realizar a festinha para crianças indígenas da Aldeia São Francisco, com a arrecadação de roupas, brinquedos, doces e pipocas. No dia da festa pude participar de brincadeiras típicas da Aldeia como cabo de guerra, tica (brincadeira na qual precisam se esconder e quem for encontrado primeiro e ser tocado pelo que procura, será o novo a procurar os que se escondem), entre outras. E como de costume, como forma de agradecimento foi realizado o ritual do toré, dançado pelas crianças e comandando pela pajé, no qual todas as crianças usando o urucum

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(semente) retirado na hora, pintaram uma às outras, e me pintaram. Em seguida foi dado o toque de iniciação do ritual, pela pajé utilizando o bombo, com batidas seguidas. Após um tempo que já estavam dançando, me uni ao ritual até ser finalizado.

5.4. Participação no toré. Durante algumas visitas e participação no Encontro de Estudantes indígenas, tive a oportunidade de participar do ritual dos Potiguara, o toré. No qual, por intermédio da observação e ao som marcado do maracá, foi possível acompanhar e aprender os passos dançados e os gestos feitos com as mãos em algumas músicas, e pude identificar que o toré é dançado apenas no sentido anti-horário. Foi possível também sentir a energia e a força que eles demonstram ao dançarem o toré. É no toré onde criam força para lutar por suas terras, onde manifestam sua alegria, curam doenças através da fé em Deus Tupã. O toré expressa, através das músicas, as alegrias e tristezas dos indígenas e mesmo com todas as dificuldades enfrentadas também demonstram sua força em seu ritual que é fundamentado nos elementos da natureza. Ao iniciarem o ritual, primeiramente se curvam à mãe terra e fazem uma oração, que pode ser feita em tupi ou em português.

5.5. Diário de Campo (com base nas visitas e observações). Durante as visitas na Aldeia, organizei as informações em um diário de campo, conforme se pode ver a seguir: 1ª VISITA– 06 DE AGOSTO DE 2016 Atividade: Conheci a Aldeia, fiz duas entrevistas, uma com a Page Fátima e a outra com o cacique Alcides, tirei algumas fotos, e vi o artesanato produzido pelas índias da Aldeia São Francisco. Sentimento: Me senti insegura, com um possível desencontro, mas a receptividade das crianças na chegada da pajé foi maravilhosa, ficaram felizes perguntando de onde eu era, e foram correndo chamar a avó, que é a pajé. Ao chegar na casa dela, fiquei com receio de falar alguma coisa indevida e ofendê-la ou chateá-la, senti durante a entrevista que ela estava um pouco séria e fria nas respostas. Também me senti triste quando terminou a entrevista ao

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ver a situação de carência das crianças e não poder fazer “nada”. Após a entrevista com o cacique percebi que eles depositam as esperanças de mudança de seu povo através desse trabalho, depositando uma responsabilidade forte sobre o pesquisador. Sozinha não posso fazer nada, mas senti que posso articular e tentar levar algum beneficio para eles, fiquei estimulada a lutar por essa causa.

2ª VISITA – 13 DE AGOSTO DE 2016 Atividade: Visita ao ateliê do Indígena Severo, pintor com obras belíssimas, juntamente com Cecília, estudante de graduação em Serviço Social, que queria conhecer a Aldeia São Francisco, onde tivemos uma conversa superficial sobre a assistência social, área de conhecimento de Cecília. Nesta visita surge a idéia de um mine projeto interdisciplinar. Sentimento: Me senti triste porque o toré já não foi possível ser dançado, segundo o cacique, aquela hora ficava tarde. Comecei a perceber que a forma de entendimento é muito delicada, e que ele é muito ocupado. Após chegar em sua casa ele nos levou para a aldeia Tracoeiras, onde mora Severo, fui muito bem recebida, o artista ficou feliz com a visita, e agradecido pelos elogios a suas obras, novamente senti que ele depositou em mim uma esperança de mudança de situação, um pedido de “socorro” o que me afeta emocionalmente. Neste dia também me senti feliz em ser reconhecida pelas crianças e pela pajé, percebi que estava mais risonha. 3ª VISITA – 25 DE AGOSTO DE 2016 Atividade: Aplicação de 10 questionários com a comunidade com questões sociais e turismo, falar do passeio experimental, e falar com neto da pajé para que seja o guia no dia do passeio experimental. Sentimento: A recepção foi muito boa, estavam em campanha política para escolha do prefeito da Baía da Traição. Fomos bem recepcionadas, responderam os questionários, um senhor muito conversador falou muita coisa a respeito do turismo, inclusive de um projeto que tem o sonho de por em prática, com isso me senti ainda mais motivada a ajudar. Após conseguir completar 6 questionários saímos em busca de completar os 10 em outras casas, e uma indígena nos recepciona de forma pouco hospitaleira, nesta hora senti certo desanimo, pois a mesma disse “vocês são só estudantes, vão poder fazer o que?” pude perceber que muitas pesquisas já se passaram por ali e nunca obtiveram retorno, e ate certo ponto pude

