IMPLEMENTAÇÃO DA COLETA SELETIVA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR (UNIFESP, CAMPUS DIADEMA)

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CONGRESSO NOVOS DIREITOS Cidades em crise? 5, 6 e 7 de março de 2015. IMPLEMENTAÇÃO DA COLETA SELETIVA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR (UNIFESP, CAMPUS DIADEMA) LETICIA MOREIRA VIESBA Unifesp Diadema, São Paulo [email protected] JOSÉ GUILHERME FRANCHI - Orientador Unifesp Diadema, São Paulo [email protected] RESUMO Segundo a lei federal 12.305/2010, que institui a Politica Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil, o destino final dos resíduos sólidos gerados no país é de responsabilidade dos fabricantes, fornecedores, distribuidores e consumidores, tornando a responsabilidade pela sua destinação algo que deve ser compartilhado entre todos. O campus Diadema da Unifesp conta com uma comunidade de cerca de 3 mil pessoas, podendo ser considerado como um grande gerador de resíduos, assim justificando o Programa Unifesp Recicla, que tem como objetivo principal a destinação correta dos resíduos gerados no campus. Para tanto, o projeto promoveu levantamentos qualitativos e quantitativos dos resíduos gerados para construir propostas de adequações na disposição das lixeiras coletoras, de modo que os resíduos passiveis de reciclagem fossem convenientemente separados e tivessem a possibilidade de ser destinados a uma cooperativa de reciclagem da cidade. Com o levantamento qualitativo foi possível obter uma lista dos resíduos comumente gerados: embalagens de bolachas, salgadinhos, caixas de suco, guardanapos, caixas de papelão, restos de frutas e comida, e, principalmente, papel, compreendendo sulfite e folhas de caderno. Inicialmente, esta iniciativa resultou pouco eficaz e reavaliações posteriores levaram à implementação de um novo modo de disposição das lixeiras, bem como de suas respectivas denominações: reciclável/orgânico/papel. Levantamentos quantitativos foram realizados posteriormente a esta alteração e demonstraram resultados melhores, onde apenas

CONGRESSO NOVOS DIREITOS Cidades em crise? 5, 6 e 7 de março de 2015. 20% dos resíduos, em média, vem sendo separados de modo incorreto, com resíduos orgânicos misturados aos recicláveis. Notou-se grandes dificuldades na implementação deste projeto, concluindo-se que eles necessitam ser contínuos, e sempre procurar abordar métodos diferentes de sensibilização para obter a conscientização da comunidade. Palavras-chave: Coleta Seletiva, IES, Cooperativas, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Educação ambiental. INTRODUÇÃO Como solução a um dos principais problemas das áreas urbanas das cidades o lixo - foi sancionada em 2010, a Lei 12.305 da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que impõe uma melhor destinação para os resíduos gerados, incentivando a atuação de cooperativas de catadores de materiais recicláveis, de modo a contribuir à geração de renda para cooperativas e cooperativados, além de evitar a contaminação do solo com resíduos perigosos e a disseminação de doenças, aumentando diretamente a vida útil dos aterros sanitários. A lei tinha como meta a erradicação do uso dos lixões no Brasil até agosto de 2014; vencido esse prazo, fica evidente a preocupação quanto à diminuição dessa prática bem como o aumento de disposições alternativas, também previstas na lei. Segundo o panorama da ABRELPE de 2013, cerca de 41,7% dos resíduos gerados no Brasil ainda têm uma destinação ambientalmente incorreta, seja para lixões, seja para aterros controlados, enquanto os 58,3% restantes vão para os aterros sanitários, locais que possuem adequações para prevenção de doenças e problemas ambientais. É previsto pela lei, como solução prioritária à gestão do lixo, a redução na sua geração via diminuição do consumo, prioridade que deve ser seguida pelo seu reaproveitamento, e, como última opção antes de sua destinação final, a reciclagem, através de mecanismos de logística reversa, de modo que o material constituinte dos resíduos seja reaproveitado mesmo que para fins diferentes dos iniciais. Essa última, portanto é a mais discutida e que a Lei dá mais alternativas de implantação, como o incentivo financeiro à construção e funcionamento das cooperativas de reciclagem. As cooperativas têm um importante papel social e ambiental, gerando emprego e renda para inúmeras pessoas, muitas das quais se encontravam em situação de risco social antes de associarem-se, além de propiciar o aumento da vida útil dos resíduos; são o instrumento por excelência para fazer os resíduos retornarem à cadeia de produção por meio da coleta, separação e fornecimento de matéria prima

