Imprensa e Comércio de Arte Sacra na Belle Époque paulista: das Casa de Paramentos, Marmorarias e Liceus à Casa Marino Del Favero

June 14, 2017 | Autor: Cristiana Cavaterra | Categoria: ESCULTURA, Arte sacra, Retábulo, Ecletismo, Marino Del Favero
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IMPRENSA E COMÉRCIO DE ARTE SACRA NA BELLE ÉPOQUE PAULISTA: DAS CASAS DE PARAMENTOS, MARMORARIAS E LICEUS À CASA MARINO DEL FAVERO Cristiana Antunes Cavaterra IA-UNESP – [email protected]

RESUMO Grandes mudanças políticas, sociais, religiosas e imigratoriais surgem no país no final do oitocentos, modificando a arquitetura e decoro das Igrejas Católicas paulistas com a introdução do ecletismo, através de um comércio de arte sacra caracterizado pela importação de imagens sacras europeias, marmorarias especializadas na importação, montagem e posterior confecção de retábulos e esculturas produzidas com mármore italiano e a fundação em 1893 da oficina especializada em madeira esculpida, marmorizada e dourada, de propriedade do imigrante italiano Marino Del Favero, que atuará durante meio século, transformando sua oficina em uma pequena indústria pioneira na industrialização da arte sacra. Este trabalho é parte da dissertação sobre a vida e obra do escultor e entalhador Marino Del Favero, que será apresentado ao Instituto de Artes da UNESP, sob a orientação do Prof. Dr. Percival Tirapeli para a obtenção do título de Mestre em Artes. PALAVRAS-CHAVE Marino Del Favero. Arte sacra. Ecletismo. Escultura. Retábulo.

RESUMEN Los grandes cambios políticos, sociales, religiosos e migratorios surgen en el país a finales de mil ochocientos, cambiando la arquitectura y decoración de las Iglesias Catolicas de San Pablo con la introducción del eclecticismo, a través de un comercio de Arte Sacro que se caracteriza por la importación de las imágenes sacras europeas, marmolerías especializadas en la importación, montaje y posterior confección de retablos y esculturas hechas con mármol italiano y la fundación en 1893 del taller especializado en madera tallada marmolizada y de propiedad del inmigrante italiano Marino Del Favero, que ejercerá durante medio siglo convirtiendo su taller en una pequeña industria pionera en la industrialización del arte sacro. Este trabajo es parte de la disertación sobre la vida y obra del escultor y tallista Marino Del Favero, que será presentado al Instituto de Artes UNESP, bajo la dirección del Prof. Dr. Percival Tirapeli para obtener el título de Maestro en Artes. PALABRAS CLAVE Marino Del Favero. Arte sacro. Eclecticismo. Escultura. Retablo.

1. Notas introdutórias O último quartel do século XIX no Brasil foi marcado por grandes mudanças na sociedade civil e religiosa brasileira, entre estas, as grandes imigrações europeias, majoritariamente de italianos a partir de 1870, a abolição da escravatura em 1888, o advento da República proclamada em 1889, as modificações eclesiásticas do final do século XIX, e significativas alterações na arquitetura e decoro das Igrejas Católicas paulistas que se tornam presentes com a introdução do ecletismo que pouco a pouco substituirá a “arte sacra colonial”, marcada pelo barroco e rococó e posterior neoclassicismo do período imperial de gosto antiquado. 1157

Neste período de grandes imigrações, a arte sacra paulista será contemplada com a presença de muitos artistas de origem europeia que deixarão suas obras escultóricas e retabulísticas produzidas em mármore e madeira, muitas vezes anonimamente ou sob a firma de grandes marmorarias e oficinas da capital paulista. Na virada do século XX, a imprensa e as gráficas locais serão importantes difusores destes artistas e suas obras, tornando-se fontes primárias fundamentais para o estudo da arte sacra neste período.