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entender que sua forma de agir seria por conta de outras pesquisas que fizeram, colheram informações e nada de retorno para eles, ela disse que as pessoas só queriam crescer em cima das informações deles. Então juntamente com Cecília explicamos a situação, sentimos que ela um pouco que entendeu, mas seu orgulho não deixou transparecer muito, e disse que naquele momento não podia responder, porque estava ocupada, apenas mais tarde. Diante desse fato me deu ainda mais vontade de ação com o projeto, para que veja que não é apenas interesse de crescimento acadêmico, que posso servir de ponte para articular melhorias e benefícios. A pajé foi muito hospitaleira, estava muito feliz, e preparou tapioca, café, também água de côco para nós, sendo carinhosamente reconhecida outra vez pelas crianças como “a mulher que comprou artesanato”. 4ª VISITA – 15 DE SETEMBRO DE 2016 Atividade: Conhecimento dos atrativos turísticos das aldeias em Baía da Traição, a fim de planejar uma rota turística. Os pontos visitados foram, as Furnas na Aldeia São Francisco, a Lagoa Encantada na Aldeia Lagoa do Mato e o Rio do Gozo na Aldeia Tracoeiras. Aproveitando a oportunidade para visitar o pintor Sever, e o cacique Alcides. Sentimento: Desta vez o condutor foi Isac, indígena da Aldeia São Francisco, ocorreu tudo tranqüilo, com algumas explicações referentes aos pontos visitados. O cacique indicou alguns locais interessantes para desenvolver a atividade turística na Aldeia. A Pajé não estava, que era para combinar os valores de almoço e variedade para o passeio experimental. Algumas indígenas pediram ajuda para fazer a festa do dia das crianças. E como na ultima visita, nos trazem água de côco como forma de retribuir o trabalho que vem sendo feito na Aldeia. 5ª VISITA – 12 DE OUTUBRO DE 2016 Atividade: Dia de vivências, com almoço típico preparado pelas indígenas, apresentação do toré das crianças, pintura indígena no rosto, interação com as crianças com brincadeiras como, pular corda, cabo de guerra e esconde-esconde; distribuição de lembrancinhas para as crianças, tirar algumas duvidas referente a Aldeia e continuidade do planejamento da visita experimental. Sentimento: Recebi muito carinho das crianças e dos adultos também, foi um dia super alegre, repleto de boas energias, o laço fica cada vez mais forte, a receptividade foi maravilhosa, e percebo que eles se sentem mais abertos e a vontade com a minha presença.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada apresentou questões sobre os impactos culturais do turismo e teve como objeto de estudo a Aldeia São Francisco, localizada no litoral norte paraibano. As visitas realizadas in loco foram de extrema importância para o alcance do objetivo proposto, pois o contato direto com a comunidade permitiu conhecer de perto a realidade. O estudo demonstrou que a atividade turística pode ser benéfica ou prejudicial à comunidade, sendo a forma de implantação do turismo o fator determinante dos tipos de impactos. Tendo por base a literatura, as entrevistas, os questionários e a observação, foi possível compreender que a prática da atividade turística na Aldeia, de maneira geral, traz benefícios à população indígena, no que se refere à geração de renda principalmente com a venda do artesanato produzidos por eles. Os modos de vida da Aldeia estudada, até o presente momento, não foram afetados devido ao turismo, mas sim, pelo passar do tempo, como explicaram os entrevistados. Salientando que a atividade turística desenvolvida na Aldeia é realizada pelos índios e sem a imposição de outros grupos externos, que poderiam modificar os saberes e fazeres dos Potiguara. Além disso, o público que busca conhecer a Aldeia, em sua maioria, procura a experiência, o contato com os indígenas de forma a vivenciarem sua cultura, dessa forma, contribuindo para a autoestima dos Potiguara ao verem suas tradições valorizadas. Sendo assim, os entrevistados consideram o turismo como uma alternativa sustentável desde que haja o apoio governamental na organização da atividade. O turismo indígena quando explorado massivamente e sem qualquer participação da população local pode ser, muitas vezes, impactado de forma negativa, resultando em perdas culturais com a imposição dos modos de vida dos visitantes, podendo ocasionar consequências negativas como a descaracterização das suas tradições, bem como a baixa autoestima e o ressentimento quando são vistos como um atrativo turístico exótico, no qual os visitantes possuem uma visão estereotipada sobre os índios, achando que o índio deixará de ser índio se fizer uso da tecnologia, usar roupa e residirem casa de alvenaria. Nas aldeias, o turismo, se for planejado e desenvolvido pelos e para os habitantes locais, pode ser um instrumento dinamizador da economia local e um forte incentivo às práticas culturais dos índios. No caso da Aldeia São Francisco é possível perceber que, de acordo com os entrevistados, o turismo é desenvolvido pelos próprios índios que não modificaram seu modo