CONGRESSO NOVOS DIREITOS Cidades em crise? 5, 6 e 7 de março de 2015. secundária para a indústria (SOUZA et al., 2012). A lei prevê ainda, em seu artigo 30, a responsabilidade compartilhada da destinação final ambientalmente correta dos resíduos gerados: “Art. 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.” Como grande gerador de resíduos, a Unifesp, campus Diadema, entende a sua responsabilidade quanto à destinação correta dos resíduos sólidos gerados por sua comunidade de cerca de 3 mil pessoas entre discentes, docentes e funcionários. Constituída pelo Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas, apresenta um forte viés ambiental, possuindo diversos cursos que abrangem essa área, tais como Ciências Ambientais, Ciências Biológicas, Química, Engenharia Química, Química Industrial e Farmácia, tornando evidente seu compromisso com a sociedade de se mostrar exemplo quanto à destinação correta de seus resíduos. Por sugerir uma forte mudança de hábitos, sabe-se ser um grande desafio. Segundo Zaneti & Sá (2002), a educação é um instrumento básico e indispensável para alcançar a sustentabilidade, favorecendo, assim, o local de atuação do projeto: tratando-se de uma universidade, espera-se que a comunidade se comprometa e colabore com a sua ideia, bem como com as obrigações constantes na Política Nacional de Resíduos Sólidos. A cidade de Diadema não possui um serviço de coleta seletiva municipal, o que seria ideal para suprir a demanda da cidade: a prefeitura apenas incentiva a continuação do trabalho das cooperativas que existem na cidade. A maior delas é a COOPERLIMPA, com cerca de 24 cooperativados, com arrecadação média de 60 a 70 toneladas de material reciclável por mês provenientes de empresas e órgãos públicos. OBJETIVO O presente estudo teve como objetivo propor a coleta seletiva em uma universidade, seguido da análise dos processos necessários à sua implementação por meio de levantamentos qualitativo e quantitativo dos resíduos gerados e separados, além de uma proposta de destinação diferente da então utilizada: os aterros sanitários.

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DESENVOLVIMENTO Diversas entrevistas foram realizadas com os funcionários da limpeza, do setor administrativo, estudantes, e professores para construção de um levantamento qualitativo, além, ainda, da Prefeitura de Diadema e da Cooperlimpa, para verificar a possibilidade e operacionalidade de destinação correta desses resíduos. Os funcionários da limpeza do campus revelaram-se grandes protagonistas no projeto uma vez que são os executores de todo o processo de recolha, armazenamento e descarte dos resíduos gerados: centralizando a oferta de informações, uma vez que têm contato direto tanto com as lixeiras, alunos, e também com o setor administrativo, eles contribuíram para a consolidação de todas as partes do projeto, desde os levantamentos até a avaliação final, sempre contribuindo com novas informações e sugestões. A partir das informações obtidas neste levantamento qualitativo preliminar foi sugerida uma redisposição das lixeiras de coleta dos resíduos de modo a permitir, através da uma correta separação, que os resíduos passíveis de reciclagem pudessem ser enviados para uma cooperativa, e os orgânicos, gerados em menor quantidade, fossem destinados, neste primeiro momento do projeto, à coleta comum da prefeitura, cujo destino final é o aterro sanitário. O levantamento quantitativo é realizado periodicamente, por meio de um procedimento gravimétrico, utilizando-se de uma balança portátil de precisão 0,5kg , método que determina o percentual de cada tipo de material em relação ao todo (SOUZA & GUADAGNIN, 2009). Esse método auxilia na avaliação periódica do projeto quanto à participação correta da comunidade na separação dos resíduos, auxiliado de documentação fotográfica para divulgação e observações da equipe de limpeza. RESULTADOS Com as entrevistas realizadas com a equipe da limpeza, corpo docente e discente, pôde-se obter uma listagem dos tipos de resíduos comumente gerados no campus Diadema da Unifesp; os resíduos laboratoriais químicos e biológicos perigosos, gerados tanto nas aulas de graduação quanto nas atividades de pesquisa, não foram contemplados no presente projeto, e são de gestão levada a efeito por uma comissão constituída no campus especificamente para tal; mesmo os resíduos comuns gerados nos laboratórios (guardanapos de papel, em sua maioria), por terem a chance de estar contaminados com algum resíduo químico ou perigoso, ou ainda estar misturado por engano com qualquer objeto perfuro cortante, foram

