Importância relativa das Acções Antrópicas e Naturais no Recuo da Linha de Costa a Sul de Vagueira

June 3, 2017 | Autor: João Dias | Categoria: Coastal Processes, Coastal Erosion, Coastline Retreat
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Ferreira, Ó., Dias, J. A. & Taborda, R. (1990) - Importância relativa das Acções Antrópicas e Naturais no Recuo da Linha de Costa a Sul de Vagueira. Actas do 1º Simpósio sobre a Protecção e Revalorização da Faixa Costeira do Minho ao Liz, p. 157-163, Porto.

COMUNICAÇÃO 16

IMPORTÂNCIA REIATIVA DAS ACÇÕES ANTRÓPICAS E NATURAIS NO RECUO DA LINHA DE COSTA A SUL DE VAGUEIRA •

FERREIRA, Óscar; ALVEIRINHO-DIAS, J.; TABORDA, Rui Bolseiro do Projecto DISEPLA, Instituto Hidrográfico, Bolseiro do FSE

Resumo O uso dos pressupostos do modelo de Bruun, conjuntamente com uma curva polinomial ajustada ao perfil de praia e pré-praia, permitiu determinar o recuo da linha de costa devido à subida relativa do nível médio do mar, para os 5 quilómetros a Sul da Vagueira. Esse recuo é de 0,3m/ano, o que representa cerca de 10% do recuo médio da linha de costa (3,3m/ano) ocorrido nesse troço costeiro. Os restantes 90% sao atribuidos à deficiência de sedimentos, a qual deriva da intervenção humana sobre o litoral, nomeadamente pela instalação de molhes (Aveiro) e esporões (Costa Nova e Vagueira).

Abstract The supositions of the Bruun model, together with a polynomial curve fitted to the nearshore profile, allowed the computation of the shoreline retreat induced by mean sea-level rise. This shoreline retreat is near 0.3m/y in the 5 kilometers South of Vagueira. This retreat value represents only 10% of the actual shoreline retreat of the study area, which have a mean value of 3.3m/y. The remaining 90% are due to the lack in sediments which is attributed to Human impacts, namely by the action of jetties and groins constructed updrift.

*

Contribuição n2 A13 do Projecto DISEPLA Sedimentar da Plataforma Continental a Norte de subsidiado pela JNICT (projecto n2 87 259).

157

(Dinâmica Peniche),

1. INTRODUÇÃO A maíor parte das zonas costeíras mundíaís tem apresentado tendêncía regressíva acelerada, nas últímas décadas. O litoral português, de uma forma geral, não é excepção a essa tendência. Ao longo do troço costeíro compreendido entre a foz do Rio Liz e a foz do Rio Minho verificam-se elevadas taxas de recuo da linha de costa. são exemplos os recuos registados na Mata do Camarido, de 8m/ano entre 1949 e 1974 (1], em Espinho, com 9m/ano entre 1885 e 1910 (2) e na Costa Nova, onde essa taxa ascendeu a 10m/ano [2]. O recuo da linha de costa entra , por vezes , em conflíto com a ocupação humana do litoral, do que tem resultado a destruição de bens materiais e sociais importantes, bem como o gasto de avultadas quantias com vista à preservação das edificações situadas à beira-mar.

Urge, portanto, obter um conhecimento maís detalhado das causas responsáveís por tais recuos, bem como determinar qual a influência antrópica nos mesmos. Só assim será possível tomar medidas que minimizem os efeítos do recuo da línha de costa sobre as populações vízinhas, sem que para isso seja necessárío recorrer à destruição das praias arenosas exístentes, substituindo-as por pesadas obras de engenharia costeira, tais como esporoes e paredÕes. O objectivo principal deste trabalho é o de determinar a importância relativa das acções antrópicas versus as acçoes naturais no recuo da linha de costa, no caso específico das praias situadas nos 8 quilómetros imediatamente a Sul da Vaqueira. O método aqui adoptado para a concretização dos obj ectivos propostos tem como base os pressupostos do modelo de Bruun [3] e a utilização de uma curva ajustada a perfis de praia e pré-praia da região em questão. Este método, desenvolvido por Ferreira et al . [ 4], é de aplicação relativamente fácil e poderá ser utilizado na maioria das praias arenosas, desde que existam levantamentos hidrográficos pormenorizados e dados hi stóricos que permitam o cálculo do recuo da linha de costa . 2 . A AREA DE ESTUDO