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de viver em prol do turismo. Na verdade, os inquiridos consideram que o turismo colabora com a venda do artesanato que sempre foi produzido pelos índios, funcionado como uma renda extra que lhes assegura a sobrevivência. O próprio toré foi fortalecido junto aos jovens graças ao interesse dos visitantes, pois houve uma época que estava sendo esquecido. Mediante os resultados obtidos e com base nos ensinamentos obtidos durante o Curso de Turismo, pretende-se realizar algumas ações, como uma visita experimental na Aldeia São Francisco, com um grupo de 15 pessoas e a realização de um evento, através do GCET (Grupo de Cultura e Estudos em Turismo) com palestras sobre a temática indígena no âmbito do turismo e do serviço social, mesas redondas com convidados da Aldeia, da Universidade Federal da Paraíba, do trade turístico e dos setores públicos, exposição de quadros de pintores Potiguara, pintura corporal indígena e exposição do artesanato, assim como auxiliar os artesões Potiguara no cadastro oficial como artesão. Essas ações visam contribuir para a orientação do turismo na Aldeia São Francisco de forma que os habitantes possam conhecer os impactos positivos e negativos da atividade turística, além de mostrar a cultura Potiguara para os estudantes e profissionais de turismo, de forma a colaborar no conhecimento das práticas culturais dos índios e com isso buscar o respeito entre culturas distintas.

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ANEXOS

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ANEXO A - Localização de Baía da Traição

Fonte: Fábio Magnani, 2007

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ANEXO B - Mapa das Aldeias Indígenas Potiguara

Fonte: Viagens Pelo Mundo, 2014

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ANEXO C - Obras de arte feitas pelo indígena Potiguara Severino (Sever)

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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APÊNDICE

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Apêndice A: roteiro de entrevista com a pajé e o cacique

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Orientadora: Adriana Brambilla Orientanda: Fernanda de Lima Candido

A presente entrevista tem por objetivo coletar dados, a fim de contribuir para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso da Aluna Fernanda de Lima Candido do curso de Turismo da UFPB/CCTA/DTH, intitulado: IMPACTOS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ALDEIA DE SÃO FRANCISCO EM BAÍA DA TRAIÇÃO – PB.