CONGRESSO NOVOS DIREITOS Cidades em crise? 5, 6 e 7 de março de 2015. excluídos do presente projeto. Nas salas de aula e nos restaurantes universitários, os resíduos gerados são embalagens de bolachas, salgadinhos, caixas de suco, guardanapos, caixas de papelão, restos de frutas e comidas e, principalmente, papel sulfite e folhas de caderno. Por meio das entrevistas também foi possível identificar quais, dentre as quatro unidades acadêmicas do campus, são as que geram maior quantidade de material passível de reciclagem, de modo a limitar-se as ações do projeto, inicialmente, a apenas duas das unidades. O sistema de disposição de lixeiras existente não favorecia a separação dos resíduos, pois contava com uma lixeira no interior de cada sala de aula, o que induzia os alunos a dispor ali todos os tipos de resíduos de forma misturada e sem possibilidade de separação posterior. Assim, a sugestão do projeto foi tirar todas as lixeiras das salas de aula e formar kits (Figura 1) distribuídos apenas nos corredores e outras áreas comuns, com as separações individualizadas em: seco/úmido/papel. Os resíduos seriam, assim, separados entre aqueles passiveis de reciclagem (seco/papel) e os orgânicos (úmido), preservando os papeis para que não molhassem, o que prejudicaria o seu valor comercial.

Figura 1. Disposição das lixeiras: seco/úmido/papel

Os resultados iniciais desta primeira reformulação foram desanimadores. Os alunos tiveram dificuldade em separar os resíduos, visto que isso deriva de uma mudança de hábitos intensa: o lixo nunca foi convenientemente separado no campus, apesar da existência de lixeiras com as denominações de plástico/vidro/papel/orgânico, uma vez que sempre tiveram como destino final a coleta comum do serviço municipal, o que resultou na falta de credibilidade por parte da comunidade neste projeto. Outras dificuldades residiram na própria equipe de limpeza que, em algumas ocasiões, ainda procedia como anteriormente, ou seja, juntava os resíduos, mesmo quando esses já estavam separados em suas

CONGRESSO NOVOS DIREITOS Cidades em crise? 5, 6 e 7 de março de 2015. tipologias, dispondo-os para a coleta comum do serviço municipal; mesmo a cooperativa, que tinha o compromisso de vir buscar os resíduos já separados, por problemas internos de infra estrutura, atrasava a sua retirada, o que gerava acúmulo, mau cheio e até proliferação de mosquitos (Figura 2).

Figura 2. Acúmulo de sacos com resíduos passíveis de reciclagem.