O troço litoral que comporta os 5 quilómetros a Sul da Vagueira (figura 1) é constituido por praias arenosas cujo limite oriental é uma arriba de erosão, talhada nas dunas. O recuo dessa arriba, determinado com base em fotografias aéreas e cartografia pormenorizada foi, em média, de 3,3m/ano nos últimos dez anos [5], tendo-se registado pontualmente recuos da ordem dos 6,9m/ano (figura 2). A resultante global anual da deriva litoral nesta área é de Norte para Sul, sendo o volume de sedimentos transportados através de um troço perpendicular à praia da ordem dos 10 6 m3 /ano [ 6] .

Imediatamente

a

Norte

do

início

158

do

troço

litoral

FIGURA 1 - Localização da área estudada.

RECUO IW.t.NOI

5

o

1-l....L-L....1..-'-'.....1.....L...1.-'-J....J....1..,.JL..-'.-4-

V).GtJEil!A

+ ESPORÃO

1000

2000

.3000

FIGURA 2 - Recuo da linha de costa a Sul da Vagueira.

159

considerado localiza-se o esporao da Vagueira, o qual é responsável por acumulação arenosa a Norte e deficiência de sedimentos a Sul (jusante relativamente à deriva litoral). Também os esporões da Costa Nova e o molhe norte do porto de Aveiro são responsáveis pela retenção de sedimentos, os quais iriam alimentar a área de estudo. 3. O MÉTODO O método utilizado neste trabalho tem corno objectivo o cálculo do recuo da linha de costa devido à subida gradual do nível médio do mar. Para isso é necessário tomar em consideração os pressupostos do modelo de Bruun, que são: a) O perfil conjunto de praia e pré-praia mantém a sua forma de equilíbrio com a subida do nível do mar, não sendo englobadas pequenas variações, tais como as modificações sazonais. b) A uma subida do nível deslocamento do perfil, para terra.

do

mar

corresponde

um

c) O topo do perfil é erodido com a subida do nível do mar, ao mesmo tempo que ocorre acumulação desses sedimentos na parte final do perfil, mantendo-se as profundidades constantes. Assim, o volume de sedimentos erodidos é igual ao volume de material depositado. d) o balanço entre sedimentos fornecidos perdidos longilitoralmente é nulo .

e

sedimentos

Considera-se, ainda, que as causas responsáveis pelo recuo da linha de costa são a subida relativa do nível do mar e a deficiência na alimentação das praias em sedimentos. Esta suposição é válida, pois que a erosão resultante de uma qualquer causa que não estas (por exemplo, por efeito de tempestades) apenas se mantém caso o fornecimento de sedimentos não seja suficiente para repôr a praia no seu estado anterior. Determinou-se a fórmula do perfil de equilíbrio de praia e pré-praia, para a zona compreendida entre Costa Nova e Quiaios. Esse perfil corresponde à curva de melhor ajuste a 37 perfis batimétricos, perpendiculares à linha de costa, obtidos em Maio e Junho de 1987. Obteve-se uma curva polinomial de 3g grau, a qual apresenta 94\ de correlação com os dados de campo (figura 3). A sua fórmula é a seguinte: (1)

o cálculo do recuo da linha de costa é determinado recorrendo ao cálculo seguinte, o qual traduz os pressupostos do modelo de Bruun (figura 4): ( 2)

160

(m)

1

-e

_ , 1

o

1 .•

e

2

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ex

1000>

(m)

FIGURA 3 - Curva de melhor ajuste ao perfi l combinado de praia e pré-praia.