2. O comércio de arte sacra na Belle Époque paulista: Neste período de grandes mudanças na Igreja Católica, o crescimento da população paulista e um número crescente de imigrantes, além da instalação de novas paróquias tanto na capital como em todo o interior paulista,

também os

templos religiosos passam a ser modificados com a introdução do ecletismo que em breve tempo substituirá o barroco, rococó e neoclassicismo das edificações religiosas e seu decoro. Enquanto na arquitetura religiosa as igrejas eram modernizadas com a introdução de elementos ecléticos ou surgiam novas edificações de gosto europeizante, na ornamentação interna destas igrejas, muitos retábulos barrocos e rococós são substituídos por outros confeccionados em mármore importados sobretudo da Itália, com características clássicas ou neogóticas. Imagens sacras do mesmo período, quando não recebem camadas de repintura lisa, clara e livre de adornos, são substituídas por imagens de madeira ou gesso policromado de gosto classicista importadas maioritariamente da França e Áustria pelas mais famosas casas de artigos religiosos do Rio de Janeiro e São Paulo. No Rio de Janeiro, a Casa Sucena, sediada na Rua da Quitanda, nº 101, foi possivelmente a mais antiga e mais conhecida fornecedora de artigos eclesiásticos e imagens sacras produzidas no nordeste brasileiro e importadas da Europa. Sua origem remonta à 1806, de propriedade de Azevedo Ramos e pouco tempo depois comprada por José Rodrigues Sucena que deu o nome famoso à firma. Em São Paulo, surgem várias casas de paramentos, que além de alfaias litúrgicas e toda sorte de paramentos, oferecem à venda imagens sacras. 1158

Em São Paulo, no largo da Sé, nº7, a casa A Apparecida fundada em 1877 produzia paramentos e possuía uma oficina de metalização e importação de imagens sacras e que já em 1900 publicava que possuía “rico sortimento de imagens em diversos tamanhos e invocações” (Lavoura e Comercio, 09/02/1900). Outras duas casas de paramentos que publicam propaganda no ano de 1888, são a “Casa Especial de Paramentos e Alfaias para a Egreja de Ferrete & Comp.”, localizada no Largo da Sé, 13B, e que comercializava paramentos, alfaias imagens sacras e crucifixos e a “Fagundes, Bohn Junior & Comp.”, com negócio à Rua de São Bento, 61, que na sua publicidade indicava serem “fornecedores da Cathedral de S. Exc. Rvdm. o Sr. Bispo de S. Paulo”, oferecendo ao comércio “completo sortimento de ornamentos e alfaias para egrejas, capelas, e oratórios”, “imagens de santos”, “figuras para presépios”, além de “paramentos sagrados” e armarinhos, sendo “importadores directos da Europa”. (Correio Paulistano, 27/12/1888) Vizinha à Casa A Apparecida, existiu também a Casa de Paramentos de Rodovalho Jr. & Co., já ativa em 1895 e sediada na Travessa da Sé, nº8, quando anuncia no periódico O Commercio de São Paulo a comercialização de artigos de armarinho, paramentos, alfaias sacras e “imagens de todos os tamanhos e invocações de verdadeiro carton-pierre”, não especificando a origem destas obras. Existiram ainda, nos primeiros anos do século XX a Casa Pio X, de propriedade de Collazos & Maia, localizada na Rua Direita, 40, que comercializava entre outros, “paramentos, imagens e batinas” (Correio Paulistano, set. 1904) e a Casa ‘A Lourdes’, de propriedade de D’Horta & Bastos, situada em endereço muito próximo à casa Pio X, na mesma Rua Direita, 41-A, especializada em “paramentos, imagens, alfayas, Artigo para egrejas, capelas, armadores, floristas, etc. Importação direta dos melhores fabricantes franceses, italianos, alemães, ingleses e norteamericanos” e que em 1907 disponibilizava “cerca de 600 imagens de cartão pierre, perfeitíssimas de varias invocações e dimensões. Estas imagens vieram da antiga casa DELLIS FRÈRES, reputada a melhor do mundo”. (O Commercio de São Paulo, 03/06/1907) Além da importação de imagens sacras em madeira, carton-pièrre e gesso policromados provenientes da Europa, surgem no mesmo período o comércio de imagens sacras, arte funerária e retábulos e altares esculpidos em mármore de 1159

mesma procedência europeia, difundidos a partir de 1885, quando é fundado em São Paulo o Liceu Sagrado Coração de Jesus que entre outros cursos profissionalizantes possuía as “Oficinas Salesianas de Marmoraria, Ornamento e Escultura” tendo como Diretor Técnico o arquiteto italiano e coadjutor salesiano Domenico Delpiano (29/12/1844, Castelnuovo, Turim – 08/09/1920, São Paulo), e cuja instituição editava catálogos ilustrados com os quais se comercializava as obras de seus alunos. Neste cargo, além de ser o responsável pelo ensino dos alunos, Delpiano tinha sob o seu cuidado a criação, a fiscalização e a produção das peças fabricadas pela oficina. Na seção de marmoraria, escultura e ornamentos eram executados altares, túmulos, balaústres, pedestais, cruzes e outros ornatos. Na oficina de marcenaria eram feitos móveis, portas e janelas e, na de serralheira, produziam-se gradis, portões de ferro, etc. Todos estes elementos eram desenhados pelo próprio arquiteto. (MARTINS, 2010, p. 127-128)