Frente a estes resultados negativos iniciais, algumas alterações foram promovidas no projeto. Resolveu-se que as nomenclaturas das lixeiras deveriam ser modificadas para “recicláveis/orgânicos/papel” (Figura 3), buscando maior facilidade no entendimento pela comunidade, além de novos cartazes, coloridos e com colagem dos respectivos materiais a ser dispostos, servirem de legenda para as lixeiras; atividades de educação ambiental tanto dentro de sala de aula como por meio de exposições fotográficas (Figura 4) também foram realizadas, além de aulas de capacitação e esclarecimentos junto à equipe de limpeza, mostrando a importância do projeto como instrumento de atenção à lei e de incentivo ao crescimento de cooperativas de reciclagem. Em relação à cooperativa foram realizados novos contatos e acompanhamento contínuo quanto à retirada dos resíduos. Deve-se destacar que o projeto trouxe ao campus uma exposição fotográfica abordando a “face anônima da Reciclagem”, com fotografias tomadas pelo fotógrafo Roberto Lajolo tanto no ambiente de trabalho de catadores de materiais recicláveis quanto em treinamentos a eles oferecidos durante o projeto Eco Eletro (manuseio e separação de lixo eletrônico), de iniciativa do Instituto GEA Ética e Meio Ambiente, com patrocínio da Petrobrás.

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Figura 3. Nova disposição das lixeiras: reciclável/orgânico/papel

Figura 4. Exposição de fotos “A faca e a rosa”, de Roberto Lajolo

O levantamento quantitativo foi realizado depois dessa mudança e mostrou resultados muito melhores, como demonstrado na Tabela 1. Resíduos Papel e papelão Isopor Plástico duro Plástico mole Embalagens de tetrapak Alumínio Restos orgânicos

Porcentagem 34% 5% 20% 10% 5% 5% 21%

Tabela 1. Gravimetria dos resíduos gerados no campus

Como se pode observar nesta tabela, os resultados tornaram-se bastante positivos, onde apenas 21% dos resíduos analisados contavam com restos orgânicos, tendo, assim, que ser descartados, enquanto o restante foi corretamente segregado, encontrando, pois, possibilidade de ser encaminhado para a cooperativa.

CONGRESSO NOVOS DIREITOS Cidades em crise? 5, 6 e 7 de março de 2015. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se concluir que a importância de projetos como esse reside, além do cumprimento de obrigações legais, em promover socialmente uma parcela significativa de cidadãos, que podem se encontrar em situação de risco social, com a possibilidade de geração de emprego, renda e cidadania através da atividade da reciclagem. Adicionalmente, revela-se como uma iniciativa eficiente e sem gastos extras para implementação, que traz resultados benéficos ao meio ambiente. É importante ressaltar a complexidade de sua implementação, uma vez que isso exige esforços para a mudança de hábitos da comunidade, sendo necessárias fortes ações de educação ambiental para conscientização. Evidenciou-se, ainda, a necessidade de serem esforços contínuos, onde avaliações e novas ações necessariamente deverão ser repensadas, principalmente numa instituição de ensino, onde a comunidade é renovada pela constante entrada e saída de alunos todos os anos, fazendo necessárias abordagens contínuas sobre o assunto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE. (2013) Panorama do resíduos sólidos no Brasil – 2013. São Paulo. ABRELPE/ISWA, 114 p. BRASIL. Lei 12.305 de 02/8/2010. Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da União, seção 1, Brasília, 03/8/2010. SOUZA, G. C.; GUADAGNIN, M. R. Caracterização quantitativa e qualitativa dos resíduos sólidos domiciliares: o método do quarteamento na definição da composição gravimétrica em Cocal do Sul-SC. In: Seminário Regional Sul de Resíduos Sólidos, 3, Caxias do Sul, 2009. Anais. Anais do III Seminário Regional Sul dos Resíduos Sólidos, 2009. SOUZA, T, S; PAULA, M, B; SOUZA-PINTO, H. O papel das cooperativas de reciclagem nos canais reversos pós-consumo. RAE - Revista de Administração de Empresas, vol. 52, núm. 2, março-abril, 2012, pp. 246-262, Fundação Getulio Vargas, Brasil ZANETI, I. C. B. B.; SÁ, M. L. M. B. A educação ambiental como forma de mudanças na concepção de gestão dos resíduos sólidos domiciliares e na preservação do meio ambiente. In: Encontro Associação Nacional de Pós

CONGRESSO NOVOS DIREITOS Cidades em crise? 5, 6 e 7 de março de 2015. Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, Indaiatuba, SP, 2002. Anais. Anais I Encontro Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, 2002

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