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IP

q

4A

IP

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'

......

......

...._ -....2lAI

R

48 ·

FIGURA 4 - Representação do método. A figura 4A mostra a translacção do perfil associada a uma subida do nível do mar. A figura 4B mostra a subida do nível do mar, sem recuo da linha de costa.

161

g (x)=f (x ) +1 representa a subida unitária do nível do mar, sem recuo; R é o recuo da linha de costa; q e p são, respectivamente, os limites do perfil no mar e em terra; h=g(p); K=f(q)+1 representa uma translacção dos perfis na vertical, possibilitando que todos os cálculos se efectuem no primeiro quadrante; E é um erro que é necessário subtrair a f(x)+K+hR, por forma a que as áreas erodidas e acrecionadas calculadas tenham igual valor. &=h (p-8 )-I:f (x ) ,

(3)

onde B é o valor de x quando f(x) =h . 4. RESULTADOS E CONCLUSÕES Considerando a subida média do nível do mar em Portugal, que é de cerca de 1,Smm/ano [7], e aplicando o método atrás descrito, determinou-se que essa subida é responsável por um recuo da linha de costa médio de 0,3m/ano, para as praias localizadas na zona de estudo. Este valor é nitidamente inferior ao recuo médio anual determinado para a área em causa, o qual é de 3,3m/ano . Constatase, então, que o recuo da linha de costa derivado da subida gradual do nível do mar corresponde apenas a cerca de 10% do recuo real da linha de costa, na última década, para o troço litoral em questão . Os restantes 90% do recuo médio verificado são à deficiência de sedimento, a qual do efeito de retenção de sedimentos exercido pelos molhes de Aveiro, bem como pelos esporões situados na Costa Nova e na Vagueira. O fornecimento de materiais para a praia é, então, o factor determinante da evolução da linha de costa considerada, pelo que facilmente se conclui que a acção antrópica é responsável directa pela grande maioria do recuo da linha de costa registado nos 5 quilómetros a Sul da Vagueira. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Instituto Hidrográfico , na pessoa do seu Director, a cedência das minutas de sonda sem as quais nao seria possível a realização deste trabalho. Agradecem ainda ao Prof. Costa Almeida o fornecimento de "software" para tratamento dos dados. 6. REFER!NCIAS [1] - Serviços de Estudo do Ambiente, "Mata do de zonamento" , Lisboa , 1978.

Camarido-proposta

[2) - Oliveira, I., Valle, A. & Miranda, F. , "Littoral problems in the portuguese west coast", Coastal Engenieering Proceedings, vol. III, p. 1951-1969, 1982.

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[3 ] - Bruun, P., "Sea-level rise as a cause of shore erosion", J ournal of waterways and Harbors Division, v. 88, ww1, 1962. [ 4] - Ferreira, O., Dias, J. & Taborda, R., "Sea-level rise, s ediment input and shoreline retreat: the case of AveiroCabo Mondego (Portugal ) ", Symposium Littoral 1990 , Marseille, em publicação. [5 ] - Ferreira, O. & Dias, J . , "Coastal structures and shoreline retreat: the case of the portuguese coast North of Nazaré", Journal of Coastal Research, submetido. [ 6]

- Castanho,

Gomes, N. I Carvalho, J., Vera-Cruz, D., J •I of Araújo, Q • 1 Teixeira, A. & Weinholtz, M., "Means dunes, controlling littoral drif t to protect beaches, of estuaries and harbour entrances. Establishement artificial beaches", Memória do LNEC n2 448, Lisboa, 1974.

[7] - Dias, J. & Taborda, R., "Evolução recente do nível médio do mar em Portugal", Anais do Instituto Hidrográfico, Lisboa, em publ icação.

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