Além da formação artística em território europeu, muitos dos artistasimigrantes deste período tinham contato com a arte produzida na Europa através de catálogos vendidos pelas casa importadoras como a Libreria Italiana de A. Tisi & Co., que se localizava na Rua Florencio de Abreu, nº 4 e que entre outras publicações oferecia “Edizione Artistiche per pittori, scultori, architetti, ecc. Modelli per tutte le arti e mestieri. Ricco assortimento di cartoline illustrate.” (Il Pasquino Coloniale, 26/07/1919). Ainda em São Paulo, surgem no final do século XIX as marmorarias especializadas na importação, montagem e posteriormente na confecção de retábulos e esculturas cemiteriais e sacras produzidas com mármore italiano. Na arte sacra, símbolos máximo de riqueza e progresso, os retábulos e esculturas de santos esculpidos em mármore colocados nas fachadas e interiores das igrejas e mausoléus funerários eram executados em várias marmorarias paulistas e também importados desmontados da Itália e vendidos através de catálogos, assim como acontecia, no mesmo período, com os ornamentos arquitetônicos em cimento e estuque colocados nas fachadas de residências e monumentos civis. Entre estes escultores que deixaram seu nome gravado na historiografia da arte paulista estão outros tantos escultores anônimos que trabalharam nas muitas 1160

marmorarias pertencentes aos italianos instaladas na capital paulista. Franco Cenni (2011) aponta a qualificação e o alto número de marmorarias que inclusive importavam materiais e obras diretamente da Itália, [...] Das dez marmorarias registradas por uma publicação de Seckler, nove pertenciam a italianos e uma delas anunciava no Almanaque Paulista Ilustrado para 1888: “Correspondência direta com as grandes caieiras de mármore de Carrara (Itália) nos põe nos casos de executar qualquer encomenda”. (CENNI, 2011, p. 252).

Esta marmoraria citada por Cenni, trata-se de Marmoria Central de propriedade de Conti, Valenti & Co., localizada na rua da Boa Vista, 62, na capital, que ainda, segundo sua publicidade, “nesta bem montada marmoraria executa-se toda especie de trabalho com perfeição e a preços modicos” (Almanack da Provincia de São Paulo, 1888, p. 48). É notável um grande número de publicidade de marmoristas nos almanaques e periódicos paulistanos no período entre o último quartel do século XIX e primeiro quartel do século XX. No ano de 1878, é publicada no Jornal da Tarde a publicidade da “Marmoraria Imperial” de propriedade de Fernando Martinelli & Irmão, localizada na Rua de São Bento, nº 33, que fazia encomendas à Europa. Em 1893, há a notícia no periódico O Commercio de São Paulo do “Grande Deposito e officina de Marmores, ladrilhos, azulejos e mosaicos de madeira” de Emanuele Cresta & Co., localizada à Rua Boa Vista, 44, e com filial no Rio de Janeiro à Rua da Quitanda, 44. Em sua publicidade indica que executou “obras de mármore e ladrilhos em todo o Brasil” como, entre outros, a igreja de São Benedito em Lorena, Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida e obra em Jundiahy. (O Commercio de São Paulo, 26/07/1893) Em 1895 aparece a publicidade da “Marmoraria Franco-Italiana” de Michele Tavolaro, localizada na Rua Marechal Deodoro, 44, publicada no periódico O Commercio de São Paulo, que em 1897 passa para a Rua Conselheiro Nebias, 27-A (O Commercio de São Paulo, 1897), em 1902 se transfere para a Rua Barão de Itapetininga, 9 (O Commercio de São Paulo, 1902), e em 1919 aparece como “Marmoraria Tavolaro”, desta vez localizada na Rua da Consolação, 98. No periódico O Pasquino de 1919, é publicada, em italiano, a descrição: “Fondata nel 1161