PERFIL DO ENTREVISTADO

Sexo: F ( )

M( )

Ocupação: Há quanto tempo mora na aldeia: Cargo:

ÍNDIOS POTIGUARA -Qual a língua oficial dos Potiguara? -A língua permanece ou esta sendo perdida? -Os Potiguara possuem ritual para casamento/passagem de fases das crianças para adulto/cura de enfermidades/purificação? -No caso esse ritual de cura só é feito pelos superiores, no caso o pajé? -Outra pessoa não pode? -Qual a origem e importância do toré para os Potiguara? -Os instrumentos utilizados nos rituais e/ou diariamente são confeccionados pelos índios? -Qual importância e significado das pinturas?Alguma das pinturas é feita apenas para os Potiguara? -Quem confecciona artesanato? -Tem alguma peça que e só vocês que fazem -Possuem comida/bebida típica indígena potiguara? Qual? -O batismo das crianças é feito com algum ritual indígena? -As musica dos rituais são cantadas em português e/ou na língua indígena?

59 -Há o incentivo de passar de geração em geração as tradições indígenas Potiguara? De que forma? -Todos os pais têm obrigação de ir passando não é?

TURISMO

-A aldeia recebe turistas com freqüência? -Se sente descriminado e/ou incomodado pelos turistas por ser visto como exótico? -Quais benefícios que o turismo traz para a aldeia? -Vê alguma ameaça no turismo? Se sim, qual? A aldeia está organizada para receber turistas? -Existe a interação do turista com os rituais indígenas? De que forma? -Mesmo que vocês ao sintam essa carga ele pode interagir? -Acha que o turismo pode ajudar no resgate e preservação das tradições indígenas?Como? -O governo apóia o turismo na aldeia? De que forma? -E porque ela vai sair? -Em reportagem vi que no dia do índio desse ano foi lançado a trilha dos Potiguara, vocês estão incluídos, estão sabendo? -Foi alguém falar com vocês sobre essa Trilha? Possui algum guia turístico indígena? Já ocorreu algum tipo de assédio durante a atividade turística? - Tem mais alguma coisa que gostaria de falar sobre os Potiguara? -Qual a diferença entre pajé e cacique? -Os partos das mulheres também? -A renda de vocês vem do artesanato? -O cargo de pajé e cacique tem um tempo? - O nome aqui antigamente não era Baía da Traição?

60

Apêndice B: questionário aplicado com a comunidade indígena

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Orientadora: Adriana Brambilla Orientanda: Fernanda de Lima Candido / 11226083 A presente pesquisa tem por objetivo coletar dados, a fim de contribuir para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso da Aluna Fernanda de Lima Candido do curso de Turismo da UFPB/CCTA/DTH, intitulado: IMPACTOS PROVOCADOS PELO TURISMO NA ALDEIA DE SÃO FRANCISCO EM BAÍA DA TRAIÇÃO – PB.

Questionário PESQUISADOR:______________________________________________________ HORÁRIO DE INÍCIO: __________ TÉRMINO: __________DATA:_____________ DADOS PESSOAIS NOME:______________________________________________________________ NOME SOCIAL: ______________________________________________________ DATA DE NASCIMENTO: _____ IDADE:_____ SEXO: FEMININO [ ]

MASCULINO [ ]

OUTRO [ ]

FORMULÁRIO DE QUESTÕES

Roteiro semi-estruturado 1. Qual a principal fonte de renda familiar? ___________________________________________________________________ 2. Qual valor atual da renda familiar? Menos de 1 s/m [ ] entre 1 e 2 [ ] mais de 3 [ ] 3. Quantos membros convivem na sua residência familiar? __________________________________________________________________ 4. Na sua família possui algum membro com deficiência? __________________________________________________________________ 5. Sua família utiliza os serviços da rede de assistência social? Sim [ ] Não [ ] CRAS [ ] CAPS [ ] CREAS [ ] Centro dia [ ] CRIMP [ ] Centro de convivência [ ] Outros ______________________________________________________________ 6. Sua família está incluída em algum programa social? Sim [ ] Não [ ] No caso de sim, Quais: _______________________________________________ 7. Sua família é usuária da rede dos serviços de saúde? Sim [ ] Não [ ] 8. Sua família possui todos os documentos pessoais? Sim [ ] Não [ ]

