Imprensa brasileira: a rotativa que não pára

July 4, 2017 | Autor: Melissa Lucchi | Categoria: História Da Imprensa, Imprensa em Portugal
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Imprensa brasileira: a rotativa que não pára


No longínquo ano de 1548, um alvará de Dom João III autoriza um contrato
com impressores da Universidade de Coimbra. É o exame pré-natal da imprensa
portuguesa. No Brasil, pelos idos de 1808, começa a atuar a Impressão
Régia. Órgão português encarregado da fiscalização das publicações, permite
a circulação de dois jornais: Gazeta do Rio de Janeiro e Idade D´ouro do
Brasil, veículos a serviço de Portugal.
O Brasil, país-colônia português, está dominado econômica, política e
ideologicamente. O primeiro veículo nacional de contestação ao regime
português tem boa índole: é crítico, antiabsolutista e defende a
democracia. O Correio Braziliense ou Armazém Literário surge em 1808 e tem
seus exemplares proibidos, apreendidos e quase condenados ao "fogo do
inferno". Ler esse jornal era violar a lei.
Apesar de a imprensa ter chegado primeiro a Portugal, a distribuição dos
jornais era similar. Negros e pobres iam em carroças levar as assinaturas
de casa em casa. A Província de São Paulo era distribuída por um menino
montado num cavalo com uma buzina, conforme o livro 'Jornal, História e
Técnica', de Juarez Bahia.
Depois surgem os pontos de venda, que realizam um "intercâmbio cultural".
Os jornais locais eram vendidos nos quiosques de Portugal e os de Portugal
nos daqui. Tinham um pouco de tudo: jornais, arranjos de flores, cigarros,
doces e variedades em geral. As bancas fixas só vão surgir no século XX,
ensina Bahia.
Vários jornais tiveram vida curta no Brasil. Uns por ser de oposição à
Coroa. Outros por dificuldades econômicas agravadas pelo alto custo do
papel e pelas impressoras rústicas. Jornais irônicos, que mal passavam da
2ª edição, como O Buscapé e O Enfermeiro dos Doidos, eram ideológicos, como
quase todos os veículos na época do Império no Brasil. Em Portugal havia
liberdade de imprensa na teoria e na prática, mas a maioria dos veículos
relatava atos oficiais do governo português.
Dois grandes impressos dessa época, que circulam até hoje, tendo grande
expressão, são O Estado de São Paulo, no Brasil, e o Jornal de Notícias, em
Portugal. O Estadão surgiu em 1975 com o nome "A Província de São Paulo".
Procurava não criar atritos com o governo. Suas reivindicações eram a nível
nacional. Pregava liberdade, igualdade de culto e separação Igreja/Estado.
Destinado às classes A e B, tem formato standard (o chamado "padrão" no
Brasil).
O Jornal de Notícias surge em 1888, em Lisboa, e atinge as classes
privilegiadas. De estilo tradicional e sóbrio, adota atualmente o formato
de tablóide alemão, o maior em dimensões (centímetros) dos tablóides
europeus.
Na ditadura Vargas, a censura exercida pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) fazia com que veículos brasileiros buscassem alternativas
para não desaparecer. Com um censor sempre à porta das redações, a maioria
resolveu aperfeiçoar-se: rotativas mais ágeis, reformas no conteúdo, no
formato. Em Portugal, um decreto de 1934 extingue os serviços da
Universidade de Coimbra. Só em 1989 a imprensa da universidade é recriada.
A dificuldade de ascensão da Imprensa brasileira não se deve só à censura
de Portugal. Com a independência conquistada, foi vítima de governantes
despóticos, períodos de inconsistência governamental, como o Regencial, e
do troca-troca de militares no poder. Além de importarmos papel e
tecnologia.
A maior prova da vitória da imprensa brasileira está no jornalismo
contestador, que herdou as tradições do liberalismo político e das lutas
sociais. Esse que sobrevive na pequena imprensa, nos órgãos alternativos
que insistem em não sucumbir.

Publicado no Jornal 'A Tribuna' (ES), coluna 'Tribuna Livre' em 27/03/2001
e na Revista Capixaba Agora, edição de nov./dez.2001.
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