1894 – Ha sempre in negozio marmi grezzi bianchi e in colori. Eseguici qualunque lavoro in marmo. Esposizione permanente di lavori funerari” (Il Pasquino Coloniale, 26/07/1919). Entre estas marmorarias podemos citar, ainda, a “Marmoraria Carrara” de Nicodemo Rosselli & Co., fundada em 1898 e inicialmente instalada na Rua do Seminario, nº 8, onde em 1910 possuía em seu estoque uma “grande Capella tota de marmore massiço” (Correio Paulistano, 31/07/1910), e que mais tarde transferese para a Rua Santa Efigênia, nº 69, com uma sala de exposições permanentes de túmulos, estátuas e vasos, e novamente transfere-se para a Rua 7 de Abril, nºs. 23 e 27. Uma das maiores importadoras de mármores na capital paulista, onde na época se poderia “achar sempre prompto variado sortimento de tumulos, estatuas, sarcófagos, anjos, cruzes, vasos, etc” (O Pirralho, 1916), possuiu uma filial em Santos, que em 1925, em publicidade no periódico Il Pasquino Coloniale oferecia “lavori artistici per cimiteri e chiese – scultura – ornati e architettura – specialità in tumuli di granito e decorazioni in bronzo” (Il Pasquino Coloniale, 1925) tudo produzido em uma oficina movida à tração elétrica. Em 1900 surge no periódico O Commercio de São Paulo, a publicidade da “Marmoraria Milão”, localizada na Rua Dr. Rodrigo Silva, nº 20, antiga Rua da Assembléia, que vendia entre outros, coroas de flores em mármore. Existiu também a “Marmoraria Tomagnini” de Giuseppe Tomagnini Fratello & Cia, antiga “J. Martinelli”, que em 1903 se localizava na Rua Florêncio de Abreu, nº 121-B (Correio Paulistano, 15/09/1903) e que depois se transfere para a Rua Barão de Itapetininga, nº 40, onde possuía um salão de exposições permanentes e comercializava

“tumulos,

estatuas,

altares,

esculpturas,

ornamentações,

architeturas”, importados de Pietrasanta, Itália (O Pirralho, 1916). No Correio Paulistano de 05/10/1904, é publicada a publicidade da “Marmoraria Central” de L. Figliola & Comp., localizada na Rua Libero Badaró, nº 114, que oferecia obras de arte funerária. Exceção à origem majoritária dos proprietários das marmorarias paulistanas é a “Marmoraria Blanes”, de origem alemã, localizada na Rua Benjamin Constant, nº 37 “a única que tem o segredo de trabalhar o granito e dar-lhe lustre pelo mesmo processo usado na Allemanha para estes trabalhos” (O Pirralho, 1916).

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Haviam ainda os pequenos ateliers de escultura como o “Atelier de Esculptura Funeraria de Vicente Larocca”, “estatuário premiado no Salão do Rio de Janeiro” localizado na Rua da Glória, nº 149 (Il Pasquino Coloniale, 26/07/1919). Entre estes estabelecimentos citados existiram muitos outros, com proprietários de origem italiana ou não, que atuaram na arte sacra e funerária da cidade de São Paulo e interior. É notável a instalação ou mudança de endereço de algumas destas marmorarias em algum momento de sua existência, para as Ruas Barão de Itapetininga e Rua 7 de Abril, ruas paralelas localizadas na “cidade nova” e caminho para o Cemitério da Consolação. Estes retábulos e imagens sacras esculpidos em mármore com altos custos de produção e/ou importação, transporte e implantação, foram principalmente utilizados na decoração interna de igrejas na capital paulista, sendo que aparecem em número consideravelmente menor, e também em menores proporções físicas, nas igrejas, santuários e basílicas do interior paulista. Contrapondo a arte eclética marmorista de caráter sacro, com altos custos de importação e confecção, surge em 1893 na capital paulista a oficina especializada em escultura e entalhe em madeira policromada, marmorizada e dourada, de propriedade do imigrante italiano Marino Del Favero (San Vito di Cadore, 03/03/1864 – São Paulo, 23/06/1943). Nascido em uma família de escultores, Marino Del Favero aos 13 anos de idade parte para Veneza para trabalhar com o tio Giovanni Battista De Lotto (San Vito di Cadore, 25/02/1841 – 12/03/1924), que, por sua vez, havia trabalhado por 20 anos no atelier do renomado escultor e entalhador Valentino Panciera Besarel, também na mesma cidade. Marino Del Favero permanece em Veneza até 1891 quando retorna para o Cadore e trabalha em sua terra natal por um curto período até 1892, quando imigra para o Brasil aos 28 anos de idade. No início de 1893, estabelece moradia em São Paulo, onde irá fundar um atelier de esculturas sacras em madeira policromada. Inicialmente, estabelece-se na Rua Barão de Itapetininga nº 5, como comprova a primeira publicidade de Marino Del Favero impressa em 1896, no periódico A Tarde Ilustrada, onde o escultor e entalhador indica que produz “qualquer trabalho em madeira cujo desenho lhe for 1163