61 No caso não, Quais:___________________________________________________ 9. O que você sabe sobre turismo?________________________________________ 10. Você acha que o turismo traria algum benefício para a população indígena? Sim [ ] Não [ ] Porque?_____________________________________________________________ 11. Já participou de alguma atividade relacionada com o turismo na comunidade? __________________________________________________________________________ 12. Você acha que o turismo te influenciaria em mudanças culturais?Quais? __________________________________________________________________________ 13. Já ouviu falar em turismo comunitário e turismo sustentável? O que? 14. De que forma você gostaria de contribuir com a atividade turística na aldeia? 15. Há quanto tempo mora na Aldeia?_________________________________________________ 16. Já participou de palestra/reunião relacionados com turismo?____________________________ 17. Quais atrativos da aldeia [naturais/culturais] você acha que poderiam ser mostrados aos turistas?________________________________________________________________________ 18. Gostaria de receber visitantes na comunidade?_______________________________________ 19. Qual a diversão da comunidade?__________________________________________________

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Apêndice C: Letras do Toré 01 . Sou potiguara nessa terra de Tupã Tenho uma arara caraúna e xexeu, Todos passaram do céu, Quem me deu foi tupã foi tupã foi tupã, Sou potiguara...(2x) 02 . Potiguara é guerreiro, potiguara é quem vai guerrear (2x) Guerreia na terra guerreia no mar, potiguara é quem vai guerrear. (2x) 03 . Caboclinha da jurema eu dancei no seu toré Para me livrar das flechas dos tapuios aos canindé (2x) Rei canindé, oh Rei canindé, palmas de jurema ao rei Canindé. 04 . Chamo as caboclas de pena, eu chamei elas pra vim me ajudar (2x) Cadê a força da jurema, cadê a força que a jurema dá (2x) Oh cabocla de pena (2x) Tem pena de mim tem dó Oh cabocla de pena (2x) Tem pena de mim tem dó. 05 . Oh mãe de Deus, oh rei dos mares (2x) Oh mãe de Deus minha mãe soberana (2x)

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Reina, reina, reina, reina, reoua. (2x) 06 . O galo cantou o dia amanheceu (2x) Quem chegou aqui agora quem chegou foi eu (2x) Eu tava na jurema pra que me mandou me chamar (2x) Quem chegou aqui agora quem chegou foi eu (2x) 07 . Tava sentado na pedra fina o rei dos índios mandou chamar Cabocla índia, índia guerreira, cabocla índia no juremá (2x) Com meu bodoke sacudo flecha, com meu bodoke vou atirar (2x) Cabocla índia, índia guerreira, cabocla índia no juremá (2x) 08 . Estava la na mata vaquejando, índio guerreiro passou me chamando (2x) Oi pisa, oi pisa, oi pisa, oi pisa devagar Oi pisa devagarzinho na folha do juremá. 09 . Tem, tem, tem, lá na nossa aldeia tem (2x) Tem índio na aldeia que não teme a ninguém (2x) Na mata do sabiá canta rola e jurití (2x) Quem não gosta de índio o caminho é por ali. (2x) Fonte: Índios Potiguara

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Apêndice D: Pinturas Potiguara e seus significados Folha da jurema / Significado: espiritualidade

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Malha da cobra / Significado: proteção

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Linhas horizontais / Significado: Garapirá (pássaro grande)

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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Apêndice E: Acessórios produzidos pelos indígenas Potiguara

Borduna

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Saiote

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Pulseiras de sementes de açaí

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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Brinco de pena

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Cocar feminino também chamado de tiara

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Colar semente de linhaça

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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Apêndice F: Ocas

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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Apêndice G: Entrevistas e aplicação de questionários na Aldeia São Francisco

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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Apêndice H: Participação no Encontro Indígena

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: LOOKS, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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Apêndice I: Participação no dia das crianças

Fonte: CÂNDIDO, 2016

Fonte: CÂNDIDO, 2016

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