apresentado”. Marino Del Favero permanece alguns anos neste local, produzindo vários retábulos , imagens sacras e mobiliário religioso para várias igrejas e capelas paulistas e mineiras até 1904, quando muda seu estabelecimento para a Rua 7 de Abril nº104, permanecendo neste endereço até seu falecimento em 1943. Na ocasião de sua mudança, o escultor e entalhador distribuiu uma “Circular Publicitária” composta de 14 páginas ricamente ilustradas com projetos de retábulos, mobiliário religioso e imagens sacras, repleto de informações sobre sua formação, arte e tecnologia construtiva de suas obras. Fonte de informações vindas do próprio escultor, fornece indícios de como funcionava o atelier e a forma de venda de suas obras. Segundo o artista, sua casa é a primeira estabelecida na capital paulista e a única que conseguiu a confiança das autoridades eclesiásticas brasileiras. De seu premiado atelier, vendedor de medalhas e premiações nacionais e internacionais saíram inúmeros retábulos, imagens sacras, vias-sacras e relevos, púlpitos e mobiliário sacro de características marcantes e notado esmero técnico e artístico, produzidos durante cinquenta anos ininterruptos de seu estabelecimento na capital, o que comprova a qualidade de suas obras e estima de seu proprietário. Ao contrário da maioria dos artistas italianos que permaneceram no Brasil por um período curto de tempo, Marino Del Favero permanecerá toda sua vida em São Paulo, deixando um imenso legado artístico na capital paulista e outros estados brasileiros. Não raro sua obra retabulística em madeira marmorizada é confundida com arte barroca ou mármore europeu e suas esculturas tomadas por obras importadas ou modernas produzidas em gesso. Sediado durante meio século na capital paulista, em poucos anos transforma sua oficina em uma pequena indústria pioneira na industrialização da arte sacra e encomenda por catálogos.

3. Considerações finais O “Estabelecimento”, ou “Oficina” e ainda “Casa Marino Del Favero” durante seus cinquenta anos de atividade, produzirá retábulos de madeira, ou também em combinação com alvenaria e aplicação de elementos decorativos, quase sempre finalizados com típica pintura em falso mármore, interviu em igrejas e retábulos dos períodos coloniais em imperiais, e esculpiu grande número de imaginária sacra em 1164

madeira policromada e dourada, mais tarde produzidas em gesso, além de mobiliário religioso e vias-sacras, que serão encontrados em diversas igrejas da capital, e em grande número no interior paulista e mineiro, além de outros estados brasileiros, na primeira metade do século XX. Sua obra retabulística em madeira marmorizada é comumente confundida com arte barroca ou mármore importado e suas esculturas tomadas por obras importadas ou modernas produzidas em gesso e portanto merecem ser estudadas. Reconhecido em sua época como um importante escultor-entalhador e empresário, sempre prezou pela qualidade de suas obras, que merecem respeito e reconhecimento como parte da nossa memória cultural, artístico e religiosa.

REFERÊNCIAS Almanak da Província de São Paulo – 1888 CENNI, Franco. Italianos no Brasil: Andiamo in’ Merica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. 539 p. Correio Paulistano – 1888,1910, 1903, 1904 Il Pasquino Coloniale – 1919, 1925 Jornal da Tarde – 1878 Lavoura e Comercio – 1900 MARTINS, Alexandre Franco. Domenico Delpiano (1883 – 1920): apontamentos sobre a trajetória de um arquiteto salesiano no Brasil. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.241 p. Disponível em: http://tede.mackenzie.com.br/tde_arquivos/2/TDE-2010-03-25T105438Z858/Publico/Alexandre%20Franco%20Martins1.pdf Acesso em: 01/07/2015. O Commercio de São Paulo – 1893, 1895, 1897, 1900, 1902, 1907 O Pirralho – 1916

Cristiana Antunes Cavaterra Bacharel em Artes Plásticas; Técnica em Conservação e Restauração de Obras de Arte; Especialista em Restauração de Arquitetura; com cursos de atualização e especialização pelo Istituto per l’Arte e il Restauro Palazzo Spinelli, Florença, Itália; membro do Grupo de Pesquisa Barroco Memória Viva – IA-UNESP/CNPQ; Mestranda em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP/Bolsista CAPES.

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